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Por ser cidade portuária, Corinto estava aberta ao mundo. Os seus cidadãos eram
provenientes de todas as camadas sociais, culturas e religiões. Os vícios da
cidade eram proverbiais. Se de fato existiram as 1.000 prostitutas cultuais de
Afrodite é duvidoso. Possivelmente essas eram insinuações maldosas dos seus
vizinhos, como H. Conzelmann mostrou.
Nessa cidade mundana nasce uma igreja cristã no ano de 49 d.C. por meio dos
esforços missionários do apóstolo Paulo. É possível reconstruir os degraus de
seu desenvolvimento com base em Atos dos Apóstolos e nesta 1ª carta aos
Coríntios. De tudo que podemos observar, a história da igreja pode ser dividida
em quatro etapas:
Atos 18.18 nos informa sobre o início da igreja. Logo depois de sua chegada a
Corinto, Paulo encontra o casal Áquila e Priscila, fazedores de tendas por
profissão. Paulo trabalha com eles e com isso ganha o seu sustento. No seu
tempo livre ele visita a sinagoga judaica e participa na exposição das
Escrituras Sagradas.
Depois que os seus colaboradores Timóteo e Silas chegam a Corinto, ele pode se
dedicar totalmente à pregação da palavra, pois eles presumivelmente trouxeram
ofertas em dinheiro da Macedônia. Paulo professa a Jesus como o Messias de
Israel e isso leva à ruptura com a sinagoga. Paulo muda, juntamente com os seus
seguidores, para a casa vizinha de um homem temente a Deus, Justo. Ali então se
reúne o grupo base da igreja: famílias judaicas que estão crendo em Jesus
Cristo. Em colaboração com eles Paulo evangeliza por um ano e meio. Tanto
judeus quanto gregos se convertem.
Depois do novo procônsul Gálio ter iniciado o seu mandato, é feita uma acusação
contra Paulo e seus amigos, incitada pelos líderes da sinagoga. A acusação não
tem conseqüências. Em vez disso, há tumultos anti-semitas. A igreja cristã não
é atacada. Talvez é por isso que eles não conseguiam entender por que Paulo
tinha sofrido tanta oposição em outros lugares.
Mais ou menos no outono de 51 d.C. Paulo deixa Corinto e viaja para Antioquia
na Síria, passando pela Macedônia e Ásia Menor. Áquila e Priscila o acompanham
na primeira parte da viagem; depois ficam em Éfeso. Lá eles encontram um judeu
de Alexandria chamado Apolo (At 18.23-28). Esse conhecia Jesus e estava
empolgado com ele. Teólogo e orador muito capacitado, difundia o ensino sobre
Jesus. Entretanto, Áquila e Priscila percebem logo que ele ainda não entendeu
tudo corretamente. Ele tampouco foi batizado sob o nome de Jesus, pois só
conhece o batismo de João.
O casal então instrui Apolo na fé em Jesus Cristo e o envia com uma carta de
recomendação para a Acaia e também para Corinto. Lá se evidenciam a sua
capacidade teológica e o seu dom de orador. Ele apóia os membros da jovem
igreja nas suas disputas com os judeus ao demonstrar pelas Escrituras Sagradas
que Jesus Cristo é o Messias prometido. Podemos supor — mas não concluir
definitivamente —, com base na 1ª carta aos Coríntios (1.1), que por meio disso
Apolo conquistou para a fé em Jesus o chefe da sinagoga Sóstenes, que tinha
sido espancado diante do tribunal de Gálio (At 18.17). De qualquer forma, o
ministério de Apolo teve um impacto tão grande na igreja de Corinto que um
grupo se chamava “os de Apolo” (1Co 1.12; 3.4). Mesmo assim, Paulo não viu em
Apolo um concorrente, mas um obreiro com dons e chamado totalmente diferentes
(1Co 3.5-15), mesmo que tenha sido dolorido para ele ouvir que, em comparação
com Apolo, o seu dom de falar era pouco reconhecido pela igreja de Corinto (2Co
10.10; 11.6).
São cristãos-judeus que sabem que Jesus colocou Simão como rocha (hebraico
kepha) para a sua igreja. Eles crêem que a unidade da igreja estará garantida
se todos os grupos da igreja se submeterem a Pedro. Para eles esta questão está
clara. Eles são “de Pedro” (1Co 1.12).
