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Transmedia Storytelling -

Narrativas Transmidiáticas
DIGITAL MEDIA AND AUDIOVISUAL IN ONLINE TEACHING - EDU681 - 2.2
Transmedia storytelling - narrativas transmidiáticas • 2/15

Transmedia Storytelling - Narrativas Transmidiáticas


Desenvolvido por Alexandra Cristina Moreira Caetano em 2022 baseado no livro
Teoria das Mídias Digitais. Linguagens, ambientes e redes, publicado em
2014 por Martino, Luís Mauro Sá.

Objetivos de Aprendizagem
• Diferenciar storytelling e transmedia storytelling (narrativas transmidiáticas);
• Identificar os elementos base da construção da narrativa transmidiática;
• Analisar possibilidades da construção de narrativas através das mídias.
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Introdução
Construir histórias é o primeiro passo e estudamos no tema anterior que o
storytelling possibilita uma melhor contextualização, gerando maior engajamento
e conexão dos estudantes com o tema apresentado. Aliás, em todas as situações, o
storytelling tende a gerar empatia.
Agora damos um novo passo. Considerando a construção das histórias no contexto
das novas mídias, temos que elas podem ser desconstruídas e reconstruídas em
diferentes estruturas e em múltiplas variações. Além disso, existe a possibilidade
de que essas histórias possam ser construídas em diferentes mídias ou em uma
combinação de mídias. E vamos além, entendemos que para cada uma dessas
mídias podemos optar por uma variação dessa história, seja pelo acréscimo ou pela
retirada de pequenos detalhes da história original que faz com que a referência
base seja mantida. A mesma história de fundo, porém compondo diferentes saídas,
seja no desenvolvimento da história, seja em sua finalização, seja no contexto em
que se insere. É daí que nascem as narrativas transmidiáticas.

Storytelling x Narrativas transmidiáticas

Podemos definir storytelling como a capacidade de construir narrativas e de contar


histórias relevantes, sendo o storyteller basicamente um contador de histórias.
Alfredo Castro (2013) analisa o termo em partes: story refere-se a uma história, fato
ou ocorrido, e telling significa reproduzir, contar ou transmitir essas histórias por meio
de imagens ou outros recursos que despertem o interesse e prendam a atenção do
leitor ou da audiência.

Storytelling é o velho hábito de contar histórias. Os nossos ancestrais já


tinham esse hábito, quando, ao fim de cada dia, se reuniam em volta das
fogueiras e contavam suas fantásticas caçadas e vitórias. Já naquele tempo,
essa era a maneira de legitimar uma liderança por meio da referência. A
história seria ainda para perpetuar práticas e conhecimentos arraigados
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àquelas culturas, tão necessários à sobrevivência dos grupos, e que esses


líderes repassavam dentro de suas histórias. Storytelling é a arte de contar
uma história, ou seja, por meio da palavra escrita, da música, da mímica, das
imagens, do som ou dos meios digitais (McSill, 2013, p. 31).

A construção de narrativas consiste em criar uma história, para entregar informação,


gerar motivação, saber opiniões, estabelecer conexões. O storytelling é linear, quando
pensamos que a entrega ocorre numa única mídia, regra geral para a mídia em que
foi criada.
Por outro lado, a transmedia storytelling ou narrativa transmidiática desenrola-se
por meio de múltiplas plataformas de mídia on e off-line, com cada nova história
contribuindo de maneira diferente para a soma das mesmas histórias contadas pelas
outras mídias. O conceito de transmídia foi abordado pela primeira vez em 1991, por
Marsha Kinder, professor da University of Southern California. Porém, será somente
mais de uma década depois que esses estudos serão aprofundados pelo pesquisador
Henry Jenkins, autor do livro “Cultura da Convergência”, segundo o qual:

A narrativa transmídia refere-se a uma nova estética que surgiu em


resposta à convergência das mídias – uma estética que faz novas exigências
aos consumidores e depende da participação ativa de comunidades de
conhecimento. A narrativa transmídia é a arte da criação de um universo.
(Jenkins, 2009, p.49)

Na forma ideal de narrativa transmídia, cada meio faz o que faz de melhor – a
fim de que uma história possa ser introduzida num filme, ser expandida para a
televisão, romances e quadrinhos; seu universo possa ser explorado em games
ou experimentado como atrações de um parque de diversões. Cada acesso
à franquia deve ser autônomo, para que não seja necessário ver o filme para
gostar do game, e vice-versa. (Jenkins, 2009, p.138)

De acordo com Jenkins, o fluxo de conteúdo através de múltiplos canais de mídia é


quase inevitável nesta era de convergência de mídias.
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A Questão é simples: storytelling temos uma mídia e uma história; narrativa transmidiática,
múltiplas mídias e múltiplas histórias que convergem e se complementam.

