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JORNAL DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA

JPM
No. 02 Julho 2006

I
Versão eletrônica em www.ime.unicamp.br/lem

Editorial 25%. Os participantes regularmente inscritos


e com presença de pelo menos 80% nos mini-
Em maio deste ano foi lançado o primeiro cursos, receberão um Certificado de Educação
número do Jornal do Professor de Matemática Continuada com carga horária de 10 horas-
(JPM). Foram distribuı́dos exemplares entre atividades.
professores de matemática de diversas escolas
de Campinas e região, e alunos de licenciatura
de nossa instituição. As manifestações de inter- O LEM Vai à Sua Escola
esse, estı́mulo, e a receptividade nos deixaram
muito felizes e motivados para caminhar em
Cidade de Cajobi
direção a melhoria e consolidação deste nosso
projeto e assim, é com muito prazer que ap- No inı́cio deste ano a Secretaria de Educação
resentamos este segundo número do JPM, com do municı́pio de Cajobi (SP) entrou em con-
novas idéias e informações. Continuamos con- tato com a coordenação do LEM desejando
tando com colaborações no sentido de tornar informar-se sobre cursos de formação continu-
esta publicação cada vez mais próxima das ada a serem oferecidos aos professores das séries
expectativas de você leitor e agradecemos as iniciais deste municı́pio, na área de matemática.
proveitosas opiniões e expressões de interesse. Prontamente o LEM colocou-se à disposição e
iniciaram-se os primeiros entendimentos, obje-
tivando nossa ida a este municı́pio que produz
XXIX CNMAC laranja e cana-de-açúcar para as usinas de álcool
da região. Assim, após muitas trocas de idéias,
O XXIX Congresso Nacional de Matemática o LEM esteve presente nos dias 27 de maio e
Aplicada e Computacional (CNMAC), será re- 3 de junho de 2006, ministrando um curso de
alizado na UNICAMP no perı́odo de 18 a 20 16 horas para 35 professores das séries iniciais
de setembro de 2006. Uma das atividades do Ensino Fundamental da rede municipal de
programadas será o Encontro de Professores de ensino de Cajobi.
Matemática do Ensino Médio e Fundamental.
Para esse encontro estão programadas três con- A Profa. Miriam S. Santinho, membro do
ferências no horário das 18h às 19h15min e seis LEM, desenvolveu aspectos fundamentais do
minicursos de 6 horas cada um, no horário das sistema de numeração decimal destacando a
19h30min às 21h30min (segunda, terça e quarta necessidade histórica de
feira). Os conferencistas, já confirmados, serão um processo para con-
os professores Vincenzo Bongiovani, Eduardo tar quantidades, a com-
Sebastiani Ferreira e Geraldo S. Ávila. Os mini- paração do nosso sis-
cursos, seus respectivos docentes e temas cons- tema com os de outros
tam da ficha de inscriçãoo que é especı́fica para povos, algumas carac-
o encontro e não para o CNMAC geral. A taxa terı́sticas essenciais do sistema de numeração
de inscrição e participação é de R$ 20,00, sendo como valor e ordem numérica, base e valor posi-
que professores/alunos dos cursos MAT100 e cional e operações com decimais.
MAT500 da UNICAMP e alunos dos cursos
de Licenciatura em Matemática terão, medi- O ábaco de hastes e o material dourado foram
ante comprovação de matrı́cula, um desconto de utilizados para desenvolver atividades envol-

