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de Sjögren
SUMÁRIO
1. Introdução...........................................................................................................3
2. Epidemiologia / Etiopatogenia.............................................................................4
3. Fisiopatologia......................................................................................................4
4. Quadro clínico.....................................................................................................5
Xeroftalmia.................................................................................................................... 5
Xerostomia..................................................................................................................... 6
Manifestações extra-glandulares................................................................................. 8
5. Exames complementares...................................................................................13
Achados laboratoriais................................................................................................. 13
Função salivar.............................................................................................................. 13
Função lacrimal e ceratoconjuntivite......................................................................... 13
Biópsia de glândula salivar......................................................................................... 14
6. Classificação.....................................................................................................16
Síndrome de Sjögren primária.................................................................................... 17
Síndrome de Sjögren secundária............................................................................... 17
7. Tratamento........................................................................................................19
Medidas gerais............................................................................................................ 19
Sintomas da síndrome sicca ..................................................................................... 19
Extraglandulares.......................................................................................................... 20
Referências ........................................................................................................................22
1. INTRODUÇÃO
A síndrome de Sjögren é uma doença autoimune sistêmica, de caráter crônico,
caracterizada pela infiltração linfocítica das glândulas exócrinas, com destaque para
as glândulas lacrimais e salivares. O mecanismo de destruição glandular progressivo
determina a limitação na produção de secreções como saliva e lágrimas e surgem
os principais sintomas da doença: sensação de olhos secos e boca seca.
A Síndrome de Sjögren foi descoberta pelo oftalmologista sueco Henrik Sjögren,
que observou e descreveu o quadro clínico de pacientes com diminuição nas secre-
ções glandulares salivares e lacrimais. Em 1933, sua tese de doutorado ficou conhe-
cida por descrever 19 pacientes mulheres que possuíam alterações glandulares com
manifestações como olhos secos, além de artrite, correlacionando com as manifes-
tações sistêmicas da doença.
As colagenoses, conhecidas como “doenças do colágeno”, são doenças crônicas,
autoimunes e inflamatórias que lesionam o tecido conjuntivo de vários órgãos e
sistemas corporais. Dentre os órgãos comumente acometidos destacam-se a pele,
pulmões, vasos sanguíneos e sistema linfático. As manifestações são variadas e de-
pendem do local acometido. As principais síndromes no grupo das colagenoses são:
Lúpus, Esclerodermia, Síndrome de Sjögren, Polimiosite e Dermatomiosite, Síndrome
do Anticorpo Antifosfolípide e Doença Mista do Tecido Conjuntivo.
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2. EPIDEMIOLOGIA / ETIOPATOGENIA
A doença acomete, majoritariamente, indivíduos com idade entre 40 e 60 anos,
mas pode ocorrer em outras faixas etárias. Tem maior incidência em mulheres, nu-
ma proporção de 9 mulheres para cada homem.
Há correlação de fatores genéticos como HLA-DR3 e HLA-DR8 fatores ambientais
como infecção viral por Epstein-Barr e HTLV I e II. Por tanto, deve ser investigada ex-
posição a doenças infecciosas bem como realizar o devido rastreio com testes diag-
nósticos na suspeita de correlação infecciosa.
3. FISIOPATOLOGIA
Os eventos patogênicos devido à apoptose de células epiteliais glandulares que
liberam autoantígenos reativos ao organismo. Estes promovem recrutamento linfoci-
tário com predominância de células TCD-4, mas também há ação de células TCD8+
envolvidas, consequentemente ocorre estímulo as células B para produção de auto-
anticorpos que reagem as células do organismo.
Ou seja, ocorre uma sequência de eventos patogênicos, sendo eles: infiltração
linfocitária + deposição de imunocomplexos. O principal anticorpo na doença é o
ANTI-Ro.
Com a infiltração progressiva de células mononucleares ocorre fibrose tecidual e
posterior obstrução ductal que justificam os sintomas característicos da doença que
é a síndrome seca. Além disso, a deposição de imunocomplexos é responsável pelo
desenvolvimento de alterações vasculares ocasionando vasculites e, possivelmente,
glomerulonefrite.
