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Desempenho Térmico e

Energético em Edificações
nos Trópicos
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização

∙ Organização ∙
Ricardo Victor Rodrigues Barbosa
Jéssica Daiane Santos Pereira

Coleção Conforto Ambiental


Volume 1
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
Ricardo Victor Rodrigues Barbosa
Jéssica Daiane Santos Pereira
(Organizadores)
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização

DESEMPENHO TÉRMICO E ENERGÉTICO


EM EDIFICAÇÕES NOS TRÓPICOS

Coleção Conforto Ambiental


Volume 1

Editora CRV
Curitiba – Brasil
2023
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Designers da Editora CRV
Revisão: Os Organizadores

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)


CATALOGAÇÃO NA FONTE
Bibliotecária responsável: Luzenira Alves dos Santos CRB9/1506

Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização


B2236

Barbosa, Ricardo Victor Rodrigues, org.


Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos / Ricardo Victor Rodrigues
Barbosa; Jéssica Daiane Santos Pereira (organizadores) – Curitiba: CRV: 2023.
182 p. (Coleção Conforto Ambiental, v.1)

Bibliografia
ISBN Coleção Digital 978-65-251-4673-7
ISBN Coleção Físico 978-65-251-4672-0
ISBN Volume Digital 978-65-251-4674-4
ISBN Volume Físico 978-65-251-4675-1
DOI 10.24824/978652514675.1

1. Arquitetura 2. Conforto térmico 3. Ventilação natural 4. Estratégias Bioclimáticas


I. Pereira, Jéssica Daiane Santos, org. II. Título III. Coleção conforto ambiental, v.1

CDU 62:331.45 CDD 720.47


Índice para catálogo sistemático
1. Arquitetura – conforto térmico – 720.47

2023
Foi feito o depósito legal conf. Lei nº 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV
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Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
Reitor | Josealdo Tonholo

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO


Diretor | Fernando Antônio de Melo Sá Cavalcanti

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO


Coordenador | Ricardo Victor Rodrigues Barbosa

COMISSÃO EDITORIAL | PPGAU


Juliana Michaello Macêdo Dias
Morgana Maria Pitta Duarte Cavalcante
Ricardo Victor Rodrigues Barbosa
Roseline Vanessa Santos Oliveira

Esta publicação foi financiada com recursos do PROAP-Capes por meio de


Edital interno do PPGAU-UFAL
Sumário

Apresentação 9
Ricardo Victor Rodrigues Barbosa
Jéssica Daiane Santos Pereira

Diretrizes construtivas em normas brasileiras para conforto


passivo em habitações
11
Iuri Ávila Lins de Araújo
Leonardo Salazar Bittencourt
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DOI: 10.24824/978652514675.1.11-48

Configuração das aberturas para ventilação natural:


contribuições para normas brasileiras
49
Isabela Cristina da Silva Passos Tibúrcio
Leonardo Salazar Bittencourt
DOI: 10.24824/978652514675.1.49-84

Influência de muros vazados laminados no desempenho da


ventilação natural em habitações de interesse social
85
Isabely Penina Cavalcanti da Costa
Ricardo Victor Rodrigues Barbosa
DOI: 10.24824/978652514675.1.85-126

Influência de medidas de conservação de energia no desempenho


energético: estudo de caso de um hotel econômico de pequeno
127
porte em Maceió, AL
Natalia Moura Gomes Leal
Juliana Oliveira Batista
DOI: 10.24824/978652514675.1.127-172

Índice remissivo 173

Sobre os organizadores 177

Sobre os autores 179


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Apresentação

Apresentamos, com entusiasmo, o presente livro que aborda a temática do


desempenho térmico e energético em edificações em climas tropicais. Com foco
dedicado à área de conhecimento sobre Conforto Ambiental, esta obra é de extrema
relevância para profissionais, pesquisadores e estudantes interessados em compreen-
der como as edificações respondem às condições climáticas desafiadoras dos trópi-
cos. O livro busca discutir soluções projetuais e tecnologias eficientes que buscam
não apenas reduzir o consumo energético, mas também proporcionar ambientes
internos mais saudáveis e adequados ao clima local.
A temática do Conforto Ambiental tem sido abordada no âmbito do Programa
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de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, com área de concentração em Dinâ-


micas do Espaço Habitado, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universi-
dade Federal de Alagoas. O recorte de temas sobre conforto térmico e eficiência
energética tem sido abordado nos grupos de pesquisa GECA (Grupo de Estudos em
Conforto Ambiental) e GATU (Grupo de Estudos da Atmosfera Climática Urbana),
em investigações científicas que tem embasado dissertações de mestrado e teses
de doutorado, dentre as quais quatro compõem os capítulos desta obra.
O primeiro capítulo foi extraído da tese de doutorado de Iuri Ávila Lins de Araújo,
orientada pelo Professor Leonardo Salazar Bittencourt, intitulada “Eficácia de dire-
trizes construtivas para HIS unifamiliar no Brasil com base no conceito de conforto
adaptativo” e defendida em 2021. Este capítulo apresenta uma análise detalhada
sobre as diretrizes construtivas em normas brasileiras para conforto passivo em
habitações. O edifício é abordado como um mediador entre as condições climáticas
e o conforto térmico humano, com função de maximizar o conforto a partir de suas
características projetuais e construtivas. Para isso, são apresentadas diversas estra-
tégias passivas de conforto térmico que podem ser aplicadas em uma edificação.
Além disso, é discutida a diversidade climática no território brasileiro e propostas
para sua classificação, como base à normatização da adaptação do edifício ao clima.
A investigação também apresenta as diretrizes construtivas para habitação presentes
nos instrumentos normativos brasileiros, com vistas a uma maior eficácia de estra-
tégias passivas de conforto. São discutidas as atuais propostas de revisão desses
instrumentos normativos, com o objetivo de torná-los mais eficientes.
O capítulo seguinte foi extraído da tese de doutorado de Isabela Cristina da
Silva Passos Tibúrcio, também sob orientação do Professor Leonardo Salazar Bit-
tencourt, intitulada “Ventilação natural em edificações residenciais: parâmetros
normativos para configuração das aberturas”, defendida em 2017. Seguindo com as
análises de normativas, o Capítulo 2 aborda a ventilação natural como um dos ele-
mentos fundamentais que influenciam significativamente a sensação de conforto
térmico em ambientes internos de edificações em clima tropical. A investigação
buscou identificar parâmetros de configuração das aberturas que possam contribuir
para o aprimoramento das Normas Brasileiras de desempenho a partir de análises
paramétricas por meio de simulações computacionais. Dessa forma, a investigação
apresenta-se como uma contribuição para o cumprimento das normas existentes,
10 Apresentação

com vistas a otimizar a utilização da ventilação natural e, por conseguinte, promover


um ambiente construído mais sustentável, eficiente e termicamente confortável.
Ainda com abordagem da ventilação natural como estratégia bioclimática para
as edificações nos trópicos, o Capítulo 3 traz um recorte da dissertação de mestrado
de Isabely Penina Cavalcanti da Costa, orientada pelo Professor Ricardo Victor Rodri-
gues Barbosa, intitulada “Influência de muros vazados laminados no desempenho
da ventilação natural em habitações de interesse social” e defendida em 2018. A
investigação apresenta o contraponto de que a eficácia da ventilação natural em
unidades habitacionais de interesse social é frequentemente comprometida pela
presença de obstáculos ao redor das edificações, como a construção de muros. Desse
modo, apresenta-se uma avaliação sobre a influência de diferentes tipos de muros no
desempenho da ventilação natural em edificações, por meio de análises paramétricas

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com aplicação de simulações computacionais que consideraram o posicionamento,
direcionamento e porosidade do componente laminado, bem como o ângulo de
incidência do vento. A partir das análises realizadas, destacou-se a necessidade de
combinar a utilização de muros vazados com outras estratégias projetuais, a fim de
otimizar o desempenho global da ventilação natural em edificações.
Por fim, o Capítulo 4 apresenta uma fração da dissertação de mestrado de Natá-
lia Moura Gomes Leal, sob a orientação da Professora Juliana Oliveira Batista, intitu-
lada “Influência de medidas de conservação de energia no desempenho energético:
estudo de caso de um hotel econômico de pequeno porte em Maceió-AL”, defendida
em 2018. A investigação consistiu em identificar medidas de conservação de energia,
por meio de análises paramétricas da composição da envoltória, que viabilizassem a
redução do consumo de energia em um hotel representativo da categoria econômica
de pequeno porte, localizado na cidade de Maceió-AL. O estudo de caso foi analisado
por meio de Avaliação Pós-Ocupação (APO) e simulação computacional. Os resul-
tados obtidos indicaram que a aplicação de medidas de conservação de energia na
cobertura da edificação experimentou uma economia energética mais significativa
do que a aplicação de tais medidas nas superfícies verticais da envoltória. Além disso,
constatou-se que quanto maior a temperatura média mensal externa da cidade,
maior é o potencial de economia de energia advindo das medidas implementadas.
A partir dessas pesquisas, espera-se que o presente livro contribua para apri-
morar o entendimento e a aplicação de estratégias bioclimáticas nas edificações,
com vistas à elaboração de projetos arquitetônicos energeticamente eficientes e
termicamente confortáveis frente aos desafios impostos pelas condições climáticas
dos trópicos.
Boa leitura!

Ricardo Victor Rodrigues Barbosa


Jéssica Daiane Santos Pereira
Diretrizes construtivas em normas brasileiras
para conforto passivo em habitações

Iuri Ávila Lins de Araújo


Leonardo Salazar Bittencourt

DOI: 10.24824/978652514675.1.11-48

Introdução
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O presente trabalho teve por objetivo fazer uma revisão acerca de diretrizes
construtivas em normas brasileiras para obtenção de conforto térmico passivo em
moradias e traçar um quadro atual de questões relevantes sobre o tema. O edifício
foi abordado como um mediador entre as condições climáticas e as condições
do conforto térmico humano, com função de maximizar este conforto a partir
de suas características projetuais e construtivas. As informações apresentadas
se destinam a estudantes, professores e profissionais que buscam compreender
os diferentes aspectos envolvidos nesse tema. O texto se divide em três partes
principais, que se sucedem a partir desta introdução. A primeira parte aborda
possibilidades de avaliação do conforto térmico passivo no edifício, a partir do
que vem sendo aplicado em estudos no Brasil. A segunda parte trata da diversi-
dade climática no território brasileiro e de propostas para sua classificação, como
base à normatização da adaptação do edifício ao clima. A terceira e última parte
descreve as diretrizes construtivas para habitação em instrumentos normativos
brasileiros, visando a uma maior eficácia de estratégias passivas de conforto, e
discute as atuais propostas de revisão desses instrumentos normativos.

1. Consumo de energia para fins de conforto em moradias brasileiras

De acordo com o Balanço Energético Nacional (MME; EPE, 2019), o con-


sumo final de eletricidade no Brasil em 2018 registrou aumento de 1,4%, seguindo
a tendência de aumento dos últimos anos. Residências consumiram 25,4% da
eletricidade nesse mesmo ano, superando o setor comercial e público, juntos. O
aumento do consumo no setor residencial em relação ao ano anterior foi de 1,3%,
superando o aumento no setor industrial e comercial.
O uso de ar-condicionado é visto pela população como melhoria da qua-
lidade de vida, por causa do frequente desconforto térmico nos edifícios. Esse
desconforto é especialmente frequente em habitação de interesse social (HIS),
pela tendência à padronização e à priorização do baixo custo de produção das
unidades. Em 2005, o condicionamento ambiental artificial já era responsável
por 20% do consumo de eletricidade em residências brasileiras, ficando pouco
abaixo do consumo com chuveiro elétrico e refrigerador. Na região Norte, ele
representava 40% do consumo das residências (ELETROBRAS, 2007). Entre o
12 Diretrizes construtivas em normas brasileiras para conforto passivo em habitações

ano de 2005 e 2018, a posse de condicionadores de ar em residências no Brasil


aumentou 6,2 pontos percentuais e passou a estar presente em 16,7% das resi-
dências, ocorrendo em 5,2% das moradias de famílias com renda de até quatro
salários-mínimos e em 60,2% das moradias de famílias com renda acima de 20
salários-mínimos (ELETROBRAS, 2019).
Triana, Lamberts e Sassi (2015) constataram a partir da análise do censo do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE 2010 que unidades unifamilia-
res autônomas representavam 85% das moradias urbanas particulares no Brasil.
Uma parcela de 49,2% dessas moradias pertencia à população com renda familiar
de até três salários-mínimos. A envoltória da maior parte (35%) de uma amostra de
68 projetos de habitação de interesse social (HIS) no Brasil, concluídos entre 2012
e 2014, alcançou classe de eficiência energética “D” e “E”, nas zonas bioclimáticas

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três e oito (TRIANA; LAMBERTS; SASSI, 2015), respectivamente e considerando
a escala do RTQ-R (INMETRO, 2012). A tipologia HIS unifamiliar, segundo esse
levantamento, é caracterizada por moradias com dois dormitórios, área cons-
truída variando entre 38 m² e 55 m², como o exemplo da Figura 1, com paredes
em alvenaria rebocada e cobertura em telhado e forro. Área de abertura variando
entre 12% e 29% da área útil, na zona social, e entre 12% e 19%, nos dormitórios.

Figura 1 | Exemplo de HIS unifamiliar no Brasil

Fonte: Adaptado de Cadernos CAIXA: projeto padrão – casas populares – 42m² [12].

A expansão acentuada do consumo de energia tende a esgotar os recursos


naturais e a gerar outros impactos ambientais. Diferentes instituições brasileiras
têm promovido o consumo eficiente de energia, com o objetivo de conter o cres-
cimento da demanda, sem comprometer o crescimento econômico do país e a
qualidade de vida da população.
O clima é fator relevante para o conforto térmico nos edifícios. Estratégias
bioclimáticas são diretrizes de projeto que promovem a adaptação do edifício ao
clima, a fim de maximizar o conforto por meios passivos. Diretrizes construtivas
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 13

conduzem à aplicação eficaz de estratégias bioclimáticas no projeto e podem ser


determinantes para o desempenho térmico dos edifícios, contribuindo assim
para inibir o consumo de eletricidade para fins de conforto. Meios passivos para
conforto são aqueles que não dependem de aparelhos eletromecânicos, que con-
somem energia elétrica, mas apenas de características do clima, da forma e da
envoltória do edifício.
A criação de normas e regulamentos para orientar a produção dos edifícios
residenciais está entre as ações mais relevantes nos últimos 20 anos. A publica-
ção da norma NBR 15220-Desempenho Térmico de Edificações (ABNT, 2005),
a publicação do Regulamento Técnico para a Qualidade do Nível de Eficiência
Energética das Edificações Residenciais (RTQ-R) (INMETRO, 2012) e a publicação
da norma NBR 15575-Edificações Habitacionais-Desempenho (ABNT, 2013), for-
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maram um processo contínuo de aperfeiçoamento de instrumentos que buscam


induzir a elevação do desempenho térmico das moradias no país. Essas normas
estão atualmente passando por processo de revisão. Também estão em processo
de revisão a norma NBR 16401-Instalações de Ar-condicionado, Sistemas Centrais
e Unitários, Parte 2, Parâmetros de Conforto Térmico (ABNT, 2008a; ABNT, 2022a),
e Parte 3, Qualidade do Ar (ABNT, 2008b; ABNT, 2022b). As novas versões desses
instrumentos normativos deverão ter influência significativa sobre a prática de
projeto de arquitetos e, com isso, influenciar o desempenho dos edifícios nos
próximos anos, no Brasil.
A publicação do RTQ-R (INMETRO, 2012) e da NBR 15575 (ABNT, 2013) intro-
duziu a opção de avaliar o desempenho do projeto por meio de simulação compu-
tacional. Há expectativas de que o método de avaliação baseado em simulação
computacional atenda às demandas de informação de projetistas, induzindo a
projetos de melhor desempenho. No entanto, as decisões tomadas nas primeiras
etapas do processo de projeto arquitetônico são as mais impactantes no desem-
penho térmico (VENÂNCIO, 2012). Nessa etapa, ocorre a concepção de projeto
e não há ainda definições sobre a proposta, mas apenas opções e suposições. É
improvável que o teste das suposições ocorra nas etapas preliminares de projeto
por simulação (GRAÇA; KOWALTOSKI; PETRECHE, 2011). Estudos de caso e entre-
vistas mostram que arquitetos não têm aplicado tais ferramentas como suporte
a decisões de projeto (WILDE, 2004; MACIEL, 2007; VENÂNCIO, 2012), enquanto
o uso de intuição e do suporte por métodos prescritivos é mais frequente na con-
cepção de projeto de arquitetos (WILDE, 2004; VENÂNCIO, 2012). A avaliação
pós-concepção por meio de simulação computacional é um meio eficaz para testar
suposições e promover o aperfeiçoamento do projeto, mas se as primeiras decisões
não o orientaram com vistas à obtenção do desempenho pretendido, este terá de
passar por alterações repetidas e profundas, até alcançar seu objetivo. Isso pode
comprometer a integridade do projeto e significa geralmente transtornos para as
partes envolvidas (HOPFE; STRUCK; HENSEN, 2006). Assim e apesar de novas
ferramentas computacionais continuarem surgindo, as diretrizes construtivas
contidas em métodos prescritivos continuam representando um suporte relevante
ao projeto arquitetônico.
14 Diretrizes construtivas em normas brasileiras para conforto passivo em habitações

1.1 Avaliação do conforto térmico no edifício

O conforto térmico é um requisito dos mais importantes para a qualidade


de moradias. Segundo a ANSI/ASHRAE Standard 55 (2017), conforto térmico é um
estado de espírito que expressa satisfação com o ambiente térmico. O conforto
térmico é determinado por fatores físicos, relacionados às trocas de calor, mas
também por fatores fisiológicos e psicológicos como: reação, adaptação, percep-
ção e expectativa. As definições de conforto térmico implicam na ausência de
sensações desconfortáveis ou estresse térmico, que se manifestam por dois pares
de sensações, que surgem como resposta do indivíduo ao ambiente. O primeiro é
o par formado por sensação de calor ou de frio. O segundo par de sensações está
relacionado à transpiração: sensação de pele muito seca ou de pele muito úmida

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(GIVONI, 1998).
O corpo humano produz calor continuamente, devido a seus processos meta-
bólicos, que variam com a atividade física. Esse calor precisa ser dissipado para o
meio, ou haverá sobreaquecimento do corpo, o que acarretaria sensação de calor
no indivíduo. No entanto, se o corpo perde calor demasiadamente para o meio,
não conseguirá manter-se aquecido, gerando assim a sensação de frio. A troca de
calor com o meio é contínua e ocorre por meio da pele e da respiração. A umidade
da pele depende da taxa de secreção e de evaporação do suor. A secreção de suor
na pele é contínua e seu aumento é uma reação do organismo ao sobreaqueci-
mento. A evaporação do suor é um processo que retira calor da pele e ajuda no
resfriamento do corpo. Mas se for restringida ou excessiva, produzirá as sensações
de pele úmida ou de pele seca.
O ambiente influencia as trocas de calor pelos processos de radiação, con-
dução, convecção e evaporação. Essas trocas dependem respectivamente da
temperatura das superfícies e também da temperatura, umidade e velocidade
do ar. O indivíduo influencia essas trocas por meio de sua atividade e vestimenta.
O conforto térmico pode ser também definido como um conjunto de condições
microclimáticas consideradas confortáveis ou aceitáveis no interior do edifício
(GIVONI, 1998). O estudo sobre avaliação do conforto térmico busca estabelecer
a condição necessária para um ambiente ser termicamente adequado à ocupação
humana. Essa condição é geralmente denominada de zona de conforto.
Os estudos da avaliação de conforto térmico visam ainda estabelecer méto-
dos para avaliar o desempenho do edifício, com base em objetivos de satisfação e
desempenho dos ocupantes, além da conservação energética. Há duas abordagens
na avaliação do conforto térmico: a analítica e a adaptativa. A primeira teve início
com pesquisas de Ole Fanger em câmaras climatizadas e apoia-se no conceito de
neutralidade térmica, que representa o conforto como uma condição universal de
equilíbrio entre a produção de calor de um indivíduo médio e sua troca com o meio.
A segunda abordagem teve início com as pesquisas de campo de Michael Hum-
phreys e apoia-se no conceito de adaptação, que representa o conforto térmico
como uma condição variável e influenciada por fatores fisiológicos, psicológicos
e comportamentais de grupos humanos (LAMBERTS et al., 2014).
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 15

A abordagem estática deu origem ao modelo de cálculo Voto Médio Previsto


(PMV, na sigla em inglês), que passou por desenvolvimentos sucessivos e tornou-se
o método de avaliação de ambientes climatizados, constando atualmente em
normas como a ANSI/ASHRAE Standard 55 (ANSI; ASHRAE, 2017) e a ISO-7730
(ISO, 2005).
O fenômeno adaptativo despertou o interesse de pesquisadores a partir
da constatação de que a resposta dos indivíduos em ambiente climatizado dife-
ria da sua resposta em ambientes naturalmente ventilados. As pessoas toleram
variações e intervalos maiores de temperatura quando na condição natural à qual
estão adaptadas (LAMBERTS et al., 2014). A Figura 2 mostra a tendência na acei-
tabilidade térmica de indivíduos em ambiente naturalmente ventilado, expondo
a diferença entre esta e sua previsão feita pelo método PMV.
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Figura 2 | Comparação entre a resposta de indivíduos sobre sua sensação térmica


e a resposta prevista pelo método PMV, em ambiente ventilado naturalmente

Fonte: Adaptado de DeDear e Brager (2002).

Givoni (1992) propôs um método prescritivo de análise climática, para adap-


tação do edifício ao clima. A Figura 3 mostra a zona de conforto proposta na Bio-
climatic Building Confort Chart (BBCC) (GIVONI, 1992). Essa proposta estimava a
temperatura interna, a partir de dados de temperatura e umidade externas. Ela
também propunha uma zona de conforto específica para países quentes e em
desenvolvimento, considerando atividade sedentária e roupa comum de verão,
em ambiente doméstico. Essa zona estendia-se de 20°C a 29°C de temperatura de
bulbo seco e 4 g/kg a 17 g/kg de umidade absoluta (à sombra), e diferenciava-se da
zona para países desenvolvidos por 2°C a mais no limite superior de temperatura
do ar e mais 2 g/kg no limite superior de umidade absoluta. O autor dessa proposta
16 Diretrizes construtivas em normas brasileiras para conforto passivo em habitações

buscava compensar as limitações de duas das principais propostas até aquele


momento: Zona de Conforto da ASHRAE (ASHRAE, 1985) e Carta Bioclimática de
Olgyay (OLGYAY, 1963). A zona de conforto proposta pela ASHRAE foi feita para
ambientes climatizados e por isso subestimava a tolerância a temperaturas acima
de 27°C e a velocidades do ar acima de 0,2m/s. Essa tolerância podia ser observada
especialmente em habitantes de países quentes e em desenvolvimento, onde a
maioria da população estava habituada a ambientes naturalmente ventilados,
sem dispor de equipamentos eletromecânicos para conforto térmico. Já a Carta
Bioclimática de Olgyay usava dados de temperatura externa, não considerando as
diferenças entre temperatura interna e externa, que sofre influência de estratégias
passivas para conforto térmico nos edifícios.

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Figura 3 | Zona de conforto proposta por Givoni

Fonte: Adaptado de Givoni (1992).

Bogo et al. (1994) compararam a BBCC de Givoni com propostas alternativas


de Olgyay (1963), Watson e Labs (1983), Gonzalez (1986), Szokolay (1987), ASHRAE
(1992). Esse estudo concluiu que a BBCC era suficientemente adequada às previ-
sões de conforto térmico no contexto brasileiro. No entanto, pesquisas de campo
posteriores (ARAÚJO; ARAÚJO, 1997; XAVIER, 1999; GONÇALVES, 2000) indicavam
que sua zona era excessivamente abrangente e pouco sensível a diferenças regio-
nais na aceitabilidade térmica dos habitantes. Essas diferenças tendem a provocar
superestimativa na previsão das frequências de conforto, como pode ser visto na
Figura 4. O projeto de criação da Base Brasileira de Dados de Conforto Térmico já
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 17

reuniu 19.925 votos de sensação térmica, das cidades de São Luís, MA, Maceió, AL,
Maringá, PR, e Florianópolis, SC, que podem ser agrupadas em climas tropicais e
subtropicais do Brasil (ANDRÉ et al., 2019). Os dados dessa base demonstraram
haver uma diferença de 3°C entre os votos de temperatura confortável e de tem-
peratura inaceitável na comparação desses dois grupos climáticos.

Figura 4 | Zona de conforto de Givoni (1992) e zonas


alternativas propostas por pesquisadores brasileiros
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Fonte: Adaptado de Pereira e Assis (2010), a partir de dados de pesquisas de campo


no Brasil (ARAÚJO; ARAÚJO, 1997; XAVIER, 1999; GONÇALVES, 2000).

A norma norte-americana ANSI/ASHRAE Standard 55, Thermal e Envionmental


Conditions for Human Occupancy (ASHRAE, 2017) apresenta a Carta de Conforto
Adaptativo para Ambientes Ventilados Naturalmente. Esse método de avaliação
de conforto é baseado na proposta de DeDear e Brager (2002), que foi desenvol-
vida a partir de dados do relatório RP-884 (DEDEAR; BRAGER; COOPER, 1997).
Esse relatório coletou votos de conforto térmico em 160 edifícios comerciais, em
diferentes zonas climáticas de quatro continentes. A Carta de Conforto Adaptativo
da ANSI/ASHRAE Standard 55 pode ser vista na Figura 5, para 80% e 90% de aceita-
bilidade térmica. Os limites da zona de conforto nesse método variam em função
da temperatura média externa, da temperatura operativa interna e da velocidade
média do ar no recinto. A Tabela 1 mostra a expansão do limite superior da zona
de conforto em função da velocidade média do ar, que ocorre a partir de 0,3 m/s.
18 Diretrizes construtivas em normas brasileiras para conforto passivo em habitações

Figura 5 | Carta de Conforto Adaptativo da ANSI/


ASHRAE Standard 55 (ASHRAE, 2017)

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Fonte: Adaptado de ANSI/ASHRAE Standard 55 (ASHRAE, 2017).

Tabela 1 | Expansão do limite superior da faixa de temperatura operativa aceitável


em função da velocidade média do ar, em ambientes naturalmente ventilados

Velocidade média do Velocidade média do Velocidade média do


ar > 0,3 e ≤ 0,6 m/s ar > 0,6 e ≤ 0,9 m/s ar > 0,9 e ≤ 1,2 m/s

1,2°C 1,8°C 2,2°C

Fonte: Projeto de revisão da NBR 16401-2 (ABNT, 2022a).

A avaliação do conforto por esse método considera indivíduos adultos, ocu-


pando o recinto há pelo menos 15 minutos, sob uma pressão atmosférica equiva-
lente a altitudes de até 3000m. Sua aplicação depende das seguintes condições:

a) Não haver nenhum tipo de condicionamento mecânico;


b) Possuir aberturas para ventilação controladas pelo usuário;
c) Atividade do usuário restrita ao intervalo entre 1 e 1,3 met, como na
Figura 6, acima;
d) Vestimenta do usuário restrita ao intervalo entre 0,5 e 1 clo, como na
Figura 6, abaixo;
e) Temperatura média prevalecente do ar externo entre 10°C e 33,5°C.
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 19

Figura 6 | Taxa de calor produzida pelo metabolismo em diferentes


atividades (escala met), acima, e nível de isolamento térmico
de diferentes tipos de vestimenta (escala clo), abaixo
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Fonte: Fanger (1987).

O fenômeno da aclimatação envolve os hábitos do usuário, além de sua


resposta fisiológica. A vestimenta pode ter influência considerável na aceitabi-
lidade térmica (DEVECCHI; LAMBERTS; CANDIDO, 2017). Em ambiente domés-
tico, pode-se dispor de cobertores para os momentos de maior frio ou de roupas
mais leves, para os momentos de calor. A Carta de Conforto Adaptativo da ANSY/
ASHRAE Standard 55 (ANSI; ASHRAE, 2017) foi desenvolvida com base em dados
do relatório RP-884 (DEDEAR; BRAGER; COOPER, 1997), coletados em edifícios
comerciais. Por isso, ela ignora atividades abaixo de 1 met e vestimenta abaixo
de 0,5 clo e acima de 1,3 clo, que refletem condições e adaptações frequentes em
ambiente doméstico no Brasil.
De Vecchi et al. (2014) propôs uma correção à Carta de Conforto Adaptativo
da ANSY/ASHRAE Standard 55 (ANSI; ASHRAE, 2017), para compensar parte das
limitações da norma norte-americana. A proposta da zona de ajuste da vestimenta
fixou o limite inferior da zona de conforto para 80% de aceitabilidade térmica em
19,5°C, a partir da ocorrência combinada de temperatura média do ar externo
acima de 16,5°C e temperatura operativa interna acima de 19,5°C, como pode ser
visto na Figura 7.
20 Diretrizes construtivas em normas brasileiras para conforto passivo em habitações

Figura 7 | Proposta de expansão do limite inferior da zona


de conforto por adaptação da vestimenta (clo)

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Fonte: Adaptado de DeVechi et al. (2014). Os dados do gráfico são de
estudo de campo em Florianópolis-SC (DEVECCHI, 2014).

DeDear, Kim e Parkinson (2018) realizaram estudo sobre conforto, envol-


vendo 42 residências em clima subtropical na Austrália. Os resultados mostravam
que indivíduos em espaços domésticos se adaptam a um intervalo de temperatura
diferente do relativo a indivíduos em espaços comerciais. O limite inferior da zona
para 80% de aceitabilidade ficou 2°C mais baixo, em relação a ANSI-ASHRAE Stan-
dard 55 (2017). Os autores então propuseram um modelo de conforto adaptativo
residencial, que pode ser visto na Figura 8. Mas a amostra de dados que baseou a
proposta abrangeu apenas clima subtropical na Austrália e provavelmente deverá
ser aperfeiçoada em breve, a partir de dados coletados em outros climas.
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 21

Figura 8 | Carta de Conforto Adaptativo Residencial


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Fonte: Adaptado de DeDear, Kim e Parkinson (2018).

Modelos adaptativos de previsão de conforto térmico vêm sendo propostos


por pesquisadores desde a década de 70 (HUMPHREYS, 1078; AULICIENS, 1981;
AULICIENS; SZOKOLAY, 1997; HUMPHREYS; NICOL, 2002; DEDEAR; BRAGER,
2002). A previsão do conforto por essas propostas foi comparada com pesqui-
sas de campo no território brasileiro (PEREIRA; ASSIS, 2010; NEGREIROS, 2010;
FERREIRA; SOUZA, 2013; LAMBERTS et al., 2013). O modelo de DeDear e Brager
(2002) esteve sempre entre os mais bem-sucedidos nas previsões.
Cândido et al. (2010) reuniram dados de pesquisas de campo realizadas em
diferentes climas brasileiros, mostrando votos de aceitabilidade térmica de ocu-
pantes de edifícios naturalmente ventilados. A Figura 9 mostra esses dados na
Carta de Conforto Adaptativo de DeDear e Brager (2002), expondo o quanto o
método consegue prever o conforto. Ainda assim, Lamberts et al. (2013) desta-
caram nesse mesmo gráfico a demanda dos usuários por maior velocidade do
ar, que ficou notável acima de 26°C de temperatura operativa. Ferreira e Souza
(2013) obtiveram resultados que indicam que esse modelo foi mais incerto que
o de Humphreys (1978) em cidades de clima quente e úmido, como Natal, RN, e
Manaus, AM, enquanto saiu-se melhor nas previsões para cidades de clima mais
ameno, como Florianópolis, SC, Londrina, PR, e Belo Horizonte, MG.
22 Diretrizes construtivas em normas brasileiras para conforto passivo em habitações

Figura 9 | Dados de estudos de campo sobre aceitabilidade térmica em


ambientes naturalmente ventilados de diferentes regiões do Brasil

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Fonte: Adaptado de Lamberts et al. (2013), a partir de gráfico de Cândido et al. (2010).

