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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Introdução à Psicolinguistica

Patologias da Linguagem

Nome e Código do Estudante

Curso:
Disciplina e código:
Ano de Frequência:
Nome do docente: Maria de Lurdes Manhiça

Maputo, Junho de 2023


Índice

1.Introdução...............................................................................................................................1
1.1. Objectivo Geral...............................................................................................................1
1.2. Objectivos Específicos....................................................................................................1
2.Metodologia............................................................................................................................2
3.Discussao dos conceitos..........................................................................................................3
3.1.Patologias da Linguagem.................................................................................................3
3.2.Afasia................................................................................................................................4
3.3.Perturbação da fala...........................................................................................................4
4.Classificação das Afasias........................................................................................................5
4.1.Afasia de condução...........................................................................................................5
4.2.Afasia motora...................................................................................................................6
4.3.Afasia sensorial ou Wernicke...........................................................................................6
4.4.Afasia de Broca................................................................................................................7
4.5.Afasia Global....................................................................................................................7
5.Classificação das perturbações da fala....................................................................................8
5.1.Apraxia da Fala.................................................................................................................8
5.2.Disartria............................................................................................................................8
5.3.Atraso fonológico.............................................................................................................8
6.Teoria e Aquisição e Aprendizagem.......................................................................................9
6.1.Teoria da Etapa Pré-Fonética...........................................................................................9
6.2.Teoria do Processamento de Informações......................................................................10
6.3.Teoria Sociocultural.......................................................................................................11
7.Conclusão..............................................................................................................................12
8.Referências Bibliográficas....................................................................................................13
1.Introdução

As patologias da linguagem são um campo de estudo que se concentra nas alterações e


disfunções que podem ocorrer na comunicação humana. Entendemos que linguagem
desempenha um papel essencial na nossa interacção social, na expressão de nossos
pensamentos e sentimentos, e no desenvolvimento de nossas habilidades cognitivas. No
entanto, em certas circunstâncias, a linguagem pode ser afectada negativamente, levando a
dificuldades significativas na fala, na compreensão ou no processamento linguístico.

As patologias da linguagem podem ser causadas por uma variedade de factores, incluindo
condições médicas, lesões cerebrais, transtornos neurológicos, distúrbios do desenvolvimento
ou condições psiquiátricas. Essas condições podem afectar pessoas de todas as idades, desde
o nascimento até a idade adulta.

Segundo Catts (2017, p. 34) os sintomas das patologias da linguagem podem variar
amplamente, dependendo da causa e da natureza do distúrbio.

“Alguns indivíduos podem experimentar dificuldades na articulação das palavras, enquanto


outros podem ter problemas na compreensão da linguagem ou na formação de frases
coerentes. Além disso, a comunicação não verbal, como a linguagem gestual ou a expressão
facial, também pode ser afetada”.

Nesta área de estudo, os profissionais buscam compreender as causas, os mecanismos e os


efeitos das patologias da linguagem, bem como desenvolver estratégias de avaliação e
intervenção para ajudar aqueles que apresentam tais dificuldades. Sendo assim para a
realização da presente pesquisa foram definidos os seguintes objectivos específicos:

1.1. Objectivo Geral

 Investigar os conceitos, objetivos, áreas de pesquisa, evolução histórica e teórica da


Psicolinguística, bem como as teorias de aquisição da L2 e sua relevância para a
compreensão da linguagem humana e suas implicações em diversas áreas.

1.2. Objectivos Específicos

 Discutir os conceitos;
 Descrever sobre as Perturbações da fala;

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 Descrever as Afasias;
 Identificar as perturbações da fala;
 Descrever as Teorias da Aquisição e Aprendizagem da Escrita.

2.Metodologia

Para elaboração deste trabalhou usou-se a pesquisa bibliográfica. Segundo Gil (2010) esse
tipo de pesquisa é caracterizado por buscar informações e conhecimentos já produzidos e
disponíveis em fontes como livros, periódicos, teses, dissertações, entre outros materiais
bibliográficos. O autor refere ainda que a pesquisa bibliográfica é muito utilizada em diversas
áreas do conhecimento para embasar teorias, fundamentar argumentos e desenvolver novas
ideias e projectos.