1
vendo as quatro operações: adição, subtração, sentido da rodada dos jogadores; (2) Distribuir
multiplicação e divisão, permitindo analisar 3 cartas para cada jogador e virar na mesa out-
conceitualmente a construção dos diferentes al- ras 4 cartas, de modo que os valores fiquem
goritmos tradicionalmente utilizados em sala de visı́veis. (3) O primeiro jogador começa escol-
aula, assim como a interpretação e o entendi- hendo uma das cartas que tem na mão para
mento dos seus diferentes porquês. jogar, com o seguinte propósito: esta carta da
sua mão e tantas outras quantas forem possı́veis
da mesa, devem somar 7, considerando-se as
Para Usar em Sala de Aula cartas pretas como números positivos e as ver-
Jogo dos Inteiros melhas como números negativos. Exemplos: 5
preto e 2 preto = 7, 4 vermelho e 3 vermelho
Esta atividade foi criada e desenvolvida pelas = 7, 9 preto e 2 vermelho = 7, 10 vermelho e
professoras Graziela Tatiane Pianucci Braca- 3 preto = 7, 4 vermelho, 4 preto, ás preto e
lente e Lúcia Helena Jovanini Montagner, alu- 6 preto = 7. Quanto mais cartas puder pegar,
nas do curso de especialização para profes- melhor, lembrando que deve-se usar apenas uma
sores de quinta a oitava séries, da turma de da sua mão. Feita a jogada, o jogador recolhe
2006/2007, oferecido pelo LEM. estas cartas e separa-as do seu lado. (4) Se na
sua vez um um jogador não conseguir de ne-
Introdução. Não há dúvida que jogos “com- nhuma forma somar os 7 pontos, ele deve jogar
binam” com aprendizagem. Aprender brin- na mesa uma de suas cartas. (5) Se o jogador
cando é divertido e comprovadamente funcional, conseguir “rapar” a mesa (não deixar nenhuma
pois mexe com a nossa imaginação. Na ânsia carta) ganha um bônus de 5 pontos. (6) Cada
de vencer, damos tudo de nós e, assim, nosso jogador seguinte procede da mesma forma, até
cérebro está em total condição de aprender. que todos fiquem sem cartas nas mãos. (7) O
responsável pelo maço distribui as cartas no-
Com a orientação do professor, a classe pode vamente e o jogo continua até que o baralho
quebrar a rotina das aulas com lousa e giz e pas- termine. (8) Ao final as sobras da mesa serão
sar momentos agradáveis. O jogo é um grande recolhidas pelo último jogador que conseguiu
facilitador da integração dos alunos. O profes- fazer pontos, mas antes deve-se conferir a mesa.
sor pode e deve incentivar os alunos a levarem Nela deverão sobrar 0 ou 7 ou 14 ou 21 ou 28 ou
o jogo para suas casas, jogando com os pais etc. pontos (múltiplos de 7); se não aconteceu é
e irmãos. Além de transmitir o conteúdo de porque um dos jogadores cometeu alguma falha.
maneira mais prazeroza, o jogo permite que se- Verifica-se quem foi este jogador (ou dupla) que
jam trabalhados com a classe outros aspectos, perderá todos os pontos feitos. (9) Contam-se
tais como: a necessidade de respeitar regras, as cartas que cada jogador tem no seu maço e
ética, aceitação de eventuais perdas, etc. Du- vence quem pegar o maior número de cartas.
rante o jogo, elaborando estratégias, a criança
vai desenvolvendo sua capacidade de buscar Para os alunos que não conhecem ainda
soluções para as situações-problema. números positivos e negativos, pode-se explicar
a regra utilizando apenas as cores: vermelho
O público alvo são os alunos da quinta a oitava com vermelho ou preto com preto (cores iguais)
séries. O material necessário é um baralho com “soma” e vermelho com preto (cores diferentes)
cartas do ás (equivalente ao 1) ao dez (as fig- “subtrai”.
uras não são usadas). É necessário uma aula
para a explicação do jogo e desenvolvimento de Cartas na Mesa – A História do Ba-
algumas jogadas. O número de jogadores pode ralho. Para chegar nas mesas de jogo, o ba-
ser 2, 3 ou 4 (podendo formar duas duplas de ralho percorreu um longo caminho entre vários
parceiros). povos. As cartas de hoje
contam um pouco da história
O Jogo. (1) Embaralhar as cartas e definir e da cultura de muitos jo-
quem dará as cartas durante toda a partida e o gadores.

