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E O NEUROPSICOPEDAGOGO
UNIDADE III
NEUROPSICOPEDAGOGIA CLÍNICA
Elaboração
Luciana Raposo dos Santos Fernandes
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO
UNIDADE III
NEUROPSICOPEDAGOGIA CLÍNICA............................................................................................................................................... 5
CAPÍTULO 1
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR E INCLUSÃO ........................................................................................................................... 6
CAPÍTULO 2
O PROCESSO DE AVALIAÇÃO NA INCLUSÃO.................................................................................................................. 11
CAPÍTULO 3
ALINHANDO A QUESTÃO DAS FÉRIAS E A ÉTICA PROFISSIONAL.......................................................................... 24
REFERÊNCIAS................................................................................................................................................30
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NEUROPSICOPEDAGOGIA
CLÍNICA
UNIDADE III
Além desse tópico, abordaremos também a ética profissional, item imprescindível para
quem quer se firmar e ser reconhecido no mercado; e as férias do profissional, afinal
como todo trabalhador, ele tem seu direito garantido, embora dependa de estratégias para
alinhar seus dias de folga com os pacientes que atende que, por sua vez, apresentam dois
tipos: os que entendem essa necessidade; e os demais que estabelecem uma dependência
nociva com a terapia.
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CAPÍTULO 1
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR E INCLUSÃO
» fonoaudiologia;
» pedagogia;
» psicologia;
» terapia ocupacional;
» medicina;
» fisioterapia;
» psicomotricidade;
» nutrição;
» educador físico;
» musicoterapia;
Fonte: https://www.labtestingmatters.org/home-page/improving-diagnosis-in-medicine-introduction-overview/.
É importante ressaltar que, para que se obtenham avanços, as atividades devem ocorrer
de preferência no ambiente de aprendizagem estruturado. Por se tratar de atendimentos
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O quadro geral e os avanços em cada uma das intervenções são apresentados aos
membros da equipe multidisciplinar, que têm por hábito fornecer relatórios e pareceres
com certa frequência, trocando informações pertinentes entre si para implementar a
maior eficiência no tratamento. O médico neuropediatra, por exemplo, ao suspeitar
de um diagnóstico, irá seguir seu protocolo. Em paralelo, ele já encaminha o paciente
a uma psicóloga para que ela inicie a observação comportamental; a psicóloga, por
sua vez, pode notar a necessidade de um psicomotricista, pois a criança é não verbal;
a partir daí, o psicomotricista encaminha ao neuropsicopedagogo para que ele avalie
o funcionamento cerebral. E, assim, vai se construindo uma rede multidisciplinar no
atendimento. Quando esse atendimento não é adequado ou é feito com profissionais
não especializados, o quadro não será revertido, e ainda corre-se o risco de haver
uma piora nos aspectos comportamentais, psicológicos e emocionais do atendido.
Dessa forma, todos que compõem a equipe precisam ter especialização e sempre se
manterem atualizados em relação às pesquisas e estudos do meio científico.
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» abordagens inadequadas;
» dificuldades sensoriais;
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4. Tratamento – refere-se a última etapa que, embora tenha como base o diagnóstico,
varia de caso para caso.
Adendo imprescindível
Note que a avaliação multidisciplinar é um processo intenso, dinâmico e, ao mesmo
tempo, complexo, pois envolve muitas pessoas, além do paciente, bem como a natureza
do que está sendo avaliado. Como todo esse trabalho resulta em um grande conjunto de
dados, provenientes de vários contextos clínicos e de diferentes métodos, ele exige uma
apuração refinada de acordo que se pretende avaliar. Consequentemente, se, por um
lado, esse tipo de avaliação demora bastante tempo (a ponto de chegar aos 180 dias);
por outro, como a análise dos dados é interpretada por vários profissionais, cada qual
com seu respectivo prisma, as várias compreensões obtidas potencializam a qualidade
das hipóteses levantadas que, por sua vez, fogem do simples sistema de exclusão na
construção do diagnóstico. Ao término desse processo, o mais sensato seria os membros
da equipe multidisciplinar debatem as hipóteses pertinentes e os resultados obtidos,
para chegar a conclusões mais precisas no intento de fechar o diagnóstico.