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3.Discussao dos conceitos

3.1.Patologias da Linguagem
Segundo Bishop (2014), as patologias da linguagem são transtornos que afectam a aquisição,
o desenvolvimento ou a produção da linguagem em indivíduos, resultando em dificuldades
significativas na comunicação verbal. Este autor diz que:

“Essas dificuldades podem incluir problemas na articulação das palavras, na compreensão da


linguagem, na formação de frases coerentes ou na expressão dos pensamentos de forma
adequada” (p.21).

As patologias da linguagem são caracterizadas por desordens específicas que afectam o


processamento e a produção da linguagem, independentemente de causas neurológicas,
genéticas ou ambientais (Catts & Kamhi, 2017). Estes autores entendem que essas desordens
podem envolver problemas na fonologia, semântica, sintaxe ou pragmática, resultando em
dificuldades na expressão e compreensão da linguagem.

Desta forma entendemos que ambas as definições convergem ao enfatizar que as patologias
da linguagem envolvem dificuldades na aquisição, desenvolvimento ou produção da
linguagem, que afectam a comunicação verbal. Ambas também reconhecem que essas
dificuldades podem ocorrer em diferentes aspectos da linguagem, como articulação,
compreensão, formação de frases e expressão dos pensamentos.

No entanto, há divergências nas definições. A definição de Bishop (2014) parece ser mais
abrangente, incluindo uma variedade de transtornos que podem afectar a linguagem, como
atraso na fala, distúrbio específico de linguagem, afasia, entre outros. Por outro lado, a
definição de Catts e Kamhi (2017) enfoca mais especificamente as desordens da linguagem,
independentemente de suas causas, destacando a importância do processamento e produção
da linguagem em diferentes níveis linguísticos.

Considerando a abrangência e a especificidade das definições apresentadas, o conceito


norteador da pesquisa deve ser a compreensão das patologias da linguagem como transtornos
que afectam a aquisição, desenvolvimento ou produção da linguagem, resultando em
dificuldades significativas na comunicação verbal (Bishop, 2014). Essa definição mais ampla
permite explorar diferentes aspectos das patologias da linguagem, incluindo suas causas,
características e estratégias de avaliação e intervenção.

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3.2.Afasia
Conforme Goodglass e Kaplan (1983, p.11), afasia:

“é um distúrbio adquirido da linguagem, decorrente de lesões cerebrais, que afecta a produção


e compreensão da linguagem oral e escrita. Os indivíduos com afasia podem apresentar
dificuldades na articulação das palavras, na formação de frases coerentes, na compreensão de
palavras e na expressão de pensamentos de forma adequada.

Afasia é um déficit na habilidade de usar e compreender a linguagem, causado por uma lesão
focal no cérebro, geralmente no hemisfério esquerdo (Berthier & Pulvermüller, 2011). Este
autor diz que essa lesão interfere nas redes neurais envolvidas na linguagem, resultando em
dificuldades específicas na produção, compreensão ou ambos os aspectos da linguagem.

Desta forma ambas as definições convergem ao reconhecerem que a afasia é um distúrbio da


linguagem adquirido, causado por lesões cerebrais. Ambas também destacam que a afasia
afeta a produção e/ou a compreensão da linguagem.

No entanto, há divergências nas definições. A definição de Goodglass e Kaplan (1983)


enfatiza a natureza abrangente da afasia, abrangendo dificuldades na articulação, formação de
frases, compreensão de palavras e expressão de pensamentos. Por outro lado, a definição de
Berthier e Pulvermüller (2011) enfatiza a lesão focal no cérebro e as redes neurais específicas
afetadas, com ênfase nas dificuldades específicas na produção, compreensão ou ambos os
aspectos da linguagem.

