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Texto: 1 Jo 1.

8-10
Existem algumas afirmações que as pessoas geralmente fazem que elas
não param para pensar nas consequências daquilo que foi dito. Eu tenho
certeza que você já ouviu pessoas dizendo assim: “Olha, eu não me arrependo
de nada! Tudo o que eu fiz eu faria de novo!”. Essa é uma das frases mais
absurdas que existem. As consequências dessa frase são no mínimo duas: Ou a
pessoa se orgulha dos seus pecados; ou ele não teve, em toda a sua vida,
pecado algum! Ela nunca errou em nada!

Eu acredito que poucas pessoas seriam tão ousadas em afirmarem que


de fato, elas nunca erraram em nada, ou nunca pecaram. Eu acredito que a
maioria diria assim: “Não, não! Eu já errei sim! Algumas vezes! Poucas! Mas já
errei sim!”. E poderiam até acrescentar: “Mas, nesse caso, não foi culpa minha!
Foram pecados sem intenção! Foram “pecados culposos”! (a onda agora é
essa!).

Irmãos, a atitude de reconhecer o próprio erro não é algo fácil! Nós


somos naturalmente orgulhosos! Procuramos as saídas mais fáceis para não
reconhecer um erro ou reconhecê-lo culpando outro. Aliás, essa foi a primeira
atitude dos nossos pais (Adão e Eva) quando foram questionados da
desobediência deles.

Ambos reconheceram que haviam comido do fruto proibido, mas não


parece que estavam dispostos a reconheceram a culpa total do erro. Nas suas
respostas, parece haver uma intenção de apontar um culpado para aquilo que
eles fizeram. Adão responde: a mulher que tu me deste me enganou! E Eva
responde: a serpente me enganou! Ou seja, “nós pecamos, realmente! Mas a
culpa foi dele (ou dela)”! Reconhecer o próprio pecado e assumir toda a culpa
por ele, não é algo fácil para a natureza humana pecadora!

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No sermão passado nós vimos que, baseado na verdade que “Deus é luz
e não há nele treva nenhuma”, se alguém diz que tem comunhão com Deus,
mas anda em trevas, essa pessoa está mentindo sobre a sua relação com Deus.
Isso porque a sua vida em trevas (em pecado e em mentira) está indicando
exatamente o oposto! É impossível ter comunhão com Deus e não ser
influenciado por sua santidade e sua verdade! Portanto, essa pessoa mente aos
outros sobre a sua situação com Deus!

No entanto, aquele que anda na luz (que crê na verdade e busca a


santidade), este dá prova com suas atitudes que ele tem comunhão com Deus.
Ele nem mesmo precisa dizer que tem comunhão com Deus! A sua vida “na luz”
é prova de que ele anda com o Deus que é luz!

Agora, o último verso que estudamos naquela ocasião nos mostrou que
“andar na luz” não significa “andar em perfeição”. Não significa vida sem
pecado. Isso porque o final do verso 7 diz que “o sangue de Jesus, seu Filho, nos
purifica de todo pecado”. Ou seja, mesmo que estejamos “andando na luz”,
ainda somos pecadores! O nosso “andar na luz”, infelizmente, não é perfeito!
Esse “andar” experimenta “tropeços” em situações de pecado! E é exatamente
esse o assunto que João vai lidar nos próximos versos! Vamos reler os versos 8,
9 e 10.

Esses versos são as 3 condicionais finais de um total de 6, onde, por


meio delas, João procura confortar e firmar os crentes verdadeiros, ao mesmo
tempo em que aponta quem são os falsos crentes e os falsos mestres para que a
igreja tome suas providências com eles.

O próximo problema doutrinário que João vai combater é a negação do


pecado na nossa natureza e nos nossos atos. No verso 8 nós temos a primeira
negação: a negação do pecado em nossa natureza. Dizer que ‘não temos pecado
nenhum’ é uma outra forma de dizer que a nossa natureza não é pecadora!

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Nós não sabemos com exatidão os detalhes da heresia que se
manifestou naquelas igrejas, mas ao negarem o pecado na natureza humana
eles estava indo em sentido totalmente contrário ao das Escrituras! A Bíblia
demonstra explicitamente que somos pecadores desde a nossa concepção.

Em um de seus Salmos, Davi declara: ‘Eis que eu nasci em iniquidade e


em pecado me concebeu minha mãe’. (Sl51.5) Essa é uma verdade não apenas
na vida de Davi, mas na vida de todo ser humano.

