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0|Final Fantasy VII: A Dama Que Viaja Pelo Planeta

FINAL FANTASY VII:


A DAMA QUE VIAJA PELO PLANETA

FINAL FANTASY VII: THE MAIDEN WHO TRAVELS THE PLANET


(A DAMA QUE VIAJA PELO PLANETA)
BENNY MATSUYAMA
DESIGN DE PERSONAGENS: TETSUYA NOMURA / ROBERTO FERRARI

Traduzido, revisado e editado por Sorinha Phantasie.

Esse livro é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são obra da
imaginação do autor ou usados de forma fictícia. Quaisquer semelhanças com eventos, locais ou
pessoas, vivas ou mortas, são coincidências.

FINAL FANTASY VII © 1997, 1998, 2015, 2016


Square Enix Co., Ltda. Todos os direitos reservados.

Tradução em português brasileiro pela PHANTASIE TRANSLATE, 2023.


A tradução deste material foi elaborada e disponibilizada sem fins lucrativos. Se você pagou
pelo acesso a este livro, você foi enganado.
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1|Final Fantasy VII: A Dama Que Viaja Pelo Planeta


FINAL FANTASY VII:
A DAMA QUE VIAJA PELO PLANETA

ÍNDICE
CAPA
PREFÁCIO

PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7

2|Final Fantasy VII: A Dama Que Viaja Pelo Planeta


3|Final Fantasy VII: A Dama Que Viaja Pelo Planeta
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PREFACIO
A DAMA QUE VIAJA PELO PLANETA

Dama Que Viaja Pelo Planeta é um conto curto escrito por


Benny Matsuyama, lançado exclusivamente como conclusão do Ultimania Omega de
Final Fantasy VII, publicado em 2006.
Esta história, que relata as peripécias de Aerith (ou Aeris, para os mais antigos)
na Fonte Vital após sua morte pelas mãos de Sephiroth, não está oficialmente inclusa
na coletânea On the Way to a Smile (A Caminho de um Sorriso). Isso provocou muita
controvérsia sobre se a história pode ser considerada canônica (inserida oficialmente
na história geral do jogo) ou se na verdade trata-se de uma fan-fiction (não está na
linha oficial da história do jogo, mas conta com a bênção da Square Enix). As provas
que sustentam este lado da balança são o fato de a história não ter sido escrita por
Kazushige Nojima (criador da história oficial de Final Fantasy VII junto a Hironobu
Sakaguchi) e também não ter sido recompilada na coletânea On the Way to a Smile,
lançada em conjunto com Final Fantasy VII: Advent Children Complete, que atém de
compilar os episódios anteriormente publicados de Denzel, Tifa e Barret, adicionou
novos envolvendo outros personagens.
Apesar da edição original do compilado não incluir esta história, achamos que
seria importante traduzi-la e disponibilizá-la em português com os demais episódios,
mesmo que separadamente. O fato de ter sido publicada em um documento oficial da
Square Enix já lhe dá esse mérito. Agora, se é uma história canônica ou não, isso eu
deixo para a imaginação do leitor.

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PROLOGO
A DAMA QUE VIAJA PELO PLANETA

mbaixo d’água...
Aerith estava afundando. Imóvel com a expressão facial de quem está apenas
dormindo, ela aos poucos afundava no lago frio e tranquilo. A rede de luz criada pelo
movimento das águas na superfície dançava sobre seu corpo inerte. Era como se
tentasse segurá-la.
Seu belo rosto não poderia mais mostrar aquela expressão cheia de energia. O
sentimento de felicidade e diversão que contagiava todos à sua volta, o carinho que
demonstrava aos fracos e as infinitas lágrimas que derramou em segredo... nada disso
voltaria a aparecer.
Seu corpo ficaria em silêncio por toda a eternidade.
Isso, no entanto, não significou o fim para Aerith. Ela estava observando. Não
através de seus lindos olhos verdes, mas de sua alma. Observava através de um corpo
desencarnado cheio de energia vital, como uma espécie de sobreposição a seu corpo
físico. Observava enquanto a superfície do lago se afastava. Observava enquanto
formas humanas a fitavam do um outro mundo enevoado — o mundo onde as coisas
estavam vivas era outro mundo para ela. Observava o rosto de Cloud, que parecia
estar de coração partido pela tristeza de perdê-la, cheio de ódio e revolta por não ter
conseguido impedir que ela lhe fosse tirada.
Não se culpe.
Não há com o que se preocupar.

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Tudo ficará bem, mesmo que o meteoro caia. Então não se deixe levar por
esses sentimentos.
Apenas pense em como você pode ser você mesmo.
Ela tentou dizer, mas seus lábios não eram capazes de se mover. Não havia
magia que a permitisse alcançar Cloud enquanto ele desaparecia ao longe. A luz que
vinha da superfície do lago ia ficando cada vez mais fraca e distante.
Ela afundava suavemente nas ruínas dos Cetra, a Cidade Esquecida.
Aerith, a última sobrevivente dos Cetra, havia cumprido sua missão de proteger
o Planeta. O lugar aonde devia ir agora, onde quer que fosse, não tinha fronteiras...

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CAPITULO 1
A DAMA QUE VIAJA PELO PLANETA

im. Onde quer que fosse.


Ela havia chegado ao fundo do lago. E mesmo agora, Aerith seguia afundando.
Seu corpo físico, mesmo muitos anos após perder a vida, continuaria no fundo
do lago, coberto pela vegetação submarina como se salpicado por neve. Era um triste
atestado de como havia sido eternamente separada de sua curta vida de vinte e dois
anos. O receptáculo que foi separado da alma lentamente retornava à Grande Terra
em meio à água pura. A consciência de Aerith, por outro lado, estava passando para o
próximo plano inferior.
Nada lhe pareceu diferente quando ela respirou levemente dentre a poeira que
flutuava à sua volta. Aerith continuava afundando em meio a uma pesada camada de
sedimentos. A única coisa que conseguia ver era uma grande escuridão... mas mesmo
sem luz, era um mundo calmo, acolhedor, onde ela não se sentia sozinha.
Ela logo percebeu que não era poeira ou lama aquilo que estava sentindo. Seus
sentidos se ajustaram para que pudesse sentir as coisas à volta. Seus cinco sentidos
estavam num patamar mais elevado agora, permitindo que ela sentisse a verdadeira
natureza dos objetos.
O mundo que ela via agora não era de trevas.
Ela estava completamente envolvida por uma fraca luz esverdeada. Ao mesmo
tempo, ela reconhecia o que via. Energia que se dividia em milhares, não, milhões de
fluxos que envolviam e circulavam cada parte do Planeta. A corrente de luz que a