2
Chinês: o baralho chinês influenciou o europeu Prova sem Palavras
e, portanto, o nosso. As cartas, finas e longas,
lembravam um dominó. Os naipes eram dese- Uma Generalização do Teorema de
nhos de moedas ou, segundo outras descrições Pitágoras
cı́rculos e bambus. Um baralho pode ter até 150
cartas. A soma das áreas de dois quadrados, cujos la-
Árabe: Árabes adaptaram os naipes chineses dos têm o comprimento das diagonais de um
ao seu cotidiano, ilustrando-os como bastões e paralelogramo, é igual a soma das áreas de qua-
moedas e incluiram dois novos: taças e espadas. tro quadrados cujos lados têm o comprimento
Além de cartas numeradas, havia cartas sim- dos lados do paralelogramo.
bolizando pessoas da corte, indicadas apenas
pelo nome (as leis islâmicas proibiam a repre-
sentação humana). Foi apenas por intermédio
dos árabes que as cartas chegaram à Europa,
durante o século 14.
Espanhol: O baralho espanhol tinha quatro
naipes que, supostamente, representavam a so-
ciedade da época: moedas de ouro para os
comerciantes, taças para o clero, espadas para
os soldados e militares, e bastões (ou “paus”)
para os camponeses. As três figuras masculinas
da corte — valete, cavaleiro e rei — passaram a
ser ilustradas.
Italiano: No século 19, surgiu na Itália o
primeiro baralho de tarô, com 78 cartas. 56
eram divididas em quatro naipes, com quatro
No caso do paralelogramo ser um retângulo
figuras cada: valete, cavaleiro, rainha e rei. As
temos o clássico Teorema de Pitágoras.
outras ( chamadas hoje de tarô), eram formadas
por 21 cartas numeradas, mais o Louco, a carta
“rebelde”, sem naipe ou número que deu origem Extraı́do da revista Mathematics Magazine
ao nosso curinga.
Francês: O baralho francês se difundiu pela
Europa a partir do Renascimento, definindo
O Turista Matemático
um novo padrão para as cartas européias. O Quintal – Unidade de Medida
Suas principais caracterı́sticas eram a carta da
dama (que substituiu o cavaleiro) e os naipes: Em janeiro de 2005, ao passar por Quemchi,
corações, losangos, trevos e pontas de lança (ou uma pequena cidade de pescadores à beira do
pinhões). Pacı́fico, na ilha de Chloé,
sul do Chile, observamos
Otı́lia T.W. Paques, IMECC – UNICAMP a placa ao lado encostada
em um pequeno armazém,
anunciando a venda de 1/2
Matemática na Web quintal de farinha. Tive-
mos a oportunidade de en-
www.bbc.co.uk/radio4/science/5numbers.shtml
trar, e o vendedor nos in-
Sı́tio da BBC de Londres contendo uma série
formou que essa medida
de cinco programas sobre os cinco números: 0
de farinha equivalia a um
(zero), π (pi), φ (de ouro), i (imaginário) e ∞
pouco mais de 20 kg.
(infinito). Há também um resumo sobre cada
programa e desafios de Matemática. De fato, o quintal é uma histórica unidade de
medida de massa com diferentes valores em

3
diferentes paı́ses. Esta unidade ainda é usada economistas que acreditam que sua pesquisa
no mundo Árabe, definida informalmente como não pode ser divulgada, pois alterará o entendi-
50 kg. Na Espanha é definida em torno de 46 kg, mento da existência.
em Portugal 58,75 kg e na Inglaterra 50,84 kg,
onde também é conhecido como centner. Este
termo tem sua raiz no latim clássico. O termo Uma Mente Brilhante (A
quintal evoluiu etmologicamente sendo que na Beautiful Mind, 2001)
Grécia antiga era conhecido como kentenarion, O filme conta a história real
na Arábia como quintar, no latim medieval de John Nash, um matemático
como quintale e antigamente na França como prodı́gio que aos 21 anos for-
quintal. mulou um teorema que provou
sua genialidade. Diagnosticado
Um sı́tio interessante sobre unidades de medida como esquizofrênico pelos médicos, Nash en-
é www.unificado.com.br/fisica/unidades.htm frentou batalhas em sua vida pessoal, até ga-
nhar o Prêmio Nobel.