Transmídia no cinema

As narrativas transmidiáticas são muito usadas no cinema, onde teremos histórias


diferentes da mesma história sendo contadas em filmes diferentes, em
quadrinhos, em livros, em games... E se você conhece o universo da Marvel sabe
do que estou falando. A Marvel e a Disney, que adquiriu os direitos da Marvel
Entertainment Group, exploram muito bem o conceito em seus filmes.
Contudo não são os únicos. Encontraremos em Star Wars, criação do cineasta
George Lucas, cuja saga começou a aparecer no cinema em 1977. Passamos por
Pokémon, pelo seriado Lost, pela série de livros 39 Clues, para citar alguns outros
exemplos. Todos tiveram histórias criadas em mídias diferentes que se
complementam e ajudam a contar a história original, como desdobramentos.
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Estudo de Caso

A Marvel é um exemplo vivo da utilização consciente e muito bem planejada


do conceito de transmídia. Quadrinhos, animações, séries e muitos longas-
metragens transformaram a chamada Saga do Infinito ou Jornada do Infinito
em um fenômeno da cultura pop. Ela atingiu cifras multibilionárias, deixando
muito para trás os valores da HQ de 1990 escrita por Jim Starlin, que serviu de
ponto de partida para as atrações cinematográficas.
A narrativa transmídia na Saga do Infinito. Contando apenas os longas,
foram lançados 32 filmes da saga. Há, ainda, séries, animações e quadrinhos
que se relacionam direta ou indiretamente com os eventos descritos nos filmes
e suas consequências, o que torna difícil dizer exatamente quantas publicações
e outras obras secundárias estão incluídas. A Saga do Infinito apostou em
uma fórmula interessante para conseguir esse feito: a criação de obras que se
completam mutuamente, mas que, separadas, têm existência própria. Então,
é possível compreender as histórias em uma perspectiva macro (o duelo dos
heróis contra o vilão Thanos) ou micro (suas origens e dificuldades locais). E essa
é a magia da narrativa transmídia.
Para SABER MAIS: Dullius, Amanda Amaral, (2015) A franquia Os Vingadores
como parte da narrativa Transmídia do universo cinematográfico Marvel: um
estudo de caso. Trabalho de conclusão de curso, Orientadora: Profª Dra Elaine
Barros Indrusiak. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Disponível em: https://bit.ly/3wXZLML, acessado em 21 de julho de 2023.
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Jeff Gómez, especialista nessa técnica e diretor de vários projetos transmídia para a
Coca-Cola e Disney, listou as oito chaves a seguir:
1. Conteúdo: é criado por um ou vários visionários, que mantém a unificação das
diferentes histórias que podem aparecer.
2. Transmídia: presente desde quando se começa a criar a história e a desenvolver o
projeto, onde são predefinidos os passos para criar uma experiência transmídia
para a narrativa.
3. O conteúdo deve ser distribuído em pelo menos 3 plataformas, em três mídias
diferentes, que dão ao projeto mais variedade e criatividade.
4. O conteúdo é original e exclusivo para cada plataforma, com características
próprias, oferecendo novos elementos da história, melhorando a ação ou
introduzindo novos personagens.
5. O conteúdo mostra uma visão única do mundo narrativo, compartilhada por
vários meios. O mundo narrativo permanece o mesmo.
6. Centralizar diferentes percepções em uma única visão, evita divisões ou
inconsistências no mundo da narrativa.
7. Integração de todos os atores do processo para garantir que compartilhem o
mesmo objetivo e a mesma visão.
8. Participação de usuários é fundamental, seus comentários e ideias mantêm a
visão unificada e viva.
A transmídia vem da demanda de que um único texto não conseguiria abranger todo
o conteúdo da narrativa, que é explorado em outras mídias tais como jogos digitais,
histórias em quadrinhos, sites, vídeos on-line, blogs, redes sociais etc., possibilitando,
através da narrativa transmídia, desenvolver histórias de personagens secundários,
apresentar outras perspectivas da narrativa, ou completar “buracos” da história. Cada
mídia oferece novos níveis de revelação da história original.
A transmídia se apoia em uma tríade: a convergência dos meios de comunicação, a
cultura participativa e a inteligência coletiva. Na prática, portanto, a narrativa transmídia
é uma estratégia normalmente utilizada para:
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1. fazer uma ponte entre um texto principal – geralmente o filme – e suas sequências;
2. prenunciar evoluções no enredo de uma obra;
3. expandir a narrativa ou completar suas lacunas;
4. desenvolver histórias de personagens secundários, outros detalhes e
perspectivas da narrativa;
5. oferecer um apoio para o ingresso de um novo público à franquia;
6. construir universos que não podem ser esgotados em uma só mídia.
Observando as produções midiáticas contemporâneas na indústria do entretenimento,
percebe-se que existem certas peculiaridades que se relacionam com as novas formas
de se contar, recontar e consumir (ouvir/ver/assistir/jogar etc.) histórias. Tais mudanças
resultam do crescente desenvolvimento de objetos midiáticos pertencentes a uma nova
era de produtos culturais híbridos e imersos em redes textuais cada vez mais complexas.