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cercava era um desses fluxos. A quantidade de energia Mako que o Planeta possuía ia
muito atém da imaginação humana e não podia ser descrita com meras palavras.
Aerith sentia como se o Planeta estivesse pulsando, cheio de vida. Ela observou
o brilho da Fonte Vital que fluía por toda parte. Ela a reconheceu como o ponto de
origem da vida para o qual tudo retornava.
Era um lugar cheio de energia, onde incontáveis almas se uniam a seus
conhecimentos e experiências. Mesmo suas memórias eram independentes delas. Mas
Aerith estava “inteira”. Ela manteve sua individualidade no lugar onde a consciência
dos mortos fluía e espiralava pelo vazio, mantendo a personalidade que tinha quando
ainda era viva. Ela manteve a consciência da Aerith Gainsborough que uma vez ela
fora mesmo agora, vagando pela Fonte Vital.
Ela não sabia que isso lhe aconteceria.
Como a última Cetra sobrevivente, ela tinha a missão de manter a riqueza da
Grande Terra durante a jornada de sua vida. Aerith falava com o Planeta. Isso é,
falava com a consciência que era parte da Fonte Vital. E foi assim que soube que a
morte não era o fim da vida.
A maioria dos humanos imaginava que a morte significava se tornar “nada”.
Ter a consciência engolida pela escuridão para jamais despertar novamente, um vazio
que não podia ser compreendido. Eles viam a morte como a aniquilação total. Por
isso os humanos temiam a morte. Eles tinham medo de perder sua existência. Ainda
que compreendessem que eram uma raça de vida curta, muitos tentavam evitar isso,
mesmo aqueles que chegavam a uma idade elevada após uma vida plena.
Aerith sabia que a morte não significava ser aniquilada. Sabia inclusive sobre o
mundo que um Cetra alcançaria no final, após cumprir a missão que tinha para com o
Planeta. Foi por isso que ela aceitou a morte sem medo, mesmo quando teve uma
forte sensação de que a hora estava chegando. Ela cumpriu sua missão como devia,
sem qualquer medo. Seu coração estava em paz, embora os humanos, que haviam
perdido a habilidade de falar com o Planeta há muito tempo, dissessem que ela
morreu sob circunstâncias não-naturais. Ela não tinha arrependimentos, como querer
estar viva ou sentir que não havia cumprido sua missão.
Mesmo assim, ela estava triste. Seu coração doía.
Todos os companheiros com quem havia se aventurado, as primeiras pessoas
de quem havia se aproximado, a mãe que a acolheu e criou por quinze anos, Elmyra,
as pessoas que ela não conhecia muito bem, as pessoas que poderia ter conhecido no
futuro, pessoas que ainda não tinha conhecido — era fato que ela não poderia mais
estar entre os vivos.
Aerith também sabia que a tristeza também acompanhava aqueles que havia
deixado para trás. Eles não sabiam que ela ainda existia na forma de sua alma. Eles
não precisavam saber. Afinal, mesmo que soubessem, a tristeza não seria curada pela
verdade. Mas pensar no sofrimento de todos só tornava sua dor maior.
Aerith sofria ainda mais quando pensava em Cloud.
Ela também tinha sentimentos por ele. No início, pensou que, de alguma forma,
ele era um pouco parecido com o seu primeiro amor. Mesmo assim, sua aparência,
sua voz e personalidade não eram iguais e a faziam pensar nele como uma pessoa
misteriosa... mas isso logo não importou mais. Ela o amava muito mais do que seu
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primeiro amor. Cloud era seu herói e ele não conseguia ficar longe do perigo. Ela o
via como uma pessoa cheia de confiança, tranquila, e tinha a impressão de que ele
desapareceria num instante se ela tirasse os olhos dele. Ela queria ficar ao lado dele
para sempre se pudesse. De verdade.
Quando ela deixou seus companheiros e partiu para a Cidade Esquecida, o
coração de Cloud era como um ovo prestes a rachar. Não como quando estava para
chocar, mas como se a gema pudesse vazar a qualquer momento. Era como se sua
mente fosse se despedaçar. Ela queria confortá-lo. Se não fosse a última sobrevivente
dos Cetra, ela provavelmente o teria feito sem hesitar.
Entretanto...
O homem que se vestia de preto, de pele pálida e cabelos prateados, que certa
vez tinha sido um grande herói, herdou toda a vontade do “desastre que caiu do céu”,
Jenova, e estava em um estado de loucura. Ele evocaria a mais poderosa das magias
de destruição, o Meteoro, usando a Matéria Negra. Tendo recebido a missão de seus
ancestrais Cetra, Aerith não tinha escolha a não ser cumpri-la. Mais cedo ou mais
tarde, Sephiroth evocaria o enorme meteoro que infligiria um dano gigantesco ao
Planeta. O ferimento seria tão grande que poderia destruir o Planeta. Sem dúvida, o
Planeta concentraria então uma grande quantidade da Fonte Vital na tentativa de
curar a si mesmo. A intenção de Sephiroth era tomar todo este poder para si. Depois
disso, ele se tornaria um com o Planeta, o que essencialmente faria dele um Deus. Ele
então provavelmente queimaria todos os humanos que tanto odiava até a morte. O
futuro do Planeta e todo o ciclo da vida como ela conhecia acabariam.
Aerith podia sentir, através dos murmúrios do Planeta, que algo poderia ser
feito para impedir que o pior acontecesse. Também sabia que era algo que somente
ela, a última Cetra, podia fazer. E ela só obteria o conhecimento necessário para isso
na Cidade Esquecida. Mas ir até lá também significaria tornar-se a maior obstrução
aos planos de Sephiroth.
Neste momento, Aerith poderia muito bem ter hesitado. Ela deixaria todos os
humanos morrerem ou evitaria tal desastre em troca de sua própria vida...? Mas ela
nunca chegou a pensar nisso — ela já estava pronta. Quando ela hesitava por deixar
Cloud sofrer, pensava em como isso não salvaria seus amigos e nem as pessoas do
mundo. Ela já eslava decidida. Não havia outra escolha. Também era por Cloud.
E então, sozinha, ela partiu para o altar da Cidade Esquecida, para descobrir o
que deveria fazer. De fato, a chave era a última dos Cetra. Era a Matéria Branca que
os Cetra passavam de geração em geração. Como se carregasse o destino da última
Cetra, essa relíquia era capaz de evocar a mais poderosa de todas as magias brancas,
o Sagrado, necessário para contra-atacar o Meteoro. Era a Matéria que fora confiada a
Aerith por sua mãe, Ifalna. Ela nunca a havia usado antes e a mantinha escondida sob
seu laço, jamais se afastando dela.
Ela tinha a Matéria Branca — e uma vez tendo descoberto que a chave estava
consigo esse tempo todo, Aerith orou com todo o coração. Através da Matéria, ela
falou com o Planeta, tentando evocar o poder do Sagrado, que destruiria o Meteoro.
Mesmo a menor hesitação poderia significar que suas orações não alcançariam o
Planeta. Mas ela conseguiu. Os requerimentos foram cumpridos antes que Sephiroth

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conseguisse atacá-la após perceber suas intenções. Quando a espada a perfurou, ela
aceitou a morte que sentira tanto tempo antes. Ela pareceu em paz.
Mas um lamurio veio a ela.
Não era ela quem estava chorando. Se fosse, então teria sentido o sangue lhe
subindo a garganta e a fúria tentando forçar passagem pelas profundezas de sua alma
— na verdade, era o som do coração de Cloud se partindo. Era o grito do seu coração,
que jamais poderia ser curado do sofrimento pela morte de Aerith, da culpa sentida
por ele e do ódio que nutria por Sephiroth.
Ela ficou surpresa diante do grande sofrimento que ele estava sentindo. Estava
um pouco feliz por ver o quanto ele se importava com ela, mas também sofria uma
dor muitas vezes maior. Não havia nada que ela pudesse fazer quanto ao sofrimento
de Cloud e à dor em seu coração.
A dor continuava, mesmo com ela na Fonte Vital.
Embora tivesse perdido seu corpo, ela ainda reconhecia a dor, pois criava uma
imagem de si mesma em sua mente. Aerith abaixou o olhar enquanto repousava as
mãos sobre seu coração agitado... e ela logo se deu conta de uma coisa. Tudo à sua
volta era a existência de um incontável número de consciências. Havia muitas vozes e
uma abundância de memórias. Aquilo tudo à sua volta era algo que ela nunca havia
sentido quando estava na igreja em Midgar. Assim como ela, as almas daqueles que
morreram retornaram ao Planeta e estavam todas ali.
Mesmo assim, ela não conseguia ver ninguém por perto que tivesse uma forma
como ela. Pelo que podia ver, apenas ela reteve a imagem de sua forma passada
naquela névoa de energia cheia de consciências distintas.
Será... que é porque eu sou uma Cetra?
As palavras soaram como um murmúrio de Aerith. Ali, palavras e pensamentos
eram iguais. Como uma entidade formada apenas pela consciência, seus pensamentos
e sentimentos eram expressados por ondas que ela emitia. Da mesma forma, o grande
número de memórias na Fonte Vital também chegava a ela através de todo tipo de
onda. Por toda a volta, ela ouvia murmúrios dizendo como se você não possuísse uma
personalidade forte, logo não saberia mais qual consciência era a sua própria.
Gostaria que as minhas palavras chegassem ao Cloud...
Aerith fez uma careta, parecendo um pouco descontente. Ela não era afetada
pela confusão das várias consciências que existiam em meio ao mar de memórias e
conhecimento dentro da energia Mako. Devido à sua experiência ouvindo as vozes do
Planeta desde pequena, Aerith tinha desenvolvido muita paciência. Ela foi criada de
forma que conseguisse reter sua própria consciência, fortalecendo sua personalidade.
Mas ela entendia que retornar ao Planeta dependia de como ela se separaria do
“todo”. Quando gotas d’água caem num lago, elas se misturam e não podem mais ser
vistas. Não importava o quão acostumada estivesse com isso, Aerith ainda achava
estranho que sua alma permanecesse única no vasto mar de energia consciente.
Mas a Fonte Vital também deve ser um Cetra, assim como eu.
Minha mãe morreu e ela também era uma Cetra... e já faz quinze anos. Nesse
tempo, talvez eu também desapareça e me torne um com o Planeta.
Virando a cabeça para o lado, ela pensou mais sobre o assunto.
Será que vou poder falar com o Cloud em algum lugar?
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Só para dizer que estou bem... é meio estranho dizer que estou bem, mas talvez
eu consiga uma maior “clareza” sobre mim mesma aqui.
Talvez ela pudesse entender melhor seus sentimentos com relação a Cloud ali.
Quem sabe então talvez eles fossem vistos como uma família ou talvez amantes...
Durante sua vida em Midgar, ela sentiu muitas almas daqueles que tentaram
confessar seu amor. Aqueles que ainda tinham esses sentimentos ou que os deixaram
para trás podiam manter sua consciência “inteira”.
Mas isso significa que eu vou desaparecer quando encontrar o Cloud? Me
pergunto se é isso o que está acontecendo agora.
Ou... será que ainda há alguma coisa que eu preciso fazer...?
Nesse momento, Aerith sentiu algo como um choque elétrico a atravessar. Ela
fechou uma das mãos em punho e bateu na palma da outra mão, finalmente dando-se
conta. Era apenas ela imaginando sua forma espiritual batendo as mãos, mas ela pôde
ouvir claramente o barulho da batida.
Faz sentido. Há um significado para tudo isso. Deve haver ima razão para eu
não ter me fundido à Fonte Vital ainda e estar aqui como estou.
Assim como eu era a única que podia conjurar o Sagrado do Planeta... ainda
deve haver mais alguma coisa que eu tenho que fazer.
Assim que esse pensamento lhe passou pela cabeça, ela sentiu uma pequena
comoção por parte do Planeta. Não era das consciências individuais, mas o Planeta
como um todo parecia querer confirmar o que ela estava dizendo.
...Entendo. Mas o que será que é?
Sua dúvida foi respondida com silêncio. O Planeta também não sabia o que era.
Ela sorriu como as flores que costumava vender na comunidade. Sob a cálida
luz fluorescente, o sorriso que era amado por todos desabrochou docemente.
Tudo bem. Ainda há pessoas das quais não quero me separar. Ainda não posso
descansar. Até que essa hora chegue, viajarei por aqui por um tempo.
Se eu passar meu tempo aqui no Planeta... na nossa Terra Prometida...
Desejando poder afastar seus pensamentos, Aerith desviou o olhar para o céu.
Ela olhou para atém dos limites do Planeta sobre sua cabeça. As partículas de Mako
que flutuavam e brilhavam lhe pareciam o céu noturno.
Ela fitou o céu, como quando estava ao lado de Cloud em volta da fogueira em
Cosmo Canyon.

