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Esse livro é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são obra da
imaginação do autor ou usados de forma fictícia. Quaisquer semelhanças com eventos, locais ou
pessoas, vivas ou mortas, são coincidências.
A editora original deste livro apoia o direito à liberdade de expressão e o valor dos direitos
autorais. O propósito do direito autoral é encorajar escritores e artistas a produzirem as obras
criativas que enriquecem a nossa cultura.
A digitalização, o envio e a distribuição deste livro sem permissão prévia é um roubo da
propriedade intelectual do autor. Se você quiser permissão para usar material deste livro (exceto
para fins de resenha), favor contatar a editora. Agradecemos seu apoio aos direitos do autor.
ÍNDICE
CAPA
PREFÁCIO
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
mbaixo d’água...
Aerith estava afundando. Imóvel com a expressão facial de quem está apenas
dormindo, ela aos poucos afundava no lago frio e tranquilo. A rede de luz criada pelo
movimento das águas na superfície dançava sobre seu corpo inerte. Era como se
tentasse segurá-la.
Seu belo rosto não poderia mais mostrar aquela expressão cheia de energia. O
sentimento de felicidade e diversão que contagiava todos à sua volta, o carinho que
demonstrava aos fracos e as infinitas lágrimas que derramou em segredo... nada disso
voltaria a aparecer.
Seu corpo ficaria em silêncio por toda a eternidade.
Isso, no entanto, não significou o fim para Aerith. Ela estava observando. Não
através de seus lindos olhos verdes, mas de sua alma. Observava através de um corpo
desencarnado cheio de energia vital, como uma espécie de sobreposição a seu corpo
físico. Observava enquanto a superfície do lago se afastava. Observava enquanto
formas humanas a fitavam do um outro mundo enevoado — o mundo onde as coisas
estavam vivas era outro mundo para ela. Observava o rosto de Cloud, que parecia
estar de coração partido pela tristeza de perdê-la, cheio de ódio e revolta por não ter
conseguido impedir que ela lhe fosse tirada.
Não se culpe.
Não há com o que se preocupar.
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CAPITULO 2
A DAMA QUE VIAJA PELO PLANETA
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Mas estávamos errados. Nós entendemos isso quando chegamos aqui. Você também
sabe, não é, Aerith? Sobre a explosão do Reator de Mako do Setor l.
— Sim... O Setor 1 não ficava muito longe da comunidade onde eu morava.
Não soubemos dos detalhes, mas ouvi dizer que muitas pessoas morreram...
— Naquela época, nós só achamos que eles iam era receber o que mereciam se
fossem pegos na explosão, já que era tudo gente que trabalhava pra Shinra na cidade
alta. Mas no final, todos nós acabamos aqui, tendo trabalhado pra Shinra ou não.
Então estamos pensando em por que fizemos tudo isso. Na verdade, só o que a gente
fez foi aumentar o tom de voz e gritar nossa opinião bem alto, como um bando de
bêbados. Nós exageramos demais no nosso método de salvar o Planeta...
— Eu também não pensava muito na época... não queria só viver uma vida
pequena. Eu queria brilhar. Então pensei que me juntando ao Avalanche, eu poderia
ser um herói que salvaria o futuro do Planeta, e era só nisso que eu pensava. Nunca
imaginei que acabaria envolvendo outras pessoas. Que idiota...
Wedge abaixou a cabeça, envergonhado.
— O plano todo na verdade foi criado pelo Avalanche antigo, que já não existe
mais — prosseguiu Jessie, a voz cheia de remorso. — Tinha vários outros membros
do Avalanche, era um grupo muito mais radical. A gente só herdou o nome desse
grupo de resistência, “Avalanche”, das pessoas que já tinham partido. Mas detalhes
de como fazer uma bomba e os planos de onde colocá-la tinham sido deixados no
computador. Já que eu era boa com máquinas e bombas, decidi tentar... mas tenho
certeza que esse plano não foi criado com a simples intenção de desabilitar o Reator
de Mako l. As pessoas que criaram esse plano horrível odiavam a Shinra. Odiavam
tanto que chegariam ao ponto de sacrificar pessoas. Eu devia ter percebido. O Barret
não sabia de nada disso...
