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Fernando Pessoa - No fim da chuva e do vento

Eu hoje, vou contar uma história, a História de como eu perdi a minha sanidade mental
apenas para fazer um trabalho de português.

O objetivo dado era escolher um poema de Fernando Pessoa Ortónimo, e relacionar


esse poema com uma obra de arte, seja pintura, escultura, livro etc..´

Então eu comecei por ler poemas (algo que eu faço com bastante frequência) e pensar
em possíveis obras que encaixem com a ideia do poema.

Só que, após muitas horas e ler um total de 2 poemas e o titulo de um terceiro, nada
me veio á cabeça, eu desisti e usei a belíssima e funcional tática de fechar os olhos, mexer o
rato de cima para baixo. Rezar, e por fim clicar no rato.

Abri os olhos eeee…, fechei o Google sem querer. Então voltei a fazer tudo de novo e
este foi o poema sorteado:
No fim da chuva e do vento
Voltou ao céu que voltou
A lua; e o luar cinzento
De novo, branco, azulou.

Pela imensa constelação


Do céu dobrado e profundo,
Os meus pensamentos vão
Buscando sentir o mundo.

Mas perdeu-se como uma onda


E o sentimento não sonda
O que o pensamento vale.
Que importa? Tantos pensaram
Como penso e pensarei.

Certo, No fim da tristeza e melancolia (chuva), o sujeito poético observa a lua


que surge e procura sentir algo com o seu pensamento, contudo, sentimentos não
são procuráveis através da intelectualização então o sujeito poético, de novo,
perde-se. Por fim, critica a utilidade do pensamento pois este é incapaz de ser original
ou genuíno, sendo que aquilo q ele pensa, pensou e pensará já foi pensado por
Outros.

Interessante, está presente a dor de pensar e a hiperlúcidez e também o fingimento


artístico, a ideia da arte se iniciar nos sentidos e nos sentimentos mas rapidamente ser
transformada pelo pensamento sendo este necessário para criar arte, como a chuva e o
vento e a tristeza no qual se encontra ele e como o céu e a constelação representam o vazio
dentro do próprio interior do sujeito no qual ele procura os sentimentos.

Agora é preciso uma arte que faça algum sentido com o poema. O que não deve ser
difícil porque se o pensamento é limitado, alguém, mesmo que sem querer pensou no mesmo
e transformou isso em arte.

E se Fernando Pessoa era um génio louco, muito provavelmente essa outro artista
também é um génio e também é louco.
Então estamos á procura de um artista génio louco que numa noite estrelada pensa o tipo de
coisas que Fernando Pessoa pensa e transformou isso, de alguma forma, em arte.

E por isso escolhi Vincent Van Gogh e a sua obra “Noite estrelada”.
Esta pintura também apresenta a noite e a lua como cenário estando assim esteticamente
relacionada ao poema.

Contudo, esta é a vista da janela do quarto de Van Gogh no manicómio onde ele
estava internado (este era realmente maluco). E uma das diferenças deste para outros
quadros do pintor, é que ele não podia pintar no quarto, então ele de noite memorizava a
vista e de dia pintava uma mistura entre a realidade observada e a sua mente perturbada, e
por isso estão presentes as espirais no céu e a própria cidade não existe.

Sendo assim, Van Gogh, primeiramente recebia a informação com os sentidos e


posteriormente moldava-a e juntava-a com o seu pensamento.
Este processo está na base de Fernando Pessoa, a ideia de recolher com os sentidos e
torcer e transformar com o pensamento é extremamente comum e fundamental na poesia
pessoana.

Então o poema e o quadro estão relacionados não só por apresentarem os mesmos


elementos (lua, céu) mas no método para serem criados e na mistura do real e do imaginado.

Van Gogh pintou, anos antes, aquilo que se tornou a base da escrita de Fernando
pessoa, e 2 loucos que pensaram a mesma coisa criaram coisas tão diferentes, 2 tipos de arte
tão distintos.

Por isso mesmo que tudo já tenha sido pensado ou escrito não vale a pena desistir de
algo só porque alguém talvez tenha pensado o mesmo, porque mesmo que o pensamento
inicial tenha sido o mesmo o desenvolvimento desse pensamento é sempre distinto e o
resultado final é sempre único.
Biblioteca de babel. Esta é uma biblioteca, onde está escrito tudo o que já foi escrito, está a
ser escrito e vai ser escrito.
Basicamente são um número infinito de hexágonos, cada hexágono tem 4 estantes,
cada estante tem 5 prateleiras, cada prateleira tem 32 livros e cada livro tem 410 páginas de
caracteres em ordem aleatória, assim, teoricamente, todas as ordens possíveis com os
caracteres da língua portuguesa estão escritos aqui.
Até o próprio poema que eu “escolhi” de Fernando Pessoa está na sua integridade na
página 257, do volume 14, da prateleira 4, da estante 3, do hexágono de código:….

Isto faz sentido com o poema porque o próprio sujeito poético afirma que o poder de
criação do pensamento é limitado e não importa o que ele pense, esse pensamento está
escrito.

Mas o objetivo era relacionar a uma arte, e, ontem, eu deparei-me com esta noticia de
uma fonte confiável

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