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Anilire Pslcol6gks (1979). II. âA16-418

Absentismo: conceito, métodos de análise

JOSE MIGUEZ *

uLa réponse ?Ia i


question pratique devrait nous reflectindo de uma forma mais ou menos clara
amener B la reponse A la question thtorique., as condições políticas envolventes. Enquanto
(Moscovrcr, 1970)
antes do 25 de Abril de 1974 uma ausência mo-
I -CONCEITO DE ABSENTISMO tivada por uma ida ao médico com o filho po-
dia ser ou não considerada como uma justifica-
Se no uso corrente o termo absentismo pos- ção razoável conforme a organização onde essa
sui um conteúdo semântico perfeitamente claro, situação se inserisse, hoje, com as mudanças
«hábito que têm certos trabalhadores de se au- que se produziram ao nível dos direitos dos tra-
sentarem ao trabalho sem uma razão válida, balhadores, a sua aceitação já não se encontra
(Moore, 1947), o mesmo não acontece, quer dependente das normas/valores internos da or-
com as situações concretas a que é referido, ganização, pois está consignada, como um di-
quer com a definição operacional utilizada na reito, na lei do trabalho.
sua pesquisa. Desta forma, as ausêncías do tipo A são con-
sideradas como legítimas e justificadas pelas
Definição operacional
definições de necessidade que lhes estão asso-
De uma forma geral as ausências ao trabalho ciadas, podendo as suas determinantes ser ex-
têm sido divididas em dois grandes grupos temas il organização (ex.: obrigações cívicas,
(Chadwick-Jones, 1973): doença de um familiar...) ou internas (ex.: aci-
A. Ausências inevitáveis. dente de trabalho, greves, doenças de etiologia
B. Ausências evitáveis/voluntárias. Ausên- profissional). Temos assim que a definição da
cias que envolvem o exercício de uma inevitabilidade das ausências para além da mu-
opção por parte de quem se ausenta. tabilidade no tempo -segundo uma análise
diacrónica-, está a cada momento sujeita a
O modo como as ausências são classificadas
diferentes interpretações -análise sincrónica.
está, não só, directamente ligado aos direitos e
As ausências de tipo B reflectem as posições
deveres dos indivíduos em questão como está,
tomadas em relação às de tipo A (por exclu-
também, relacionado com as práticas, hábitos e
são). Mas mesmo nestas, em que existe perfeito
expectâncias que predominam nas organizações,
acordo nos critérios de distinção entre elas, o
* T. M. é docente de Psicossociologia das organiza- modo como as ausências são consideradas pode
ções no ISPA. Este artigo insere-se num trabalho variar no tempo; «em períodos de inactividade
mais vasto de construção de um modelo psicossocio-
Ibgico de análise do absentismo no meio industrial. certos comportamentos de tipo ubsentista po-

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dem ser aceites pela gestão, o que não aconte- num estudo feito em 1976 (Miner, 1977) pelo
cerá noutras situações» (Chadwick-Jones, 1973). BNA (Bureau National Affaires. USA) um dos
Encontramo-nos assim perante um conceito, problemas encontrados na obtenção dos dados
absentismo, com um conteúdo semântico per- que possibilitassem uma análise comparativa
feitamente definido mas que é constantemente entre as diversas empresas estudadas, foi o da
contaminado .pela sua definição operacional. definição dos tipos de ausências que deveriam
originando as mais diversas utilizações. ser incluídos no cáiculo dos ratios de absen-
Se a demarcação entre A e B (e o critério tismo. O inquérito passado às empresas em es-
nesse sentido evocado) está dependente das tudo indicou que 55% das que calculavam re-
diversas instâncias em presença -individuais, gularmente índices de absentismo não incluíam
organizacionais e institucionais (fig. 1)- o nos seus cálculos as ausências de menos de um
mesmo acontece com a produção desses com- dia.
portamentos que são também uma resultante Outra das questões levantadas nesta pesquisa
da interacção entre as referidas instâncias. foi a de definir se as ausências de longa dura-
ção deveriam entrar nos cálculos. Também aqui
/ se encontram dificuldades, pois enquanto numas
empresas só entravam para os cálculos os pri-
meiros dias (normalmente até 5). noutras entra-
va-se com o total dos dias de ausência. E de re-
ferir que as variações obtidas eram enormes:
3,15 % contando até 4 dias e 6,31% quando
contados todos.
O BNA, tendo em conta os objectivos do seu
programa de pesquisas -medir os tipos de au-
sência que tenham um efeito mais adverso so-
bre a produtividade-, resolveu que só se con-
tariam os quatro primeiros dias (visto que uma
ausência longa poderia ser superada, em termos
1 dos efeitos na produção, por acções que entre-
A - Nivel institucional B - Nível organizaciona1 tanto poderiam ser desenvolvidas) de qualquer
C - Nível individual ausência que não tivesse sido avisada com ante-
Fig. I -Sistema de produção dos comportamentos cedência, quer ela fosse justificada ou com pa-
nas organizações.
gamentos. Não eram incluídas as ausências para
Estamos assim em presença de um sistema além de quatro dias, as férias, os feriados, as
complexo, no qual os seus subsistemas não só ausências inferiores a um dia e o abandono do
inter-agem na produção dos comportamentos emprego caso se tivesse avisado com ante-
como também na sua análise/classificação, o cedência.
que origina a produção de diferentes atitudes e Neste caso, é evidente que, apesar de se uti-
acções em relação ao indivíduo que se ausenta. lizar o mesmo termo, absentismo, não se está
a analisar o comportamento conceptualizado
Il -INSTRUMENTOS DE ANALISE por Moore (1947) mas sim outro definido en-
E SUA UTILIZAÇÃO quanto influente negativamente e de uma forma
A não existência de uma definição operacio- incisiva no processo de produção.
na1 do conceito não possibilita a sistematização Assim, têm sido utilizados diversos índices,
dos instrumentos utilizados. Assim, vejamos: dos quais apresentaremos os mais empregues.

