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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

PATRIMÔNIO I

Danilo Marques Lobo Godinho Delgado

ORIGENS E DESDOBRAMENTOS DA CONFERÊNCIA DE VENEZA PARA O


PATRIMÔNIO

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ORIGENS E DESDOBRAMENTOS DA CONFERÊNCIA DE VENEZA PARA O
PATRIMÔNIO

Artigo cientifico para a disciplina de Patrimônio I

Professor Rodrigo Christofoletti

Juiz de Fora – Minas Gerais

2018

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ORIGENS E DESDOBRAMENTOS DA CONFERÊNCIA DE VENEZA PARA O
PATRIMÔNIO

Danilo Marques Lobo Godinho Delgado

RESUMO

O texto estudado, do livro “As Questões do Patrimônio”, de Françoise Choay, trata da


Conferência de Veneza, ocorrida em 1964, na cidade italiana homônima, e aborda as
resoluções da carta redigida desde a conferência, em paralelo com a visão da própria autora
sobre o patrimônio. Nesse artigo, busca-se relacionar as considerações feitas na carta de
1964 com o panorama geral do patrimônio ao longo do tempo, ou seja, mostrar de que forma
as visões patrimonialistas tiveram a necessidade de formar a Conferência de Veneza e como
a conferência afetou essas visões. A partir disso, tem-se como objetivo elucidar o porquê de
as resoluções da carta serem da forma que são, em especial no que toca a questão dos
monumentos históricos, buscando entender como a conferência reflete a visão acerca do
patrimônio construída na época de sua resolução.

Palavras chave: Patrimônio. Conferência. Monumento.

ABSTRACT

The studied text, taken out from Françoise Choay’s book “As Questões do Patrimônio”,
deals with the resolutions constructed in the Venice Charter, of 1964, which took part in the
homonymous italian town, relating it to the author view itself about Patrimony. In this
paper, the goal is to connect the definitions made in the 1964 charter text with the general
context of the ways to think the patrimony built over time. In other words, to show how the
points of view about the patrimonial debates made necessary the generation of the Venice
Charter and how the charter affected this points of view. From that beyond, it seeks out to
clarify the reason for the resolutions of the charter being the way they are, especially in
what approaches the debate about the historical monuments, trying, from that point, to
unterstand how the charter reflects the eye about the Patrimony created at the time of its
writing.

Key-words: Patrimony. Charter. Monument

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1. Introdução

O termo patrimônio foi cunhado no século XVIII. Os estudos e questionamentos sobre o que
hoje se intitula como patrimônio começaram, de fato, no século XI, no que consta a respeito
da sociedade ocidental. A Carta de Veneza, de 1964, elaborada a partir da Conferência de
Veneza, foi fundamental tanto para a consolidação e formalização de diversas práticas
patrimonialistas quanto para a formação de diversas outras, buscando a melhor e maior
preservação do patrimônio edificado em escala global.

A carta de Veneza é um documento formal que aborda diversas questões referentes à


conservação e ao restauro dos monumentos históricos de todo o mundo. Suas resoluções
buscavam, em especial, transmitir e consolidar a visão eurocêntrica da época acerca do
patrimônio, tratando-o especialmente a partir dos monumentos, ou seja, do patrimônio
material edificado.

Aqui serão tratadas as questões referentes à Conferência de Veneza sobre a conservação dos
monumentos e lugares de Veneza, sendo, isso, suas características, tanto no que toca a
resolução da carta, a conferência em si e o que indicavam os artigos em relação às formas de
se pensar o patrimônio à época, além das relações desses paradigmas com diversas formas
de se abordar o patrimônio ao longo do tempo, antes e depois da resolução da carta.

Esse artigo tem como objetivo principal mostrar, brevemente, do porquê de o mundo ter
feito existir a Conferência de Veneza, em 1964, e para onde a Conferência de Veneza levou
o mundo ao abordar o patrimônio humano.

2. A CONFERÊNCIA

A Conferência de Veneza culminou, por fim, na carta homônima que buscava elucidar
diversos aspectos referentes à preservação e conservação do patrimônio, em especial dos
monumentos históricos, termo que fora consolidado na Conferência. A carta pode ser tratada

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como uma continuação da Carta de Atenas, de 1931, e foi redigida para suprir necessidades
europeias de formalizar novas visões acerca do patrimônio que se fortaleciam desde a
década de 1950, com a introdução de novas perspectivas sobre o patrimônio e os
monumentos edificados.

