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O seu número definitivo (7) só se fixou no início do século XVI e refere-se aos sete
castelos que foram conquistados aos mouros para garantir a demarcação do território
nacional.
Por outro lado, o título do poema é uma perífrase de Portugal: «O [país] dos castelos»,
isto é, Portugal.
Por outro lado, os cabelos são caracterizados como «românticos» (v. 3), sonhadores,
toldam o rosto, adensando o mistério que envolve a figura, enquanto os olhos são «gregos».
Estas metáforas sugerem as raízes culturais que constituem a identidade europeia: o Norte (a
referência aos “românticos cabelos”) e o Sul (a referência aos “olhos gregos”).
A mão direita sustenta o rosto, que corresponde a Portugal. Ora, ao apresentar Portugal
como o rosto da Europa, Pessoa atribui-lhe um estatuto de superioridade relativamente às
restantes nações europeias. Esse rosto fita fixamente o Ocidente com um “olhar esfíngico e
fatal” (v. 10), ou seja, um olhar enigmático que antecipa um renascimento de que apenas ele
será capaz. O adjetivo “esfíngico” (notam-se no mapa europeu algumas semelhanças com a
esfinge egípcia, monstro fabuloso com rosto humano e corpo de leão, que devorava quem não
conseguisse decifrar os enigmas que ela propunha) sugere a atitude expectante e
contemplativa, enigmática e misteriosa, com que a Europa fita o Ocidente, que representa a
sua vocação histórica, o “futuro” que o continente já desvendou no passado e que se
apresenta, agora, como nova promessa de renascimento. Por outro lado, o adjetivo “fatal”
aponta para a missão predestinada que cabe a Portugal de construção do futuro. Em suma, o
olhar é indagador do desconhecido que a Europa contempla e fatal, pois a procura desse
desconhecido é motivada pelo Fatum, pelo Destino.
Portugal parece, pois, ter sido tocado pelo destino, reunindo todas as condições para
“comandar” a Europa na reconquista de um passado cultural perdido (paradoxo do verso 10).
Enquanto rosto da Europa, «fita» (atente-se na sua repetição por três vezes, como se de uma
verdadeira obsessão europeia e portuguesa se tratasse) o mar ocidental, seu destino, seu
futuro. Pessoa considera, assim, que a missão de Portugal é ligar o Oriente ao Ocidente (“De
Oriente a Ocidente jaz, fitando”), quer geográfica quer espiritualmente, sendo que reúne
características indicados para essa missão: a sua situação geográfica privilegiada e a sua
vocação marítima, já com provas dadas.
Neste poema, à semelhança do que Camões fez nas estâncias 6 a 21 do canto III de Os
Lusíadas, Pessoa procura apresenta Portugal, inserindo-o como cabeça da Europa, uma figura
feminina deitada e fitando “com olhar esfíngico e fatal”, em posição de expectativa, o
Ocidente, sua vocação histórica.