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Não tenhas nada nas mãos

Não tenhas nada nas mãos


Nem uma memória na alma,

Que quando te puserem


Nas mãos o óbolo último,

Ao abrirem-te as mãos
Nada te cairá.

Que trono te querem dar


Que Átropos to não tire?

Que louros que não fanem


Nos arbítrios de Minos?

Que horas que te não tornem


Da estatura da sombra

Que serás quando fores


Na noite e ao fim da estrada.

Colhe as flores mas larga-as,


Das mãos mal as olhaste.

Senta-te ao sol. Abdica


E sê rei de ti próprio.

Ricardo Reis

1. Mostre como, no primeiro dístico, se reflete o estoicismo do sujeito poético.

Segundo o sujeito poético temos de viver desapegados e abdicar de todos os bens materiais,
lembranças e tudo o que nos possa fazer refém do passado, só assim seremos realmente felizes e
livres. Aqui reflete-se o estoicismo pois, os estoicistas renunciam aos prazeres, não se apegam
demasiado ao momento presente, sendo esta a receita para a “felicidade”. Procuram sossego
através da renúncia e indiferença, aceitando voluntariamente um destino involuntário.

2. Explicite a relação estabelecida entre os dois dísticos seguintes e o primeiro.

Estes dois dísticos relacionam-se com o primeiro pois defendem a mesma ideia. Não devemos viver
apegamos a nada, temos de ser meros espectadores da vida, e assim “Nas mãos o óbolo último, / Ao
abrirem-te as mãos / Nada te cairá.”, isto é, ao vivermos sem estar apegados a nada, nunca iremos
sofrer.

3. Justifique o uso da interrogação nos dísticos 4 e 5 e interprete o seu sentido.


A utilização da interrogação reforça ainda mais o poder de interpretação do interlocutor. Através
destas, o sujeito poético demonstra que nada é eterno, e por isso devemos viver desprendidos de
todos os bens e de tudo aquilo que nos faça sofrer, como as paixões e pessoas.

4. Interprete o sentido do conselho “abdica / E sê o rei de ti próprio.” (vv. 17-18).

Estes versos pretendem demonstrar que devemos abdicar de tudo aquilo que temos e nao nos
prender a nada. Um rei, contrariamente ao ser humano, não é livre, vive com preocupações e
responsabilidades, logo este verso pretende incentivar as pessoas a serem os seus próprios reis,
tomarem escolhas por si próprios, para a sua própria felicidade. Não podemos viver com medo,
devemos aceitar o destino e só assim alcançamos a felicidade.

5. Transcreva das estrofes 2 e 3 uma oração coordenada explicativa.

6. Classifique a oração “Nem uma memória na alma,” (v. 2).

Oração coordenada copulativa

7. Indique o modo em que se encontrem as formas verbais “Colhe” (v.15), “Senta-te” (v. 17) e
“Abdica” (v. 17).

8. Indique a função sintática desempenhada pelos constituintes “Que serás” (v.13) e “rei de ti
próprio” (v. 18).

A sabedoria consiste em gozar o presente (Carpe Diem) através de um exercício da razão.

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