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CAPITULO 2
A DAMA QUE VIAJA PELO PLANETA

o mundo de Mako — Aerith sabia que o conceito de distância ali


era diferente do que na superfície.
O tempo parecia passar mais devagar se assim ela desejasse, e também podia
voar num piscar de olhos. A passagem do tempo no Mako na verdade não tinha
significado. A história do Planeta era composta de memórias acumuladas, e agora
todas estavam unidas e sempre ao lado dela. Havia memórias do presente e também
do passado. Não havia como Aerith ver todas elas, mas os eventos gravados nas
memórias ultrapassavam o tempo e estavam unidos como um todo. Isso indicava que
o tempo estava avançando para o futuro no mundo dos vivos. Enquanto essas novas
memórias da superfície se fundiam com o Planeta, novas vidas eram levadas ao
mundo, com a energia do Planeta como dirigente. Esse ciclo lhe mostrava como o
tempo seguia de um período a outro.
Tudo estava conectado ao interior do Planeta através da Fonte Vital. Mesmo na
superfície, nos lugares mais distantes, o fluxo de energia consciente seria entregue.
Por outro lado, havia lugares muito próximos, mas que, ainda assim, a energia não
conseguia alcançar. Havia regiões aonde mesmo o fluxo de Mako não podia chegar.
Aerith se perguntava se era culpa dos Reatores de Mako. A energia nunca deveria ter
sido usada daquele jeito e, se continuassem a extraí-la à força, isso com certeza
perturbaria o equilíbrio. Se o Planeta pudesse ajudar os humanos a viver uma vida
mais fácil, ele provavelmente o faria. Mas a Shinra estava indo longe demais. Se sua
ganância continuasse, então o equilíbrio do Planeta entraria em colapso. Aerith se
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lembrou de como as flores só cresciam na igreja em Midgar, embora toda a cidade
estivesse cheia de Mako.
Enquanto se deixava levar pela Fonte Vital, Aerith pensava consigo mesma:
E é por isso que todos da Shinra querem saber onde fica a Terra Prometida.
Um lugar abundante de energia Mako, onde apenas os Cetra sabem chegar...
Mas esse lugar é aqui.
O lugar para onde todos irão um dia, quando retornarem ao Planeta.
A terra onde a Shinra poderia obter toda a energia que quer não existe, não é?
Foi tudo um grande engano.
Ela olhou para o mundo de Mako em movimento. Ele não apresentava muitas
mudanças.
A Terra Prometida que Sephiroth tinha em mente era muito diferente.
Ele estava tentando criá-la à força. Ele desejava ferir o Planeta para que toda
a energia se concentrasse em um só lugar. Para que pudesse controlar tudo sozinho.
Essa era a Terra Prometida que Sephiroth queria...
Aerith tremia enquanto imaginava o como ficaria o Planeta se isso acontecesse.
— Será que o Cloud e os outros estão bem...? — ela disse consigo mesma. —
Espero que ele e a Tifa não estejam muito sobrecarregados indo atrás do Sephiroth...
Foi quando...
— Cloud...? Tifa? Barret?
As ondas de uma das consciências ao lado de Aerith se expandiram como se
reagissem às suas palavras. Ela se apressou para sair da corrente onde estava, porque
era a primeira vez que encontrava outra consciência firme além dela própria. Ao se
aproximar do lugar de onde a voz viera, uma sombra se ergueu em meio ao Mako.
Não era uma imagem clara como a de Aerith, mas ela conseguia reconhecer que se
tratava de uma silhueta feminina.
— Você os conhece? Quem é você?
— Eu..
Parecia que sua memória estava distorcida. Provavelmente era porque a maior
parte da alma já havia se fundido ao Mako. Mas seu âmago não havia se decomposto
e ainda estava ali como um fodo.
— Ah, eu tenho que me apresentar primeiro. Meu nome é Aerith. Por acaso
você seria um dos membros do Avalanche?
— Avalanche... sim, sim, é isso.
Suas memórias estavam sendo reconstruídas no mar de Mako. Dando-se conta
de quem era mais uma vez, a figura transparente rapidamente retornou à forma que
tinha quando ainda estava na superfície. Como se Aerith tivesse alguma influência
sobre ela, as cores também começaram a voltar.
Comparada a Aerith, ela ainda parecia frágil, mas parecia mais humana agora,
e as roupas que costumava vestir também reapareceram. Seus cabelos estavam presos
em rabo de cavalo para não atrapalhar e suas roupas pareciam as de um soldado. Ela
também havia chegado ali cedo demais e tinha quase a mesma idade de Aerith.
— Como é que eu fui esquecer? Meu nome é Jessie, do Avalanche. Ei... você
não é a Srta. Aerith?
— Pode me chamar só de Aerith.
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— Valeu, Aerith. Você conhece o Cloud, a Tifa e o Barret, né? Como é que tá
todo mundo? Ainda tão lutando contra a Shinra? Ah... — Jessie abaixou a cabeça,
como se para se desculpar. — Você deve estar como eu, já que está aqui.
— Não se preocupe. Tenho certeza que todos estão bem.
Ela afastou esses pensamentos, tentando evitar a imagem de Cloud. Ali, ela não
podia esconder, então teria que não pensar nele.
— Houve um incidente que incomodou o Barret por um bom tempo. Então foi
lá que você morreu... você era uma das pessoas que estava tentando proteger o pilar
do Setor 7 como membro do Avalanche na época. Até então, eu só tinha conhecido o
Sr. Wedge.
— Wedge?! — Os olhos de Jessie se arregalaram. — Sim, e o Biggs também!
Nós três chegamos aqui juntos, mas nos perdemos... é, até um momento atrás, eu não
me lembrava de nada. Até encontrar você, Aerith.
Como se guiadas pelas memórias de Jessie, mais duas figuras apareceram. As
formas de um homem de barba rala e de um outro mais cheio logo se formaram.
— E-Eita! — O homem barbado, Biggs, olhou para as palmas das mãos. —
Ainda sou eu. Pensei que ia desaparecer.
— Fico tão feliz de poder ver vocês de novo! E... você é aquela que cuidou de
mim daquela vez, a senhorita... Aerith, não é? Você também morreu?
Em vez de dar a resposta óbvia, Aerith sorriu.
— Já faz muito tempo, Sr. Wedge. É um prazer conhece-lo, Sr. Biggs. Depois
daquilo, eu também me tornei membro do Avalanche, então isso faz de mim uma
espécie de caloura entre vocês, não?
— Hmmm, acho que isso mostra como ser do Avalanche traz um baita risco de
morte, né não?
— E o Barret, ainda cheio de marra? Quer dizer, ele sempre foi mó gente boa.
— Caloura? Cara, como eu tô feliz! Sempre quis ser veterano!
Depois disso, Aerith contou aos três o que o Avalanche estava enfrentando
agora. Não era apenas a Shinra, mas também uma existência muito mais perigosa,
conhecida como Sephiroth. Eles haviam deixado Midgar para impedir os desejos
malignos de Sephiroth de tornar o Planeta seu.
— Então o Cloud é um de nós agora... fico feliz.
— He, he, he... ele é um cara frio, mas eu sabia que se juntaria a nós.
— Então quer dizer que o Sr. Cloud também é um calouro? Vai ser complicado
lidar com ele.
Houve uma grande comoção entre os membros do Avalanche enquanto eles
conversavam e sorriam. Mas no final, Aerith percebeu sua tristeza. Havia um remorso
profundo que conectava três.
— Qual o problema? Todos vocês parecem estar sofrendo...
— Bom... é por causa da forma como as nossas vidas terminaram. Agora nós
não podemos nos redimir.
Jessie abaixou o olhar enquanto Biggs continuava:
— Nós lutamos como parte do Avalanche porque tínhamos os mesmos ideais e
afinidades. Pensamos que seria inevitável fazer alguns sacrifícios para deter a Shinra.

