Para hoje foi me pedido assistir um vídeo que abordava: a
contextualização histórico-literária de Cesário Verde e a representação da cidade e dos tipos sociais. Na geração de 70, houve também o aparecimento do realismo e posterior evolução para o naturalismo, e é aqui que Cesário verde se insere. A sua personalidade literária formou-se dentro do Realismo/Naturalismo Cesário Verde assume na sua poesia um tom antirromântico que acaba por romper com o subjetivismo do romantismo. Cesário propõe uma explicação para o que objetivamente observa (realismo); perceciona, por exemplo, minuciosamente a cidade, através dos sentidos. Quanto à representação da cidade, esta é vista como opressiva e destrutiva, tanto para o sujeito poético como para os populares que para aí se deslocam em busca de melhores condições de vida. No que diz respeito aos tipos sociais representados na obra de Cesário, temos claramente um sentimento de empatia, solidariedade do sujeito poético em relação às classes mais baixas. Com efeito, é feita uma crítica às condições degradantes em que o povo vivia: «apinham-se num bairro aonde miam gatas/ E o peixe podre gera os focos de infeção» (Avé Marias v. 43-44) A injustiça social denunciada na poesia de Cesário torna-se mais evidente pelo contraste que nela se estabelece entre o trabalho permanente do povo e o repouso que caracteriza as classes dominantes. No poema que estamos a analisar, este contraste é visível através da descrição dos trabalhadores que regressam a casa ao fim da tarde e a inatividade das classes dominantes, que jantam nos «hotéis da moda» (Avé Marias v. 28) ou se entregam ao consumismo nas «casas de confeções e modas» (Ao gás v. 19).