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CAPÍTULO 2
O PROCESSO DE AVALIAÇÃO NA INCLUSÃO
A escola que conhecemos teve seu modelo firmado no Ocidente, no século XVI, quando
o ensino começou a expandir-se para um maior número de aprendentes. Para avaliar o
que esse alunado aprendeu, veio junto a avaliação, o exame, a medição do conhecimento,
gerada com o objetivo diferenciar os que aprendiam daqueles que não aprendiam.
Hoje, ainda vivemos esse modelo de função seletiva e, por consequência, excludente da
avaliação. Vista dessa forma, a avaliação tem o objetivo de normatizar quem aprende.
Os que estão acima ou abaixo da média são os diferentes. De novo, a diferença batendo
à porta. Porém, as provas não provam muito! É possível estudar sem aprender.
Na verdade, o ato de estudar não fundamenta a capacidade de aprendizagem. Tanto que
é possível decorar uma matéria, tirar uma excelente nota e não fixar o conhecimento.
Fonte: https://www.readingrockets.org/article/3-big-misconceptions-about-inclusion.
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O esperado para pessoas tanto neurotípicas quanto neuroatípicas é que haja a aprendizagem
e que esta se expanda: plasticidade cerebral! Quanto mais o indivíduo aprende, maior
o número de sinapses de qualidade, maior sua inserção no convívio social e maior o
domínio de habilidades necessárias.
Muitos talvez não queiram isso. Daí as ansiedades, as incertezas, os receios do docente:
“eu posso demonstrar falhas?” Ora, como já dizia Paulo Freire, somos eternos aprendentes:
“Não existem medos na hora de doar seu conhecimento e de ter um retorno sobre como
os alunos compreendem ou não, aquilo que lhes é passado”.
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A sociologia da infância
Ela concebe essa fase da vida como múltipla, pois, em uma mesma sociedade, existem
infâncias diversas. O modo como essas infâncias são produzidas está diretamente ligado
às relações sociais estabelecidas nas relações com o outro. A criança, ao internalizar
as formas de ação estabelecidas socialmente, para se relacionar com os objetos e com
os outros, as toma como suas em uma apropriação (ou leitura), o que transforma seus
processos biológicos, constituindo seu funcionamento interno. Desse modo, a criança
passa a dominar e utilizar os instrumentos e a linguagem de forma mais independente,
tornando-se capaz de regular seu comportamento e ação. Portanto, a participação do
outro no desenvolvimento infantil está diretamente relacionada com a interação e
realização de ações conjuntas com a criança, favorecendo (ou não) seu contato com a
coletividade do meio social.
Em condições concretas da vida, a posição social e o lugar da criança com autismo são,
muitas vezes, atravessados pela impossibilidade de participar de atividades tipicamente
infantis. Os comprometimentos nas áreas de interação social e linguagem fazem com
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que o processo de significação pelo contato com o outro seja marcado por desconforto
no processo interativo. Sendo assim, vários objetivos são alcançados na educação de
crianças com deficiência. Um deles é ensinar comportamentos que as crianças de
desenvolvimento normal aprendem por meio da interação com outras pessoas.
Desse modo, as atividades são escolhidas em razão de sua utilidade para a vida social.
Escovar os dentes, tomar banho, arrumar a cama, escolher roupas de acordo com o clima,
tomar banho, utilizar o banheiro, fazer suas refeições, vestir-se, são apenas algumas
das atividades que a criança precisa aprender ao longo do desenvolvimento. Mas, para
muitas delas, isso tudo pode representar um imenso desafio.
Incluir a criança com déficit no desenvolvimento vai além de colocá-la em uma escola
regular, em uma sala regular. É preciso proporcionar a ela aprendizagens significativas,
investindo em suas potencialidades, o que a torna um ser que aprende, pensa, sente,
participa de um grupo social e se desenvolve com e a partir dele, com singularidade.
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Será por meio do processo de interação entre a criança e seus interlocutores que ocorrerá
a aquisição da linguagem em si, desenvolvendo, desse modo, sua capacidade de simbolizar
o mundo que a cerca para o outro, conferindo sentido aos processos de interação social e
para si, na forma internalizada necessária ao desenvolvimento das funções psicológicas
superiores.