Sendo assim considerando as divergências nas definições, entendemos que o conceito


norteador da pesquisa é aquele que aborda sobre compreensão da afasia como um distúrbio
adquirido da linguagem, resultante de lesões cerebrais que afectam a produção e/ou a
compreensão da linguagem (Berthier & Pulvermüller, 2011). Essa definição mais abrangente
permitirá explorar as diferentes manifestações e características da afasia, incluindo seus tipos,
causas, sintomas e abordagens de intervenção.

3.3.Perturbação da fala
Shriberg e Kwiatkowski (1994) dizem que perturbação da fala refere-se a um distúrbio no
desenvolvimento da produção dos sons da fala. Os autores entendem que a mesma é
caracterizada por dificuldades persistentes na articulação dos sons correctos, resultando em
uma fala imprecisa, pouco clara ou difícil de ser compreendida.

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De acordo com McLeod e Baker (2017, p.55), a perturbação da fala é

“um termo abrangente que engloba uma variedade de distúrbios da fala, incluindo atrasos
fonológicos, apraxia da fala e disartria. Esses distúrbios podem afetar a produção, fluência,
qualidade ou coordenação dos sons da fala, resultando em dificuldades na comunicação
verbal”.

Desta forma pode-se perceber que as duas definições convergem ao reconhecerem que a
perturbação da fala envolve dificuldades na produção dos sons da fala. Ambas também
destacam que essas dificuldades podem resultar em uma fala imprecisa, pouco clara ou de
difícil compreensão.

Todavia, há divergências nas definições. A definição de Shriberg e Kwiatkowski (1994)


focaliza especificamente as dificuldades na articulação dos sons da fala, destacando a
imprecisão articulatória como o principal aspecto da perturbação da fala. Por outro lado, a
definição de McLeod e Baker (2017) abrange uma variedade mais ampla de distúrbios da
fala, incluindo atrasos fonológicos, apraxia da fala e disartria, que podem afetar diferentes
aspectos da produção da fala.

E como conceito norteador da pesquisa, optimaddos o conceito de que diz que a perturbação
da fala como um distúrbio na produção dos sons da fala, que pode abranger uma variedade de
dificuldades articulatórias, fonológicas, de fluência, qualidade ou coordenação dos sons
(McLeod & Baker, 2017). Essa definição mais abrangente permitirá explorar diferentes
manifestações e características da perturbação da fala, incluindo a identificação de diferentes
tipos de distúrbios da fala e as abordagens de avaliação e intervenção apropriadas.

4.Classificação das Afasias


4.1.Afasia de condução
A afasia de condução é um tipo específico de afasia caracterizada por dificuldades na
repetição de palavras ou frases, mesmo que a compreensão e a produção de linguagem
estejam relativamente preservadas. Nesse tipo de afasia, os pacientes têm dificuldade em
reproduzir exactamente as palavras ou frases que lhes foram apresentadas.

De acordo com Benson e Ardila (1996, p.65),

“afasia de condução ocorre devido a uma lesão no fascículo arqueado, uma importante via de
comunicação entre as áreas de Wernicke e Broca no cérebro. Essa lesão interfere na

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transferência precisa de informações entre as regiões envolvidas na compreensão e produção
da linguagem”.

Este autor diz que os pacientes com afasia de condução podem apresentar uma fala fluente,
porém com erros de repetição e substituições de palavras. Eles podem ter dificuldade em
acompanhar uma conversa complexa e podem usar estratégias compensatórias, como
parafrasear, para expressar suas ideias (Benson & Ardila, 1996). Embora a compreensão da
linguagem esteja geralmente intacta, a repetição é uma tarefa desafiadora.

4.2.Afasia motora
A afasia motora, também conhecida como afasia de Broca, é caracterizada por dificuldades
na produção da fala. De acordo com (Goodglass & Kaplan, 1983, p.32):

“Os pacientes com afasia motora têm uma fala lenta, laboriosa e não fluente, com muitas
pausas e hesitações. A compreensão da linguagem pode ser relativamente preservada, mas a
expressão verbal é altamente comprometida”.