1.2 Influência da velocidade e umidade do ar no conforto térmico

Givoni (1992) considera que a ventilação natural expande o limite da zona de


conforto de 29° para 32°C de temperatura do ar, com até 90% de umidade rela-
tiva do ar. Mas isso dependia de velocidades contínuas do ar, em torno de 2 m/s.
Esse autor também afirma que a velocidade do ar não afeta a sensação de calor
no intervalo entre 33°C e 37°C e aumenta essa sensação acima dos 37°C, embora
continue ainda atenuando a sensação desconfortável de pele úmida. Lamberts
et al. (2016) afirmam que a velocidade do ar é eficiente para o resfriamento no
intervalo entre 27°C e 32°C, mas apenas se a umidade relativa estiver entre 15%
e 75%. A partir da temperatura do ar de 32°C, a ventilação representaria aumento
prejudicial nos ganhos por convecção no recinto. Buonocore et al. (2018) realizaram
estudo em salas de aula naturalmente ventiladas na cidade de São Luís, MA, que
apresentavam umidade relativa interna mínima de 60%. Esse estudo mostrou
aumento significativo da sensação de calor a partir da temperatura operativa
interna de 30°C e de umidade relativa interna de 70%. O desconforto foi descrito
pelos participantes da pesquisa como inaceitável, mesmo com velocidades do ar
acima de 1m/s.
A Carta de Conforto com Ventilação, proposta por Khedari (2000) para Tai-
lândia é mostrada na Figura 10. Pode-se observar que os votos de sensação neutra,
com umidade relativa do ar abaixo de 65%, ocorreram em temperaturas acima
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 23

de 33°C e com velocidade do ar entre 1,5 m/s e 3 m/s. Já os votos de temperatura


neutra para umidade relativa acima de 75% ocorreram apenas até a temperatura
do ar de 30°C, com velocidade do ar de até 1m/s.

Figura 10 | Carta Tailandesa de Conforto com Ventilação


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Fonte: Adaptado de Khedari (2000).

No entanto, o modelo adaptativo da ANSI/ASHRAE Standard 55 considera


uma temperatura operativa de 33°C aceitável para 80% dos ocupantes, desde que
a temperatura média externa predominante seja 31°C e a velocidade do ar seja
de 1,2m/s (HOYT et al., 2017), como apresentado na Figura 11. Mas, esse modelo
preditivo não está em função da umidade do ar e um estudo mostrou que sua
previsão de conforto precisa ser aperfeiçoada, pois superestima o conforto com
umidades relativas acima de 75% (TOE; KUBOTA, 2013). Nicol (2004) comparou
dados de 113 estudos de campo realizados em cidades de 16 países, com climas
quentes e úmidos, quentes e secos e temperados. Esse estudo conclui que as
temperaturas de conforto apontadas em climas quentes e úmidos (U.R.>75%)
apresentavam aproximadamente 1°C a menos que aquelas apontadas em climas
quentes e secos (U.R.<64%). A partir dessa conclusão, Nicol recomenda que a zona
de conforto adaptativo, em condições de umidade relativa acima de 75%, tenha
1°C a menos em seu limite superior. O autor também concluiu que a velocidade do
ar pode expandir o limite superior da zona de conforto em 2°C, coincidindo com
o modelo contido na norma ANSI/ASHRAE Standard 55 (ANSI; ASHRAE, 2017).
24 Diretrizes construtivas em normas brasileiras para conforto passivo em habitações

Figura 11 | Carta de Conforto Adaptativo. Conforto com 80% de


aceitabilidade, velocidade do ar 1,2m/s, temperatura operativa
de 33°C, temperatura externa predominante de 31°C

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Fonte: Adaptado de Hoyt et al. (2017).

O limite máximo de velocidade do ar considerado aceitável em interiores e


para atividade sedentária pode variar entre 0,5 e 2,5 m/s, de acordo com diferentes
autores (LAMBERTS et al., 2014). Givoni (1998) considera a velocidade de 2 m/s
necessária para o conforto por efeito da velocidade do ar. O estudo de Khedari
(2000) na Tailândia mostrou sensação neutra ocorrendo com temperatura do ar
de 30°C, umidade relativa de 60% e velocidade do ar de 0,5m/s. Mas quando a
umidade aumentou para 75%, na mesma temperatura, a velocidade do ar precisou
ser de 1m/s, para sensação neutra. Quando a temperatura aumentou para 32°C e
a umidade relativa permaneceu em 75%, a velocidade do ar precisou aumentar
para 2m/s, para sensação neutra.
Cândido et al. (2010) demonstraram que a velocidade mínima para 80% de
aceitação foi de 0,2m/s, com temperatura operativa entre 18°C e 24°C. Mas pre-
cisa aumentar para 0,7m/s, se as temperaturas estiverem entre 25°C e 32°C, em
ambientes naturalmente ventilados e em clima quente e úmido no Brasil. A ANSI/
ASHRAE Standard 55 adotava 0,8m/s como limite máximo de velocidade do ar em
ambientes naturalmente ventilados, até a versão de 2004 (CANDIDO; DEDEAR;
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 25

LAMBERTS, 2011). Na versão de 2017 dessa norma, não há mais tal limite, desde
que o usuário tenha liberdade de operar aberturas e ventiladores para ajustar a
velocidade a sua necessidade de conforto (ANSI; ASHRAE, 2017).

1.3 Ventilação para manutenção de qualidade do ar

A ventilação do edifício tem duas funções relevantes para o conforto humano:


a térmica e a higiênica. Em climas quentes, a ventilação está relacionada às per-
das por convecção, que dependem da taxa de ventilação do cômodo (volume de
ar fluindo) e da temperatura do ar. O fluxo de ar em contato com a pele causa o
resfriamento fisiológico, devido à evaporação do suor, que depende da velocidade,
umidade e temperatura do ar. Atividades humanas alteram a qualidade do ar no
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interior do edifício, podendo torná-la inadequada. Certo número de renovações


de ar (taxa de renovação) nos ambientes, por meios naturais ou mecânicos, é
importante para saúde e conforto dos usuários. Há momentos em que os ganhos
ou perdas térmicas produzidas pela ventilação não contribuem para um balanço
térmico favorável ao conforto, mas a ventilação permanece nesses momentos
tendo ainda um papel relevante na manutenção da qualidade do ar. A dissemi-
nação da covid-19 a partir de 2019 renovou o interesse de pesquisadores sobre
taxas de renovação de ar, diante do potencial da ventilação para conter o risco de
transmissão em espaços climatizados (LU et al., 2020).
A norma brasileira NBR 16401, Instalações de Ar-Condicionado-Sistemas
Centrais e Unitários, Parte 3, Qualidade do ar interior (ABNT, 2008b) estabelece
condições básicas e requerimentos mínimos para qualidade aceitável do ar interno.
No entanto, a proposta permanece baseada na norma norte-americana ANSI/
ASHRAE 62-1 e na norma europeia EN 779:2002 e aplica-se apenas à ventilação
mecânica, em edifícios não residenciais. A ABNT colocou em consulta pública
projeto de revisão dessa norma (ABNT, 2022b), mas escopo do projeto de revisão
continua abrangendo apenas à ventilação mecânica em edifícios não residen-
ciais, não oferecendo requisitos para avaliar a qualidade do ar interno em espaços
domésticos e naturalmente ventilados.

1.4 Critérios de conforto em normas brasileiras

O Brasil permanece até o presente sem norma específica para a avaliação


de conforto térmico em ambientes ventilados naturalmente. A frequência de
conforto e a intensidade do desconforto térmico em ambientes naturalmente
ventilados são critérios mais afins com a avaliação do desempenho de unidades
de HIS, pois a posse dessas unidades está concentrada nas menores faixas de
renda familiar. Isto está associado à posse menos frequente de equipamentos
eletromecânicos para conforto ou ao uso mais restrito de tais equipamentos,
a fim de diminuir a pressão exercida pelo custo do seu consumo energético no
orçamento familiar. Atualmente, a avaliação da contribuição da velocidade do ar
26 Diretrizes construtivas em normas brasileiras para conforto passivo em habitações

para o conforto baseia-se apenas em estimativa, a partir de diretrizes de área de


abertura e rotina de ventilação. Métodos adaptativos fazem previsões de conforto
menos incertas, pois consideram a aclimatação dos usuários do edifício, a contri-
buição efetiva da velocidade do ar para o conforto e usam dados de desempenho
do edifício, medidos ou simulados.
O Comitê Brasileiro de Refrigeração, Ar-condicionado, Ventilação e Aqueci-
mento (ABNT/CB-055) publicou o terceiro projeto de revisão da NBR 16401 – Ins-
talações de Ar-condicionado, Sistemas Centrais e Unitários, Parte 2, Parâmetros de
Conforto Térmico (ABNT, 2022). O escopo dessa norma é especificar combinações
de variáveis ambientais que produzam condições térmicas aceitáveis. O projeto
de revisão incorpora a essa norma brasileira o método adaptativo de avaliação
de conforto proposto por DeDear e Brager (2002), contido na seção 5.4 da norma

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norte-americana ANSI/ASHRAE Standard 55, Thermal e Envionmental Conditions for
Human Occupancy (ANSI; ASHRAE, 2017). A proposta de correção de DeVecchi et
al. (2014) foi também incorporada à revisão da norma, que se mostrou eficaz nas
previsões de conforto no território brasileiro. Também, o projeto de revisão da NBR
15575-1 (PEREIRA; FERREIRA, 2014; SANTOS; PORTO; SILVA, 2020) introduziu o
parâmetro de avaliação baseado em frequência de conforto dos usuários (KREL-
LING et al., 2020), atendendo a uma crítica recorrente ao método de avaliação
do desempenho na NBR 15575-1 (PEREIRA; FERREIRA, 2014; SANTOS; PORTO;
SILVA, 2020), que se baseia em diferença de temperatura interna e externa, em
dia típico de verão e inverno. A proposta de DeDear, Kim e Parkinson (2018) de
zona de conforto adaptativo residencial está sendo usada como referência para
o cálculo do percentual de horas ocupadas dentro de faixas de temperatura ope-
rativa confortável. Essa proposta de revisão foi aprovada em 2021 e tornou-se a
nova versão da NBR 15575-1.

2. Climas do Brasil

O clima é fator relevante para o conforto térmico nos edifícios. Ele expressa
um padrão nas condições do tempo meteorológico em uma dada região, com base
em observações de 30 anos ou mais. Os climas da Terra são gerados por diferenças
na quantidade de energia solar incidente na superfície terrestre. Essas diferenças
são a força que desencadeia fenômenos atmosféricos e oceânicos, que transferem
calor e umidade de uma região a outra.
As variáveis mais representativas dos diferentes climas da Terra são tempe-
ratura e umidade. Há três parâmetros fortemente associados a essas variáveis:
latitude, altitude e continentalidade. Latitude é a distância angular do Equador
e é determinante para as temperaturas, por sua relação com a radiação incidente
na superfície. Altitude é a distância vertical a partir do nível do mar e é determi-
nante para a temperatura e umidade. Continentalidade é a distância horizontal
de grandes massas de água e influencia a umidade, embora não tenha variação
linear por ser afetada pelo relevo. A interação entre esses três parâmetros produz
uma variedade de climas no globo, embora esses climas sofram ainda influência
de massas de ar, correntes oceânicas e topografia.
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 27

Apesar da diversidade climática, é possível perceber similaridades entre


regiões e fazer alguma classificação. Há métodos diferentes para classificar cli-
mas, a depender do objetivo envolvido. Uma das classificações mais amplamente
usadas deriva do trabalho de Wladimir Köppen e seu colaborador Rudolf Geiger,
proposto em 1900 e baseado em dados da flora, temperatura, quantidade e dis-
tribuição anual da precipitação (PEEL; FINLAYSON; MCMAHON, 2007). Há 12
climas no Brasil, dentre os 29 da classificação Köppen-Geiger. Esses climas são
agrupados em uma zona tropical, uma zona semiárida e uma zona subtropical. A
zona tropical tem climas sem estação seca, climas com inverno seco ou com verão
seco. A zona subtropical úmida tem também climas sem estação seca, climas com
inverno seco, ou com verão seco, climas com verão quente ou com verão ameno.
A zona semiárida apresente apenas o clima semiárido de baixa latitude e altitude
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(ALVARES, 2014).
De modo geral, o mapeamento das variáveis climáticas indica temperaturas
mais elevadas na porção norte, combinadas com extremos de umidade, respecti-
vamente no extremo norte da zona semiárida (Sertão) e na porção norte da zona
tropical (Amazônia). As temperaturas mais baixas coincidem com os pontos de
maior altitude na zona subtropical, entre os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e
Minas Gerais, também entre os estados do Paraná, Santa Catarina e norte do Rio
Grande do Sul (ALVARES, 2014). O inverno seco e o verão úmido são mais comuns
no país. As temperaturas mais elevadas (em torno de 30°C) são mais frequentes na
primavera da porção superior da Região Norte e do Sertão Nordestino (AMARANTE
et al., 2001). De acordo com agrupamento climático proposto por Roriz (2014), os
grupos climáticos com temperatura média anual abaixo de 21°C se concentram
na região Sul e em parte da região Sudeste do Brasil. Os grupos com temperatura
média anual entre 21°C e 25°C se concentram em parte da região Nordeste, porção
mais ao sul da região Centro-Oeste, porção oeste e litorânea da região Sudeste,
além do extremo norte do estado de Roraima. Os grupos com média acima de
25°C se concentram na região Norte, porção norte da região Centro-Oeste, porção
oeste e litorânea da região Nordeste do Brasil.
As velocidades do vento são consideravelmente mais baixas na região ama-
zônica, o ano todo. As velocidades mais altas ocorrem ao longo do litoral, até o
extremo leste da região Nordeste do Brasil, aumentando no período de inverno e
primavera, reduzindo-se no outono e verão (AMARANTE et al., 2001). As Normais
Climatológicas do Brasil 1981-2010 (INMET, 2018) contém médias mensais e anuais
de velocidade do vento em 266 municípios, na altura de 10 m. A maior das médias
anuais é de 5 m/s e a maior média mensal 6,2 m/s, sendo a média anual brasileira
de 2,4 m/s. No entanto, as médias das Normais Climatológicas foram calculadas
sem desconsiderar os períodos de calmaria (velocidades abaixo de 0,5m/s), o que
provocou médias mais baixas. Também, se as velocidades forem corrigidas pelo
gradiente de vento, Equação 1 (BRE, 1978), para 1,5m de altura (centro de janelas
em pavimento térreo) e coeficiente de rugosidade para centro urbano, Tabela 2, a
média anual dos municípios brasileiros passa a ser de 0,6 m/s. A maior média anual
de um município passa a ser de 1,2 m/s e a maior média mensal muda para 1,5 m/s.
28 Diretrizes construtivas em normas brasileiras para conforto passivo em habitações

Tabela 2 | Coeficientes para cálculo de gradiente de vento

Tipo de terreno k a

Área plana (água) 0,68 0,17

Campo com obstáculos esparsos 0,52 0,2

Área suburbana 0,35 0,25

Centro urbano 0,21 0,33

Fonte: Adaptado de BRE (1978).

O horário da madrugada é o período mais frio do dia e o período vespertino

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é o mais quente. Mas há diferentes padrões de variação da velocidade do vento
ao longo do dia, em diferentes pontos do Brasil. Exemplos dessa variação são
mostrados na Figura 12.

Figura 12 | Regimes diários de velocidade do vento em


diferentes pontos do Brasil, valores da razão entre a média de
velocidade por horário e a média de velocidade por ano

Fonte: Adaptado do Atlas do Potencial Eólico Brasileiro (NEIVA et al., 2017).


Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 29

As maiores velocidades do vento ocorrem por volta do meio-dia em pontos


no Norte de Roraima, enquanto as menores velocidades ocorrem nesse horário
em pontos no Sul da Bahia. Também, as velocidades são mais altas durante a
madrugada em pontos da região central da Bahia e se reduzem até velocidades
mínimas no fim da tarde. O inverso ocorre em pontos do leste de Alagoas (NEIVA
et al., 2017).
As frequências da direção do vento também podem variar significativamente,
como mostrado na Figura 13.

Figura 13 | Dados de frequência por direção do vento em


pontos da região Norte (A) e Nordeste (B) do Brasil
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Fonte: Adaptado do Atlas do Potencial Eólico Brasileiro (NEIVA et al., 2017).

É notável a predominância das direções do quadrante leste, em pontos do


Nordeste brasileiro que estão mais próximos ao litoral. Essa condição difere da
apresentada em regiões no estado do Amazonas, onde, em vários pontos, é mais
difícil distinguir o predomínio de uma direção (NEIVA et al., 2017). O predomínio
de uma direção pode variar também sazonalmente, como mostra a Figura 14. Há
um forte predomínio das direções do quadrante leste nos meses de setembro a
novembro, na parte mais ao norte da região Nordeste do Brasil. Mas este pre-
domínio é bem menos perceptível nos meses entre março e maio. Na região sul
do estado do Acre, há o predomínio das direções do quadrante norte, nos meses
30 Diretrizes construtivas em normas brasileiras para conforto passivo em habitações

de dezembro a fevereiro, e das direções do quadrante sul, nos meses de junho a


agosto (AMARANTE et al., 2001).

Figura 14 | Direções predominantes em diferentes pontos do Brasil e para duas


estações: no norte da região Nordeste (B e D) e no sul do estado do Acre (A e B)

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Fonte: Adaptado do Atlas do Potencial Eólico Brasileiro (AMARANTE et al., 2001).

As variações do conforto térmico são determinadas pela interação entre


variáveis climáticas e variáveis relativas ao conforto humano. O território brasi-
leiro possui uma considerável diversidade climática. Condições extremas para o
conforto térmico observadas no Brasil são comparáveis a pontos díspares do globo.
A Figura 15 apresenta a frequência anual de conforto em três cidades estrangeiras
(B, D, F) e em três cidades brasileiras (A, C, E). Os dados de temperatura e umidade
aparecem nos diagramas psicrométricos da figura e são destacados em verme-
lho e verde, indicando respectivamente desconforto e conforto, de acordo com a
zona de conforto adaptativo da norma norte-americana ANSI/ASHRAE Standard
55 2010 (LIGGETT; MILNE, 2008). Os gráficos “A” e “B” mostram que o município
brasileiro de Urubici-SC (28°S de latitude e 1810m de altitude), com clima Tem-
perado Quente da zona subtropical brasileira, apresenta aproximadamente cinco
vezes menos conforto térmico ao ano que a cidade sueca de Estocolmo (Latitude
59°N e 61m de altitude), que tem clima Temperado Frio da região subártica. O
gráfico “C” mostra condição quente e seca extrema ocorrendo no município de
Teresina-PI (5°S de latitude e 74m de altitude), com clima semiárido do Sertão
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 31

Brasileiro, apresentando temperaturas entre 35°C e 40°C e umidades relativas


entre 10% e 30%. Essa condição ocorre mais frequentemente em Teresina, PI, que
no clima desértico da cidade egípcia do Cairo (Latitude 30°N e 74m de altitude)
no gráfico “D”. Os gráficos “E” e “F” mostram duas cidades de clima equatorial:
a brasileira Manaus, AM (Latitude 3,1°S e 37m de altitude) e a cidade malaia de
Kuala Lumpur (Latitude 3,1°N e 22m de altitude). É notável a similaridade entre
elas quanto ao padrão anual de conforto, apesar dos contextos geográficos con-
sideravelmente distintos.

Figura 15 | Dados de temperatura, umidade e conforto


em cidades brasileiras e estrangeiras
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Fonte: Adaptado de Climate Consultant (LIGGETT; MILNE, 2008), a partir de arquivos


INMET 2018 (LABEEE, 2021) e EnergyPlus Weather (U.S.DOE, 2009).
32 Diretrizes construtivas em normas brasileiras para conforto passivo em habitações

A evolução das diretrizes construtivas para conforto passivo em residências


no Brasil teve impulso notável com a publicação da norma NBR 15220: Desempe-
nho Térmico de Edificações (ABNT, 2005). A sua Parte 3, Zoneamento Bioclimático
Brasileiro e Diretrizes Construtivas para Habitações Unifamiliares de Interesse
Social, dividiu o território brasileiro em oito zonas bioclimáticas e definiu diretrizes
construtivas para essas zonas, a fim de orientar o projeto para um melhor desem-
penho térmico passivo. O Zoneamento Bioclimático Brasileiro representou uma
primeira proposta de agrupamento climático para o país, com a finalidade de defi-
nir diretrizes para melhor adaptar o edifício ao clima. Isso representou um avanço
significativo no debate nacional sobre o papel dos edifícios para o crescimento da
demanda por energia elétrica. Zonas bioclimáticas são regiões onde as estratégias
passivas mais eficazes seriam as mesmas. As estratégias foram propostas com

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base em estimativa das condições internas, a partir das condições externas. Essa
estimativa considera um edifício hipotético, onde as referidas estratégias tivessem
sido aplicadas eficazmente. A norma sugere que essa eficácia seria alcançada se
as diretrizes construtivas para cada zona fossem obedecidas.
A proposição da norma NBR15220-3 (RORIZ; GHISI; LAMBERTS, 1999) fez
modificações nas zonas bioclimáticas da carta de Givoni (1992) para adaptá-las ao
contexto brasileiro, segundo a experiência da Comissão de Estudos sobre Desem-
penho Térmico e Eficiência Energética de Edificações (CE-02:135.07), vinculada ao
Comitê Brasileiro de Construção Civil da ABNT (CB-02). A Figura 16 mostra duas
versões da carta bioclimática.

Figura 16 | Zonas Bioclimáticas da BBCC de Givoni e da NBR 15 220-3

Fonte: Adaptado de Roriz, Ghisi, Lamberts (1999).

A Figura 17 mostra o mapa das zonas, o percentual do território represen-


tado por cada uma delas e as estratégias bioclimáticas recomendadas. Segundo o
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 33

zoneamento brasileiro, os climas da ZB1 não apresentam estação quente, essa zona
representa 1% do território nacional. A cidade de Urubici, SC, está situada nessa
zona. Os climas da ZB7 e da ZB8 não apresentam estação fria e representam uma
região quente que abrange 66% do país. As cidades de Manaus, AM, e Teresina,
PI, estão situadas respectivamente nessas zonas. As demais zonas apresentam
uma estação quente e uma fria, com uma área combinada que representa 33%
do território.

Figura 17 | Mapa do Zoneamento Bioclimático Brasileiro


e estratégias bioclimáticas prescritas
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Fonte: Adaptado de NBR 15220-3 (ABNT, 2005).

O sombreamento e a ventilação permanente são estratégias recomendadas


para todo o ano na Zona Bioclimática Oito e no período quente das zonas Dois,
Três e Cinco. O sombreamento, a ventilação seletiva, a inércia térmica (das paredes
externas) e o resfriamento evaporativo são as estratégias para o ano todo na Zona
Bioclimática Sete e para a estação quente nas zonas Quatro e Seis. Aquecimento
solar e inércia térmica (das paredes internas) são as estratégias prescritas para
todo o ano na Zona Bioclimática Um e no período frio das zonas Dois, Três e Quatro.
A recomendação é de apenas inércia térmica (das paredes externas) no período
frio das zonas Cinco e Seis (ABNT, 2005).
A estratégia aquecimento solar refere-se à orientação das superfícies envi-
draçadas e às cores externas da envoltória. A inércia térmica para resfriamento
e/ou aquecimento está relacionada respectivamente ao atraso térmico pelas
34 Diretrizes construtivas em normas brasileiras para conforto passivo em habitações

vedações externas e à massa térmica das vedações internas. O resfriamento eva-


porativo trata de sistemas que promovam evaporação direta de água, combinados
com taxas de ventilação baixas. A estratégia de ventilação permanente envolve
sistema de ventilação cruzada para incrementar o resfriamento fisiológico dos
ocupantes e as perdas por convecção do recinto. Esta pode ainda ser seletiva,
limitando-se aos momentos em que a temperatura externa é inferior à interna.
A norma ainda considera as necessidades de umidificação, aquecimento e res-
friamento artificial do ar.
Araújo (2021) realizou estudo sobre o conforto térmico, baseado em simula-
ção computacional de modelos de HIS unifamiliar naturalmente ventilados, em 25
municípios brasileiros, adaptados as respectivas zonas bioclimáticas, seguindo as

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diretrizes da NBR 15220-3 (2005). Os resultados do estudo para os 25 municípios
da amostra apontaram que o menor percentual do ano em conforto ocorreu no
modelo em São Joaquim, SC, (ZB 1) e foi de apenas 11% do ano em conforto, com
7.808 graus-hora-ano de desconforto por frio, sem ocorrência de desconforto
por calor. O maior desconforto por calor foi observado em São João do Piauí, PI,
(ZB7), chegando a 4.691 graus-hora-ano. O conforto no modelo nesse município
ocorreu em 46% do ano, mas com potencial de aumento de 33 pontos percentuais
por velocidade do ar. Entre os municípios da amostra desse estudo, o modelo em
Euclides da Cunha-BA (ZB7) foi o único a alcançar 100% do ano em conforto. Além
desse caso, esse percentual de conforto foi observado apenas em alguns casos
da ZB7 e ZB8, mas apenas se houvesse o aproveitamento total do potencial para
conforto por velocidade do ar.
Roriz (2012a; 2012b, 2014) propôs três zoneamentos climáticos alternativos
para o Brasil, para apreciação do Grupo de Discussão da ANTAC, a fim de aperfei-
çoar o zoneamento da NBR 15220-3. As três propostas de zoneamento climático de
Roriz representam bem a evolução da disponibilidade de dados climáticos para o
Brasil e a busca por melhores critérios de classificação climática. O objetivo dessas
propostas limitou-se a estabelecer critérios para o mapeamento dos climas no
Brasil. Estava previsto para etapa posterior identificar as diretrizes construtivas
a serem prescritas para diferentes tipologias em cada grupo climático. Assim, o
estudo lograria a revisão completa do atual zoneamento bioclimático brasileiro,
mas esse objetivo é ainda uma agenda de pesquisa. A terceira dessas propostas
conseguiu reunir uma amostra de dados climáticos de 5564 municípios brasileiros,
contando com dados de satélite para 1067 pontos no território brasileiro. Esses
climas foram então classificados em 24 grupos climáticos, que foram selecionados
pelo CB3E para substituir as oito zonas bioclimáticas da NBR 15220-3 no RTQ-R
e RTQ-C. Mas foi acrescentada a proposta de subdivisão do Grupo 1 em “G1a” e
“G1b”, considerando as diferenças entre climas neste grupo e formando assim 25
grupos climáticos (BAVARESCO et al., 2017).
Zoneamentos climáticos são importantes para políticas públicas sobre
eficiência energética nos edifícios. A ABNT está preparando uma proposta de
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 35

revisão do zoneamento bioclimático brasileiro para consulta pública. Os métodos


mais usados na elaboração de zoneamento bioclimático são baseados apenas
em dados climáticos, como o que vem ocorrendo no caso brasileiro (WALSH;
CÓSTOLA; LABAKI, 2017). No entanto, esses métodos têm mostrado limitações
na previsão da relação entre clima e padrão de desempenho térmico de edifícios.
Veloso, Ferreira e Oliveira (2021) realizaram estudo sobre o conforto térmico,
baseado em simulação computacional de modelos de habitação multifamiliar
naturalmente ventilados, nos 24 grupos climáticos de Roriz. Os resultados desse
estudo mostraram alguns casos de dissimilaridades entre o padrão de conforto de
municípios pertencentes a um mesmo grupo climático. A abordagem alternativa
de métodos de zoneamento, que se baseia em dados do clima e do desempenho
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de modelos, tem sido menos usada, embora tenha maior potencial de prever a
associação entre zona climática e padrão de desempenho dos edifícios (WALSH;
CÓSTOLA; LABAKI, 2022).

3. Diretrizes construtivas para obtenção de conforto em normas


brasileiras

O zoneamento bioclimático da NBR15220-3 permanece como o principal


instrumento no Brasil para orientar a adaptação do edifício ao clima. Ele tem
sido fonte de parâmetro de avaliação de conforto e de diretrizes construtivas.
Ainda assim, há sugestões de revisão feitas frequentemente por pesquisado-
res brasileiros.
A proposição da norma NBR15220-3 (RORIZ; GHISI; LAMBERTS, 1999) fez
adaptações diretrizes construtivas do Método Mahoney ao contexto brasileiro.
A carta de Givoni (1992) propunha zonas de conforto em função de estratégias
bioclimáticas como ventilação, massa térmica e resfriamento evaporativo. No
entanto, a carta bioclimática não oferecia diretrizes construtivas, então a referên-
cia para a NBR 15220-3 foi o Método Mahoney (KOENIGSBERGER; MAHONEY;
EVANS, 1970). Este é um instrumento prescritivo para análise climática, desen-
volvido na década de 70, a partir da experiência da equipe do Departamento de
Estudos Tropicais da Associação de Arquitetura de Londres, sob a coordenação
de Carl Mahoney.
As diretrizes construtivas da norma 15220-3 (ABNT, 2005) deveriam promo-
ver a maior eficácia das estratégias recomendadas em cada zona. As diretrizes
abrangem requisitos para envoltória e prescrições de rotinas de ventilação e som-
breamento. Os requisitos são expressos por transmitância térmica, fator solar e
atraso térmico, de paredes e cobertura, e por intervalos de área de abertura para
ventilação. As prescrições informam quando sombrear as aberturas e quando
permitir a ventilação por elas. A Tabela 3 apresenta o valor dos requisitos para
os três tipos de parede e cobertura, e para os três tamanhos de área de abertura.
36 Diretrizes construtivas em normas brasileiras para conforto passivo em habitações

Tabela 3 | Requisitos para envoltória e prescrições para


operação de aberturas na NBR 15220-3

PAREDES EXTERNAS

ZB Tipo Transmitância (W/m²K) Fator Solar (%) Atraso Térmico (horas)

1e2 Leve ≤3 ≤5 ≤ 4,3

3, 5 e 8 Leve e refletora ≤ 3,6 ≤4 ≤ 4,3

4, 6 e 7 Pesada ≤ 2,2 ≤ 3,5 ≥ 6,5

COBERTURAS

ZB Tipo Transmitância (W/m²K) Fator Solar (%) Atraso Térmico (horas)

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1a6 Leve e isolada ≤2 ≤ 6,5 ≤ 3,3

8 Leve e refletora ≤ 2,3* ≤ 6,5 ≤ 3,3

7 Pesada ≤2 ≤ 6,5 ≥ 6,5

*FT: Fator de correção que admite transmitâncias mais altas em


coberturas com ático ventilado (ABNT, 1998).

ÁREA DE ABERTURA E OPERAÇÃO

ZB Tipo Área (% A.U.*) Sombreamento Ventilação

1 Nunca Nenhuma

2e3 Apenas no verão Permanente no verão

4 Média De 15% a 25% Apenas no verão Seletiva no verão

5 Sempre Permanente no verão

6 Sempre Seletiva no verão

7 Pequena De 10% a 15% Sempre Seletiva

8 Grande ≥ 40% Sempre Permanente

* % A.U. Percentual da área útil do recinto.

Fonte: Adaptado de NBR15220-3 (ABNT, 2005).

Zonas bioclimáticas são regiões onde as estratégias passivas mais eficazes


e as diretrizes construtivas seriam as mesmas. No entanto, Martins, Bittencourt
e Krause (2012) demonstraram que, de acordo com a norma, a cidade de Pão de
Açúcar, AL, seria classificada na ZB8 se fossem usados apenas dados do período
úmido do ano. Mas que a mesma cidade seria classificada na ZB7 se apenas dados
do período seco fossem usados. O resultado é relevante porque as estratégias
para ZB8 e para ZB7 são bem distintas e seria difícil alterná-las em diferentes
estações. Resultado similar foi também observado para a cidade Mata Grande,
AL, por Correia e Barbirato (2013).
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 37

O conceito de zona bioclimática sugere que um mesmo edifício deveria ter


padrão de desempenho similar em toda a zona. Mas Araújo (2021) realizou estudo
sobre o conforto térmico, baseado em simulação computacional de modelos de
HIS unifamiliar, naturalmente ventilados, adaptados as oito zonas bioclimáticas
seguindo as diretrizes da NBR 15220-3. Os resultados desse estudo mostraram
similaridades inesperadas entre o padrão de desempenho de municípios perten-
centes a diferentes zonas bioclimáticas e também dissimilaridades entre o padrão
apresentado por municípios na mesma zona, indicando falhas de correspondência
entre zonas e padrão de desempenho.