Miriam S. Santinho, IMECC – UNICAMP


Cubo (Cube, 1997)
Seis pessoas comuns acordam
Desafio Matemático presas num labirinto. Nele, exis-
tem salas interligadas em forma
Dois matemáticos, João e Rui, estão conver-
de cubos e preparadas com ar-
sando. A certa altura chega um amigo e diz
madilhas mortais. Nenhum de-
um número ao ouvido de João. Depois se dirige
les sabe como ou porque estão
para Rui e segreda-lhe também um número.
presos, mas logo descobrem que cada um possui
Antes de se afastar, informa: o produto dos dois
uma habilidade especial que poderá contribuir
números é 8 ou 16. João pensa um instante e
para a fuga. Eles devem juntar esforços na
diz: “Não sei qual é o seu número.” “Também
ânsia de encontrar a saı́da de um enigma prati-
não sei, qual é o seu.”, diz Rui, depois de refle-
camente insolúvel. O filme é bem violento e não
tir por um momento. Nova pausa antes de João
recomendado para menores.
fazer um pedido: “Dá-me um palpite sobre o
seu número.” Rui pensa um pouco e diz: “Dá-
me antes um palpite sobre o seu.” João franze Artigo
as sobrancelhas mas de repente sorri e exclama:
“Já sei qual é o seu número!” Qual é o número Hermann Hankel e o Conceito de
de Rui? Número

Maria Lúcia, IMECC – UNICAMP Antes de Kronecker pronunciar sua famosa frase
Os números são uma dádiva do bom Deus..., já
em 1822, Gauss (que era um homem profun-
Veja em DVD damente religioso, mas gostava de discordar)
em uma carta a seu amigo Bessel, escreve: ...
Pi (Pi, 1998) devo confessar, os números são uma criação
,
Max é um gênio e um visionário, humana. Números (αριθµóζ) sempre foram
mas também um homem proble- números naturais. A resolução de equações
mático e perturbado. Quando algébricas levou a manipulação de objetos não
está prestes a solucionar sua naturais, artificiais, imaginários. R. Descartes
complicada pesquisa — desco- usa um terço de sua obra mostrando como se
brir um padrão no número π livrar das raizes “falsas” (a Geometria Analı́tica
capaz de sistematizar as bolsas de valores — de Descartes reduzia-se ao primeiro quadrante).
sua vida entra num caos. Ele começa a ser Blaise Pascal era categórico: o um é número,
perseguido por todos, desde seitas religiosas a mas o zero não é! Já Isaac Newton foi mais

