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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ – UFC

CURSO DE FILOSOFIA

INSTITUTO DE CULTURA E ARTE

PROFESSOR Dr.: Luís Filipe Estevinha Lourenço Rodrigues

ALUNA: Rebeca Miryam Genuino de Oliveira

Nº– 536195

RESPOSTAS À 2° AP

1. Quais as principais virtudes e problemas do ceticismo epistemológico? Forneça


exemplos com base nos textos estudados e no que aprendeu nas aulas. Posicione-se
criticamente. (máx 2 laudas; 5 pontos).

2. Com base nos artigos de Edmund Gettier e outros, descreva e explique o problema da
chamada definição tradicional do conhecimento. Posicione-se criticamente a respeito.
(máx 2 laudas; 5 pontos).

1.

O desafio cético, ao ser analisado pela perspectiva epistemológica, embora muitas


vezes ignorado, é da maior importância para o que chamamos de teoria do conhecimento. A
motivação para refutar hipóteses céticas aparentemente desprezadas pelo senso comum reside
no dever intelectual de justificar nossa confiabilidade no conhecimento humano, seja
motivado pelo receio, pela necessidade ou pela curiosidade. Podemos distinguir entre
diversas variedades de ceticismo. Primeiro, alguém pode ser cético apenas em relação a
certos domínios, como a matemática, a moralidade ou o mundo externo. Tal cético é um
cético local, em contraste com um cético global, que afirma que não podemos saber
absolutamente nada. Dito isso, o problema do ceticismo é relevante para uma análise mais
rigorosa da teoria do conhecimento.

Em primeira análise, se tratando do Ceticismo Localizado, ao focar em áreas


específicas da atividade cognitiva humana, argumenta que alcançar a verdade ou obter
conhecimento nessas esferas é difícil, senão impossível. Exemplificando, consideremos que,
ao aplicar o ceticismo à ciência, reconhecemos a necessidade de questionar teorias e métodos
em busca da compreensão precisa da realidade. No entanto, é sabido que nós somos seres
finitos e limitados; nesse sentido, a racionalidade humana seria incapaz de produzir e
justificar crenças verdadeiras indubitáveis. Por outra perspectiva, ao aplicar o problema
cético, reconhecemos a necessidade contínua de questionar teorias e métodos, promovendo
uma busca constante por uma análise conceitual mais precisa da realidade e da natureza
humana. Isso está verificado na própria revolução copernicana, na qual sem ela não
poderíamos saber como se deu a substituição do sistema geocêntrico pelo sistema
heliocêntrico. Isso não apenas reconfigurou as órbitas celestiais de um sistema, mas também
desencadeou implicações profundas que reverberam no saber científico.

Já a vertente contra-representacional, engloba uma abordagem cética que questiona a


capacidade da racionalidade humana em construir representações precisas do mundo externo.
Este ceticismo, muitas vezes denominado "ceticismo acadêmico", da Academia de Platão. No
âmbito desta vertente, destaca-se o ceticismo em relação à veracidade das representações do
mundo, questionando se estas são realmente verdadeiras. Em segundo lugar, surge a dúvida
sobre a possibilidade de alcançar conhecimento válido por meio de tais representações.

Ora, as crenças verdadeiras e justificadas que sustentam nosso panorama


epistemológico e sob cuja fixação as demais crenças podem ser postas em causa. Por isso,
devem ser consideradas como nossas maiores certezas. Se elas próprias forem postas em
dúvida, tudo o mais é posto em dúvida juntamente com elas, não sobra nada a não ser o caos.
Consequentemente, para que possam funcionar adequadamente, essas crenças devem
incorporar a priori uma visão de mundo anti-cética, uma vez que só nesse panorama o próprio
jogo de justificativas pode funcionar. Se pusermos em questão esse mesmo panorama, então
nada mais pode servir como justificativa, pois o espaço em que isso ocorre é suspenso no
momento da própria dúvida. Dessa maneira, levantar hipóteses céticas que, por exemplo,
questionem se temos de fato duas mãos, ou se somos cérebros numa cuba, produzem o
mesmo resultado nefasto contra nossas concepções de mundo exterior