Ao falar da presença do pecado na natureza humana, Paulo escreve


assim: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem
nenhum” Rm7.18. Não habita bem algum em nossa carne por causa do pecado!
O pecado que está em nós estraga tudo!

Nem mesmo a nossa conversão elimina o pecado da nossa natureza.


Vejam o que Paulo escreve sobre isso na carta aos Gálatas 5.16-17.

Vejam que o convertido não eliminou o pecado na sua natureza! A


inclinação ao pecado ainda está em sua natureza! A diferença é que, agora, essa
inclinação encontra oposição! A oposição feita pelo Espírito Santo! Portanto, um
convertido não eliminou sua natureza pecaminosa. Ele recebeu poder para
subjugá-la! E é essa oposição, esse poder do Espírito, que permite santidade em
nossa vida hoje!

No entanto, nós bem sabemos que algumas lutas nós perdemos! E nós
pecamos! Portanto, dizer que não temos pecado nenhum é dizer uma mentira!
Dizer que a nossa natureza não é manchada pelo pecado é uma ilusão!

Depois do gnosticismo, a seita mais perigosa que ensinou isso dentro do


cristianismo foi o pelagianismo (que também tinha tendências gnósticas!).
Basicamente, Pelágio ensinava que o ser humano nascia inocente e toda a sua
corrupção vinha da influência do meio social! Pelágio sofreu forte oposição de
Agostinho e o seu ensino foi considerado herético no século V.

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Mesmo assim, nós ainda temos no cristianismo muitas seitas que creem
assim ou próximo disso (o que alguns consideram de semipelagianismo). Além
disso, essa visão de que o homem não nasce com uma natureza pecadora (que
ele nasce neutro ou mesmo bom) é a predominante das religiões não cristãs.

No entanto, para nós, a doutrina que nós chamamos de depravação


total é muito clara nas Escrituras. Essa doutrina diz que o homem, em todo o
seu ser, está tão completamente manchado pelo pecado que até as suas
melhores obras, as suas obras de justiça, não passam de trapos de imundícia.

Crer na pureza original do homem é algo tão estúpido que João diz que
a pessoa engana a si mesmo crendo nisso e a verdade não está nela! (v.7).

Agora, percebam algo aqui: Isso quer dizer que nem todo falso mestre é
um dissimulador! Nem todo falso mestre ensina aquilo que ele tem certeza que
é falso! Muitos ensinam exatamente o que eles creem! Eles são enganados por
ensinos errados e enganam outros ensinando aquilo em que eles creem! Há
muitas pessoas sinceras em suas heresias! Sinceras, mas terrivelmente erradas
e auto enganadas! Alguns até dizem que, quando o assunto é religião, basta ser
sincero, não é? Por causa disso, há muitos sinceros no inferno!

E vejam o poder terrível das trevas espirituais! No verso 6, a mentira é


aos outros! Eles mentem ao dizerem que tem comunhão com Deus enquanto
andam em trevas. Agora, no verso 8, a mentira é a si mesmo! Eles mentem pra
si mesmos ao dizerem que não tem pecado nenhum! Eles se enganam na
própria mentira!

Mas isso ainda não é o fundo do poço! O fundo do poço está no verso
10. Vamos reler o verso 10.

Nesse verso nós temos a segunda negação, que é a negação do pecado


em nossos atos. João escreve assim: se dissermos que não temos cometido
pecado. O foco agora é na ação, ou no produto da natureza humana!

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E nesse ponto, ao meu ver, a heresia fica mais escancarada! Não é
possível irmos em todos os textos da Bíblia que declaram a mancha do pecado
nas ações humanas, mas eu acredito que o texto que resume isso melhor é o de
Paulo em Rm3.9-18.

Esse é o retrato das ações humanas! Esse texto fala do pecado em todos
os homens e em todo o homem! Ou seja, o pecado atingiu todos os homens e o
homem como um todo! Tudo o que ele produz, naturalmente, é contrário a
Deus! É pecaminoso!

Agora, eu não sei se vocês perceberam no verso 10 em 1Jo1, mais uma


vez a argumentação em espiral de João. Uma leitura desatenta vai pensar que
João simplesmente repetiu o verso 8. Mas não! Ele repete a parte inicial e final
(porque dizer que “a sua palavra não está em nós” é o mesmo que dizer que “a
verdade não está em nós”), mas ele traz uma informação que não está no verso
8: É a expressão “fazemo-lo mentiroso”.

