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UNIDADE II

Língua e Cultura Latinas

Profa. Márcia Selivon


O que significa o Latim Vulgar?

Segundo Ilari (2001), a palavra “vulgar” admite interpretações distintas:

1. Pode-se tomá-la com o sentido pejorativo, associado a vulgaridade.

2. É possível associá-la com vulgarismo, nome que ainda hoje os puristas da língua
dão às formas e expressões que julgam condenáveis por suas conotações
populares.
Latim Vulgar: língua do povo

 De acordo com Ilari (2001), realmente o latim vulgar foi uma língua popular.

 Já na segunda acepção, ela não chega propriamente a representar uma língua,


pois uma língua é muito mais que um catálogo de “erros” que ameaçam a pureza
da língua literária.
Variedades linguísticas

 A grande diferença entre as duas variedades do latim não é cronológica nem


ligada à escrita, mas é social.

 As duas variedades refletem duas classes sociais que conviveram em Roma: de


um lado, uma sociedade conservadora e aristocrática, constituída pela classe dos
patrícios; de outro, a plebe, uma classe aberta a todas as influências e a
elementos estrangeiros.
Características do Latim Vulgar: declinações e casos

 Redução das cinco declinações do latim clássico a três, proveniente da confusão


da quinta com a primeira e da quarta com a segunda.

 Redução dos casos, tendo-se conformado, em todas as declinações, o vocativo


com o nominativo.

 O genitivo, dativo e ablativo ficaram desnecessários pelo emprego mais frequente


das preposições.
Características do Latim Vulgar: verbos e preposições

Substituição do futuro imperfeito do indicativo por uma perífrase em que entrava o


infinitivo de um verbo e o indicativo de habere, que deu origem ao futuro do pretérito
em língua portuguesa.
 Exemplo: amare habeo.
 Emprego mais frequente de preposições em vez dos casos.
 Exemplo: liber de Petro (Petri liber).
Fontes do Latim Vulgar: Appendix Probi

O “Appendix Probi” é um documento importante da língua vulgar.


Provavelmente foi escrito em Roma no século III. Não é uma gramática, mas uma
relação de palavras com a possível correção ao lado.

 Speclum non speculum.


 Masculus non masclus.
 Vetulus non veclus.
Fontes do Latim Vulgar: tabuinhas execratórias

 De grande interesse são as inscrições contidas nas tabuinhas execratórias.

 (Pequenas tábuas de chumbo, bronze, estanho, mármore ou terracota, em que


estão inscritas certas fórmulas mágicas de encantamento ou de maldição).

 Segundo era crença entre o povo, deviam produzir os efeitos desejados contra as
pessoas a quem eram endereçadas.
Fontes do Latim Vulgar: grafitti

 Entre as inscrições, estão os graffiti de Pompeia.

 A cidade foi soterrada no ano 79 d.C. por cinzas expelidas pelo Vesúvio,
que a cobriram sem, entretanto, destruí-la.

 Assim, Pompeia conservou-se intacta até hoje.


Fontes do Latim Vulgar: inscrições tumulares

“Anastacia et Laurentia, puellas Dei, quas nos precesserunt in sonum pacis.”

“Anastácia e Lourença, filhas de Deus, que nos precederam no sono da paz.”

(Tradução: Zelia de Almeida Cardoso)


Interatividade

Assinale a alternativa correta:

a) O latim vulgar surgiu após o latim clássico.


b) No latim vulgar há mais casos do que no latim clássico.
c) As tabuinhas execratórias mostram como era o latim clássico.
d) As variedades de latim refletem as classes sociais que conviviam em Roma.
e) As inscrições são grandes fontes para conhecer o latim clássico.
Resposta

Assinale a alternativa correta:

a) O latim vulgar surgiu após o latim clássico.


b) No latim vulgar há mais casos do que no latim clássico.
c) As tabuinhas execratórias mostram como era o latim clássico.
d) As variedades de latim refletem as classes sociais que conviviam em Roma.
e) As inscrições são grandes fontes para conhecer o latim clássico.
Literatura latina: origem da comédia

 Os antigos romanos realizavam procissões religiosas nas quais se dançava e se


cantava e, em ocasiões especiais, havia cantos dramatizados de caráter
grosseiro, chamados fesceninos.
Influência da “comédia nova”

 Lívio Andrônico, Névio e Ênio se inspiraram na comédia nova, modalidade teatral


que se desenvolveu na Grécia no século IV a.C.

 Essa comédia trata de fatos engraçados do dia a dia, ocorridos entre pessoas
das várias classes sociais.
Os comediógrafos romanos praticavam a “contaminatio” (contaminação), fundindo
numa única peça duas ou mais obras gregas.
As comédias de Plauto

 Plauto desempenhou várias funções nas artes cênicas.

