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INTRODUÇÃO
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Doutorando em História, Mestre em Cultura e Sociedade (Ufma), Especialista em Teoria e Metodologia
da História (Cesc/Uema), Graduação em História (Uema), Professor da rede pública estadual e
municipal.Email:cienciashumanasemfoco@gmail.com
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É digno de nota, que a única referência bibliográfica, sobre a questão indígena no Maranhão no século
XIX que tive contato, embora de viés antropológico, foi a obra de Elizabeth Maria Beserra Coelho.
A política indigenista no Maranhão provincial. São Luis: SIOGE, 1990
dinâmico processo de ocupação do território do Alto Mearim maranhense pelos povos
indígenas, e o consequente processo de territorialização.
A pesquisa partiu do contato com um vasto acervo documental do século XIX,
relacionado à política indigenista no Maranhão imperial, ofícios trocados entre os
diretores das Colônias indígenas e os Presidentes da Província, correspondências dos
missionários e relatórios dos Presidentes da Província do Maranhão.
Do mais, o contato com leituras específicas em especial da Nova História
indígena3, foram lançando luz e fazendo emergir novas questões norteadoras, vinculadas
ao objeto proposto para a análise, tais como: Onde e como estão assentadas
territorialmente as populações indígenas na segunda metade do século XIX na
província do MA? Quantos e quem são os Diretores Gerais de índios na Província do
MA? A quais famílias petencem? São pessoas de transito? Quantos aldeamentos?
Temos quantas colônias indígenas? Quem foram os diretores dessas colonias? Quais
prosperaram e quais fracassaram? E quais os aspectos motivadores? Como se
estabelecia as relações econômicas e comerciais , nas colonias, aldeias e diretorias
indígenas na provincia do MA na segunda metade do século XIX? Qual o papel
desempenhado pelos índios nessas relações? É possivel se identificar relações
comerciais ou de trocas dos indígenas com sujeitos externos as colônias, aldeias e
diretorias parciais de índios? Como se deu o trabalho missionário nesses espaços
indigenas? Quais ordens religiosas se destacavam?
Consequentemente, as leituras e discussões realizadas nas disciplina do
doutorado, diga-se de passagem, “Teoria da História”, “História, Território e Sertão” e
“Seminário de Pesquisa”, contribuiram para que o meu projeto inicial fosse
redimensionado numa escala temporal e espacial, buscando novas conexões e ampliação
da escala espacial de análise, que convergiu numa proposta de “desbacabalização”, a
qual consistiu em não reduzir e limitar a minha analíse ao específico território do
município de Bacabal-MA, cuja problemática inicial versava sobre a compreensão da
ocupação desse território mediante a instalação de uma colônia indígena, denominada
Leopoldina. Mas entender que a mesma estaria imbricada a uma complexidade de
políticas mais amplas, por parte do Estado Imperial, e que esssas espacalidades
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Maria Regina Celestino de Almeida (2010) – Os índios na História do Brasil; John Manuel Monteiro
(1996) – Negros da Terra; Manuela Carneiro Cunha (1998) – Política Indigenista no Século XIX; Patrícia
Melo Sampaio (2014) – Política indigenista no Brasil imperial;Lígia Osório Silva (1999) – Terras
devolutas e latifundio: efeito da Lei de 1850; Soraia Sales Dornelles (2017) – A Questão Indígena e o
Império: índios, terra, trabalho e violência na Província Paulista 1845-1891.
destinados as populações indígenas distintas, seriam territórios definidos e delimitados
por e a partir de relações de poder.
Ao ampliar a contextualização e interpretação da delimitação temática, convém
destacar que a civilidade, assimilação e a integração do índio à sociedade mediante o
poder disciplinar e o processo de catequese e civilização, denotavam as
intencionalidades imperiais quanto a apropriação das espacialidades e territórios
indígenas no Maranhão provincial e concomitantemente o aproveitamento dos braços
indígenas para o trabalho4. Logo, uma regularidade discursiva identificada nos
documentos ate aqui analisados, enfatiza o “amor ao trabalho e a vida
social”,configurado como uma forma violenta pelo qual o discurso civilizador tenta
englobar os indígenas. Cabendo aos diretores ensinar tais índios a lavrar a terra à
maneira do país, seguindo o projeto de nação em curso .
Tal discursividade também estava implícita na base legal da Política Indigenista
Imperial, a qual se materializaria nas Diretorias e Colônias indígenas,em cuja
delimitação temática denomino de “Espacialidades de Assimilação Nativa”, todavia,
nesses espaços ocorreria a catequese e civilização dos nativos, visto que em 1845, pelo
Decreto nº 426 de 24 de julho, foi criado o Regulamento acerca das Missões de
Catequese e Civilização dos Índios e a civilização de indígenas e catequese passaram a
ser uma forma de política de estado, o qual renovava o objetivo do Directório, e visava,
portanto, à completa assimilação dos índio.
A partir do Regulamento das Missões indago quais ações foram implementadas
no Maranhão? Buscando identificar mediante os relatórios dos presidentes de província
as ações em curso a partir do Regulamento das Missões, assim como novas ações por
parte do Império. Assim , como os efeitos e reflexos da Lei de terras de (1850), sobre os
espaços e territórios indígenas no Maranhão na segunda metáde do século XIX.
Visto que ao tangenciar a questão da “Terra” no século XIX, observa-se um tríplice
domínio sequencial, domínio (régio, público e privado); desse modo, a questão indígena
no século XIX, segundo Cunha (1998) é uma questão de “Terra”. A lei de Terras deu
aos índios o usufruto da mesma, mediante a sua condição de “Ser índio” não o seu
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No relatório de (1856), destaca-se a informação de que os guajajaras da Barra do Corda mostravam
maior disposição para o trabalho e para viverem em sociedade, sendo dóceis, pacíficos, laboriosos e com
aptidão para o trabalho, amigos da paz, hospitaleiros e fieis. Construiram as casas da nascente vila da
Barra do Corda.Fabricavam toda a farinha consumida na Vila da Barra do Corda em grandes roças.Sendo
criado naquela Vila um corpo de trabalhadores formado de índios, imbuidos da missão da abertura de
estradas entre as Vilas da Chapada e a Barra do Corda, Pedreiras, Anajatuba e Caxias.
domínio, sendo possível a propriedade mediante seu processo de integração e
assimilação a sociedade e o bom comportamento apresentado.
REFERÊNCIAS
AGNES, Heller. O cotidiano e a história. São Paulo: Paz e Terra, 2000:20.
BENJAMIN, Walter. Teses sobre o Conceito de História. In: Sobre Arte, Técnica,
Linguagem ePolítica. (Trad. Maria Luz Moita, Maria Amélia Cruz e Manuel Alberto;
Prefácio de TheodorAdorno); Lisboa: Antropos, 1992.
CUNHA, Manuela Carneiro da. Política indigenista nos século XIX. In: História dos
índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1998 [1992], p. 133-154.
FOUCAULT, Michel. Microfisica do Poder. 11. ed., Rio de Janeiro: Graal, 1997.
SILVA, Ligia Osorio. Terras devolutas e latifndio: efeitos da lei de 1850. 2a ed.
Campinas, sp: Editora da Unicamp, 2008.