— É por isso... — Desolado, Biggs desviou o olhar para o céu — É por isso
que nós queremos retornar ao Planeta agora. Queremos desaparecer. Agora eu me
lembro. Só que é impossível. O Barret está lutando para salvar ainda mais pessoas...
mas a gente não pode fazer nada para pagar pelos nossos pecados. Só o que podemos
fazer é continuar aqui e sofrer.
— No fim das contas, foi fácil simplesmente esquecer quem a gente era porque
queríamos ficar aqui em paz.
— Não funcionou. Quando tínhamos a chance, voltávamos a ser como éramos.
Mas mesmo assim, nunca fomos uma entidade tão clara quanto você. É quase como
se fosse uma maldição.
Os três riram com autodepreciação, até que tudo terminou num suspiro.
— Mas... mas... — Aerith se esforçou para confortá-los com suas palavras —
Todos cometem erros. Eu, por exemplo, vendia flores sem nem pensar, por dinheiro.
— Hmmm... não dá pra comparar a minha estupidez com isso.
— Mas vocês passaram todo esse tempo sofrendo...
— Obrigado, Aerith. Mas como veterano do Avalanche, é uma história muito
vergonhosa. Essa lengalenga toda parece que saiu pela culatra pra mim.
— Eu não posso me perdoar, de jeito nenhum. Por isso esse é o único jeito de
eu ficar aqui.
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— Ainda chegará o dia em que vamos poder retornar ao Planeta, mas agora
ainda não podemos. Vá, Aerith. Você deve estar nessa forma porque ainda tem algo a
fazer. Receio que as nossas memórias cheias de pecado vão te atrapalhar.
— Não...
— E se isso acontecer, nós vamos sofrer ainda mais. Então vai, por favor.
Jessie estava mentindo. Aerith sabia que ela estava tentando afastá-la para que
não precisasse dividir essa dor.
Os fantasmas dos três começaram a desaparecer. Aerith mordeu o lábio inferior
enquanto as lágrimas se formavam em seus olhos.
— Por favor, deixem-me dizer pelo menos uma coisa. Naquele dia, muitas
pessoas conseguiram fugir porque vocês fizeram de tudo para proteger o pilar do
Setor 7. Tenho certeza que o número de sobreviventes foi muito maior que o de
baixas no Setor l. E eu também consegui salvar a Marlene por causa disso. Talvez
não seja o suficiente para libertá-los... e eu sei que as vidas das pessoas não é algo
que se deva somar ou subtrair, mas... por favor, lembrem que não são apenas pecados
que vocês carregam.
— Obrigada, Aerith... obrigada.
A voz de alguém que já não sabia mais quem era ecoou e eles foram levados de
volta à prisão que eles próprios escolheram, afundando no mar de memórias.
Aerith secou suas lágrimas e começou a andar de novo. Ela rezava para que as
almas dos guerreiros do Avalanche pudessem descansar em paz em breve.
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CAPITULO 3
A DAMA QUE VIAJA PELO PLANETA
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Ele era Dyne, o governador da Prisão de Corel, uma terra de exilados cheia de
areia e lixo. Também já tinha sido o melhor amigo de Barret. Depois do que a Shinra
fez com sua cidade natal, o desespero acabou lhe tomando sua sanidade e, em um
estado de loucura, ele matou muitas pessoas.
— Ah, entendo. Você é a garota que estava com o Barret. Então isso deve
significar que também está morta. Uma pena. — Sem acreditar no que via, Dyne riu.
— Nem acredito que mesmo após matar tantas pessoas, acabei vindo parar no mesmo
lugar que uma garota inocente como você. Este mundo é mesmo um absurdo. Como é
chato este Planeta. Tudo realmente devia ser destruído.