4
aberto em sua Aritmética Universal (1707): • não existe um número (real) cujo quadrado é
−1.
Entendemos por número, menos uma coleção de Dizemos então: para remover tais incon-
unidades, que uma relação abstrata de uma quan- veniências, estendemos o conceito de número,
tidade qualquer com uma outra de mesma espécie, isto é, introduzimos, construı́mos, criamos uma
que tomamos como unidade. O número é de três nova entidade, um novo número, um sinal, um
espécies: o inteiro, o fracionário e o surdo. O in- sinal-complexo,
√ etc.,√ os quais denotamos por -
teiro é medido pela unidade; o fracionário por um 1, ou 21 , ou 2, ou −1, as quais satisfazem as
submúltiplo da unidade; o surdo é incomensurável condições impostas. Em outras palavras:
com a unidade. −1 := aquele número x tal que x + 1 = 0,
1
2√
:= aquele número x tal que x × 2 = 1,
Por um lado, a definição de Newton é proble- 2
√ 2 := aquele número x tal que x2 = 2,
mática, pois utiliza os termos relação abstrata −1 := aquele número x tal que x = −1.
e quantidade sem defini-las previamente; por Se, no segundo membro, entendemos por
outro lado esquece os números negativos, o número aquilo o que até agora tinha esse sig-
número e, o número π... O zero seria medido nificado, então as entidades consideradas são
pela unidade? Acaba-se colocando a questão: auto-contraditórias: logo, diversos nomes foram
existe um critério que permita chamar um dado dados a não-seres. Ou se, no segundo membro,
objeto de número? Uma fração é um número? uma nova entidade é entendida como número,
Uma razão é um número? Quais são suas então temos o desconhecido sendo definido pelo
definições? desconhecido. Dizer que isto é “completamente
diferente de todos os números” é dizer o que não
Giuseppe Peano nos ensina que: a dificuldade é, e não aquilo que é. É natural nos pergun-
na definição das várias entidades numéricas tarmos por que criamos novas entidades neste
é em parte lingüı́stica. A palavra número casos e não em outras. Não existe um maior
(número natural) tendo sido introduzida como número primo: para tornar a aritmética mais
,
uma tradução da palavra αριθµóζ de Euclides, geral poderı́amos criar um número primo ideal.
a frase números primos indica, tanto no sentido Duas paralelas não tem um ponto euclidiano
gramatical quanto aritmético, uma classe de em comum: imaginamos um ponto no infinito.
números. Por outro lado, a frase números in- Gauss, a propósito desses imaginários, pergun-
teiros não indica uma classe de números (como tou: pode alguém deixar de rir? “Isto é jogar
gramaticalmente deveria), porém uma classe com palavras, ou pior, usá-las mal”.
mais ampla daquela de números. Aqui o adje-
tivo não restringe a classe na qual é aplicada, ao Uma saı́da nos foi apontada por Hermann Han-
contrário amplia. Da mesma forma, números kel em sua Teoria dos Números Complexos,
fracionários indica uma classe que não é uma publicada em 1867. Na introdução Hankel es-
subclasse dos números (naturais). Esta nomen- creve:
clatura, contrário ao uso comum, não se acha
em Euclides. É bastante recente e queremos que A peculiaridade geral da natureza humana mostra
a frase “número inteiro” indique um número. que somos involuntariamente inclinados a em-
pregar regras sob circunstâncias mais gerais que
Vamos refletir sobre isso. Comecemos lem- aquelas permitidas pelos casos especiais sob os
brando certas proposições cuja validade não quais as regras foram derivadas e tem realidade.
suscinta nenhuma dúvida. Por exemplo:
Propõe, então, um critério prático, chamado
• não existe um número (natural) o qual so- princı́pio de permanência das leis for-
mado com 1 dê 0 como resultado; mais, que é o seguinte: (1) A cada classe
• não existe um número (inteiro) o qual multi- de sı́mbolos, que não representem números já
plicado por 2 dê 1; conhecidos, atribui-se um sentido de modo a
• não existe um número (racional) cujo submetê-los as regras de cálculo do precedente
quadrado é 2; campo numérico. (2) Consideramos tal sistema

5
de sı́mbolos em um sentido lato, ampliando o o levou a um Deus Terceiro,
conceito de número. (3) Devem permanecer que aos dois primeiros criou,
no novo campo numérico as mesmas leis ope- e a quem um Quarto inventou,
ratórias que valiam no caso precedente. todos eles sem parceiro.
3
A revolução realizada por Hankel consistiu em O Quinto criou o Deus Quarto
abordar o problema com uma perspectiva com- e de ter criador precisa,
pletamente diferente daquela históricamente e assim — Cantor analisa —
habitual. Não se trata mais de procurar na o Céu de Deuses é farto.
natureza exemplos práticos que expliquem os Em metafı́sico parto
números relativos, ou qualquer das extensões e quantidade infinita,
dos números naturais, de modo metafórico. Os por trás do enésimo agita
números não são mais descobertos, mas inventa- seu “Ene-mais-um” criador;
dos, criados, imaginados. A mudança essencial nosso herói, já professor,
é a passagem do ponto de vista “concreto” para com tantos deuses se excita.
o ponto de vista “formal”. 4
Nessa perspectiva, o próprio Hankel deu sen- Mas este grande conjunto
tido aos números complexos, Charles Méray e (Um, Dois, Três, Quatro e demais)
Giuseppe Peano definiram e levaram as frações vai ver foi criado em paz
ao estatuto de números fracionários, Richard por “Outro Deus”, todo junto.
Dedekind aos números irracionais. Mas, os O novo Deus não é defunto,
critérios de Hankel tiveram que ser relaxados Cantor o chama de Omega
para chamar os quaterniãos, criados por Hamil- e brinca de cabra-cega
ton, de números complexos a quatro unidades com este Deus singular
(não vale mais a comutatividade). que não queria brincar;
oh série que não sossega!
5
Dicesar Lass Fernandez, IMECC – UNICAMP
Omega-Mais-Um, Mais-Dois,
Mais-Três, Mais-Quatro, Mais-Cinco,
Expressão Artı́stica segue Cantor com afinco
contando Deuses depois.
Cordel de Cantor A “Dois Omega” acha, pois
não estava muito escondido
1 e percebe — precavido —
A estória que vou contar de “Três Omega” a existência,
é a de Jorge Cantor, chegando assim, com paciência,
que soube ser o melhor a “Omega Omega” enrustido.
no seu jeito de cantar. 6
Sabia se preocupar “Omega Omega” é quadrado,
pela existência de Deus; logo tem “Omega Cubo”;
no seu tempo não havia ateus saem Omegas por um tubo
para discutir tal ciência que por nada é limitado.
e — já se sabe — é imprudência Nesta seqüência, arretado,
discutir com fariseus. “Omega-Elevado-à-Omega”
2 se eleva à Omega e trafega
Se Deus criou este mundo se elevando uma vez mais.
— se perguntava Cantor — Tem muitos deuses ordinais
deve ter tido um criador, brincando de pega-pega.
que seria um “Deus Segundo”. 7
Tal pensamento fecundo Sentindo necessidade
do Deus Segundo e Primeiro daqueles deuses contar,