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FLUXOGRAMA – FISIOPATOLOGIA DA SÍNDROME DE SJÖGREN
APOPTOSE
DE CÉLULA
EPITELIAL
GLANDULAR
Auto-antígenos
Recrutamento linfocitário
Principal: Anti-Ro
4. QUADRO CLÍNICO
De maneira geral a doença tem progressão lenta e cumulativa, com curso benig-
no. Falaremos inicialmente dos principais sintomas como xeroftalmia e xerostomia e
das manifestações extraglandulares.
Xeroftalmia
A queixa de “olho seco” deve ser investigada. Este, em geral, é um sintoma que
persiste por mais de três meses, com sensação de areia nos olhos. A investigação
continua com o questionamento sobre o uso de colírios lubrificantes mais do que 3
vezes ao dia. Além disso, é importante avaliar ulceração de córnea, por ser um sinto-
ma frequente pelo manuseio constante dos olhos na tentativa de retirar os “grãos de
areia”. Além desses sintomas o paciente pode se queixar de fotofobia e vermelhidão
ocular.
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Figura 1: Representa a xeroftalmia com evidente vermelhidão ocular. Os sintomas associados são
sensação de areia nos olhos, fotofobia e diminuição da lubrificação.
Fonte: Afanasiev Andrii
Xerostomia
Xerostomia é uma condição associada à baixa produção de saliva pelas glândulas
salivares. Na investigação dessa condição, é importante avaliar se o paciente tem
episódios recorrentes de parotidite, cáries frequentes e se há necessidade de ingerir
líquido para auxiliar na deglutição. Se as respostas forem positivas, sua suspeita clí-
nica fica mais evidente. Podem coexistir a halitose e mudança no sabor dos alimen-
tos, além de fissuras e ulcerações na mucosa bucal em casos mais avançados.
A parotidite é evidenciada no exame físico durante a inspeção pelo aumento da
glândula parótida. A queixa de disfagia deve ser investigada a fundo! Ela pode estar
relacionada à redução da produção de saliva, infiltração da mucosa esofagiana e por
alteração de motilidade do trato. Esse é um sintoma que interfere na qualidade de
vida do paciente, visto que pode limitar a ingesta de alimentos, por exemplo.
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Figura 2: Língua seca, aspecto de rachadura, pela diminuição da lubrificação bucal.
Fonte: Galyna Myroniuk
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Manifestações extra-glandulares
Artralgia/artrite
A dor articular, bem como sintomas inflamatórios são comumente encontrados
em pacientes com síndrome de Sjögren, sendo que a maioria deles terá episódios de
artrite erosiva no decorrer da doença. Nesses casos, a realização do diagnóstico di-
ferencial é imprescindível uma vez que outras doenças podem estar associadas com
quadros similares, como a artrite reumatoide, que pode ser a causa básica da artral-
gia ou pode se apresentar concomitantemente com a síndrome de Sjögren.
Fenômeno de Raynaud
Esse fenômeno é caracterizado pelo vasoespasmo, principalmente em extremi-
dades como em dedos das mãos e dos pés e está fortemente relacionada ao frio. O
retorno da circulação sanguínea ocorre após aquecimento e reversão da vasocons-
tricção. Os sinais evidentes são palidez, cianose e rubor na extremidade afetada.
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Púrpura
Sinal característico da vasculite por deposição de imunocomplexos, em geral as-
sociado a outras manifestações cutâneas como ulcerações e urticária recorrente.
Trato respiratório
As glândulas mucosas do trato respiratório também são acometidas na síndrome
de Sjögren, porém, costuma ser em menor proporção que as demais. Contudo, a di-
minuição da produção de secreções cursa com ressecamento do trato respiratório e
tem repercussões irritativas que também impactam na qualidade de vida. Destaca-se
a tosse seca, rouquidão e bronquite recorrente, além de sintomas do trato superior,
como rinite s sinusite. O envolvimento pulmonar é caracterizado por fibrose inters-
ticial (doença intersticial linfocítica) que ocasiona sensação de cansaço, principal-
mente ao esforço físico, além de creptos à ausculta respiratória.