3.1 Diretrizes no RTQ-R e na NBR 15575


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Os instrumentos RTQ-R (INMETRO, 2012) e NBR 15575 (ABNT, 2013) são pos-
teriores à NBR 15220 e contam com método prescritivo (normativo) e avaliativo.
Eles introduziram por meio do método avaliativo a opção de basear a análise em
desempenho simulado por computador.
Em 2012, houve a publicação do Regulamento Técnico para a Qualidade do
Nível de Eficiência Energética das Edificações Residenciais (RTQ-R) (INMETRO,
2012). Ele apresentava em seu método prescritivo requisitos para o desempenho
térmico da envoltória, a fim de classificar o nível de eficiência energética de edi-
fícios residenciais. Essa classificação se dá por meio de cinco níveis, variando de
“A” a “E”. Os requisitos de envoltória diferiam das diretrizes da NBR 15220-3, mas
ainda se referenciavam em seu zoneamento. O desempenho era determinado
segundo estimativa de graus-hora de desconforto, para cada zona bioclimática.
Esses requisitos eram expressos em valores de transmitância, absortância,
capacidade térmica e área mínima de abertura. A Tabela 4 apresenta uma síntese
dos requisitos do RTQ-R para envoltória e rotina de operação de aberturas. Esses
requisitos devem ser aplicados apenas nos recintos considerados de “permanência
prolongada”: salas e dormitórios. O intervalo de valores requeridos eram os mes-
mos para todas as zonas e diferenciam-se apenas em função da absortância da face
externa de paredes e cobertura. O regulamento estipulava três limites mínimos de
área de abertura para ventilação e estes estavam abaixo dos intervalos contidos na
NBR15220-3. Ainda assim, maiores áreas de abertura permaneciam recomenda-
das para ZB8 e menores para a ZB7, demonstrando a referência às estratégias do
zoneamento vigente. As maiores aberturas estão relacionadas à importância da
estratégia Ventilação para a ZB8. Assim como as menores aberturas tem relação
com relevância da estratégia Inércia Térmica para a ZB7.
38 Diretrizes construtivas em normas brasileiras para conforto passivo em habitações

Tabela 4 | Requisitos para envoltória e prescrições


para operação de aberturas no RTQ-R

PAREDES EXTERNAS

Capacidade Térmica
ZB Tipo Transmitância (W/m²K) Absortância Solar
(kJ/m²K)

1e2 - ≤ 2,5 - ≥ 130

- ≤ 3,7 ≤ 0,6 ≥ 130


3a6
- ≤ 2,5 > 0,6 ≥ 130

- ≤ 3,7 ≤ 0,6 ≥ 130


7
- ≤ 2,5 > 0,6 ≥ 130

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- ≤ 3,7 ≤ 0,4 ≥ 130
8
- ≤ 2,5 > 0,4 ≥ 130

COBERTURAS

Capacidade Térmica
ZB Tipo Transmitância (W/m²K) Absortância Solar
(kJ/m²K)

1e2 - ≤ 2,3 - -

- ≤ 2,3 ≤ 0,6 -
3a6
- ≤ 1,5 > 0,6 -

- ≤ 2,3 ≤ 0,4 -
7
- ≤ 1,5 > 0,4 -

- ≤ 2,3* ≤ 0,4 -
8
- ≤ 1,5* > 0,4 -

Continua

ÁREA DE ABERTURA E OPERAÇÃO

ZB Tipo Área (% A.U.**) Sombreamento Ventilação

1a6 Média ≥ 8% -
Nenhuma no período
7 Pequena ≥ 5% -
frio (TBS < 20°C)
8 Grande ≥ 10% -

*FT: Fator de correção que admite transmitâncias mais altas em coberturas com ático ventilado.

** % A.U. Percentual da área útil do recinto, até o limite de 15m².

Fonte: Adaptado de RTQ-R (INMETRO, 2012).

O sombreamento não tinha requisitos, mas sua aplicação era pontuada posi-
tivamente no cálculo do equivalente numérico da envoltória. As recomendações
de controle da ventilação limitavam-se a determinar o fechamento das aberturas,
quando a temperatura interna estivesse abaixo de 20°C. O regulamento estipulou
uma área mínima efetiva para iluminação natural de 12,5% da área útil de recintos
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 39

com até 15 m². Também atribuiu bonificação para unidades habitacionais autôno-
mas onde haja aberturas equivalendo a 20% de pelo menos duas fachadas, com
orientação distinta (ventilação cruzada), venezianas e peitoril ventilado, porosi-
dade nos fechamentos internos e presença de ventiladores de teto.
A norma NBR 15575-4 – Edifícios Habitacionais até Cinco Pavimentos –
Desempenho foi publicada em 2010. Em seguida, foi revisada e publicada nova-
mente em 2013, como NBR 15575 – Edificações Habitacionais – Desempenho
(ABNT, 2013). Essa norma voltou-se ao comportamento dos sistemas que com-
pôem o edifício, para atender minimamente diferentes exigências. A Parte 4,
Sistema de Vedações Verticais Internas e Externas, e a Parte 5, Requisitos para
Sistemas de Coberturas, estabeleceram em seu método normativo (prescritivo)
requisitos mínimos da envoltória para desempenho térmico aceitável. Esses
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requisitos diferiam daqueles do RTQ-R apenas no tocante a áreas mínimas de


abertura para ventilação, e estavam igualmente referenciados no zoneamento da
NBR 15220-3, embora diferenciasse o requisito de abertura entre a região Norte
e as regiões Nordeste e Sudeste, mesmo quando contidas em uma mesma zona
bioclimática. Ainda assim, os valores são relativamente próximos. Não haviam
prescrições adicionais de operação do sombreamento e da ventilação, em relação
as do RTQ-R. A Tabela 5 mostra os requisito de área de abertura na NBR 15575-4
(ABNT, 2013).

Tabela 5 | Requisitos de área de abertura na envoltória NBR 15575-4

Área mínima de abertura para ventilação (%A.U.*)

ZB’s de 1 a 7 ZB8

≥ 12% para região Norte


≥ 7%**
≥ 8% para região Nordeste e Sudeste

* %A.U: Percentual da área útil do recinto, até o limite de 15m².

** Nas zonas de 1 a 6 as áreas de ventilação devem ser passíveis de serem vedadas durante o período frio.

Fonte: Adaptado de NBR 15575-4 (ABNT, 2013).

A NBR 15575 apresentava algumas limitações quanto ao seu método de


avaliação do desempenho térmico por simulação computacional (SORGATO et
al., 2012). Por isso, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) colocou
em consulta pública projeto de emenda à NBR15575-Desempenho (ABNT, 2021).
Essa proposta modificou o método de avaliação por simulação (VEIGA et al., 2020;
KRELLING et al., 2020), mas manteve os requisitos da envoltória, acrescentando
apenas limites máximos para a área de superfícies transparentes. O projeto de
revisão também introduziu o parâmetro de avaliação de desempenho baseado
em frequência de conforto dos usuários (KRELLING et al., 2020). A proposta de
revisão foi aprovada ainda em 2021 e tornou-se a nova versão da NBR 15575. O
40 Diretrizes construtivas em normas brasileiras para conforto passivo em habitações

seu método de avaliação por simulação será incorporado à nova Instrução Nor-
mativa INMETRO (INI-R) que substituirá o RTQ-R (CB3E, 2020). Apesar da atual
revisão da NBR 15575, as diretrizes construtivas para envoltória permaneceram
as mesmas da versão anterior.
A proposta de revisão estipulou um limite máximo de 20% como efetiva para
iluminação natural, não podendo ir além de 4 m². Há valores tabelados de área
transparente máxima para fachadas nas zonas bioclimáticas de ZB3 a ZB8, que
podem ir até um máximo de 39% da área útil, em função do fator solar do vidro, da
classificação da esquadria ou do sombreamento horizontal. Os valores da tabela
de sombreamento consideram ângulo vertical de sombreamento até 45°. Há ainda
exceção para fachada sul em latitudes maiores que -15°, que permite áreas trans-
parentes de até 30%, não podendo ultrapassar a área de 6 m² (ABNT, 2021).

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No entanto, Araújo e Bittencourt (2022a) realizaram estudo com modelos em
municípios brasileiros localizados em latitudes menores que -15°, com áreas útil
entre 36 m² e 81 m² e janelas fechadas com vidro comum, com área transparente
entre 6 m² e 18 m². O sombreamento das janelas dos modelos era feito por protetor
misto, com ângulo vertical de sombreamento de 75°, mantendo ângulo vertical de
céu de 10° e 20°, devido também a obstruções do entorno. Os resultados do estudo
mostraram casos em que janelas maiores que 6 m² e equivalentes a 33% da área
útil do ambiente estiveram associados aos melhores desempenhos lumínicos e
energéticos. Casos assim teriam que ser avaliados por simulação computacional
para comprovar seu desempenho, nos termos da NBR 15575 (ABNT, 2021).
O controle do sombreamento e da ventilação na proposta baseia-se em cri-
tério de temperatura. O Sombreamento deve estar ativo para temperatura de
bulbo-seco externa a partir de 26°C. A ventilação deve estar ativa quando a tempe-
ratura de bulbo seco interna for superior à externa e maior que 19°C, representando
ventilação seletiva contínua. Não há menção sobre possíveis efeitos da suspensão
da ventilação para qualidade do ar. Também, não há considerações sobre as fre-
quências de direção e velocidade dos ventos locais. A estimativa da eficácia da
ventilação com base apenas em área de abertura tem incerteza elevada. Isso pode
gerar superestimativa da eficácia da ventilação natural e subaproveitamento do
seu potencial para incrementar o conforto térmico. Araújo e Bittencourt (2022b;
2022c) realizaram estudos sobre conforto térmico e qualidade do ar em climas
brasileiros, com base em modelos de HIS unifamiliar naturalmente ventilados e
em diretrizes da NBR 15575 (ABNT, 2021). O conjunto dos resultados mostrou que
estimar a eficácia da ventilação natural com base apenas em área de abertura e
rotina de ventilação, como ocorre nas normas brasileiras, apresenta uma incerteza
considerável. O potencial anual para conforto por velocidade do ar mostrou-se for-
temente associado ao desconforto por calor e seu aproveitamento mostrou-se for-
temente associado aos ventos locais e aos coeficientes de ventilação no ambiente.
Também mostrou que as velocidades do vento foram insuficientes para explorar
totalmente o potencial de resfriamento fisiológico para incrementar o conforto,
sendo recomendável o suplemento de ventiladores. Os resultados sugeriram ainda
que a ventilação natural higiênica deve ser permanente, para alcançar maior auto-
nomia. Ainda assim, a ventilação natural não foi capaz de manter a vazão mínima
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 41

necessária à manutenção da qualidade do ar em 100% do ano, sendo necessário


o suplemento de ventilação mecânica higiênica.

Conclusão

A criação de normas e regulamentos para orientar a produção dos edifícios


residenciais está em contínua evolução, seguindo os avanços nas pesquisas sobre
diretrizes construtivas para conforto e eficiência energética. No contexto brasileiro,
o projeto de revisão da NBR 16401-2 vai introduzir parâmetros adaptativos para
previsão de conforto térmico. Estes são menos incertos nas previsões de conforto
térmico em ambientes naturalmente ventilados, pois consideram a aclimatação
dos habitantes e o efeito das velocidades do ar. No entanto, estudos sugerem que
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a influência da umidade e velocidade do ar deve ser revista no método adotado.


A proposta de revisão da NBR 16401-3 ainda não disponibiliza critérios de vazão
mínima para manutenção da qualidade do ar em ambientes domésticos e natu-
ralmente ventilados.
O processo de revisão do zoneamento bioclimático da NBR 15220-3 está em
andamento e certamente vai aplicar métodos que se baseiam em dados climáti-
cos combinados com dados de desempenho de tipologias. A nova versão da NBR
15575 introduziu mudanças nos métodos de avaliação do desempenho térmico,
mas manteve as diretrizes construtivas, contidas na versão anterior, que se refe-
renciam no zoneamento atual. Essas diretrizes permanecem recomendando áreas
de abertura mínimas sem ponderações sobre frequências locais de direção e velo-
cidade do vento. As áreas de abertura recomendadas não se baseiam em critérios
de velocidade do ar para conforto térmico ou de frequência anual de conforto,
gerando superestimativa da contribuição da ventilação natural ou demanda não
prevista no projeto por ventilação mecânica suplementar. Essas diretrizes também
recomendam a suspensão da ventilação natural em determinadas condições, sem
considerações sobre os efeitos dessa recomendação na manutenção da qualidade
do ar interno. Isso possibilita o surgimento de ambientes insalubres ou demanda
não prevista por ventilação mecânica higiênica suplementar.
Espera-se que essas considerações colaborem com o avanço das pesquisas
no campo da adaptação do edifício ao clima, para maior conforto térmico por
meios passivos. Espera-se ainda contribuir para o aperfeiçoamento das diretri-
zes construtivas contidas em instrumentos normativos no Brasil, devido a sua
influência no ensino e prática de projeto arquitetônico e ao potencial destas para
gerar moradias mais confortáveis e sustentáveis.

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42 Diretrizes construtivas em normas brasileiras para conforto passivo em habitações

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Configuração das aberturas para ventilação
natural: contribuições para normas brasileiras

Isabela Cristina da Silva Passos Tibúrcio


Leonardo Salazar Bittencourt

DOI: 10.24824/978652514675.1.49-84

1. Introdução
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Dentre os aspectos que influenciam as decisões de projeto em arquitetura e


urbanismo, as variáveis ambientais se destacam por possibilitarem a produção de
espaços mais coerentes com o contexto climático do local onde estão implantados,
envolvendo estratégias relacionadas ao conforto ambiental e à eficiência energé-
tica nas edificações. Nesse contexto, o uso da ventilação natural nas edificações
é uma das estratégias passivas mais importantes para minimizar o efeito de altas
temperaturas, em especial em climas tropicais (KOENIGSBERGER, 1974; GIVONI,
1962; SANTAMOURIS;WOUTERS, 2006; AFLAKI et al., 2015).
Aflaki et al. (2015) apontam a ventilação natural como principal estratégia
para edifícios localizados em climas tropicais em comparação com outras técnicas
passivas de condicionamento térmico. As temperaturas relativamente constantes
ao longo do dia e do ano e os elevados índices de umidade relativa do ar fazem da
ventilação natural a estratégia mais presente na arquitetura tropical. Dentre as
vantagens do seu uso, destaca-se o seu potencial para reduzir o consumo de ener-
gia com aparelhos refrigeradores e ventiladores enquanto proporciona níveis de
qualidade do ar interna aceitáveis, além do conforto térmico dos usuários (ALOCCA
et al., 2003; CHEN et al., 2017).
No Brasil, país de clima tropical, a ventilação é uma estratégia recomendada
para 99% das cidades, com exceção apenas das cidades inseridas na Zona Biocli-
mática 1, que apresentam temperaturas mais baixas. O uso permanente da venti-
lação cruzada é recomendado para 53,7% do território brasileiro que corresponde
à Zona Bioclimática 8 conforme classificação da NBR 15220-3 A ventilação natural
é recomendada ainda de forma seletiva nas demais regiões do país (ABNT, 2005).
Apesar disto, a utilização da ventilação natural tem sido muitas vezes, negli-
genciada na elaboração de projetos de edificações. O advento da tecnologia dos
sistemas de condicionamento artificial, bem como projetos arquitetônicos inade-
quados à realidade climática local, tem ocasionado a não utilização da ventilação
natural em muitas edificações atuais (LIN; CHUAH, 2011; OMRANI, 2017). O con-
trole das condições térmicas do ambiente, oferecido pela climatização artificial, se
torna um atrativo ao seu uso, permitindo ao usuário manter um ambiente interno
confortável mesmo que as condições externas não sejam favoráveis (TRINDADE,
PEDRINI, DUARTE, 2010).
50 Configuração das aberturas para ventilação natural: contribuições para normas brasileiras

No Brasil, o consumo de energia elétrica tem crescido nos últimos anos em


todos os setores da economia. De acordo com o Balanço Energético Nacional, em
2006, de toda energia elétrica consumida no país, 45,2 % foi nos setores residen-
cial, comercial e público. Entre estes segmentos, o setor residencial é responsável
por 22,2% do consumo de energia (BRASIL, 2008).
Em 2009, foi lançado no Brasil, o Regulamento Técnico da Qualidade do
Nível de Eficiência Energética para Edificações Comerciais, de Serviços e Públicas
(RTQ-C), publicado pelo INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade
e Metrologia). A exemplo do RTQ-C, entrou em vigor em 2011, o Regulamento
Técnico da Qualidade do Nível de Eficiência Energética para Edificações Resi-
denciais (RTQ-R).
O uso da ventilação natural nas edificações está condicionado tanto à dispo-

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nibilidade de ventos e condições de temperatura do ar, quanto às configurações do
edifício, por isso é importante a análise das características climáticas locais e do
envelope construído para um melhor aproveitamento deste recurso natural. Os
fatores que influenciam o desempenho da ventilação natural em edificações são
inúmeros e podem se relacionar de diversas maneiras entre si. Além dos aspectos
microclimáticos citados, as características arquitetônicas são determinantes
no grau de aproveitamento da ventilação natural do edifício, tais como leiaute e
dimensionamento dos ambientes, configuração das aberturas, partições internas,
barreiras externas e orientação do edifício em relação aos ventos dominantes.
Dentre estes aspectos, as janelas são muitas vezes a única maneira que o
usuário tem de controlar as condições microclimáticas do ambiente interno. Sua
disposição, área, localização e tipologia podem influenciar o desempenho da ven-
tilação natural. O tamanho, a forma e a localização das aberturas para ventilação
são os principais aspectos que irão determinar a configuração do fluxo de ar no
interior das construções.
A configuração das aberturas e sua influência no desempenho da ventila-
ção natural em edifícios tem sido objeto de diversas pesquisas internacionais
(HASSAN, et al. 2007; FAVAROLO; MANZ, 2005; LUKKUNAPRASIT, et al., 2009;
TANTASAVASDI, et al., 2001; YIN, et al., 2010) e brasileiras (BITTENCOURT; LOBO,
1999, TOLEDO, 1999, VERDELHO, 2008; VERSAGE, 2009, CUNHA, 2010; SACRA-
MENTO, 2012). Apesar disto, as normas no país ainda não contemplam diretrizes
consistentes que auxiliem projetistas na tomada de decisões, por exemplo, quanto
ao dimensionamento, localização ou tipologia das esquadrias. Este assunto será
melhor abordado no item 2 deste artigo.
Apesar da importância da ventilação natural para obtenção de conforto
térmico nas edificações, pouco tem sido proposto em termos de normas e regu-
lamentações. As normas em vigor no Brasil apresentam diretrizes que divergem
entre si, além de serem aparentemente insuficientes do ponto de vista da venti-
lação natural.
A definição da configuração das aberturas em edificações residenciais para
promoção de conforto térmico e eficiência energética através do aproveitamento
da ventilação natural em cidades brasileiras torna-se de fundamental importân-
cia, principalmente para buscar informações consistentes que possam embasar
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 51

decisões projetuais, dada a carência nas atuais normas de desempenho de edifica-


ções no Brasil. Por isto, objetivo deste artigo é analisar a ventilação natural interna
por ação dos ventos através de simulações com CFD em diferentes configurações
de aberturas, a fim de contribuir para reflexões acerca das recomendações feitas
nas normas brasileiras.

2. Normas brasileiras e ventilação natural

As Normas de desempenho térmico buscam estabelecer critérios mínimos


para as edificações. No Brasil, a normatização do desempenho térmico se iniciou
com a publicação em 2005 da NBR 15220 que trazia recomendações para a cons-
trução de habitações de interesse social com base no Zoneamento Bioclimático
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Brasileiro sendo posteriormente atualizada e republicada (ABNT, 2005).


Segundo Sorgato et al. (2013), devido ao fato desta Norma ser direcionada a
Habitações de Interesse Social, iniciou-se o desenvolvimento da NBR 15575 que
trataria de edificações residenciais de maneira geral. A primeira versão desta NBR
foi publicada em 2008 e em 2013 sua versão mais recente entrou em vigor com
alguns ajustes. A NBR 15575 estabelece critérios mínimos de desempenho térmico,
acústico e lumínico quanto aos materiais de vedação que compõem o edifício.
Por se tratarem de desempenho do edifício para todas as cidades do país, as
duas Normas citadas não tratam da ventilação natural de maneira específica. Em
geral, apenas fornecem recomendações quanto à área de abertura dos compar-
timentos. Sabe-se, entretanto, que o Brasil é composto por diversas realidades
climáticas e que mesmo quando tais características são conhecidas, há ainda que
se considerar aspectos locais como a topografia, o relevo e o entorno na avaliação
da ventilação natural.
Alguns trabalhos vêm sendo desenvolvidos no intuito de analisar as reco-
mendações das Normas aplicando-as às diversas realidades climáticas do país.
Alguns deles serão abordados a seguir.
Tibiriça e Ferraz (2005) fizeram uma pesquisa acerca das normas existentes
na construção civil que fornecesse recomendações acerca das janelas. Em uma
abordagem integrada sobre a janela propuseram um modelo para o estudo sis-
têmico e a organização sistemática do elemento, considerando aspectos como:
desempenho, valor, qualidade, percepção e tendências. Segundo os autores (p. 45):

Com referência ao componente janela, existem no Brasil duas normas: a NBR


10821 (Caixilhos para edificação) e a NBR 7199 (Projeto, execução e aplicação de
vidros na construção civil). A primeira estabelece as condições de desempenho
dos caixilhos das janelas, exigíveis para edificações para uso residencial e comer-
cial; a segunda, fixando as condições que devem ser obedecidas no projeto de
envidraçamento em construção civil, aplica-se a envidraçamento de janelas,
portas, divisões de ambientes, guichês, vitrines, lanternins, sheds e clarabóias.

Bastos et al. (2007) analisaram o Zoneamento Bioclimático proposto pela


NBR 15220-3 (ABNT, 2005) e concluíram que o potencial eólico de cada região
não foi considerado. Os autores utilizaram dados publicados nos Atlas eólicos de
52 Configuração das aberturas para ventilação natural: contribuições para normas brasileiras

2001 e 2005 além de características de rugosidade dos terrenos para propor um


mapa de distribuição dos ventos sobrepondo-o ao Mapa do Zoneamento Biocli-
mático proposto pela NBR. Verificaram, portanto, que a Norma não considera as
diferenças regionais em relação à ventilação natural e que o zoneamento proposto,
apesar de representar uma iniciativa interessante, pode ocasionar erros de projeto
em algumas regiões.
Loura et al. (2011) realizaram a análise de uma edificação residencial mul-
tifamiliar localizada na cidade do Rio de Janeiro utilizando o método normativo
simplificado proposta pela NBR 15575:2008 e o método prescritivo proposto pelo
RTQ-R e compararam as duas análises. Foram identificadas divergências entre os
métodos como, por exemplo, em relação a exigência de proteção solar em todos
os ambientes de permanência prolongada. Sendo assim o edifício em questão

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obteve nível “B” segundo o RTQ-R enquanto de acordo com a NBR não alcançaria
sequer o nível mínimo exigido. Os autores apontam para a necessidade de maior
coerência entre os métodos avaliativos.
No Brasil não existem ainda Normas de Conforto Térmico que estabeleçam
critérios mínimos quanto à ventilação natural e temperaturas do ar. Por isto, serão
abordadas nesta subseção as Normas Brasileiras de desempenho térmico em
vigor bem como os Regulamentos Técnicos da Qualidade do Nível de Eficiência
Energética publicados pelo INMETRO.
A NBR 15220 (ABNT, 2005) lança diretrizes para construção de habitações de
interesse social de acordo com a Zona Bioclimática em que os municípios se loca-
lizam. Para a Zona Bioclimática oito, Zona onde a cidade de Maceió está inserida,
as principais recomendações são: ventilação cruzada e proteção solar. Sobre as
aberturas, a Norma recomenda apenas que o tamanho delas seja maior ou igual
a 40% da área do piso do ambiente.
Esta relação não considera, por exemplo, a distribuição das aberturas no
ambiente, o tipo de esquadria, a necessidade de aberturas de entrada e abertura
de saída, a tipologia da esquadria. Tampouco, considera a velocidade e direção
predominante dos ventos locais fatores imprescindíveis para se promover uma
ventilação adequada.
A NBR 15575 (ABNT, 2013) determina que as habitações devem apresentar
aberturas nas fachadas, “com dimensões adequadas para proporcionar a ventila-
ção interna dos ambientes” e estabelece uma relação entre a área da abertura e a
área do piso do ambiente para cada Zona Bioclimática, assim como a NBR 15220,
porém com algumas divergências.
Para as Zonas Bioclimáticas de 1 a 7 a NBR 15575 recomenda que a área de
abertura seja maior ou igual a 7% da área do piso do ambiente. Para a Zona Oito,
a NBR recomenda que esta proporção seja maior ou igual a 12% para a região
Norte do país e maior ou igual a 8% tanto na região Nordeste quanto na região
Sudeste (Quadro 1).
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 53

Quadro 1 | Recomendações das Normas Brasileiras em relação à área


de abertura para ventilação de acordo com a Zona Bioclimática

NBR 15.222 (ABNT, 2005)

Zonas Bioclimáticas do
Médias: (15% < Área da Abertura < 25% da área do piso do ambiente).
1a6

Zona Bioclimática 7 Pequenas: (10% < Área da Abertura < 15% da área do piso do ambiente).

Zona Bioclimática 8 Grandes: (Área da Abertura > 40 % da área do piso do ambiente).

NBR 15.575 (ABNT, 2013)

Zonas Bioclimáticas do 1 a 7 Médias: (Área da Abertura ≥ 7% da área do piso do ambiente).

Grandes: (Área da Abertura ≥ 12% da área do piso do ambiente para cidades


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da Região Norte do Brasil).


Zona Bioclimática 8
Grandes: (Área da Abertura ≥ 8% da área do piso do ambiente para cidades
da Região Nordeste e Sudeste do Brasil).

Fonte: Adaptado de ABNT, 2005 e ABNT, 2013.

Percebe-se que há uma generalização das estratégias para cidades com


necessidade diferentes como é o caso daquelas localizadas na Zona Bioclimática
8 que é bastante extensa e inclui cidades com características climáticas variadas.
Da mesma forma, todas as cidades incluídas nas zonas de 1 a 7 possuem a mesma
exigência para área de abertura para ventilação de acordo com a NBR 15575.
Enquanto a NBR 15575 considera aberturas médias para as Zonas de 1 a 7,
a NBR 15220 recomenda que as aberturas para ventilação na Zona sete sejam
pequenas, considerando “pequenas” as aberturas com área entre 10% a 15% da
área do piso em contradição com as aberturas “médias” de 7% da área do piso da
NBR 15575. Para a Zona oito a NBR 15575 sugere 12% da área do piso.
Além disto, este índice é bastante inferior ao recomendado pela NBR 15220
(ABNT, 2005) que é de 40% da área de piso para a Zona Bioclimática oito, por
exemplo, e não faz referências à tipologia das esquadrias ou orientação das mes-
mas. Tais divergências e generalizações indicam a necessidade de revisão das
Normas Brasileiras e de estudos localizados que apontem alternativas para cada
cidade de acordo com o clima local.
Por outro lado, os regulamentos de eficiência energética lançados pelo INME-
TRO (BRASIL, 2009; 2012), representam um grande passo para a construção de
edifícios mais eficientes no campo da gestão da energia. Entretanto, ainda apre-
sentam significativas limitações, principalmente na análise da ventilação natural
como estratégia para redução de consumo de energia na maioria das Zonas Bio-
climáticas do país. Isto ocorre, entre outros fatores, devido à complexidade que
envolve o estudo da ventilação natural.
Como este artigo está direcionada às edificações residenciais, serão anali-
sadas as recomendações do RTQ-R para este tipo de edificação. O RTQ-R avalia
a ventilação natural na análise de pré-requisitos e nas bonificações. Como pré-
-requisito considera a ventilação em três aspectos: percentual de área mínima
54 Configuração das aberturas para ventilação natural: contribuições para normas brasileiras

de abertura efetiva para ventilação em ambientes de permanência prolongada,


banheiros com ventilação natural e ventilação cruzada na unidade habitacional
atendendo a proporção de 25%. Entretanto, a avaliação destes aspectos apenas
não assegura o bom desempenho da ventilação natural no interior da edificação.
O percentual de área mínima, por exemplo, não garante a adequada orienta-
ção das esquadrias nem a distribuição das correntes de ar no ambiente. A ventila-
ção cruzada, quando fora da proporção indicada (25%) também não é considerada
tornando-se um ponto negativo na avaliação, segundo o RTQ-R.
Apesar de ser uma forma de avaliação mais detalhada do que aquela presente
nas Normas Brasileiras, e considerar outros aspectos além da área de abertura
para ventilação em relação à área do piso, tais como a ventilação cruzada e a
ventilação de banheiros, verifica-se que ainda são necessários alguns ajustes para

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que se tenha um método avaliativo mais preciso em relação à ventilação natural
nas edificações.
Além de normas do Ministério do Trabalho, que fixam limites máximos de
temperatura e o tempo a que uma pessoa pode se expor em seu ambiente de
trabalho, desenvolvendo suas atividades, ainda não existem normas de conforto
térmico em edificações no Brasil. Por este motivo, Lamberts et al. (2013) desen-
volveram um novo projeto de norma brasileira, com base na norma ASHRAE 55
(2004), apresentando algumas mudanças estruturais e complementações, que
visam a melhor compreensão, organização dos métodos de avaliação e procedi-
mentos complementares.
A proposta de norma aceita limites de velocidade do ar elevadas para esten-
der os limites de temperatura operativa do ar aceitáveis para o conforto térmico.
“Os limites são impostos em função do ambiente, fatores pessoais e da existência
ou não do controle local da velocidade do ar para os ocupantes do ambiente”
(LAMBERTS, et al., 2013).

3. Método

O método proposto fundamenta-se na análise comparativa de modelos com


diferentes configurações, analisando qualitativa e quantitativamente os efeitos
de cada parâmetro escolhido, no desempenho da ventilação natural.
As ferramentas CFD (Computer Fluid Dynamics) vêm sendo largamente utili-
zadas por pesquisadores na análise da ventilação natural. Sua aplicação permite
controlar todas as variáveis envolvidas na questão investigada, se apresentando
como uma ferramenta indicada para a realização de análises paramétricas e per-
mitindo a identificação dos efeitos produzidos por cada um dos parâmetros exa-
minados (HOOFF; BLOCKEN, 2013; TRINDADE et al., 2010; BITTENCOURT, 1993).
Por este motivo, optou-se por utilizar uma ferramenta CFD para a análise do
impacto produzido por diferentes configurações de aberturas no comportamento
da ventilação natural em edificações residenciais multifamiliares. O software esco-
lhido foi o PHOENICS, produzido pela CHAM na sua versão 3.6.1.
Os procedimentos metodológicos utilizados foram divididos em cinco etapas:
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 55

a) Definição e caracterização do modelo;


b) Definição dos parâmetros a serem simulados;
c) Configuração dos dados de simulação;
d) Simulações computacionais;
e) Análise dos resultados.

3.1 Definição e caracterização do modelo de simulação

Devido a sua representatividade nas cidades brasileiras, bem como a possibi-


lidade de analisar diferentes configurações de aberturas, foi escolhida a tipologia
de apartamento típico para faixa de renda 1 em formato H (figura 1) apresentada no
estudo de Triana et al. (2015). Esta tipologia de quatro apartamentos por andar é
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bastante praticada nas cidades brasileiras tanto em habitações populares quanto


em edificações voltadas para a classe média, sofrendo algumas adaptações de
acordo com o público alvo de cada empreendimento, como por exemplo, o acrés-
cimo de um quarto e o aumento da área útil dos ambientes.
Os modelos foram construídos detalhando apenas o térreo e o terceiro pavi-
mento, transformando os outros pavimentos em blocos sem aberturas de modo a
agilizar as simulações. Além dos pavimentos intermediários, o corredor também
foi considerado um bloco fechado, já que a porta de acesso aos apartamentos
geralmente fica fechada por questões de segurança. Da mesma forma, tanto as
NBRs quanto o Regulamento de Eficiência Energética não consideram a porta
principal como uma abertura de entrada de ar.

Figura 1 | Modelo escolhido para análise

Fonte: TRIANA, et al., 2015.

Segundo Triana (2015), a edificação típica escolhida para este estudo possui
as seguintes características: área de serviço integrada com a cozinha, sala de estar/
jantar, paredes de painel de concreto de 10cm com transmitância de 4,4W/m2K
e capacidade térmica de 240kJ/m2K. Coberta em telha de fibrocimento e laje de
concreto com 10cm de espessura, transmitância de 2,06W/m2K e capacidade
térmica de 233kJ/m2K. As janelas dos quartos são compostas por duas folhas de
56 Configuração das aberturas para ventilação natural: contribuições para normas brasileiras

correr com área do vão de 1,44m2 e fator de ventilação de 0,45. A sala possui uma
janela com duas folhas de correr e uma peça de vidro fixa na parte inferior da
janela, totalizando vão de 1,60m2 e fator de ventilação de 0,375. A cozinha possui
uma janela de 1,20m2 com duas folhas de correr e fator de ventilação de 0,45. E o
banheiro uma janela de 0,36m2 tipo “boca de lobo”.

3.2 Definição dos parâmetros de simulação

Dentre os aspectos relacionados à abertura que afetam o desempenho da


ventilação natural, foram escolhidos para análise: a área efetiva de aberturas
externas, a relação entre área de abertura de entrada e área de abertura de saída

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na unidade habitacional e a porosidade das portas internas (ventilação cruzada).
Os motivos serão listados a seguir:

a) Esses parâmetros têm influência direta e significativa no desempenho


da ventilação natural nas edificações;
b) Geralmente, são características definidas por arquitetos durante o pro-
cesso projetual. Sendo assim, se o arquiteto tiver informações precisas
sobre como configurar melhor as aberturas, de forma a obter um melhor
desempenho da ventilação natural, pode assim fazê-lo.
c) O dimensionamento das aberturas está presente nas recomendações
das principais normas de desempenho de edificações e regulamentos,
sendo a única variável presente nas Normas Brasileiras (ABNT, 2005,
2013) Como este trabalho visa contribuir para estas Normas e Regula-
mentos, foram escolhidos esses parâmetros para análise.

