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com o vinho como o modelo do casamento feliz, pois "por não comportar nenhuma
alteridade sexual ao seu programa, tal casamento outorga àquele que com ele se
compromete, a certeza de nunca correr o risco de ser acusado pelo parceiro de ter
usurpado seus direitos ou ter falhado em seus deveres" (Lecoeur, 1992, p. 20). Aqui não
se trata de, ao oferecer-se à conquista, poder obter a recusa. A satisfação obtida conduz
a um gozo auto-induzido, monocultivado e imediato. Trata-se do gozo do Mesmo.
Nesta parceria o objeto não está fora de alcance; o sujeito goza de seu objeto de forma
satisfatória, o que faz do bebedor um amante atípico: um amante saciado, satisfeito por
seu objeto. A frase de Freud diz ter o bebedor substituído a mulher pelo vinho. Ele o
colocou no lugar em que se teria visto confrontado com o abismo feminino. O vinho
não é uma mulher. Uma mulher é Outra e o vinho é Um. Como Outra para o sujeito, ela
aparece sendo do Outro; por exemplo, nos delírios de ciúme dos alcoolistas. Já o vinho
é do sujeito e se sustenta como gozo do Um. Desejar uma mulher é ser causado por uma
alteridade; o vinho é garantia contra a castração ao se apresentar como sendo o mesmo.
Se uma mulher é um sintoma, afirma Lacan, é porque o homem nela crê, ou seja, crê
que ela poderia dizer algo e que ele só teria que decifrar seus ditos como um sintoma. O
sujeito alcoolista curto-circuita o objeto a naquilo que se refere às suas coordenadas
lógicas, alojando-se em um discurso que carece de sua dialética própria, por não deixar
lugar à falta.
Um sujeito satisfeito, sem sintomas, restrito a um corpo que goza" (Lecoeur, 1992, p. 52
e 61).
O gozo obtido pela criança no objeto droga é um gozo autista, sustentado por sua recusa em estabelecer
laço social, mantendo-se fechada em si mesma. Encontramos a possibilidade do gozo autista no exemplo
pulsional freudiano: a boca que se beija a si mesma, particularidade da pulsão que propicia a existência de
um gozo autista.
Se o sintoma comporta um gozo como opacidade subjetiva, a droga indica um gozo que não é oculto; o
toxicômano só quer um gozo: o do seu próprio corpo e esse é todo.
nada, o uso da
droga implica um prazer. É promessa de felicidade no auto-erotismo.
Há aqui um engano,
pois esse enganche, esse acoplamento entre forma e tóxico, entre
frase e substância, confere ao toxicômano a ilusão de deter um
saber sobre a causa de seu gozo, já que encontra o gozo na droga e
conclui que é isso que o causa.
Aos 25 anos torna-se impotente, segundo seu relato, após ter chegado
em casa num fim de semana antes do dia combinado e surpreender
a mãe com um homem. A partir da impotência rompe
com sua namorada (muito amiga de sua mãe) e passa a "cheirar" e
depois se "picar".
Buscar um gozo que não passe pelo Outro, que não passe
pela significação fálica; um gozo ex-sexo, por fora do sexual.
As drogas estão colocadas tanto por Freud quanto por
Lacan como "uma solução". Pois bem,
a
paixão devoradora pelo álcool; ou, nas palavras de Freud: o casamento
com a garrafa.
recalcado. Mas
o personagem bem exemplifica que, frente ao enigma do feminino,
· prefere transformar o copo num parceiro sexual, num semblante
fálico, em lugar de encontrá-lo no corpo de uma mulher. Já nas
drogas, ditas pesadas, como a cocaína, a heroína, por exemplo, é a
pulsão em estado bruto que atrai o sujeito.