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Trato gastrointestinal
O envolvimento glandular no trato gastrointestinal é evidenciado por alteração
em órgãos como pâncreas, estômago e intestino, respectivamente com diminuição
da secreção pancreática, acloridria e alterações na motilidade intestinal. Há forte
correlação com cirrose biliar primária, pois cerca de 75% dos pacientes com essa
patologia tem complicações com a síndrome de Sjögren, sendo evidentes, além dos
sintomas glandulares, hepatomegalia, aumento de fosfatase alcalina e anticorpos
antimitocondriais.
Nefrite intersticial
A nefrite intersticial linfocitária é o mais comum padrão de acometimento renal e
ocorre por infiltração no intersticial renal, podendo gerar fibrose intersticial. Em con-
sonância, há atrofia tubular renal podendo gerar efeitos graves como acidose tubular
renal distal e síndrome de Fanconi.
Neuropatia periférica
Em geral, surge como neuropatia periférica sensitivo-motora em decorrência da
vasculite.
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Linfoma
A doença linfoproliferativa é altamente recorrente em pacientes com síndrome de
Sjögren, essencialmente em estágios mais avançados da doença. Em torno de 10%
dos pacientes com síndrome de Sjögren desenvolvem alterações linfoproliferativas
semelhantes a linfoma, mas com difícil diagnóstico e comprovação histológica.
Os locais mais comumente afetados são glândulas salivares e lacrimais, pois con-
sequentemente são os locais de maior agressão glandular, além de linfonodos cervi-
cais, principalmente pela drenagem local.
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MAPA MENTAL – QUADRO CLÍNICO
Parotidite Vermelhidão
Cáries recorrentes Olho seco
Boca seca Fotofobia
Halitose Sensação de
areia nos olhos
Xerostomia Xeroftalmia Uso constante
Fissuras em mucosa
de lubrificantes
Dor articular
Sensitivo motora Neuropatia periférica Artralgia/artrite
Artrite erosiva
Linfoma não Fenômeno
Linfoma Associada à artrite
Hodgkin de células B de Raynaud
reumatoide
Cianose
Atrofia tubular renal
Trato gastrointestinal Trato respiratório
Rubor
Linfocitária
Cirrose biliar primária Ressecamento Extremidades
Infiltração intersticial
↓ Motilidade Tosse seca Úlcerações
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5. EXAMES COMPLEMENTARES
Achados laboratoriais
Os principais achados nos exames laboratoriais são as alterações no hemograma
(anemia, leucopenia e plaquetopenia), hipergamaglobulinemia policlonal e diminui-
ção de C4. São achados bastante inespecíficos, pois podem estar presentes em di-
versas patologias com baixa especificidade.
Veja abaixo os marcadores e a probabilidade de ocorrência:
Função salivar
Para avaliação de função salivar a cintilografia é o principal exame de escolha,
uma opção é a sialografia, mas esta em menor frequência. A cintilografia é um exa-
me pouco sensível, mas bastante específico e avalia, em especial, as glândulas sali-
vares maiores. Enquanto isso, a sialografia das parótidas é um exame realizado com
a injeção de contraste nos ductos salivares maiores para avaliação anatômica, con-
tudo o risco de infecção é alto.
O fluxo salivar também é opção de estudo e é realizado pela expectoração do pa-
ciente da saliva acumulada por quinze minutos, posteriormente há medição desse
volume e valores abaixo de 1,5 ml são considerados para exame positivo.
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Figura 6: Teste de Schirmer, com a inserção de uma fita marcada na pálpebra inferior do paciente.
Fonte: Autoria própria
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MAPA MENTAL – EXAMES COMPLEMENTARES
+ utilizado Cintilografia
C4 baixo
Avaliação anatômica Uso de contraste Cialografia
Plaquetopenia
< 1,5ml + Fluxo salivar
Linfopenia
Função salivar
Anemia
Hipergamaglobulinemia
Função lacrimal Teste de Schirmer Laboratório
policlonal
Anti-Ro (SSA)
<5mm sugestivo 60 % a 80%
Ceratoconjuntivite Biópsia de
seca glândula salivar Anti-Ro (SSB)
30 % a 60%
Rosa bengala Padrão ouro
FAN – 70% A 80%
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6. CLASSIFICAÇÃO
A síndrome de Sjögren pode ser dividida em primária ou secundária.
