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504-65
ILÍADA, HOMERO
Muito bem, meus caros! Lentamente, estamos formando muito mais do que
um clube de leitura. O Seminário é uma experiência para a nossa vida. Nós lemos
juntos, quem analisa sou eu, vocês mandam as perguntas – e nós vamos crescendo
juntos numa leitura que é sempre aprofundada. Uma das características do
seminário é exatamente essa. Ninguém tem a angústia da pressa. Nós acabamos
de ler A República, de Platão, e fizemos uma leitura minuciosa. Muita gente me
escreveu dizendo que foi uma experiência incrível, e que, se não fosse da forma
como fizemos aqui, nunca teria lido A República, que é um dos textos centrais do
pensamento ocidental.
O nosso trabalho é fazer uma leitura que não seja apenas técnica – insisto
nisso. Em breve, sairá um livro meu sobre o papel da literatura, no qual
desenvolvo a minha tese de que a literatura é inseparável da vida. Não podemos
tratá-la apenas como texto, mas, sim, como parte intrínseca da vida. A nossa
existência cotidiana pode e consegue encontrar respostas para as nossas
interrogações, sejam elas de que tipo forem, na literatura. Ao mesmo tempo, a
literatura nos interroga e faz com que pensemos mais a respeito da nossa própria
vida e nossas decisões. Ler, e ler clássicos, é uma experiência incrível. Esta é a
caminhada que estamos fazendo aqui, juntos.
Estamos aqui para a nossa primeira aula sobre Homero e a Ilíada. Antes de
entrarmos no texto homérico e começarmos a realmente ler a Ilíada, precisamos
de uma introdução que nos ajude a habitar no texto homérico, compreendendo as
características temáticas e formais que compõem o poema. Isso não é nenhuma
novidade para quem está no seminário desde o início. Nós nunca vamos direto ao
texto. Toda obra, e sobretudo as clássicas, precisa de uma contextualização.
Em primeiro lugar, acho que não é novidade para ninguém que Homero é
um desconhecido. Nós não temos dados biográficos certos sobre ele. Muitos
estudiosos até mesmo duvidam até hoje de que ele tenha sido uma pessoa real e
concreta. O problema começa pelo próprio nome dele: a palavra grega
“Homeros” significa, como substantivo, “empenho”, no sentido de insistência
obstinada, tenacidade, e também significa “refém”, como um prisioneiro. Esta
mesma palavra pode ser usada também como adjetivo, e, neste caso, significa
“cego”. Para os antigos, apesar da importância que o testemunho ocular de alguém
sempre teve, o estado de cegueira poderia implicar numa sabedoria que surge da
contemplação e da meditação das coisas interiores e transcendentes. É como
NANDO MORAES: Não fiz o Platão. Não sabe como estava com saudades
das suas aulas! Mesmo quando você me puxa as orelhas, como hoje.
Muito bem, pessoal! Foi isso. Até quarta feira, no nosso áudio. Um abraço!