Irmãos, a quem o texto se refere? Quem é tido como mentiroso quando


nós negamos o pecado na natureza e nas ações dos homens? Deus! Nós
fazemos de Deus um mentiroso, porque Ele diz claramente que nós somos
pecadores e nós estamos dizendo que nós somos! E isso é sério, irmãos! Isso é
blasfêmia! Aqui é o fundo do poço!

Vejam o que as trevas espirituais causam em uma pessoa: ela mente


para as outras, ela mente para si mesma. E no fim de tudo, faz Deus mentiroso!
A mentira reina na vida de alguém em trevas espirituais! É nessa escuridão que
vivem as Testemunhas de Jeová, os Mórmons, os Católicos, vários outros grupos
que se denominam cristãos e todas as outras falsas religiões que acreditam e
ensinam coisas que Deus em Sua Palavra, claramente se opõe! Coisas essas
essenciais para a fé cristã!

Mas entre o verso 8 e o verso 10, nós temos o proceder que caracteriza
o crente verdadeiro! Vamos reler o verso 9.
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Irmãos, o significado da palavra confessar tem muito a ver com o
assunto! Nós temos uma ideia que confessar é apenas relatar a outro algo que
nós fizemos, não é? Mas não é só isso! A palavra grega traz o significado de
“admitir”, de concordar com o que uma outra pessoa está dizendo! É “dizer a
mesma coisa”!

No que esse significado nos ajuda? Vejam, enquanto o falso mestre, o


falso crente discorda da Palavra de Deus que nos diz que nascemos em pecado
e pecamos em nossas ações, o verdadeiro crente, admite, concorda e diz a
mesma coisa que a Palavra de Deus! O crente, diante da Palavra de Deus que o
chama de pecador, ele simplesmente reconhece e concorda! Ele diz: “Sim,
Senhor! É isso que sou! Um pecador!” E ao falar assim, ele confessa! Ele admite
que é culpado daquilo que é acusado. Ele concorda com o diagnóstico de Deus
acerca dele! Isso é confissão!

João disse que se tivermos essa atitude concernente aos nossos


pecados e pedirmos o perdão a Deus, Ele é fiel e justo para nos perdoar os
pecados!

Agora, vamos concordar: Fidelidade e Justiça não parecem combinar


com perdão, não é? Imaginem um juiz diante de um réu confesso que tem
diante de si a condenação à pena de morte. Esse réu confesso (réu que declarou
que realmente cometeu um crime) diante do juiz que tem que condená-lo à
pena de morte, pede perdão! Ele está arrependido do seu crime! Vejam: se o
juiz ouvir o pedido de perdão, e absolver o réu, é possível nós dizermos que ele
foi fiel e justo diante das leis? É impossível! Ele foi totalmente infiel às leis que
ele prometeu obedecer e injusto em sentenciar de forma contrária a estas leis!

Agora, porque então Deus é fiel e justo em nos perdoar, sendo que a
sua própria lei: A alma que pecar essa morrerá? Sendo que sua própria lei diz:
Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da
Lei para praticá-las?

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Irmãos, a Lei de Deus manda nos matar! A Lei de Deus nos chama de
malditos! A Lei de Deus exige que sejamos jogados no inferno! Mas, porque Ele
é fiel e justo em nos perdoar?

Para responder isso, vamos ler Gálatas 3.10-14.

Aqui está o fundamento da fidelidade e da justiça de Deus! Nós, que


somos malditos porque somos pecadores, fomos resgatados dessa maldição
porque Jesus recebeu sobre si a nossa maldição!

É por causa disso, que Deus é fiel! Fiel porque ele cumpre a sua
promessa de salvar todo aquele que crê em Seu Filho (no verso 10 diz que Ele
prometeu o Espírito Santo a todo aquele que crer em Jesus Cristo). A benção da
Nova Aliança profetizada por Jeremias é o perdão dos pecados a todo aquele
que tem o seu coração transformado e que ama a Lei de Deus. A estes, Deus
prometeu: “Pois perdoarei as suas iniquidades e dos seus pecados jamais me
lembrarei” (Jr31.34). Irmãos, Deus é fiel a estas palavras e é esse perdão que Ele
nos dá quando confessamos os nossos pecados.

Mas ele também é justo! Justo porque, já que Jesus recebeu toda a
condenação da nossa maldição, não ficou nada a ser condenado! Deus é justo
em não me punir duas vezes! Ele não poderia punir o meu pecado em Jesus e
depois puni-lo em mim, me mandando pro inferno! Isso seria injusto! Mas Deus
é justo em retirar toda a condenação das nossas cabeças porque Jesus já
recebeu essa condenação por completo na cruz do Calvário!