3.2.1 Configuração das aberturas

Com relação ao dimensionamento das aberturas foram simulados os seguin-


tes percentuais de área de abertura com relação à área do piso: 8%, 12%, 25%
e 40% (Quadro 2). Esses percentuais foram escolhidos por estarem presentes
nas Normas 15220 e 15575. As relações entre área de abertura de entrada/área
de abertura de saída de cada modelo foram calculadas em função das áreas de
abertura dimensionadas. O cálculo foi feito de acordo com as instruções do RTQ-R
(BRASIL, 2012).
Sendo assim, o caso 1, com 8% de área de aberturas em relação à área do piso
possui relação entre áreas de abertura de saída e entrada do vento de 50%. O caso
2, com 12% de área de abertura em relação à área do piso apresenta 31%, o caso 3
com 25% de área de abertura em relação a área de piso possui 48% e o caso 4, com
40% da área de abertura em relação ás áreas de piso, teve como resultado o per-
centual de 36% de relação entre áreas de abertura de saída e entrada e do vento.
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 57

Quadro 2 | Proporção entre aberturas de saída e


entrada do vento em cada caso analisado

ÁREA DE ABERTURA/ ÁREA DE SAÍDA/ÁREA


CASOS
ÁREA DO PISO (%) DE ENTRADA (%)

1 8 50

2 12 31

3 25 48

4 40 36

Fonte: Elaborado pela autora.


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3.2.2 Porosidade das portas internas

Além da relação entre áreas de aberturas de entrada e saída, a ventilação


cruzada depende também da existência de aberturas entre os ambientes, garan-
tindo o escoamento do ar em toda unidade habitacional.
Portanto, para analisar a ventilação cruzada no modelo, serão simulados
três tipos de porosidade das portas internas dos ambientes quarto 1, quarto 2 e
banheiro (a cozinha não possui porta no projeto original e foi mantida aberta em
todas as simulações). As porosidades das portas internas consideradas foram:
100% de porosidade, considerando uma situação de porta aberta com bandeira
aberta, 25% de porosidade considerando uma situação de venezianas na parte infe-
rior da porta, e 15% de porosidade considerando uma bandeira aberta (Figura 2).

Figura 2 | Diferentes porosidades da porta de acesso aos ambientes, onde a parte


hachurada em cinza corresponde à área considerada vazada nas simulações

Fonte: Elaborada pela autora.


58 Configuração das aberturas para ventilação natural: contribuições para normas brasileiras

3.2.3 Ângulo de incidência e velocidade dos ventos

Quanto à incidência dos ventos, como os apartamentos são iguais, apenas


rebatidos em planta, foram analisados três ângulos de incidências do vento em
relação ao edifício, a fim de verificar a influência da orientação das aberturas em
relação aos ventos predominantes em qualquer região onde ele esteja implantado,
no desempenho da ventilação natural.
As incidências analisadas foram: incidência 1 igual a 0°, a incidência 2 igual
a 90°, a incidência 3 igual a 135° em relação ao eixo Y no domínio do programa
(localização do Norte), cobrindo assim, todos os ângulos de incidência de 45° em
45° graus para o modelo analisado, considerando que os apartamentos possuem
planta espelhada (Figura 3).

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Figura 3 | ângulos de incidência dos ventos simulados

Fonte: Elaborado pela autora.

Para a escolha das velocidades médias do vento a serem simuladas, foram


observadas as velocidades médias mensais do vento nas capitais brasileiras, con-
siderando que estas se localizam em realidades climáticas distintas. Foram cal-
culadas as velocidades médias anuais, e observou-se que a média da velocidade
entre as cidades é de 2m/s, sendo este também o valor mais frequente. A mediana
foi calculada e obteve-se como resultado o valor de 1,93m/s. Por este motivo, as
simulações foram realizadas utilizando a velocidade de entrada de 2m/s.

3.3 Configuração dos dados de simulação

O PHOENICS é um software desenvolvido pela empresa britânica CHAM, e


foi o primeiro código computacional baseado na dinâmica dos fluidos computa-
dorizada (CFD) a surgir no mercado. O programa se utiliza do calculo através de
elementos finitos para resolver as equações diferenciais da dinâmica dos fluidos e
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 59

desde o seu lançamento em 1981, vem sendo utilizado por arquitetos, construtores,
engenheiros, indústrias e em pesquisas acadêmicas (CHAM, 2005).
O nome PHOENICS é um acrônimo para Parabolic Hyperbolic Or Elliptic
Numerical Integration Code Series (CHAM, 2005). O software é bastante flexível,
permitindo simular diversas situações incluindo “[...] escoamento multifásico,
transferência de calor, processos com reações químicas, acompanhamento de
partículas, dispersão de fumaça, aerodinâmica, análise de eficiência de equipa-
mentos, climatização e ventilação, entre outros” (SAFE SOLUTIONS, 2012).

3.3.1 Correção da velocidade do ar: consideração do entorno

A velocidade a ser considerada nas simulações será de 2m/s, entretanto é


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necessário que se faça uma correção deste valor para a altura da abertura que se
deseja estudar, já que esses dados geralmente são coletados em estações meteo-
rológicas, localizadas em áreas abertas, cujos anemômetros são posicionados a
uma altura padrão de 10 metros. A não observação dessa correção é provavelmente
uma das fontes de erro mais comuns no cálculo das taxas de renovação de ar
(BITTENCOURT; CANDIDO, 2008).
Existem diversos modelos de correção para ajustar a velocidade do vento à
altura da abertura, com base nas características de rugosidade e adensamento
do entorno, variando de campos abertos a regiões centrais em grandes cidades.
Optou-se por simular a condição de rugosidade menos favorável à ventilação
natural (centro de cidade). Neste caso, utilizando os valores: k=0,21 e a=0,33, dentre
os valores demonstrados no Quadro 3.

Quadro 3 | Coeficientes de rugosidade de terreno adotados nas simulações

COEFICIENTES DE RUGOSIDADE DO TERRENO

Terreno k a

Área aberta plana 0,68 0,17

Campo com obstáculos esparsos 0,52 0,20

Área suburbana 0,35 0,25

Centro de cidade 0,21 0,33

Fonte: BITTENCOURT; CANDIDO (2008 apud JACKMAN).

Estes coeficientes foram utilizados no cálculo da altura de referência (refe-


rence hight=113,21m), através da equação (BRE, 1978):
Vz = V10 × K × Za, onde:

• Vz é a velocidade do vento na altura Z de interesse (m/s);


• V10 é a velocidade do vento a 10 metros de altura (m/s);
• Z é a altura da cumeeira para edificações de até dois andares ou a
altura da janela para edificações mais altas (m);
60 Configuração das aberturas para ventilação natural: contribuições para normas brasileiras

• K e a são função da localização da edificação e podem ser obtidos


por tabelas (Quadro 3).

Além disto, o valor do coeficiente a = 0,33 também foi usado no campo Power
Law index do software, determinando assim a configuração do gradiente de vento
no programa.

3.3.2 Configuração do gradiente de vento

Foi utilizado o objeto WIND disponível nesta versão do Programa. Wind é


criado como um objeto cujos atributos podem ser configurados, tais como velo-
cidade a uma altura de referência e a direção (Figura 4). Neste caso, não é preciso

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definir áreas de entrada e saída de ar no domínio (inlet e outlet), nem calcular o
gradiente de vento para cada altura, o próprio programa já realiza os cálculos a
partir das configurações do WIND.

Figura 4 | Configuração do objeto WIND para obtenção do gradiente de vento

Fonte: Elaborado pela autora.

3.3.3 Cálculo do domínio

Domínio em um ambiente CFD, é o espaço no qual o modelo será inserido e


simulado. Deve ter um tamanho que permita o livre escoamento do fluxo de modo
a não ocasionar interferências nos campos de pressão gerados nas simulações
(SACRAMENTO, 2012). Para esta investigação, as dimensões do domínio foram
calculadas segundo as orientações do suporte técnico do software para utilização
do módulo WIND.
Foram utilizadas as seguintes equações na definição dos limites do domínio:

• Xdom= 3 . Xobj + Xobj + 3 . Xobj


• Ydom= 3 . Yobj + Yobj + 3 . Yobj
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 61

• Zdom= 3 . Zobj + Zobj

Sendo assim, as dimensões do objeto (edifício) foram calculadas no Sketch


Up obtendo-se os seguintes valores: x=17,62m, y=13,6m e z=11,15m. Aplicando-se
os valores nas fórmulas, obtiveram-se os seguintes resultados: Xdom= 123,34m,
Ydom=95,20m, Zdom=44,60m (Figura 5).

Figura 5 | Domínio calculado, representado pelo WIND, com o modelo ao centro


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Fonte: Elaborado pela autora.

3.3.4 Configuração da malha

A malha é a subdivisão do domínio em um conjunto de volumes elementares


nos quais o modelo numérico resolverá as equações básicas. A divisão do espaço
é realizada através de um algoritmo computacional específico em cada software.
É importante verificar se a malha resultante deste processo possui volumes ele-
mentares homogêneos, pois o resultado final da simulação depende da qualidade
da malha (CUMPLIDO NETO et al., 2011). No caso do PHOENICS, a malha ou grid
pode ser configurada de três formas: cartesiana, cilíndrico-polar ou body-fited
(BFC). Como o modelo em análise possui forma ortogonal, adotou-se a malha
cartesiana para este trabalho.
Inicialmente, uma malha preliminar é definida pelo próprio software com
base na geometria do objeto. A partir desta malha criada pelo programa é neces-
sário refinar os pontos onde se deseja conhecer detalhadamente o fluxo do vento,
para que nestes pontos os resultados sejam mais precisos. Após vários testes, a
malha resultante é exibida na imagem a seguir (Figura 6).
62 Configuração das aberturas para ventilação natural: contribuições para normas brasileiras

Figura 6 | Malha configurada no software PHOENICS para o modelo em planta baixa

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Fonte: Elaborado pela autora.

3.3.5 Parametros de relaxamento e convergência

A relaxação é uma técnica que o programa utiliza para diminuir as possíveis


taxas excessivas de oscilação dos resultados. Isso não afeta a solução final. Em
muitos casos, a convergência será muito difícil de obter sem configurações de
relaxamento adequadas, por isto é muito importante que elas sejam configuradas
corretamente. Foram utilizados os seguintes parâmetros de relaxamento: P1 = 0.1;
U1 = V1 = W1 = 0.0155; KE = 0.1; EP = 0.1, onde P = pressão, U = velocidade em X,
V = velocidade em Y, W = velocidade em Z, KE = energia cinética turbulenta, EP
= dissipação da energia cinética, seguindo instruções do suporte técnico para as
condições de simulação deste trabalho.
O algoritmo computacional do software resolve as equações governantes a
partir do método dos elementos finitos. Como critério de convergência dos resul-
tados, foi inserido um erro médio de 10-4. O modelo de turbulência utilizado foi o
k-ε, que é mais comumente utilizado neste tipo de simulação.

3.4 Análise dos resultados

Para análise quantitativa, foram extraídas as médias da velocidade do ar em


cada ambiente de cada apartamento nos dois pavimentos investigados. Foram
coletadas as velocidades do ar em duas alturas: 0,6m acima do piso dos pavimen-
tos, que seria a altura de um usuário sentado ou deitado e 1,5m acima do piso dos
pavimentos que seria a zona mediana de respiração do ser humano (MORAIS,
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 63

2013). Este procedimento foi feito em cada ambiente de cada modelo, e os dados
foram registrados em uma planilha Excel para posterior análise, elaborando-se
tabelas e gráficos.
Destaca-se que nos modelos configurados com porosidade das portas inter-
nas igual a 25%, a abertura foi localizada na parte inferior das portas e por isso
a verificação das velocidades internas a 0,6m do chão foi utilizada também para
verificar se houve algum incremento na velocidade do ar nestes modelos.
Dando continuidade à análise quantitativa, foi realizada a análise dos coe-
ficientes de velocidade, entendidos como a relação da velocidade interna pela
velocidade externa na mesma altura, análise da aceitabilidade do movimento do
ar, todas com base nos valores de velocidade obtidos nas simulações.
Outra análise essencial para verificar o desempenho da ventilação natural, é
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a análise qualitativa do fluxo de ar, observando se ele atinge os usuários dos espa-
ços. Portanto, foram extraídas imagens que possibilitaram a análise qualitativa do
fluxo de ar no interior do edifício, em cada modelo simulado. As imagens foram
extraídas a altura de 0,6m e 1,5m do piso no térreo e 3° pavimento, assim como a
obtenção dos valores de velocidade média.
É importante destacar que a escala de velocidade utilizada foi de 0,0 a 1,5m/s,
pois foi essa faixa de velocidade mais frequentemente encontrada em todos os
modelos simulados. Apenas em um dos modelos, com 40% de área de abertura
em relação á área do piso, 100% de porosidade das portas e vento incidente a 135°
que esses valores foram ultrapassados em alguns ambientes. Mas para efeito de
comparação a escala de valores foi mantida.
Outro detalhe na visualização dos resultados, é que as cores tradicionais do
programa foram invertidas para ter uma melhor relação com os resultados de
velocidade do ar sendo os valores mais baixos com cores mais quentes e os valores
mais altos de velocidade do ar representados com cores mais frias nas imagens.

4. Resultados e discussões

4.1 Análise qualitativa

A análise qualitativa das simulações evidenciou que a orientação do edifício


em relação aos ventos dominantes na região modifica significativamente o fluxo
do vento no interior da edificação.
Em relação aos ambientes mais favorecidos em cada incidência de vento,
observou-se que para incidência de 0° as maiores velocidades foram encontradas
na cozinha. Com o vento incidindo a 135° (Quadro 4) os ambientes mais favorecidos
foram quarto 1 e sala. Isto ocorreu devido ao posicionamento dos ambientes em
relação aos ventos simulados neste tipo de edifício. Já para o vento a 90° (Quadro
5), os ambientes que obtiveram maiores velocidade do ar foram a cozinha e a sala.
64 Configuração das aberturas para ventilação natural: contribuições para normas brasileiras

Quadro 4 | Distribuição do fluxo de ar nos modelos com 25% área de


abertura em relação à área de piso: térreo e 3° pavimento. Incidência 0°

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• Área de Abertura 25% • Área de Abertura 25%
• Porosidade das portas internas 100% • Porosidade das portas internas 100%
• Térreo • 3° Pavimento

Fonte: Elaborado pela autora.

Em uma análise geral, portanto, considera-se que a orientação em relação ao


vento incidente a 135° é favorável em relação às demais orientações, em edifícios
de forma quadrada e com plantas rebatidas como no caso analisado. Isto porque
os valores de velocidade do ar alcançados são maiores e a distribuição do fluxo de
ar não é tão heterogênea entre os apartamentos como nos outros casos. Obser-
vou-se também que o formato “H” do edifício e as aberturas das salas dos quatro
apartamentos posicionadas na reentrância favoreceram a ventilação natural na
maioria dos apartamentos, devido à diferença de pressão gerada nesta incidência.
Quanto à porosidade das portas internas, mais uma vez fica evidente a impor-
tância desta variável no desempenho da ventilação natural, tanto para que o ar se
distribua de maneira mais uniforme pelos ambientes como acontece no modelo
com 40% de área de abertura e 100% de porosidade das portas internas, quanto
para que velocidades mais altas sejam alcançadas e assim a ventilação possa
proporcionar melhores condições de conforto térmico aos usuários.
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 65

Quadro 5 | Distribuição do fluxo de ar nos modelos com 25% área de abertura


em relação à área de piso: térreo e 3° pavimento. Incidência 90°
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• Área de Abertura 40% • Área de Abertura 40%


• Porosidade das portas internas 100% • Porosidade das portas internas 15%
• 3° Pavimento • 3° Pavimento

Fonte: Elaborado pela autora.

4.2 Análise quantitativa

4.2.1 Quanto a área de abertura

De maneira geral, os valores de velocidade média do ar nos ambientes foram


mais altos nos modelos com maior área de abertura e também nos modelos com
maior porosidade das portas internas. Nas simulações com incidência de vento a
0° os apartamentos A e D ficam a barlavento, nas simulações com vento a 90° os
apartamentos a barlavento foram o A e o B enquanto nas simulações com o vento
incidindo a 135°, os apartamentos A, B e C ficam em posição favorável (Figura 7).
Desta forma, utilizou-se para fins comparativos, os dados do apartamento A, já
que nas três incidências os dados mais altos de velocidade do vento foram encon-
trados neste apartamento.
66 Configuração das aberturas para ventilação natural: contribuições para normas brasileiras

Figura 7 | Incidências de vento analisadas e os


apartamentos privilegiados em cada caso

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Fonte: Elaborado pela autora.

Nas simulações com incidência de vento a 135°, os valores foram os mais altos
dentre as três incidências simuladas, mantendo-se entre 0,10 m/s e 1,14m/s. Os
valores mais altos foram encontrados nos modelos com 40% da área de abertura
em relação a área de piso, principalmente nos ambientes sala, quarto 1, cozinha
e banheiro do terceiro pavimento (Figura 8).

Figura 8 | Gráfico da velocidade do ar para incidência 135° no apartamento A

Velocidade do ar para Incidência=135° no Apartamento A


1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
Sala Quarto 1 Quarto2 Cozinha Banheiro Sala Quarto 1 Quarto2 Cozinha Banheiro
Térreo 3° pavimento

8% 12% 25% 40%

Observa-se que no térreo, entretanto, o modelo com 25% de área de abertura


em relação à área do piso apresentou maiores velocidades do ar internas na sala,
quarto 1 e cozinha. Isto pode ter ocorrido porque o percentual de área de abertura
de entrada em relação ao percentual de área de saída é maior neste modelo, ou
seja, ele possui maior potencial de ventilação cruzada do que o modelo com áreas
de abertura iguais a 40% das áreas de piso. Observa-se, portanto, que a dimensão
das aberturas não pode ser considerada isoladamente, mas outros fatores podem
ser determinantes no desempenho da ventilação natural.
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 67

Por fim, é importante destacar que os percentuais propostos pelas Normas,


sempre em relação à área do piso dos ambientes nem sempre são praticáveis,
pois muitas vezes, são maiores que a área de parede do ambiente disponível na
fachada. Isto ocorreu na sala e no banheiro do modelo analisado, onde, não foi
possível abrir uma janela na dimensão recomendada, nos casos de 25% e 40% em
relação à área de piso. Nestes casos, as janelas foram dimensionadas considerando
a largura máxima proporcionada pela fachada disponível, e mantendo-se a altura
da janela padrão do modelo de 1,0m. Os percentuais obtidos, relacionando-se às
áreas das aberturas resultantes pelas áreas de piso e de fachada de cada ambiente
são listados a seguir (Quadro 6).

Quadro 6 | Percentuais de área de abertura em relação


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ao piso e à fachada dos ambientes

Área de
Área de abertura/
Ambiente Abertura/Área
Área de fachada
de piso

8% 10%

12% 14%
Quarto 1 (m2)
25% 30%

40% 48%

8% 10%

12% 14%
Quarto 2 (m2)
25% 30%

40% 48%

8% 21%

Sala (m2) + 12% 10%


Cozinha (m2) 25% 26%

40% 26%

8% 9%

12% 19%
Banheiro (m2)
25% 19%

40% 24%

Fonte: Elaborado pela autora.

Nota-se, portanto, que seria mais adequado se as Normas trabalhassem


com o percentual da área de abertura em relação à área de fachada do ambiente,
evitando este tipo de problema. Esta relação inclusive já é utilizada em diversos
estudos para investigar o desempenho térmico de edifícios, e em pesquisas inter-
nacionais recebe a sigla WWR – Window Wall Ratio. Já foi abordada por diversos
autores como em Al-Tamimi et al. (2011), dentre outros.
68 Configuração das aberturas para ventilação natural: contribuições para normas brasileiras

4.2.2 Quanto a relação entre área de abertura e área de piso

De acordo com o Manual do RTQ-R, a ventilação cruzada é aquela propor-


cionada pela existência de aberturas dispostas em diferentes fachadas de uma
mesma unidade habitacional, sejam elas opostas ou adjacentes, de modo a pro-
porcionar escoamento do ar através das aberturas que interligam os ambientes
desta UH. Esta relação de áreas de abertura de entrada e saída devem atender a
proporção de no mínimo 25%.
Esta análise foi realizada nos modelos simulados neste trabalho, verificando
que todos os modelos simulados possuem relação entre áreas de abertura de
entrada e saída maior do que a recomendada pelo RTQ-R, que é de 25% (A2/A1 ≥
25%). Os modelos com 8% de área de abertura em relação à área de piso possuem

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50%, os modelos com 12% de área de abertura em relação à área de piso possuem
31%, os modelos com 25% de área de abertura em relação à área de piso possuem
48% e por fim, os modelos com 40% possuem 36% (Quadro 7).

Quadro 7 | Percentuais obtidos na relação entre área de aberturas de


entrada e saída nas unidades habitacionais dos modelos simulados

Área de abertura/ Área de entrada/


Área do Piso Área de saída

8% 50%

12% 31%

25% 48%

40% 36%

Fonte: Elaborado pela autora.

Apesar disto, os resultados mostraram que o percentual de ventilação cru-


zada por si só não é capaz de garantir a velocidade de ar necessária para promover
o conforto térmico dos usuários. Nos modelos onde esse percentual era mais alto,
mas as áreas de abertura eram menores os valores de velocidade do ar interna
foram baixos, em muitos casos menores que 0,4m/s.
Por outro lado, o modelo que obteve mais frequência de velocidades acima
de 0,4m/s foi o modelo com 25% de abertura em relação à área do piso e 48%
de ventilação cruzada, mostrando que área de aberturas maiores combinadas à
existência de aberturas de entrada e saída podem surtir resultados satisfatórios
no conforto térmico dos usuários.

4.2.3 Quanto a porosidade das portas internas

A fim de investigar a influência da porosidade das portas, a velocidade do ar


foi analisada em duas alturas: a 0,6m do chão e a 1,5m do chão, no primeiro e no
terceiro pavimento do modelo. A 0,6m do chão o maior valor de velocidade média
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 69

do ar encontrado foi de 0,52m/s e ocorreu no modelo com 25% de área de abertura


em relação a área de piso dos ambientes e com porosidade das portas internas de
100%. A 1,5m de altura do chão, o maior valor de velocidade ocorreu no mesmo
modelo com 25% de área de abertura e 100% de porosidade das portas internas.
O valor foi de 0,61m/s. Tanto a 0,6m quanto a 1,5m do chão os valores mais altos
de velocidade encontrados foram registrados no quarto 1.
No terceiro pavimento, a 8,6m do chão, o maior valor encontrado foi de 1,04m/s
e ocorreu no modelo configurado com 40% de área de abertura em relação às áreas
de piso dos ambientes e porosidade das portas internas de 100%. O mesmo ocor-
reu a altura de 9,5m do chão, só que o valor encontrado foi um pouco mais alto, de
1,14m/s. Tanto a 8,6m quanto a 9,5m do chão os valores mais altos de velocidade
encontrados foram registrados na sala (Figura 9). Esta análise mostra que a veloci-
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dade média do ar também ocorre em função da altura das aberturas na edificação.

Figura 9 | Valores de velocidade máxima encontrados nas alturas investigadas

Velocidade máxima encontrada (m/s)


1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,6m 1,5m 8,6m 9,5m

Velocidade do ar

Fonte: Elaborado pela autora.

Todos os valores máximos foram encontrados em modelos simulados com o


vento a 135°, que foi a incidência que proporcionou velocidades de ar mais altas, e
no apartamento C, que devido a orientação e à forma do edifício é o mais favorável
em relação aos ventos neste caso.
Com o vento incidindo a 0° os valores mais altos de velocidade do ar foram
obtidos a altura de 9,5m do chão, na cozinha dos apartamentos A e D, no modelo
com 40% de área de abertura e 100% de porosidade das portas internas. O valor
máximo obtido nesta incidência foi de 0,35m/s. Nas simulações com o vento a
90°, o valor mais alto de velocidade do ar foi de 0,66m/s, obtido a altura de 9,5m
do chão, na cozinha dos apartamentos A e B, também no modelo com 40% de
área de abertura e 100% de porosidade das portas internas.
Por fim, foram comparadas as velocidades do ar nos ambientes internos dos
modelos com 40% de área de abertura em relação à área de piso, para incidência
de 135°, no terceiro pavimento, que representam o melhor caso em relação aos
valores de velocidade do ar obtidos.
70 Configuração das aberturas para ventilação natural: contribuições para normas brasileiras

Aqueles com 100% de porosidade das portas internas obtiveram velocidades


do ar mais altas em todos os ambientes exceto no quarto 2, onde as velocidades
dos três modelos foram bem próximas, de aproximadamente 0,2m/s. Isto ocorreu
a altura de 1,5m do piso (Figura 10).

Figura 10 | Gráfico de velocidades do ar para os três tipos


de porosidade das portas a 1,5m do chão

Velocidade do ar x porosidade das portas (1,5m)


1,2

0,8

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0,6

0,4

0,2

0
Sala Quarto 1 Quarto2 Cozinha Banheiro

100% 25% 15%

Fonte: Elaborado pela autora.

Observando o percurso do vento neste caso, verificou-se que ele entra pela
janela da sala que fica na reentrância do edifício e a porta do quarto 1 quando
aberta gera uma diferença de pressão que faz com que o ar penetre em alta velo-
cidade no quarto 1, deixando o quarto 2 com velocidades bem mais baixas. Por
esta razão, as velocidades obtidas nos modelos com 25% e 15% de porosidade das
portas internas foram mais altas neste ambiente.
O mesmo ocorre a 0,6m do piso, neste mesmo modelo com porosidade das
portas internas de 100%, onde a velocidade do ar foi mais alta no quarto 1 do que
no quarto 2, só que a esta altura, o modelo com porosidade interna da porta de
25% apresentou velocidade mais alta, de 0,24m/s (Figura 11).

Figura 11 | Gráfico de velocidades do ar para os três tipos


de porosidade das portas a 0,6m do chão

Velocidade do ar x porosidade das portas (0,6m)


1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
Sala Quarto 1 Quarto2 Cozinha Banheiro

100% 25% 15%

Fonte: Elaborado pela autora.


Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 71

Este foi o único caso em que se verificou aumento da velocidade do ar na


altura de 0,6m do piso no modelo em que a porosidade das portas foi igual a 25%,
em relação aos modelos com 100% de porosidade das portas internas. A análise
em diferentes alturas em relação ao piso mostrou que na maioria dos casos os
maiores valores foram verificados a 1,5m do chão. Isto confirma a necessidade de
prover elementos que contribuam com a ventilação natural na altura do usuário
sentado, como peitoris ventilados, por exemplo, principalmente em ambientes
como quartos e salas, para que o vento seja capaz de promover o resfriamento
fisiológico dos usuários.

4.3 Análise do Coeficiente de Velocidade do Ar


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Para análise dos coeficientes de velocidades (CV), foram utilizados dados


do apartamento A em todas as incidências que, conforme citado anteriormente,
apresentou os melhores resultados de velocidade do ar em todas as orienta-
ções simuladas.
Os melhores CVs foram obtidos com incidência de vento a 135°, alcançando
mais de 130% em relação à velocidade média externa. No térreo, o modelo com
25% de área de abertura em relação à área de piso obteve maiores CVs nos ambien-
tes sala, quarto 1 e cozinha, e o modelo com 40% de área de abertura em relação
à área de piso obteve maior CV no banheiro. Já no terceiro pavimento, o modelo
com 40% de área de abertura apresentou os melhores resultados em todos os
ambientes exceto no quarto 2 (Figura 12).

Figura 12 | Coeficiente de velocidade com vento a 135°

140%
120%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Quarto 1

Quarto2

Cozinha

Sala

Quarto 1

Quarto2

Cozinha
Sala

Banheiro

Banheiro

Térreo 3° Pavimento

8% 12% 25% 40%

Fonte: Elaborado pela autora.


72 Configuração das aberturas para ventilação natural: contribuições para normas brasileiras

Figura 13 | Velocidades médias internas em relação à velocidade ao ar externo


a 135° no térreo: 25% e 40% de área de abertura em relação à área de piso

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Fonte: Elaborado pela autora.

A Figura 13 mostra que no térreo o modelo com 25% obteve melhores CVs
no quarto 1, banheiro, cozinha e sala do apartamento A, em relação ao modelo
com 40% de área de abertura em relação à área do piso dos ambientes, com des-
taque para a sala deste apartamento que passou de 50% para 103%. Já no terceiro
pavimento os CVs foram maiores no modelo com 40% de área de abertura em
relação à área de piso, conforme citado anteriormente. A Figura 14 demonstra os
percentuais em cada ambiente simulado.

Figura 14 | Velocidades médias internas em relação à velocidade ao ar externo a


135° no 3º pavimento: 25% e 40% de área de abertura em relação à área de piso

Fonte: Elaborado pela autora.

Para 90° de incidência o maior CV foi de 120% no modelo com 40% de área
de abertura em relação à área de piso. Os resultados dos modelos com 25% e
40% de área de abertura em relação à área de piso foram bem próximos (Figura
15) e os melhores CVs nesta incidência foram obtidos na cozinha, no banheiro e
na sala (Figura 16).
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 73

Figura 15 | Coeficiente de velocidade com vento a 90°

140%
120%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Quarto2

Sala

Quarto2
Cozinha
Sala

Quarto 1

Quarto 1

Cozinha
Banheiro

Banheiro
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Térreo 3° Pavimento

8% 12% 25% 40%

Fonte: Elaborado pela autora.

Figura 16 | Velocidades médias internas em relação à velocidade ao ar externo


a 90° no térreo: 25% e 40% de área de abertura em relação à área de piso

Fonte: Elaborado pela autora.

Com o vento a 0° foram obtidos os piores CVs, o percentual máximo foi 70%
na cozinha do térreo com as aberturas dimensionadas a 40% em relação às áreas
de piso dos ambientes. Observa-se que, para esta incidência, assim como para 90°
de incidência, os CVs do térreo foram maiores, em geral, do que os CVs do terceiro
pavimento (Figura 17 e Figura 18).
74 Configuração das aberturas para ventilação natural: contribuições para normas brasileiras

Figura 17 | Velocidades médias internas em relação à velocidade ao ar externo a


0° no térreo e 3° pavimento: 40% de área de abertura em relação à área de piso

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Fonte: Elaborado pela autora.

Figura 18 | Coeficiente de velocidade com vento a 0°

140%
120%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Quarto 1

Quarto2

Cozinha

Quarto 1

Quarto2

Cozinha
Sala

Sala
Banheiro

Banheiro

Térreo 3° Pavimento

8% 12% 25% 40%

Fonte: Elaborado pela autora.

Em relação à porosidade das portas internas, os maiores CVs foram obtidos


no modelo com as aberturas dimensionadas a 40% em relação às áreas de piso
dos ambientes e incidência de vento de 135° conforme já foi visto anteriormente.
O maior CV foi de 134% na sala do 3° pavimento e o menor foi de apenas 13% no
quarto 1 também no 3° pavimento (Figura 19).
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 75

Figura 19 | Coeficiente de velocidade a 0° para modelos com 40% de área


de abertura em relação à área do piso, variando a porosidade das portas

140%
120%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Sala

Quarto 1

Quarto2

Cozinha

Quarto 1

Quarto2
Sala

Cozinha
Banheiro

Banheiro
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Térreo 3° Pavimento

100% 25% 15%

Fonte: Elaborado pela autora.

Dentre os modelos com 8% de área de abertura em relação às áreas de piso


dos ambientes, o que obteve menores CVs foi aquele com incidência de vento a
0°. O menor CV foi obtido no quarto 2 do térreo, sendo de 7% apenas, em relação
à velocidade do ar externa (Figura 20).

Figura 20 | Coeficiente de velocidade a 0° para modelos com 8% de área de


abertura em relação à área do piso, variando a porosidade das portas

140%
120%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Sala

Quarto 1

Quarto2

Cozinha

Quarto 1

Quarto2
Sala

Cozinha
Banheiro

Banheiro

Térreo 3° Pavimento

100% 25% 15%

Fonte: Elaborado pela autora.


76 Configuração das aberturas para ventilação natural: contribuições para normas brasileiras

4.4 Reflexões e contribuições para as normas

Confirmou-se através dos resultados, que a configuração das aberturas é


uma característica fundamental para o desempenho da ventilação natural nas
edificações. Ficou claro também que o bom desempenho da ventilação natural
não depende apenas de uma característica isolada, como o dimensionamento
das aberturas, por exemplo, mas da associação de características como dimen-
sionamento, disposição de áreas de abertura e de saída do vento e porosidade das
portas internas, investigadas neste trabalho, que exercem forte influência sobre
a ventilação no interior dos edifícios.