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Mas estávamos errados. Nós entendemos isso quando chegamos aqui. Você também
sabe, não é, Aerith? Sobre a explosão do Reator de Mako do Setor l.
— Sim... O Setor 1 não ficava muito longe da comunidade onde eu morava.
Não soubemos dos detalhes, mas ouvi dizer que muitas pessoas morreram...
— Naquela época, nós só achamos que eles iam era receber o que mereciam se
fossem pegos na explosão, já que era tudo gente que trabalhava pra Shinra na cidade
alta. Mas no final, todos nós acabamos aqui, tendo trabalhado pra Shinra ou não.
Então estamos pensando em por que fizemos tudo isso. Na verdade, só o que a gente
fez foi aumentar o tom de voz e gritar nossa opinião bem alto, como um bando de
bêbados. Nós exageramos demais no nosso método de salvar o Planeta...
— Eu também não pensava muito na época... não queria só viver uma vida
pequena. Eu queria brilhar. Então pensei que me juntando ao Avalanche, eu poderia
ser um herói que salvaria o futuro do Planeta, e era só nisso que eu pensava. Nunca
imaginei que acabaria envolvendo outras pessoas. Que idiota...
Wedge abaixou a cabeça, envergonhado.
— O plano todo na verdade foi criado pelo Avalanche antigo, que já não existe
mais — prosseguiu Jessie, a voz cheia de remorso. — Tinha vários outros membros
do Avalanche, era um grupo muito mais radical. A gente só herdou o nome desse
grupo de resistência, “Avalanche”, das pessoas que já tinham partido. Mas detalhes
de como fazer uma bomba e os planos de onde colocá-la tinham sido deixados no
computador. Já que eu era boa com máquinas e bombas, decidi tentar... mas tenho
certeza que esse plano não foi criado com a simples intenção de desabilitar o Reator
de Mako l. As pessoas que criaram esse plano horrível odiavam a Shinra. Odiavam
tanto que chegariam ao ponto de sacrificar pessoas. Eu devia ter percebido. O Barret
não sabia de nada disso...
— É por isso... — Desolado, Biggs desviou o olhar para o céu — É por isso
que nós queremos retornar ao Planeta agora. Queremos desaparecer. Agora eu me
lembro. Só que é impossível. O Barret está lutando para salvar ainda mais pessoas...
mas a gente não pode fazer nada para pagar pelos nossos pecados. Só o que podemos
fazer é continuar aqui e sofrer.
— No fim das contas, foi fácil simplesmente esquecer quem a gente era porque
queríamos ficar aqui em paz.
— Não funcionou. Quando tínhamos a chance, voltávamos a ser como éramos.
Mas mesmo assim, nunca fomos uma entidade tão clara quanto você. É quase como
se fosse uma maldição.
Os três riram com autodepreciação, até que tudo terminou num suspiro.
— Mas... mas... — Aerith se esforçou para confortá-los com suas palavras —
Todos cometem erros. Eu, por exemplo, vendia flores sem nem pensar, por dinheiro.
— Hmmm... não dá pra comparar a minha estupidez com isso.
— Mas vocês passaram todo esse tempo sofrendo...
— Obrigado, Aerith. Mas como veterano do Avalanche, é uma história muito
vergonhosa. Essa lengalenga toda parece que saiu pela culatra pra mim.
— Eu não posso me perdoar, de jeito nenhum. Por isso esse é o único jeito de
eu ficar aqui.

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— Ainda chegará o dia em que vamos poder retornar ao Planeta, mas agora
ainda não podemos. Vá, Aerith. Você deve estar nessa forma porque ainda tem algo a
fazer. Receio que as nossas memórias cheias de pecado vão te atrapalhar.
— Não...
— E se isso acontecer, nós vamos sofrer ainda mais. Então vai, por favor.
Jessie estava mentindo. Aerith sabia que ela estava tentando afastá-la para que
não precisasse dividir essa dor.
Os fantasmas dos três começaram a desaparecer. Aerith mordeu o lábio inferior
enquanto as lágrimas se formavam em seus olhos.
— Por favor, deixem-me dizer pelo menos uma coisa. Naquele dia, muitas
pessoas conseguiram fugir porque vocês fizeram de tudo para proteger o pilar do
Setor 7. Tenho certeza que o número de sobreviventes foi muito maior que o de
baixas no Setor l. E eu também consegui salvar a Marlene por causa disso. Talvez
não seja o suficiente para libertá-los... e eu sei que as vidas das pessoas não é algo
que se deva somar ou subtrair, mas... por favor, lembrem que não são apenas pecados
que vocês carregam.
— Obrigada, Aerith... obrigada.
A voz de alguém que já não sabia mais quem era ecoou e eles foram levados de
volta à prisão que eles próprios escolheram, afundando no mar de memórias.
Aerith secou suas lágrimas e começou a andar de novo. Ela rezava para que as
almas dos guerreiros do Avalanche pudessem descansar em paz em breve.

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CAPITULO 3
A DAMA QUE VIAJA PELO PLANETA

erith não sabia quanto tempo havia se passado na superfície.


Teriam se passado dias desde que se encontrou Jessie e os outros ou tinha sido apenas
há alguns momentos?
Ela imaginava se sua dor podia ser curada por eles próprios. Enquanto se fazia
esta pergunta, Aerith continuou viajando pelo mundo subterrâneo. Ela vagava pela
Fonte Vital, no mar de Mako do Planeta.
Quando viu o próximo fantasma, ela prendeu a respiração por um momento. A
ponta de um tubo de aço se assomava em meio a uma luz fraca. Quando Aerith notou
que era uma mão artificial ligada a um braço, pensou que Barret também havia
deixado o mundo dos vivos.
— Marlene...!
Aerith sentiu seu coração apertar quando pensou em Marlene — mas ela tinha
certeza de que a menina tinha fugido de Midgar com sua mãe, Elmyra.
As ondas de pensamento de Aerith se expandiram e alcançaram o fantasma. A
figura completa de um homem com uma arma ligada ao braço se formou no Mako. A
arma emitia uma luz fria, mas estava no braço esquerdo. A arma era espantosa, como
se fosse fisicamente real, e a figura débil do homem estava tingida de vermelho.
— Você é...?
— Uma mulher... onde foi que eu a vi antes? Você sabe até o nome da Marlene.
— Nós já nos conhecemos, não é, Sr. Dyne?

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Ele era Dyne, o governador da Prisão de Corel, uma terra de exilados cheia de
areia e lixo. Também já tinha sido o melhor amigo de Barret. Depois do que a Shinra
fez com sua cidade natal, o desespero acabou lhe tomando sua sanidade e, em um
estado de loucura, ele matou muitas pessoas.
— Ah, entendo. Você é a garota que estava com o Barret. Então isso deve
significar que também está morta. Uma pena. — Sem acreditar no que via, Dyne riu.
— Nem acredito que mesmo após matar tantas pessoas, acabei vindo parar no mesmo
lugar que uma garota inocente como você. Este mundo é mesmo um absurdo. Como é
chato este Planeta. Tudo realmente devia ser destruído.
— Você vai continuar dizendo isso? — A figura de Aerith parecia contrastar
com a de Dyne. Ela ergueu as sobrancelhas esguias. — Mesmo ainda se importando
tanto com a Marlene...
— Quem liga? Garota, você...
— Meu nome é Aerith.
— He, he, he... Você é forte. Meu braço esquerdo é tudo o que resta da minha
vida passada. Muito bem, vou chamá-la por esse nome. Você ouviu o que eu disse
daquela vez, não é? As palavras que troquei com o Barret. Quando estava tentando
destruir ludo, eu pretendia trazer a Marlene para cá comigo também.
— Você está mentindo. Era só um blefe.
— Eu não posso mentir aqui, posso? Para ser franco, posso pelo menos garantir
que estava refletindo profundamente sobre isso na ocasião. Então eu desafiei o Barret
para um duelo e fui iluminado. — Por um tempo, Dyne riu de como teve de pagar por
tudo com seu braço direito e seu corpo. — E eu agradeço ao Barret por isso. Afinal,
fui engolido pelo próprio mundo que queria destruir. Eu não queria acabar com a
minha própria vida. Então, em vez disso, usei todas aquelas pessoas inúteis que
viviam amedrontadas na terra do exílio, libertando-as e tornando-as felizes. Agora
você compreende, Aerith? Diante de você está a aparição inútil e despedaçada de um
homem que nem mesmo o Planeta aceitou. O Planeta ao qual minha esposa Eleanor
já retornou. E eu já confiei a Marlene ao Barret. O que quer que aconteça ao Planeta
agora não me interessa mais.
Vendo como Aerith ficou em silêncio, ele riu mais uma vez de como conseguiu
fazer a garotinha insolente recuar. Então ele percebeu que não era engraçado e notou
que Aerith jamais havia tirado os olhos dele. Ele se deu conta de que, na verdade, não
a fizera recuar. Havia um brilho em seus olhos verdes-esmeralda que fez com que a
sua loucura se acalmasse.
— Você não tem coragem.
— O que você disse?
— Eu repito: você não coragem. Não tem coragem de voltar e recomeçar. Você
só fica dando voltas e mais voltas, fazendo o que é mais fácil para você.
Enquanto Aerith encarava Dyne, ela avançou um passo. Sob a pressão de seus
poderosos olhos, ele escondeu o rosto com sua arma e recuou inconscientemente.
— O Barret também trocou um dos braços por uma arma. Ele jurou que ia
destruir a Shinra com sua raiva e seu remorso. É por isso que as mãos dele também
estavam sujas com o sangue de muitas pessoas. Mas ele não se deixou abalar. Além

