A Doutrina dos Anjos na História e a Existência dos Anjos
Leitura Bíblica: Hebreus 1.5-14
O assunto que iremos abordar durante o mês de novembro em nossa
Escola Bíblica Dominical é a Angelologia, ou seja, a doutrina bíblica a respeito dos anjos. Ainda que nos últimos três séculos a religião tenha assumido um formato mais racional, o interesse pelos anjos não deixou de existir. Podemos ver isto nas esculturas, mas pinturas, na literatura e, principalmente, no cinema. Qual de nós nunca viu alguma expressão de arte que tenha um ser luminoso com asas e roupa branca? Ou até no meio religioso: basta dar um Google nos termos “música gospel anjos” e você verá bastante coisa. E coisa que não está bem embasada com o que as Escrituras nos ensinam. Por exemplo: Se você era evangélico nos anos 90, já cantou junto com a Sandrinha: Tem anjos voando nesse lugar No meio do povo e em cima do altar Subindo e descendo em todas as direções Não sei se a igreja subiu ou se o céu desceu Só sei que está cheio de anjos de Deus Pois o próprio Deus está aqui E mais recentemente tem um monte de música falando sobre o papel dos anjos. O problema não é ter “anjos” nas músicas ou nos hinos, mas a forma que eles são tratados. Nosso hinário (Hinário Novo Cântico) tem diversas menções a anjos, como o de número 11: Santo! Santo! Santo! Todos os remidos, Juntos com os anjos, proclamam teu louvor! Antes de formar-se o firmamento e a terra Eras, e sempre és, e hás de ser, Senhor! Assim, nosso objetivo é trabalhar a doutrina bíblica a respeito destes seres que possuem um importante papel na história e em na vida dos eleitos. A melhor definição para a palavra anjo é dada no texto que acabamos de ler: anjos são espíritos ministradores enviados para serviço a favor dos que hão de herdar a salvação. O nome anjo deriva da palavra mensageiro. No hebraico, o termo é malak (lembre-se de Malaquias) e em grego, o termo é angellos. E para não cairmos na armadilha das palavras, lembremo-nos que o uso de uma palavra só tem o seu sentido compreendido à luz de seu contexto (cf. Mt 11.10). Os anjos são mencionados 108 vezes no AT e 175 vezes em o NT.
I. A DOUTRINA DOS ANJOS NA HISTÓRIA
Qual é a principal evidência da existência dos anjos? A principal evidência é a da Escritura. É a Bíblia quem delimita para nós o que é e o que não é, o que existe e o que não existe. Os cristãos não eram o único grupo do primeiro século que acreditava na existência de anjos. A maioria das seitas do judaísmo, berço do cristianismo, professava a crença nesses mensageiros celestes, a exceção provável dos saduceus (At 23.8). Existem claras evidências da crença na existência dos anjos desde o início da era cristã. Uns eram considerados bons, e outros maus. A convicção geral era que os anjos foram criados bons, mas alguns abusaram da sua liberdade e caíram, apartando-se de Deus. Satanás, que era originariamente um anjo de classe eminente, era considerado o chefe deles. Entendia-se que a causa da sua queda estava no orgulho e numa ambição pecaminosa, enquanto a queda dos seus subordinados era atribuída à sua cobiça das filhas dos homens. Calamidades de várias espécies, como doenças, acidentes e perdas, muitas vezes eram atribuídas à influência danosa de espíritos maus. A ideia de uma hierarquia de anjos já surgia (Clemente de Alexandria), mas não era considerado próprio prestar culto a anjo nenhum. Com o passar do tempo, os anjos continuaram a ser considerados como espíritos bem-aventurados, superiores aos homens em conhecimento, e livres do embaraço de grosseiros corpos materiais. Conquanto alguns lhes atribuíssem excelentes corpos etéreos, houve crescente incerteza sobre se eles têm algum tipo de corpo. Os que ainda se apegavam à ideia de que são seres corpóreos faziam-no, parece, no interesse da verdade de que estão sujeitos a limitações espaciais. Durante a Idade Média ainda havia alguns que se inclinavam a admitir que os anjos têm corpos etéreos, mas a opinião predominante era a de que são incorpóreos. As aparições