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ENGENHEIRO COELHO
2020
JOÃO FERNANDO OLIVEIRA BARBOZA
ENGENHEIRO COELHO
2020
Barboza, João
Cristianismo e paganismo: uma análise da obra de j. R.
R. Tolkien a partir da tipologia de h. Richard Niebuhr em
Cristo e cultura / Barboza João. - Engenheiro Coelho:
UNASP-EC, 2020.
23 ff.
____________________________________________
Dr. Allan Macedo de Novaes
Orientador
RESUMO
Um debate que há muito tem sido feito sobre JRR Tolkien é a relação existente entre
o cristianismo e o paganismo em sua obra. Dessa maneira, o objetivo desse estudo é
usar a metodologia proposta por H. Richard Niebuhr em seu livro Cristo e Cultura,
criando tipologi2as através das quais se possa entender melhor a abordagem de
especialistas em Tolkien sobre quão cristã são suas obras. Três tipologias foram
criadas: Interpretação Parcialmente Cristã; Aplicação Cristã de Interpretação; e
Interpretação Unicamente Cristã. A conclusão desse artigo é inclinada a considerar a
segunda tipologia mais adequada para compreender a relação entre cristianismo e
paganismo na obra de Tolkien por respeitar o contexto do leitor e a não limitação de
uma possível aplicação.
ABSTRACT
A debate that has long been made about JRR Tolkien is the relationship between
Christianity and paganism on his work. Thus, the objective of this study is to use the
methodology proposed by H. Richard Niebuhr in his book Christ and Culture, creating
typologies through which one can better understand the approach of Tolkien experts
on how Christian his works are. Three typologies were created: Partially Christian
Interpretation; Christian Interpretation Application; and Uniquely Christian
Interpretation. The conclusion of this article is inclined to consider the second most
appropriate typology for understanding the relationship between Christianity and
paganism in Tolkien's work, as it respects the reader's context and does not limit its
possible application.
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 8
2. INTERPRETAÇÃO PARCIALMENTE CRISTÃ ............................................... 11
3. APLICAÇÃO CRISTÃ DE INTERPRETAÇÃO ................................................ 14
4. INTERPRETAÇÃO UNICAMENTE CRISTÃ ................................................... 17
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 19
6. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 21
9
1. INTRODUÇÃO
1 O tradutor do livro “Sobre Histórias de Fadas”, escrito por Tolkien traduziu o termo Faërie para Belo
Reino, pois a sonoridade remete a palavra fair (“belo”, em inglês).O Belo Reino, de acordo com Tolkien
é: “uma terra perigosa, e nela existem armadilhas para os incautos e calabouços para os demasiado
audazes.” (TOLKIEN, 2010, p. 9)
10
Os mais preponderantes são Ronald Hutton (2011), Catherine Madsen (1988), Tom
Shippey (2000), Jane Chance (2001) e Brian Rosebury (2003)
O segundo grupo reúne críticos que compreendem que o clássico pode ser
usado com uma aplicação cristã (é necessário enfatizar a diferença entre
interpretação e aplicação nesse grupo). Entre eles estão: Claudi A. Testi (2013),
Stephen Morillo (2011), Elizabeth A. Whittigham (2008) e Ralph C Wood (2008).
O terceiro grupo reúne autores como Joseph Pearce (1998), Peter J. Kreeft
(2005), Bradley Birzer (2002) e Nils Ivar Agøy (2011), que tratam a obra de Tolkien
sendo essencialmente cristã, onde o autor tinha como objetivo falar de sua religião,
mesmo usando símbolos pagãos.
Da mesma maneira que a questão cristianismo e cultura não era uma discussão
nova quando Niebuhr (1956) resolveu pesquisá-la, a discussão entre um Tolkien
pagão ou cristão tem início na publicação de sua obra. As palavras de Niebuhr sobre
o debate se aplicam também ao tema da presente pesquisa:
2 The debate is as confused as it is many-sided. When it seems that the issue has been clearly defined
as lying between the exponents of a Christian civilization and the non-Christian defenders of a wholly
secularized society, new perplexities arise as devoted believers seem to make common cause with
secularists, calling, for instance, for the elimination of religion from public education, or for the Christian
support of apparently anti-Christian political movements. (NIEBUHR, 1956, p. 1)
11
que os três grupos têm abordagens diferentes que contém pontos positivos e
negativos sobre o assunto abordado.
O critério para a escolha dos autores foi baseado em serem fontes primárias
sobre o assunto, ou mesmo serem citados em diversos trabalhos como referências.
O primeiro passo para fazer uma sistematização de elementos de estado da
arte com os parâmetros apresentados em Niebuhr a partir de Novaes (2019) é
encontrar um problema duradouro, uma questão que atravessa eras e autores, mas
que dificilmente é resolvida.
A questão que Niebuhr trabalha é entre Cristo e Cultura, a deste artigo, é o
cristianismo e o paganismo em Tolkien. Diversos autores admitem a presença de
símbolos pagãos que se identificam com uma era pré-cristã, enquanto outros
assumem o oposto e dizem que todos os símbolos são referências cristãs.
Essa interpretação varia de acordo com os pressupostos do pesquisador e,
por esse motivo, alguns pesquisadores como Hutton (2011) admite que existem partes
da história que são cristãs, mas outras que são essencialmente pagãs. Por outro lado,
autores como Pearce (1998) [?] olham para todos os símbolos pagãos como
referência direta ou indireta de elementos Cristãos.
Após a definição do problema duradouro, o segundo passo é definir um corpus
de estudo. Essa definição baseou-se nas análises feitas a partir dos livros Silmarillion
e Senhor dos Anéis. Esse artigo não trabalhará com toda a obra de Tolkien,
principalmente por ela não ser abordada em sua totalidade pela maioria dos autores
analisados.
A partir disso, foi levado em consideração a instrução dada por Tolkien no
prefácio da segunda edição em português sobre o Senhor dos Anéis não ser uma
alegoria e ao mesmo tempo não limitar a capacidade de aplicação da história que os
leitores possam fazer (2001). Essa posição acarreta uma discussão sobre qual foi a
inspiração de Tolkien para tais símbolos.
A terceira razão são as similaridades entre alguns pontos das duas obras com
o cristianismo, Kreeft (2005) coloca a figura de Frodo sendo alguém que carrega o
peso do mal para destruí-lo, assim sendo uma referência de Cristo, ou mesmo a
Aiundalë, o cântico da criação que está no início do Silmarillion (2015), sendo uma
referência a gênese bíblica .
A restrição da análise do problema duradouro aos livros citados não significa
que outras obras que façam parte do Legendarium não possam entrar na análise
12
como suporte. Isso foi feito por autores como Jane Chance (2001) a trazer a obra Lief
by Niegle como sendo uma alegoria cristã e mostrando como seria diferente a escrita
de Tolkien se ele quisesse fazer do Silmarillion ou do Senhor dos Anéis uma alegoria.
Por uma questão de complexidade e de foco, o terceiro e quarto passos
descritos por Novaes (2019) não serão feitos. Essa etapa consiste na criação de
critérios descritivos avaliativos para a composição de cada tipo ideal e a
caracterização desses elementos no corpus. Os elementos binários são derivados do
conceito chave (nessa pesquisa é o problema Cristianismo e paganismo) e que
derivam da leitura prévia do corpus (NOVAES, 2019, p. 138).
A quinta etapa é a relação do corpus com os tipos ideais. Essa relação será
feita a partir da posição que o autor toma em seus escritos, se ele leva em conta ou
não influências externa ao escritor da obra, se os símbolos são realmente fiéis a
símbolos cristãos ou existe alguma outra questão envolvida.
Assim, para viabilizar o teste da hipótese, foram analisados materiais de cunho
bibliográfico nesse artigo e, assim, realizou-se uma pesquisa com objetivo descritivo
e abordagem qualitativa.
existe uma religião natural em SdA que se constrói dentro do universo da Terra-Média
e, inclusive, fez parte do desenvolvimento religioso pessoal dela.
Shippey (2000), assim como Madsen (1988), é cético quanto a presença de
qualquer simbologia cristã na narrativa de Tolkien. O autor assume algumas
similaridades entre alguns pontos do mito de Tolkien e da literatura bíblica, mas foca
muito mais nas diferenças.
Um exemplo que Shippey (2000) usa é sobre a identidade dos Valar. Em um
aspecto de semelhança, os Valar representariam claramente os anjos, pois tem uma
responsabilidade de cuidar da terra e dos seres que habitam nela (essa realidade se
apresenta de maneira mais consistente no Silmarillion). Mas o autor aponta a
capacidade de criação desses seres superiores. Eles, com seus cânticos, criaram
Arda (o planeta Terra).
Entretanto, a limitação dos Valar não é em relação aos seus poderes e sim a
uma ordem divina. Eru não permite que criem vida, mas apenas que a protejam.
Mesmo com essa ordem, Aulë, o Valar ferreiro, cria os Anões antes do despertar dos
Elfos. O deus mítico descobre e, por misericórdia, coloca os Anões para dormir até o
momento certo e perdoa Aulë pelo seu ato de desobediência.
Para Shippey (2000) esse é um exemplo onde as diferenças entre os símbolos
bíblicos e os símbolos do mito se fazem importantes. A partir desse conceito, o autor
afirma que o SdA não é nem cristão e nem religioso, pois não há nenhuma
institucionalização ou organização formal.
Todavia, o autor diz que seria difícil Tolkien se afastar de todos os modelos
simbólicos de sua vida e, portanto, de maneira inconsciente, os colocaria no conto.
Mas essas similaridades não significam que o autor queria usá-las como um meio de
referenciar sua religião ou sua crença.
Dessa maneira, os autores Hutton (2011), Rosebury (2003), Madsen (1988) e
Shippey (2000) admitem que exista uma religião, ou pelo menos um transcendente no
universo da Terra-Média. Para Hutton (2011) e Rosebury (2003) uma parte de toda
construção da literatura de Tolkien pode ser chamada de cristã ou contém elementos
claramente cristãos, mas não a obra por completo. “[…] minha caracterização dos três
elementos encontrados na mitologia pessoal de Tolkien: a cristã, a pagã, e a do Belo
Reino”3 (HUTTON, 2011, p. 91, tradução do autor)
3 “[…] my characterization of the three elements found in Tolkien’s personal mythology: the Christian,
the pagan, and the faerie.” (HUTTON, 2011, p. 91)
15
Madsen (1988) e Shippey (2000) assumem uma posição mais voltada para um
universo tolkieniano completamente distante da realidade humana ou cristã. Para
eles, a criação da Terra-Média foi um processo criativo e complexo, onde Tolkien se
distanciou de qualquer fato que pudesse acarretar um significado diferente e externo
ao que compõe o cenário de SdA. Portanto, se Tolkien usasse símbolos cristãos,
estaria prejudicando seu trabalho por usar signos carregados de significados comuns.
Chance (2001) assume uma postura diferente dos autores anteriores. Ela inicia
sua argumentação sobre o tema usando o artigo que Tolkien escreveu intitulado Os
monstros e Seus Críticos (1997). Ela analisa a obra de Tolkien da mesma maneira
que Tolkien analisou a lenda de Beowulf e chega a mesma conclusão de que SdA cria
e sustenta seu próprio universo, mas a presença de elementos cristãos é igual a de
elementos pagãos.
Para Chance (2001) Tolkien escreveu seu épico com a estrutura de Beowulf
em mente e, dessa maneira, criou paralelos entre questões pagãs e Cristãs. A
simbologia do mal é um exemplo disso, pois no início da história, Frodo enfrenta a si
mesmo, sendo o monstro e o herói. No segundo livro Saruman assume a posição de
monstro correspondendo às expectativas cristãs e germânicas de mal.
A autora consegue mapear e trabalhar com diversos símbolos e suas
representações dentro de um aspecto cultural no SdA, mas quando se trata do
Silmarillium ela não pode fazer o mesmo pela falta da figura de um rei, um senhor e
um herói central que remetesse ao medievalismo inglês.
A partir da posição dos autores estudados, percebe-se que seria prejudicial
para a compreensão da história de Tolkien assumir uma posição que os personagens
e os símbolos são alegorias do cristianismo. Hutton (2001) diz que não é sobre ignorar
qualquer influência cristã, mas a obra de Tolkien não pode ser comparada com As
Crônicas de Nárnia, ou os contos de Chesterton, pois esses tinham um objetivo claro
de alegorizar questões cristãs e não se pode dizer o mesmo de Tolkien.
uma religião específica (seja cristã ou pagã), mas para toda a humanidade.” (TESTI,
2013, p. 30, tradução do autor)4.
Essa declaração de Testi (2013) mostra como ele buscou ampliar o olhar sobre
o épico e não o limitar a uma interpretação pagã ou cristã. Mesmo que se encaixe de
maneira perfeita em uma linha religiosa ou cultural, a amplitude de uma obra dessas
e sua abrangência, assim como colocou Madsen (1988), não pode ser limitada apenas
a visão de uma pessoa ou grupo religioso.
Para Whithingham (2008) a proposta de pesquisa foi diferente. Ela tenta
identificar as similaridades de pontos como a escatologia da Terra-Média, a mitologia
da criação, a mitologia dos seres divinos, a imortalidade na terra média, entre outros.
Ao tentar identificar analogias entre esses pontos e as histórias, mitologias e religião
de Tolkien, a autora busca entender melhor a própria história.
Durante seu livro, a autora descreve inúmeros detalhes não muito conhecidos
pelos leitores, pois usou livros como The Return of the Shadow, The Treason of
lsengard, The War of the Ring, and Sauron Defeated e os doze volumes da História
da Terra-Média, para poder englobar minúcias a mais em sua análise.
Interessante que essa autora vai mais fundo em sua pesquisa englobando todo
o Legendarium, mais do que qualquer outro autor já fez, pois sentiu falta de uma
análise mais profunda desses detalhes deixados por Tolkien nos doze livros de
História que foram compilados e publicados por Christopher Tolkien, filho do escritor
e criador da Terra-Média.
Vale ressaltar que a autora não trabalhou com os escritos pessoais de Tolkien,
como cartas e afins. A autora olhou para a construção da Terra-Média como um todo
e principalmente como um mito que se interpreta a si mesmo, mas que teve influências
de mitos que eram parte da vivência de Tolkien.
É perceptível em seu texto que a autora busca decodificar a história de Tolkien,
mas não em um nível obrigatório de interpretação, mas em um nível pessoal, ou seja,
a partir das relações feitas por ela entre a vida e possíveis influências ter relação com
a construção da história.
Wood (2003) foca nas semelhanças entro o evangelho cristão e o mito, mas
como já dito, quer apenas olhar para o a história criada e conseguir aplicá-la a sua
visão cristã de mundo. O autor diz “Este grande trabalho nos permite escapar para
4 : “ this story is meant neither for a single nation (England) nor a specific religion (be it Christian or
Pagan), but for “all of Mankind” (TESTI, 2013, p. 30)
18
dentro da realidade5.” (WOOD, 2003, p. 1, tradução do autor), ou seja, ele usa o mito
para poder olhar para a realidade com um outro ponto de vista.
Morillo (2001), ao contrário de Testi (2013), Whithingham (2008) e Wood
(2003), generaliza toda ou qualquer interpretação que se possa ter dos escritos de
Tolkien. Ao focar que ele é um linguista e não um teólogo, o autor afirma que a
preocupação de Tolkien não foi escrever um livro alegórico como C.S. Lewis, ou
mesmo tentar converter pessoas a partir de sua literatura. Ele não nega que questões
pessoais foram colocadas no livro de forma inconsciente, mas não teriam tanto
impacto na história por se encaixarem com outros princípios religiosos que não os
cristãos.
[...] que a espiritualidade do Senhor dos Anéis não pode ser tomada
como especificamente cristã. Tolkien, em minha opinião, não desejava
que fosse interpretado dessa forma. A espiritualidade da Terra-média
pode ter sido, para ele, realmente compatível com a espiritualidade
cristã. Porém, o que mais ele diria ou sentiria sobre o assunto, tanto
como um homem devoto quanto espiritual? Ele não queria escrever
uma alegoria, como seu amigo CS Lewis fez, nem uma alegoria
poderia capturar a espiritualidade especificamente cristã em uma
história como a de O Senhor dos Anéis, por isso ele acreditava na
compatibilidade em um nível abstrato o suficiente para ser conciliável
com outras formas espiritualidade. (Morillo, 2001, p. 114, tradução
do autor)6
leitor, por isso disse do prefácio de SdA sobre não gostar de alegorias por serem uma
limitação da parte do autor, mas incentiva a aplicação de sua história em diferentes
contextos, pois o leitor teria mais liberdade interpretativa para ler a história com suas
lentes e não as do autor.
Essa ideia de Tolkien também se assemelha com a teoria da Nova Crítica,
principalmente sobre dar liberdade ao leitor. Morillo (2001) percebe isso nas atitudes
de Tolkien referentes a reação que o público tinha sobre sua obra, e por isso, sempre
concordava com a visão de seus amigos e leitores sobre o épico.
A partir da análise desses três autores, percebe-se que a segunda tipologia
consiste em uma ideia mais neutra em relação a análise da obra de Tolkien. Os
autores se esforçam para sair dos extremos de impor uma ideia interpretativa sobre o
leitor da obra. Por esse motivo, entende-se que mesmo que eles evitem essa atitude,
ainda emitem suas opiniões, baseada em seus pontos de vista sobre as influências e
inspirações de Tolkien, mas nunca colocando as possíveis influências de Tolkien
sobre o que a história diz de si mesma.
Partindo dessa ideia, Kreeft (2005) afirma que a base sobrenatural que existe
na história de Tolkien veio do cristianismo. Dessa maneira, se Tolkien fosse de
qualquer outra religião ou seguisse outra linha de pensamento filosófico, sua história
seria completamente díspar.
Por esse motivo, os autores relacionam as construções da história de Tolkien
com os pensamentos dos pais da igreja e de Platão e Aristóteles, que são a base do
pensamento Católico. Kreeft (2005) diz que todos os personagens de SdA são mais
reais, mais platônicos, pois é como se fossem arquétipos na mente de Deus.
Esse pensamento leva a outro ponto em comum entre esses autores, o fato de
olharem para a obra como um reflexo do mundo real, ao contrário dos autores da
tipologia de Aplicação Cristã, que olham para a obra com um olhar da Nova Crítica
Literária, que permite a obra construir o próprio contexto. Birzer (2002) diz que a
mitologização que Tolkien faz do mundo, nos ajuda a ver a beleza e a
sacramentalidade da Criação Bíblica, ou seja, a partir da visão da obra, pode-se ter
uma nova visão, ou uma visão mais refinada do real, ou no caso, da Bíblia.
Outro ponto interessante que Birzer (2002) traz é a inspiração que Tolkien teria
tido da parte de Deus. Para ele, Tolkien teria dado a entender que foi apenas um
suporte para que a história pudesse ser escrita, de acordo com as cartas 79, 231, 252,
258.
Pearce (1998) compartilha as mesmas características citadas acima, mas o
que é destacado em seu texto e na argumentação de Agoy (2011) é a ênfase dada na
obviedade dos símbolos cristãos no texto de Tolkien. Pearce compara duas cenas,
uma bíblica e outra dos SdA.
A cena de Frodo caindo e exausto ao caminhar para as portas de Mordor no
livro Retorno do Rei (1994), sentindo o peso do Um Anel em seu pescoço, algo tão
pequeno, mas tão poderoso e tentador e Sam se oferecendo para ajudar a carregar o
fardo do anel, para Pearce (1998), mostra um claro paralelo entre Frodo e Cristo tendo
que carregar os pecados dos seres humanos.
Agoy (2011) traz outra característica comum a esses autores, que é uma ênfase
constante, inclusive de maneira combativa, contra qualquer pensamento que não
considere uma interpretação ou aplicação Cristã. Agoy (2011), em sua resposta a
argumentação de Hutton (2011), não traz em sua pesquisa outros livros ou pesquisas
de Tolkien (o que faz sentido quanto as duas diferentes abordagens das duas
tipologias).
21
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da revisão bibliográfica feita, percebe-se que todos os autores citados
seguem uma linha argumentativa lógica e se encaixam em cada grupo. Percebe-se,
a partir disso, que o assunto vem há muito sendo discutido principalmente pela
pluralidade de escritos pessoais de Tolkien e como, aparentemente, se contradizem.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGØY, Nils Ivar. The Christian Tolkien: A Response to Ronald Hutton. In: PAUL E.
KERRY (org.). The Ring and the Cross. 1. ed. Plymouth: Fairleigh Dickinson
23
CHANCE, Jane. A Mythology for England. 1. ed. Kentucky: The University Press of
Kentucky, 2001.
HUTTON, Ronald. The Pagan Tolkien. In: The Ring and the Cross. 1. ed.
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KREEFT, Peter. The Philosophy of Tolkien: The Worldview Behind The Lord of
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Dickinson University Press, 2011.
NIEBUHR, H. Richard. CHRIST AND CULTURE. 1. ed. New York, Harper & Row,
1951.
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SHIPPEY, Tom. J. R. R. Tolkien: Author of the Century. 1. ed. New York, N.Y.:
Harper Collins Publishers, 2000.
WEISS, Meir. The Bible Fom Within: The Method of Total Interpretation. 1. ed.
Jerusalem: The Magnes Press, The Hebrew University, 1984.