 Atribuiu-se a ele a autoria de mais de cem comédias. Vinte e uma resistiram


até a época atual, conservando-se quase na íntegra: Anfitrião, Os burros,
A marmita, Baquides, Os prisioneiros.
A marmita (Aulularia)

 É a história de um velho avarento, Euclião, que encontra na lareira de sua casa


uma marmita cheia de moedas de ouro ali escondida anos atrás por seu avô.

 Euclião esconde o que achou, mas ela acaba sendo descoberta por um escravo
de Licones, que seduzira, alguns meses antes, a filha do avarento.

 O escravo devolve a marmita a Euclião e ele a oferece aos jovens namorados.


Enredo das peças de Plauto

O enredo das peças de Plauto é:

 Engraçado, cheio de surpresas e reviravoltas.

 A gestualidade é muito explorada em cenas de correria e pancadaria.

 O caráter caricatural e exagerado das personagens também contribui


para o riso.
A linguagem das peças de Plauto

 A linguagem de Plauto também é um recurso cômico. Os nomes das personagens


são muitas vezes estranhos e engraçados.
 Há aliterações e repetições cheias de comicidade e trocadilhos, muitas vezes
responsáveis por inúmeras confusões.
 Todos esses recursos contribuíram para a popularidade desse autor que, mesmo
seguindo o modelo das peças gregas, apresenta elementos muito originais em
suas peças.
Peças de Plauto: “processo de romanização”

 Cardoso (2001) afirma que os cenários e os temas são gregos, mas há um


“processo de romanização” em suas peças, pois deuses romanos
são evocados, coexistindo com divindades gregas.

 Além disso, algumas personagens têm os nítidos traços de personalidade que


caracterizaram o povo romano.
Influência das peças de Plauto

 “A marmita” inspirou a peça de Molière “O Avarento”, além de influenciar “O santo


e a porca”, de Ariano Suassuna.

 A criação de Plauto permanece na história da literatura e do teatro na


cultura ocidental.

 Esse autor foi muito apreciado por Shakespeare, Molière e muitos


escritores que fizeram imitações e adaptações de suas comédias.
Literatura latina: poesia filosófica

 Lucrécio foi um poeta e filósofo latino que viveu no século I a.C. e pouco se sabe
da sua vida.

 É provável que tenha nascido em Roma, onde foi educado. A única obra que
compôs foi o poema “Sobre a Natureza” (De rerum natura), publicado após sua
morte por suicídio em 55 a.C.
Lucrécio e Epicuro

 Lucrécio procurou reproduzir em versos toda a doutrina de Epicuro, filósofo


grego que vivera em Atenas entre os séculos IV e III a.C.

 Epicuro quis demonstrar que a felicidade do homem consiste no prazer, ou seja,


na ausência de dor para o corpo e de perturbações para a alma.

 Só se chega, entretanto, a essa paz interior, quando o espírito se liberta


de seus medos maiores: dos deuses e da morte.
Epicuro e o atomismo

 Epicuro baseia-se nas teorias físicas de Demócrito, fundamentadas no atomismo.

 Essa doutrina defende a ideia de que nada se destrói: tudo se reintegra no


universo, que é constituído de partículas mínimas e indivisíveis (os átomos),
agrupando-se em combinações e formando os seres animados e inanimados.
Estrutura do poema “Sobre a Natureza”

 Composto por seis cânticos, esse poema começa evocando Vênus; em seguida,
expõe as leis de Demócrito e de Epicuro a respeito do universo e termina
mostrando as etapas que o homem e a civilização devem percorrer antes de
alcançarem a sabedoria.
Trecho do poema “Sobre a Natureza”

Mimosa Vênus, mãe da eneide Roma,


Prazer dos homens e numes! Tu alentas
Os astros, que dos céus no âmbito giram,
As férteis terras, o naval oceano.
Por ti, todo animal recebe a vida!
Logo ao nascer, na luz do sol atenta...
Interatividade

Assinale a alternativa correta em relação às comédias de Plauto:

a) O autor explora os aspectos sonoros das palavras.


b) Não há nada de original nas suas peças.
c) Suas peças não influenciaram outros autores.
d) Suas peças não apresentam cenas movimentadas.
e) Seus personagens apresentam apenas características gregas.
Resposta

Assinale a alternativa correta em relação às comédias de Plauto:

a) O autor explora os aspectos sonoros das palavras.


b) Não há nada de original nas suas peças.
c) Suas peças não influenciaram outros autores.
d) Suas peças não apresentam cenas movimentadas.
e) Seus personagens apresentam apenas características gregas.
A retórica romana

 Em Roma, foram criadas escolas de retórica, cujas características se


diferenciavam de uma para outra, conforme a época e a moda do momento.