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4.4.1 Dimensionamento das aberturas

As diretrizes normativas para dimensionamento das aberturas são feitas em


função da área de piso dos ambientes. Dependendo do formato do ambiente, esta
relação nem sempre será possível. Por exemplo, quando a NBR 15220-3 (ABNT,
2005) recomenda uma abertura com 40% da área de piso de um ambiente, este
tamanho de abertura não será exequível em uma planta de formato retangular
e fachada estreita, impossibilitando o projetista de atender a tal recomendação.
Por esta razão, seria mais viável trabalhar com os percentuais de abertura em
relação à área de fachada do ambiente.
O Quadro 8 apresenta recomendações para esses percentuais de aberturas
nas diferentes zonas bioclimáticas. Com base nos dados obtidos nas simulações,
recomenda-se adotar no mínimo 30% de área de abertura em relação à área de
fachada dos ambientes de permanência prolongada, como quartos, salas e cozi-
nhas, para a Zona Bioclimática oito. Este valor foi atribuído a esta Zona por ter
características climáticas que fazem da ventilação natural a principal estratégia
para obter conforto térmico e porque os modelos com este dimensionamento de
abertura obtiveram a maior frequência de valores acima de 0,4m/s.
Nas demais zonas bioclimáticas recomenda-se no mínimo 20% de área de
abertura em relação à área de fachada dos ambientes de permanência prolongada,
desde que as esquadrias sejam passíveis de fechamento e controle por parte dos
usuários. Isto porque, mesmo em regiões de clima mais ameno, ou com grandes
variações sazonais de temperatura, há estações quentes nas quais a ventilação
cruzada é recomendada.
Para os ambientes de permanência transitória, tais como área de serviço e
banheiros, recomenda-se o mínimo de 10% de área de abertura em relação à área
de fachada dos ambientes em todas as zonas bioclimáticas. Este percentual equi-
vale a um pouco mais do que os 8% em relação à área do piso, que foi simulado e
em cujos casos verificou-se velocidades internas muito baixas. Considera-se que
aberturas menores do que as simuladas poderiam comprometer as condições
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 77

de higiene e salubridade dos ambientes a depender da incidência dos ventos e


do clima da região.

Quadro 8 | Recomendações para dimensionamento das aberturas em relação


a área da fachada de acordo com Zona Bioclimática e tipo de ambiente

Recomendação para
Zona Bioclimática Ambientes o dimensionamento
das aberturas

ZB 1 a 7 Permanência prolongada 20% da área da fachada

ZB 8 Permanência prolongada 30% da área da fachada

Todas as ZBs Permanência Transitória 10% da área da fachada


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Fonte: Elaborado pela autora.

4.4.2 Ventilação cruzada

As simulações considerando apenas as bandeiras das portas internas aber-


tas tiveram velocidades abaixo de 0,4m/s em quase todos os modelos simulados
exceto nos modelos com 40% de área de abertura em relação à área de piso a
incidência de 90° e 135°, onde esta frequência foi de 3% e 2% respectivamente.
Além disto, verificou-se que as velocidades mais altas foram obtidas nos
modelos que além de possuírem maiores aberturas, possuíam também maiores
percentuais na relação entre área de aberturas de saída/área de aberturas de
entrada. Os percentuais eram de 36% e 48% nos modelos com maiores áreas de
aberturas, considerando a unidade habitacional. Por esta razão, recomenda-se
adotar uma proporção de ventilação cruzada de no mínimo 35% em cada uni-
dade habitacional, relacionando as aberturas de entrada e as aberturas de saída
dispostas em fachadas diferentes do edifício (Quadro 9).

Quadro 9 | Recomendações quanto à ventilação cruzada

Recomendação para
Zona Bioclimática Ambientes ventilação cruzada em cada
UH

Todas as ZBs Permanência prolongada 35%

Fonte: Elaborado pela autora.

4.4.3 Quanto a incidência dos ventos

Sabe-se que as normas atuais não trazem nenhuma recomendação quanto


à posição das aberturas em relação aos ventos dominantes. Entretanto, este foi
um fator determinante na obtenção de maiores velocidades do ar no interior dos
78 Configuração das aberturas para ventilação natural: contribuições para normas brasileiras

ambientes dos modelos simulados. Os melhores resultados tanto em termos de dis-


tribuição do ar quanto em termos de velocidade do ar, foram obtidos, nos modelos
com incidência de vento a 135° em relação ao eixo Y. Por esta razão recomenda-se:

• Posicionar as aberturas de entrada dos ambientes de permanência


prolongada para a incidência de ventos predominante na região,
observando o entorno e os possíveis obstáculos que o mesmo possa
proporcionar ao vento antes de atingir o edifício.
• Priorizar a incidência de vento a 45°, 135°, 225° e 315° sempre que
possível como vento de entrada nos ambientes de permanência
prolongada, principalmente nas cidades da zona Bioclimática 8 onde
se recomenda a ventilação cruzada permanente.

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5. Avaliação da ventilação natural a partir da configuração das
aberturas

A fim de garantir o desempenho adequado da ventilação natural em edifica-


ções residenciais, as diretrizes relacionadas à configuração das aberturas devem
sempre ser observadas em conjunto e nunca de maneira isolada. Com base nas
considerações obtidas anteriormente neste artigo, e com o intuito de transformá-
-las em recomendações úteis para o processo projetual, serão sugeridas a seguir,
etapas para a configuração das aberturas em edificações residenciais (Figura 21).

Figura 21 | Etapas para configuração das aberturas com fins


de ventilação natural em edificações residenciais

Área de
Orientação do Localização das Dimensionamen Porosidade das
entrada/Área de
edi�cio aberturas to das aberturas portas internas
saída

Fonte: Elaborado pela autora.

1. Escolha da orientação do edifício. A orientação do edifício quanto aos


ventos predominantes na região, é essencial para garantir uma distri-
buição do fluxo mais uniforme entre os ambientes e os apartamentos
de um pavimento, no caso de edificações multifamiliares. A escolha
da orientação deve ser feita em conjunto com a análise da orientação
solar, a fim de obter um melhor desempenho térmico, satisfazendo
ambas as exigências.
2. Escolha da localização das aberturas. A partir da implantação do
edifício no lote e da observação do seu entorno, deve ser feito um
estudo das fachadas em zonas de alta e baixa pressão e com base nes-
tas informações definir a localização das aberturas. O leiaute interno,
apesar de não ter sido abordado nas simulações, pode influenciar a
distribuição do fluxo de ar e por esta razão deve ser analisado no início
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 79

das decisões projetuais. Além disso, na definição da localização e tipolo-


gia das aberturas, é necessário considerar que as zonas de alta pressão
corresponderão às zonas de entrada de ar e também de incidência de
chuvas associadas ao vento, sendo necessária a utilização de tipologias
de esquadrias que permitam o controle do usuário.
3. Dimensionamento das aberturas. Após a escolha da localização
das aberturas, deve-se definir o seu tamanho de acordo com: área da
fachada dos ambientes, função dos ambientes (permanência transitória
ou prolongada) e Zona Bioclimática onde se insere o projeto. O dimen-
sionamento das aberturas deve prever ainda a tipologia de janela que
será utilizada no projeto, garantindo a área recomendada livre para a
passagem do vento, sem a obstrução causada pela esquadria. Como o
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dimensionamento das janelas afeta, não apenas o conforto térmico e


a ventilação natural, outras demandas podem interferir na definição
da área de abertura, tais como, vistas privilegiadas, luz natural e priva-
cidade. É preciso conciliar essas demandas, buscando compensar as
eventuais perdas no desempenho da ventilação natural.
4. Verificação e ajustes da relação entre áreas de abertura de entrada
e saída. Após o dimensionamento das aberturas, pode-se calcular a
relação entre aberturas de entrada e de saída em cada unidade habi-
tacional. A fim de proporcionar ventilação cruzada, recomenda-se a
existência de aberturas em pelo menos duas fachadas distintas da UH.
De acordo com as simulações realizadas, verificou-se que maiores valo-
res de velocidade do ar interna são encontradas quando a relação área
de abertura de saída/área de abertura de entrada é maior que 35%.
5. Escolha da porosidade das portas internas. Mesmo com o dimensio-
namento adequado das aberturas, a ventilação cruzada não vai ocorrer
caso as portas internas sejam fechadas. Por isto, a fim de garantir a
ventilação cruzada no ambiente mesmo nestes casos, é importante
planejar a porosidade dessas portas através do uso de elementos como
seteiras, bandeiras ou venezianas. Esse aspecto deve ser tratado com
cuidado, pois pode provocar problemas acústicos e de privacidade.

6. Principais resultados e contribuições

Com base na pesquisa realizada por Candido et al. (2010), considerou-se


0,4m/s valor como um ponto de partida para que, a depender da temperatura
operativa do ambiente a ventilação natural pudesse contribuir na sensação de
conforto térmico, com maior aceitabilidade do movimento do ar por parte dos
usuários. Neste sentido, os resultados de velocidade média do ar foram analisa-
dos e a frequência de valores acima de 0,4m/s foi verificada em todos os modelos.
Quanto ao dimensionamento das aberturas, como era de se esperar, as simu-
lações mostraram que quanto maior a área de abertura, maiores os valores de velo-
cidade do ar nos ambientes internos. Entretanto, o modelo que apresentou maior
80 Configuração das aberturas para ventilação natural: contribuições para normas brasileiras

frequência de velocidades médias internas acima de 0,4m/s foi o modelo com 25%
de área de abertura em relação à área do piso, 100% de porosidade das portas inter-
nas e 48% de razão entre aberturas de entrada e saída nas unidades habitacionais.
Ainda no que se refere à ventilação cruzada, ficou clara nas simulações a influên-
cia das portas internas no desempenho da ventilação natural na edificação, pois é
através delas que a ventilação se desloca de um ambiente para o outro. Os valores
de velocidade do ar obtidos nos modelos com 100% de porosidade das portas foram
sempre superiores aos encontrados nos modelos com 25% e 15% de porosidade.
Os resultados também mostraram que o formato de planta baixa utilizado
nesta pesquisa, que é comumente encontrado em cidades brasileiras, não é efi-
ciente do ponto de vista do aproveitamento da ventilação natural, pois dependendo

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da incidência do vento, provoca uma distribuição desuniforme da ventilação nos
apartamentos, em especial com o vento incidindo a 0° e 90° em relação ao eixo Y.
Nas simulações com o vento a 135° a distribuição do fluxo de ar foi mais uni-
forme, e os valores de velocidades obtidos foram mais altos, o que leva a crer que
essa seja a melhor orientação a ser aproveitada do ponto de vista da ventilação
natural. No entanto, é necessário conhecer a direção dos ventos predominantes
no local. E esta informação nem sempre está disponível aos projetistas.
Esta pesquisa constatou também a falta de ferramentas que possam auxiliar
os projetistas na tomada de decisões a fim de obter um melhor aproveitamento da
ventilação natural nas edificações. Por ser um fenômeno complexo que envolve
diversas variáveis, as ferramentas existentes exigem treinamento e conhecimento
específico de mecânica dos fluidos, o que na maioria das vezes não faz parte da
formação dos arquitetos.
Quanto ao uso do CFD, considera-se que o uso da ferramenta de simula-
ção utilizada neste trabalho demonstrou-se adequada para alcançar os objetivos
propostos. Através desta ferramenta foi possível simular vinte e quatro modelos
com configurações de aberturas distintas, obtendo resultados tanto quantitativos
quanto qualitativos imprescindíveis para o desenvolvimento das análises.
Uma das principais vantagens do software é a de manter constantes as
demais variáveis enquanto se analisa a influência de um determinado parâmetro,
possibilitando a análise simultânea de diversas caraterísticas, tanto da edificação
quanto do entorno, que afetam o desempenho da ventilação natural.
No entanto, o uso desta ferramenta exigiu conhecimentos específicos e
treinamento adequado que demandaram tempo, principalmente para alcançar
a convergência dos modelos. Diversas configurações de malha e parâmetros de
relaxamento precisaram ser testadas até que se chegasse ao conjunto de tempo
de simulação e precisão de resultados que se pretendia.
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 81

7. Conclusões

A análise conjunta de diversos parâmetros que afetam a ventilação natural


nas edificações mostrou, de maneira geral, que as recomendações das atuais
normativas são falhas, não considerando a integração entre os diversos aspectos
que influenciam o desempenho da ventilação natural nos edifícios.
Além do dimensionamento das aberturas de entrada e saída em edificações
residenciais para fins de ventilação natural, este artigo ressalta a importância da
porosidade das portas internas das unidades habitacionais, aspecto ausente das
atuais normas vigentes no Brasil e muitas vezes desconsiderado por projetistas.
Como em edificações residenciais multifamiliares existem, muitas vezes, ambien-
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tes com apenas uma janela que funciona como abertura de entrada, as portas
assumem papel fundamental, pois funcionam como aberturas de saída. Uma
vez que essas portas permanecem fechadas a maior parte do tempo, torná-las
porosas possibilita a ventilação cruzada no ambiente mesmo quando as portas
estiverem fechadas.
Outro aspecto importante no desempenho da ventilação natural é a relação
entre área de aberturas de entrada e área de aberturas de saída em uma unidade
habitacional. Esta relação está presente apenas no RTQ-R, que recomenda um
índice de 25%. Entretanto, as maiores velocidades do ar em ambientes internos
foram obtidas com a associação destes dois aspectos: maiores dimensões de
aberturas e maiores percentuais na relação entre área de abertura de entrada
e área de aberturas de saída na unidade habitacional. Por esta razão recomen-
da-se o percentual mínimo de 35% que é um valor mais próximo aos simulados
neste trabalho.
É importante destacar porém que é necessário considerar, de forma inte-
grada, os diversos condicionantes arquitetônicos envolvido no projeto das aber-
turas: além da ventilação natural, a iluminação natural, o ruído, a incidência de
chuvas, dentre outros.

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Influência de muros vazados laminados
no desempenho da ventilação natural
em habitações de interesse social

Isabely Penina Cavalcanti da Costa


Ricardo Victor Rodrigues Barbosa

DOI: 10.24824/978652514675.1.85-126
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1. Introdução

As regiões de clima tropical quente e úmido são caracterizadas por pequenas


flutuações da temperatura do ar e elevados níveis de umidade. Como o padrão do
céu parcialmente nublado ocorre na maior parte do tempo, quantidades signifi-
cativas de radiação difusa e luminosidade são geradas. Assim, recomenda-se que
as edificações evitem ganhos de calor advindos da radiação solar, na medida que
dissipam o calor produzido internamente. Nesse sentido, o resfriamento é o princi-
pal foco do projeto arquitetônico, sendo a ventilação natural um fator relevante no
estabelecimento do conforto térmico (GIVONI, 1994). Valores altos de velocidade
do vento podem promover a sensação de conforto térmico no usuário, por meio
do resfriamento fisiológico, como também contribuir para as trocas de calor, para
a renovação e a qualidade do ar nos espaços internos (CÂNDIDO et al., 2010).
No Zoneamento Bioclimático Brasileiro, disposto na NBR 15220-3 (ABNT,
2005), a recomendação da ventilação natural é sugerida em todas as zonas em
alguma época do ano, com exceção da Zona Bioclimática 1. No que tange à Zona Bio-
climática 8, a qual ocupa a maior extensão do território, orienta-se que esse recurso
natural seja utilizado permanentemente. Assim, o desenvolvimento de estudos
voltados para a utilização de mecanismos que explorem a ventilação natural, tanto
nos espaços externos como internos às edificações, é relevante para a obtenção das
condições de conforto térmico, sem recorrer aos sistemas de climatização artificial.
Contudo, o potencial de uso da ventilação natural pode ser prejudicado pela
presença de anteparos no entorno das edificações, pois estes elementos modificam
o fluxo de ar que incide nas aberturas (TOLEDO, 1999). O muro, elemento que limita
as divisas dos lotes, é um exemplo comum de anteparo existente nas habitações
brasileiras. Este elemento foi sendo incorporado como um reflexo do crescimento
dos índices de violência e criminalidade nas cidades. Kowaltowski et al. (2006)
afirmam que culturalmente a população deposita mais confiança nos muros altos
em detrimento do controle de seu espaço, através da visualização plena da área.
Algumas pesquisas de Avaliação Pós Ocupação (APO) de conjuntos habitacio-
nais de interesse social constataram que a principal modificação realizada após a
entrega do empreendimento é a construção do muro, justificada pela busca de priva-
cidade e segurança (LACERDA; MARROQUIM; ANDRADE, 2011; SANTOS; BARROS;
Influência de muros vazados laminados no desempenho da
86 ventilação natural em habitações de interesse social

AMORIM, 2013). O impacto da incorporação dos muros pode ser mais agravante à
circulação dos ventos em edificações térreas e localizadas em lotes pequenos (BIT-
TENCOURT; CÂNDIDO; 2015, OLIVEIRA, 2009), sendo estas características recor-
rentes em tipologias de habitações de Interesse Social (MARROQUIM, 2017).
Na literatura, foram identificados alguns trabalhos que estudaram a influên-
cia dos muros na ventilação natural, considerando principalmente o fator da
porosidade, a exemplo dos estudos de Li, Wang e Bell (2003), Chang (2006) e
Chang e Cheng (2009). Estas pesquisas demonstraram que diferentes configu-
rações e formas de inserção do muro resultaram em modificações nas condições
da ventilação natural nas edificações, principalmente em relação aos valores de
velocidade do ar e ao direcionamento do vento. Considerando a distribuição dos
coeficientes de pressão (Cps), Marin (2017) verificou que o muro é um elemento

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que interfere diretamente nessa variável, ocasionando a redução das taxas de
renovação de ar e o aumento na temperatura interna nos períodos noturnos, pois
limita o potencial da ventilação natural em remover os ganhos de calor. O autor
constatou que o acréscimo do muro na divisa do lote provoca um aumento do
desconforto térmico na habitação.
De uma maneira geral, a maioria das pesquisas que se relacionam à ventilação
natural e aos muros são anteriores à década de 1990 (MELARAGNO, 19821; BOUTET,
19872; HARE; KRONAUER, 19693), e por se tratarem de estudos em contexto climá-
tico distinto do clima tropical quente e úmido, são voltadas ao uso de muros como
quebra-ventos e não com ênfase no aproveitamento dos ventos. Em nível nacional,
têm-se trabalhos utilizando outros componentes para captação da ventilação natural,
como sheds, peitoris ventilados, pérgolas, entre outros, descritos em pesquisas como
as realizadas por Lukiantchuki (2015), Bittencourt et al. (2007), Leal, Bittencourt e
Cândido (2006) e Lima, Cândido e Bittencourt (2005). Sendo escassos trabalhos que
consideram a influência de muros na circulação dos ventos nas edificações.
Considerando estes aspectos, objetivou-se avaliar o comportamento da ven-
tilação natural produzido por diferentes configurações de muros vazados lami-
nados, com vistas à promoção do conforto térmico em habitações de interesse
social com tipologias térreas considerando o clima tropical quente e úmido. Para
o alcance do objetivo, foram utilizadas análises paramétricas realizadas por meio
de simulações baseadas na Dinâmica dos Fluidos Computacional (CFD).

2. Referencial teórico

2.1 Influência dos muros no escoamento dos ventos

A maioria das pesquisas acerca da influência de muros no escoamento dos


ventos abordou o uso desses elementos como quebra-ventos. Olgyay (1998) des-
creveu um experimento que utilizou quatro diferentes tipos de quebra-ventos:

1 Melaragno (1982) apud Brown e Dekay (2004).


2 Boutet (1987) apud Bittencourt e Cândido (2015).
3 Hare e Kronauer (1969) apud Oliveira (2009).
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 87

(1) uma barreira de seção laminar (semelhante ao muro convencional), (2) uma
barreira de seção triangular, (3) uma barreira de seção cilíndrica, e (4) uma barreira
vegetal. A barreira vegetal foi a que apresentou a maior extensão de proteção,
seguida da barreira laminar. Esta, contudo, foi a que mais reduziu a velocidade
do vento nas áreas próximas à barreira.
Brown e Dekay (2004) verificaram que o emprego de quebra-ventos para
redução da velocidade dos ventos depende principalmente de duas variáveis, a
densidade (porosidade) e a altura do elemento, mas outros aspectos geométricos
podem influenciar, tais como forma, largura e comprimento. Em relação à porosi-
dade, os autores constataram que quebra-ventos mais densos são mais eficientes
na redução da velocidade nas áreas logo após a barreira. Segundo Brown e Dekay
(2004), os quebra-ventos podem ser aplicados para proteção de edificações em
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climas frios, reduzindo as perdas térmicas, como também em climas quentes e


secos, pois fornece o conforto térmico e protege contra areia e poeira.
Li, Wang e Bell (2003) avaliaram o efeito de quebra-ventos nos espaços urba-
nos. O estudo analisou variáveis como o recuo entre o quebra-vento e a edificação e a
porcentagem de porosidade do elemento. Os autores demonstraram que o impacto
do recuo na diminuição da velocidade do vento em espaços externos pequenos se
sobrepõe ao efeito da porosidade, indicando que o recuo é uma variável relevante.
Chang (2006) analisou o impacto de uma cerca viva em uma habitação de dois
pavimentos em relação a circulação do fluxo de ar. O autor considerou como parâ-
metros os níveis de porosidade, o recuo frontal e a altura da cerca. Os resultados
da pesquisa sugeriram que ao se utilizar a cerca com maior índice de porosidade
existe maior incidência de fluxo de ar no interior da edificação. Em contrapartida,
o uso da cerca com menor índice de porosidade gerou uma área de recirculação
na área de recuo, o que reduziu consideravelmente o fluxo de ar internamente.
O estudo de Chang (2006) concluiu que os níveis de porosidade produziram
três padrões diferentes de fluxo de ar: (1) o fluxo de incidência (porosidade maior),
que induz a ventilação cruzada no ambiente interno; (2) o fluxo de estagnação
(porosidade média), em que a velocidade do vento é praticamente nula dentro da
edificação; e (3) o fluxo de recirculação (porosidade menor), que gera uma inversão
na incidência do vento na edificação, ou seja, as aberturas a sotavento assumiram
a função de entrada de ar, ao invés das aberturas a barlavento. Isto demonstrou
que a cerca promoveu um impacto na distribuição das pressões nas superfícies da
edificação. Ao fixar o nível de porosidade médio, o autor constatou que os melho-
res resultados foram encontrados nos casos em que a cerca tinha menor altura e
estava localizada mais próxima da edificação.
Chang e Cheng (2009) avaliaram a influência do muro em um exemplar de
edificação térrea. Eles variaram o nível de porosidade do elemento e fixaram a
dimensão do recuo frontal. Os resultados obtidos foram similares ao estudo de
Chang (2006), sendo constatado que índices de porosidade altos facilitaram à
ventilação cruzada.
Oliveira (2009) investigou a influência de modificações em habitações
autoconstruídas no aproveitamento da ventilação natural. Entre outros aspec-
tos, a autora verificou que a inserção do muro totalmente fechado reduz
Influência de muros vazados laminados no desempenho da
88 ventilação natural em habitações de interesse social

significativamente a velocidade do vento nos ambientes internos. Foram ana-


lisadas 150 casas e em apenas 9 delas foi possível manter a ventilação natural
dentro da edificação com valores de velocidade em torno de 10% do fluxo obtido
na área urbana.
Marin (2017) analisou o efeito gerado no conforto térmico pela incorporação
de diferentes dispositivos de sombreamento externos e do muro em uma habi-
tação térrea. O autor constatou que a inclusão do muro foi o que mais impactou
os coeficientes de pressão (Cps), visto a ocorrência do fenômeno da inversão da
sobrepressão, em que o sinal do Cp é alterado de positivo para negativo. Esta
condição gerou uma diminuição da taxa de renovação do ar e um acréscimo nas
temperaturas internas, sobretudo no período noturno. O autor concluiu que houve
um aumento do desconforto na habitação com a inclusão do muro.

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As pesquisas demonstraram que os muros e elementos similares podem ter
efeitos benéficos ou prejudiciais a depender do objetivo de sua incorporação nas
edificações. Para o aproveitamento da ventilação natural em climas quentes e
úmidos, o muro pode se constituir uma barreira a circulação dos ventos. Segundo
os estudos, os parâmetros que mais influenciam a análise desse elemento são:
porosidade, dimensão, formato, posição em relação a incidência dos ventos e
recuo frontal. Com destaque na porosidade, verificou-se o potencial de uso de
elementos porosos ou permeáveis para potencializar o desempenho da ventilação
em ambientes internos.

2.2 Estratégias passivas de ventilação natural: uso de elementos vazados

Na observância dos variados fatores que interferem no fluxo dos ventos,


existem alguns recursos e componentes arquitetônicos que ao serem inseridos
na envoltória da edificação podem melhorar o aproveitamento da ventilação
natural. Como exemplo podem-se citar: tipologias das aberturas, elementos vaza-
dos, elementos horizontais e verticais, torres e captadores de vento, pérgulas e
peitoril ventilado.
O escoamento do fluxo de ar pode ser influenciado pela distribuição, o posi-
cionamento, o tamanho e o tipo de fechamento das aberturas. Segundo Bitten-
court e Cândido (2015), independentemente da tipologia utilizada, a porosidade
é uma condição importante e desejável em climas quentes, sendo obtida com o
uso de venezianas nas esquadrias ou elementos vazados.
Os elementos vazados, conhecidos como cobogós, são soluções comumente
encontradas nas edificações do nordeste do Brasil, principalmente por promo-
verem o aproveitamento dos ventos, filtrarem a iluminação natural e por terem
um baixo custo (BITTENCOURT; CÂNDIDO, 2015). Bittencourt (1995) investigou
o desempenho de quatro geometrias de cobogós no aumento da ventilação em
edificações. O autor realizou a avaliação da resistência à passagem do vento em
função da velocidade e do ângulo de incidência, utilizando medições em câmara
de testes. Os resultados demonstraram que a resistência promovida pelos cobogós
é proporcional à porosidade de cada componente, entretanto, essa resistência é
seletiva, pois depende da velocidade do ar e da forma do bloco.
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 89

Outro componente interessante é o peitoril ventilado, que é um dispositivo


com a função de promover a movimentação do ar complementando as esquadrias.
Geralmente possui um formato de L invertido e é colocado de forma a sobre-
por uma abertura posicionada no peitoril da janela principal. A sua composição
permite que os ventos sejam captados e direcionados para a altura dos usuários
sentados, ao passo que protegem da incidência de chuvas e radiação solar direta.
Assim, podem ser inseridos de forma benéfica em ambientes de trabalho e dor-
mitórios (BITTENCOURT et al., 2007).
No estudo realizado por Leal, Bittencourt e Cândido (2006), foi avaliado o
impacto de três diferentes formatos de peitoris ventilados na distribuição do fluxo
de ar e na velocidade do vento em salas de aula. Nos resultados foi verificada a
influência do formato do peitoril ventilado na captação do fluxo de ar, sendo os for-
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matos curvo e inclinado os que apresentaram melhor desempenho, em detrimento


ao formato ortogonal, que ofereceu uma maior resistência à passagem do ar.
Em pesquisa complementar, realizada por Montenegro, Xavier e Bittencourt
(2012), foi estudada a influência da inclinação das aletas do peitoril ventilado em
dormitórios. Constatou-se que a posição das aletas impacta de forma significativa
na distribuição e direção do vento no interior do ambiente. Apesar da existência
das aletas ser positiva, ao permitir controle e uso mais flexível do peitoril, elas
promovem maior resistência à passagem do fluxo de ar.
Bittencourt e Cândido (2015) afirmam que, mesmo com a constatação dos
benefícios proporcionados pelos componentes vazados, sejam cobogós, pérgulas
ou o peitoril ventilado, estes são pouco estudados, de forma a considerar suas
potencialidades, pelos arquitetos brasileiros. Nesse sentido, pesquisas que tratem
da avaliação dos impactos desses elementos, considerando suas vantagens e
desvantagens, são relevantes para melhor inserção deles nas edificações. As pos-
síveis desvantagens e divergências projetuais se referem ao isolamento acústico,
à incidência de chuvas, aos insetos, aos efeitos na luminosidade e, até mesmo, aos
aspectos de segurança da edificação.

2.3 Ferramentas para análise da ventilação natural

Variados métodos e ferramentas são utilizados com foco na predição da


ventilação natural pela ação do vento. Segundo Cóstola (2006), a escolha dos
meios dependerá da relevância da ventilação para o estudo/projeto, além da
disponibilidade de recursos humanos e materiais. O uso desses meios se torna
imprescindível para o entendimento do comportamento de fenômenos físicos,
evitando-se recomendações e soluções generalistas que possuam discrepâncias
com a realidade (ARAÚJO, 2011).
Existem duas abordagens principais dentro da realização de experimentos
envolvendo ventilação natural: a abordagem quantitativa, que tem como foco
mensurar variáveis componentes do fenômeno físico; e a abordagem qualitativa,
com o objetivo da visualização do padrão escoamento do vento. Ambas são distin-
tas, porém complementares (TOLEDO, 2006). Considerando essas abordagens,
são encontrados diferentes métodos e ferramentas para estimar o fluxo do vento,
Influência de muros vazados laminados no desempenho da
90 ventilação natural em habitações de interesse social

tanto para ambientes externos como internos às edificações, sendo as principais:


(1) uso de fórmulas analíticas e semi-empíricas (modelo algébrico); (2) túnel de
vento (modelo empírico); (3) medições in loco (modelo empírico); (4) mesa d’água
(modelo analógico); e (5) simulação computacional baseada na Dinâmica dos
Fluidos Computacional (CFD). Cada método possui vantagens e limitações, assim
a escolha dependerá do foco e das condições do estudo (LUKIANTCHUKI, 2015;
ARAÚJO, 2011).
Segundo Araújo (2011) e Cunha (2010), o modelo algébrico é o método mais
tradicional, sendo ainda bastante utilizado, devido ao embasamento teórico do
fenômeno físico e da pouca exigência de recursos tecnológicos para sua aplicação.
Trata-se do cálculo dos valores de ventilação, que por sua vez se relaciona com
as variáveis: coeficiente de descarga, a área de aberturas, velocidade do vento e o

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coeficiente de pressão. Este cálculo é um importante procedimento para mensu-
rar o desempenho térmico de edificações, porém não são úteis quando se deseja
visualizar a distribuição do fluxo de ar (BITTENCOURT; CÂNDIDO, 2010).
Para a visualização da distribuição do fluxo de ar geralmente utiliza-se de
métodos empíricos, com uso de medições in loco e/ou em modelos em escala
natural ou reduzida. Segundo Toledo (2006), no caso da predição da ventilação
natural pela ação do vento, as medições in loco e em modelos de escala natu-
ral são processos que necessitam de muito tempo de trabalho, pela variação da
ocorrência dos ventos, além da possibilidade de ter interferências ambientais
indesejáveis. Dessa forma, é interessante experimentos com modelos em escala
reduzida, utilizando ferramentas como o túnel de vento.
O túnel de vento é composto por uma câmara de ensaio de secção retangular,
com aletas na entrada e um ventilador mecânico de pás na saída. Dentro dele
são colocados os modelos reduzidos de teste, sendo possível realizar análises
qualitativas, com a visualização do escoamento através de fumaça ou areia (téc-
nica da erosão), como também análises quantitativas, utilizando equipamentos
de medição da velocidade do ar, a exemplo de anemômetro e o tubo de Pitot. O
túnel de vento apresenta resultados quantitativos bastante satisfatórios para o
estudo da ventilação natural, porém suas desvantagens são a exigência de insta-
lações adequadas, disponíveis apenas laboratórios de pesquisa especializados,
e conhecimentos específicos para o operá-lo (TOLEDO, 2006; LUKIANTCHUKI,
2015; BITTENCOURT; CÂNDIDO, 2010).
A mesa d’água é outra ferramenta encontrada em estudos da ventilação
natural. Ela consiste num visualizador de escoamento da água com espuma, em
que é possível estimar o comportamento do fluxo de ar através do movimento do
fluido em modelos físicos reduzidos. A vantagem da ferramenta é a visualização
instantânea e satisfatória dos efeitos do escoamento, além de ser um equipamento
de baixo custo de execução e manutenção, porém sua análise é apenas bidimen-
sional e qualitativa (TOLEDO; PEREIRA, 2003; BITTENCOURT; CÂNDIDO, 2010).
Com o avanço da tecnologia, principalmente da capacidade computacional,
foi possível o desenvolvimento dos modelos CFD. Segundo Bittencourt e Cândido
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 91

(2015), com exceção dos modelos físicos, os modelos CFD são os únicos capazes
de investigar alternativas projetuais e sua influência nos padrões de ventilação
natural. Além do escoamento do fluido, é possível prever a transferência de calor
e fenômenos relacionados, possibilitando a geração de informações detalhadas
sobre a distribuição de pressão, velocidade e temperatura.
As vantagens dos modelos CFD são a redução de tempo, esforço e custo, em
comparação com a produção de protótipos. Entretanto, eles possuem desvanta-
gens como: elevada demanda de capacidade computacional; custos significativos
com a licença dos programas especializados; necessidade de usuários treinados
para a inserção correta dos parâmetros no software; e estudos mais aprofunda-
dos sobre dinâmica dos fluidos computacional (TOLEDO, 2006; BITTENCOURT;
CÂNDIDO, 2015; SILVA, 2015). Estas desvantagens limitam o uso dos modelos
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CFD por arquitetos.


