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Silva, Vinicius
Vinirs14@hotmail.com
Centro de Pós Graduação Oswaldo Cruz
Resumo: O transtorno depressivo maior (TDM) é do interesse da Saúde Pública global, pois
a cada ano que passa o número de pessoas com tal patologia cresce consideravelmente, e vem
causando diversas outras patologias podendo levar o indivíduo ao suicídio. A causa ainda é
pouco conhecida, e também não há uma cura definitiva, apenas tratamento para diminuição
dos sintomas, que inclui diversas farmacoterapias e psicoterapias, como a terapia cognitiva
comportamental (TCC). O tratamento da TDM vem sendo discutindo há décadas, e cada ano
que passa diversos estudos vêm demonstrando eficácias de novos tratamentos, seja por
fármacos, seja por terapias, ou combinações de ambas. Com a eficácia comprovada do
tratamento farmacológico e da TCC, se abriu questões sobre a junção de tais tratamentos, se
realmente seria benéfico ou não. Assim, diversos estudos são feitos sobre a comparação de tais
terapias sozinhas e associadas e se realmente quando juntas são mais eficazes.
Palavras-chave: Depressão maior; Tratamento; antidepressivos; Terapia Cognitivo
Comportamental; Covid-19
Abstract: Major depressive disorder (MDD) is of interest to global Public Health, as each year
the number of people with such pathology grows considerably, and it has been causing several
other pathologies that can lead the individual to suicide. The cause is still little known, and
there is also no definitive cure, only treatment to reduce symptoms, which includes various
pharmacotherapies and psychotherapies, such as cognitive behavioral therapy (CBT). The
treatment of MDD has been discussed for decades, and each year that passes several studies
have demonstrated the effectiveness of new treatments, whether by drugs, therapies, or
combinations of both. With the proven effectiveness of pharmacological treatment and CBT,
questions arose about the combination of such treatments, whether it would really be beneficial
or not. Thus, several studies are done on the comparison of such therapies alone and associated
and if they are really more effective when together.
Keywords: Major depression; Treatment; antidepressants; Cognitive behavioral therapy;
Covid-19
1 INTRODUÇÃO
O termo depressão, na linguagem corrente, tem sido empregado para designar tanto um
estado afetivo normal (a tristeza), quanto um sintoma, uma síndrome e uma (ou várias)
doença(s) (PORTO, 1999). A depressão é um dos problemas de saúde mental mais comum no
mundo e acompanha a humanidade por toda a sua história. Considerada pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) como o "Mal do Século", é um distúrbio afetivo que afeta o
emocional da pessoa, que passa a apresentar tristeza profunda, falta de apetite, de ânimo e perda
de interesse generalizado. No sentido patológico, há presença de tristeza, pessimismo, baixa
autoestima, que aparecem com frequência e podem combinar-se entre si (MINISTERIO DA
SAÚDE, 2013). Para tal doença temos diversos tipos de tratamentos sejam eles
psicofarmacológicos ou psicoterapias, ambos demonstrando sua eficácia. Hoje em dia os ambos
os tratamentos caminham juntos, sendo feito diversos estudos para verificar o quão melhor é o
tratamento quando associados comparados a monoterapia (CARNEIRO,2016). Muito se diz
sobre o tratamento farmacológico e suas reações adversas, e por isso mesmo que a cada dia que
passa os tratamentos psicoterapêuticos vem sendo mais procurados, vemos pessoas saindo de
um tratamento de anos com fármacos e melhorando consideravelmente com psicoterapias,
sendo que a maioria das vezes eles são associados, até podendo chegar a um momento que o
paciente e psiquiatra não veem mais a necessidade de uso de fármacos (BECK, 2014).
2 DEPRESSÃO MAIOR
A depressão vem sendo uma das principais causas de problemas de saúde e incapacidade
em todo o mundo, afetando desde crianças até idosos, e isso pode ser visto de forma cada vez
mais comum em nossas vidas. De acordo com as últimas estimativas da Organização Mundial
da Saúde (OMS), mais de 300 milhões de pessoas vivem com depressão, número meramente
estipulado, tendo em vista que muitas vezes pessoas não procuram tratamento e tentam camuflar
sintomas. Deve-se levar em conta que tal número foi amplamente aumentado durante e após a
pandemia de covid-19, onde os índices de doenças psicológicas, principalmente ansiedade e
depressão subiram de forma massiva. A depressão é uma questão de saúde pública, pois produz
impacto negativo na vida do paciente e de sua família, comprometendo o funcionamento do
indivíduo nos aspectos pessoal, social e laboral (MATOS; OLIVEIRA, 2013).
