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FICHAMENTO
SOBRE O AUTOR:
Norberto Bobbio
Nascido em 18 de outubro de 1909 em Turim, capital de Piemonte na Itália.
Formou-se em Direito em 11 de julho de 1931 com a tese intitulada Filosofia e
Dogmática do Direito.
Formou-se em Filosofia em dezembro de 1933.
Em 1934 publicou seu primeiro livro The Phenomenological Address in Social and Legal
Philosophy.
Começou a ensinar filosofia do direito em 1935, primeiro na Universidade de
Camerino, depois na Universidade de Siena e Pádua e em 1948 da Universidade de
Turim
Em 1979 foi nomeado professor emérito da Universidade de Torino e em 1984, nos
termos do segundo parágrafo do artigo 59 da Constituição italiana, tendo "ilustrado a
pátria com altíssimos méritos" no campo social e científico, foi nomeado senador
vitaliciamente pelo Presidente da República Sandro Pertini.
Faleceu em Turim em 9 de janeiro de 2004.
A obra sob a qual nos debruçamos no presente estudo foi publicada inicialmente em
1958 na Itália com o nome Teoria della norma giuridica.
Nesse primeiro ponto, Bobbio esclarece que o ponto de vista que ele se propõe
a estudar a norma jurídica. E já esclarece dizendo que pode-se dizer que se
trata de um ponto de vista formal.
Bobbio assenta que este ponto de vista formal a que ele se refere, é formal no
sentido em que para o estudo ele considera a norma jurídica
independentemente do seu conteúdo, ou seja, ele pretende levar em
consideração a estrutura da norma.
Segundo Bobbio, toda norma, assim como toda proposição, apresenta
problemas estruturais que são formulados e resolvidos se se atentar para o fato
de que ela tenha este ou aquele conteúdo.
o Se pretende estudar a norma à partir de sua estrutura pouco
importando o seu conteúdo.
Bobbio aponta que a norma tem uma estrutura lógico-linguística que pode ser
preenchida com os mais diversos conteúdos. Para tanto ele aponta as seguintes
estruturas da norma:
o Estrutura 1: S é P vale tanto para a proposição: “Sócrates é mortal”
quanto para a proposição “A baleia é um mamífero”, também a
estrutura da norma “Se é A, deve ser B”, vale tanto para a prescrição “Se
pisou no canteiro, deverá pagar multa”, como para a prescrição “se
matou com premeditação, deverá sofrer pena de prisão perpétua”.
Dessa forma Bobbio esclarece que o objeto de estudo será a norma jurídica na
sua estrutura lógico-linguística.
Bobbio salienta que o problema no presente estudo será o de nos
perguntarmos que tipo de proposições são elas, se são proposições
prescritivas, que classes de proposições prescritivas compreendem, e assim
por diante.
Para Bobbio o estudo formal ao qual ele se propõe não exclui absolutamente
outros modos de considerar o direito.
Bobbio demonstra que o estudo formal da norma busca saber quais são os
motivos pelos quais a norma foi emanada, se estes motivos são aceitáveis, se
ela é efetivamente seguida ou continuamente violada, etc.
O autor alerta que não se pode confundir o estudo formal da norma jurídica
com as mais variadas espécies de formalismo jurídico. Para tanto, Bobbio
conceitua formalismo jurídico da seguinte forma: “Por ‘formalismo jurídico’ se
entende uma consideração exclusiva do direito enquanto forma”.
Bobbio aponta ainda três teorias do formalismo jurídico, com visões diversas
umas das outras:
o 1º. FORMALISMO ÉTICO (modo de definir a justiça – responde a
pergunta: O que é justiça?) – é a doutrina segundo a qual é justo o que
é conforme a lei, e como tal repele todo o critério de justiça que esteja
acima das leis positivas e com base no qual as mesmas leis positivas
podem ser avaliadas. De acordo com Bobbio, esta doutrina pode ser
considerada formal, no sentido em que faz a justiça consistir na lei só
pelo fato de que é lei, ou seja, de que é comando posto pelo poder
soberano, e por isso prescinde, para produzir um juízo de valor, do seu
conteúdo.
o 2º FORMALISMO JURÍDICO (modo de definir o direito – responde a
pergunta: O que é direito?) – compreende a doutrina segundo a qual a
característica do direito não é a que prescreve aquilo que cada um deve
fazer, mais simplesmente o modo em que cada um deve agir se quiser
alcançar os próprios objetivos e portanto, não cabe ao direito
estabelecer o conteúdo da relação intersubjetiva, mas a forma que ela
deve assumir para ter certas consequências. Este tipo de formalismo
remonta à velha definição kantiana do direito, que foi retomada pelas
correntes neokantianas, segundo a qual uma das características da
relação jurídica é que nela não entra em consideração a matéria do
arbítrio, isto é, o fim a que alguém se propõe com o objetivo que deseja,
mas somente a forma, enquanto os dois arbítrios são considerados
como absolutamente livres.
o 3º FORMALISMO CIENTIFICO (modo de conceber a ciência jurídica e o
trabalho do jurista – responde a pregunta: Como deve comportar-se a
ciência jurídica?) – tem a tarefa puramente declarativa ou recognitiva e
não criativa, e de extrair dedutivamente do sistema assim construído a
solução de todos os possíveis casos controversos.