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O educando é uma pessoa que deve ser respeitada em seus limites. Desse modo, a
linguagem adentra todas as áreas de seu desenvolvimento, guiando sua percepção sobre
todas as coisas e o mundo no qual está inserido.
Será por meio da linguagem que o aluno absorverá transformações em seu campo de
atenção, aprendendo a diferenciar um determinado objeto de outros existentes, bem
como desenvolver ferramentas internas para integrar essas informações.
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Inclusão vem do latim includere, que significa fazer parte de ou participar de. Assim, falar
em inclusão escolar é falar do educando que está na escola, participando daquilo que
o sistema educacional oferece e interagindo, contribuindo com seu potencial para os
projetos e programas desenvolvidos nesse espaço. Apesar disso, ainda vivemos um
tempo de mudanças em que os antigos paradigmas estão sendo quebrados e a educação
escolar tenta passar por uma reinterpretação na busca de caminhos para a inclusão.
Avaliação inclusiva
A avaliação tradicional, além de antiquada para o século XXI, não é um método inclusivo,
principalmente porque ela não está associada com a atenção diversificada nem com
a adaptação do currículo às diferenças características e necessidades educativas de
cada aluno. Se a prova do aluno é sobre matemática, por exemplo, o professor deve se
concentrar em avaliar a capacidade matemática dele. Porém, a leitura dos enunciados das
questões pode ser um desafio muito grande para o aluno com necessidades específicas.
Logo, a leitura e a interpretação pode não ser o objetivo final da avaliação, a não ser,
é claro, que seja uma avaliação de interpretação de textos. Portanto, se queremos ter
uma avaliação inclusiva, devemos apresentar ao aluno a menor porção possível de
conteúdo, mas com o máximo de significado para ele. Como? Eliminando todos os
obstáculos em relação às necessidades específicas desse aluno. Observe os exemplos
seguintes:
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Note que, no começo de qualquer aprendizagem, o conteúdo não será bem compreendido.
Portanto, ele precisa ser revisto por várias vezes para não ser esquecido. Se isso não foi
feito antes da avaliação, fica difícil para qualquer aluno, principalmente para os que
apresentam dificuldades. Além disso, também é preciso considerar que a avaliação
é um processo complexo que mexe com a autoestima das pessoas, já que influencia e
altera a percepção da autoimagem delas, o que repercute no decurso da aprendizagem,
ao aumentar tanto a responsabilidade quanto a necessidade de um trabalho afetivo,
o que implica a criação de vínculos, a empatia e a confiança, aspectos que devem ser
aprendidos pelo aluno e que ampliam as chances de êxito na esfera educativa. Portanto,
no caso dos alunos com necessidades especiais, o ideal é aplicar uma avaliação para cada
conteúdo, depois de repeti-lo e exercitá-lo por várias vezes.
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1. identificação do problema;
2. análise do problema;
3. implementação do plano;
4. evolução do problema.
1 Devem ser estruturadas e baseadas nos conhecimentos desenvolvidos pelas modificações de conduta.
2 Devem ser evolutivas e adaptadas às características pessoais dos alunos.
3 Devem ser funcionais e com uma definição explícita de sistemas para a generalização.
4 Devem envolver a família e a comunidade.
5 Devem ser intensivas e precoces.
Fonte: Acervo pessoal.
Na fase final de planejar as estratégias de ensino para alunos com déficit de desenvolvimento,
é fundamental conhecer o processo de aprendizagem sem erros, pois esse método
apresenta maior eficácia que a aprendizagem por tentativa e erro.
1 Assegurar a motivação.
2 Apresentar as tarefas somente quando a criança atende e de forma clara.
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1. O que ensinar?
2. Quando ensinar?
3. Como ensinar?
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Segundo Vygotsky (1984), “nós nos tornamos nós mesmos através dos outros”. O
encontro entre professores e alunos com autismo precisa ser potencializado para que a
relação estabelecida possibilite tanto o desenvolvimento da criança quanto a mudança
no docente. Note que o trabalho pedagógico não é produzido única e exclusivamente
pelo professor que ensina e nem apenas pelo aluno que aprende. O ensinar e o aprender
são produzidos na relação entre os alunos e o professor. Um trabalho se constitui em
relação ao outro.