— Você vai continuar dizendo isso? — A figura de Aerith parecia contrastar
com a de Dyne. Ela ergueu as sobrancelhas esguias. — Mesmo ainda se importando
tanto com a Marlene...
— Quem liga? Garota, você...
— Meu nome é Aerith.
— He, he, he... Você é forte. Meu braço esquerdo é tudo o que resta da minha
vida passada. Muito bem, vou chamá-la por esse nome. Você ouviu o que eu disse
daquela vez, não é? As palavras que troquei com o Barret. Quando estava tentando
destruir ludo, eu pretendia trazer a Marlene para cá comigo também.
— Você está mentindo. Era só um blefe.
— Eu não posso mentir aqui, posso? Para ser franco, posso pelo menos garantir
que estava refletindo profundamente sobre isso na ocasião. Então eu desafiei o Barret
para um duelo e fui iluminado. — Por um tempo, Dyne riu de como teve de pagar por
tudo com seu braço direito e seu corpo. — E eu agradeço ao Barret por isso. Afinal,
fui engolido pelo próprio mundo que queria destruir. Eu não queria acabar com a
minha própria vida. Então, em vez disso, usei todas aquelas pessoas inúteis que
viviam amedrontadas na terra do exílio, libertando-as e tornando-as felizes. Agora
você compreende, Aerith? Diante de você está a aparição inútil e despedaçada de um
homem que nem mesmo o Planeta aceitou. O Planeta ao qual minha esposa Eleanor
já retornou. E eu já confiei a Marlene ao Barret. O que quer que aconteça ao Planeta
agora não me interessa mais.
Vendo como Aerith ficou em silêncio, ele riu mais uma vez de como conseguiu
fazer a garotinha insolente recuar. Então ele percebeu que não era engraçado e notou
que Aerith jamais havia tirado os olhos dele. Ele se deu conta de que, na verdade, não
a fizera recuar. Havia um brilho em seus olhos verdes-esmeralda que fez com que a
sua loucura se acalmasse.
— Você não tem coragem.
— O que você disse?
— Eu repito: você não coragem. Não tem coragem de voltar e recomeçar. Você
só fica dando voltas e mais voltas, fazendo o que é mais fácil para você.
Enquanto Aerith encarava Dyne, ela avançou um passo. Sob a pressão de seus
poderosos olhos, ele escondeu o rosto com sua arma e recuou inconscientemente.
— O Barret também trocou um dos braços por uma arma. Ele jurou que ia
destruir a Shinra com sua raiva e seu remorso. É por isso que as mãos dele também
estavam sujas com o sangue de muitas pessoas. Mas ele não se deixou abalar. Além
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de aceitar o fardo, ele realmente está tentando salvar o Planeta agora. Está tentando
proteger o mundo no qual a Marlene vai poder viver sem fugir.
— Poder mudar desse jeito é a maior força daquele idiota.
— O Barret é especial e você é diferente?
Dyne gemeu diante da pergunta. Ele eslava acordando da loucura. Era a coisa
que ele mais odiava. Tinha ficado esse tempo todo num estado de loucura para lentar
esquecer de si mesmo, mas o olhar fixo de Aerith dispersou a névoa de loucura que o
cercava. A armadura em volta de seu coração se partiu.
— Posso sentir o fedor do sangue daqueles que matei com minhas próprias
mãos nas profundezas da minha alma. Não vê? Eles estão presos a mim há todo esse
tempo. Se eu sequer tentar voltar, eles me arrastarão de volta para cá.
A névoa avermelhada que circundava a figura de Dyne subitamente deu lugar a
uma substância viscosa. Nos quatro anos desde que a cidade de Corel fora destruída,
ele não se importou com quanto ódio acumulou com seu braço esquerdo mecânico, e
agora estava banhado de sangue. Foi o fardo do pecado que fez Dyne desistir.
