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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Roberto Izoton

Entendo que, para pensarmos sobre o abandono das famílias pelos sujeitos que decidem
morar nas ruas, temos que relacionar essa questão ao processo de socialização. De
acordo com a tradição sociológica, dentro da qual podemos destacar Émile Durkheim e
Peter Berger, a socialização é o processo por meio do qual recebemos da nossa
sociedade os conteúdos culturais que seus membros constroem coletivamente e, desse
modo, aprendemos a fazer parte dela.

A socialização ocorre em duas etapas distintas: 1) a socialização primária, que acontece


dentro das famílias, do nosso nascimento até a idade em que passamos a fazer parte
também de outros grupos sociais fora das nossas famílias; e 2) a socialização
secundária, que tem seu lugar nos outros grupos sociais dos quais fazemos parte e dura
até o fim da nossa vida. Na socialização primária, recebemos aqueles conteúdos
culturais mais gerais, que vamos usar durante toda a nossa vida em todos os grupos
sociais dos quais venhamos a fazer parte: a língua materna, as normas de convivência,
os códigos alimentares e de vestimenta, dentre outros. Na socialização secundária,
aprendemos aquilo que nos torna membros do grupo em que ela acontece: em um curso
de licenciatura, recebemos conhecimentos e desenvolvemos práticas que nos tornarão
professores.

Como a socialização primária acontece dentro das famílias, as relações que


estabelecemos nesse processo são mais diretas, íntimas, carregadas de afetividade. Já
nos grupos em que ocorrem a socialização secundária, as relações podem ser próximas,
íntimas e afetivas (no caso dos grupos de amigos) ou não (no caso dos cursos
superiores ou locais de trabalho).

Considerando que, para a socialização primária, é necessário afeto entre os adultos da


família e as crianças que estão sendo socializadas ali, a falta dessa afetividade pode
trazer problemas para o processo de socialização. Essa falta de afetividade pode ocorrer
quando não temos todos os membros da família presentes (por exemplo, quando uma
mãe solteira cria os filhos sem apoio de ninguém da família e trabalha o dia todo, sem
ter com quem deixar as crianças) ou quando, apesar de termos todos os membros da
família, as relações entre eles são distantes (como é o caso de pais que trabalham muito
e/ou carregam seus filhos de atividades externas, como escola, curso de idioma, esportes
etc., sem dedicar algum tempo para passar com as crianças).

Uma socialização primária mal processada, das duas maneiras que vimos acima, pode
fazer com que o sujeito, em algum momento de sua vida, perca seu vínculo com a
família e com a sociedade como um todo e se coloque em uma situação de rua. Esse
fenômeno pode ou não estar atrelado ao uso de álcool e outras drogas, mas há grande
chance dele estar ligado a uma socialização primária mal desenvolvida.

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