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de aceitar o fardo, ele realmente está tentando salvar o Planeta agora. Está tentando
proteger o mundo no qual a Marlene vai poder viver sem fugir.
— Poder mudar desse jeito é a maior força daquele idiota.
— O Barret é especial e você é diferente?
Dyne gemeu diante da pergunta. Ele eslava acordando da loucura. Era a coisa
que ele mais odiava. Tinha ficado esse tempo todo num estado de loucura para lentar
esquecer de si mesmo, mas o olhar fixo de Aerith dispersou a névoa de loucura que o
cercava. A armadura em volta de seu coração se partiu.
— Posso sentir o fedor do sangue daqueles que matei com minhas próprias
mãos nas profundezas da minha alma. Não vê? Eles estão presos a mim há todo esse
tempo. Se eu sequer tentar voltar, eles me arrastarão de volta para cá.
A névoa avermelhada que circundava a figura de Dyne subitamente deu lugar a
uma substância viscosa. Nos quatro anos desde que a cidade de Corel fora destruída,
ele não se importou com quanto ódio acumulou com seu braço esquerdo mecânico, e
agora estava banhado de sangue. Foi o fardo do pecado que fez Dyne desistir.
— Como eu posso recomeçar? Só o que podia fazer era continuar nesse estado.
Só o que podia fazer era odiar tudo e me afogar na loucura! Eu estava errado?
— Você está errado. — Ela não o coagiu. Em vez disso, se aproximou de Dyne
com toda a gentileza. Estendendo as mãos, tocou a camada de sangue que o cobria.
— O sangue que o cerca é algo que a sua culpa está criando. As vidas que você tirou
retornaram à Fonte Vital há muito tempo. Você não pode esquecer o que fez, mas não
há por que não recomeçar. Eu garanto.
A partir de onde Aerith havia tocado, o sangue começou a secar, separando-se
de Dyne cada vez mais. Então o braço esquerdo de Dyne começou a desaparecer.
— Eu vou poder retornar ao Planeta algum dia...?
— Tenho certeza que sim.
— Quando a Marlene chegar ao fim de sua vida e vier para cá, vou poder sair e
recebê-la como parte do Planeta...?
Aerith olhou para o rosto de Dyne e assentiu com um sorriso.
—Porque você está recomeçando. Vai dar tudo certo.
O rosto desfocado de Dyne agora podia ser visto claramente. Era diferente da
pessoa que ela havia conhecido na Prisão de Corel. Era o rosto verdadeiro de alguém
que amava sua família e a cidade natal mais do que qualquer um.
Ele não podia mais voltar aos tempos pacíficos de quando trabalhava nas minas
de Corel antes da tragédia. Tanto Dyne quanto Aerith sabiam disso. Mesmo assim, os
corações das pessoas podem ser reconstruídos. Elas podem se erguer e enfrentar essas
lembranças dolorosas. Se isso não acontecesse, então o mundo seria verdadeiramente
um absurdo sem fim.
— O que eu posso fazer nesse mar de Mako? Não, a questão é o que eu devo
fazer. Vou continuar pensando naqueles que matei por um tempo. Até que um dia eu
possa me unir ao Planeta.
— Sim, acho que é uma boa ideia.
— Aerith, me perdoe pela forma como a tratei. Fico feliz por tê-la conhecido.
— Não, você não me tratou mal.
— Você é mesmo uma pessoa incrível.
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Pela primeira vez, Dyne sorriu do fundo do coração e, sem dizer mais nada, sua
imagem desapareceu. A ponta da arma de seu braço esquerdo também sumiu.
— Após morrer e passar por tudo isso, eu finalmente posso parar de virar as
costas para o Barret e a Marlene. Deixe-me agradecer...
Pouco antes de ele afundar por completo na Fonte Vital, Aerith viu — ela viu
partículas de Mako seguindo em direção a Dyne e se juntando a ele, quase como se
tivessem vontade própria.
A voz fraca de Dyne ainda podia ser ouvida:
— Eleanor?
E com isso, Aerith voltou à sua jornada.

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CAPITULO 4
A DAMA QUE VIAJA PELO PLANETA

té então, Aerith pensava que a Fonte Vital não tinha cheiro.


A forma como sua alma percebia as coisas era meio que usando cinco sentidos
espirituais: por meio da audição, ela percebia as memórias remanescentes à sua volta
e a visão lhe indicava quão fraca ou apagada estava a energia em forma de imagens.
Era verdade que ela também podia tocar as coisas neste mundo, mas pode-se dizer
que era apenas uma extensão da visão.
Não havia necessidade de comer, então, evidentemente, não havia paladar. Ela
apenas sabia que o seu sentido do olfato estava funcionando, embora não houvesse de
fato cheiro algum. Mesmo o sangue que cobria Dyne era apenas simbólico, então não
devia haver cheiro naquele mundo. Aerith pensou por um momento quão triste era o
fato de que mesmo as flores não tinham perfume ali.
Foi quando encontrou outra alma — e tinha o cheiro de algo podre. Era como
se ainda não estivesse totalmente decomposta, espalhando um cheiro desagradável,
de algo que estava apenas começando a apodrecer. Era o tipo de cheiro que faz uma
pessoa sentir náuseas.
Era o único ponto em que o Mako era fraco, uma região onde o Mako se
distorcia e evitava, como se fosse incapaz de se manter naquela área específica. Havia
um homem mais velho ali.
— Ora, ora, este é um rosto conhecido.
Como em sua vida passada, o homem vestia um terno caro, feito sob medida
especialmente para ele. Olhando melhor, Aerith notou que ele também mantinha uma
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imagem quase tão sólida quanto a dela. Mas as únicas coisas claras eram suas roupas,
sapatos e ornamentos caros. Seu rosto estava quase transparente. Ele tinha as
bochechas acentuadas, um bigode muito bem aparado e a voz rasgada típica de um
homem mais velho.
— Seu nome era... não importa. Você é a garota que tem o sangue dos Antigos
correndo nas veias. Estou correto?
— Isso não importa.
Mas Aerith realmente não tinha intenção de revelar seu nome. A pessoa diante
de si era o antigo diretor da Corporação Shinra, o Presidente Shinra, a autoridade
absoluta de uma corporação que havia superado o poder das nações.
— Compreendo. Então você também veio parar aqui. Está morta como eu? No
mesmo lugar que eu? — O presidente era incapaz de esconder a alegria em sua voz.
— Nos reencontramos no final, como se tivéssemos sido mandados para outra vida
juntos. O Planeta sabe mesmo fazer surpresas. Sinto que ganhei algo com tudo isso.
— Ganhou algo?
Era praticamente a mesma coisa que Dyne havia dito no início. Mas no caso de
Dyne, era mais cinismo com relação a si próprio. Esse homem era diferente. Aerith
sentia que o Presidente Shinra realmente acreditava no que estava falando.
— Você não entende, não é? Os Antigos são mais estúpidos do que eu pensava.
Bem, é por isso que você se recusou a cooperar com a Shinra, afinal. Ora, ora, mas
que vida miserável e patética.
— Quanta grosseria. Não me lembro de ser nada disso.
O velho deu uma risada diante da raiva de Aerith, como se de fato quisesse
apenas irritá-la.
— Não saber dos seus ganhos e perdas na vida é uma forma de felicidade. Mas
tente pensar a respeito. Após escapar do laboratório do Hojo junto à sua mãe, sua
vida se resumiu a quinze anos perdidos no lixão da comunidade. Quando os Turks a
encontraram, você poderia ter vivido uma vida de luxuosa nos setores superiores da
plataforma se tivesse voltado para nós. Na época, Hojo estava sonhando com alguma
outra experiência e então eu lhe instruí a ficar de olho em você. Mas se você tivesse
tomado a iniciativa e decidido cooperar conosco, eu a teria recebido calorosamente e
teria lhe dado tratamento especial. Mas e então, o que acha agora? Após viver na
comunidade, viver como um inseto, se envolver com o Avalanche e morrer sem saber
o que é o luxo, ainda pode dizer que sua vida não foi miserável?
— Esse seu ponto de vista é mesmo muito arrogante, tentando mensurar quão
afortunadas ou desafortunadas as pessoas são.
— Eu sou uma pessoa prática. Se for analisar friamente, tenho certeza de que
não encontrará outro ser humano que tenha lucrado tanto quanto eu. — Um sorriso
surgiu no rosto do presidente enquanto ele falava. — Com a minha perspicácia, eu
consegui expandir a Shinra, uma empresa que começou do nada produzindo armas,
ao tamanho que ela tem hoje. Descobrir as possibilidades do uso da energia Mako e
desenvolver os Reatores que absorvem energia foi o ponto de virada. A energia Mako
facilitou a vida das pessoas, aumentou sua satisfação e as tornou minhas escravas.
Após porem as mãos numa vida mais conveniente, isso se tornou viciante como uma
droga para as pessoas mais ignorantes e passou a controlar suas mentes. E nós, a
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Shinra, no controle dessa energia, expandimos a escala da nossa empresa num piscar
de olhos. Com táticas simples, conseguimos reunir todos os talentos que queríamos.
Sonhos de planejar a construção de uma metrópole, um programa de exploração
espacial... eles fariam tudo por mim. Eu podia usá-los. Eles me serviam como a um
rei. O público não conseguia ver o que estava acontecendo. Mesmo a mídia, que
controlava o público, era controlada por nós, que monopolizamos a energia Mako. A
Shinra dominou o país e eu ascendi a um trono no qual ninguém me criticaria, não
importava o que fizesse. Eu controlava todos os idiotas, tinha uma riqueza ilimitada e
regia o mundo todo! Eu não me importaria de ter vivido uma vida mais longa, mas
tudo bem. E então, o que acha, Antiga? Entende qual de nós dois ganhou mais na
vida? Ou melhor, entende como a sua vida foi miserável?
— Hmmm... talvez?
O que Aerith tinha entendido era que a felicidade do homem diante de si era
muito diferente de como ela via. A felicidade da qual ele falava não passava de coisas
relativas. Ele queria estar numa posição onde tivesse mais lucros que qualquer um.
Como resultado disso, as ideias da Shinra de absorver a vida do Planeta permaneciam
com ele mesmo agora. Ele era como uma alma impotente que já não conseguia mais
sentir felicidade, enquanto aqueles que foram menos afortunados que ele conseguiam.
Ela não linha intenção de falar tudo isso. Se este era o ponto final da satisfação
dele, então não havia nada a ser feito. Ele não conseguia se desapegar das riquezas
que havia juntado e, como lixo, estava apodrecendo e exalando um odor terrível —
como se estivesse no esgoto. Aquele homem velho e feio não sabia que não havia se
libertado da miséria de suas ambições mesmo após a morte.
Sempre procurando alguém com quem se comparar, o presidente não ficou
nada satisfeito com a falta de resposta de Aerith.
— Foi muito tolo da minha parle me comparar a uma humana tão idiota. Não
estou de bom humor. Na verdade, estou bastante irritado. Saia daqui de uma vez se
não entende o que estou dizendo.
— Então eu vou.
Esse homem não podia ser salvo. No trono onde seus desejos apodreciam —
ele permaneceria lá até o fim de seus longos dias, até que seu ego desaparecesse.
Quando Aerith virou as costas para o Presidente Shinra e estava prestes a voltar
à sua jornada — algo estranho aconteceu. Uma outra onda, separada da Fonte Vital,
atravessou o mar de Mako, sacudindo-o violentamente. Era uma onda ameaçadora,
como uma grande pulsação.
— Mas o que é isso?!
Ouvindo os grifos do velho, Aerith se virou de volta. Tudo o que pôde ver foi a
figura do presidente sendo levada para o longe. Aos poucos, a velocidade aumentou a
um nível extremamente rápido. Ele não estava numa corrente. O homem estava sendo
puxado por uma força semelhante à da gravidade, ganhando mais velocidade a cada
segundo. Estava indo para algum lugar no mar de Mako, puxado à força.
Deixando um longo grito de medo para trás, o Presidente Shinra desapareceu.
Aerith sentiu a pulsação de novo. Ela sabia claramente o que era desta vez. Era
a mesma pulsação que acabou com sua vida na Cidade Esquecida.
Aquele homem estava em algum lugar na Fonte Vital.
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— Sephiroth...
O anjo caído de cabelos prateados sorriu friamente, como se estivesse levando
as almas dos condenados para o inferno. Desta vez, Aerith sabia que o perigo não
havia acabado. O Sagrado que ela havia evocado estava sendo contido quando estava
prestes a funcionar.
A antiga cicatriz do Planeta — Sephiroth estava na Cratera do Norte, a “Terra
Prometida” de Jenova, esperando pelo momento de renascer como o seu eu original.
A magia negra de destruição definitiva, o Meteoro, estava em andamento. O
martelo demoníaco que desceria dos céus longínquos para esmagar o Planeta havia
sido evocado.