As duas cartas aos Coríntios mostram que os seus membros conheciam a igreja
primitiva. Eles sabiam que os outros apóstolos eram casados (1Co 9.5), que
Tiago, o irmão do Senhor, tinha posição especial na igreja (1Co 15.7), que
Jesus tinha chamado doze apóstolos (1Co 15.5), que os pregadores do evangelho
deviam viver disso (1Co 9.14), que os apóstolos realizavam milagres (2Co
12.12), que Jesus tinha proibido o divórcio (1Co 7.10). Mas “é impossível
distinguir com exatidão entre o que provinha de Paulo nessa imagem que faziam
de Jesus e o que a tradição da primeira igreja introduziu no seu conceito sobre
Jesus.”
O mais assustador de tudo é que não se trata aqui somente de uma controvérsia
pessoal. Esses opositores estão proclamando uma nova doutrina e uma nova ética.
Eles não vêem problema algum no fato de os homens da igreja se envolverem com
as moças de Corinto (1Co 6.12). No casamento exigem abstinência sexual (1Co
7.1-7) e, por motivos espirituais, chegam até a exigir o divórcio (1Co 7.10-
12). Reivindicam liberdade para participarem de festas aos ídolos (1Co 10.23).
Menosprezam a ceia do Senhor (1Co 11.17-34). Falam muito do Espírito Santo e
seus dons, principalmente o falar em línguas (1Co 12—14). Estão tão convictos
da renovação por meio do Espírito de Deus, que consideram desnecessária a
ressurreição do corpo (1Co 15).
Isso é fanatismo. Por isso chamamos esse pessoal “de Cristo” de fanáticos. Os
estudiosos estão de acordo sobre o fato de que Paulo concentra as suas atenções
acima de tudo nesse grupo.
A oposição frontal desse grupo contra Paulo enfraquece essa opinião. Schlatter
parte do ponto de que se trata aqui de um grupo libertino do judaísmo da
Palestina. Pensa-se aí sobretudo nas posições doutrinárias dos saduceus, que
também não sabiam o que fazer com a ressurreição.
Schmithals tentou demonstrar numa monografia que todos os sinais desse grupo
apontam na direção do gnosticismo.
Nesse caso ele naturalmente precisa se basear em fontes datadas do século VII e
VIII. Por isso pressupõe que havia formas desse gnosticismo já no primeiro
século. Com base no estado atual das pesquisas, precisamos admitir que não
podemos responder com certeza a questão da origem desses fanáticos. Parece que
não se deu atenção suficiente ainda à influência filosófica e religiosa da
Grécia, onde já podemos perceber a valorização excessiva do conhecimento e da
sabedoria e o desprezo pelo corpo e as conseqüências éticas que seguem essa
postura. Do ponto de vista histórico, isso seria mais convincente do que o
embasamento em um sistema gnóstico fechado, que com certeza não existiu naquela
época, pois surgiu exatamente do confronto posterior com a fé cristã.
Por ser cidade portuária, Corinto estava aberta ao mundo. Os seus cidadãos eram
provenientes de todas as camadas sociais, culturas e religiões. Os vícios da
cidade eram proverbiais. Se de fato existiram as 1.000 prostitutas cultuais de
Afrodite é duvidoso. Possivelmente essas eram insinuações maldosas dos seus
vizinhos, como H. Conzelmann mostrou.
Nessa cidade mundana nasce uma igreja cristã no ano de 49 d.C. por meio dos
esforços missionários do apóstolo Paulo. É possível reconstruir os degraus de
seu desenvolvimento com base em Atos dos Apóstolos e nesta 1ª carta aos
Coríntios. De tudo que podemos observar, a história da igreja pode ser dividida
em quatro etapas:
Atos 18.18 nos informa sobre o início da igreja. Logo depois de sua chegada a
Corinto, Paulo encontra o casal Áquila e Priscila, fazedores de tendas por
profissão. Paulo trabalha com eles e com isso ganha o seu sustento. No seu
tempo livre ele visita a sinagoga judaica e participa na exposição das
Escrituras Sagradas.
Depois que os seus colaboradores Timóteo e Silas chegam a Corinto, ele pode se
dedicar totalmente à pregação da palavra, pois eles presumivelmente trouxeram
ofertas em dinheiro da Macedônia. Paulo professa a Jesus como o Messias de
Israel e isso leva à ruptura com a sinagoga. Paulo muda, juntamente com os seus
seguidores, para a casa vizinha de um homem temente a Deus, Justo. Ali então se
reúne o grupo base da igreja: famílias judaicas que estão crendo em Jesus
Cristo. Em colaboração com eles Paulo evangeliza por um ano e meio. Tanto
judeus quanto gregos se convertem.
