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O casamento feliz com a droga

instinto não saciado. Mas é também certo que, com a


satisfação de um instinto, cai geralmente o seu valor psíquico?

Recorde-se, por exemplo, a relação que uma pessoa que bebe mantém com o vinho. Não
é fato que o vinho proporciona ao bebedor a mesma satisfação tóxica que
frequentemente a poesia comparou à erótica, comparação que também do ponto de vista
científico pode ser feita? Já se ouviu falar de um bebedor obrigado a mudar
constantemente de bebida, porque logo já não lhe agrada a habitual? Pelo contrário, o
hábito estreita cada vez mais a ligação entre um homem e o tipo de vinho que ele bebe.
Sabe-se de algum bebedor que sentiu necessidade de ir para um país em que o vinho
seja mais caro ou seja proibido, para reavivar, interpondo essas dificuldades, a sua
satisfação em declínio? Absolutamente. Se ouvimos as declarações de nossos grandes
alcoólatras — Böcklin, por exemplo — sobre sua relação com o vinho, elas parecem
indicar uma perfeita harmonia, um modelo de
casamento feliz.

Este trecho de Freud, pois, demonstra que o bebedor substituiu a mulher pelo vinho
e que, no matrimônio, colocou o vinho no lugar onde se confrontava o abismo
feminino – a disjunção já não se sustentaria como modo de abordar a mulher. O
vinho não é uma mulher, mas são comparáveis:

“Uma mulher é Outra, o vinho é Uno. Portanto, para o sujeito ela aparece como
sendo do Outro. O vinho é do sujeito e se sustenta como gozo do um. A repetição
da demanda – sempre a mesma – sustenta o desejo do bebedor (é o que Freud diz
de forma jocosa: nunca se viu um bebedor mudar de bebida para sustentar seu
desejo); o desejo de uma mulher é causado por uma alteridade. O vinho é garantia
contra a castração ao apresentar-se como sendo ele mesmo, no discurso
capitalista, estando sempre aí. Uma mulher presentifica a castração” (MUSACHI,
1997, p.27)2.

um desacordo fundamental entre a fantasia e a realidade

mal-estar na cultura

estado de sujeição
o papel da droga na economia libidinal

a relação problemática do sujeito com a satisfação libidinal

Como nessa primeira fase da vida sexual infantil a


satisfação é encontrada no próprio corpo, prescinde-se de um objeto exterior, nós
a denominamos fase do “autoerotismo”, recorrendo a um termo cunhado por
Havelock Ellis.

A tolerância notável da mulher é conhecida: ela sabe que ocupa, na economia psíquica
de seu marido, o lugar central, de onipotência, fixando-o em uma posição de pedinte
pueril, mesmo que ele seja violento e barulhento. (Melman, p. 19).

resistência do analista quanto ao que Freud e Lacan falaram sobre os sujeitos do sexo
masculino. e mesmo da tentativa do analista de exercer uma certa maestria sobre aquilo
que Freud e Lacan falaram a esse respeito.

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