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índice global de ausências: exprime o tempo índice de segunda-feira: este índice baseia-
perdido pelas ausências em percentagem do tem- -se no princípio de que as ausências por doença
po total de trabalho previsto. Este valor não ocorrem de uma forma aleatória em todos os
só é falseado pelo factor doença (longa du- dias da semana, donde a variação na curva de
ração) como também pelos métodos de registo ausências semanais teria como origem as ausên-
de ausências -não serem retirados da lista cias voluntárias. Calcula-se este índice dimi-
do pessoal os trabalhadores que abandonaram nuindo as ausências ocorridas na segunda-feira
a empresa sem aviso prévio. Por outro lado, o das de sexta-feira. Apesar de reduz3 a i*
nível interno de emprego vai influenciar o valor fluência do factor doença, e eliminar completa-
da variável que daí descola-número de dias mente o efeito das longas ausências (pois vão-se
de trabalho previsto. repercutir igualmente em todos os dias da se-
mana), os resultados obtidos são controversos
índice de ausências não compreendendo bai- (Behrend, 1959; Chadwick-Jones, 1971).
xas: exprime o tempo perdido por ausência (de-
duzidas as que sejam por doença com certifi- índice do pior dia: Argyle e outros (1958)
cado), em percentagem do tempo total de tra- utilizaram este método como alternativa ao ín-
balho previsto. Pretende-se assim eliminar o dice de segunda-feira. I3 obtido pela diferença
desvio provocado pelas situações de doença de entre o dia com mais ausências e o com menos
modo a haver uma maior aproximação as au- ausências. Estudos efectuados por Chadwick-
sências de tipo voluntário. Coloca-se aqui o -Jones colocaram dúvidas acerca da validade
problema de se saber até que ponto a doença, deste índice como indicador de ausências volun-
mesmo com certificado, não pode servir como tárias.
encobridora do absentismo (da demarcação en- índice de ausência de curta duração: este ín-
tre um estado normal e o patológico). No en- dice é obtido pelo número de ausências inferio-
tanto sabe-se (Fkhrend, 1959), que uma situa- res a dois dias durante um período determinado
ção de trabalho intolerável pode provocar doen- de tempo.
ças de tipo psicossomático e que o absentismo
funciona por vezes como factor preventivo des- Definindo-se todos como estudos sobre
sas situações. absentismo (veja-se títulos dos artigos), uns au-
tores utilizam fndices globais de ausência (Kil-
índice de frequência: com o objectivo de bridge, 1961), outros diferenciam os tipos de au-
reduzir o desvio devido às ausências por doen- sência -justificadas. injustificadas e doença -
ça, a Escola de Altos Estudos Comerciais de (Smith, 1977; Cooper, 1978), outros os índices
Harvard. baseando-se no princípio de que as de frequência (Hackman, 1971), outros o índice
ausências voluntárias são normalmente de curta de segunda-feira (Behrend, 1959), outros o 5n-
duração, propôs este índice para o cálculo do dice do pior dia (Argyle, 1958). outros utilizam
absentismo. O índice de frequência indica o nú- no mesmo estudo vários índices (Behrend,
mero de acontecimentos/ausência durante um 1976), outros calculam índices pelas presenças
período de tempo (semana, mês. ano). (Lathan, 1975) e outros nem sequer especificam
Walker e Guest (1952) com o objectivo de nos seus artigos qual o tipo de índice utilizado
isolarem os diversos tipos de ausências, intro- (Fried, 1972).l
duziram uma escala de notações em relação às
* Por questões de espaço não se fazem referências
situações de ausência: um atraso tem um ponto, desenvolvidas dos artigos citados. Os leitores interes-
uma ausência de um ou dois dias tem dois pon- sados em informações mais detalhadas poderão soli-
citá-las para Grupo de Estudos de Psicolocia Social
tbs e uma ausência sem motivo terá três pontos. (G.E.P.S.) do I.S.P.A.