Conforme descrito por Goodglass e Kaplan (1983), a afasia motora resulta de uma lesão na
área de Broca, localizada na região frontal do hemisfério dominante do cérebro. Estes autores
dizem ainda que essa lesão interfere na programação e execução dos movimentos
articulatórios necessários para a produção da fala.

Os pacientes com afasia motora têm dificuldade em encontrar as palavras corretas e formar
frases completas (Goodglass & Kaplan, 1983, p.32). Eles podem usar frases curtas e simples,
com uma estrutura gramatical limitada. A compreensão da linguagem pode ser afetada em
maior ou menor grau, dependendo da extensão da lesão (Goodglass & Kaplan, 1983, p.32).

4.3.Afasia sensorial ou Wernicke


A afasia sensorial, também conhecida como afasia de Wernicke, é caracterizada por
dificuldades na compreensão da linguagem e na produção de uma fala fluente, porém
incoerente (Benson & Ardila, 1996). No entender destes autores os pacientes com afasia
sensorial podem falar em um ritmo normal, mas suas palavras podem ser sem sentido, com
substituições de palavras ou uso de neologismos.

De acordo com Benson e Ardila (1996, p. 32), a

“afasia sensorial ocorre devido a uma lesão na área de Wernicke, localizada na região
temporal do hemisfério dominante do cérebro. Essa lesão afeta a compreensão da linguagem e
a habilidade de selecionar as palavras corretas para formar frases coerentes”.

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Os pacientes com afasia sensorial têm dificuldade em entender o significado das palavras e
das sentenças faladas ou escritas.

4.4.Afasia de Broca
A afasia de Broca é um tipo de afasia caracterizado por dificuldades na produção da fala e na
formação de frases gramaticalmente corretas. Os pacientes com afasia de Broca apresentam
uma fala não fluente, lenta e laboriosa, com pausas frequentes e uso de palavras-chave. A
compreensão da linguagem geralmente é preservada ou levemente comprometida.

De acordo com Goodglass e Kaplan (1983), a afasia de Broca é causada por uma lesão na
área de Broca, localizada na região frontal do hemisfério dominante do cérebro. Essa lesão
afeta a programação e execução dos movimentos articulatórios necessários para a produção
da fala.

Os pacientes com afasia de Broca têm dificuldade em encontrar as palavras corretas e formar
frases completas. Eles podem usar frases curtas e simples, com uma estrutura gramatical
limitada. Apesar das limitações na produção da fala, eles geralmente estão cientes de seus
erros e podem se frustrar com a dificuldade em se expressar.

4.5.Afasia Global
Confrome Benson e Ardila (1996) a afasia global é um tipo de afasia mais grave e
abrangente, caracterizado por déficits significativos tanto na produção quanto na
compreensão da linguagem. Estes autore entende que os pacientes com afasia global
apresentam dificuldades em todas as áreas da linguagem, incluindo a fala, compreensão,
leitura e escrita.

Segundo Benson e Ardila (1996), a afasia global resulta de uma lesão extensa no cérebro,
frequentemente afetando várias áreas envolvidas no processamento da linguagem. Essa lesão
afeta todas as habilidades linguísticas de forma ampla.

Os pacientes com afasia global têm uma fala extremamente limitada, com o uso de palavras
isoladas ou frases curtas e incoerentes. A compreensão da linguagem também é severamente
comprometida, tornando difícil para eles entenderem o que é dito ou escrito. A leitura e a
escrita também são prejudicias na afasia global, com dificuldades em reconhecer palavras
escritas, formar frases coerentes ou expressar seus pensamentos por escrito.

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5.Classificação das perturbações da fala
5.1.Apraxia da Fala
A apraxia da fala é uma perturbação neurológica que afeta a capacidade de planejar e
coordenar os movimentos musculares necessários para a produção da fala. Os indivíduos com
apraxia da fala têm dificuldade em executar os movimentos articulatórios corretos para
produzir os sons da fala de forma precisa e fluente.