Essa constituição mútua entre o que ensina e aquele que aprende, ou o investir nas
possibilidades de desenvolvimento, implica uma aposta no fazer pedagógico dos
professores como facilitadores de um processo intencional, sistemático e planejado
que irá ampliar as oportunidades de interação do aluno com o mundo. Portanto, para
que o aprendente saia de seu universo pessoal de existência de forma equilibrada, sem
o egocentrismo característico da infância, é necessária uma instituição que o socialize, o
prepare para conviver em uma sociedade em que o coletivo se sobrepõe ao eu. Assim, a
escola ganha uma dimensão macro na vida do indivíduo, pois será no espaço educacional
que o comportamental, até mais que o cognitivo, será trabalhado. É na escola ainda que
se desenvolve o senso crítico, a observação e o reconhecimento do outro em todas as
suas dimensões.
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emergência; além de explicações sobre atrasos que não serão compensados; entre
outros detalhes que devem ficar claros desde o inicio.
A questão da divulgação dos serviços profissionais deve ser pensada também. Hoje a
rede social cumpre bem esse papel e ajuda o profissional a falar sobre sua área e temas
que aborda. No entanto, o marketing deve ser honesto e ético. Somos profissionais
especializados, com um registro no Conselho, atendemos em tal horário e o endereço é
tal. É assim que se inicia. Nossos primeiros passos ocorrem dessa forma. Por fim, ainda
cabe ao profissional se questionar se o consultório é para satisfazer uma questão de ego
ou para atender a um fluxo de pacientes.
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CAPÍTULO 3
ALINHANDO A QUESTÃO DAS FÉRIAS
E A ÉTICA PROFISSIONAL
Ao falar sobre ética, é interessante iniciar por moral. O que é moral? São costumes e
valores passados de geração a geração. Aprendemos, por exemplo, com nossos pais
a noção do certo e do errado. Questão bem profunda quando começamos a pensar
que esses valores estão ligados a vivências e a construções sociais e antropológicas.
Friedrich Nietzsche ([1887] 2013) em sua obra “Genealogia da moral” traz duas
aplicações para que a moral tenha se originado: a primeira por aquilo que é útil, ou
seja, as ações altruístas que foram louvadas e reputadas boas por aqueles a quem
eram úteis. Entretanto, a origem de tais ações acaba por ser esquecida, adquirindo
ações altruístas através do costume da linguagem, como se as coisas fossem boas em
si mesmas.
Partindo daí, a ética começa a ser construída quando começamos a refletir sobre
esses costumes, crenças, valores e, assim, precisamos encontrar parâmetros para
aplicá-los em nosso cotidiano. Ética é vida. Ela não se estabelece apenas em uma
área, mas em todas as vertentes de nossa atuação como seres humanos que vivem em
sociedade.
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Figura 9. Como todo e qualquer profissional, além de exercer a ética, o terapeuta também tem
direito a férias, e o paciente deve ser conscientizado desse fato.
Fonte: https://lifeandmind.com.au/uses-and-benefits-of-acceptance-and-commitment-therapy/.
3. responsabilidade social;
Note que ler o código é um exercício diário (tanto para recém-formados quanto para
os profissionais graduados há mais tempo), de proteção para profissionais. Ao mesmo
tempo, ele assegura maior proatividade na tomada de determinadas decisões.
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É essencial também criar uma lista com ferramentas e recursos psicológicos, além
de uma rede de amigos que possam oferecer apoio ao atendido, que deve praticar o
autocuidado, a compaixão e nutrir-se durante a ausência do terapeuta, usando técnicas
de relaxamento, sessões de meditação, afirmações positivas, caminhadas ou praticar
exercícios regularmente.
Dependendo do caso, o terapeuta ainda pode pesquisar ou sugerir tanto opções de terapia
em grupo quanto manutenção de um diário do progresso, para discutir na primeira sessão
após as férias. No entanto, se ele perceber que isso não é suficiente para o paciente,
deve indicar outro profissional para atendê-lo, caso seja necessário. Para tanto, cabe ao
terapeuta compartilhar o histórico do atendido e, em seguida, entrar em contato com
ele para informá-lo a quem deve recorrer. É extremamente importante que o paciente
saiba que, embora seu terapeuta esteja em férias, ele continuará sendo bem cuidado.
