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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PERNAMBUCO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
LINGUAGEM E CONHECIMENTO EM ADMINISTRAÇÃO
PROF. DR. GUILHERME MOURA

DAIANA AMORIM FERREIRA

RESUMO CRÍTICO
AUSTIN, John L. Quando dizer é fazer: palavras e ação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990. (cap.
1 a 8)
Os estudos de Austin investigaram os enunciados numa linha distinta a dos trabalhos
tradicionais que priorizavam o caráter descritivo da língua por meio de sentenças que continham
declarações sobre o estado de coisas. Até mesmo os grandes pensadores da filosófia lógica, como
Kant, estão cientes de que nem toda setença era uma declaração, partindo desse ponto ignorado dos
estudos , é que Austin passou a delimitar uma categoria singular de enunciados. O objeto de estudo
de sua abordagem são os proferimentos performativos, que seriam sentenças (a) que nada
descrevem, nem relatam, nem constatam, e nem são tomadas como verdadeiras ou falsas. Esses
proferimentos constituem ainda no todo ou em parte, a realização de uma ação.
Os performativos abrangem situações em que o proferimento de certas palavras é uma das
ocorrências do ato, portanto, a fala não é um evento isolado, estando apoiada em um conjunto de
circunstâncias apropriadas. Algumas dessas circunstâncias são condições de “sucesso”, basicamente
Austin elenca seis regras que devem ser respeitadas, caso contrário, os atos resultarão mal logrados:
A existência de procedimento convencional aceito (A1); A adequação das pessoas e circunstâncias
ao procedimento invocado (A2); A execução correta (B1) e completa (B2); a correspondência entre
o proferimento e pensamentos e sentimentos (Γ1); a manifestação de comportamentos esperados
subsequentemente (Γ2). A omissão das condições dada por A e B acarretam problemas chamados
de desacertos (misfire), que são atos pretendidos, porém nulos, enquanto os problemas de violação
das condições Γ, são classificados como abusos, isto é, atos professados, mas vazios.
As faltas dessas condições esquematizadas por Austin constituem tipos de infelicidades dos
performativos. Entre os casos de infelicidade por desacerto (AB), alguns ocorrem por não haver
procedimento (A1-I) ou não haver procedimento aceito (A1-II) ou situações em que o proferimento
é invocado por pessoas ou circunstâncias que não são apropriadas, estes casos formam os desacertos
decorrentes de más invocações. Nos casos de B, os desacertos tem ligação com falhas de execução
dos procedimentos, por uso inadequado de fórmulas (acarretando ambiguidade, por exemplo), ou
por incompletude do ato – se prometo, o interlocutor precisa ter entendido como tal. É óbvio que o
autor chama atenção para o fato de que esse esquema não encerra um modelo completo e fechado,
havendo outras dimensões para a ocorrência de infelicidades (acidentes, estiolamento, mal
entendidos, são citados). Essas condições também podem combinar-se ou sobrepor, sendo alguns
casos bastantes problemáticos de se definir entre uma situação A2 e B1, ou qualquer outras
associações.
Os casos de Γ1 e Γ2 tem relação com insinceridades e infrações e também como não
cumprimento (comportamentos subsequentes). Essas ocorrências não tornam o ato nulo, mas
definem se foi feliz ou infeliz. Quando tem-se um proferimento insincero, temos uma mentíra em
um ato de fala do tipo assertivo. O fato de que certos proferimentos constragem a determinados
tipos de comportamentos subsequentes leva o autor a fazer algumas considerações sobre as
conexões entre as declarações e os performativos. Em algumas sentenças performativas é possível
visualizar presuposições e implicações ao modo das proposições lógicas e traçar ligações entre as
condições de verdade ou falso das circunstâncias e a felicidade ou infelicidade de seus atos de fala.
O autor resume a problemática, constatando que tanto as considerações de infelicidades podem
infectar as declarações como as considerações de falsidade e verdade podem infectar performativos
em alguns casos.
É dificil demarcar a categoria dos performativos pois se corre o risco de ser reducionista,
uma forma de tentar abarcá-los é focar nos casos em que se tem a primeira pessoa no presente do
indicativo da voz ativa, apesar de diversas ressalvas feitas pelo próprio autor, há nessa forma uma
assimetria sistemática que a torna gramaticalmente mais usual que as demais. Outro ponto
importante no estudo das setenças performativas são seus verbos característicos. Os verbos
performativos explícitos em geral derivam de formas primárias (peço desculpas-lamento-arrependo-
me). Contudo, muito mais que submetê-los a uma classificação e categorização, é mais relevante
que se analise a força ilocucionária desses verbos como visto em informar, ordernar, prevenir,
aconselhar (proferimentos que tem força convencional). O autor denomina como perlocucionários,
os atos que produzem efeito sobre os sentimentos e pensamentos das pessoas, como convencer,
persuadir, impedir, confundir.

A delimitação dada por Austin no cap. 1, na verdade, não é rígida, já que em alguns casos os
performativos podem ser classificados como verdadeiro e falso com base em suas presuposições e
implicações?

Quais os critérios para se considerar que o ato foi realizado por completo (B2)? A realização de
atos subsequentes sempre se faz presente ou existem atos unilaterais, quais?

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