De acordo com Duffy (2013), a apraxia da fala resulta de lesões no córtex motor e nas áreas
adjacentes do cérebro. Essas lesões afectam a capacidade do cérebro de programar e enviar os
comandos motores adequados aos músculos envolvidos na fala.

Os principais sintomas da apraxia da fala incluem erros na pronúncia de sons e sílabas,


dificuldade em iniciar a fala, hesitações, repetições e dificuldade em articular palavras longas
ou complexas. Os indivíduos com apraxia da fala podem ter uma fala interrompida, imprecisa
e com variações na intensidade dos sons.

5.2.Disartria
A disartria é uma perturbação neuromuscular que afeta os músculos responsáveis pela
produção da fala, incluindo os músculos da face, da língua, da mandíbula e da laringe. Ela
resulta de danos no sistema nervoso central ou periférico, interferindo na força, no controle e
na coordenação desses músculos.

Conforme Duffy (2013), a disartria pode ser causada por lesões no córtex cerebral, tronco
cerebral ou nas vias nervosas periféricas. As causas podem incluir acidente vascular cerebral,
lesões cerebrais traumáticas, doenças degenerativas ou condições neurológicas.

Os sintomas da disartria variam dependendo da localização e extensão das lesões, mas podem
incluir fala arrastada, monotônica, fraca ou com variação excessiva na velocidade ou no
volume. Os indivíduos com disartria podem ter dificuldade em articular os sons corretamente,
na produção de frases longas e na modulação adequada da voz.

5.3.Atraso fonológico
O atraso fonológico é uma perturbação do desenvolvimento da fala em que a criança
apresenta um atraso na aquisição dos sons da fala esperados para a sua faixa etária. Essa
perturbação está relacionada à organização e ao processamento dos sons da fala no sistema
fonológico.
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Shriberg e Kwiatkowski (1994) explicam que o atraso fonológico é caracterizado pela
persistência de padrões de fala simplificados além da idade esperada. Por exemplo, a criança
pode substituir alguns sons por outros, omitir sons em determinadas posições ou distorcer os
sons.

Os sintomas do atraso fonológico podem variar de acordo com a gravidade e a natureza dos
padrões de fala simplificados. Geralmente, a criança apresenta dificuldades na pronúncia de
determinados sons ou grupos de sons, resultando em uma fala menos inteligível para os
outros.

Embora a apraxia da fala, disartria e atraso fonológico sejam perturbações da fala, cada uma
tem características distintas em termos de origem, sintomas e mecanismos subjacentes. A
apraxia da fala está relacionada a dificuldades na programação e execução dos movimentos
articulatórios, enquanto a disartria está ligada a danos no sistema motor responsável pelos
movimentos da fala. Já o atraso fonológico envolve atrasos no desenvolvimento dos sons da
fala.

6.Teoria e Aquisição e Aprendizagem


6.1.Teoria da Etapa Pré-Fonética
A Teoria da Etapa Pré-Fonética é uma teoria proposta por Emília Ferreiro e Ana Teberosky
em seu livro “Psicogênese da Língua Escrita” publicado em 1979. Essa teoria descreve o
processo de aquisição da escrita pelas crianças em diferentes estágios, sendo a etapa pré-
fonética a primeira delas.

De acordo com Ferreiro e Teberosky (1979), a etapa pré-fonética é caracterizada por


tentativas de escrita em que a criança ainda não estabelece uma correspondência entre as
letras e os sons da fala. Nesse estágio, a criança utiliza símbolos gráficos de forma arbitrária,
sem seguir as regras convencionais da escrita.