6
Cantor passa a calcular a Academia em zumzum.
sua cardinalidade. 12
Por mais imortalidade A quantidade dos reais,
que toda a deusada tem, “Dois à Alef-Zero elevado”
sua conta revela bem é a de Partes (tá provado)
(usa métodos certeiros) dos honestos naturais.
que com números inteiros Existirão cardinais
dá pra contar este Além. entre Alef-Zero e tal bicho?
8 Cantor, no maior capricho,
Longe de estar satisfeito, com a conjectura luta;
Jorge Cantor perguntou “Parece que tá biruta”,
qual foi o Deus que criou se propagava o cochicho.
os Deuses de inteiro jeito. 13
Este Deusão, tão perfeito, Mal sabia a Academia
criou mais que os anteriores; que o que a Cantor preocupava
sacerdotes e doutores com Deus se relacionava,
tinha a Santa Mãe Igreja pois ele tudo escondia.
mas não compram a peleja Os conselhos não ouvia,
nem padres nem professores. não lhe importava o bulı́cio,
9 falavam “Que desperdı́cio,
Ao Deus que Deuses criava um cara tão talentoso!”
numa maior quantidade, Seu destino tenebroso
com a maior dignidade, foi morrer louco no hospı́cio.
de “Omegão” apelidava.
Mas aqui não terminava,
... Continua no próximo número!
pois o cabra era incomum,
José Mario Martı́nez, IMECC – UNICAMP
Omegão não era Ogum
e o número que ele cria,
cujo nome não sabia,
passa a chamar de “Alef-Um”. Cursos no LEM
10
“Alef-Zero” é quantidade MAT 300: Curso de Especialização
dos números naturais, em Matemática para Professores da
inteiros e racionais, Educação Infantil e do Ensino Fun-
provou com simplicidade. damental
Mas achou outra verdade A proposta é aprofundar o conhecimento dos
com método diagonal: profissionais na área de ensino de Matemática,
que todo número real envolvendo os professores em um processo cria-
não pode ser numerado tivo, de interação com o próprio conteúdo do
e o primeiro Deus safado seu trabalho, obtendo assim, resultados efe-
é este Omegão ordinal. tivos no ensino e aprendizagem de Matemática.
11 Destina-se a Professores da Educação Infan-
O conjunto dos reais til, Professores das Séries Iniciais e Professores
é de verdade maior do Ensino Fundamental, Pedagogos e Coorde-
(assim dizia Cantor) nadores Pedagógicos.
que aquele dos naturais. Carga Horária: 360 horas.
A quantidade dos tais Perı́odo: 08/2006 a 12/2006.
será a mesma que Alef-Um? Horário: Sábados, das 7h50min às 16h35min.
Ninguém sabia. Nenhum Matrı́cula: 05/06 a 14/07/2006.
doutor entende a pergunta. Valor do Curso: 18 parcelas de R$80,00.
“Ele está louco” barrunta