— Como eu posso recomeçar? Só o que podia fazer era continuar nesse estado.
Só o que podia fazer era odiar tudo e me afogar na loucura! Eu estava errado?
— Você está errado. — Ela não o coagiu. Em vez disso, se aproximou de Dyne
com toda a gentileza. Estendendo as mãos, tocou a camada de sangue que o cobria.
— O sangue que o cerca é algo que a sua culpa está criando. As vidas que você tirou
retornaram à Fonte Vital há muito tempo. Você não pode esquecer o que fez, mas não
há por que não recomeçar. Eu garanto.
A partir de onde Aerith havia tocado, o sangue começou a secar, separando-se
de Dyne cada vez mais. Então o braço esquerdo de Dyne começou a desaparecer.
— Eu vou poder retornar ao Planeta algum dia...?
— Tenho certeza que sim.
— Quando a Marlene chegar ao fim de sua vida e vier para cá, vou poder sair e
recebê-la como parte do Planeta...?
Aerith olhou para o rosto de Dyne e assentiu com um sorriso.
—Porque você está recomeçando. Vai dar tudo certo.
O rosto desfocado de Dyne agora podia ser visto claramente. Era diferente da
pessoa que ela havia conhecido na Prisão de Corel. Era o rosto verdadeiro de alguém
que amava sua família e a cidade natal mais do que qualquer um.
Ele não podia mais voltar aos tempos pacíficos de quando trabalhava nas minas
de Corel antes da tragédia. Tanto Dyne quanto Aerith sabiam disso. Mesmo assim, os
corações das pessoas podem ser reconstruídos. Elas podem se erguer e enfrentar essas
lembranças dolorosas. Se isso não acontecesse, então o mundo seria verdadeiramente
um absurdo sem fim.
— O que eu posso fazer nesse mar de Mako? Não, a questão é o que eu devo
fazer. Vou continuar pensando naqueles que matei por um tempo. Até que um dia eu
possa me unir ao Planeta.
— Sim, acho que é uma boa ideia.
— Aerith, me perdoe pela forma como a tratei. Fico feliz por tê-la conhecido.
— Não, você não me tratou mal.
— Você é mesmo uma pessoa incrível.
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Pela primeira vez, Dyne sorriu do fundo do coração e, sem dizer mais nada, sua
imagem desapareceu. A ponta da arma de seu braço esquerdo também sumiu.
— Após morrer e passar por tudo isso, eu finalmente posso parar de virar as
costas para o Barret e a Marlene. Deixe-me agradecer...
Pouco antes de ele afundar por completo na Fonte Vital, Aerith viu — ela viu
partículas de Mako seguindo em direção a Dyne e se juntando a ele, quase como se
tivessem vontade própria.
A voz fraca de Dyne ainda podia ser ouvida:
— Eleanor?
E com isso, Aerith voltou à sua jornada.
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CAPITULO 4
A DAMA QUE VIAJA PELO PLANETA
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CAPITULO 5
A DAMA QUE VIAJA PELO PLANETA
Aerith sabia um dos motivos pelos quais havia um lugar de onde a Fonte Vital
não podia se aproximar. Esse lugar tinha uma barreira que Sephiroth havia colocado.
O desastre que caiu do céu, Jenova, trouxe consigo um meteoro que criou uma enorme
cicatriz no Planeta com seu impado. Agora esse lugar, onde muita energia era reunida
para curar a ferida, havia se tornado o palco da ressurreição de Sephiroth. Todo e
qualquer fluxo de vida ao redor era sugado pelo vórtice sobrenatural, o que impedia
que uma entidade desencarnada como Aerith se aproximasse.
Aerith queria muito falar com Cloud quando seu corpo vivo deixou o vórtice.
Ela tentou muitas vezes enquanto ele era carregado para Mideel. Mas com sua mente
despedaçada e coberta de desespero, Cloud não conseguia ouvir a voz de Aerith. Não
importava o quanto ela tentasse, sua voz não chegava até Cloud, assim como quando
os dois foram separados na Cidade Esquecida.