Saiba Mais
Não confunda Transmídia com Crossmedia

Transmídia é a utilização de vários tipos de mídias, nos quais é criada uma


variedade de conteúdos que se completam e nutrem um mesmo universo.

Crossmedia é apenas um espelhamento de um mesmo conteúdo em


vários tipos de mídia.

Exemplificando cada termo:

Crossmedia

• Você pode assistir ao trailer do filme na TV durante o intervalo da novela;

• Ou pode assistir ao mesmo trailer, no início de uma sessão de cinema;


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• E no rádio, você pode escutar o áudio do mesmo trailer.

Na Crossmedia, a diversificação das mídias aumenta o alcance de um mesmo


conteúdo para um número maior de pessoas.

Transmedia

• No YouTube você pode acompanhar trailers do filme, fazer


comentários, avaliar outras opiniões, dialogar com outros usuários
sobre expectativas.

• No site oficial do filme você pode participar de um quiz que dará


ingressos para assistir a trama no cinema para os primeiros que
acertarem as questões.

• No WhatsApp você pode conversar e interagir com um chatbot de


um personagem construído de acordo com a história e saber leves
spoiler sobre a trama do filme, ter acesso ao trailer e informações
sobre o lançamento.

Ou seja…

Na Transmídia, as mídias juntas se completam e tornam o engajamento e a


mensagem muito mais fortes.

E na educação

A transmídia pode ser utilizada ao dividir o tema em grupo para que cada grupo faça uma
abordagem diferente do tema ou de um ponto específico, apresentando em diferentes
mídias, trazendo como fio condutor um tema central de estudo com visões diferentes.
Vamos pensar num clássico: Dom Casmurro de Machado de Assis. O livro traz a visão
de Bentinho, contada por Dom Casmurro (que seria o Bentinho mais velho), sobre sua
relação com a Capitu. Pode ser explorada a visão da Capitu sobre os acontecimentos,
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numa redação; um julgamento simulado do caso de adultério; um blog com os


acontecimentos do livro; a história de Escobar... Com isso, cada grupo poderia trazer
uma proposta diferente, com elementos que preencham as lacunas da história original.
A música Eduardo e Mônica do Legião Urbana, não foi transformada em filme? E
no filme algumas das lacunas da música foram preenchidas, explicadas pela história
levada ao cinema.
A ideia é trazer uma combinação de mídias, criar elementos novos para complementar
o tema de modo que cada grupo, em uma mídia diferente, trouxesse uma parte da
história, ou do tema escolhido para estudo.

Em Resumo
A narrativa transmidiática permite explorar diferentes mídias para compor e aumentar
a profundidade de uma história. Como se todas as perguntas que não foram
respondidas sobre um determinado filme ou livro ou mesmo música pudessem ser
respondidas em outros formatos, apresentadas como pistas que devem ser reunidas
para completar toda a história. Porém, separadamente também continuam a fazer
sentido e são completas em si mesmas.
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Referências Bibliográficas
Ford, S.; Green, J. & Jenkins, H. (2015) Cultura da Conexão - Criando valor e
significado por meio da mídia propagável. São Paulo: Aleph, 2015. Tradução:
Patricia Arnaud.
Jenkins, Henry. (2009) Cultura da convergência. 2. ed. São Paulo: Aleph.
McSill, James. (2013) 5 lições de storytelling: fatos, ficção e fantasia. 1. ed. São Paulo:
DVS Editora.
Murray, Janet. (2003) Hamlet no holodeck: o futuro da narrativa no ciberespaço. São
Paulo: UNESP/Itaú Cultural.
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Você pode acessar o livro base deste tema


na Biblioteca Lirn:
MARTINO, Luís Mauro Sá
Teoria das Mídias Digitais. Linguagens, ambientes e redes.
Editora vozes, 2014

Imagens: Shutterstock

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