Feitos estes apontamentos acerca do formalismo jurídico e seus tipos, Bobbio
conclui este tópico afirmando que para o estudo do ponto de vista formal da
norma ao qual ele se propõe, não tem nada a ver com nenhum dos três
formalismos, porque não pretende ser uma teoria exclusiva, nem da justiça,
nem do direito, nem da ciência jurídica, mas é pura e simplesmente um modo
de estudar o fenômeno jurídico na sua complexidade, um modo que não só não
exclui, como exige os demais para que se possa obter um conhecimento
integral da experiência jurídica.
o O ponto de vista formal proposto por Bobbio é apenas um modo de
estudar o fenômeno jurídico na sua complexidade.
o O ponto de vista formal proposto por Bobbio não pretende ser uma
teoria (1) exclusivista; (2) da justiça; (3) do direito e (4) da ciência
jurídica.
Bobbio inicia este tópico esclarecendo que do ponto de vista formal por ele
proposto, uma norma é uma proposição. Assentando ainda que um Código,
uma Constituição são um conjunto de proposições.
Por conseguinte, Bobbio esclarece que nesse estudo, ele pretende saber qual é
o status das proposições que compõe um Código, uma Constituição. Deixando
ainda claro que sustenta a tese de que as normas jurídicas pertencem à
categoria geral das proposições prescritivas. E propõe comprovar sua tese a
partir de quatro fases, a saber:
o 1º Estudo das proposições prescritivas e sua distinção dos outros tipos
de proposições;
o 2º Exame e crítica das principais teorias sustentadas sobre a estrutura
formal da nora jurídica;
o 3º Estudo dos elementos específicos da norma jurídica enquanto
prescrição;
o Classificação das prescrições jurídicas.
Bobbio conceitua PROPOSIÇÃO, como um conjunto de palavras que possuem
um significado em sua unidade, apontado que a forma mais comum da
proposição é o que na lógica clássica se chama juízo, uma proposição composta
de um sujeito e de um predicado, unidas por uma cópula (S é P). Pode-se assim
dizer que PROPOSIÇÃO é todo conjunto de palavras ou símbolos que exprimem
um pensamento de sentido completo. Portanto, se a frase não tem sentido
lógico não será proposição.
Nesse sentido, Bobbio afirma que nem toda proposição é um juízo. EX: “Olhe!”,
“Quantos anos você tem?” ou “Paulo é um número primo”. São proposições
mas não juízos.
Para Bobbio, é necessário distinguir uma proposição de seu enunciado. Para
ele:
o ENUNCIADO é a forma gramatical e linguística pela qual um
determinado significado é expresso, por isso a mesma proposição pode
ter enunciados diversos, e o mesmo enunciado pode exprimir
proposições diversas. Uma mesma proposição pode ser expressa por
enunciados diversos quando se altera a forma gramatical. Ex: “Mario
ama Maria.” “Maria é amada por Mário”. (O significado é idêntico, e o
que muda é apenas a expressão). Bobbio alerta também que tal fato
também se dá quando da passagem do mesmo significado de uma
expressão numa língua para o seu equivalente em outra. Ex: “Chove;
“Piove”; “Il pleut”; “It´s raining”; “Es regnet”, são enunciados diversos
da mesma proposição.
Bobbio esclarece que ao contrário da proposição, com um mesmo enunciado
pode-se exprimir, em contextos e circunstâncias variáveis, proposições diversas.
Ex: Quando se dirige a um amigo com que está passeando: “Gostaria de beber
uma limonada”. Com isso pretende-se exprimir um desejo, além disso dar ao
amigo uma informação sobre o estado de espírito. Contudo, se dirijo as
mesmas palavras para uma pessoa que está atrás do balcão de um bar, não
pretendo expressar um desejo, nem dar-lhe uma informação, mas impor-lhe
uma determinada conduta.
Bobbio lembra que uma proposição falsa é sempre uma proposição, pois
mesmo falsa ela tem um significado. Ainda segundo o autor, a proposição é
falsa porque, se submetida ao critério de verdade que dispomos para julgá-la,
demonstra-se que não possui os requisitos solicitados para afirmar-se como
verdadeira.
Para que seja proposição deve haver um significado. Se não tem significado não
é proposição.
Segundo Bobbio, quando dizemos que uma norma jurídica é uma proposição,
queremos dizer que é um conjunto de palavras que tem significado.
Bobbio ressalta que o que interessa ao jurista, quando interpreta uma lei é o
seu significado. E assenta que como uma proposição em geral pode ter um
significado, mas ser falsa, também uma proposição normativa pode ter
significado e ser – não digamos falsa – mas inválida ou injusta.
No que tange as proposições normativas, não se fala em falsa ou verdadeira,
mas sim em válidas ou inválidas.