Pontos chave da conferência são observados nos posicionamentos aderidos diante,


especialmente, da questão do restauro, da preservação e da significação dos monumentos.
Quanto ao primeiro assunto, a carta é clara ao afirmar que se deve priorizar a preservação
intacta dos monumentos em relação ao restauro, tendendo a convergir com o
posicionamento de John Ruskin, além de defender que as partes restauradas de um
monumento devem ser explicitadas como tal, para que o restauro não tenha como fim
falsificar a memória histórica do patrimônio uma vez que, além de tudo, os monumentos são
documentos e fontes históricas.

No artigo 7º, ademais, é determinado que um monumento é inseparável de seu ambiente e de


seu meio sendo, portanto, proibida a sua deslocação, com exceção a casos específicos de
necessidade para a salvaguarda do monumento ou que visem suprir grandes demandas da
comunidade nacional ou internacional acerca do monumento.

Por fim, é ressaltado o novo caráter do termo monumento histórico consolidado pela
conferência, uma vez que, pioneiramente, edifícios que construíram sua carga histórica ao
longo do tempo passaram a ser, também, monumentos históricos, independentemente de sua
grandiosidade estética. Percebe-se, com isso, uma nova visão adotada pelos agentes
patrimoniais em relação ao peso do testemunho histórico de um edifício para a sua
qualificação como monumento histórico.

3. A CARTA DE VENEZA E O PATRIMÔNIO

Uma vez explicitados os principais pontos definidos pela Conferência de Veneza, é


importante que se relembre o forte caráter eurocêntrico de suas afirmações. Isso pode ser
percebido, inicialmente, pela nacionalidade dos membros da conferência: dentre todos,
apenas dois não eram oriundos de países europeus, sendo representantes de Peru e México, e
seguiam, apesar disso, os posicionamentos adotados pelos patrimonialistas espanhóis. Além

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disso, a visão de patrimônio como monumento edificado, que se perpetuou por séculos até a
criação do conceito de patrimônio imaterial, é explicita nas determinações da conferência,
por exemplo ao se observar que o termo “monumento” é inúmeras vezes mais presente na
carta do que a palavra “patrimônio”.

Outro ponto a ser observado, ainda sobre o teor eurocêntrico da resolução, refere-se ao
artigo 7º, no qual é definido que não se pode deslocar um monumento de seu ambiente ou
meio. Em contrapartida, diversas práticas afrontosas a essa postura são observadas em
culturas orientais sem ferir, de forma alguma, a carga histórica e a memória do monumento.
Um exemplo disso pode ser percebido em sociedades budistas, onde templos são destruídos
e reconstruídos em locais diferentes por demandas espirituais da comunidade. Dessa forma,
pode-se perceber como a resolução da conferência prejudica a memória social acerca do
monumento ao invés de preserva-la.

Ademais, ao ler as resoluções da Carta, pode-se perceber a relação de suas ideias com
posicionamentos acerca do patrimônio provenientes de diversas épocas da existência
humana. As primitivas noções de patrimônio, seis séculos antes da criação do termo,
defendidas pelo Abade Suger (1081-1151), são de certa forma perpetuadas até 1964 na
Conferência de Veneza, com a gigantesca importância dada aos monumentos e a sua relação
com a comunidade em ambos os casos. Além disso, pequenos traços de noções hoje comuns
e altamente debatidas entre os patrimonialistas tinham seus primeiros traços esboçados em
cartas de outras décadas, como as resoluções da Conferência de Veneza.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o item acima, o trabalho aqui realizado é concluído. Observando toda a visão do
patrimonialismo, é tido como fundamental o papel da Conferência de Veneza para a
consolidação da importância da preservação do patrimônio edificado e da carga histórica
deixada por cada monumento, atrelando tudo isso ao caráter documental dos monumentos
históricos e de sua importância para o estudo das ações humanas ao longo do tempo. A
Conferência de Veneza teve papel inigualável ao explicitar a demanda por novas reuniões de
pensamentos acerca do patrimônio e serviu como porta de entrada para a realização de
inúmeras conferências posteriores e, assim, para a resolução de novas cartas patrimoniais
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essenciais para a preservação do patrimônio humano como um todo. A Carta de Veneza de
1964 tem resoluções que hoje se provam como inevitavelmente falhas e obsoletas, mas, sem
ela, provavelmente as cartas atualizadas dos dias de hoje não existiriam. Cabe agora refletir
e debater as possibilidades criadas graças ao pioneirismo da Carta de Veneza e buscar
assegurar, cada vez mais, a preservação das culturas, das práticas e dos monumentos
culturais e históricos de toda a humanidade.

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BIBLIOGRAFIA:

CHOAY, Françoise. As Questões do Patrimônio . Lisboa: Edições 70, 2009. 235 p.

CARTA de Veneza. Disponível em:


<http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Carta%20de%20Veneza
%201964.pdf>. Acesso em: 04 jul. 2018

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