Avaliando as vantagens e desvantagens dos recursos utilizados para predição
da ventilação natural, optou-se, na presente pesquisa, pelo uso da simulação por
CFD. Nesse sentido, este recurso será detalhado na seção de método (seção 3).

3. Método

A presente pesquisa possui uma abordagem metodológica exploratória, com


uso de análises paramétricas por meio de simulações baseadas em dinâmica dos
fluídos computacional (Computational Fluid Dynamics – CFD). As simulações foram
realizadas com o uso do software CFX, na versão 18.1 (ANSYS, 2017). Segundo
Groat e Wang (2013), a simulação tem como principal característica a recriação
de aspectos de um ambiente físico real, de forma variada, considerando o fenô-
meno em sua complexidade. Assim, as análises consistiram na investigação de
diferentes configurações geométricas de modelos de muros aplicados em um
exemplar de Habitação de Interesse Social (HIS). A pesquisa foi dividida em três
etapas principais:

1. definição dos modelos e dos parâmetros analisados;


2. configuração e execução das simulações computacionais; e
3. avaliação comparativa dos casos investigados.

3.1 Definição dos modelos e parâmetros de análise

3.1.1 Escolha das Tipologias de Muros

A escolha dos modelos e parâmetros de estudo levou em consideração alguns


critérios: (1) características relatadas na literatura; (2) aspectos recorrentes nos
exemplares encontrados nas áreas urbanas; (3) nível de privacidade, visto que é
um motivador para construção de muros; (4) viabilidade de execução em HIS.
Influência de muros vazados laminados no desempenho da
92 ventilação natural em habitações de interesse social

Nesse sentido, foram definidas três tipologias de muros, um modelo sem


aberturas e dois vazados, constituídos por componentes laminados (Quadro
1). Estes componentes foram escolhidos devido ao seu potencial em promover
arranjos favoráveis à privacidade, como também a estimativa de baixo custo para
execução, o que facilita a implantação em HIS.

1. Como Modelo de Referência (MR) optou-se pelo muro totalmente


fechado, sem aberturas, sendo este o tipo mais convencional encon-
trado nas residências. Além disso, sua inclusão é vinculada a geração
de condições desfavoráveis ao aproveitamento da ventilação natural
(CHANG, 2006; MARIN, 2017);

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2. A primeira tipologia vazada é o Muro com Lâminas Inclinadas (MLI), que
se assemelha a esquadrias do tipo veneziana. Este tipo é comumente
encontrado em edificações residências;
3. A segunda tipologia vazada é o Muro com Lâminas Ortogonais (MLO),
constituído de lâminas retas dispostas verticalmente e alternadamente.
A finalidade da sua definição foi verificar a influência da disposição das
lâminas no desempenho da ventilação natural.

Quadro 1 | Tipologias de muros analisadas

(1) Modelo de referência – MR (2) Muro com Lâminas (3) Muro com Lâminas
Inclinadas – MLI Ortogonais – MLO

Fonte: Costa (2018).

3.1.2 Escolha do exemplar de HIS

Foi selecionado um exemplar de edificação térrea de um conjunto HIS, onde


foram observadas intervenções realizadas pelos usuários após a entrega da edifica-
ção pela construtora, principalmente, a inserção de muros altos e fechados (Figura 1).
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 93

Figura 1 | HIS: (a) planta baixa, (b) perspectiva, (c) execução, e (d) pós-ocupação

Fonte: (a), (b) e (c) Costa (2018) adaptado de Construtora (2012); (d) Costa (2018).

3.1.3 Características climáticas consideradas

Para realização das análises foi considerado o contexto climático da cidade


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de Maceió, AL, onde se localiza o exemplar de edificação selecionado. A cidade


foi escolhida pois possui um clima tropical quente e úmido e situa-se na zona
bioclimática 8 (ABNT, 2005), onde a ventilação cruzada de forma permanente é
uma das estratégias recomendadas.
Maceió apresenta temperatura do ar média anual de 25,1°C, sendo a ampli-
tude térmica de aproximadamente 3,0°C. Contudo, valores de temperatura abso-
luta acima de 38°C podem ser registrados nos meses mais quentes. Suas taxas de
umidade relativa do ar são elevadas e com pouca oscilação, a média anual é de
77,8%. Essas baixas oscilações influenciam nas pequenas variações da tempera-
tura do ar (BRASIL, 2018). A cidade registra uma média pluviométrica anual de
1867,4 mm, variando consideravelmente quanto à distribuição de chuvas. Assim,
destaca-se a presença de duas estações, uma com altas temperaturas e pouca
pluviosidade, e outra com elevada pluviosidade e umidade, e temperaturas mais
amenas (BRASIL, 2018).
Maceió é caracterizada por um valor de velocidade dos ventos médio mensal
de 3,1 m/s, com uma variação entre 2,40 m/s, nos meses de maio, junho e julho, e
3,8 m/s em novembro (Figura 2). A direção do vento Sudeste (SE) é a predominante,
principalmente ao considerar os meses de março a novembro, seguida da direção
Leste (E), que se sobressai entre os meses de dezembro e fevereiro (BRASIL, 2018).
Influência de muros vazados laminados no desempenho da
94 ventilação natural em habitações de interesse social

Figura 2 | Caracterização da variável velocidade do ar


para Maceió/AL (médias mensal e anual)
4,0
3,5
Velocidade do vento (m/s)

3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ ANUAL

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Fonte: Adaptado de Brasil (2018).

3.1.4 Escolha dos parâmetros analisados

Para a realização da análise paramétrica foram definidos parâmetros variá-


veis e fixos. Com base nos aspectos vistos na literatura, foram definidos quatro
parâmetros variáveis: (A) posição da lâmina; (B) direção da lâmina; (C) porosidade
do muro; e (D) ângulo de incidência dos ventos. Sendo os 3 primeiros aplicáveis
somente às tipologias vazadas.

a)
Posição da lâmina: vertical e horizontal. As lâminas na posição vertical
foram escolhidas por conta da sua recorrência nas edificações residen-
ciais com muros vazados. Considerou-se também a posição na horizon-
tal, devido ao seu potencial de proporcionar melhores condições de
privacidade ao ser comparada com a posição vertical;
b) Direção da lâmina: Considerando a tipologias com Lâminas Inclinadas
(MLI), variou-se as lâminas em quatro direções (para cima, para baixo,
para direita, para esquerda) em relação a fachada frontal da edificação;
c) Porosidade do componente vazado: foram determinados dois níveis de
porosidade (52% e 73%). Para determinação das porcentagens foram
realizadas variações nas dimensões das lâminas. Para o cálculo da poro-
sidade foi considerado o valor do volume vazado em relação ao volume
total do componente (Figura 3a);
d) Ângulo de incidência dos ventos externos em relação ao muro: foram
definidas três variações (90°, 45° e 135°), sendo o objetivo avaliar o
desempenho do muro com os ventos incidindo perpendicularmente e
obliquamente às configurações estudadas (Figura 3b).
Com a aplicação dos parâmetros variáveis nas três tipologias analisadas, foi
elaborada a matriz de referência com um total de 39 casos (Quadro 2).
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 95

Figura 3 | Parâmetros variáveis: (a) porosidade; (b) ângulos de incidência do vento

a) b)

Volume vazado
(Variável) 5º
Muro
frontal

Legenda 0º
Sólido
Vazado
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Fonte: Costa (2018).

Quadro 2 | Descrição dos casos analisados por tipologia de muro

Tipologia 1: Modelo de Referência (MR)

Parâmetro variável
Casos
aplicado

Incidência do
90°, 45° e 135°
vento

Total de casos 3 casos simulados

Parâmetro Casos
variável aplicado MLIHC52 MLIHC73 MLIHB52 MLIHB73

Ilustração

Posição Horizontal Horizontal Horizontal Horizontal

Direção p/ cima p/ cima p/ baixo p/ baixo

52% (Esp. da 73% (Esp. da 52% (Esp. da 73% (Esp. da


Porosidade
Lâmina = 5 cm) Lâmina = 3 cm) Lâmina = 5 cm) Lâmina = 3 cm)

Incidência do vento 90°, 45° e 135°


Influência de muros vazados laminados no desempenho da
96 ventilação natural em habitações de interesse social

Parâmetro Casos
variável aplicado MLIVD52 MLIVD73 MLIVE52 MLIVE73

Ilustração

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Posição Vertical Vertical Vertical Vertical

Direção p/ direita p/ direita p/ esquerda p/ esquerda

52% (Esp. da 73% (Esp. da 52% (Esp. da 73% (Esp. da


Porosidade
Lâmina = 5 cm) Lâmina = 3 cm) Lâmina = 5 cm) Lâmina = 3 cm)

Incidência do vento 90°, 45° e 135°

Total de casos 24 casos simulados

Tipologia 3: Muro Casos


com Lâminas
Ortogonais MLOH52 MLOH73 MLOV52 MLOV73
(MLO)

Ilustração

Posição Horizontal Horizontal Vertical Vertical

52% (Esp. da 73% (Esp. da 52% (Esp. da 73% (Esp. da


Porosidade
Lâmina = 5 cm) Lâmina = 3 cm) Lâmina = 5 cm) Lâmina = 3 cm)

Incidência do vento 90°, 45° e 135°

Total de casos 12 casos simulados

Fonte: Costa (2018).

A partir da escolha dos parâmetros variáveis foram determinados os parâmetros


fixos. Estes foram definidos considerando as características projetuais do modelo de
edificação escolhido e outros aspectos descritos no Quadro 3 e ilustrados na Figura 4:
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 97

Quadro 3 | Descrição dos parâmetros fixos

Parâmetro Fixo Definições/Valores Descrição

1 Recuo para construção 5,45 m Considerou-se o projeto de HIS

Altura média utilizada nos muros do con-


2 Altura do Muro 2,50 m
junto de HIS

B a s e a d o e m e l e m e n tos va za d os
3 Espessura do muro 20 cm
comercializados

Central (plano verti-


Localização da área
4 cal) e Esquerda (plano Considerou-se o projeto de HIS
destinada ao componente
horizontal)

A partir de simulações preliminares, foi


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escolhido o valor que melhor unia os as-


5 Inclinação da lâmina 30°
pectos de distribuição do fluxo de ar e
privacidade

Valor definido a partir das velocidades


6 Velocidade do vento 3 m/s médias mensais e anuais para a cidade de
Maceió/AL

Fonte: Costa (2018).

Destaca-se que o valor da velocidade do vento (Quadro 3) é referente aos


dados da estação meteorológica, medidos à uma altura padrão de 10 m, sendo
necessário a correção dessa velocidade para o valor correspondente à altura de
referência das aberturas da edificação estudada. Para isso foi utilizada a equação
a seguir (Eq. 01)4:

V/Vm=k.za [Eq. 01]

Onde:
V = Velocidade do vento para a altura da abertura (m/s)
Vm = Velocidade média do vento medida na estação meteorológica (m/s)
medida a 10 m de altura. Valor utilizado: 3 m/s.
z = Altura da abertura (m). Valor utilizado: 1,60 m (referente à edifica-
ção estudada).
k, a = Coeficientes de rugosidade do terreno. Valores utilizados: k = 0,35, a
= 0,25 (referentes às características do entorno onde se encontra o modelo de
edificação estudado, que no caso seria: área urbana – subúrbio).

4 Building Research Establisment – BRE (1978)


Influência de muros vazados laminados no desempenho da
98 ventilação natural em habitações de interesse social

Figura 4 | Ilustrações esquemáticas demonstrando os parâmetros fixos


definidos: (a) planta baixa de locação; (b) corte do muro; (c) vista muro frontal
Muro
frontal– Componente
Vazado
5 0
,45 ,20

Fonte: Costa (2018).

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3.2 Simulação CFD

Para realização das simulações CFD foi utilizado o software Ansys CFX 18.1.
O software utiliza métodos numéricos para simular o escoamento de fluidos. A
escolha do programa foi baseada nos resultados coerentes e no bom nível de con-
fiabilidade obtidos em estudos envolvendo ventilação natural (LUKIANTCHUKI,
2015; CÓSTOLA, 2006). A simulação foi dividida em três fases: (1) Pré-processa-
mento; (2) Processamento; (3) Pós-processamento.

3.2.1 Pré-processamento

Nesta fase foram definidos os dados de entrada da simulação, sobretudo as


configurações de geometria (modelos e domínio), da malha computacional e das
condições iniciais e de contorno.

a) Geometria dos modelos e do domínio

Para a construção da geometria dos modelos foi utilizado inicialmente o


software AutoCad e posteriormente foram realizadas edições com a ferramenta
SpaceClaim do software ANSYS. Na elaboração dos modelos, foram considerados
os elementos geométricos essenciais para a análise, visto que quanto maior deta-
lhamento demanda um maior tempo de simulação. Assim, optou-se em priorizar
o detalhamento do componente vazado do muro e por uma simplificação na geo-
metria da edificação (Figura 4a).
Na edificação modelou-se apenas a envoltória, definida pelas paredes exter-
nas e as aberturas para ventilação (janelas localizadas nas fachadas frontal e
posterior). O dimensionamento das janelas considerou a porcentagem de 45% de
abertura para a ventilação natural, conforme o indicado para tipologia de correr no
RTQ-R (ELETROBRAS; PROCEL, 2014). Com a pretensão de simular considerando
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 99

o escoamento do fluxo em condições mais próximas do real, foram dispostas répli-


cas simplificadas da edificação nas laterais dos modelos analisados (Figura 5a).
O domínio pode ser compreendido como o volume do espaço que estabelece
os limites da simulação. Foi definido o domínio com formato retangular (paralelepí-
pedo), visto que este otimiza o processamento das simulações, pois demanda uma
menor quantidade de elementos de malha (LUKIANTCHUKI, 2015). As dimensões
do modelo foram baseadas no regulamento CA 14 (COST, 2004), que define como
parâmetro de referência a altura do edifício (H) (Figura 5b, Quadro 4).

Figura 5 | (a) geometria da edificação; (b) domínio


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Fonte: Costa (2018).

Quadro 4 | Relações estabelecidas para definição das dimensões do domínio

Valor
Aspecto Recomendação
utilizado

Distância da entrada (barlavento) e laterais para qualquer


5H* 23 m
obstáculo

Distância da saída (sotavento) para qualquer obstáculo 15H* 69 m

Altura do domínio 6H* 27,6 m

*H = 4,60 m (altura do edifício)

Fonte: adaptado de COST (2004).

Cost (2004) define uma porcentagem de até 3% de área obstrução da edi-


ficação no domínio, para evitar que as fronteiras do domínio não influenciem no
escoamento. As porcentagens obtidas no estudo se enquadraram dentro deste
limite, sendo 2,72% no sentido do fluxo e 2,20% no sentido perpendicular ao fluxo.

b) Malha

Devido a capacidade de processamento computacional, optou-se por uti-


lizar uma malha tetraédrica não estruturada, visto que ela é gerada com maior
facilidade e tem melhor adaptação em geometrias complexas (LEITE; FROTA,
2013). Nas áreas de interesse do modelo foi necessário realizar um refinamento da
Influência de muros vazados laminados no desempenho da
100 ventilação natural em habitações de interesse social

malha para aumentar a precisão na visualização do escoamento (Tabela 1). Esses


parâmetros foram definidos a partir de vários testes de convergência da malha,
para assegurar a obtenção de resultados coerentes (Figura 6).

Figura 6 | Malha gerada para os modelos analisados

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Fonte: Costa (2018).

Tabela 1 | Parâmetros de geração da malha

Parâmetros Globais Valor (m)

Maximum elemento size 13

Natural size 0,65

Cells in gap 5

Superfícies refinadas Valor (m)

Edificação 3

Muro 0,03

Fonte: Costa (2018).

c) Modelagem das condições iniciais e de contorno

Com base em trabalhos correlatos acerca do estudo de ventilação natu-


ral utilizando a ferramenta CFX (LUKIANTCHUKI, 2015; CÓSTOLA, 2006) foram
escolhidos parâmetros gerais da simulação e configurações para cada compo-
nente do modelo (Quadro 5). A simulação foi realizada em regime permanente,
no estado isotérmico a 25°, que é indicada para estudos que tratam da ação dos
ventos (CÓSTOLA, 2006). Optou-se pelo modelo k-Épsilon, devido a sua melhor
relação custo-benefício entre o tempo de processamento e a precisão. O controle
da solução matemática utilizou-se o critério de convergência o RMS com valor
de 10-4. Valores que ultrapassem esse limite sugerem que os resultados não são
suficientemente confiáveis (COST, 2004).
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 101

Quadro 5 | Condições iniciais e de contorno

Condições iniciais
Definição
e de contorno

Regime da simulação Permanente – condições de contorno se mantêm constantes

Domínio como fluido Gás ideal e pressão atmosférica local como referência

Regime térmico Isotérmico – desprezam-se as variações de temperatura e mistura efetiva do ar

Modelo de turbulência k-ε (k-Épsilon) – custo-benefício entre o tempo de processamento e a precisão

Funções turbulentas Scalable – funções ajustadas com as interações entre o fluido e as superfícies
de superfície sólidas

Critério de convergência RMS


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Controle da solução
O número máximo de iterações = 250
matemática
(Yplus) = 20 < y+ < 300

Fonte: Costa (2018).

Foi estabelecido também como critério de análise da qualidade da malha,


os resultados obtidos para o y+ (Yplus). Essa variável gera um valor quantitativo
relacionado a capacidade da malha em capturar bem o fenômeno do escoamento
nas proximidades das superfícies do modelo (Quadro 5).
A malha gerada alcançou o valor estabelecido como critério de convergência
para todos os modelos. A evolução do critério de convergência foi monitorada
considerando algumas variáveis: massa (RMS P-Mass), momento (RMS U-Mom,
RMS V-Mom e RMS W-Mom), energia e turbulência (E-Diss.K e K-TurbKE). A con-
vergência dos resíduos foi alcançada para todas as variáveis em questão em todos
os modelos analisados (Figura 7).

Figura 7 | Monitoramento do critério de convergência da malha para um dos modelos

Fonte: Costa (2018).


Influência de muros vazados laminados no desempenho da
102 ventilação natural em habitações de interesse social

De um modo geral, constatou-se que os valores obtidos para o y+ ficaram


dentro do intervalo proposto. Contudo, a região composta pelos elementos vazados
obteve valores menores ao recomendado. Este resultado se relaciona a dificul-
dade de conciliar a necessidade de aumentar a espessura da primeira camada de
prima, obtendo resultados melhores de y+, em contrapartida a tendência de dimi-
nuir os elementos de malha para obter uma melhor representação das pequenas
dimensões da geometria. Outros estudos correlatos também registram problemas
semelhantes (LEITE; FROTA, 2013; LUKIANTCHUKI, 2015). Assim, decidiu-se con-
siderar prioritário a avaliação obtida para o nível de convergência e para os testes
de qualidade da malha.

Figura 8 | Ilustração demonstrando os resultados obtidos

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para o y+ para um dos modelos analisados

Fonte: Costa (2018).

3.2.2 Processamento e Pós-processamento (tratamentos dos resultados)

Após a simulação dos casos, foram coletados dados qualitativos a partir de


contornos e vetores de direção e intensidade do fluxo de ar. Estes permitiram a
visualização dos padrões de escoamento. Para isso, foram definidos dois planos
de corte, um na horizontal, com altura de 0,85 m (Figura 9a), e outro na vertical,
posicionado no sentido do escoamento (Figura 9b).

Figura 9 | Planos de corte horizontal (a) e vertical (b)


para análise dos resultados qualitativos

Fonte: Costa (2018).


Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 103

Também foram extraídos dados quantitativos de velocidade do vento e coe-


ficiente de pressão (Cp). Para o monitoramento da velocidade foram distribuídos
16 pontos de medição no modelo. A malha de pontos foi composta por 3 pontos a
barlavento do muro (b), posicionados fora do modelo; 9 pontos no recuo frontal
(s), e 4 pontos situados dentro da edificação (i), estes foram localizados nas pro-
ximidades das aberturas da fachada frontal (Figura 10). Os pontos de medição
foram colocados a uma distância de 0,85 m do solo, esta medida se baseou nas
recomendações da ISO 7726 (ISO, 1998)5.
Os Cps foram analisados a partir da disposição de pontos no plano de corte
vertical (Figura 9b). Estes pontos geraram um perfil de comportamento da variá-
vel. Para extração dos valores, a equação 1 (Eq. 2) que define o cálculo dos Cps foi
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inserida no software (BITTENCOURT; CÂNDIDO, 2015):


=
1 2
2 .
[Eq. 2]
Onde:
Cp: Coeficiente de pressão.
Px Pe: Pressão em um determinado ponto de interesse no modelo.
Pe: Pressão estática de referência, do fluxo de ar não perturbado (Pa)6.
ρ: Massa específica do ar (kg/m³)ρ 7
Vref: Velocidade do fluxo (m/s)8

5 Segundo a ISO 7726 (ISO, 1988), as partes sensitivas do corpo humano para a pessoa sentada são: 0,10
m no nível do pé; 0,60 m no nível do tórax e 1,10 m no nível da cabeça. Para uma pessoa em pé são:
0,10 m no nível do pé; 1,10 m no nível da cintura e 1,70 m no nível da cabeça. Nesse sentido, optou-se
pelo valor médio entre a pessoa sentada (0,60 m) e a pessoa em pé (1,10 m), no nível do tórax.
6 A pressão estática de referência foi considerada nula para as condições adotadas na simulação
computacional.
7 Para o cálculo foram consideradas as condições de temperatura de 25°C (temperatura média anual
para cidade de Maceió) e pressão de 1atm.
8 A velocidade medida em um ponto antes da alteração sofrida pelos obstáculos, geralmente na cota
da cobertura do edifício.
Influência de muros vazados laminados no desempenho da
104 ventilação natural em habitações de interesse social

Figura 10 | Distribuição dos pontos de medição para monitorar a velocidade do vento

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Fonte: Costa (2018).

3.3 Avaliação comparativa

A avaliação foi realizada comparando os resultados obtidos para o modelo de


referência (MR) com os resultados dos muros com componentes vazados. Desta-
ca-se que para a análise dos dados de velocidade dos ventos foi utilizada a escala
cromática desenvolvida por Morais (2013), esta foi baseada em vários trabalhos,
como o de Cândido et al. (2010). A escala considera os limites de velocidade para
o conforto térmico, sendo possível verificar uma redução da carga térmica dentro
do intervalo entre 0,41 e 0,80 m/s (Figura 11).

Figura 11 | Escala cromática de velocidades médias aplicadas ao conforto térmico

Fonte: adaptada de Morais (2013).

4. Resultados e discussões

Os resultados foram divididos em quatro seções: (1) análise dos resultados


qualitativos; (2) análise dos resultados quantitativos; (3) análise geral, com foco
na comparação dos casos e variáveis consideradas; e (4) sugestões para o uso de
muros com componentes vazados.
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 105

4.1 Análise qualitativa

A análise qualitativa foi realizada considerando os vetores de direção e inten-


sidade do fluxo de ar e os contornos de velocidade para cada caso estudado. E
para melhor visualização dos resultados, a seção foi subdividida pelo ângulo de
incidência do vento. Como também, optou-se por ilustrar os melhores e piores
casos em comparação com o modelo de referência (MR).

4.1.1 Incidência do vento a 90°

Os resultados evidenciaram que no modelo de referência (MR), o muro des-


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viou a maior parte do fluxo de ar para a cobertura da edificação, esta redirecionou


parcela do escoamento para o recuo frontal. Como consequência, as regiões a
barlavento e interna da edificação tornaram-se áreas de recirculação e estagnação
(Figura 12). O muro posterior também contribuiu para a formação desse padrão de
escoamento, visto que ele atuou como elemento direcionador, fazendo uma parte
do fluxo regressar para a região de recuo frontal. Através dos vetores de direção,
observa-se também uma inversão no sentido natural do fluxo de ar, visto que as
aberturas previstas para a captação do vento funcionaram mais como aberturas
de saída (Figura 13a).

Figura 12 | Planos de corte para os casos MR, MLIHB73, MLIVD73, MLOV52 e


MLIHC52, evidenciando a distribuição do escoamento para incidência do vento a 90°

Fonte: Costa (2018).


Influência de muros vazados laminados no desempenho da
106 ventilação natural em habitações de interesse social

Nos muros vazados o padrão de circulação do fluxo de ar foi significativa-


mente distinto do MR, pois parte do fluxo incidiu no lote através do componente
vazado. Como consequência, percebe-se o incremento da velocidade do vento
nas regiões a barlavento e a sotavento do muro. Nota-se que nos casos com maior
porosidade (73%) ocorreu uma suavização do efeito do fluxo reverso. Visto que,
como esperado, o aumento da porosidade do muro ocasionou uma distribuição
mais ampla do fluxo de ar. Este alcançou mais as regiões próximas da edificação e,
consequentemente, reduziu as áreas de estagnação do fluxo. Este padrão confir-
mou o já relatado na literatura, em que índices de porosidade mais altos facilitam
o aproveitamento da ventilação (CHANG, 2006; CHANG; CHENG, 2009).
Contudo, de uma forma geral, o incremento na circulação do fluxo de ar na

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região de recuo frontal não se refletiu visualmente em melhores condições de ven-
tilação no espaço interno, visto que, semelhante ao modelo de referência (MR), a
tendência foi a formação de zonas de estagnação, com baixas velocidades de vento.

Figura 13 | Ampliação do plano de corte vertical para comparação


dos casos principais: (a) MR, (b) MLIHB73, (c) MLIVD73, (d)
MLOV52, (e) MLIHC52 (incidência do vento = 90°)

Fonte: Costa (2018).

Comparando as tipologias de muros vazados entre si, percebe-se a ocorrência


de distintos comportamentos na distribuição do fluxo de ar. Nos casos da tipologia
de Muro com Lâminas Inclinadas Horizontais direcionadas para Cima (MLIHC), o
fluxo ao incidir no muro seguiu uma trajetória ascendente. Quando o escoamento
se aproximou da cobertura da edificação retornou para região frontal, gerando
zonas de turbulência e reduzindo a abrangência do escoamento (Figura 13e). Em
oposição aos casos com Muro de Lâminas Inclinadas Horizontais direcionadas
para Baixo (MLIHB), em que parte do fluxo de ar ao ultrapassar o elemento vazado
seguiu uma trajetória descendente. Após tocar no solo do modelo, o escoamento
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 107

ascendeu na direção da edificação, gerando uma zona de turbulência (Figura 13b).


Percebe-se que a distribuição do escoamento ocorreu de forma mais ampla do
que nos modelos anteriores (MR e MLIHC), sobretudo no caso com maior poro-
sidade (Figura 12). Contudo, esse padrão não se refletiu no interior da edificação,
visto que o fluxo que incidiu pela abertura assumiu uma trajetória ascendente, se
concentrando no nível do teto. Assim, ainda predominou um padrão de circulação
com baixas velocidades do vento (Figuras 12 e 13b).
Nos modelos de Muro com Lâminas Inclinadas Verticais (MLIV) o fluxo se
deslocou no sentido de direção da lâmina. Nos casos com Lâminas direcionadas
para Direita (MLIVD), o escoamento foi conduzido para a fachada frontal da edifica-
ção, incidindo na abertura próxima à lateral direita (Sala) (Figura 12). Diferente dos
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casos com Lâminas Verticais direcionadas para esquerda (MLIVE) em que o fluxo
de ar ao ultrapassar o componente vazado tendeu a ser conduzido para o recuo
lateral. Esta condição prejudica o aproveitamento da ventilação na edificação.
Os ensaios com os modelos de Muro com Lâminas Ortogonais (MLO), de
uma forma geral, demostraram que esta tipologia foi a mais se assemelhou ao
Modelo de Referência (MR), sobretudo na abrangência do fluxo de ar na região a
sotavento da barreira e na ocorrência do fluxo reverso. Tanto as lâminas posicio-
nadas na Horizontal (MLOH) como na Vertical (MLOV), constatou-se uma maior
resistência a passagem do vento.
Assim, os melhores desempenhos foram para as tipologias de Muros com
Lâminas Horizontais direcionadas para Baixo (MLIHB) e de Muros com Lâminas
Verticais direcionadas para Direita (MLIVD). Visto que a posição e o direcionamento
das lâminas conduziram de forma mais evidente o fluxo para dentro do lote. O
MLIHB obteve maior abrangência e intensidade no recuo frontal do que o MLIVD.
Contudo, sua incidência nas aberturas foi prejudicada devido ao direcionamento do
fluxo para o nível do teto, reduzindo o potencial de aproveitamento da ventilação
(Figuras 12 e 13).
No geral, os piores padrões de distribuição foram visualizados nos casos com o
Muro de Lâminas Horizontais direcionadas para Cima (MLIHC) e para a tipologia de
Muros com Lâminas Ortogonais (MLO). Estes casos se assemelharam com o Modelo
de Referência (MR) no que se refere ao predomínio de zonas de estagnação (Figuras
12 e 13). Em todas as tipologias, os casos que tinham maior porosidade (73%) foram
aqueles que apresentaram melhor padrão de distribuição do fluxo de ar.

4.1.2 Incidência do vento a 45°

No Modelo de Referência (MR) o padrão de movimentação do fluxo de ar


ao encontrar a barreira se assemelhou com a incidência a 90°. Contudo, nota-se
que ocorreu um aumento considerável das zonas de estagnação. Assim, predo-
minaram baixas velocidades do vento tanto nas áreas externas como internas da
edificação (Figuras 14 e 15a).
Influência de muros vazados laminados no desempenho da
108 ventilação natural em habitações de interesse social

Ao comparar a incidência a 45° com a incidência a 90°, percebe-se que os


modelos vazados, de uma forma geral, permaneceram apresentando melhores
padrões de distribuição do vento do que o MR, sobretudo nas regiões a sotavento
do muro. Entretanto, observa-se que nos modelos vazados também houve uma
redução significativa da velocidade do vento. Esta situação fez com que se alte-
rassem alguns aspectos no padrão de distribuição em cada caso.
Nos casos com Lâminas Inclinadas Horizontais direcionadas para Cima
(MLIHC) percebe-se que a diminuição da velocidade do ar se refletiu em uma menor
deflexão ascendente do fluxo (Figura 15e). Nesse sentido, ao ultrapassar o compo-
nente vazado, o fluxo tendeu a retornar a uma trajetória retilínea indo em direção a
abertura da edificação. Nos casos com Lâminas Inclinadas Horizontais direcionadas
para Baixo (MLIHB), o fluxo de ar alcançou as proximidades na edificação com menor

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intensidade (Figura 15b), se diferenciando dos modelos onde o vento incidiu a 90°.

Figura 14 | Planos de corte para os casos MR, MLIHB73, MLIVD73, MLOV52 e


MLIHC52, evidenciando a distribuição do escoamento para incidência do vento a 45°

Fonte: Costa (2018).

Para os casos com a tipologia de Muro com Lâminas Inclinadas Verticais


(MLIV), não se notou grandes diferenças de comportamento do vento. Seme-
lhante aos modelos de incidência de vento a 90°, os casos com a tipologia de Muro
com Lâminas Inclinadas Verticais direcionadas para Direita (MLIVD), o fluxo de
ar ao ultrapassar o componente vazado continuou se dirigindo para a região mais
próxima da entrada da edificação (Figura 14). E nos casos com Muro de Lâminas
Inclinadas Verticais direcionadas para Esquerda (MLIVE) o fluxo é conduzido para
o recuo lateral com contornos de velocidade mais suaves. Todavia, esperava-se
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 109

que nesta tipologia houvesse o incremento dos valores de velocidade a sotavento


do muro, visto que as lâminas estão posicionadas no sentido de incidência do
vento, o que resultaria em uma menor resistência a passagem do escoamento.
Nos casos MLO, quando o vento incidiu a 45°, as condições de ventilação externa e
interna à edificação não foram alteradas significativamente, estas permaneceram
semelhantes aos casos com a incidência a 90° (Figuras 14 e 15d).

Figura 15 | Ampliação do plano de corte vertical para comparação


dos casos principais: (a) MR, (b) MLIHB73, (c) MLIVD73, (d)
MLOV52, (e) MLIHC52 (incidência do vento = 45°)
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Fonte: Costa (2018).