 Já Aristóteles, na Grécia, havia mostrado a ligação da retórica com a persuasão,


desvinculando-a da noção de verdade.

 Assim, é no mundo da opinião que são tecidas as relações sociais,


políticas e econômicas.
A oratória de Cícero

 Para Cícero, o discurso não devia apenas dizer alguma coisa: devia
ensinar e comover o auditório, além de agradar a ele.

 Sobre o orador (De oratore): diálogo entre Antonio e Crasso, dois antigos mestres
de Cícero.

 Argumentam sobre as qualidades exigidas por quem vai dedicar-se à arte


oratória, além de fazer reflexões sobre a estrutura do discurso.
A oratória de Quintiliano

 Quintiliano foi advogado e proprietário de uma famosa escola de retórica.


Escreveu um grande tratado em doze livros, “A Instituição Oratória” (Institutio
Oratoria).

 A obra de Quintiliano tem um objetivo único: apresentar o necessário para a


formação do orador.
A epopeia de Virgílio

Virgílio (70 – 19 a.C.):


 Augusto o incumbiu de escrever uma grandiosa epopeia para exaltar os feitos
romanos e o trabalho durou dez anos – de 29 a 19 a.C.
 A Eneida se compõe de doze cantos ou livros, num total de 9.826 versos.
 Para tanto, Virgílio baseou-se nas epopeias gregas.
Influência da “Eneida”

 Todas as grandes epopeias do ocidente europeu foram criadas com base


na Eneida.

Exemplos:
 “A Comédia”, de Dante Alighieri.
 “Os Lusíadas”, de Camões.
A poesia de Horácio

Horácio (65 – 8 a.C.):


 Dentre os textos compostos por Horácio, destacam-se as Sátiras e Odes.

 Em algumas circunstâncias, censura, por meio da sátira, não uma pessoa


específica, mas algum defeito, em sua generalidade.

 Não apresenta um tom agressivo, atenuando, assim, o próprio ridículo


das coisas.
“Odes” (Horácio)

 As Odes apresentam temas variados: a juventude, o amor, os prazeres


do vinho e a alegria da vida.

 Elas dirigem-se aos deuses, relembram lendas mitológicas e exaltam o civismo e


o espírito patriótico, alternando poemas longos com outros mais curtos.
Temas da poesia de Horácio

 Em muitos poemas de Horácio há o desejo de aproveitar o momento presente, a


sede de viver.

 O melhor é não sonhar com o futuro, admitir que a vida é breve e colher os frutos
de hoje. Assim, deve-se aproveitar a vida ao máximo, livre de preocupações.
A expressão “carpe diem”

 A expressão carpe diem (“colher o dia”) aparece no poema 11 das Odes,


do poeta Horácio.

A própria natureza confirma a transitoriedade das coisas:


 A beleza não está sempre presente nas flores da primavera e a lua vermelha não
brilha sempre com a mesma aparência.
(Horácio. Odes. II, 9-10)
Outros temas

Além desses temas, encontramos o elogio da moderação e da simplicidade


(Aurea mediocritas):

Odeio os aparatos orientais, meu jovem,


E as coroas trancadas com cordões de tília.
(Horácio. Odes. I, 38, 1-2)
Sêneca: filosofia

 Sêneca (Lucius Annaeus Seneca) – (4 a.C. – 65 d.C.)

Filosofia:
 O estoicismo é uma escola filosófica do século IV a.C. Essa doutrina afirma
que todo o universo é governado por um logos e a alma está identificada
com este princípio divino, como parte do todo ao qual pertence. Este logos (razão
universal) domina todas as coisas: tudo surge a partir dele e de acordo com ele.
Sêneca: tragédias

 A tragédia latina originou-se da grega.

 No século V, a tragédia grega atingiu o seu ápice com os textos de Ésquilo,


Sófocles e Eurípedes.

 Em Roma, em 240 a.C., Lívio Andrônico traduziu a Odisseia e divulgou em


Roma os princípios que norteavam o teatro grego.
Características das peças de Sêneca

 De acordo com Cardoso (2003), as peças de Sêneca foram influenciadas pelas


gregas, mas revelando muitos traços de originalidade.

 Enquanto as peças gregas eram mais movimentadas, as latinas eram


mais estáticas.
Sêneca e os modelos gregos

 Sêneca compôs nove tragédias inspiradas em modelos gregos, sobretudo nas


peças de Eurípedes.

 Dentre elas, destacam-se Édipo, baseada em Édipo-Rei, de Sófocles, e bastante


próxima a ela.

 A peça relata a desgraça que acomete o rei de Tebas quando ele toma
conhecimento dos crimes hediondos que cometera sem intenção.
Outras peças de Sêneca

 Fedra trata da rainha de Creta, violentamente apaixonada pelo


enteado, causando-lhe a morte.