Note que, quando o paciente sempre espera ansiosamente o dia da terapia, e a ausência
do terapeuta (mesmo que breve) se torna um motivo para que ele entre em pânico ou
lhe cause um grande desconforto, o profissional deve rever alguns conceitos, pois algo
não está indo bem com o atendido, com o próprio terapeuta ou com a terapia em si.
Portanto, tal condição não implica um forte vínculo entre profissional e paciente, pois
quando o processo terapêutico é bem conduzido, ele não deve gerar dificuldades no caso
de alguma interrupção – se o paciente, por exemplo, desenvolve raiva ou agressividade,
certamente ele está mantendo uma relação patológica com o terapeuta que, por sua vez,
é denominada de dependência nociva da terapia. Consequentemente, quando a terapia
é interrompida, o que se espera é que o atendido sinta apenas um leve sentimento de
abandono, o que se explica pelo fato de o terapeuta exercer o papel de uma espécie de
ponte para auxiliá-lo. Nesse contexto, a interrupção é sempre útil para que o paciente
lembre que o terapeuta é um ser humano independente e com vida própria.
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» T., homem de 44 anos, frequenta a terapia há três anos, diz que, nas férias do
terapeuta, sente muita falta dele, como sentiria de um amigo que está longe.
Porém, no caso do profissional, ele reconhece que se trata da única pessoa com
quem troca ideias sem medo de julgamento e que o fez refletir, a partir de novas
perspectivas, sobre a vida.
Até os 23 anos, A. era uma jovem bonita que se dizia livre para fazer as próprias escolhas.
Aparentemente feliz com os planos de casamento que fazia com o noivo, ela acabou
sufocando o moço ao depositar uma grande responsabilidade sobre sua vida nas mãos
dele. Ao perceber que o relacionamento que tinham não era saudável, ele rompeu o
compromisso e A., alegando um profundo sofrimento, começou a se sentir insegura e
carente em relação à opinião de outras pessoas. Para tomar qualquer decisão, ela sempre
precisava de aprovação para se sentir confortável.
Aconselhada por amigos, procurou ajuda terapêutica, mas, ao mesmo tempo, ela se
entusiasmou com a figura do profissional pouco experimente que, ao acolhê-la nas
sessões terapêuticas, a fez se lançar tanto na projeção quanto na transferência com
certo exagero. Embora ele fosse homossexual e tivesse um relacionamento, A. o via
como o homem perfeito, que poderia cercá-la de atenção. Em consequência, além de
frequentar as duas sessões semanais, o adicionou nas redes sociais e todo dia tinha algo
para conversar, em um claro sinal de dependência.
Demorou mais de dois meses, porém o profissional percebeu que a relação com a paciente
extrapolava os parâmetros necessários. Ele começou a se restringir na comunicação com
A., que insistia em se manter próxima a ele. Porém, quando o terapeuta avisou que iria
ficar um mês fora, ela lhe perguntou se ele iria acompanhado. O profissional prontamente
disse que sim e, sem dar maiores explicações, começou a apresentar alternativas para
que ela se cuidasse nesse breve intervalo de tempo. Em resposta, A. começou a chorar
e dizer que ele não se importava com ela. Alterando-se cada vez mais, ela começou a
gritar que não poderia ficar longe dele. Apesar da situação insustentável, com paciência
e profissionalismo, o terapeuta explicou que tinha vida pessoal tanto quanto ela, o que
não foi suficiente, pois a moça se revoltou ainda mais, a ponto de dizer que iria colocar
um fim a própria vida, porque estava cansada de sofrimentos.
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explicou a situação, pedindo que assumisse o caso, porque ainda não podia dar alta nem
deixar A. sem apoio. Quando ela foi informada sobre a decisão que o terapeuta tomou, a
raiva veio à tona e, de forma grosseira, disse que não precisava mais dele nem de ajuda
de ninguém. Diante da recusa, o terapeuta saiu de férias e ela continuou insistindo em
manter o contato pelas redes sociais. Sem obter nenhum retorno, após ser excluída de
todas as redes, A. percebeu que estava sendo ignorada e nunca mais voltou no consultório
dele nem no do profissional indicado.