Para descrever os estágios da escrita na etapa pré-fonética, Ferreiro e Teberosky (1979)


identificaram diferentes categorias de escrita que as crianças produzem. Essas categorias são
Ferreiro e Teberosky (1979):

 Garatujas: Nessa fase, a criança realiza rabiscos semelhantes a desenhos ou


movimentos lineares, mas que ainda não possuem uma função simbólica.
 Escrita pré-silábica: Nessa categoria, a criança começa a atribuir valor de letras aos
símbolos gráficos. No entanto, ela ainda não compreende a relação entre as letras e os
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sons da fala. As letras podem ser usadas de forma aleatória ou como marcações
visuais para identificar objetos ou pessoas.
 Escrita silábica: Nesse estágio, a criança atribui valor de sílabas às letras. Ela
reconhece que as palavras são compostas por unidades sonoras e tenta representar
cada sílaba da palavra com uma letra. No entanto, nem sempre as sílabas são
representadas corretamente, e a escrita pode conter erros ou omissões.
 Escrita pré-alfabética: Nessa categoria, a criança começa a estabelecer uma relação
entre letras e sons, mas ainda de forma inconsistente. Ela pode utilizar algumas letras
corretamente, mas ainda comete erros na representação dos sons presentes nas
palavras.

Essa teoria foi desenvolvida com base em pesquisas e observações de crianças em processo
de aquisição da escrita. Ferreiro e Teberosky (1979) argumentam que a criança passa por
essas etapas de escrita pré-fonética antes de chegar ao estágio alfabético, no qual há uma
correspondência mais precisa entre as letras e os sons da fala.

A Teoria da Etapa Pré-Fonética de Ferreiro e Teberosky contribuiu significativamente para o


entendimento dos processos de aquisição da escrita e destacou a importância de reconhecer e
valorizar os estágios iniciais da escrita das crianças. Ela influenciou profundamente a
educação e a pedagogia, fornecendo subsídios para a implementação de práticas de ensino
mais adequadas às necessidades e ao desenvolvimento das crianças em relação à escrita.

6.2.Teoria do Processamento de Informações


A Teoria do Processamento de Informações é uma abordagem teórica que enfatiza o papel do
processamento cognitivo na aprendizagem da escrita. Essa teoria postula que a aquisição da
escrita envolve a activação e a integração de diferentes habilidades cognitivas, como
memória de trabalho, atenção, planejamento e organização (Berninger & Richards, 2002).
Diversos autores contribuíram para o desenvolvimento e a fundamentação dessa teoria.

Berninger e Richards (2002) são dois dos principais pesquisadores que desenvolveram e
aplicaram a Teoria do Processamento de Informações na área da aprendizagem da escrita.
Eles argumentam que a escrita envolve o processamento de múltiplas informações
simultaneamente, como a seleção de letras, a organização de palavras e frases, e a
monitorização da produção escrita. Segundo eles, habilidades cognitivas, como memória de
trabalho e atenção, desempenham um papel crucial nesse processo.

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Kellogg (1996) propõe que a escrita envolve a transformação de informações visuais em
representações linguísticas, e que esse processo requer o uso eficiente da memória de
trabalho. Ele destaca a importância do planejamento e da organização das ideias durante a
escrita, assim como a necessidade de monitorar e revisar o próprio texto.

Hayes e Flower (1980) são conhecidos por seu modelo de produção escrita, que se baseia nos
princípios da Teoria do Processamento de Informações. Eles argumentam que a escrita
envolve três processos principais: planejamento, tradução e revisão. O planejamento refere-se
à geração e organização de ideias, a tradução envolve a transformação dessas ideias em
linguagem escrita, e a revisão é a etapa em que o texto é revisto e corrigido. Segundo eles,
esses processos são influenciados pelas habilidades cognitivas e pelo conhecimento do
escritor.

6.3.Teoria Sociocultural
Teoria sociocultural, desenvolvida por Lev Vygotsky, é uma abordagem teórica que enfatiza
o papel do contexto social e da interação social na aprendizagem e no desenvolvimento
humano, incluindo a aprendizagem da escrita (Vygotsky, 1978). Essa teoria postula que a
aprendizagem ocorre por meio da interação com pessoas mais experientes e por meio da
internalização das práticas sociais e culturais.