Existem vários conceitos de depressão, mas todos são similares, como por exemplo:
OMS (2017) onde nos mostra a depressão como um transtorno mental comum, caracterizado
por tristeza persistente e uma perda de interesse por atividades que as pessoas normalmente
gostam, acompanhadas por uma incapacidade de realizar atividades diárias por 14 dias ou mais;
E o do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM V, 2013) que nos diz
que este transtorno é como algo mais intenso, como alguém com humor deprimido, perda do
interesse e prazer em quase todas as atividades por pelo menos duas semanas, além de
apresentar ao menos quatro dos seguintes sintomas: alterações no peso/apetite, insônia ou
hipersonia, agitação ou retardo psicomotor, fadiga, sentimento de culpa ou de inutilidade,
disfunção executiva e ideação suicida, e na maioria das vezes em crianças e adolescentes a
tristeza é transformada em alta irritabilidade. Além disso, também é dito que há uma divisão,
onde há o transtorno depressivo maior (depressão) e distimia (depressão de menos intensidade),
onde o que irá mudar um para o outro são a intensidade e duração dos sintomas.
Depressivo maior: Maior intensidade nos sintomas, podendo ser por tempo longo ou curto.
Distimia: Sintomas mais brandos, porém crônicos, duram mais de 2 anos.
Podemos dizer que a depressão é ocasionada de forma ainda inexplicável, apenas
sabemos que há diversas hipóteses ditas por diversos pesquisados, mas não algo concreto e que
nos diga de forma final qual a sua origem. Teodoro (2010) e Beck (2011) nos mostram que
vários estudos são feitos há décadas para que seja explicada a causa da depressão, pois ainda
não se sabe ao certo se são de esferas exógenas ou endógenas. Ao longo de estudos, médicos e
psicólogos começaram a abrir a questão de que as duas podem ser as causadoras, podendo
coexistir as duas esferas, ou em alguns casos uma tenha maior prevalência do que a outra, como
em danos cerebrais ou morte de parentes. Isso fez com que na década de 90 houvesse consenso
os tratamentos com associação farmacológica e psicológica.
A depressão sempre vem associada a diversos tipos de sintomas, podendo ser eles, leves,
moderados e severos (DSM V, 2013). Diversos conceitos sobre tais sintomas são descritos na
literatura, alguns citando mais sintomas do que outros, mas o que devemos nos atentar é como
um problema psicológico pode afetar todo o corpo, trazendo consigo sintomas além do
psíquico, fisiológicos. No DSM-V (2013) diz que os sintomas de depressão são contínuos,
trazendo consigo grandes problemas psicológicos e fisiológicos como, por exemplo: Perda ou
ganho significativo de peso, acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase
todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias, agitação ou retardo psicomotor,
problemas com o sono, tristeza profunda, etc.
Os antidepressivos desta classe são chamados assim por terem três anéis em sua
estrutura química, e possuem diversos pontos de atuação dentro do sistema nervoso central
(SNC). (RANG et al., 2016; STAHL, 2014). Os antidepressivos tricíclicos (ATC) foram
sintetizados, aproximadamente, na mesma época em que foi demonstrado que outras moléculas
de três anéis atuavam como tranquilizantes efetivos na esquizofrenia (década de 50), mas estes
agentes quando testados para o mesmo tratamento, não obtiveram o mesmo êxito, fazendo com
que os pesquisadores percebessem que causariam maiores efeitos como antidepressivos, pois
houve alterações no humor do paciente. Observou-se nos testes que os ATC tinham a
capacidade de bloquear a recaptação dos neurotransmissores serotonina (SERT OU 5HT) e
noradrenalina (NAT), sendo uns mais seletivos para bloqueio de SERT (ex. clomipramina), e
outros para o NAT (ex.desipramina, maprotilina, etc), mas basicamente a grande maioria
bloqueava em certo grau a recaptação de ambos (STAHL, 2014 & SOUZA, 2013). Estudos
foram demostrando que os ATC além de bloquearem a recaptação de neurotransmissores,
também são antagonistas de receptores histaminicos H1, α1-adrenérgicos, colinérgicos
muscarínicos, e também bloqueiam os canais de sódio sensíveis à voltagem causando assim
diversos efeitos negativos, dificultando muito sua continuidade no tratamento (STAHL, 2014).
2.1.5 Atípicos
Vários fármacos que interagem com múltiplos alvos e estão indicados para o tratamento
da depressão são algumas vezes referidos como “antidepressivos atípicos”. Esses agentes
incluem como principais bupropiona, mirtazapina (GOLAN et al., 2014).