4.1.3 Incidência do vento a 135°

De uma maneira geral, percebe-se em todos os casos um aumento das zonas


de estagnação quando se compara com o padrão observado na incidência do vento
a 90°. Sendo, a maior parte da movimentação do ar dentro do lote é resultante do
fluxo reverso promovido pelo efeito do muro posterior, fato também observado
na incidência a 45°. Os muros vazados permaneceram com o desempenho mais
satisfatório do que o Modelo de Referência (MR). Os melhores e piores desempe-
nhos se mantiveram semelhantes as outras incidências (Figuras 12 e 14).
Destaca-se que a tipologia de Muros com Lâminas Inclinadas Verticais dire-
cionadas para Direita (MLIVD) apresentou um padrão de distribuição aquém do
esperado. Sendo o direcionamento da lâmina favorável à incidência do vento,
esperavam-se maiores valores de velocidade e alcance do fluxo nas aberturas.
Diferentemente, o que ocorreu foi o abrandamento dos contornos de velocidade
quando comparados à incidência do vento a 90° (Figura 16 e 12). Em contrapartida,
com o aumento do índice de porosidade (73%) o fluxo incidiu nas duas aberturas
frontais, fato que ainda não tinha sido verificado nos casos analisados anterior-
mente (Figuras 16 e 17c).
Influência de muros vazados laminados no desempenho da
110 ventilação natural em habitações de interesse social

Figura 16 | Planos de corte para os casos MR, MLIHB73,


MLIVD73, MLOV52 e MLIHC52, evidenciando a distribuição
do escoamento para incidência do vento a 135°

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Fonte: Costa (2018).

Figura 17 | Ampliação do plano de corte vertical para comparação


dos casos principais: (a) MR, (b) MLIHB73, (c) MLIVD73, (d)
MLOV52, (e) MLIHC52 (incidência do vento = 135°)

Fonte: Costa (2018).

4.2 Análise quantitativa

A análise quantitativa foi subdivida de acordo com as variáveis analisadas na


pesquisa: velocidade do vento e os coeficientes de pressão (Cps). Para a análise da
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 111

velocidade, foram considerados os valores obtidos para as velocidades externas


à edificação (barlavento e sotavento do muro) e para a área interna da edificação
(adjacente às aberturas frontais). Os resultados da velocidade foram avaliados
conforme os níveis de ventilação natural para o conforto térmico presentes na
escala cromática de Morais (2013). O comportamento dos Cps nos modelos foi
avaliado ao longo do plano de corte vertical, sendo investigado os valores obtidos
nos diferentes trechos (barlavento do muro, recuo frontal, área interna e recuo
posterior), destacando os casos com resultados contrastantes.

4.2.1 Velocidade do Vento

A figura 18 sintetiza os valores obtidos para velocidade do vento em todos


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os casos analisados, para todas a incidências de vento e nas diferentes regiões do


modelo (barlavento e sotavento do muro e espaço interno). Foi possível perceber
que os valores mais acentuados de velocidade do vento foram obtidos para ao
ângulo de incidência de 90°, fato já constatado na análise qualitativa. Como espe-
rando, a velocidade do vento vai reduzindo ao longo do modelo. A barlavento os
valores são maiores do que os obtidos a sotavento e dentro da edificação.

Figura 18 | Comparação entre os valores médios de velocidade do vento


para todos os casos analisados e nas diferentes regiões do modelo, com
destaque para os principais casos (altura de medição = 0,85m)

MLOV73 MLOV73
MLOV52 MLOV52
MLOH73 MLOH
MLOH7373
MLOH52 MLOH52
MLIVE73 MLIVE73
MLIVE52 MLIVE52
MLIVD73 MLIVD73
MLIVD52 M LIVD52
MLIVD52
MLIHB73 MLIHB73
MLIHB52 MLIHB52
MLIHC73 MLIHC73
MLIHC52 MLIHC52
MR MR
0 0,05 0,1 0 0,3 0,6
Velocidade do vento (m/s) Velocidade do vento (m/s)

Sotavento do Muro 90º


Área Interna 90º
Área Interna 45º Sotavento do Muro 45º
Área Interna 135º Sotavento do Muro 135º

MLOV73
MLOV52
MLOH73
MLOH52
MLIVE73
MLIVE52
MLIVD73
MLIVD52
MLIHB73
MLIHB52
MLIHC73
MLIHC52
MR
0 0,3 0,6
Velocidade do vento (m/s)

Barlavento do Muro 90º


Barlavento do Muro 45º
Barlavento do Muro 135º

Fonte: Costa (2018).


Influência de muros vazados laminados no desempenho da
112 ventilação natural em habitações de interesse social

Comparando os casos, percebe-se que a barlavento os valores não se alteram


significativamente. O oposto ocorre a sotavento (recuo frontal), em que o modelo
de referência (MR) tem valores médios inferiores a 0,30m/s. Considerando a inci-
dência do vento a 90°, o valor obtido nessa região é de 0,22m/s, o que na escala de
Moraes (2013) pode ser enquadrado como uma ventilação perceptível, mas não
satisfatória para os níveis de conforto (Figura 19). Esta condição também ocorre
de forma similar em alguns casos com tipologias vazadas, por exemplo no modelo
com lâminas ortogonais verticais e porosidade menor (MLOV52). No caso com
lâminas inclinadas horizontais para cima e porosidade menor (MLIHC52), alguns
valores encontrados foram inferiores ao resultado do MR (Figuras 18 e 19).

Figura 19 | Comportamento da velocidade média do vento e o rebatimento

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nos níveis de ventilação natural para o conforto térmico, considerando
os principais (incidência = 90°; altura de medição = 0,85m)

Escala da ventilação natural para o conforto térmico


Necessidade
de controle da ventilação

Ventilação
Ven
sati
satisfatória

Ven
Ventilação
existente
ex

Ventilação
Ven
imperc
imperceptível

MLIHC= Muro com


MLIHB = Muro com lâminas 52 = porosidade de
lâminas horizontais para
M R = cima horizontais para baixo 52%
Legenda
Sigla

Modelo de
Referência MLIVD= Muro com
MLOV = Muro com lâminas 73= porosidade de
lâminas verticais para
ortogonais verticais 73%
direita

Fonte: COSTA, 2018.

De um modo geral, os melhores resultados foram obtidos pela tipologia com


lâminas inclinadas para baixo com a porosidade de 73% (MLIHB73). Na região de
recuo frontal (sotavento do muro), os valores médios registrados foram acima de
0,60m/s na incidência a 90°, resultando em um acréscimo de aproximadamente
200% em relação ao MR (Figura 18). Nestas condições a ventilação natural é con-
siderada satisfatória para o conforto térmico (Figura 19).
Foi verificado que não existiram variações significativas nos valores obtidos para
a região interna da edificação (Figura 18). Os resultados demonstraram baixas veloci-
dades do vento, com valores inferiores a 0,1m/s. Considerando a incidência a 90°, nos
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 113

casos vazados não se verificaram melhoras evidentes nas condições de ventilação em


relação ao MR, em alguns configurações (MLOV73, MLIHB73 e MLOH73) as médias
foram até menores (Figura 18). Apenas o caso com lâminas inclinadas verticais para
direita e porosidade maior (MLIVD73) ultrapassou suavemente a marca de 0,1m/s,
ainda assim é considerada uma ventilação insatisfatória (Figura 19).

Figura 20 | Comparação entre as porcentagens de aumento/redução da


velocidade média do vento das tipologias vazadas em relação ao Modelo
de Referência – MR (incidência = 90°; altura de medição = 0,85m)

220
200
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MLIHC52
180
MLIHC73
Aumento da velocidade do vento (%)

160
MLIHB52
140
MLIHB73
120
MLIVD52
100
MLIVD73
80 MLIVE52
60 MLIVE73
40 MLOH52
20 MLOH73
0 MLOV52

-20 MLOV73

-40
Interno (edificação) Sotavento do muro Barlavento do muro

MLIHC= Muro com lâminas MLIHB = Muro com lâminas


52= porosidade de horizontais para cima horizontais para baixo
Legenda

52% MLIVD= Muro com lâminas MLIVE = Muro com lâminas


Sigla

verticais para direita verticais para esquerda

73 = porosidade de MLOH= Muro com lâminas MLOV = Muro com lâminas


73% ortogonais horizontais ortogonais verticais

Fonte: COSTA, 2018.

Considerando as incidências do vento a 45° e a 135°, percebe-se que os valores


de velocidade são menores que na incidência a 90° (Figura 18). Contudo, as diferen-
ças percentuais entre os modelos vazados e o modelo de referência são maiores
(Figuras 20, 21 e 22), ocorrendo casos como o MLIHB73, em que o incremento é
de mais de 400% na região à sotavento do muro; Como também o aumento de
casos com desempenhos levemente piores na região interna da casa.
Influência de muros vazados laminados no desempenho da
114 ventilação natural em habitações de interesse social

Figura 21 | Comparação entre as porcentagens de aumento/redução da


velocidade média do vento das tipologias vazadas em relação ao Modelo
de Referência – MR (incidência = 45°; altura de medição = 0,85m)

420 MLIHC52
Aumento da velocidade do vento (%)

370
MLIHC73
320
MLIHB52
270
MLIHB73
220
MLIVD52
170
MLIVD73
120
MLIVE52
70
MLIVE73
20

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MLOH52
-30
MLOH73
-80
Interno (edificação) Sotavento do muro Barlavento do muro

MLIHC= Muro com lâminas hori- MLIHB = Muro com lâminas horizon-
zontais para cima tais para baixo
52= porosidade de 52%
Legenda

MLIVD= Muro com lâminas vertic- MLIVE = Muro com lâminas verticais
Sigla

ais para direita para esquerda


73 = porosidade de MLOH= Muro com lâminas ortogo- MLOV = Muro com lâminas ortogo-
73% nais horizontais nais verticais
Fonte: COSTA, 2018.

Figura 22 | Comparação entre as porcentagens de aumento/redução da


velocidade média do vento das tipologias vazadas em relação ao Modelo
de Referência – MR (incidência = 135°; altura de medição = 0,85m)
470
420 MLIHC52
Aumento da velocidade do vento (%)

370 MLIHC73
320 MLIHB52
270 MLIHB73
220 MLIVD52
170 MLIVD73
120 MLIVE52
70
MLIVE73
20
MLOH52
-30
MLOH73
-80
Interno (edificação) Sotavento do muro Barlavento do muro

MLIHC= Muro com lâminas hori- MLIHB = Muro com lâminas horizon-
zontais para cima tais para baixo
52= porosidade de 52%
Legenda

MLIVD= Muro com lâminas vertic- MLIVE = Muro com lâminas verticais
Sigla

ais para direita para esquerda


MLOH= Muro com lâminas ortogo- MLOV = Muro com lâminas ortogo-
73 = porosidade de 73%
nais horizontais nais verticais
Fonte: COSTA, 2018.
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 115

4.2.2 Coeficientes de pressão (Cps)

A análise dos valores de Cps confirmou o efeito promovido pelo modelo de


referência (MR) na distribuição dos coeficientes de pressão no entorno da edifica-
ção. É possível perceber que os valores de Cps dentro da edificação e no recuo pos-
terior foram mais elevados do que no recuo frontal, sobretudo quando se observa a
incidência de vento 90°, como ilustrado na figura 21. Este comportamento favorece
a ocorrência da inversão do fluxo de ar nas aberturas da edificação.
Nas tipologias vazadas, foram obtidos desempenhos bem distintos. Destaca-
-se que o caso com melhor desempenho foi o MLIHB73, pois nota-se que os valores
a sotavento do muro não se mantiveram constantes. Estes atingiram o menor
índice no centro do recuo frontal e se elevaram nas proximidades da fachada da
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edificação, decaindo novamente na área interna. O que facilitou a incidência do


fluxo dentro da edificação. Em contrapartida o pior caso, MLIHC52, se assemelhou
ao comportamento do MR (Figura 23).

Figura 23 | Comportamento dos Coeficientes de Pressão (Cps) para os casos:


MR, MLIHC (52% e 73%) e MLIHB (52% e 73%), incidência do vento a 90°

MLIHC= Muro 52 = porosidade de 52%


MLIHB = Muro com
Legenda MR = Modelo com lâminas
lâminas horizontais para
Sigla de Referência horizontais para 73 = porosidade de 73%
baixo
cima
Fonte: COSTA, 2018.

Quando o vento incide a 45°, os valores dos Cps a barlavento do muro perma-
neceram semelhantes à incidência do vento a 90°. Contudo, os valores a sotavento
Influência de muros vazados laminados no desempenho da
116 ventilação natural em habitações de interesse social

foram mais elevados, ou seja, os resultados foram menos negativos. Nesta região,
nota-se que o Modelo de Referência (MR) apresentou o valor mais reduzido e o
menor entre as áreas de recuo frontal e interna da edificação. Comportamento
semelhante foi obtido pelo Muro com Lâminas Inclinadas Horizontais direcionadas
para Cima com porosidade de 52% (MLIHC52) (Figura 24).
A tipologia com Muros de Lâminas Inclinadas direcionadas para Baixo
(MLIHB) foi a única que no recuo frontal apresentou valores de Cps maiores do
que os obtidos dentro da edificação. O caso com porosidade de 73% (MLIHB73)
apresentou maior entre essas regiões (Figura 24). Esta condição favoreceu a inci-
dência do fluxo de ar pelas aberturas, como verificado na análise qualitativa.

Figura 24 | Comportamento dos Coeficientes de Pressão (Cps) para os casos:

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MR, MLIHC (52% e 73%) e MLIHB (52% e 73%), incidência do vento de 45°

52 = porosidade de
MR = MLIHC= Muro com MLIHB = Muro com
Legenda 52%
Modelo de lâminas horizontais para lâminas horizontais para
Sigla 73 = porosidade de
Referência cima baixo
73%
Fonte: COSTA, 2018.

Como ilustrado na Figura 25, quando o vento incide com ângulo de 135° os
resultados são bastante semelhantes com a incidência de 45°, sobretudo nas
~ Uma
pequenas variações dos Cps ao longo da trajetória do escoamento (ΔCp=0).
condição que resultou em baixas movimentações do ar nos modelos analisados.
Destaca-se o caso com Muros com Lâminas Inclinadas Horizontais direcio-
nadas para Baixo e porosidade maior (MLIHB73), que permaneceu apresentando
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 117

desempenhos melhores. Neste, os valores de Cps foram positivos tanto no recuo


frontal como na área interna da edificação. Esta área registrou valores mais próxi-
mos de 0, o que indicou um “ΔCp” mais elevado, favorecendo a ventilação natural.
Em contrapartida, a tipologia de Muros com Lâminas Inclinadas Horizontais dire-
cionadas para Cima e porosidade menor (MLIHC52) apresentou poucas variações
nos valores de Cps, se assemelhando ao MR (Figura 25).

Figura 25 | Comportamento dos Coeficientes de Pressão (Cps) para os casos:


MR, MLIHC (52% e 73%) e MLIHB (52% e 73%), incidência do vento de 135°
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52 = porosidade de
MLIHC= Muro com MLIHB = Muro com
Legenda MR = Modelo 52%
lâminas horizontais para lâminas horizontais
Sigla de Referência 73 = porosidade de
cima para baixo
73%
Fonte: COSTA, 2018.

4.3 Análise geral

4.3.1 Modelo de Referência (MR) x Tipologias de Muros Vazados

Os resultados evidenciaram o efeito proporcionado pelo Modelo de Refe-


rência (MR) na redução do aproveitamento da ventilação natural. Neste modelo,
a maior parte do fluxo de ar é desviada para região de cobertura da edificação,
gerando zonas de recirculação e estagnação nas áreas de recuo frontal e interna,
com baixas velocidades. Estes resultados são confirmados com os dados de coefi-
cientes de pressão, que evidenciaram a tendência de inversão das zonas de pressão
nas fachadas da edificação.
Influência de muros vazados laminados no desempenho da
118 ventilação natural em habitações de interesse social

Nas tipologias vazadas, o escoamento assumiu padrões de comportamento


distintos. Quando se analisa a região de recuo frontal, na maioria dos casos houve
ganhos em relação ao MR, pois o fluxo de ar foi mais abrangente, com valores de
velocidade e Cps mais favoráveis ao alcance do conforto térmico. No entanto, esses
ganhos não proporcionaram melhorias nas condições de ventilação natural no
espaço interno. Nesta região predominaram zonas de estagnação de vento. Ade-
mais, alguns modelos obtiveram desempenhos inferiores ao MR, o que demons-
trou a influência da configuração do componente vazado no aproveitamento
da ventilação.
É importante destacar as interferências geradas pelas características da
edificação nos resultados, sobretudo em alguns aspectos como: a tipologia das
aberturas (do tipo correr) possui uma área útil pequena, isto reduz o potencial

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de aproveitamento da ventilação; o tipo de cobertura (telhado de duas águas)
interferiu na separação e no direcionamento do fluxo; e a presença de apenas um
recuo lateral influenciou no deslocamento do escoamento para esta região em
detrimento à área interna da residência.

4.3.2 Análise do ângulo de incidência do vento

Foi observado diferentes desempenhos quando o ângulo de incidência do


vento é alterado. Nos casos com as incidências à 45° e 135°, os valores de “ΔCp”
entre as regiões de recuo frontal e área interna da edificação foram mais reduzidos
do que com a incidência à 90°. Essa redução influiu na diminuição dos valores de
velocidade do vento e no aumento das zonas de estagnação. Este padrão ocorreu
mesmo para as tipologias de muros vazados que eram favoráveis a incidência do
vento, a exemplo das tipologias de Muros com Lâminas Verticais direcionadas para
Direita (MLIVD), favorável à incidência de 135°, e de Muros com Lâminas Verticais
direcionadas para Esquerda (MLIVE), favorável à incidência de 45°.

4.3.3 Análise da porosidade do muro

Foi constatado que os modelos com porosidade maior (73%) foram aqueles
que obtiveram melhores resultados. Registrou-se um aumento médio de 35%
nos valores de velocidade do vento em relação aos modelos de menor porosidade
(52%). Em algumas tipologias, como o muro com lâminas horizontais direcionadas
para cima (MLIHC73), esse aumento médio foi superior a 70%. Para este caso,
ficou evidente que o aumento da porosidade possibilitou uma menor deflexão
do escoamento ao ultrapassar o componente vazado, refletindo na elevação do
“ΔCp” entre a regiões a barlavento e a sotavento do muro. Fato que incrementou
a movimentação do ar no recuo frontal. Os resultados se assemelham aos obtidos
nos estudos de Chang (2006) e Chang e Cheng (2009).
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 119

4.3.4 Comparação geral entre as Tipologias de Muros Vazados

O quadro 6 classifica todos os modelos de muros analisados quanto ao seu


potencial de aproveitamento da ventilação natural. A classificação foi baseada
apenas os desempenhos verificados no recuo frontal (região a sotavento do muro).
Uma vez que os casos obtiveram resultados semelhantes no que se refere às con-
dições insatisfatórias de ventilação para o conforto térmico no espaço interno da
edificação. As variáveis consideradas foram: (1) abrangência do fluxo; (2) valores
de velocidade do vento e a correlação com a obtenção de conforto térmico; e (3)
perfil gerado com os dados de Cps.

Quadro 6 | Classificação dos modelos quanto ao seu potencial


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de aproveitamento da ventilação natural

Desem- 90° 45° 135°


penho MR MLI MLO MR MLI MLO MR MLI MLO

MLIHB73
MLIVD73 MLIHB73
Melhor MLIHB73
MLIHB52 MLIVD73
MLIVE73

MLIVD73
MLIVD52
MLIVD52
MLIVD52 MLIHB52
MLOH73 MLOH73 MLIHB52
Regular MLIVE52 MLIVE73 MLOH73
MLOV73 MLOV73 MLIVE73
MLIHC73 MLIVE52
MLIVE52
MLIHC73
MLIHC73

MLOV73
MLOH52 MLOH52
Pior MR MLIHC52 MR MLIHC52 MR MLIHC52 MLOH52
MLOV52 MLOV52
MLOV52

MLIHC= Muro com lâminas MLIHB = Muro com lâminas


MR = Modelo de Referência
horizontais para cima horizontais para baixo
Legenda

MLIVD= Muro com lâminas MLIVE = Muro com lâminas


52 = porosidade de 52%
verticais para direita verticais para esquerda
MLOH= Muro com lâminas MLOV = Muro com lâminas
73 = porosidade de 73%
ortogonais horizontais ortogonais verticais
Fonte: COSTA, 2018.

Foram considerados os melhores modelos os Muros com Lâminas Inclinadas


Horizontais direcionadas para Baixo (MLIHB) e de Muros com Lâminas Inclinadas
Verticais Direcionadas para Direita (MLIVD), sobretudo com a porosidade mais
alta (73%). Estes casos tenderam a apresentar maiores valores de velocidade do
vento. A tipologia de Muro com Lâminas Inclinadas Verticais Direcionadas para
Esquerda (MLIVE) apresentou desempenhos razoáveis. No entanto, o padrão de
distribuição do fluxo de ar foi direcionado para o recuo lateral, não favorecendo
à incidência pelas aberturas da edificação.
Influência de muros vazados laminados no desempenho da
120 ventilação natural em habitações de interesse social

Resultados regulares foram obtidos para os modelos com Muro com Lâminas
Inclinadas Horizontais direcionadas para Cima (MLIHC) e para alguns casos da tipo-
logia de Muros com Lâminas Ortogonais (MLO), sobretudo aqueles com porosidade
de 73%. Os desempenhos piores foram observados nos modelos de Muro com
Lâminas Inclinadas Horizontais direcionadas para Cima (MLIHC) e de Muros com
Lâminas Ortogonais (MLO), com porosidade de 52%. Nestes casos, os resultados
qualitativos e quantitativos foram semelhantes ao Modelo de Referência (MR).

4.4 Recomendações para o uso de muros com componentes vazados


laminados

Algumas recomendações foram elaboradas para o uso de muros com compo-

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nentes vazados laminados (Quadro 7). Além dos resultados, estas recomendações
consideraram a premissa da pesquisa de tentar unir condições satisfatórias de
ventilação natural com a necessidade de privacidade do usuário.

Quadro 7 | Recomendações de uso de muros com


componentes vazados laminados em HIS
Parâmetro Características

Quanto à
tipologia Muros com Lâminas Inclinadas (MLI)

Quanto à Vertical
Horizontal
posição da (escolha condicionada às características da
(melhores condições de
lâmina edificação, sobretudo a localização das aberturas
privacidade)
na fachada frontal)

Quanto à
direção da Para baixo Para direita/esquerda
lâmina

Quanto à
porosidade 73% do componente vazado (ou mais)

Legenda Opção preferível Opção secundária

Fonte: COSTA, 2018.

No entanto, os resultados da pesquisa demonstraram que o uso isolado dos


muros com componentes vazados não proporcionou condições satisfatórias de ven-
tilação dentro da edificação. Nesse sentido, foi sugerido o uso dessa estratégia aliada
com outros componentes que possibilitem o melhor aproveitamento dos ventos.
Considerando as recomendações sugeridas, foram elaboradas alternativas de
alterações projetuais que pudessem ser incorporadas no exemplar de habitação
utilizado na pesquisa (Quadros 8 e 9). Ressalta-se que as sugestões são apenas
suposições baseadas na literatura (BITTENCOURT; CÂNDIDO, 2015, BROWN;
DEKAY, 2004) e não foram testadas durante a pesquisa.
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 121

Quadro 8 | Sugestões para uso de Muros com Lâminas


Horizontais direcionadas para Baixo (MLIHB)

Alteração do tipo de esquadria: Sugere-se a substituição do modelo de janela para aumentar a


Recomendações

porcentagem de abertura e direcionar fluxo de ar para o nível do usuário. Ex.: uso de esquadrias
com venezianas móveis.

Inclusão de peitoril ventilado:


O uso do recurso pode contribuir para captação do fluxo de ar no nível do usuário.
Ilustração (Corte)
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Fonte: COSTA, 2018.

Quadro 9 | Sugestões para uso de Muros com Lâminas


Verticais direcionadas para Direita (MLIVD)
Recomendações

Inclusão de projeção vertical externa (defletor): sugere-se a inclusão de componentes verticais na


fachada frontal, visto que estes elementos possuem o potencial de modificar a distribuição dos
campos de pressão no entorno da edificação.
Ilustração (Planta baixa)

Fonte: COSTA, 2018.


Influência de muros vazados laminados no desempenho da
122 ventilação natural em habitações de interesse social

5. Considerações finais

No intento de amenizar o conflito entre a necessidade de privacidade e o


aproveitamento da ventilação, a pesquisa avaliou a influência da inserção de muros
mais permeáveis, especificamente compostos por elementos vazados laminados,
no desempenho da ventilação natural. O estudo se concentrou nas habitações de
interesse social, visto que estas são frequentemente caracterizadas pelas defi-
ciências e fragilidades em relação ao conforto e a segurança.
Por meio da simulação computacional com base na Dinâmica do Fluidos
Computadorizada (CFD), foram avaliadas 13 tipologias, sendo uma o muro imper-
meável, escolhido com Modelo de Referência (MR), e 12 muros vazados. Estas
foram simuladas para três diferentes incidências de vento, resultando em 38 casos

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simulados. Os casos foram analisados quanto ao padrão de distribuição do fluxo
de ar, os valores de velocidade do vento e coeficientes de pressão (Cps).
De uma maneira geral, os resultados demonstraram vantagens na inserção
desses componentes em exemplares de habitações de interesse social. Estes
proporcionam melhorias nas condições de ventilação na região de recuo frontal
(sotavento do muro) quando comparados ao muro sem aberturas (MR). As tipolo-
gias vazadas obtiveram resultados qualitativos e quantitativos significativamente
distintos. Nesse sentido, o trabalho demonstrou a influência das configurações e
parâmetros do componente vazado no aproveitamento da ventilação. Principal-
mente os aspectos da porosidade, do posicionamento e do direcionamento das
lâminas, em que foram verificados melhores desempenhos nas lâminas horizontais
direcionadas para baixo e nível de porosidade mais elevado (73%).
Apesar das tipologias vazadas apresentarem desempenhos mais satisfatório
na região de recuo frontal, este resultado não se refletiu dentro da edificação.
Todos os casos analisados apresentaram baixos desempenhos, sobretudo em rela-
ção aos valores de velocidade do vento. Consequentemente, os níveis de conforto
térmico nessa região foram considerados insatisfatórios. Ressalta-se que estes
resultados podem ter relação com a tipologia e as características da edificação
escolhida. Em vista disso, evidenciou-se a necessidade de aliar o recurso dos muros
vazados com outras estratégias projetuais.
Deste modo, ressalta-se que o trabalho demonstrou a viabilidade de unir os
critérios de privacidade e aproveitamento da ventilação natural. Contudo, para
que isto seja possível, é necessário o conhecimento do projetista acerca das van-
tagens, limitações e características de uso das estratégias projetuais. Já que o
desconhecimento pode influenciar em soluções arquitetônicas que ocasionem
desconfortos térmicos aos usuários.
Em relação ao uso da ferramenta de simulação em CFD, vivenciou-se no
percurso da pesquisa os seus benefícios e as suas limitações. Ela apresenta uma
potencialidade significativa na previsão do escoamento dos fluidos, porém neces-
sita, além da capacidade computacional, de prática e sensibilidade na manipulação
do software, para que os resultados alcancem um nível de confiabilidade satisfató-
rio. Para isto, uma das etapas mais relevantes e complexas foi a definição das confi-
gurações da malha computacional. Várias decisões relacionadas à simplificação da
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 123

geometria dos modelos analisados foram feitas com base nos resultados obtidos
para os parâmetros de confiabilidade. Ressalta-se a dificuldade do alcance dos
níveis indicados pela literatura de y+ (Yplus) em algumas regiões dos modelos.
Porém, baseando-se nos testes do critério de convergência, verificou-se que a
malha escolhida representou de forma satisfatória a geometria. Nesse sentido,
evidencia-se a necessidade de pesquisas que possam investigar melhor o efeito
desses parâmetros nos resultados das simulações computacionais.
Outro aspecto que pode ser discutido de forma mais aprofundada é o modelo
de turbulência K-Épsilon. Este foi escolhido com base em trabalhos correlatos,
que destacaram seu custo/benefício, além do alcance do critério de convergência.
Entretanto, simulações CFD com foco na ventilação natural considerando outros
modelos de turbulência são relevantes na investigação e estabelecimento de
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melhores condições de representação do fenômeno. Além disso, ressalta-se a


importância da validação/verificação experimental dos resultados das simulações,
garantindo sua confiabilidade.
Através da pesquisa foi possível analisar as potencialidades e as desvantagens
do uso dos muros vazados no aproveitamento da ventilação natural em habitação
de interesse social. Contudo, o trabalho possui limitações relacionadas ao recorte
metodológico escolhido, principalmente acerca da amostragem tipológica dos
casos, do exemplar de edificação escolhido, da não inserção da malha urbana e,
sobretudo, da simplificação dos modelos analisados. Nesse sentido, sugere-se
como desdobramentos:

1. Ampliação da amostragem, abarcando outras tipologias de muros vaza-


dos. Considerando também a análise comparativa com casos sem a
presença do muro (porosidade = 100%);
2. Avaliação de outros parâmetros projetuais, como diferentes dimensões
de recuos frontais;
3. Aplicação em outras tipologias de habitação de interesse social, prin-
cipalmente no que refere à diferentes formas de implantação da edi-
ficação no lote;
4. Análise considerando as divisões internas da edificação, como também
o layout dos ambientes;
5. Análise conjunta do muro vazado com outros elementos construtivos
que auxiliem no aproveitamento da ventilação natural, a exemplo do
peitoril ventilado e de projeções horizontais e verticais externas;
6. Análise considerando os modelos inseridos em uma malha urbana;
7. Avaliação mais aprofundada dos Coeficientes de pressão (Cps), como
também inclusão da análise da taxa de renovação de ar/hora;
8. Análise conjunta da simulação CFD com outras ferramentas de predição
da ventilação natural, como exemplo o uso de túnel de vento;
9. Estudo e proposição de parâmetros de configuração de muros vaza-
dos que possam ser utilizados em Normas Brasileiras com a finalidade
de aproveitamento da ventilação natural em Habitações de Inte-
resse Social.
Influência de muros vazados laminados no desempenho da
124 ventilação natural em habitações de interesse social

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Influência de medidas de conservação de energia
no desempenho energético: estudo de caso de um
hotel econômico de pequeno porte em Maceió, AL

Natalia Moura Gomes Leal


Juliana Oliveira Batista

DOI: 10.24824/978652514675.1.127-172
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1. Introdução

Segundo De La Torre (1992, p. 19) o turismo pode ser definido como sendo a:
“Soma de relações e de serviços resultantes de um câmbio de residência tempo-
rário e voluntário motivado por razões alheias a negócios ou profissionais”. Para
suprir as necessidades dos visitantes aos destinos turísticos são necessárias a
criação de infraestruturas de lazer, saúde e hospedagem.
Os meios de hospedagem suprem a função de abrigo ao visitante, um local
onde o mesmo pode deixar seus pertences, descansar, dormir e em muitos casos
(dependendo dos serviços oferecidos pelo estabelecimento) usufruir do lazer
que o empreendimento proporciona. Essas comodidades, contudo, necessitam
de serviços básicos e sistemas de serviços (privados e públicos) para abrigar suas
atividades (redes de esgoto, abastecimento de água potável, disponibilidade de
energia elétrica, vias de acesso, opções de entretenimento e lazer, entre outras).
Como consequência, o desenvolvimento da atividade turística apresenta impac-
tos culturais, sociais, econômicos e ecológicos. O turismo sustentável tem como
finalidade a minimização desses impactos.
Segundo Plano Nacional do Turismo 2013-2016 (2013), o turismo representa
cerca de 3,7% do PIB da economia brasileira. De 2003 a 2009, o setor cresceu
32,4%, enquanto a economia do país cresceu 24,6% (BRASIL, 2013), demonstrando
um crescimento maior do que os outros setores econômicos. A infraestrutura de
meios de hospedagem representa um papel importante dentro do setor turístico.
Em todo o Brasil, segundo dados do IBGE (2016), dos 31.299 meios de hospedagem
existentes, 10.206 eram hotéis e flats de administração independente, de redes
nacionais e internacionais, com 521.585 quartos disponíveis. Os hotéis indepen-
dentes correspondiam a cerca de 90% do número de estabelecimento, totalizando
66% do número de quartos disponíveis no mercado.
Os meios de hospedagem fazem parte do setor comercial, no que diz respeito
ao consumo de eletricidade da matriz nacional, sendo esse setor responsável por
17,47% do consumo de energia elétrica brasileira em 2021 (BEN, 2022). O consumo
energético dos meios de hospedagem e restaurantes, de acordo com os dados
do Atlas de Eficiência Energética do Brasil – 2022 (EPE, 2023), correspondeu a
Influência de medidas de conservação de energia no desempenho energético:
128 estudo de caso de um hotel econômico de pequeno porte em Maceió, AL