Depois do novo procônsul Gálio ter iniciado o seu mandato, é feita uma acusação
contra Paulo e seus amigos, incitada pelos líderes da sinagoga. A acusação não
tem conseqüências. Em vez disso, há tumultos anti-semitas. A igreja cristã não
é atacada. Talvez é por isso que eles não conseguiam entender por que Paulo
tinha sofrido tanta oposição em outros lugares.
Mais ou menos no outono de 51 d.C. Paulo deixa Corinto e viaja para Antioquia
na Síria, passando pela Macedônia e Ásia Menor. Áquila e Priscila o acompanham
na primeira parte da viagem; depois ficam em Éfeso. Lá eles encontram um judeu
de Alexandria chamado Apolo (At 18.23-28). Esse conhecia Jesus e estava
empolgado com ele. Teólogo e orador muito capacitado, difundia o ensino sobre
Jesus. Entretanto, Áquila e Priscila percebem logo que ele ainda não entendeu
tudo corretamente. Ele tampouco foi batizado sob o nome de Jesus, pois só
conhece o batismo de João.
O casal então instrui Apolo na fé em Jesus Cristo e o envia com uma carta de
recomendação para a Acaia e também para Corinto. Lá se evidenciam a sua
capacidade teológica e o seu dom de orador. Ele apóia os membros da jovem
igreja nas suas disputas com os judeus ao demonstrar pelas Escrituras Sagradas
que Jesus Cristo é o Messias prometido. Podemos supor — mas não concluir
definitivamente —, com base na 1ª carta aos Coríntios (1.1), que por meio disso
Apolo conquistou para a fé em Jesus o chefe da sinagoga Sóstenes, que tinha
sido espancado diante do tribunal de Gálio (At 18.17). De qualquer forma, o
ministério de Apolo teve um impacto tão grande na igreja de Corinto que um
grupo se chamava “os de Apolo” (1Co 1.12; 3.4). Mesmo assim, Paulo não viu em
Apolo um concorrente, mas um obreiro com dons e chamado totalmente diferentes
(1Co 3.5-15), mesmo que tenha sido dolorido para ele ouvir que, em comparação
com Apolo, o seu dom de falar era pouco reconhecido pela igreja de Corinto (2Co
10.10; 11.6).
São cristãos-judeus que sabem que Jesus colocou Simão como rocha (hebraico
kepha) para a sua igreja. Eles crêem que a unidade da igreja estará garantida
se todos os grupos da igreja se submeterem a Pedro. Para eles esta questão está
clara. Eles são “de Pedro” (1Co 1.12).
As duas cartas aos Coríntios mostram que os seus membros conheciam a igreja
primitiva. Eles sabiam que os outros apóstolos eram casados (1Co 9.5), que
Tiago, o irmão do Senhor, tinha posição especial na igreja (1Co 15.7), que
Jesus tinha chamado doze apóstolos (1Co 15.5), que os pregadores do evangelho
deviam viver disso (1Co 9.14), que os apóstolos realizavam milagres (2Co
12.12), que Jesus tinha proibido o divórcio (1Co 7.10). Mas “é impossível
distinguir com exatidão entre o que provinha de Paulo nessa imagem que faziam
de Jesus e o que a tradição da primeira igreja introduziu no seu conceito sobre
Jesus.”
Os cristãos que tinham vindo do oriente desconheciam Paulo e o seu ministério.
Os outros apóstolos tinham aberto o caminho para a sua vinda a Jesus. Eles não
tinham intenção alguma de introduzir a lei mosaica na igreja de Corinto. Já na
sua igreja-mãe se falava de “nova aliança”, da “nova igreja”, da “fé”. Mas
esses primeiros apóstolos tinham se tornado “super-apóstolos” (2Co 11.5;
12.11). Era necessário que as igrejas fundadas por Paulo se submetessem a esses
apóstolos, especialmente a Pedro, não era?
Podia até parecer que era um grupo que queria comprometer a igreja com Cristo.
Mas a sua autodenominação “os de Cristo” não soa como um convite para que todos
voltem à sua base comum. A expressão é exclusivista e soa como grito de guerra.