Mas além de ser fiel e justo em nos perdoar os nossos pecados, João
escreve que Deus também nos purifica de toda injustiça! (v.10)

Percebam que João apresenta dois lados da nossa salvação: o


pagamento de um débito e a remoção de uma sujeira. Por causa dos nossos
pecados, nós estamos em uma dívida com Deus. Dívida esta que só poderia ter
sido paga com a nossa morte! Mas Jesus veio e pagou toda essa dívida!

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Por causa dos nossos pecados nós estamos imundos (sujos) diante de
Deus! Não podemos ter comunhão com Deus nessa condição! Mas Jesus veio, e
com seu sangue, nos limpa, nos purifica de toda imundícia causada por nossos
pecados!

Mas qual é o fundamento de todas essas bençãos, irmãos? Não


podemos perder o foco de João! Qual é a atitude que nos garante essas bençãos
maravilhosas? O reconhecimento e a confissão sincera de que somos
pecadores!

“Andar na luz” não é andar em perfeição! É andar batalhando pela


santidade, e quando falharmos, reconhecermos o nosso pecado e sinceramente
pedirmos perdão a Deus! Se andarmos assim, estejamos certos, irmãos, que
temos comunhão com Deus!

Agora, irmãos, pensem comigo! Se a convicção e a confissão sincera de


pecados são os meios pelos quais Deus nos perdoa, nos purifica e nos salva,
como ficam as pessoas que não estão expostas a uma pregação que apresenta o
problema do pecado? Muitos pastores e pregadores não negam que somos
pecadores, mas parece que o pecado não é um problema para eles!

Meus irmãos, eu reconheço que a nossa vida está cheia de problemas


tristes e sérios. Mas é impossível negar que o pecado é o maior problema de
todos! Isso porque todos os problemas da sua vida acabam no túmulo e não vão
além dele! O pecado não! De fato, ele acaba no túmulo, mas ele define a sua
vida depois do túmulo!

O teste de João nessa seção é exatamente sobre isso: Se você está


lidando com o pecado em sua vida como se ele não existisse, você mente pra si
mesmo quando diz que tem comunhão com Deus, você blasfema de Deus e
você está perdido! Mas se você está lidando com o pecado seriamente,
buscando confessá-lo com sinceridade diante de Deus, você tem o perdão de
Deus e você é um crente verdadeiro!
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O seu relacionamento com o seu pecado indica como você está com
Deus! Se você não se preocupa com o seu pecado; se você vive buscando
apenas conquistar um melhor emprego, um melhor salário, melhores bens, e
enquanto isso vive com seu pecado como se fosse um amigo íntimo, quem sabe
até trazendo-o à igreja em paz com ele na sua mente e no seu coração; se você
o alimenta em sua vida; se você não procura lutar contra ele, sufocá-lo, e matá-
lo, esteja certo que nisso tudo, você está vivendo segundo a carne e a Bíblia diz
que, se viverdes segundo a carne, haveis de morrer!

Mesmo que você saiba que você é pecador a pergunta que segue é: E
aí? Qual é a sua reação diante do seu pecado? De inércia? Não há nenhuma
reação? Você deixa que ele te leve e te domine? Se essa é a sua atitude, você
não difere muito daqueles que negam a existência do pecado! Só que, nesse
caso, eles são mais coerentes que você!

Eles não se preocupam com o pecado porque eles creem que o pecado
não existe! Mas você crê que o pecado existe e não se preocupa com suas
consequências terríveis! Isso é extremamente perigoso! E se alguém está
vivendo assim, precisa mudar de atitude urgentemente!

Mas, eu sei que, pela graça de Deus, muitos de vocês aqui estão no
extremo oposto! Vocês sabem que são pecadores e estão lutando contra ele! E
vocês tem obtido muitas vitórias! E a minha mensagem para vocês é que,
quando vocês pecarem (e certamente, em algum momento, isso acontecerá)
confiem nos atributos da fidelidade e da justiça de Deus! Jesus morreu por
vocês! E Deus é fiel para cumprir sua promessa de perdoar os seus pecados e
justo de não lançar sobre vocês nenhuma condenação porque ela já foi
totalmente paga por Jesus Cristo! E quando vocês levantarem do lugar de
oração, creiam que vocês estão purificados pelo Seu precioso Sangue!

Vamos terminar lendo Lc18.9-14. Aquele que se exalta e permanece no


pecado, será humilhado. Mas aquele se humilha e confessa, será exaltado!

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