De certa forma, o que fica evidente nesse caso era que a dependência emocional de A.
havia se desenvolvido ainda na infância dela, devido aos pais que poderiam ter sido
orgulhosos, distantes demais ou tinham um funcionamento emocional disfuncional. Tais
assuntos nunca foram abordados nas sessões terapêuticas, mas, em um ambiente assim,
a criança sempre se esforça ao máximo para ter uma atenção positiva e a aprovação dos
pais, o que raramente acontece. Supondo que essa foi a situação vivida por A., é quase
certo que ela desenvolveu um falso ego e começou a propagar uma suposta liberdade que
nunca foi real, tanto que, ao passar uma pseudoimagem, ela conseguia se relacionar com
pessoas interessantes que, aos poucos, sentiram que apenas estavam sendo sugadas pelas
chantagens, mentiras e exigências da moça, cujo único propósito era ganhar aprovação
e se sentir querida, devido a baixa autoestima. Em consequência, elas se afastavam,
deixando A. mais insegura, com raiva e sentindo mais sozinha.
Aqui é conveniente notar que o dependente emocional tem tendência a não acreditar no
próprio potencial e nas suas ideias, o que transparece no dia a dia. Porém, na escola, na
faculdade, no ambiente familiar ou social e no trabalho, ele pode parecer excessivamente
autocrítico e, ao mesmo tempo, gentil demais com outras pessoas. Mas ele também
costuma ser muito emocional, tanto que reage de maneira desproporcional a situações
que poderiam ser contornadas com tranquilidade pela grande maioria dos indivíduos.
Além disso, frequentemente, ele passa a impressão nítida de que não mais conseguirá
viver caso seus relacionamentos cheguem ao fim, independentemente se são pessoais,
profissionais ou até terapêuticos. O caso de A. exemplifica bem essa situação. Portanto,
quem é dependente emocional ou convive com um deles deve procurar um psicólogo
assim que detectar tal situação, pois, conforme o transtorno evolui, o indivíduo afetado
tende a se tornar bastante agressivo, a ponto de destruir a qualidade de vida de todas
as pessoas ao seu redor e ainda criar outros transtornos.
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REFERÊNCIAS
CAPOVILLA, A. G. S.; CAPOVILLA, F. C. Problemas de leitura e escrita. 3. ed. São Paulo: Memmon, 2003.
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LEITE, M. Estudos sobre a teoria de Piaget. Cadernos CEDES, São Paulo: Cortez, n. 14, 1991.
LENT, R. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais. São Paulo: Atheneu, 2002.
LINDEN, R. Fatores neurotróficos: moléculas de vida para células nervosas. Ciência Hoje 16 (94), 1993.
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REFERÊNCIAS
PAÍN, S. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Trad. Ana Maria Netto
Machado. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
REED, U. C. Neurologia: noções básicas sobre a especialidade. Rio de Janeiro: Wak, 2004.
SÁNCHEZ-CANO, M.; BONALS, J. Avaliação psicopedagógica. Trad. Fátima Murad. Porto Alegre:
Artmed, 2008.
SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. 11 ed. Trad. de Paulo Perdigão.
Vozes: Petrópolis. 2002.
SCHIFFMAN, H. R. Psicofísica. In: H. R. Schiffman. Sensação e percepção. Rio de Janeiro: LTC. 2005.
SKINNER, B. F. Behaviorism and Logical Positivism de Laurence Smith. In ______. Questões recentes
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Figura 2: https://neuropsych4kids.com/about/.
Figura 3: https://specialneedsprojecteec424.weebly.com/dyslexia.html.
Figura 4: https://innerchange.com.au/brain-health-boost-factors/.
Figura 5: https://www.gestaoeducacional.com.br/epistemologia/.
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REFERÊNCIAS
Figura 6: https://shegzsablezs.blogspot.com/2019/11/sigmund-freud-and-unconscious-mental.html.
Figura 7: https://www.labtestingmatters.org/home-page/improving-diagnosis-in-medicine-introduction-
overview/.
Figura 8: https://www.readingrockets.org/article/3-big-misconceptions-about-inclusion.
Figura 9: https://lifeandmind.com.au/uses-and-benefits-of-acceptance-and-commitment-therapy/.
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