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CAPITULO 5
A DAMA QUE VIAJA PELO PLANETA

loud estava caindo na Fonte Vital.


Ele não caía como os mortos ou mesmo como uma alma. Estava caindo no mar
de Mako vivo, com seu corpo material. Estava a caminho da morte.
Na Cratera do Norte, ele havia descoberto que suas memórias eram falsas. Era
apenas uma marionete para a qual o cientista louco Hojo havia transplantado células
de Jenova. Um ser criado para se fundir com Sephiroth para sua ressurreição. Mas foi
considerado uma falha, um clone inferior que sequer recebeu um número. Ele foi
jogado fora como lixo em Midgar.
Foi quando encontrou Tifa. Encontrou sua “verdadeira” amiga de infância, Tifa
Lockhart. Naquela época, com o poder de Jenova de copiar memórias, as lembranças
que Tifa tinha de Cloud foram instantaneamente transferidas para ele. As partes que
faltavam então foram preenchidas com suas próprias memórias de ser um SOLDIER,
completando tudo. Foi assim que nasceu a personalidade conturbada de Cloud Strife,
baseada no jovem que existia na consciência de Tifa. Como esse “Cloud” tinha
muitas contradições quanto a ele próprio, acabou construindo um personagem fictício
para que não duvidasse mais de si. E esse personagem era ele mesmo.
O disfarce, no entanto, estava para acabar.
Ele havia começado a falhar já há algum tempo. Após entrar em contato com
muitos clones de Sephiroth, a ressonância dentro da mente de Cloud criou muitas
suspeitas. Muito antes da morte de Aerith, a represa que ele construiu para esconder
suas suspeitas começou a transbordar. Usando o ódio que nutria por Sephiroth e os
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objetivos que linha em mente, ele de alguma forma conseguiu suprimir, mas isso só
durou até encontrar o Sephiroth original.
Na Cratera do Norte, diante de Sephiroth, que tinha Jenova em sua posse, o
frágil personagem de Cloud se despedaçou. Logo depois, até sua consciência caiu sob
o controle de Sephiroth, já que o próprio Cloud lhe entregou a chave para evocar o
Meteoro — a Matéria Negra.
Cooperando com o inimigo que ele odiava e sendo obrigado a se voltar contra
seu próprio objetivo de deter o Meteoro, o personagem de Cloud colapsou. Seu falso
ego em forma de mosaico se partiu em pedaços e, em sua consciência vazia, restou
apenas o desespero de como ele não era nada mais que um clone falho de Sephiroth.
E então...
Sem mais qualquer utilidade, Cloud caiu no Planeta através da Cratera do Norte
— abandonado na Fonte Vital.
Com seu ego perdido, o que iria acontecer se o Mako altamente concentrado,
contendo as memórias agregadas do Planeta, entrasse em seu sistema? Ele era como
uma esponja seca mergulhada em um líquido. Sua consciência em branco e inúmeras
memórias sem qualquer sentido sendo enterradas. Esse estado, no qual a pessoa fica
extremamente intoxicada, era comumente chamado de envenenamento por Mako.
Com sua mente sendo infligida atém do ponto de recuperação, Cloud flutuava
na Fonte Vital. Logo seu corpo vivo que não deveria estar na Fonte Vital foi lançado
por um dos gêiseres naturais de Mako da costa de Mideel.
Com sua personalidade perdida, ele agora era uma pessoa vazia e confusa.

Aerith sabia um dos motivos pelos quais havia um lugar de onde a Fonte Vital
não podia se aproximar. Esse lugar tinha uma barreira que Sephiroth havia colocado.
O desastre que caiu do céu, Jenova, trouxe consigo um meteoro que criou uma enorme
cicatriz no Planeta com seu impado. Agora esse lugar, onde muita energia era reunida
para curar a ferida, havia se tornado o palco da ressurreição de Sephiroth. Todo e
qualquer fluxo de vida ao redor era sugado pelo vórtice sobrenatural, o que impedia
que uma entidade desencarnada como Aerith se aproximasse.
Aerith queria muito falar com Cloud quando seu corpo vivo deixou o vórtice.
Ela tentou muitas vezes enquanto ele era carregado para Mideel. Mas com sua mente
despedaçada e coberta de desespero, Cloud não conseguia ouvir a voz de Aerith. Não
importava o quanto ela tentasse, sua voz não chegava até Cloud, assim como quando
os dois foram separados na Cidade Esquecida.
Completamente impotente enquanto via o corpo de Cloud retornar à superfície,
Aerith permaneceu desamparada em meio ao mar de Mako.
Como vou poder salvar o Cloud? Como vou poder deter o Meteoro?
Nunca imaginei que o Sagrado seria contido... se continuar assim, o Planeta
vai acabar como Sephiroth quer.
O que eu posso fazer? Me diga, Cloud...

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Aerith chorava enquanto pensava no estado de Cloud, que nem mesmo suas
orações alcançavam. Sua personalidade em pedaços não poderia mais ser consertada.
Se aquele não era de fato o Cloud para começo de conversa, então quem era ele?
Conhecendo-o apenas como um ex-membro da SOLDIER, não havia como ela saber.
Ela mergulhou num sentimento de inutilidade que não conseguia descrever.
Cloud... sinto sua falta. Sinto falta do verdadeiro você...
Seus murmúrios e pensamentos se expandiram em ondas e se espalharam pelo
Mako. Suas memórias junto a Cloud vieram à mente outra vez. Sua impressão era
que, embora ele não fosse muito sociável, havia algo de encantador nele.
Eu senti que havia algo estranho nele, mas foi tudo mesmo só inventado, parte
de uma personalidade falsa? Não tinha absolutamente nada de real no Cloud?
Não, isso não pode ser verdade.
Havia coisas que só o Cloud pensaria. Coisas que ele fez porque era o Cloud.
Ele nunca foi uma casca vazia!
Mas ela não podia descobrir a verdade sozinha. Seus pensamentos estavam
apenas dando voltas. Aerith mergulhou em suas memórias novamente. Memórias que
mostravam a individualidade de Cloud. A forma como ele andava, como falava. Ela
relembrou suas ações uma a uma...
Muitos desses pensamentos começaram a se fundir ao mar de Mako — e então
despertaram alguém. A pessoa em questão reconheceu as imagens que Aerith estava
mentalizando e acordou.
— Aerith... é você?
No início, Aerith não se lembrou de quem era a voz porque foi muito súbito.
Em pânico, ela se virou e viu um rosto nostálgico que não via há cinco anos. Ele tinha
sido seu primeiro amor. E agora era também um amigo muito querido que ela não via
desde que ele desapareceu sem deixar rastros. Ele tinha as mesmas características que
ela via em Cloud. Zack, com os olhos azuis que provavam que era um SOLDIER,
apareceu diante dela. Ele tinha uma imagem inferior à imagem sólida de Aerith.
— Zack! Quer dizer que você também está morto...? — Embora Aerith não
costumasse fazer perguntas tão óbvias, foi a primeira coisa que veio à sua mente e ela
falou quase que num reflexo. Além disso, era estranho que um SOLDIER assim tão
habilidoso e experiente morresse. Apesar de ela não fazer ideia do paradeiro de Zack,
tinha plena certeza de que devia estar são e salvo, vivendo tranquilamente em algum
lugar. Ela se culpou por ter acreditado tão cegamente nisso. Essa realidade cruel foi
um choque forte para ela.
— Você “também”...? Quer dizer que você também morreu, Aerith? Bom, eu
ia dizer a mesma coisa mesmo e então... como devo dizer... meus pêsames?
— Você não mudou nada.
Não importava o que acontecesse, Zack nunca perdia o bom humor. Como se
salva por essa personalidade animada, Aerith sorriu fracamente. Apesar de saber que
ele era um membro da SOLDIER da Shinra, era essa parte dele que a atraía.
— Aconteceu muita coisa. E só coisa ruim. Tudo começou quando fui enviado
numa missão à cidade rural de Nibelheim.
— Nibelheim?