angélicas eram explicadas com a admissão de que, em tais casos, os anjos adotavam formas corporais temporárias, para fins de revelação. Vários pontos estiveram em discussão entre os escolásticos. Quanto ao tempo em que os anjos foram criados, a opinião dominante era a de que foram criados no mesmo tempo da criação do universo material. Embora alguns sustentassem que os anjos foram criados no estado de graça, a opinião mais comum era a de que foram criados somente num estado de perfeição natural. Havia pouca diferença de opinião sobre se se pode dizer que os anjos ocupam um lugar. O período da Reforma não trouxe nada de novo quanto à doutrina dos anjos. Tanto Lutero como Calvino tinham vívida concepção do ministério dos anjos, e particularmente da presença e poder de Satanás. Calvino acentuava o fato de que Satanás está debaixo do controle divino, e de que, embora seja às vezes instrumento de Deus, só pode agir dentro de limites prescritos. A Confissão Belga diz, no Artigo XII, que trata da criação: “Ele criou também os anjos bons, para serem seus mensageiros e servirem seus eleitos, alguns dos quais caíram daquele estado de perfeição em que Deus os criara, para eterna perdição deles; e os outros, pela graça de Deus, permaneceram firmes e continuaram em seu primitivo estado. Os demônios e os maus espíritos são tão depravados que são inimigos de Deus e de todo bem, no máximo de sua capacidade, como assassinos que lutam pela ruína da Igreja e de cada um dos seus membros, e pela destruição de todos, com os seus vis estratagemas; e, portanto, por sua iniquidade, estão sentenciados à perdição eterna, em diária expectativa dos seus horríveis tormentos”. O Racionalismo do século 18 negava sem disfarces a existência dos anjos e explicava o que a Bíblia ensina a respeito deles como uma espécie de acomodação. Alguns teólogos liberais modernos consideram que vale a pena reter a ideia fundamental expressa na doutrina dos anjos. Eles veem nela uma representação simbólica do cuidado protetor de Deus e de sua disposição para dar ajuda e socorro.
II. A EXISTÊNCIA DOS ANJOS
Todas as religiões reconhecem a existência de um mundo espiritual. Suas mitologias falam de deuses, semideuses, espíritos, demônios, gênios, heróis, e assim por diante. Foi especialmente entre os persas que a doutrina dos anjos se desenvolveu, e muitos críticos especialistas afirmam que os judeus derivaram a sua angelologia dos persas. Mas essa teoria não foi comprovada e, para dizer o mínimo, é muito duvidosa. Certamente não pode ser harmonizada com a Palavra de Deus, na qual os anjos aparecem desde o princípio. Além disso, alguns grandes especialistas, que fizeram estudos específicos do assunto, chegaram à conclusão de que a angelologia persa derivou da que era comum entre os hebreus. A Igreja Cristã sempre acreditou na existência dos anjos, mas a Teologia Liberal moderna descartou essa crença, embora ainda considere a ideia-anjo útil, visto que ela imprime em nós “o vívido poder de Deus na história da redenção, Sua providência especial em favor do seu povo, especialmente em favor dos ‘pequeninos’”. Embora homens como Leibnitz e Wolff, Kant e Schleiermacher, tenham admitido a possibilidade da existência do mundo angélico, e alguns deles tenham até mesmo tentando provar isso com uma argumentação racional, é evidente que a filosofia não pode provar nem a existência nem a inexistência dos anjos. Portanto, da filosofia passamos para a Escritura, que não faz nenhuma tentativa deliberada de provar a existência dos anjos, mas a assume de capa a capa, e em seus livros históricos repetidamente nos mostra os anjos em ação. Ninguém que se incline diante da autoridade da Palavra de Deus pode duvidar da existência dos anjos.
III. DESDOBRAMENTO PRÁTICO
Reflitamos sobre aquilo que cantamos: será que nossas canções revelam um entendimento derivado do que as Escrituras ensinam? Reflitamos a respeito do papel de nossa racionalidade em nossa devoção. Tudo precisa ser compreendido para ser crido? Soli Deo Gloria!