De si mesmo dizem que pertencem a Cristo, aos outros negam essa realidade.
O mais assustador de tudo é que não se trata aqui somente de uma controvérsia
pessoal. Esses opositores estão proclamando uma nova doutrina e uma nova ética.
Eles não vêem problema algum no fato de os homens da igreja se envolverem com
as moças de Corinto (1Co 6.12). No casamento exigem abstinência sexual (1Co
7.1-7) e, por motivos espirituais, chegam até a exigir o divórcio (1Co 7.10-
12). Reivindicam liberdade para participarem de festas aos ídolos (1Co 10.23).
Menosprezam a ceia do Senhor (1Co 11.17-34). Falam muito do Espírito Santo e
seus dons, principalmente o falar em línguas (1Co 12—14). Estão tão convictos
da renovação por meio do Espírito de Deus, que consideram desnecessária a
ressurreição do corpo (1Co 15).
Isso é fanatismo. Por isso chamamos esse pessoal “de Cristo” de fanáticos. Os
estudiosos estão de acordo sobre o fato de que Paulo concentra as suas atenções
acima de tudo nesse grupo.
Schmithals tentou demonstrar numa monografia que todos os sinais desse grupo
apontam na direção do gnosticismo.
Nesse caso ele naturalmente precisa se basear em fontes datadas do século VII e
VIII. Por isso pressupõe que havia formas desse gnosticismo já no primeiro
século. Com base no estado atual das pesquisas, precisamos admitir que não
podemos responder com certeza a questão da origem desses fanáticos. Parece que
não se deu atenção suficiente ainda à influência filosófica e religiosa da
Grécia, onde já podemos perceber a valorização excessiva do conhecimento e da
sabedoria e o desprezo pelo corpo e as conseqüências éticas que seguem essa
postura. Do ponto de vista histórico, isso seria mais convincente do que o
embasamento em um sistema gnóstico fechado, que com certeza não existiu naquela
época, pois surgiu exatamente do confronto posterior com a fé cristã.
Sabemos com segurança que pouco tempo após Paulo haver escrito esta carta
(embora não fosse a primeira que escrevera aos coríntios, como vemos em 1Co
5.9), ele mesmo partiu para Corinto via Macedônia (1Co 16.5). Embora tenha sido
este o plano que ele estabeleceu finalmente, já havia previamente falado em ir
primeiro a Corínto e, então, à Macedônia, voltando após a Corinto. Faz
referência a esta intenção declarada antes (2Co 1.15-16) porque parece que
alguns ficaram ofendidos por causa da modificação do plano, e tentaram, fazendo
referências aviltantes, solapar sua influência entre os coríntios. Poderíamos
ainda supor que o portador que levou a primeira carta aos coríntios regressou
logo a Éfeso, com informações sérias a respeito do estado daquela igreja. Em
conseqüência disso, Paulo, em vez de visitar Corinto imediatamente escreveu às
pressas uma carta (que não chegou até nós), na qual repreendeu os coríntios um
pouco severamente, carta que enviou a Corinto pelas mãos de Tito. (Veja-se 2Co
2.3-4,9 e 1Co 7.5-16). Isto deixou o apóstolo muito preocupado e muito ansioso
por saber, logo que possível, como os coríntios tinham reagido a tal
reprovação. Tito tinha de voltar pela Macedônia; e Paulo deixou Éfeso e foi
primeiro a Trôade e, depois, à Macedônia, no intuito de encontrar Tito o mais
breve possível. Quando o encontrou ficou muitíssimo alegre em saber, por
intermédio dele, que aquela carta severa tivera efeito benéfico, e que os
coríntios haviam reconhecido plenamente o ponto de vista do apóstolo (2Co 2.12-
14). Em consequência disto escreveu a carta que chamamos 2 aos Coríntios e
enviou Tito de volta com a mesma, juntamente com outros dois irmãos (2Co 8.16-
24). Esses entregaram a epístola e também completaram o recolhimento de uma
coleta que tinha sido levantada em Corinto para os crentes pobres em Jerusalém
(2Co 8.11). 2 Coríntios foi portanto escrita da Macedônia e expressou a alegria
de Paulo sobre os resultados alcançados em Corinto. Nela, todavia, o apóstolo
também não hesitou em ministrar-lhes as lições a respeito da “discórdia” sobre
a qual se deteve nos últimos quatro capítulos (1Co 10.1-13.10).