7
MAT 0044: O Uso do Geoplano em sultados e considerações que propiciem um
Sala de Aula melhor entendimento do que é um trabalho
Apresentar e desenvolver atividades em geome- em grupo com efeitos positivos na aprendiza-
tria que possam ser trabalhadas em sala de gem. Apresentar atividades com conteúdos em
aula, objetivando o desenvolvimento da vi- matemática e áreas afins que são melhor desen-
sualização espacial, e propiciar o reconheci- volvidas com trabalho em grupo. Destina-se a
mento e o estudo de figuras geométricas com Professores das Séries Iniciais, Professores do
introdução às medidas. Será trabalhado o geo- Ensino Fundamental e Médio, Professores do
plano, também com auxı́lio de programas com- Ensino Superior, Coordenadores Pedagógicos e
putacionais. Destina-se a Professores das Séries Alunos de Licenciatura em Matemática. Profa.:
Iniciais, até a Sexta Série do Ensino Fundamen- Raquel N. M. Brumatti, PUC-CAMPINAS.
tal, Professores do Magistério, Coordenadores Perı́odo: 25/11/2006 das 8h30min as 17h30min.
Pedagógicos e Alunos de Licenciatura. Matrı́cula: 13/10 a 16/11/2006.
Profa.: Maria Lúcia B. Queiróz, LEM – IMECC Recebimento de documentação: até 17/11/2006.
– UNICAMP.
Perı́odo: 19/10/2006 das 8h30min as 17h30min. MAT 100: Curso de Especialização
Matrı́cula: 16/07 a 11/08/2006. em Matemática para Professores do
Recebimento de documentação: até 12/08/2006. Ensino Fundamental e Médio
Inscrições : 30/10 a 15/12/2006.
MAT 0083: Estresse, Qualidade de Matrı́cula: 02/01 a 16/01/2006.
Vida e o Trabalho do Professor Coordenador: Prof. Dr. Ricardo A. Bacci.
O que é o estresse: sintomas, causas e efeitos.
Estresse ocupacional e o estresse do professor. Os minicursos MAT0044, MAT0083 e MAT0168
Os fatores de apoio. Como prevenir ou en- têm carga horária de 8 horas e valor de R$45,00
frentar o estresse. A proposta é instrumentar com desconto de R$10,00 para alunos dos cur-
os professores a avaliarem o seu nı́vel de estresse sos de Especialização.
e oferecer subsı́dios teóricos e práticos para o
manejo efetivo do estresse. Destina-se a Profes- Para efetuar a matrı́cula, acesse o site da Ex-
sores das Séries Iniciais, Professores do Ensino tecamp www.extecamp.unicamp.br (link ex-
Fundamental e Médio, Professores do Ensino tensão), área Ciências Exatas.
Superior, Coordenadores Pedagógicos e Alunos
de Licenciatura em Matemática. Escola de Extensão da UNICAMP
Profa.: Maria Elenice Quelho Areias, LEM – Prédio Reitoria I, Térreo
IMECC – UNICAMP. Tel: (19) 3788–4646 / 3788–4648
Perı́odo: 21/10/2006 das 8h30min as 17h30min. Fax: (19) 3788–4645
Matrı́cula: 12/09 a 13/10/2006. De seg a sex, das 8h30min às 17h30min.
Recebimento de documentação: até 14/10/2006. extecamp@extecamp.unicamp.br

MAT 0168: Trabalho em Grupo: Seção de Extensão e Eventos do IMECC


Vivência e Reflexões sobre sua In- Tel: (19) 3788–5937
fluência na Aprendizagem extensao@ime.unicamp.br
Apresentar ao professor de Matemática re- www.ime.unicamp.br/exten.html

Jornal do Professor de Matemática


Elaborado pelo Laboratório de Ensino de Matemática (LEM) do Instituto de Matemática,
Estatı́tica e Computação Cientı́fica (IMECC) da Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP). Correspondência e Sugestões: LEM – IMECC – UNICAMP, Caixa Postal 6065,
13081–970, Campinas (SP). Telefone: (0xx19) 3788–6017. E-mail: lem@ime.unicamp.br
Editores: Lúcio T. Santos, Maria Lúcia B. Queiróz e Claudina I. Rodrigues

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