Completamente impotente enquanto via o corpo de Cloud retornar à superfície,
Aerith permaneceu desamparada em meio ao mar de Mako.
Como vou poder salvar o Cloud? Como vou poder deter o Meteoro?
Nunca imaginei que o Sagrado seria contido... se continuar assim, o Planeta
vai acabar como Sephiroth quer.
O que eu posso fazer? Me diga, Cloud...
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Aerith chorava enquanto pensava no estado de Cloud, que nem mesmo suas
orações alcançavam. Sua personalidade em pedaços não poderia mais ser consertada.
Se aquele não era de fato o Cloud para começo de conversa, então quem era ele?
Conhecendo-o apenas como um ex-membro da SOLDIER, não havia como ela saber.
Ela mergulhou num sentimento de inutilidade que não conseguia descrever.
Cloud... sinto sua falta. Sinto falta do verdadeiro você...
Seus murmúrios e pensamentos se expandiram em ondas e se espalharam pelo
Mako. Suas memórias junto a Cloud vieram à mente outra vez. Sua impressão era
que, embora ele não fosse muito sociável, havia algo de encantador nele.
Eu senti que havia algo estranho nele, mas foi tudo mesmo só inventado, parte
de uma personalidade falsa? Não tinha absolutamente nada de real no Cloud?
Não, isso não pode ser verdade.
Havia coisas que só o Cloud pensaria. Coisas que ele fez porque era o Cloud.
Ele nunca foi uma casca vazia!
Mas ela não podia descobrir a verdade sozinha. Seus pensamentos estavam
apenas dando voltas. Aerith mergulhou em suas memórias novamente. Memórias que
mostravam a individualidade de Cloud. A forma como ele andava, como falava. Ela
relembrou suas ações uma a uma...
Muitos desses pensamentos começaram a se fundir ao mar de Mako — e então
despertaram alguém. A pessoa em questão reconheceu as imagens que Aerith estava
mentalizando e acordou.
— Aerith... é você?
No início, Aerith não se lembrou de quem era a voz porque foi muito súbito.
Em pânico, ela se virou e viu um rosto nostálgico que não via há cinco anos. Ele tinha
sido seu primeiro amor. E agora era também um amigo muito querido que ela não via
desde que ele desapareceu sem deixar rastros. Ele tinha as mesmas características que
ela via em Cloud. Zack, com os olhos azuis que provavam que era um SOLDIER,
apareceu diante dela. Ele tinha uma imagem inferior à imagem sólida de Aerith.
— Zack! Quer dizer que você também está morto...? — Embora Aerith não
costumasse fazer perguntas tão óbvias, foi a primeira coisa que veio à sua mente e ela
falou quase que num reflexo. Além disso, era estranho que um SOLDIER assim tão
habilidoso e experiente morresse. Apesar de ela não fazer ideia do paradeiro de Zack,
tinha plena certeza de que devia estar são e salvo, vivendo tranquilamente em algum
lugar. Ela se culpou por ter acreditado tão cegamente nisso. Essa realidade cruel foi
um choque forte para ela.
— Você “também”...? Quer dizer que você também morreu, Aerith? Bom, eu
ia dizer a mesma coisa mesmo e então... como devo dizer... meus pêsames?
— Você não mudou nada.
Não importava o que acontecesse, Zack nunca perdia o bom humor. Como se
salva por essa personalidade animada, Aerith sorriu fracamente. Apesar de saber que
ele era um membro da SOLDIER da Shinra, era essa parte dele que a atraía.
— Aconteceu muita coisa. E só coisa ruim. Tudo começou quando fui enviado
numa missão à cidade rural de Nibelheim.
— Nibelheim?
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— Sim, você conhece? Naquela época, eu tava junto com um SOLDIER muito
famoso que era conhecido como um herói. De repente, ele ficou louco e...