Além disso, a vertente contra-representacional aborda a ausência de fundamentação


ou suporte para as representações do mundo. Isso implica questionar se nossas concepções
têm uma base sólida e coerente, levantando dúvidas sobre a estrutura lógica que sustenta as
representações construídas. Quer dizer, uma vez que, para o cético, não parece haver uma
maneira satisfatória de justificar nossas crenças, para que haja pensamento e experiência,
certos conceitos – logo, certas crenças – devem ser verdadeiros, visto que seriam necessários
para aqueles; isto é, se alguns conceitos são imprescindíveis para que possa haver
pensamento e experiência, e é um fato que nós pensamos e experienciamos coisas no mundo,
tais conceitos não podem ser senão verdadeiros. Desse modo, o desafio cético nem poderia
ser posto, pois ele só pode ser feito por pessoas que pensam e experienciam coisas no mundo
e, se tais conceitos são imprescindíveis para tais ações, não podem ser postos em causa,
porquanto seriam condições necessárias para a própria possibilidade da dúvida cética.

2.

Gettier deu dois exemplos em que alguém achava que sabia algo porque tinha razão
para acreditar, mas ainda assim, hesitamos em dizer que realmente sabiam, pois a sorte
influenciava a verdade da crença. A exemplo do caso do relógio. Imagine o relógio de pulso
que parou de funcionar às 23h56 da noite passada. Hoje, a caminho da academia ao meio-dia,
olho para o relógio parado e penso que são 11h56. Minha crença é verdadeira, é claro, já que
são realmente 11h56. E é justificada, pois não tenho motivos para duvidar de que o relógio
esteja funcionando, e não posso ser culpado por basear crenças sobre as horas no que o
relógio diz. No entanto, não posso ter certeza absoluta, pois se tivesse olhado um pouco antes
ou depois, minha crença teria sido errada em vez de certa.

Este exemplo, juntamente com outros semelhantes, levanta questionamentos


significativos sobre a natureza da condição de conhecimento baseado em crença verdadeira
justificada. Embora possa parecer um tanto complexo, casos como os apresentados por
Gettier desafiam a ideia de que a justificação sólida automaticamente implica conhecimento
seguro. Ora, se exemplos do tipo Gettier parecem mostrar que a crença verdadeira justificada
ainda pode envolver sorte e, portanto, ficar aquém do conhecimento, como conseguimos
solucionar esse caso?

Em vez de modificar a abordagem do conhecimento da crença verdadeira e


justificada, acrescentando uma quarta condição, é possível ver o problema de Gettier como
uma razão para procurar uma alternativa substancialmente diferente. Podemos observar que,
em situações típicas de conhecimento, a justificação de uma crença e sua verdade estão
intrinsecamente conectadas. Por exemplo, quando confiamos em um relógio que funciona
corretamente, nossa crença na hora é simultaneamente verdadeira e justificada, pois a
precisão do relógio é o fundamento da nossa convicção. No entanto, o cerne das objeções de
Gettier reside na ausência dessa ligação clara entre verdade e justificação em seus exemplos.
Por exemplo, a crença de que são 11h56, baseada no relógio, é justificada, mas a verdade dela
está atrelada ao momento específico em que passamos pelo relógio, introduzindo uma
contingência que parece desvincular os elementos essenciais do conhecimento. Assim,
poderíamos insistir que, para constituir conhecimento, uma crença deve ser simultaneamente
verdadeira e justificada, e a sua verdade e justificação devem estar ligadas de alguma forma.

Por fim, é válido admitir que os exemplos de Gettier são exageradamente complexos e
improváveis na vida cotidiana, questionando sua relevância para situações práticas de
obtenção de conhecimento. Além disso, a aplicabilidade geral desses casos à noção mais
ampla de conhecimento são excepcionais e não refletem a maioria das situações em que a
justificação é adequada para garantir conhecimento. Em resumo, a crítica de Gettier destaca
nuances importantes na relação entre crença verdadeira, justificação e conhecimento. Embora
questione a visão tradicional da teoria do conhecimento, a discussão desse caso possibilitou
um entendimento mais aprofundado das complexidades envolvidas na definição de
conhecimento.

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