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É curioso que não se tenha extraído um pouco da moral da história do pequeno Hans de
Freud. A angústia está muito precisamente localizada em um ponto da evolução desse parasita
[verme (vemine)] humano, é o momento em que um homenzinho ou uma futura mulherzinha se
dá conta de quê? Se dá conta de que está casado com seu pau [queue]. Vocês me perdoem por
chamar isso assim, é o que geralmente chamamos de pênis ou pinto, e que se infla quando se
percebe que ali não há nada melhor para fazer o falo, o que é obviamente uma complicação, uma
complicação ligada ao fato do nó, à ex-sistência, cabe dizê-lo, do nó. Mas se há alguma coisa nas
“Cinco lições de psicanálise” feita para nos mostrar a relação da angústia com a descoberta do
pequeno pipi – chamemo-lo assim também, de todo modo isso é claro –, é certo ser inteiramente
concebível que, para a menininha, como se diz, isso se estenda [se espalhe (s’étale)] mais, razão
pela qual ela é mais feliz. Isso se estende porque ela precisa de algum tempo para perceber que
não tem o pequeno pipi, o que lhe produz angústia também, mas uma angústia por referência
àquele que é aflito com isso. Digo “aflito”, porque falei de casamento e tudo o que permite
escapar desse casamento é evidentemente bem-vindo. Disso decorre o sucesso da droga, por
exemplo. Não há nenhuma outra definição da droga senão esta: é o que permite romper o
casamento com o pequeno pipi. (Lacan, 1975/2016, p. 21).
Nesse segundo semestre, vamos dar continuidade às articulações entre
as toxicomanias e o amor. Miller em 1995, usa a expressão “anti-amor”
para indicar que a toxicomania apresenta uma relação diferente com o
Outro, ou seja, prescinde dele. O toxicômano elege o objeto/substância
em detrimento de sua relação com o Outro, que aparece como
obstáculo, entrave ao fugaz conforto da ilusão de completude. Por
outro lado, nota-se que uma outra relação com a linguagem se
estabelece, onde o corpo é tomado como Outro.