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— Sim, você conhece? Naquela época, eu tava junto com um SOLDIER muito
famoso que era conhecido como um herói. De repente, ele ficou louco e...
— Está falando do Sephiroth, não é? — A respiração de Aerith se tornou mais
fraca. Ela acreditava que havia um significado por trás da aparição de Zack. Tinha a
sensação de que isso tudo estava ligado a alguma coisa.
— Aquele maldito é mesmo famoso. Ou é por que você leu sobre o grande
massacre de Nibelheim nos jornais?
— Você estava lá na época, Zack? Mas e quanto ao Cloud...?
— Ei, ei, pera aí! Como é que você também sabe do Cloud? Ele tá bem?!
— Então você também conhece o Cloud. Existe mesmo um Cloud, não existe?
Os dois rapidamente trocaram o que sabiam. E então Aerith soube. Soube que
Cloud não era apenas um boneco clonado que fora feito para Sephiroth. Ela também
entendeu por que tinha visto Zack nele.
Zack também soube. Soube da situação na qual seu amigo se encontrava. O
amigo que se envolveu com ele no incidente e, juntos, foram caçados pela Shinra.
Também soube que Sephiroth seria ressuscitado e se tornaria uma ameaça não só para
Nibelheim, mas para todo o Planeta.
— Zack... o que eu devo fazer para que o Cloud descubra a verdade sobre si
mesmo? Você pode dizer a ele que ele é real?
— É impossível para nós fazer isso. A única que pode é aquela garota que
estava lá com a gente em Nibelheim, a Tifa. Se as lembranças dela puderem despertar
as do Cloud, então talvez...
— Vai ser difícil. Mas não vou desistir. Tenho certeza de que há uma chance.
— O rosto de Aerith se encheu de brilho agora que havia uma esperança. — Quando
isso terminar, o Cloud e os outros poderão fazer algo com relação ao Sephiroth. Eles
poderão remover o obstáculo que está consumindo o Sagrado.

Logo chegou a oportunidade.


Sob a pressão do Meteoro que se aproximava, o Planeta despertou suas Armas
biológicas massivas de destruição e o fluxo da Fonte Vital foi interrompido por suas
atividades. A quantidade de energia liberada na superfície jamais fora vista antes. E
quando isso ocorreu também em Mideel, Cloud, que descansava lá pacificamente sob
os cuidados de Tifa, foi engolido pela Fonte Vital junto a ela. Enquanto caíam no
Planeta, ambos foram consumidos pelo Mako. Para Cloud, era a segunda vez, mas
para Tifa, era sua primeira experiência.
Aerith arriscou tudo que tinha nessa oportunidade de ouro.
Ela tentou desesperadamente falar com Tifa, que estava prestes a ser intoxicada
pelo Mako altamente concentrado. Guiando sua consciência, ela a levou ao coração
fechado de Cloud. Na verdade, Aerith queria fazer isso sozinha. Mas ela não podia.
Por isso confiou tudo a Tifa. Entregou a Tifa todos os sentimentos que tinha por
Cloud. Entregou àquela que viveria junto com Cloud...

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E assim, Tifa conseguiu. Reunindo suas próprias lembranças com as de Cloud,
ela procurou as coisas que apenas o verdadeiro Cloud poderia saber. Finalmente, a
porta fechada foi aberta. Não deixar a SOLDIER permitiu que o poder de Jenova que
havia sido implantado em Cloud copiasse as características de seu amigo próximo,
Zack. Procurando as memórias mais profundas que estavam misturadas em tudo isso,
Tifa conseguiu reconstruir o verdadeiro Cloud, não o personagem falso que ele havia
criado para se proteger.
— Você conseguiu, Tifa. Obrigada. Sinto um pouco de inveja de você, mas...
cuide do Cloud por mim. Cuide do Cloud e do mundo...
Tifa abraçou Cloud com força quando ele recobrava os sentidos. Aerith ficou
observando enquanto os dois voltavam à superfície, sorrindo como uma mãe afetuosa.
Era uma visão deslumbrante para Zack.
— Vou te contar, hein, Aerith. De todas as garotas que eu conheci, você é
mesmo a melhor. Sabe, depois daquela missão, as coisas podiam ter continuado como
estavam e a gente podia ter ficado junto quando eu voltasse pra casa. Eu odeio o
Sephiroth. E odeio a Shinra, que esconde tudo o que fizeram.
— Alguém que conheceu tantas garotas nunca poderia ser um bom marido.
— Que maldade. Eu sou mó gente fina com todo mundo.
— Esse é o seu defeito. Você não é simplista e desajeitado como o Cloud.
— Era disso que você gostava, Aerith?
— Quem sabe...? As coisas podem ter mudado depois de cinco anos.
— He, he.
Zack fez careta, fingindo uma expressão de tristeza, e então abriu um sorriso
despreocupado. Era o mesmo sorriso idêntico de quando ele e Aerith se conheceram
há muito tempo. Quando tinha dezessete anos, foi isso o que a atraiu nele.
— Ainda não acabou, mas eu vou dormir mais um pouquinho. Parece que não
há nada que eu possa fazer por enquanto. Mas sempre que se sentir sozinha, pode me
chamar, Aerith.
— Só se eu me sentir muito sozinha. Boa noite, Zack.
Acenando para ela, o SOLDIER de Primeira Classe desapareceu em meio ao
Mako. Acreditando que sua missão ainda não havia acabado, Zack decidiu se manter
adormecido para poupar energia.
Aerith, por outro lado, não ia dormir. Como era uma Cetra, não se parecia nem
um pouco cansada.
Ela estava feliz.
Feliz por ter agora conhecido o verdadeiro Cloud e por poder tê-lo observado,
mesmo que apenas por um curto período.

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CAPITULO 6
A DAMA QUE VIAJA PELO PLANETA

a, ha, ha...! — Aerith parou de andar quando ouviu


a risada que fez um calafrio lhe subir a espinha.
Mesmo enquanto Cloud e os outros lutavam em busca de uma forma de entrar
na Cratera do Norte pela superfície, ela continuou a viajar pela Fonte Vital, tentando
encontrar alguma fraqueza na barreira de Sephiroth ou talvez uma abertura que lhe
permitisse libertar o Sagrado que ainda seguia contido. Mas ela não encontrou. Tendo
absorvido por completo os poderes de Jenova, Sephiroth agora estava protegendo
firmemente a cratera que iria se tornar seu casulo, especialmente de qualquer forma
de aproximação através da Fonte Vital. Fazendo isso, ele poderia evitar a vontade do
Planeta, que estivera atento a Jenova há todos esses anos, e se esconder dos olhos das
Armas que nasceram para expurgar todo e qualquer corpo estranho do Planeta.
Se o Sagrado não funcionou a tempo, então...
Quando Aerith começou a pensar na situação, a risada ecoou de novo.
Uma nova alma havia acabado de cair no mar de Mako. Era um homem de
costas arcadas que vestia um jaleco branco e tinha o rosto cheio de veias nervosas e
uma risada perturbadora — originalmente sob autoridade da Shinra, era um cientista
louco que constantemente fazia experiências antiéticas em humanos.
Hojo lentamente voltou sua atenção para Aerith.
— Professor Hojo...
— Ah, a filha dos Antigos. Compreendo. Enquanto os Cetra tiverem a força de
vontade para isso, podem existir na Fonte Vital sem que sua consciência se esvaia.
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Eles só perdem sua habilidade de serem humanos... Ha, ha, ha! Igualzinho a Jenova e
Sephiroth, pode-se dizer.
— Não me compare a eles. E você ainda não lembra o meu nome.
— Isso não importa. É muito mais apropriado chamá-la de “a última Antiga”
do que qualquer outro nome, já que este reflete a sua verdadeira nobreza única.
Apesar de que, sim, a sua singularidade em meio às minhas cobaias, aliada ao meu
sistema de classificação, seria suficiente para distingui-la...
— Os humanos e todas as coisas vivas não passam de cobaias pra você? Você
ainda não consegue mudar, mesmo estando aqui como uma alma?
— Ha, ha, ha... ah, ha, ha! — Como se Aerith tivessem lhe contado uma piada
muito engraçada, Hojo riu alto, quase como se estivesse possuído. — He, he... he, he,
he. Não, eu mudei. Mudei muito antes de cair nesta Fonte Vital. Você não entende,
não é? Ah, esse jaleco está atrapalhando.
Hojo fechou os dedos sobre o jaleco que lhe cobria o corpo e então o arrancou
com toda a força. A imagem do jaleco se partiu em milhares de fragmentos, voando
aleatoriamente como penas, expondo o corpo de carne que estava escondido sob ele.
Aerith engasgou. O corpo diante de si não era humano, mas composto pelas
células de Jenova, algo que ela já havia visto muitas vezes. Hojo se cansara de fazer
experiências nos corpos dos outros e acabou usando a si próprio como cobaia para
suas experiências insanas.
— He, he, he. Em outras palavras, não sou diferente de uma cobaia agora.
Mesmo você nunca imaginou que tanto assim havia mudado, não?
— O que você fez...? Você desistiu da sua humanidade, Professor Hojo? Você
violou a sua alma de forma tamanha que jamais poderá retornar ao Planeta...
— A Fonte Vital... o ciclo da vida... a vontade do Planeta... nada disso é mais
importante que uma unha cortada para mim. O que é me interessa de fato é descobrir
até onde a ciência pode ir superando a natureza e o sistema do Planeta. Se eu puder
satisfazer minhas ambições supremas e minha curiosidade insaciável, então não terei
remorso por perder minha humanidade. Contanto que eu possa provar minhas teorias
sobre Jenova, não me importa o que acontecerá ao Planeta!
Os pensamentos que Hojo emitia eram pura loucura, e não como a loucura da
qual Dyne precisava ser salvo. Diferente das ambições do Presidente Shinra, o ponto
final de seus objetivos era a destruição certa. Hojo era como um cadáver vivo. Ele
havia se tornado um escravo do conhecimento, possuído por sua própria loucura em
nome da ciência, sem pensar na vida ou no futuro.
— Agora, essas provas que tenho superaram Gast, que era reconhecido por seu
talento, mesmo que tenha tentado fugir da ciência como o covarde que era. Se Gast
estivesse à frente do Projeto Jenova agora, ele certamente jamais teria chegado a este
nível... Ha, ha, sim. O Professor Gast era seu pai, não é mesmo?
— Meu pai entendeu que o Planeta era mais importante que a ciência.
Aerith descobriu sobre isso quando Tifa e Cloud caíram na Fonte Vital e suas
memórias se fundiram a ela. Também descobriu que havia sido Hojo quem matou seu
pai quando este tentou impedi-lo de levar Aerith, ainda recém-nascida, para ser usada
como cobaia.