— Está falando do Sephiroth, não é? — A respiração de Aerith se tornou mais
fraca. Ela acreditava que havia um significado por trás da aparição de Zack. Tinha a
sensação de que isso tudo estava ligado a alguma coisa.
— Aquele maldito é mesmo famoso. Ou é por que você leu sobre o grande
massacre de Nibelheim nos jornais?
— Você estava lá na época, Zack? Mas e quanto ao Cloud...?
— Ei, ei, pera aí! Como é que você também sabe do Cloud? Ele tá bem?!
— Então você também conhece o Cloud. Existe mesmo um Cloud, não existe?
Os dois rapidamente trocaram o que sabiam. E então Aerith soube. Soube que
Cloud não era apenas um boneco clonado que fora feito para Sephiroth. Ela também
entendeu por que tinha visto Zack nele.
Zack também soube. Soube da situação na qual seu amigo se encontrava. O
amigo que se envolveu com ele no incidente e, juntos, foram caçados pela Shinra.
Também soube que Sephiroth seria ressuscitado e se tornaria uma ameaça não só para
Nibelheim, mas para todo o Planeta.
— Zack... o que eu devo fazer para que o Cloud descubra a verdade sobre si
mesmo? Você pode dizer a ele que ele é real?
— É impossível para nós fazer isso. A única que pode é aquela garota que
estava lá com a gente em Nibelheim, a Tifa. Se as lembranças dela puderem despertar
as do Cloud, então talvez...
— Vai ser difícil. Mas não vou desistir. Tenho certeza de que há uma chance.
— O rosto de Aerith se encheu de brilho agora que havia uma esperança. — Quando
isso terminar, o Cloud e os outros poderão fazer algo com relação ao Sephiroth. Eles
poderão remover o obstáculo que está consumindo o Sagrado.
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E assim, Tifa conseguiu. Reunindo suas próprias lembranças com as de Cloud,
ela procurou as coisas que apenas o verdadeiro Cloud poderia saber. Finalmente, a
porta fechada foi aberta. Não deixar a SOLDIER permitiu que o poder de Jenova que
havia sido implantado em Cloud copiasse as características de seu amigo próximo,
Zack. Procurando as memórias mais profundas que estavam misturadas em tudo isso,
Tifa conseguiu reconstruir o verdadeiro Cloud, não o personagem falso que ele havia
criado para se proteger.
— Você conseguiu, Tifa. Obrigada. Sinto um pouco de inveja de você, mas...
cuide do Cloud por mim. Cuide do Cloud e do mundo...
Tifa abraçou Cloud com força quando ele recobrava os sentidos. Aerith ficou
observando enquanto os dois voltavam à superfície, sorrindo como uma mãe afetuosa.
Era uma visão deslumbrante para Zack.
— Vou te contar, hein, Aerith. De todas as garotas que eu conheci, você é
mesmo a melhor. Sabe, depois daquela missão, as coisas podiam ter continuado como
estavam e a gente podia ter ficado junto quando eu voltasse pra casa. Eu odeio o
Sephiroth. E odeio a Shinra, que esconde tudo o que fizeram.
— Alguém que conheceu tantas garotas nunca poderia ser um bom marido.
— Que maldade. Eu sou mó gente fina com todo mundo.
— Esse é o seu defeito. Você não é simplista e desajeitado como o Cloud.
— Era disso que você gostava, Aerith?
— Quem sabe...? As coisas podem ter mudado depois de cinco anos.
— He, he.
Zack fez careta, fingindo uma expressão de tristeza, e então abriu um sorriso
despreocupado. Era o mesmo sorriso idêntico de quando ele e Aerith se conheceram
há muito tempo. Quando tinha dezessete anos, foi isso o que a atraiu nele.
— Ainda não acabou, mas eu vou dormir mais um pouquinho. Parece que não
há nada que eu possa fazer por enquanto. Mas sempre que se sentir sozinha, pode me
chamar, Aerith.