 Medeia relata a vingança da princesa feiticeira que, desprezada pelo amante, dele
se vinga, assassinando os filhos.
Interatividade

Assinale a alternativa que indica uma relação incorreta entre o autor e o


gênero de sua obra:
a) Horácio – poesia.
b) Quintiliano – retórica.
c) Virgílio – epopeia.
d) Sêneca – tragédia.
e) Cícero – comédia.
Resposta

Assinale a alternativa que indica uma relação incorreta entre o autor e o


gênero de sua obra:
a) Horácio – poesia.
b) Quintiliano – retórica.
c) Virgílio – epopeia.
d) Sêneca – tragédia.
e) Cícero – comédia.
Línguas românicas

 Línguas românicas são aquelas que conservam vestígios evidentes de sua


origem latina no vocabulário, na morfologia e na sintaxe.

 Há dez línguas românicas: português, espanhol, catalão, francês, provençal,


italiano, reto-romano, dalmático, romeno e sardo.
O latim e a Península Ibérica

 O latim que se espalhou pelo território ibérico foi o do povo inculto, o sermo
vulgaris.

 A outra modalidade, o sermo urbanus, utilizada por Cícero, Virgílio, Horácio e


Ovídio, foi conhecida nas escolas.

 No século V, os bárbaros invadiram a Península, principalmente os vândalos,


os suevos e os visigodos.
A língua árabe e a Península Ibérica

 No século VIII, houve a invasão dos árabes na Península. Eles valorizavam


as artes e as letras; e a ciência estava muito difundida entre eles,
além da medicina, filosofia, matemática e história.

 Na maioria da Península, adotou-se o árabe como língua oficial, mas o


povo continuou a falar o romance, ou seja, o latim vulgar modificado.
Empréstimos da língua árabe

 Os empréstimos da língua árabe geralmente se iniciam com al–.

 Exemplos: alferes, alcorão, álgebra, alfândega, almoxarifado.

 As palavras de origem árabe mais frequentes em nossa língua designam plantas,


frutas, flores e substâncias aromáticas: algodão, alecrim, alfafa, alface, alfazema,
açafrão, alcachofra.
O latim e a sociedade medieval

 No século XII, a sociedade medieval atingiu seu auge. Esse foi o século das
Cruzadas, das grandes catedrais e da fundação das primeiras universidades,
que rapidamente se estenderam por toda a Europa.

 As universidades utilizavam o latim como língua didática e por esse


motivo havia uma unidade – tanto de língua como de pensamento –
em todo o Ocidente.
O latim e o Renascimento

 Mesmo com o Renascimento, o latim continuou a ser a língua da ciência.

 Todos os precursores da ciência moderna escreviam em latim:


Copérnico, Kepler e Newton.

 Os filósofos Descartes e Spinoza escreviam em latim.


O método histórico-comparativo no estudo das línguas

 Como foi observado que as línguas românicas vieram do latim?

 Isso foi possível a partir do método histórico-comparativo.

 A semelhança constatada entre expressões pertencentes a diferentes línguas


românicas prova que elas se originaram de uma mesma palavra latina.
Presença da cultura romana: o Direito

 No período do Império, quando apareceram as primeiras escolas de Direito,


iniciou-se a sistematização do Direito Romano.
 Nessa época, os melhores juristas passaram a compilar em textos
escritos as respostas das primeiras representações feitas pelos melhores juízes
às consultas que lhes tinham sido feitas.
 O Direito Romano foi adotado pelos povos europeus, conservando sua
importância até os dias atuais.
Presença da cultura romana: arquitetura

 A grande manifestação artística dos romanos foi a arquitetura. Enquanto para os


gregos a obra essencial era o templo, para os romanos, as construções mais
importantes eram as que satisfaziam necessidades práticas.

 Assim, as obras que mereceram destaque especial foram os reservatórios de


água, termas, estradas, pontes, aquedutos, fachadas e pórticos.
Interatividade

Assinale a alternativa incorreta em relação às línguas românicas:

a) Apresentam vestígios da língua latina na sua sintaxe.


b) Apresentam vestígios da língua latina em seus aspectos morfológicos.
c) A língua romena pertence ao grupo das línguas românicas.
d) As línguas românicas apresentam aspectos semelhantes.
e) O alemão pertence ao grupo de línguas românicas.
Resposta

Assinale a alternativa incorreta em relação às línguas românicas:

a) Apresentam vestígios da língua latina na sua sintaxe.


b) Apresentam vestígios da língua latina em seus aspectos morfológicos.
c) A língua romena pertence ao grupo das línguas românicas.
d) As línguas românicas apresentam aspectos semelhantes.
e) O alemão pertence ao grupo de línguas românicas.
ATÉ A PRÓXIMA!

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