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81P
t
tados obtidos, isto é, que os factos acumulados an added knowledge, but also to put forward
possam ser integrados de forma a possibilita- possibilities to position the absentist behaviour
rem não só a sua descrição como também a sua within a broader refference field in order to
help overpass the present situaiion.
explicação.*

3. Como último ponto de reflexão, e hipó- REFERÊNCIAS


tese para estudos posteriores, queremos referir ARGYLE, M.; GARDNER, G. e CIOFFI, F. (1958)
-usupervisory methods related to produtivity,
que os comportamentos ditos de absentismo absenteeism and labour turnovem, Human Rela-
tions, 11:23-40.
não poderão/deverão ser considerados enquanto BEHREND, H. (1959) -d'absentéisme dans l'indus-
factos isolados, pois a sua desinserção do qua- tries, Rev. Znt. Trav., 13:117-153.
BEHREND, H. e POCOCK, S. (1976)-«L'absen-
dro mais global que é o do TRABALHO -en- téisme individuel: resultats d'une étude de six ans
quanto processo de socialização - impossibi- dans une entrepnse,, Rev. Int. Trav., 114, 3:
:345-363.
lita a sua compreensão; isto é, não existem dois CHADWICK-JONES, J. K.; BROWN, C. A.; NI-
tipos diversos de comportamento, o trabalho CHOLSON, N. e SHEPPARD, C. (1971)-
«Absence measures: their reliability and stability
por um lado e o não trabalho por outro, mas in a industrial settinp, Personnel Psychology, 24:
sim um continuum trabalho-não trabalho que :463-470.
CHADWICK-JONES, J. K.; BROWN, C.A. e NI-
vai reflectindo os vários processos de sociali- CHOLSON, N. (1973)-&-type and B-type
zação existentes (veja-se o papel social do tra- absence; empincal trends for woman employees,,
Occupational Psychology, 39, 1:31-35.
balho nas diversas culturas - Mead, 1970). COOPER, R. e PAYNE, R. (1965)-&ge and
Assim, tendo como hipótese este coníinuum, absences; a longitudinal study in three firmss,
Qccupational Psychology, 39, 1:31-35.
desenvolveremos o nosso projecto de constru- FRIED, J.; WEITMAN, M. e DAVIS. M.K.(1972)
ção de um modelo psicossociológico de análise -«Man-machine interaction and absenteeism,
Journal Applied Psychology, 56, 5:428-429.
do absentismo. GAUDET, F. I. (1963) -aSo1ving the problems of
employee absences, American Management Asso-
ciation, New York, (citado por Lyons, 1972).
SUMMARY HACKMAN, J. R. e LAWLER 111, E. E. (1971) -
«Employee reactions to job characteristicss, Jour-
Based, for his analysis, on severa1 published na1 Applied Psychology, 55, 3:259-286.
works, the author of this study approaches the KILBRIDGE, M. D. (l%l)-aTurnover, absence and
abseMeeism concept, its operating definition and transfer rates as indicators of employee dissacti-
facion with repetitive worb, Industrial and Labor
evaluating instrumnts. Relations Review, 15:21-32.
The goal of this work is not only to explain LATHAN, G . P. e PURSELL, E. D. (1975) -«Mea-
the difficultylimpossibilityin achieving an ex- suring absenteeism from the opposite side of the
coins, Journal Applied Psychology, 60, 3:369-371.
tended analysis of absenteeism so as to enable LYONS, 'iF. -
. (1972) «Turnover and absenteeism:
a review of relatianship and shared correlatess,
* «Dans les sciences humaines, force est de cons- Personnel Psychology, 25:271-281.
tater arborescence de fai s et de théories, donc une MEAD, M. (1970) - O homem e a mulher, ed. Me-
absence de progrés réels pour autant que les faits ne ndiano, Lisboa.
sont pas integres dans un univers conceptuel homo- MINER, M. G. (1977) -«Absence and turnover -a
gène et aucune théone n'est vraiment infirmée ou new source of data, Monihly Labor Review, Outu-
rendue obsolète par une autre. Les concepts utilisés bro, 24-31.
sont empruntés A un auteur ou ? uniautre; les modé- MOORE, W. E. (1947) -Industrial relations and
les théoriques sont juxtaposés dans une confrontation social order, MacMillan Co., New York (citado
oh n'ont place ni le dialogue réel, ni la contestation por Behrend, 1959).
fondée et féconde. Comment s'attendre dès lors ti ce MOSCOVICI, J. (1970) - L a psychologie social,
science ou movement: sa spécificité et ses tensions,
que les faits étabiis empinquement soient autre chose in preface A JODELET, D. e outros, La pychoio-
qu'une accumulation hétéroclite puisque les théones gie social une discipiine en mouvement. Mouion,
dont ils sont censés dépendre, ne procédent pas elles- Haye.
-mêmes autrement. Les expénences ou les études em- SMITH, F. J. (1977) -«Work attitudes as predictors
pinques ne sont pas vraiment confrontables, les resul- of attendance on a specific day», Journal Applied
tats contradictoires avancés A propos d'une même phe- Psychology, 62, 1:16-19.
nomène ne conduisent que rarement ti la démarche WALKER, C. R. e GUEST, R. M. (1952) - The man
théonque que permettrait de trancher et transformer on assembly line, Cambridge, Massachusetts, Har-
le champ du savoir.» (Moscovici, 1970.) vard Universiíy Press.

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