— Só se eu me sentir muito sozinha. Boa noite, Zack.
Acenando para ela, o SOLDIER de Primeira Classe desapareceu em meio ao
Mako. Acreditando que sua missão ainda não havia acabado, Zack decidiu se manter
adormecido para poupar energia.
Aerith, por outro lado, não ia dormir. Como era uma Cetra, não se parecia nem
um pouco cansada.
Ela estava feliz.
Feliz por ter agora conhecido o verdadeiro Cloud e por poder tê-lo observado,
mesmo que apenas por um curto período.
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CAPITULO 6
A DAMA QUE VIAJA PELO PLANETA
31 | F i n a l F a n t a s y V I I : A D a m a Q u e V i a j a P e l o P l a n e t a
— Ha, ha, este foi o limite de Gast. Parar e não fazer o que devia ser feito foi
uma blasfêmia para a ciência... He, he, é hora da nossa conversa acabar. — Sem
mostrar o menor sinal de culpa, Hojo se voltou para a Cratera do Norte. — Meu filho,
o herdeiro de Jenova, está chamando. Está pedindo mais energia vital. Ha, ha, ha,
devo me oferecer para ele. E então ele se tornará um comigo, aquele que ele mais
odiava e desprezava. Este será o nosso reencontro.
Hojo, que havia se fundido com Jenova, foi arrastado como o Presidente Shinra
da última vez. Rindo perfeitamente feliz em sua loucura, ele foi sugado em direção ao
fundo do poço gravitacional.
— Deixe-me dar um último conselho, Antiga. Não importa o que você faça, é
inútil. É tudo parte do sistema desse Planeta. Muitas entidades desconhecidas caem
do céu no ciclo de vida do Planeta sem nem saber, e agora Jenova está lá. Então para
onde vai a alma? Mesmo que você tente destruí-la, ela nunca desaparecerá. Ela se
fundiu ao mar de Mako, vagando à deriva por todas as partes do Planeta através da
Fonte Vital. Um dia, você terá que viver como parte de Jenova. Ha, ha, ha... é só uma
questão de tempo até que isso aconteça.
— Eu nunca vou deixar que aconteça!
— Algum dia, você também entenderá. Ha, ha, ha, ha, ha...!
Deixando apenas sua risada insana para trás, a coisa que uma vez foi Hojo
desapareceu fora da consciência de Aerith. E então ele se tornou um sacrifício para
Sephiroth com uma expressão cheia de felicidade e loucura. Até o último momento
antes de sua alma desaparecer, ele não mostrou remorso ou vergonha.
Aerith sabia que a morte de Hojo significava o fim da Shinra. Nesse caso, a
batalha decisiva de Cloud estava se aproximando.
Ela começou a correr. Se Hojo podia se sacrificar para ajudar Sephiroth, então
devia haver alguma coisa que ela pudesse fazer para salvar o Planeta.
Era nisso que ela acreditava.
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CAPITULO 7
A DAMA QUE VIAJA PELO PLANETA
33 | F i n a l F a n t a s y V I I : A D a m a Q u e V i a j a P e l o P l a n e t a
Foi como uma tempestade de golpes — quinze ataques sucessivos, dos quais não
havia como se esquivar, atravessaram Sephiroth.
O anjo caído abriu um sorriso cheio de ousadia. Mas o dano que havia recebido
ia muito além do que podia aguentar e seu corpo espiritual começou a se desfazer em
meio a suas risadas. Seu corpo começou a emanar uma série de aios de luz, como se o
estivessem cortando em pedaços.
Sephiroth havia sido destruído.
O pesadelo de Cloud, que começara há cinco anos em Nibelheim, finalmente
havia acabado.
O Sagrado, não estava mais obstruído, imediatamente começou a agir.