A mirtazapina bloqueia não somente os receptores α-adrenérgicos, como também outros
receptores, incluindo os receptores 5-HT2C. Também se supõe que há diminuição da
neurotransmissão nas sinapses 5-HT2, enquanto aumenta a neurotransmissão da NE, que
contribuem para sua ação antidepressiva. Além disso, a mirtazapina é um potente sedativo e
tem capacidade para estimulação do apetite, tornando-a um antidepressivo particularmente útil
para paciente que também apresentam insônia e perda de peso, coisa que frequentemente
acontece com a população idosa. Através do bloqueio simultâneo dos receptores 5HT2A e 5-
HT3, ocorrerá uma redução dos efeitos adversos mediados por esses receptores, como:
disfunção sexual e náuseas (RANG et al., 2016; FREITAS, 2019; STAHL, 2014 E GOLAN et
al., 2014). Porém ao mesmo tempo em que há uma diminuição de certos sintomas, estudos
mostram que houve muitos relatos de desenvolvimento de mania após o uso da mesma
(FREITAS, 2019). Já o mecanismo de ação da bupropiona permanece incerto e ainda há debates
entre alguns especialistas, a hipótese mais aceita é de que o mecanismo de ação da bupropiona
se dá por meio da recaptação de noradrenalina e de dopamina, e mesmo não sendo em grande
quantidade, há relevância farmacológica. Em doses mais elevadas pode induzir convulsões, e
também é usada para tratamento de dependência de nicotina. A bupropiona é o antidepressivo
com menos efeitos adversos sexuais. Acredita-se também que, em comparação com outros
antidepressivos, esse fármaco induza menos reversão para a mania (GOLAN et al., 2014;
CORDÁS, MORENO, 2008; STAHL, 2014; FIGUEIREDO, 2017; RANG et al., 2016).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das exposições, foi demonstrado que apesar de diversas pesquisas sobre o tema,
separadamente ou com meta análise, foi comprovado que a junção dos tratamentos não é tão
eficaz quanto se pensava e sugeria. Com estudos foi demonstrado que a porcentagem de
melhora em comparação a terapias isoladas não ultrapassava os 20 %, número que para muitos
estudiosos não é considerado significativo, pois os estudos muitas vezes são feitos com poucos
pacientes, o que para muitos não é o suficiente para dar resultados significativos e “reais”.
Mesmo estes valores sendo razoavelmente baixos, nos levam a uma alternativa quando
monoterapias não são eficientes para TDM. Com tudo isso, os estudos sobre as terapias
combinadas nos levaram a resultados que mostram que para indicação de tal terapia, teria que
haver muita necessidade disso, tendo em vista o custo, e uma melhora considerada
relativamente baixa.
REFERÊNCIAS
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2011. E-book. Disponível em: https://books.google.com.br/books?hl=pt-
BR&lr=&id=cTY9DQAAQBAJ&oi=fnd&pg=PA1&dq=causas+da+depress%C3%A3o&ots=
FbjWTctzcZ&sig=L8ugnXEUAsTKrwXW45t0E3YBYGI#v=onepage&q&f=false
FREITAS, C.; et al. Mania Induzida por Mirtazapina: Um Relato de Caso. Acta Médica
Portuguesa, [S.I.], v. 32, n. 10, p. 671-673, out. 2019. Disponível em:
https://www.actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/view/9916/5681
HOLLON, S.D.; et al., Psychotherapy and Medication in the Treatment of Adult and Geriatric
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Psychiatry, [S.I.], v. 66, n. 4, p. 455-468, 2005, Disponível em:
https://www.psychiatrist.com/JCP/article/Pages/2005/v66n04/v66n0408.aspx
Lam, R.W., et. al., Effects of combined pharmacotherapy and psychotherapy for improving
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british-journal-of-psychiatry/article/effects-of-combined-pharmacotherapy-and-
psychotherapy-for-improving-work-functioning-in-major-depressive-
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PAN/OMS Com depressão no topo da lista de causas de problemas de saúde, OMS lança
a campanha “Vamos conversar”, 2017, disponível em:
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5385:com-
depressao-no-topo-da-lista-de-causas-de-problemas-de-saude-oms-lanca-a-campanha-vamos-
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PORTO, J.A.D; Conceito e diagnóstico. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, v.21, n. 1, p.06-11.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbp/v21s1/v21s1a03.pdf
RANG, H. P. et al. Rang & Dale Farmacologia. 8ª ed. Elsevier Ltda. 2016
ROMEIRO, L.A.S.; FRAGA, C.A.M.; BARREIRO, E.J.; Novas estratégias terapêuticas para
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SOUZA, F.G.M. Tratamento da depressão. Rev. Bras. Psiquiatr. , São Paulo, v. 21, n. 1, p.
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