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A Volição em Espectro

O livre-arbítrio é um conceito complexo que tem sido discutido ao longo da história por
várias perspectivas filosóficas e teológicas. A neurociência, por exemplo, explora o
livre-arbítrio sob uma ótica materialista, sugerindo que as decisões humanas são
determinadas por processos cerebrais e fatores biológicos, como neurotransmissores e
genes. Segundo essa visão, embora os indivíduos possam sentir que têm liberdade de
escolha, suas ações são, em última análise, determinadas por processos neurobiológicos.

O tomismo, baseado nos ensinamentos de São Tomás de Aquino, reconhece o livre-arbítrio,


mas o enquadra dentro de um quadro teológico mais amplo que inclui a graça divina e a
razão humana. De acordo com o tomismo, embora os seres humanos tenham a capacidade
de fazer escolhas, sua liberdade está sujeita à influência da graça divina e à conformidade
com a lei natural.

O molinismo, desenvolvido pelo jesuíta Luis de Molina, propõe que Deus possui um
conhecimento médio, que lhe permite conhecer não apenas o que as pessoas escolherão
fazer em diferentes circunstâncias, mas também o que elas teriam escolhido fazer em
circunstâncias hipotéticas diferentes. Isso permite reconciliar a presciência divina com o
livre-arbítrio humano.

O arminianismo, influenciado pelas ideias de Jacobus Arminius, enfatiza a liberdade de


escolha humana e a possibilidade de resistir à graça divina. De acordo com essa visão,
embora Deus ofereça sua graça a todos, cabe aos indivíduos decidir se a aceitam ou
rejeitam.

Por outro lado, o calvinismo, baseado nos ensinamentos de João Calvino, defende a
doutrina da predestinação, argumentando que Deus predestinou desde antes da fundação
do mundo quem seria salvo e quem seria condenado. Nessa perspectiva, o livre-arbítrio
humano é visto como limitado pela vontade soberana de Deus.

O neocalvinismo, derivado das ideias de Abraham Kuyper, enfatiza a soberania de Deus


sobre todas as esferas da vida humana, incluindo a liberdade de escolha. Segundo essa
visão, embora Deus seja soberano, ele delegou autoridade e responsabilidade aos seres
humanos para agirem livremente dentro dos limites por ele estabelecidos.

O hipercalvinismo, por sua vez, radicaliza a doutrina da predestinação, negando a


responsabilidade humana e enfatizando a completa soberania de Deus sobre todas as
ações humanas. Nessa perspectiva extrema, o livre-arbítrio é considerado uma ilusão, já
que todas as escolhas humanas são vistas como determinadas pela vontade divina.

Por fim, o pelagianismo, originado nas ideias de Pelágio, nega a doutrina do pecado original
e defende a capacidade inata do ser humano de escolher o bem sem a necessidade da
graça divina. Para os pelagianos, o livre-arbítrio humano é absoluto e não está sujeito à
influência da graça divina ou à predestinação.

Em resumo, as diferentes visões sobre o livre-arbítrio refletem uma variedade de crenças


teológicas, filosóficas e científicas, cada uma abordando a questão da liberdade humana de
maneiras distintas e oferecendo diferentes explicações para a relação entre a vontade
humana e a vontade divina.

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