A síndrome de Sjögren primária corresponde a 40% dos casos e ocorre quan-
do o acometimento é isolado, ou seja, sem correlação com outras síndromes lo-
cais ou sistêmicas. Essa forma é a que possui maior potencial de acometimento
extraglandular.
Já a síndrome de Sjögren secundária corresponde a 60% dos casos e tem cor-
relação com doença reumatológica (autoimune), sendo as mais comuns a artrite
reumatoide e o lúpus eritematoso sistêmico. Essas doenças, em geral, já possuem
evolução a aproximadamente 10 anos e, posteriormente, surge a síndrome de
Sjögren. Outras doenças como esclerose sistêmica, polimiosite e dermatomiosite
também podem estar relacionadas.
Os critérios classificatórios levam em consideração: sintomas oculares, sintomas
orais, exames objetivos oculares, exames objetivos das glândulas salivares, histopa-
tologia e autoanticorpos.
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Síndrome de Sjögren Primária
Na classificação de 2002 era preciso determinar a presença de quatro dos seis cri-
térios, com critérios V e/ou VI, ausência de outras doenças autoimunes sistêmicas.
No entanto, tal classificação sofreu modificação em 2016/2017.
Atualmente utiliza-se para síndrome de Sjögren primária a classificação de
2016/2017, com os respectivos itens e pontuações. Veja na tabela a seguir.
Anti-Ro positivo 3
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MAPA MENTAL – CLASSIFICAÇÃO
Mais comuns:
LES e artrite reumatoide
Corresponde a
40% dos casos
Classificação de
Primária CLASSIFICAÇÃO
2016/2017
Classificação de 2002
Exames Objetivos
Autoanticorpos (VI)
Oculares (III)
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7. TRATAMENTO
Medidas gerais
Evitar ambientes secos; cessar tabagismo; ingerir líquidos em abundância; evitar
consumo de alimentos doces e utilizar pastilhas sem açúcar se tiver necessidade de
utilização. Cuidados com higiene oral com pasta dental fluorada e escova de dente
macia.
É essencial o acompanhamento com odontologista pela maior chance de cáries,
halitose e fissuras orais, além de se indicar uso de pomadas para lubrificar os lábios.
Investigue a fundo a utilização de fármacos que induzem a síndrome Sicca e, sem-
pre que possível, oriente a retirada dos mesmos.
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Extraglandulares
Em caso de manifestações extra-glandulares, há indicação de imunossupressores
e hidroxicloroquina de forma sistemática, por exemplo, na presença de manifesta-
ções renais e pulmonares graves. No caso da presença de vasculite não há indica-
ção de tratamento imunossupressor, visto que é uma manifestação episódica. Para
glomerulonefrite e pneumonite intersticial há indicação de glicocorticoides. Esses
pacientes devem ter acompanhamento periódico da função tireoidiana.
Se o diagnóstico ocorrer ainda em fases iniciais da doença, o potencial do cur-
so da doença evoluir sem alterações significativas ao paciente é grande. Contudo,
pacientes que desenvolvem a forma primária tendem a desenvolver manifestações
mais graves quando comparados aos pacientes com forma secundária. Com a ins-
tituição do tratamento direcionado tanto com medidas de cuidados gerais quanto
com acompanhamento medicamentoso há grandes chances de curso benigno e con-
trole sintomático.
Lágrimas com
Glicocorticoides
metilcelulose
Colírio de
Imunossupressores
ciclosporina 0,05%
Medidas Gerais
Acompanhamento
Cessar tabagismo
odontológico
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MAPA MENTAL – SÍNDROME DE SJÖGREN
Extra- Laboratório
Hidroxicloroquina Parotidite
glandulares Anticorpos Hemograma
Imunossupressores Complemento
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REFERÊNCIAS
Valim V et al. Recommendations for the treatment of Sjögren’s syndrome. Rev Bras
Reumatol. 2015 set.-out.;55(5):446-57.
Carvalho MAP, Bértolo MB, Lanna CCD. Reumatologia - Diagnóstico e Tratamento. 4.
ed. Rio de Janeiro: AC Farmacêutica, 2014.
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