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— Ha, ha, este foi o limite de Gast. Parar e não fazer o que devia ser feito foi
uma blasfêmia para a ciência... He, he, é hora da nossa conversa acabar. — Sem
mostrar o menor sinal de culpa, Hojo se voltou para a Cratera do Norte. — Meu filho,
o herdeiro de Jenova, está chamando. Está pedindo mais energia vital. Ha, ha, ha,
devo me oferecer para ele. E então ele se tornará um comigo, aquele que ele mais
odiava e desprezava. Este será o nosso reencontro.
Hojo, que havia se fundido com Jenova, foi arrastado como o Presidente Shinra
da última vez. Rindo perfeitamente feliz em sua loucura, ele foi sugado em direção ao
fundo do poço gravitacional.
— Deixe-me dar um último conselho, Antiga. Não importa o que você faça, é
inútil. É tudo parte do sistema desse Planeta. Muitas entidades desconhecidas caem
do céu no ciclo de vida do Planeta sem nem saber, e agora Jenova está lá. Então para
onde vai a alma? Mesmo que você tente destruí-la, ela nunca desaparecerá. Ela se
fundiu ao mar de Mako, vagando à deriva por todas as partes do Planeta através da
Fonte Vital. Um dia, você terá que viver como parte de Jenova. Ha, ha, ha... é só uma
questão de tempo até que isso aconteça.
— Eu nunca vou deixar que aconteça!
— Algum dia, você também entenderá. Ha, ha, ha, ha, ha...!
Deixando apenas sua risada insana para trás, a coisa que uma vez foi Hojo
desapareceu fora da consciência de Aerith. E então ele se tornou um sacrifício para
Sephiroth com uma expressão cheia de felicidade e loucura. Até o último momento
antes de sua alma desaparecer, ele não mostrou remorso ou vergonha.
Aerith sabia que a morte de Hojo significava o fim da Shinra. Nesse caso, a
batalha decisiva de Cloud estava se aproximando.
Ela começou a correr. Se Hojo podia se sacrificar para ajudar Sephiroth, então
devia haver alguma coisa que ela pudesse fazer para salvar o Planeta.
Era nisso que ela acreditava.

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CAPITULO 7
A DAMA QUE VIAJA PELO PLANETA

loud e seus companheiros haviam derrotado Sephiroth.


Afundando na cicatriz do Planeta e absorvendo a energia Mako, o Sephiroth
original foi revivido e seus ferimentos totalmente curados. Na batalha que se seguiu,
o desejo que ele herdou de Jenova, suas próprias ambições e fortes convicções lhe
deram um enorme poder, mas os humanos ainda conseguiram superá-lo no final. O
corpo físico de Sephiroth foi desfruído e, cheio de ferimentos, ele recuou.
Mas apenas Cloud sabia disso. Tendo sido exposto às células de Jenova, havia
traços da consciência de Sephiroth nele — partes de suas consciências estavam em
sintonia. Cloud podia sentir a existência de seus resquícios em algum lugar da Fonte
Vital, continuando a obstruir o Sagrado mesmo agora.
Deixando apenas sua mente entrar no mar de Mako, Cloud seguiu em busca
dele. Atravessando as correntes, seu velho inimigo estava à sua espera. A alma de
Sephiroth ainda não havia sido destruída e ainda era uma ameaça ao Planeta.
Naquele mundo de energia consciente, suas espadas se chocaram. Sephiroth, o
SOLDIER mais poderoso e a pessoa mais admirada do mundo, atravessou Cloud com
sua espada como um raio de luz. Mas Cloud não tinha medo.
Acreditando ter vencido, Sephiroth levantou sua espada gigantesca para seu
próximo ataque e, nesse instante, Cloud se lançou contra ele com foda a força. Sua
grande espada atravessou o corpo de Sephiroth naquela breve abertura. Seu ataque
lhe deu outra oportunidade e ele continuou atacando Sephiroth, de novo e de novo.

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Foi como uma tempestade de golpes — quinze ataques sucessivos, dos quais não
havia como se esquivar, atravessaram Sephiroth.
O anjo caído abriu um sorriso cheio de ousadia. Mas o dano que havia recebido
ia muito além do que podia aguentar e seu corpo espiritual começou a se desfazer em
meio a suas risadas. Seu corpo começou a emanar uma série de aios de luz, como se o
estivessem cortando em pedaços.
Sephiroth havia sido destruído.
O pesadelo de Cloud, que começara há cinco anos em Nibelheim, finalmente
havia acabado.
O Sagrado, não estava mais obstruído, imediatamente começou a agir.
Desta vez, Cloud havia se separado de seu corpo e estava agora em um estado
de abstração, mas, no abismo do mundo de Mako, ele viu uma mão para guiá-lo. Era
branca e delicada — lembrava a mão que lhe dera uma flor em Midgar. Sem sequer
pensar a respeito, ele estendeu a própria mão...
E sua consciência retornou ao corpo. A mão de Tifa segurava a sua enquanto o
chão se partia embaixo dele. Se a mão não estivesse lá para guiá-lo, ele estaria no
fundo do inferno agora. Foi bem na hora. Cloud percebeu que havia sido salvo.
Mas era tarde.
Midgar eslava prestes a se tornar o ponto de impacto para o Meteoro dos céus,
e ele já estava perto até demais do solo. A força gravitacional formada entre o Planeta
e o Meteoro gigante criou furacões que devastavam impiedosamente as plataformas
das cidades superiores. Como resultado, a energia do Sagrado que se estendia entre o
Planeta e o Meteoro só aumentou o poder destrutivo entre os dois em vez de ter o
efeito que devia ler.
Se continuasse assim, não apenas os moradores de Midgar que se refugiavam
na comunidade se envolveriam, mas o Planeta seria tão machucado que ficaria além
da recuperação. O plano de Sephiroth havia sido detido, mas todos sabiam que o pior
ainda estava por vir. O Planeta estava indo de encontro ao fim.
— Por favor, emprestem-me o seu poder! — exclamou Aerith.
Suas ondas de pensamento se espalharam pelo mar de Mako. Carregadas pela
Fonte Vital, se espalharam por todo o Planeta.
— Não posso fazer isso sozinha. Vamos todos proteger o Planeta!
O chamado da última Cetra atraiu as incontáveis consciências que ela havia
despertado durante sua jornada. A consciência de todo o Planeta foi despertada.
Claro, entre elas também estavam as consciências daqueles que estavam suspensos
por seus pecados. Com suas fortes vontades combinadas, eles conseguiram controlar
a enorme energia do Planeta.
— Tava só esperando por isso! Bora ligar o fusível e explodir esse meteoro de
uma vez por todas!
— É a vez da Divisão da Fonte Vital do Avalanche! Agora que Barret não tá
aqui, eu sou o líder!
— Não! Eu também queria ser líder! Não é justo, Wedge!
— Vocês nunca falam sério, mesmo sendo companheiros do Barret. Vamos nos
concentrar e fazer isso direito, pela Marlene.

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Sob seu comando, incontáveis feixes de luz apareceram na superfície, unindo-
se à Fonte Vital. Então, com o Planeta coberto e protegido como que por uma rede, o
Meteoro teve seu curso mudado de volta para o espaço sideral. O movimento da luz
foi como uma valquíria guiando seu exército imortal pelos céus.
— Aí, Aerith, viu só o golpe final do Cloud? — Zack guiou sua energia para a
segunda onda enquanto o Meteoro era jogado de volta, perdendo sua força. — Aquela
também era uma técnica minha. Isso não te deixa caidinha de novo não?
Com o espaço de que precisava agora aberto, o Sagrado começou a fazer efeito.
Agindo como uma barreira, as partes do Meteoro que entravam em contato com ele
eram reduzidas a pó e atiradas ao espaço. O Meteoro não era mais uma ameaça ao
Planeta e agora apenas esperava indefeso para ser eliminado.
O Planeta escapou da destruição.
Os pensamentos de Aerith foram libertados.
A bordo da Highwind, Cloud viu. Tifa também, assim como Barret e os outros.
Eles viram o sorriso de Aerith, que nunca deixou suas memórias, aparecer na Fonte
Vital e, bem suavemente, desaparecer enquanto retornava ao Planeta.
Enquanto o tempo voltava a se mover, a tristeza de todos pareceu ter sido um
pouco curada. E então, os registros da vida que o Planeta criou continuaram.
Continuaram até o nascimento de uma nova era...

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