Vygotsky (1978) é o principal autor associado à Teoria Sociocultural. Ele argumenta que a
aprendizagem é um processo social e que as crianças adquirem conhecimento e habilidades
por meio da interação com outras pessoas. Vygotsky destaca a importância da zona de
desenvolvimento proximal, que é a distância entre o nível atual de desenvolvimento de uma
criança e seu potencial de desenvolvimento com o apoio de um adulto ou de um par mais
experiente. Ele enfatiza que a escrita é uma actividade mediada culturalmente e que as
crianças aprendem a escrever por meio da participação em atividades de escrita junto a
pessoas mais experientes.

Rogoff (1990) expandiu a Teoria Sociocultural de Vygotsky ao enfatizar o papel das práticas
culturais na aprendizagem. Ela argumenta que as crianças aprendem por meio da participação
em atividades culturais e que o aprendizado ocorre por meio da observação, da imitação e da
colaboração com membros mais experientes da comunidade. Rogoff (1990) destaca que a
aprendizagem da escrita é influenciada pelas práticas e pelas normas culturais relacionadas à
escrita em um determinado contexto.

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Bruner (1986) diz Jerome Bruner contribuiu para a Teoria Sociocultural ao desenvolver a
ideia de “andaimagem”. Ele argumenta que adultos e pares mais experientes fornecem
suporte e estrutura para a aprendizagem das crianças, guiando-as e fornecendo o suporte
necessário conforme elas avançam em direção a um maior domínio da escrita.

7.Conclusão
Ao longo deste trabalho, exploramos o tema das patologias da linguagem, com foco nas
perturbações da fala, especificamente na classificação das afasias e das perturbações da fala.
Inicialmente, discutimos as diferentes afasias, incluindo a afasia de condução, a afasia
motora, a afasia sensorial (ou de Wernicke), a afasia de Broca e a afasia global. Cada uma
dessas afasias apresenta características distintas, afectando diferentes aspectos da linguagem,
como a fluência, a compreensão e a expressão verbal.

Em seguida, abordamos a classificação das perturbações da fala, destacando a apraxia da fala,


a disartria e o atraso fonológico. A apraxia da fala está relacionada a dificuldades na
coordenação dos movimentos articulatórios, resultando em uma produção inconsistente e
imprecisa da fala. A disartria, por sua vez, está ligada a problemas neuromusculares que
afetam a articulação e a produção da fala. Já o atraso fonológico refere-se a um desvio no
desenvolvimento da linguagem, em que a criança apresenta dificuldades na aquisição dos
sons da fala.

Além disso, exploramos três teorias relevantes para a compreensão da aquisição e da


aprendizagem da escrita: a teoria da etapa pré-fonética, a teoria do processamento de
informações e a teoria sociocultural. A teoria da etapa pré-fonética destaca os estágios iniciais
da escrita, nos quais a criança experimenta diferentes formas de representação gráfica sem
estabelecer uma correspondência direta entre letras e sons.

A teoria do processamento de informações enfatiza o papel do processamento cognitivo na


escrita, considerando habilidades como memória de trabalho, atenção e planejamento. Já a
teoria sociocultural ressalta a importância do contexto social e cultural na aprendizagem da
escrita, enfatizando a interação e a mediação sociocultural no desenvolvimento da escrita.

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8.Referências Bibliográficas

Benson, D. F., & Ardila, A. (1996). Aphasia: A clinical perspective. Oxford University Press.

Berninger, V., & Richards, T. (2002). Brain literacy for educators and psychologists. Academic
Press.

Bishop, D. V. M. (2014). Uncommon understanding: Development and disorders of language


comprehension in children. Psychology Press.

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Ferreiro, E., & Teberosky, A. (1979). A Psicogênese da língua escrita. Artmed.

Goodglass, H., & Kaplan, E. (1983). The assessment of aphasia and related disorders. Lea & Febiger.

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Shriberg, L. D., & Kwiatkowski, J. (1994). Phonological disorders III: A procedure for assessing
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Vygotsky, L. S. (1978). Mind in society: The development of higher psychological processes. Harvard
University Press.

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