Desta vez, Cloud havia se separado de seu corpo e estava agora em um estado
de abstração, mas, no abismo do mundo de Mako, ele viu uma mão para guiá-lo. Era
branca e delicada — lembrava a mão que lhe dera uma flor em Midgar. Sem sequer
pensar a respeito, ele estendeu a própria mão...
E sua consciência retornou ao corpo. A mão de Tifa segurava a sua enquanto o
chão se partia embaixo dele. Se a mão não estivesse lá para guiá-lo, ele estaria no
fundo do inferno agora. Foi bem na hora. Cloud percebeu que havia sido salvo.
Mas era tarde.
Midgar eslava prestes a se tornar o ponto de impacto para o Meteoro dos céus,
e ele já estava perto até demais do solo. A força gravitacional formada entre o Planeta
e o Meteoro gigante criou furacões que devastavam impiedosamente as plataformas
das cidades superiores. Como resultado, a energia do Sagrado que se estendia entre o
Planeta e o Meteoro só aumentou o poder destrutivo entre os dois em vez de ter o
efeito que devia ler.
Se continuasse assim, não apenas os moradores de Midgar que se refugiavam
na comunidade se envolveriam, mas o Planeta seria tão machucado que ficaria além
da recuperação. O plano de Sephiroth havia sido detido, mas todos sabiam que o pior
ainda estava por vir. O Planeta estava indo de encontro ao fim.
— Por favor, emprestem-me o seu poder! — exclamou Aerith.
Suas ondas de pensamento se espalharam pelo mar de Mako. Carregadas pela
Fonte Vital, se espalharam por todo o Planeta.
— Não posso fazer isso sozinha. Vamos todos proteger o Planeta!
O chamado da última Cetra atraiu as incontáveis consciências que ela havia
despertado durante sua jornada. A consciência de todo o Planeta foi despertada.
Claro, entre elas também estavam as consciências daqueles que estavam suspensos
por seus pecados. Com suas fortes vontades combinadas, eles conseguiram controlar
a enorme energia do Planeta.
— Tava só esperando por isso! Bora ligar o fusível e explodir esse meteoro de
uma vez por todas!
— É a vez da Divisão da Fonte Vital do Avalanche! Agora que Barret não tá
aqui, eu sou o líder!
— Não! Eu também queria ser líder! Não é justo, Wedge!
— Vocês nunca falam sério, mesmo sendo companheiros do Barret. Vamos nos
concentrar e fazer isso direito, pela Marlene.
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Sob seu comando, incontáveis feixes de luz apareceram na superfície, unindo-
se à Fonte Vital. Então, com o Planeta coberto e protegido como que por uma rede, o
Meteoro teve seu curso mudado de volta para o espaço sideral. O movimento da luz
foi como uma valquíria guiando seu exército imortal pelos céus.
— Aí, Aerith, viu só o golpe final do Cloud? — Zack guiou sua energia para a
segunda onda enquanto o Meteoro era jogado de volta, perdendo sua força. — Aquela
também era uma técnica minha. Isso não te deixa caidinha de novo não?
Com o espaço de que precisava agora aberto, o Sagrado começou a fazer efeito.
Agindo como uma barreira, as partes do Meteoro que entravam em contato com ele
eram reduzidas a pó e atiradas ao espaço. O Meteoro não era mais uma ameaça ao
Planeta e agora apenas esperava indefeso para ser eliminado.
O Planeta escapou da destruição.
Os pensamentos de Aerith foram libertados.
A bordo da Highwind, Cloud viu. Tifa também, assim como Barret e os outros.
Eles viram o sorriso de Aerith, que nunca deixou suas memórias, aparecer na Fonte
Vital e, bem suavemente, desaparecer enquanto retornava ao Planeta.
Enquanto o tempo voltava a se mover, a tristeza de todos pareceu ter sido um
pouco curada. E então, os registros da vida que o Planeta criou continuaram.
Continuaram até o nascimento de uma nova era...
35 | F i n a l F a n t a s y V I I : A D a m a Q u e V i a j a P e l o P l a n e t a