1
Asserções são proposições cujo fim é dar uma informação.
o 2º A FUNÇÃO EXPRESSIVA – própria da linguagem poética, consiste em
evidenciar certos sentidos e em tentar evoca-los de modo a FAZER
PARTICIPAR os outros de uma certa situação sentimental;
o 3º A FUNÇÃO PRESCRITIVA – própria da linguagem normativa, consiste
em dar comandos, conselhos, recomendações, advertências, influenciar
o comportamento alheio e modificá-lo, em suma, no FAZER FAZER.
De acordo com Bobbio estas três funções dão origem a três tipos de linguagem,
saber: (1) a linguagem cientifica; (2) a linguagem poética e (3) a linguagem
normativa.
Segundo Bobbio, interessa-nos de modo particular, a função prescritiva.
De acordo com Bobbio, para que uma pessoa a quem se dirige a prescrição resolva
agir nem sempre basta que escute o pronunciamento do comando puro e simples:
é necessário, às vezes, que ela conheça certos fatos e deseje certas consequências.
Para que tenha conhecimento destes fatos que a induzem a agir, é necessário dar-
lhe informações; para que deseje certas consequências, é preciso suscitar-lhe um
certo estado de espírito; logo, para que venha a conhecer certos fatos e desejar
certas consequências, é necessário informa-lo e suscitar-lhe um determinado
estado de espírito.
o Unir argumentos descritivos e evocativos para reforçar seus preceitos.
(induzir a pessoa a fazer fazer – acatar – fazer cumprir uma lei).
A linguagem prescritiva é a que tem maiores pretensões, porque tende a modificar
o comportamento alheio.
Bobbio inicia este tópico chamando a atenção para a distinção entre proposições
descritivas e prescritivas, revelando que pode-se resumir as características
diferenciais entre estas proposições em três pontos, a saber: (1) Com relação à
função; (2) Com relação ao comportamento do destinatário; (3) Com relação ao
conteúdo de valoração.
Bobbio traça algumas distinções entre as proposições descritivas e prescritivas,
aduzindo:
PROPOSIÇÕES
PROPOSIÇÕES DESCRITIVAS
PRESCRITIVAS
COM RELAÇÃO A Se quer informar a outrem Se quer modificar o
FUNÇÃO comportamento de outrem
A influência da informação A influência da prescrição é
sobre o comportamento é direta
indireta
Consentimento do Consentimento do
COM RELAÇÃO AO
destinatário quando este crê destinatário se manifesta
COMPORTAMENTO
que a proposição é pelo fato de que executa.
DO DESTINATÁRIO
verdadeira. (Prova da (prova da aceitação é a
aceitação) execução)
A aceitação consiste em crer A aceitação consiste em
em alguma coisa. fazer alguma coisa.
Quanto ao critério de Quanto ao critério da
valoração pode-se dizer que valoração as proposições
as proposições descritivas são prescritivas não se pode
verdadeiras ou falsas. (este falar em verdadeiras ou
COM RELAÇÃO AO
critério só se aplica as falsas. Aqui se fala em
CONTEÚDO DE
proposições descritivas). válido ou inválido, justo ou
VALORAÇÃO
O critério de valoração é a injusto, oportuno ou
correspondência com os fatos inoportuno, conveniente ou
ou com os postulados auto inconveniente.
evidentes.
X. OS CONSELHOS NO DIREITO
Neste tópico Bobbio esclarece que: “Nem todas as prescrições que encontramos
quando estudamos um ordenamento jurídico no seu conjunto são comandos. Basta
pensar que em todo ordenamento jurídico, ao lado dos órgãos deliberativos, há os
órgãos consultivos, que têm justamente a tarefa não de emanar ordens, mas de dar
conselhos”.
Segundo Bobbio, os órgãos consultivos, por meio de seus pareceres, tem a função
de guiar ou dirigir o comportamento alheio, contudo as pessoas a quem são
dirigidos os seus conselhos não são obrigados a segui-los, o que em linguagem
jurídica se exprime dizendo que os pareceres não são vinculantes.
Os conselhos (pareceres) desenvolvem a função de preparar a via para o comando.
De acordo com Bobbio, tendo em vista que o conselho é uma prescrição que tem
menor força vinculante que o comando, conclui-se que os órgãos consultivos são
órgãos que, em um ordenamento jurídico, são titulares de uma autoridade menor
ou secundária em relação aos órgãos com função imperativa.
Nestes tópico, Bobbio apresenta um outros tipo de proposição que embora entrem
na categoria das prescrições, se distinguem dos comandos propriamente ditos por
uma menor força vinculante. A este tipo de proposição Bobbio denomina
INSTÂNCIAS.
INSTÂNCIAS – são aquelas proposições com as quais nós pretendemos fazer com
que alguém faça alguma coisa em nosso favor, porém sem vinculá-lo.
Para Bobbio: “A espécie das instâncias pertencem as rezas, as súplicas, as
invocações, as implorações, os pedidos (no sentido técnico administrativo da
palavra, por exemplo, um pedido para obter o passaporte)”.
Diferenças entre COMANDOS, CONSELHOS e INSTÂNCIAS de acordo com a forma
gramatical, segundo Bobbio: