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UNASP – CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO

CAMPUS ENGENHEIRO COELHO


TEOLOGIA

JOÃO FERNANDO OLIVEIRA BARBOZA

CRISTIANISMO E PAGANISMO: UMA ANÁLISE DA OBRA DE J. R.


R. TOLKIEN A PARTIR DA TIPOLOGIA DE H. RICHARD NIEBUHR
EM CRISTO E CULTURA

ENGENHEIRO COELHO
2020
JOÃO FERNANDO OLIVEIRA BARBOZA

CRISTIANISMO E PAGANISMO: UMA ANÁLISE DA OBRA DE J. R.


R. TOLKIEN A PARTIR DA TIPOLOGIA DE H. RICHARD NIEBUHR
EM CRISTO E CULTURA

Trabalho de Conclusão de Curso do Centro


Universitário Adventista de São Paulo,
campus Engenheiro Coelho, do curso de
Teologia, sob orientação do prof. Dr. Allan
Macedo de Novaes.

ENGENHEIRO COELHO

2020
Barboza, João
Cristianismo e paganismo: uma análise da obra de j. R.
R. Tolkien a partir da tipologia de h. Richard Niebuhr em
Cristo e cultura / Barboza João. - Engenheiro Coelho:
UNASP-EC, 2020.
23 ff.

Orientador: Allan Novaes


TCC (Graduação)-- Centro Universitário Adventista
São Paulo, Teologia, 2020.

1. Tolkien. 2. cristianismo e paganismo. 3. H. Richard


Niebuhr. I. Novaes, Allan .II. Título.
Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Adventista de São Paulo,
do curso de Teologia, apresentado e aprovado em ___ de _______ de 2020.

____________________________________________
Dr. Allan Macedo de Novaes
Orientador
RESUMO

Um debate que há muito tem sido feito sobre JRR Tolkien é a relação existente entre
o cristianismo e o paganismo em sua obra. Dessa maneira, o objetivo desse estudo é
usar a metodologia proposta por H. Richard Niebuhr em seu livro Cristo e Cultura,
criando tipologi2as através das quais se possa entender melhor a abordagem de
especialistas em Tolkien sobre quão cristã são suas obras. Três tipologias foram
criadas: Interpretação Parcialmente Cristã; Aplicação Cristã de Interpretação; e
Interpretação Unicamente Cristã. A conclusão desse artigo é inclinada a considerar a
segunda tipologia mais adequada para compreender a relação entre cristianismo e
paganismo na obra de Tolkien por respeitar o contexto do leitor e a não limitação de
uma possível aplicação.

Palavras-Chave: Tolkien; Cristo e cultura; cristianismo e paganismo; H. Richard


Niebuhr.

ABSTRACT

A debate that has long been made about JRR Tolkien is the relationship between
Christianity and paganism on his work. Thus, the objective of this study is to use the
methodology proposed by H. Richard Niebuhr in his book Christ and Culture, creating
typologies through which one can better understand the approach of Tolkien experts
on how Christian his works are. Three typologies were created: Partially Christian
Interpretation; Christian Interpretation Application; and Uniquely Christian
Interpretation. The conclusion of this article is inclined to consider the second most
appropriate typology for understanding the relationship between Christianity and
paganism in Tolkien's work, as it respects the reader's context and does not limit its
possible application.

Keywords: Tolkien; Christian and Pagan; H. Richard Niebuhr.


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 8
2. INTERPRETAÇÃO PARCIALMENTE CRISTÃ ............................................... 11
3. APLICAÇÃO CRISTÃ DE INTERPRETAÇÃO ................................................ 14
4. INTERPRETAÇÃO UNICAMENTE CRISTÃ ................................................... 17
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 19
6. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 21
9

1. INTRODUÇÃO

Literatura e religião tem um relacionamento próximo há bastante tempo.


Autores de ficção e fantasia escolhem aproveitar símbolos cristãos que acarretam
significados específicos para usá-los como são, ou para transformá-los em algo novo,
e dessa forma agregar um sentido diferente do que o original propõe.
Em sua obra completa (conhecida como Legendarium), J. R. R. Tolkien (1892-
1973) não se afasta dessa relação entre literatura e religião. De acordo com alguns
pesquisadores, Tolkien usou símbolos cristãos, assim como da mitologia nórdica e do
Belo Reino1 para construir seus clássicos e criar uma das maiores obras do século
XX (HUTTON, 2011).
A presença da teologia cristã, da mitologia nórdica e inglesa, de um único Deus
criador na obra Silmarillium (2015) e sua ausência em Senhor dos Anéis (2001) (SdA
daqui por diante), intriga os teóricos que dedicam suas vidas a estudar esse clássico.
O autor foi questionado ainda vivo quanto a presença de símbolos não cristãos em
sua obra e muito criticado por ser um católico e ter se relacionado com aspectos
pagãos.
Para compreender melhor esse assunto, essa pesquisa reunirá elementos do
estado da arte da crítica à obra de Tolkien acerca do uso que ele faz de elementos
cristãos e pagãos em suas histórias a partir da lógica de tipos ou categorias de matriz
niebuhriana.
De acordo com Novaes (2016), H. Richard Niebuhr (1894-1962) foi um teólogo
Norte-Americano que escreveu um dos livros cristãos de maior impacto do século
passado. Cristo e Cultura, publicado em 1951, tentou sistematizar a relação entre o
cristão e as manifestações culturais de sua época. “A obra descreveu diferentes tipos
de atitudes ou posturas com que, historicamente, os cristãos têm se relacionado com
a cultura de sua época” (NOVAES, 2016, p15).
A partir dessa metodologia, a revisão de literatura sobre a crítica à obra de
Tolkien resultou na criação de três grupos. Primeiramente, o grupo de teóricos que
afirmam que Tolkien escreveu sua obra com o foco linguístico, utilizando-se de
simbologias diversas e não unicamente cristãs para construir o sentido de sua obra.

1 O tradutor do livro “Sobre Histórias de Fadas”, escrito por Tolkien traduziu o termo Faërie para Belo
Reino, pois a sonoridade remete a palavra fair (“belo”, em inglês).O Belo Reino, de acordo com Tolkien
é: “uma terra perigosa, e nela existem armadilhas para os incautos e calabouços para os demasiado
audazes.” (TOLKIEN, 2010, p. 9)
10

Os mais preponderantes são Ronald Hutton (2011), Catherine Madsen (1988), Tom
Shippey (2000), Jane Chance (2001) e Brian Rosebury (2003)
O segundo grupo reúne críticos que compreendem que o clássico pode ser
usado com uma aplicação cristã (é necessário enfatizar a diferença entre
interpretação e aplicação nesse grupo). Entre eles estão: Claudi A. Testi (2013),
Stephen Morillo (2011), Elizabeth A. Whittigham (2008) e Ralph C Wood (2008).
O terceiro grupo reúne autores como Joseph Pearce (1998), Peter J. Kreeft
(2005), Bradley Birzer (2002) e Nils Ivar Agøy (2011), que tratam a obra de Tolkien
sendo essencialmente cristã, onde o autor tinha como objetivo falar de sua religião,
mesmo usando símbolos pagãos.
Da mesma maneira que a questão cristianismo e cultura não era uma discussão
nova quando Niebuhr (1956) resolveu pesquisá-la, a discussão entre um Tolkien
pagão ou cristão tem início na publicação de sua obra. As palavras de Niebuhr sobre
o debate se aplicam também ao tema da presente pesquisa:

O debate é tão confuso quanto multifacetado. Quando parece que o


problema foi claramente definido como estando situado entre os
expoentes de uma civilização cristã e os defensores não cristãos de
uma sociedade completamente secularizada, novas perplexidades
surgem como crentes devotos aparentemente concordando com os
secularistas, apelando, por exemplo, para a eliminação da religião de
educação pública, ou para o apoio cristão de aparentemente
movimentos políticos anticristãos. (NIEBUHR, 1956, p.1, tradução do
autor)2

Portanto, indaga-se: Qual a relação entre cristianismo e paganismo na literatura


de Tolkien a partir de seus críticos? O objetivo geral da presente pesquisa será
analisar a relação entre o paganismo e o cristianismo em Tolkien em seus
comentaristas e críticos, agrupando-os e sistematizando-os a partir da tipologia de H.
Richard Niebuhr em Cristo e cultura tal qual proposta por Novaes (2019) e analisar os
resultados e no que contribuem para a obra.
A tipologia de matriz niebuhriana foi escolhida como método de sistematização
desse tema pela capacidade de responder de maneira mais consistente a hipótese de

2 The debate is as confused as it is many-sided. When it seems that the issue has been clearly defined

as lying between the exponents of a Christian civilization and the non-Christian defenders of a wholly
secularized society, new perplexities arise as devoted believers seem to make common cause with
secularists, calling, for instance, for the elimination of religion from public education, or for the Christian
support of apparently anti-Christian political movements. (NIEBUHR, 1956, p. 1)
11

que os três grupos têm abordagens diferentes que contém pontos positivos e
negativos sobre o assunto abordado.
O critério para a escolha dos autores foi baseado em serem fontes primárias
sobre o assunto, ou mesmo serem citados em diversos trabalhos como referências.
O primeiro passo para fazer uma sistematização de elementos de estado da
arte com os parâmetros apresentados em Niebuhr a partir de Novaes (2019) é
encontrar um problema duradouro, uma questão que atravessa eras e autores, mas
que dificilmente é resolvida.
A questão que Niebuhr trabalha é entre Cristo e Cultura, a deste artigo, é o
cristianismo e o paganismo em Tolkien. Diversos autores admitem a presença de
símbolos pagãos que se identificam com uma era pré-cristã, enquanto outros
assumem o oposto e dizem que todos os símbolos são referências cristãs.
Essa interpretação varia de acordo com os pressupostos do pesquisador e,
por esse motivo, alguns pesquisadores como Hutton (2011) admite que existem partes
da história que são cristãs, mas outras que são essencialmente pagãs. Por outro lado,
autores como Pearce (1998) [?] olham para todos os símbolos pagãos como
referência direta ou indireta de elementos Cristãos.
Após a definição do problema duradouro, o segundo passo é definir um corpus
de estudo. Essa definição baseou-se nas análises feitas a partir dos livros Silmarillion
e Senhor dos Anéis. Esse artigo não trabalhará com toda a obra de Tolkien,
principalmente por ela não ser abordada em sua totalidade pela maioria dos autores
analisados.
A partir disso, foi levado em consideração a instrução dada por Tolkien no
prefácio da segunda edição em português sobre o Senhor dos Anéis não ser uma
alegoria e ao mesmo tempo não limitar a capacidade de aplicação da história que os
leitores possam fazer (2001). Essa posição acarreta uma discussão sobre qual foi a
inspiração de Tolkien para tais símbolos.
A terceira razão são as similaridades entre alguns pontos das duas obras com
o cristianismo, Kreeft (2005) coloca a figura de Frodo sendo alguém que carrega o
peso do mal para destruí-lo, assim sendo uma referência de Cristo, ou mesmo a
Aiundalë, o cântico da criação que está no início do Silmarillion (2015), sendo uma
referência a gênese bíblica .
A restrição da análise do problema duradouro aos livros citados não significa
que outras obras que façam parte do Legendarium não possam entrar na análise
12

como suporte. Isso foi feito por autores como Jane Chance (2001) a trazer a obra Lief
by Niegle como sendo uma alegoria cristã e mostrando como seria diferente a escrita
de Tolkien se ele quisesse fazer do Silmarillion ou do Senhor dos Anéis uma alegoria.
Por uma questão de complexidade e de foco, o terceiro e quarto passos
descritos por Novaes (2019) não serão feitos. Essa etapa consiste na criação de
critérios descritivos avaliativos para a composição de cada tipo ideal e a
caracterização desses elementos no corpus. Os elementos binários são derivados do
conceito chave (nessa pesquisa é o problema Cristianismo e paganismo) e que
derivam da leitura prévia do corpus (NOVAES, 2019, p. 138).
A quinta etapa é a relação do corpus com os tipos ideais. Essa relação será
feita a partir da posição que o autor toma em seus escritos, se ele leva em conta ou
não influências externa ao escritor da obra, se os símbolos são realmente fiéis a
símbolos cristãos ou existe alguma outra questão envolvida.
Assim, para viabilizar o teste da hipótese, foram analisados materiais de cunho
bibliográfico nesse artigo e, assim, realizou-se uma pesquisa com objetivo descritivo
e abordagem qualitativa.

2. INTERPRETAÇÃO PARCIALMENTE CRISTÃ


A definição desse tipo ideal deu-se por algumas similaridades argumentativas
entre os autores, logo, esses argumentos serão explanados de maneira mais ampla
nesta sessão. O argumento que perpassa todas as teses analisadas consiste na ideia
de que os livros Silmarillion (2015) e SdA (2001) teriam mostrado uma religião que
não se desenvolve de maneira consistente através da história e, por essa razão, não
seria possível identificá-la com o cristianismo, que é uma religião extremamente
sistematizada e repleta de rituais.
Ao falar mais especificamente do Senhor dos Anéis, alguns autores apontam
para o fato de ser uma obra que foi construída para o público, o que levou o autor a
retirar qualquer referência ou símbolo cristão de sua obra. O Silmarillion (2015) não
se afasta dessa realidade, pois não sabemos o objetivo e o porquê de não ter sido
publicado por Tolkien e de ter passado por constantes revisões.
Por fim, autores como Rodebury (2003), alegam que símbolos como o de
Frodo remeter a Cristo ao carregar o anel para salvar seu povo são incoerentes, pois
Frodo sucumbe ao anel e não tem nenhuma outra característica similar a Cristo; não
nasceu de uma virgem e não é um Deus-Homem, o que enfraquece a analogia.
13

Rosebury (2003) relembra o leitor que a religião católica é uma religião


extremamente organizada e que tem suas bases em dogmas. Ao olhar para a obra
Senhor dos Anéis, reconhece alguns elementos religiosos, como a relação de Tom
Bombadil com a terra em paralelo a Adão e o lugar que habitava.
Esses aspectos religiosos são presentes em alguns pontos da obra, mas não
remetem a uma religião organizada, ou existente. A sistematização encontrada no
cristianismo no século XX não é presente na obra de Tolkien. Mesmo no Silmarillion
(2015), que tem elementos transcendentais de uma maneira mais contínua e
presente, Tolkien parece não se importar em sistematizar ou fazer referência a um
cristianismo católico.
Rosebury (2003) é enfático ao dizer que a Terra-Média tem seu próprio sistema
ético que se construiu desde a queda de Melkor (Valar de fogo que decide se afastar
de Eru e se rebelar contra a Criação) até o fim da terceira era com a história de Frodo
e do Anel, portanto, religião também faz parte dessa construção histórica da Terra-
Média.
Hutton (2011) e Rosebury (2003) afirmam que o período que Tolkien escreveu
o clássico do SdA foi decisivo para a criação desse universo sem uma religião. Hutton
(2011) aponta que Tolkien admitiu em uma de suas cartas que estava passando por
um período complicado de sua fé, pois não sabia no que acreditar.
Contudo, Rosebury (2003) relembra que o século XX foi extremamente distante
de qualquer aspecto cristão, e Tolkien, como um bom literato, notou que se
incorporasse explicitamente símbolos cristãos, sua obra teria um alcance prejudicado
por conter uma religiosidade excessiva.
Madsen (1988), assim como os autores citados acima, trabalha a religião do
SdA como uma religião natural, que cresce e se desenvolve a partir da história da
Terra-Média. A autora ressalta que querer limitar as figuras a símbolos do cristianismo,
limita a obra e o entendimento dos leitores não cristãos.
A partir desse pressuposto, Madsen (1988) afirma que o conto de Beowulf não
contém nenhum símbolo cristão, mesmo sendo um marco da literatura medieval, por
motivos de anacronismo. A mesma coisa ocorre com das, pois o autor queria escrever
sobre uma era pré-cristã, logo, retirou todos os símbolos cristãos por imaginar que
poderia atrapalhar a construção do cenário de sua história.
Para Madsen (1988) seria extremamente prejudicial para a narrativa se Tolkien
tivesse deixado implícito qualquer simbologia cristã. Entretanto, ela argumenta que
14

existe uma religião natural em SdA que se constrói dentro do universo da Terra-Média
e, inclusive, fez parte do desenvolvimento religioso pessoal dela.
Shippey (2000), assim como Madsen (1988), é cético quanto a presença de
qualquer simbologia cristã na narrativa de Tolkien. O autor assume algumas
similaridades entre alguns pontos do mito de Tolkien e da literatura bíblica, mas foca
muito mais nas diferenças.
Um exemplo que Shippey (2000) usa é sobre a identidade dos Valar. Em um
aspecto de semelhança, os Valar representariam claramente os anjos, pois tem uma
responsabilidade de cuidar da terra e dos seres que habitam nela (essa realidade se
apresenta de maneira mais consistente no Silmarillion). Mas o autor aponta a
capacidade de criação desses seres superiores. Eles, com seus cânticos, criaram
Arda (o planeta Terra).
Entretanto, a limitação dos Valar não é em relação aos seus poderes e sim a
uma ordem divina. Eru não permite que criem vida, mas apenas que a protejam.
Mesmo com essa ordem, Aulë, o Valar ferreiro, cria os Anões antes do despertar dos
Elfos. O deus mítico descobre e, por misericórdia, coloca os Anões para dormir até o
momento certo e perdoa Aulë pelo seu ato de desobediência.
Para Shippey (2000) esse é um exemplo onde as diferenças entre os símbolos
bíblicos e os símbolos do mito se fazem importantes. A partir desse conceito, o autor
afirma que o SdA não é nem cristão e nem religioso, pois não há nenhuma
institucionalização ou organização formal.
Todavia, o autor diz que seria difícil Tolkien se afastar de todos os modelos
simbólicos de sua vida e, portanto, de maneira inconsciente, os colocaria no conto.
Mas essas similaridades não significam que o autor queria usá-las como um meio de
referenciar sua religião ou sua crença.
Dessa maneira, os autores Hutton (2011), Rosebury (2003), Madsen (1988) e
Shippey (2000) admitem que exista uma religião, ou pelo menos um transcendente no
universo da Terra-Média. Para Hutton (2011) e Rosebury (2003) uma parte de toda
construção da literatura de Tolkien pode ser chamada de cristã ou contém elementos
claramente cristãos, mas não a obra por completo. “[…] minha caracterização dos três
elementos encontrados na mitologia pessoal de Tolkien: a cristã, a pagã, e a do Belo
Reino”3 (HUTTON, 2011, p. 91, tradução do autor)

3 “[…] my characterization of the three elements found in Tolkien’s personal mythology: the Christian,
the pagan, and the faerie.” (HUTTON, 2011, p. 91)
15

Madsen (1988) e Shippey (2000) assumem uma posição mais voltada para um
universo tolkieniano completamente distante da realidade humana ou cristã. Para
eles, a criação da Terra-Média foi um processo criativo e complexo, onde Tolkien se
distanciou de qualquer fato que pudesse acarretar um significado diferente e externo
ao que compõe o cenário de SdA. Portanto, se Tolkien usasse símbolos cristãos,
estaria prejudicando seu trabalho por usar signos carregados de significados comuns.
Chance (2001) assume uma postura diferente dos autores anteriores. Ela inicia
sua argumentação sobre o tema usando o artigo que Tolkien escreveu intitulado Os
monstros e Seus Críticos (1997). Ela analisa a obra de Tolkien da mesma maneira
que Tolkien analisou a lenda de Beowulf e chega a mesma conclusão de que SdA cria
e sustenta seu próprio universo, mas a presença de elementos cristãos é igual a de
elementos pagãos.
Para Chance (2001) Tolkien escreveu seu épico com a estrutura de Beowulf
em mente e, dessa maneira, criou paralelos entre questões pagãs e Cristãs. A
simbologia do mal é um exemplo disso, pois no início da história, Frodo enfrenta a si
mesmo, sendo o monstro e o herói. No segundo livro Saruman assume a posição de
monstro correspondendo às expectativas cristãs e germânicas de mal.
A autora consegue mapear e trabalhar com diversos símbolos e suas
representações dentro de um aspecto cultural no SdA, mas quando se trata do
Silmarillium ela não pode fazer o mesmo pela falta da figura de um rei, um senhor e
um herói central que remetesse ao medievalismo inglês.
A partir da posição dos autores estudados, percebe-se que seria prejudicial
para a compreensão da história de Tolkien assumir uma posição que os personagens
e os símbolos são alegorias do cristianismo. Hutton (2001) diz que não é sobre ignorar
qualquer influência cristã, mas a obra de Tolkien não pode ser comparada com As
Crônicas de Nárnia, ou os contos de Chesterton, pois esses tinham um objetivo claro
de alegorizar questões cristãs e não se pode dizer o mesmo de Tolkien.

3. APLICAÇÃO CRISTÃ DE INTERPRETAÇÃO


Nesta seção a palavra interpretação será chave, pois os autores que a
compõem podem se encaixar facilmente em uma das outras duas tipologias criadas.
Para compreender melhor esse ponto, a citação de J. R. R. Tolkien na introdução do
seu primeiro livro se faz essencial:
16

Outros arranjos poderiam ter sido criados de acordo com os gostos e


as visões daqueles que gostam de alegorias e referências tópicas.
Mas eu cordialmente desgosto de alegorias em todas as suas
manifestações, e sempre foi assim desde que me tornei adulto e
perspicaz o suficiente para detectar sua presença. Gosto muito mais
de histórias, verdadeiras ou inventadas, com sua aplicabilidade
variada ao pensamento e à experiência dos leitores. Acho que muitos
confundem “aplicabilidade” com “alegoria”; mas a primeira reside na
liberdade do leitor, e a segunda na dominação proposital do escritor.
(TOLKEIN, 2001, XIII)

O autor continua em seu prefácio descrevendo as complexidades que


envolvem a inspiração de um autor enquanto constrói sua obra e como qualquer
tentativa de descobrir o que o inspirou a criar certo cenário ou personagem seria
especulação.
A partir desse ponto de vista, os autores trabalhados nessa sessão defendem
uma aplicação mais voltada para a realidade deles, mas o diferencial é que eles não
limitam a obra a interpretações pessoais, e não há uma tentativa exaustiva de tentar
provar o que inspirou Tolkien a escrever o Silmarillion (2001) e a construção da Terra-
Média.
Para esses autores, o foco gira entorno da influência da obra para eles e não
para um público em geral, levando em conta o contexto teórico e pessoal de cada um.
Testi (2003), Whithingham (2008) e Wood (2003) focam no aspecto cristão da
obra, mas como dito acima, não tentam definir como regra geral quais são os aspectos
cristãos e pagãos, pois entendem que isso parte de um ponto relativo de interpretação.
Enquanto Testi (2013) tenta conciliar argumentos contrários a intepretação
cristã com a Revelação Divina (Bíblia), Whithingham (2008) procura fazer um
mapeamento de onde as inspirações para diversos personagens e situações vieram,
sendo de um meio mitológico, histórico ou religioso e Wood (2008) apenas quer
apresentar uma visão cristã que a obra poderia ter, sem entrar em todo debate
acadêmico que envolve a obra.
Testi (2013) dá uma visão ampla do assunto apontado alguns dos autores que
falam a favor e contra uma visão cristã da obra de Tolkien, e por fim, sistematiza esses
argumentos e concilia com a visão cristã. Na conclusão de seu artigo o autor diz o
seguinte: “ essa história não foi escrita para uma única nação (Inglaterra) e nem para
17

uma religião específica (seja cristã ou pagã), mas para toda a humanidade.” (TESTI,
2013, p. 30, tradução do autor)4.
Essa declaração de Testi (2013) mostra como ele buscou ampliar o olhar sobre
o épico e não o limitar a uma interpretação pagã ou cristã. Mesmo que se encaixe de
maneira perfeita em uma linha religiosa ou cultural, a amplitude de uma obra dessas
e sua abrangência, assim como colocou Madsen (1988), não pode ser limitada apenas
a visão de uma pessoa ou grupo religioso.
Para Whithingham (2008) a proposta de pesquisa foi diferente. Ela tenta
identificar as similaridades de pontos como a escatologia da Terra-Média, a mitologia
da criação, a mitologia dos seres divinos, a imortalidade na terra média, entre outros.
Ao tentar identificar analogias entre esses pontos e as histórias, mitologias e religião
de Tolkien, a autora busca entender melhor a própria história.
Durante seu livro, a autora descreve inúmeros detalhes não muito conhecidos
pelos leitores, pois usou livros como The Return of the Shadow, The Treason of
lsengard, The War of the Ring, and Sauron Defeated e os doze volumes da História
da Terra-Média, para poder englobar minúcias a mais em sua análise.
Interessante que essa autora vai mais fundo em sua pesquisa englobando todo
o Legendarium, mais do que qualquer outro autor já fez, pois sentiu falta de uma
análise mais profunda desses detalhes deixados por Tolkien nos doze livros de
História que foram compilados e publicados por Christopher Tolkien, filho do escritor
e criador da Terra-Média.
Vale ressaltar que a autora não trabalhou com os escritos pessoais de Tolkien,
como cartas e afins. A autora olhou para a construção da Terra-Média como um todo
e principalmente como um mito que se interpreta a si mesmo, mas que teve influências
de mitos que eram parte da vivência de Tolkien.
É perceptível em seu texto que a autora busca decodificar a história de Tolkien,
mas não em um nível obrigatório de interpretação, mas em um nível pessoal, ou seja,
a partir das relações feitas por ela entre a vida e possíveis influências ter relação com
a construção da história.
Wood (2003) foca nas semelhanças entro o evangelho cristão e o mito, mas
como já dito, quer apenas olhar para o a história criada e conseguir aplicá-la a sua
visão cristã de mundo. O autor diz “Este grande trabalho nos permite escapar para

4 : “ this story is meant neither for a single nation (England) nor a specific religion (be it Christian or
Pagan), but for “all of Mankind” (TESTI, 2013, p. 30)
18

dentro da realidade5.” (WOOD, 2003, p. 1, tradução do autor), ou seja, ele usa o mito
para poder olhar para a realidade com um outro ponto de vista.
Morillo (2001), ao contrário de Testi (2013), Whithingham (2008) e Wood
(2003), generaliza toda ou qualquer interpretação que se possa ter dos escritos de
Tolkien. Ao focar que ele é um linguista e não um teólogo, o autor afirma que a
preocupação de Tolkien não foi escrever um livro alegórico como C.S. Lewis, ou
mesmo tentar converter pessoas a partir de sua literatura. Ele não nega que questões
pessoais foram colocadas no livro de forma inconsciente, mas não teriam tanto
impacto na história por se encaixarem com outros princípios religiosos que não os
cristãos.
[...] que a espiritualidade do Senhor dos Anéis não pode ser tomada
como especificamente cristã. Tolkien, em minha opinião, não desejava
que fosse interpretado dessa forma. A espiritualidade da Terra-média
pode ter sido, para ele, realmente compatível com a espiritualidade
cristã. Porém, o que mais ele diria ou sentiria sobre o assunto, tanto
como um homem devoto quanto espiritual? Ele não queria escrever
uma alegoria, como seu amigo CS Lewis fez, nem uma alegoria
poderia capturar a espiritualidade especificamente cristã em uma
história como a de O Senhor dos Anéis, por isso ele acreditava na
compatibilidade em um nível abstrato o suficiente para ser conciliável
com outras formas espiritualidade. (Morillo, 2001, p. 114, tradução
do autor)6

Importante ressaltar que para Morillo (2001) a obra de Tolkien interpreta e é


completa por si mesma. No decorrer do texto do autor, percebe-se que ele aponta
para a ineficácia de tentar definir a história de SdA e de todo Legendarium a partir de
qualquer ponto se não o linguístico, principalmente porque a vida de Tolkien era
envolta de seu trabalho e suas pesquisas acadêmicas.
Essa ideia trabalhada por Morillo (2001) remete a Nova Crítica literária, iniciada
na década de 1920, que tem por base permitir que o texto se expresse por si7. Tolkien,
como um linguista, tinha essa noção de que não poderia interferir na interpretação do

5 This great work enables us to escape into reality. (WOOD, 2003, p. 1)


6 […] that the spirituality of Lord of the Rings cannot convincingly be taken as specifically Christian.
Nor, I think, did Tolkien wish it to be taken that way. The spirituality of Middle-Earth may have been,
for him, compatible with Christian spirituality—indeed, what else was he going to say, or feel, about
the issue, as a devout as well as spiritual man? But he did not wish to write allegory, as his friend C.
S. Lewis did, and nothing but allegory could capture a specifically Christian spirituality in a story such
as that in Lord of the Rings, so he believed in compatibility at a level abstract enough that it is also
compatible with most other major forms of spirituality. (Morillo, 2001, p. 114)
7 “The main principles of the New Critical approaches in literary scholarship stem essentially from the
view that quality and substance are co-extensive and any distinction between shell and kernel, form
and contend is the product of analysis and abstraction and not an intrinsic aspect of reality. (WEISS,
1984, p. 21)
19

leitor, por isso disse do prefácio de SdA sobre não gostar de alegorias por serem uma
limitação da parte do autor, mas incentiva a aplicação de sua história em diferentes
contextos, pois o leitor teria mais liberdade interpretativa para ler a história com suas
lentes e não as do autor.
Essa ideia de Tolkien também se assemelha com a teoria da Nova Crítica,
principalmente sobre dar liberdade ao leitor. Morillo (2001) percebe isso nas atitudes
de Tolkien referentes a reação que o público tinha sobre sua obra, e por isso, sempre
concordava com a visão de seus amigos e leitores sobre o épico.
A partir da análise desses três autores, percebe-se que a segunda tipologia
consiste em uma ideia mais neutra em relação a análise da obra de Tolkien. Os
autores se esforçam para sair dos extremos de impor uma ideia interpretativa sobre o
leitor da obra. Por esse motivo, entende-se que mesmo que eles evitem essa atitude,
ainda emitem suas opiniões, baseada em seus pontos de vista sobre as influências e
inspirações de Tolkien, mas nunca colocando as possíveis influências de Tolkien
sobre o que a história diz de si mesma.

4. INTERPRETAÇÃO UNICAMENTE CRISTÃ


Essa seção é composta por autores defensores da obra de Tolkien ser
indiscutivelmente cristã. Para eles, não só as inspirações de Tolkien são cristãs, como
os personagens são alusões claras de personalidades cristãs. Esses autores usam
como base argumentativa principalmente a frase dita por Tolkien em uma de suas
cartas que foi compilada por Humphrey Carpenter (2013) que diz que SdA é uma obra
fundamentalmente católica inconscientemente em sua escrita, mas conscientemente
católica em sua revisão.
Os quatro autores que serão apresentados foram escolhidos com base na
ênfase cristã e bíblica que dão para a obra de Tolkien. Pearce (1998), Kreeft (2005),
Birzer (2002) e Agoy (2011), trabalham em sua escrita a improbabilidade de Tolkien
ter ignorado a tradição cristã e católica romana que tanto valorizava em sua vida
pessoal.
Para esses autores, Tolkien sendo um cristão convicto, seria impossível o
distanciamento de suas crenças. Todos partem desse pressuposto e se apoiam na
fala citada acima que Tolkien reforça que sua obra tem uma inclinação ao catolicismo
de maneira consciente durante a revisão.
20

Partindo dessa ideia, Kreeft (2005) afirma que a base sobrenatural que existe
na história de Tolkien veio do cristianismo. Dessa maneira, se Tolkien fosse de
qualquer outra religião ou seguisse outra linha de pensamento filosófico, sua história
seria completamente díspar.
Por esse motivo, os autores relacionam as construções da história de Tolkien
com os pensamentos dos pais da igreja e de Platão e Aristóteles, que são a base do
pensamento Católico. Kreeft (2005) diz que todos os personagens de SdA são mais
reais, mais platônicos, pois é como se fossem arquétipos na mente de Deus.
Esse pensamento leva a outro ponto em comum entre esses autores, o fato de
olharem para a obra como um reflexo do mundo real, ao contrário dos autores da
tipologia de Aplicação Cristã, que olham para a obra com um olhar da Nova Crítica
Literária, que permite a obra construir o próprio contexto. Birzer (2002) diz que a
mitologização que Tolkien faz do mundo, nos ajuda a ver a beleza e a
sacramentalidade da Criação Bíblica, ou seja, a partir da visão da obra, pode-se ter
uma nova visão, ou uma visão mais refinada do real, ou no caso, da Bíblia.
Outro ponto interessante que Birzer (2002) traz é a inspiração que Tolkien teria
tido da parte de Deus. Para ele, Tolkien teria dado a entender que foi apenas um
suporte para que a história pudesse ser escrita, de acordo com as cartas 79, 231, 252,
258.
Pearce (1998) compartilha as mesmas características citadas acima, mas o
que é destacado em seu texto e na argumentação de Agoy (2011) é a ênfase dada na
obviedade dos símbolos cristãos no texto de Tolkien. Pearce compara duas cenas,
uma bíblica e outra dos SdA.
A cena de Frodo caindo e exausto ao caminhar para as portas de Mordor no
livro Retorno do Rei (1994), sentindo o peso do Um Anel em seu pescoço, algo tão
pequeno, mas tão poderoso e tentador e Sam se oferecendo para ajudar a carregar o
fardo do anel, para Pearce (1998), mostra um claro paralelo entre Frodo e Cristo tendo
que carregar os pecados dos seres humanos.
Agoy (2011) traz outra característica comum a esses autores, que é uma ênfase
constante, inclusive de maneira combativa, contra qualquer pensamento que não
considere uma interpretação ou aplicação Cristã. Agoy (2011), em sua resposta a
argumentação de Hutton (2011), não traz em sua pesquisa outros livros ou pesquisas
de Tolkien (o que faz sentido quanto as duas diferentes abordagens das duas
tipologias).
21

Para Agoy (2011) todas as declarações de Tolkien deviam ser levadas em


conta, enquanto para os autores da tipologia de aplicação cristã, apenas a realidade
da Terra-Média é englobada e os escritos, as cartas de Tolkien são observadas como
uma interação pessoal entre ele e os leitores, mas que não deveria influenciar na obra.
Por esse grupo de autores olhar para a obra de Tolkien de um ponto de vista
contrário a tipologia anterior, ou seja, não dão ênfase a forma e conteúdo da obra,
mas às influências que levaram o autor a escrevê-la, tentam interpretá-la a partir
perspectivas cristãs, e por esse motivo, usam os escritos de Tolkien posteriores a
criação do mito como base para defender suas visões.
A obra mais citada na argumentação dos autores dessa tipologia é “On Fairy
Stories”, publicada em 1947, principalmente por Tolkien apresentar o que é mitologia
de uma maneira diferente do comum. Para Tolkien, a mitologia é uma outra maneira
para olhar para o comum. Quando uma história é tirada do contexto, ressignificada, e
colocada no formato fantasioso ou mitológico, o leitor, ou o ouvinte, pode entender
melhor a história que está sendo trabalhada.
Por essa razão que Kreeft (2005) usa o exemplo de Arda8 ter sido arredondada
após o mal começar a existir, pois o formato plano (formato anterior) mostrava a
realidade do sobrenatural, enquanto o formato redondo mostra o formato do
naturalismo, ou seja, do egoísmo e de se fechar em si mesmo, da mesma maneira
que o pecado na Bíblia.
As características citadas acima são as mais proeminentes nos autores
escolhidos, que em grande parte, são teólogos. Mas característica que mais define
essa tipologia é o fato de todos os autores citados olharem para a obra de Tolkien
como unicamente cristã, enfatizando que qualquer outra interpretação dada a história
da Terra-Média empobrece o mito criado por Tolkien.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da revisão bibliográfica feita, percebe-se que todos os autores citados
seguem uma linha argumentativa lógica e se encaixam em cada grupo. Percebe-se,
a partir disso, que o assunto vem há muito sendo discutido principalmente pela
pluralidade de escritos pessoais de Tolkien e como, aparentemente, se contradizem.

8 Espaço geográfico onde a Terra-Média se localiza no universo.


22

Os três grupos foram separados e criados a partir da revisão bibliográfica para


poder dar uma visão mais consistente do estado da arte sobre a questão abordada,
observando diferentes posições e o que dizem sobre como olhar para a história criada
por Tolkien.
Três visões se formaram a partir da pesquisa, uma visão que enfatiza a
multiplicidade de inspirações e de olhares que pode-se ter sobre a obra (Interpretação
Parcialmente Cristã); uma visão que prioriza o texto e a história e tenta interpretá-la
por si (Aplicação Cristã de Interpretação); e, por fim, uma visão que olha para a obra
como sendo apenas cristã e dessa forma acredita que extrai ao máximo o significado
de Silmarillion e SdA (Interpretação unicamente Cristã).
Após as análises feitas, percebe-se que o primeiro grupo preza pela pluralidade
de interpretações e influências da obra de Tolkien, mas limitando a questões que
rodeavam o autor culturalmente e em sua área de estudo. Ao fazer isso, ainda limitam
a obra de certa forma, pois a visão que apresentam aos leitores de Tolkien fazem
parte da realidade do escritor e não tem como foco o leitor, mas a construção e
desenvolvimento da obra.
O segundo grupo, ao usar aspectos da Nova Crítica Literária, dão liberdade
completa para fazer aplicações da obra de Tolkien a partir de seus contextos, mas
respeitando a forma e conteúdo do texto. Os autores desse grupo, ao apresentarem
suas aplicações, partem de pressupostos individuais, mas enfatizam que a obra não
se limita ao que está sendo dito por eles.
O terceiro grupo tem um olhar desenvolvido quanto a uma intepretação cristã
da obra, com conceitos filosóficos, teológicos, Católicos, entre outros. Autores bem
embasados e com obras de grande repercussão, mas não admitem que se possa ter
outra interpretação da obra de Tolkien se não a Cristã, pois isso empobreceria os
símbolos utilizados pelo autor.
Assim, conclui-se que os três grupos trabalham com bases fortes e
argumentação consistente, mas têm visões diferentes sobre o tema. Percebe-se que
um ponto comum a todos é o como a obra de Tolkien precisa ser analisada,
interpretada ou aplicada, e a partir disso, divergem em opiniões.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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