15% do total consumido no setor de serviços, correspondendo a sua segunda


maior parcela.
Segundo estudo realizado por Lima (2007) um hotel implantado em região
de clima quente e úmido consome entre 22.630 kWh/ano e 3.061.270 kWh/ano,
equivalente a 19,44 e 2.629,95 vezes o consumo de uma residência comum9. Logo,
a conservação de energia nos meios de hospedagem possibilita economia e, con-
sequentemente, um aumento das receitas do empreendimento. Os aspectos eco-
nômicos advindos das ações de conservação de energia também podem contribuir
para a sustentabilidade social, uma vez que a economia de recursos que seriam
utilizados para a ampliação da matriz energética nacional pode ser realocada para
outras ações governamentais como a saúde, segurança e educação.
Em trabalhos anteriores (DENG; BURNETT, 2000; GUZMÁN, 2003), foi

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comprovado que o gasto energético dos meios de hospedagem está diretamente
relacionado com a infraestrutura ofertada pelo estabelecimento10, a quantidade
de unidades habitacionais (UH’s), a relação entre as áreas de piso e as áreas de
cobertura, a categoria e o clima da cidade em que a edificação está construída.
Contudo, as normativas e programas de classificação de meios de hospedagem,
que possuem pré-requisitos a respeito das infraestruturas de ambientes e ser-
viços a serem ofertados, são pouco adotados pelos empreendimentos, sendo a
infraestrutura, geralmente, predeterminada pelo investidor com a finalidade de
atrair diversos tipos de clientes ou como forma de criar um diferencial competitivo
dentro do mercado turístico. Isto gera programas de necessidades diversificados
para os meios de hospedagem e dificulta o estudo energético dos mesmos.
Por outro lado, meios de hospedagem econômicos de pequeno e médio porte
possuem semelhantes ambientes e serviços ofertados, devido à necessidade de
minimizar o custo operacional do empreendimento. Logo, estudos energéticos
para essa categoria de hospedagem são viáveis, visto que é possível a generalização
dos resultados para outros empreendimentos com características semelhantes.
O estado de Alagoas conta com cerca de 428 meios de hospedagem em toda
a sua área de desenvolvimento turístico. A média de unidades habitacionais dos
hotéis alagoanos é 33,5 UHs – Unidades Habitacionais, sendo o total de 14.356
UH’s em todo o estado, somando 35.185 leitos (BRASIL, 2020).
Segundo dados de 2021 (ALAGOAS, 2023) a cidade de Maceió possuía 139
meios de hospedagem (hotéis, pousadas, apart-hotéis, resorts e hostels, entre
outros). A média de apartamentos por estabelecimento é de 58,2 UH’s, com
136,7 leitos.
Os meios de hospedagens independentes e de categoria econômica, pos-
suem predominância entre os empreendimentos hoteleiros do estado, sendo a
maior parte das edificações da amostra do estudo situadas no litoral central da

9 Comparado ao consumo energético médio de uma residência no nordeste brasileiro que cor-
responde a 97,0 kWh/mês (PROCEL, 2005).
10 Por infraestrutura ofertada entende-se: restaurantes, salas de convenções, bares, entre outros
serviços que necessitam de um espaço físico e disposição de equipamentos específicos para seu
funcionamento.
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 129

cidade de Maceió (Jatiúca, Ponta Verde, Pajuçara, Mangabeiras e Cruz das Almas),
definindo-se assim o recorte amostral do presente estudo. A proximidade de atra-
tivos comerciais e turísticos em uma mesma centralidade é comum de cidades
litorâneas como expõem Andrade, Brito e Jorge (1999). Segundo os autores a coe-
xistência de praias e ambientes urbanos favorece o desenvolvimento de hotéis
com público alvo voltado tanto a turistas quanto a executivos.
Segundo Deng e Burnett (2002), o ar-condicionado é um dos principais con-
sumidores de energia por uso final dos meios de hospedagem. Lima (2007), em
sua pesquisa realizada para a cidade de Natal-RN, situada na faixa litorânea do
nordeste brasileiro, com clima quente e úmido, observou que 75% do consumo de
energia dos meios de hospedagem analisados correspondiam ao ar-condicionado.
Ao contrário das edificações residenciais, o aproveitamento da ventilação
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natural para proporcionar conforto térmico no setor hoteleiro é de difícil imple-


mentação, conforme apontam Veloso e Elali (2004) e Lima (2007). No caso dos
hotéis econômicos a necessidade de aproveitamento de espaços gera ambientes
com dimensões mínimas o que dificulta a ventilação cruzada, uma vez que são
necessárias a disponibilidade de superfícies livres com aberturas ou mecanismos
de dutos que permitam o fenômeno. Veloso e Elali (2004) também observaram
aspectos comportamentais dos usuários dos meios de hospedagem e constata-
ram que a maioria dos clientes utilizam o condicionamento artificial para obter o
conforto térmico dentro das unidades habitacionais.
Além dos fatores comportamentais evidenciarem a preferência pela cli-
matização artificial nos meios de hospedagem, certificações do setor também
estimulam o emprego do ar-condicionado. O Ministério do Turismo (MTur), atra-
vés do Sistema Brasileiro de Classificação de Meios de Hospedagem (SBClass),
instituído em 2011, estabelecia como pré-requisito para hotéis e pousadas acima
de três estrelas que 100% das UH’s possuíssem climatização artificial. Apesar do
SBClass não ser obrigatório para os estabelecimentos, possuindo poucas afilia-
ções, as exigências da certificação demonstram uma relação entre qualidade do
estabelecimento e a existência de condicionamento artificial nos apartamentos,
o que reflete a percepção e exigência do cliente pelo equipamento. Dessa forma,
o ar-condicionado se tornou um item indispensável nos meios de hospedagem
brasileiros, estando presente em quase todos os tipos de estabelecimentos, inde-
pendentemente do tamanho e categoria.
Já foi comprovado em pesquisas anteriores que o condicionamento artificial
de ar eleva o consumo energético da edificação significativamente e que medidas
de conservação de energia e manutenção predial podem reduzir em até 20% o
gasto energético da edificação (SANTAMOURIS et al., 1995). Através do exposto,
percebe-se que é necessário compreender o comportamento energético dos meios
de hospedagem econômicos de pequeno e médio porte, tendo como foco principal
investigar quais medidas de conservação de energia são mais adequadas para
redução do consumo energético do empreendimento. Para tal, o presente estudo
tem como objeto um hotel representativo da categoria econômica de pequeno
porte, situado na cidade de Maceió, AL.
Influência de medidas de conservação de energia no desempenho energético:
130 estudo de caso de um hotel econômico de pequeno porte em Maceió, AL

Dessa forma, o objetivo geral deste trabalho é identificar ações de conser-


vação de energia que permitam a redução do consumo energético em um hotel
econômico de pequeno porte situado na cidade de Maceió, AL.

2. Referencial teórico

2.1 Programa de Necessidade dos Hotéis Econômicos

Segundo Andrade, Brito e Jorge (2012), os hotéis possuem as seguintes áreas


setoriais básicas: áreas de hospedagem, áreas públicas e sociais, áreas administra-
tivas, áreas de serviço, áreas de alimento e bebidas, áreas de equipamentos e áreas
recreativas. O programa de necessidades de cada um desses setores é relativo ao

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tamanho, categoria e aos serviços disponíveis de cada empreendimento. Segundo
Buoro (2008, p. 35): “Os hotéis de categoria econômica oferecem tarifas reduzidas
em função da redução dos custos de instalação e serviços que devem oferecer o
mínimo essencial ao hóspede a que se destinam, sem prejudicar a qualidade exi-
gida por ele”. Quanto aos serviços oferecidos pelos hotéis econômicos, Andrade,
Brito e Jorge (2012) esclarecem que são limitados ao atendimento na recepção,
serviço de camareira e fornecimento de café da manhã. Convém destacar que os
elevadores e a piscina não são exigidos em hotéis econômicos. Contudo, podem
ser usados como um diferencial competitivo ou mercadológico, a fim de atrair
público para o estabelecimento.
Segundo Andrade, Brito e Jorge (2012), devido ao programa de infraestrutura
enxuto, a quantidade de apartamentos de um hotel econômico varia entre 60 e
100 unidades, aproximadamente. Com base na definição dos referidos autores,
para esse trabalho serão considerados como hotéis econômicos aqueles com até
100 unidades habitacionais, concordando também com o sistema de classificação
da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo do Estado de Alagoas
(SEDETUR). O número mínimo de apartamentos não foi limitado devido a repre-
sentatividade desse tipo de hotel, com menos de 60 unidades habitacionais, dentro
da cidade de Maceió.
A quantidade de pavimentos e a configuração volumétrica desta categoria
de hotel variam e dependem das prescrições estabelecidas pelo código de edifica-
ções de cada cidade, assim como de todos os condicionantes impostos ao projeto
arquitetônico em cada contexto. Lima (2007) encontrou dois volumes principais:
Edificações com 4 ou 5 pavimentos, escalonados ou não. As edificações escalona-
das foram encontradas em 55% dos casos.

2.2 Eficiência Energética em Meios de Hospedagem

O levantamento de informações a respeito de conservação de energia em


edificações hoteleiras abrange trabalhos realizados desde 1995 até 2018, no con-
texto nacional e internacional. Santamouris et al. (1995) realizaram uma pesquisa
cujo objetivo foi apresentar resultados de uma análise de auditorias energéticas
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 131

realizadas em 158 hotéis na Grécia, para comprovar a importância do Retrofit como


uma forma de aumentar a eficiência energética do empreendimento. Os autores
concluíram que sistemas de climatização artificial elevam o consumo energético
de 29% a 77%, dependendo do sistema utilizado, e que o consumo energético de
um meio de hospedagem pode ser reduzido em até 20% utilizando medidas de
conservação de energia e retrofit predial, recomendando as seguintes medidas para
redução do consumo energético: redução da transferência de calor, aumentando o
isolamento térmico das superfícies; utilização de equipamentos de resfriamento,
aquecimento e iluminação com alta eficiência energética; utilização de vegetação
nas superfícies externas para redução da radiação solar direta incidente; utiliza-
ção de piscinas ou fontes para diminuição da temperatura interna do ambiente
através do resfriamento evaporativo; sombreamento adequado das superfícies e
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aberturas, entre outras medidas e técnicas.


Em sua dissertação de mestrado, Buoro (2008) avaliou a eficiência energética
em estabelecimentos hoteleiros econômicos de redes internacionais situados na
cidade de São Paulo, climatizados artificialmente. A pesquisa se concentrou na
investigação das UHs de uma edificação escolhida para o estudo de caso. Como
metodologia, foram utilizadas medições no estabelecimento e análise paramé-
trica baseadas em simulações computacionais para verificação da influência das
características construtivas no consumo energético da edificação. Os parâmetros
analisados pela autora foram: percentual de abertura na fachada, fator solar dos
elementos transparentes, orientação das superfícies da edificação, inserção de
elemento bloqueador de radiação solar (cortinas), condicionamento artificial e
natural e padrões de uso e ocupação. Buoro (2008) constatou que os componentes
transparentes, com as janelas e cortinas fechadas, apresentaram pequena condu-
ção térmica durante o verão e uma perda de calor significativa durante o inverno.
Ao simular os componentes transparentes sem as cortinas, a autora constatou
um aumento do ganho térmico durante o verão.
Gúzman (2003) realizou uma pesquisa teórica cujo objetivo foi identificar
as variáveis arquitetônicas que influenciam no ganho térmico e no aumento do
consumo energético de quartos de hotéis. O estudo foi realizado em uma amostra
de 40 hotéis localizados no litoral cubano onde o consumo de energia elétrica
representa entre 10 e 15% do custo operacional em hotéis. Em relação ao consumo
de energia por área construída o autor afirma que as unidades habitacionais são as
principais consumidoras por correspondem ao maior percentual de área da maioria
dos estabelecimentos, e por serem os espaços onde o hóspede permanece durante
a maior parte do tempo. Segundo o autor o principal ganho térmico do ambiente
é proveniente da energia produzida pelo sol que é absorvida pela edificação atra-
vés de suas superfícies opacas (coberturas e paredes) e transparentes (janelas),
sendo que a influência da janela no consumo energético está mais relacionada
aos materiais da mesma do que ao design delas.
No artigo desenvolvido por Veloso, Santos e Lima Neto (2001), os autores
tiveram como objeto de estudo hotéis e apart-hotéis localizados em Natal – RN
e utilizaram procedimentos metodológicos da Avaliação Pós-ocupação (APO),
incluindo questionários e pesquisa do grau de satisfação do usuário. Os autores
Influência de medidas de conservação de energia no desempenho energético:
132 estudo de caso de um hotel econômico de pequeno porte em Maceió, AL

explicitam que um dos maiores problemas para a viabilização da ventilação natu-


ral nas unidades habitacionais está relacionado à privacidade e segurança dos
hóspedes e que turistas de países com climas temperados possuem uma maior
tendência a dispensar o uso de ar-condicionados. Por fim, concluem que apesar da
cidade analisada possuir clima favorável ao conforto térmico, as soluções arqui-
tetônicas empregadas não seguem as recomendações projetuais para edificações
implantadas em clima quente e úmido e atribuem esse fato a necessidade de
privilegiar a paisagem natural disponível nos destinos.
Lima (2007) utilizou simulação computacional, com a finalidade de verificar
o impacto de diferentes decisões arquitetônicas no consumo de energia em um
caso representativo de edificações hoteleiras situadas em Natal, RN. Os parâme-
tros analisados pelo autor foram: sombreamento das aberturas, transmitância da

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cobertura, absortância das paredes e da cobertura, percentual de aberturas na
fachada, o fator solar dos vidros das esquadrias, a orientação das maiores fachadas
e a eficiência energética dos condicionadores de ar (EER). O autor também realizou
auditorias de uma amostra dos estabelecimentos hoteleiros e constatou que o
consumo energético das edificações variou entre 58 kWh/m² e 193kWh/m². Tam-
bém foi constatada uma forte correlação entre a taxa de ocupação e o consumo
de energia. Os resultados do trabalho indicaram que a combinação de variáveis
arquitetônicas pode ter mais impacto sobre o consumo de energia do que aquelas
relacionadas com o ar-condicionado. Os resultados das simulações empregando
um equipamento de ar-condicionado de alta eficiência indicaram uma redução de
consumo de 28%, enquanto mudanças nas características arquitetônicas geraram
uma economia de até 65%, com destaque para a combinação entre percentual de
abertura da fachada igual a26% e baixa transmitância e absortância da coberta
(U=0,46 W/m².K e α=0,2). O impacto do sombreamento, na maioria dos casos,
gerou reduções de consumo entre 10 e 20%, enquanto a redução da absortância
das paredes reduziu entre 9% e 43% o consumo de energia.
Signor, Westphal e Lamberts (2001) desenvolveram um estudo abrangendo
edifícios comerciais condicionados artificialmente em 14 cidades brasileiras,
incluindo a cidade de Maceió. O objetivo dos autores foi desenvolver um modelo
simples de previsão de consumo de energia elétrica para edifícios comerciais em
diversos climas. A metodologia utilizada foi modelagem computacional seguida
por análise de regressão linear entre as variáveis estudadas. As variáveis estuda-
das foram: área da coberta/área total; percentual de abertura nas fachadas; fator
de projeção de peitoril das janelas; coeficiente de sombreamento das aberturas;
transmitância e absortância da coberta; transmitância e absortância das superfí-
cies da fachada; e intensidade de carga interna. Como resultado observaram que
o sistema de cobertura apresentava grande influência no consumo energético,
enquanto o formato da edificação e a transmitância da fachada não possuíam
relação linear com o consumo de energia elétrica.
Bohdanowicz, Churie-Kallhauge e Martinac (2002) desenvolveram uma
pesquisa com o objetivo de fornecer um panorama mundial do setor hoteleiro
sob o ponto de vista energético. Foi observada, pelos autores, uma influência
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 133

pronunciada entre o consumo de energia e a temperatura média externa, justi-


ficada pelo fato de os sistemas de condicionamento artificial serem, frequente-
mente, os maiores consumidores de energia por uso final (até 42%).
A partir do exposto nos estudos referenciados, é possível perceber que os
parâmetros mais citados como influentes no consumo de energia da tipologia
hoteleira são: percentual de abertura na fachada; fator solar dos elementos trans-
parentes; orientação das superfícies da edificação; elementos de sombreamento;
eficiência energética do sistema de ar-condicionado; volumetria; área útil edifi-
cação; transmitância e absortância das paredes e da cobertura e densidade da
carga interna.
Em relação ao consumo energético anual por unidade de área (m²), obser-
vou-se uma variação entre 168,7kWh/m² em hotéis ventilados naturalmente em
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Atenas (SANTAMOURIS et al., 1995) e o máximo foi de 688,7 kWh/m², média de


empreendimentos localizados em Ottawa no Canadá (SHI-MING; BURNETT, 2000
apud BOHDANOWICZ; CHURIE-KALLHAUGE; MARTINAC, 2002). No caso bra-
sileiro, foi observado um consumo anual médio de 126,22 kWh/m² em Natal, RN.
A ampla variação de consumo energético entre os meios de hospedagem con-
dicionados artificial e naturalmente enfatiza o papel do ar-condicionado como
grande consumidor de energia e revela que a melhor solução para a eficiência
energética para empreendimentos hoteleiros é a utilização da ventilação natural,
quando viável.
Os usuários são os personagens principais nos meios de hospedagem, e são
identificados dois tipos principais: Hóspedes e Funcionários. Esse último por pos-
suir um vínculo e uma rotina de trabalho, apresenta comportamento que pode ser
previsto e padronizado, sendo o resultado dessa padronização muito próximo da
realidade. Já os hóspedes possuem comportamento variado e imprevisível e são
alvos de pesquisas que relacionam seus comportamentos e hábitos ao consumo
de energia em meios de hospedagem. Essa relação foi citada nas pesquisas de
Santamouris et al. (1995); Veloso, Santos e Lima Neto (2001); Veloso e Elali (2001)
e Parpari (2017).
Segundo Guzmán (2003) os principais ambientes que consomem energia
elétrica dentro da edificação hoteleira são os apartamentos, onde os hóspedes
permanecem durante longos períodos. A determinação do período de ocupação
do hóspede em seu apartamento e da utilização dos equipamentos de televisão
e luz geral do ambiente foram abordadas por Buoro (2008) e se basearam em
pesquisas de Buoro et. al (2004) e Mesquita (2006). Entre as conclusões, está o
fato da ocupação das UH ocorrer apenas no período da noite para mais de 80% dos
hóspedes, sendo os apartamentos utilizados para descanso (dormir), relaxamento
(assistir televisão ou ler um livro) e higiene pessoal.
Bohdanowicz e Martinac (2002) estudaram o conforto térmico do usuário
e as possibilidades para redução de consumo de energia em hotéis. Observaram
que os hóspedes, geralmente, manipulam os elementos de controle térmico com
pouca ou nenhuma preocupação com a conservação de energia. Outro aspecto
apontado como descuido dos hóspedes foi o abandono das unidades habitacionais
Influência de medidas de conservação de energia no desempenho energético:
134 estudo de caso de um hotel econômico de pequeno porte em Maceió, AL

durante o dia com o sistema de condicionamento artificial funcionando. Os autores


afirmam ainda que uma diminuição de 1 °C na temperatura interna do ambiente
resulta em uma redução de aproximadamente 10% em custos com aquecimento.
Santamouris et al. (1995) afirmam que o comportamento dos usuários tem
um impacto direto no consumo de energia em meios de hospedagem. Há uma
tendência de falta de consciência dos ocupantes no que diz respeito aos hábitos
de consumo energético, pois é cobrado um preço fixo independente do consumo
de energia. Outro exemplo dado pelos autores foi o uso excessivo de iluminação
artificial, principalmente quando elas são deixadas ligadas durante o dia ou noite
em unidades habitacionais desocupadas (SANTAMOURIS et al., 1995). Após reali-
zação de entrevistas com funcionários do hotel a respeito da satisfação no conforto
térmico do estabelecimento os autores identificaram que nos hotéis que apresen-

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tam o menor consumo de energia as queixas relacionadas ao desconforto térmico
foram mais recorrentes. Essa relação é compatível com o trabalho realizado por
Veloso e Elali (2004), que constataram que em hotéis de pequeno e médio porte
parte das medidas de conservação de energia afetam o conforto do usuário e que
por esse motivo não são sustentadas pelo mercado turístico.
Dessa forma conclui-se que a relação entre comportamento do hóspede e o
consumo de energia é sólida e que depender da ação ativa do cliente como medida
de conservação de energia afeta a satisfação do mesmo e, consequentemente,
coloca em risco a relação cliente-empresa. Já ações tecnológicas, de reforma
predial e de gestão de energia são eficazes e independem dos hóspedes, podendo
alcançar até 20% de economia energética (SANTAMOURIS et al., 1995). É impor-
tante mencionar que em edificações concebidas com princípios bioclimáticos e
preocupações tecnológicas em relação a eficiência energética as preocupações
com retrofit predial são menores e menos onerosas economicamente.

2.3 A influência de parâmetros construtivos no consumo de energia da


edificação

Percebeu-se, através do levantamento do referencial teórico, que pesquisas


acerca da eficiência energética, conservação de energia e padrões de consumo
energético de meios de hospedagens são realizadas pioneiramente no continente
europeu e na América do Norte. No Brasil estudos com essa temática ainda estão
em fase inicial, sendo geralmente desenvolvidos pelos cursos de graduação e
pós-graduação em engenharia civil e arquitetura e urbanismo.
No mundo diversos sistema de classificação e etiquetagem de eficiência e
desempenho energético de edificações (incluindo meios de hospedagem) estão
em vigência, sendo os principais deles o EnergyStar e o LEED. No Brasil não exis-
tem sistemas de avaliação de desempenho termo energético específicos para os
meios de hospedagem, contudo o regulamento técnico de qualidade para nível
de eficiência energética de edificações comerciais, de serviços e públicas (RTQ-C)
abrange esse tipo de edificação e recomenda a utilização de simulações compu-
tacionais para avaliação de desempenho.
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 135

A simulação computacional é um método eficiente e amplamente utilizado


para analisar a relação entre elementos arquitetônicos, comportamentos dos
usuários, influencia climática e o consumo de energia elétrica. Dentre os softwares
comumente utilizados para o desenvolvimento de pesquisas o escolhido para o
presente trabalho foi o EnergyPlus v. 8.7.0.

3. Metodologia

Para a realização da pesquisa foram utilizados procedimentos metodológicos


pertencentes às seguintes metodologias: Avaliação Pós-Ocupação, Estudo de Caso
e Simulação Computacional.
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3.1 Estudo de Caso

Para identificar os meios de hospedagem econômicos de pequeno e médio


porte da cidade de Maceió foi consultado o Cadastur11 (2017). De acordo com o
Cadastur, na cidade de Maceió, existem 83 meios de hospedagem de portes varia-
dos. Dentre esses, utilizando as características classificatórias de hotel econômico
definidas por Andrade, Brito e Jorge (2012) e pelo SBClass (2011), foram encontra-
das 38 unidades hoteleiras.

3.1.1 Definição da Tipologia Predominante

Para a identificação da tipologia predominante foram levantados os


seguintes dados:

a) Implantação, orientação das fachadas principais e entorno dos


empreendimentos: para isso foi utilizado o software Google Earth (2017)
para situar e mapear a distribuição dos hotéis pelos bairros de Maceió,
assim como observar a orientação geográfica das fachadas. Para a reali-
zação desse mapeamento foram utilizados os endereços dos empreen-
dimentos, disponibilizados pelo Cadastur (2017).
b) N° de UH’s: disponíveis através do Cadastur (2017).
c) Volumetria Predominante: Para a classificação das volumetrias exis-
tentes na amostra do universo de estudo foram observadas as altu-
ras das edificações (a partir da quantidade de pavimentos que cada
empreendimento possui) e a projeção horizontal das edificações (a

11 O Cadastur, um sistema de cadastro de profissionais e empresas do setor turístico, era executado


pelo Ministério do Turismo em parceria com os órgãos oficiais de turismo de cada um dos 26
estados brasileiros e no Distrito Federal (http://www.cadastur.turismo. gov.br/cadastur/index.
action#). O Cadastur possuía atualização diária e encontrava-se em vigor à época de realização
da pesquisa.
Influência de medidas de conservação de energia no desempenho energético:
136 estudo de caso de um hotel econômico de pequeno porte em Maceió, AL

partir de análises de imagem via satélite disponibilizadas pelo Google


Maps (2016), combinadas com fotos dos empreendimentos, registrados
pela autora).
d) Cor e absortância das fachadas principais: Para identificação das cores
foram utilizadas fotos dos empreendimentos pertencentes a amostra,
software virtual de identificação de RGB12 das cores, conversor de RGB
para HSL13 e por fim utilização da equação desenvolvida por Dornelles
(2008) que relaciona o método RGB e HSL de classificação de cores
com a absortância das fachadas.
e) Percentual de Abertura da Fachada Principal (PAFp): Devido a impos-
sibilidade de visualização de todas as fachadas dos empreendimentos
(frontal, laterais e posterior), para análise do PAF foram consideradas

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apenas as fachadas principais (frontais). Para a obtenção do Percentual
de Abertura da Fachada Principal (PAFp) foi realizado o seguinte proce-
dimento: Através das imagens obtidas por fotografias e com o auxílio do
software Autocad (2012) foi possível obter as proporções entre as áreas
das aberturas envidraçadas e a área total da fachada principal. Infeliz-
mente, não foi possível a obtenção de imagem das fachadas principais
dos 38 hotéis da amostra devido a dois deles possuírem um muro que
circunda todo o terreno do estabelecimento, consequentemente, ao
todo foram obtidos 36 PAFp dos meios de hospedagem econômicos
pertencentes a amostra do estudo.
f) Consumo Energético Anual: Os dados foram solicitados à concessio-
nária de energia elétrica, Eletrobras. Foram solicitadas informações
de consumo mensal referentes ao ano de 2016 para todos os hotéis
pertencentes à amostra da pesquisa. Contudo, devido ao contrato tari-
fário e ao sistema de ligação elétrica admitida individualmente pelas
empresas, foi possível identificar a existência de 24 estabelecimentos
com contratos firmados, dos quais apenas 17 possuem medição mensal
de energia.

3.1.2 Seleção do Objeto de Estudo

Após a identificação da tipologia arquitetônica predominante, foi escolhido


um hotel representativo como estudo de caso, a ser utilizado como Caso Base
da simulação computacional. Para a escolha da edificação foi observado seu
enquadramento nas características identificadas para a tipologia predominante,
de acordo com os seguintes critérios: faixa do consumo energético; projeção

12 Classifica a cor da imagem através das tonalidades Red, Blue e Green (RGB) (DORNELLES,
2008). O software utilizado foi o ginifab, disponível em: http://www.ginifab.com/feeds/pms/
pms_color_in_image.php.
13 Classifica a cor da imagem através da Matiz (Hue), Saturação (Saturation), Suavidade (Luminance
ou Lightness) (DORNELLES, 2008). O software utilizado foi o rapidtables disponível em: http://
www.rapidtables.com/convert/color/rgb-to-hsl.htm.
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 137

horizontal da edificação; número de pavimentos e apartamentos; percentual de


abertura da fachada principal; cores das fachadas; orientação da fachada. O objeto
escolhido deve atender a todos os critérios, sendo estes embasados nos resultados
das pesquisas de Lima (2007), Carlo (2009); Deng; Burnett (2002); Veloso; Elali
(2004); Gúzman (2003) e Buoro (2008).

3.1.3 Entrevistas e visitas aos hotéis pertencentes a amostra da pesquisa

Essa etapa faz parte da realização de uma Avaliação pós-ocupação do objeto


de estudo. Esse procedimento utilizou como referência os procedimentos metodo-
lógicos propostos por Ornstein, Bruna e Romero (1995) e consistiu em duas etapas
principais: vistoria aos hotéis pertencentes a amostra da pesquisa e aplicação de
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questionários aos hóspedes do objeto de estudo. A vistoria consistiu em avaliar


características construtivas, equipamentos, ocupação, consumo de energia e
horário dos fluxos de clientes dos estabelecimentos. Para realização desta etapa
foi solicitado apoio da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira sede de Ala-
goas – ABIH/AL, sendo que apenas 6 estabelecimentos retornaram o contato e
demonstraram interesse em participar da pesquisa.
A partir das vistorias foi criado um banco de dados necessários para ana-
lisar o comportamento do hóspede dentro da edificação, bem como conhecer
o arranjo espacial dos ambientes e a composição de equipamentos existentes.
Essas informações são importantes para determinação de cargas internas em
estudos termo energéticos e para criação de schedules14 a serem utilizados na
simulação energética.

3.1.4 Caracterização do Objeto de Estudo

Após identificado o estabelecimento referente ao objeto de estudo foram


realizadas vistorias em campo com a finalidade de obter as seguintes informações:
características construtivas da edificação, ocupação média anual (referentes aos
anos de 2015 e 2016), levantamento de áreas internas, levantamento do quanti-
tativo de equipamento e potências nominais (correspondente a cada ambiente).
Ainda nessa etapa foram realizadas entrevistas com os funcionários para
obter informações sobre os padrões de uso e ocupação do hotel e reconhecer os
perfis dos usuários hóspedes, também foi realizado um questionário para identi-
ficação dos hábitos dos clientes dentro de suas UH’s. Além de realizadas obser-
vações in loco dos padrões de comportamento dos usuários nas áreas comuns.
Com o objetivo de identificar os requisitos mínimos para o melhor desempe-
nho energético da envoltória do objeto de estudo foi aplicado o método prescritivo
do Regulamento Técnico de Qualidade para o Nível de Eficiência Energética de

14 As schedules representam padrões de uso e operação da edificação e seus sistemas (MELO;


WESTPHAL; MATOS, 2009).
Influência de medidas de conservação de energia no desempenho energético:
138 estudo de caso de um hotel econômico de pequeno porte em Maceió, AL

Edificações Comerciais, de Serviços e Públicas (RTQ-C). Para a avaliação do nível de


eficiência energética da envoltória da edificação do objeto de estudo foi utilizado
como ferramenta o WebPrescritivo, desenvolvido através de uma parceria entre o
LabEEE, Eletrobras, PBE edifica e o Centro Brasileiro de Eficiência Energética em
Edificações (CB3E). Para obtenção dos valores da transmitância foram utilizados
dados do Anexo V da portaria do Inmetro de n° 50 (2013).

3.2 Simulação Computacional

A simulação computacional consistiu em modelar o objeto de estudo esco-


lhido, denominado Caso Base, através do software OpenStudio 2.1.0. A partir do Caso
Base foram realizadas variações paramétricas de elementos da envoltória com

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a finalidade de verificar o impacto dessas alterações no consumo energético do
edifício. Essa etapa possui a finalidade de testar soluções arquitetônicas simples
e a nível de retrofit, relacionadas à envoltória, que contribuem para melhorar a
eficiência energética da edificação.
Para a predefinição dos parâmetros a serem simulados e variados foram
utilizados como base os trabalhos de Carlo (2009); Buoro (2008); Lima (2007);
Guzmán (2003); Deng e Burnett (2002) e Veloso e Elali (2004, 2001). Os parâme-
tros escolhidos foram os seguintes: fator solar dos vidros; absortância do telhado
e da parede; transmitância das paredes externas; e setpoint do ar-condicionado15.
Com a finalidade de organizar os resultados das simulações e analisar o
impacto que cada solução arquitetônica tem sobre o consumo energético, foi
necessário a subdivisão das simulações em três blocos principais. O primeiro deles
consistiu na variação dos parâmetros escolhidos previamente, onde foi possível
identificar o impacto do consumo energético de cada solução arquitetônica, iso-
ladamente. Foram realizadas variações paramétricas do caso base modificando
a transmitância das superfícies verticais e horizontais (paredes e coberturas)
da envoltória, absortância das superfícies verticais e horizontais, configuração
da temperatura de setpoint do ar-condicionado e padronização das superfícies
transparentes. Ao todo foram simulados isoladamente 9 variações do caso base.
A criação dos casos foi embasada nas informações consolidadas pela literatura
e também através das especificações e pré-requisitos expostos no Regulamento
Técnico de Qualidade para o Nível de Eficiência Energética de Edificações Comer-
ciais, de Serviços e Públicas (RTQ-C).
O segundo bloco de simulações consistiu em combinar as soluções arqui-
tetônicas do primeiro bloco. Foram combinadas estratégias arquitetônicas refe-
rentes a variação da absortância da fachada e da cobertura e transmitância das
paredes da envoltória e da cobertura do prédio novo. Para a criação dos casos
foi utilizado como critério os menores indicadores de consumo energético por

15 O Set Point do ar-condicionado é o valor da temperatura de termostato configurada no aparelho.


Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 139

unidade de área útil (kWh/m²) correspondentes às medidas de conservação de


energia investigadas no primeiro bloco de simulações. Ao todo para esse segundo
bloco foram simulados mais 6 casos.
O terceiro e último bloco consistiu na criação de dois casos, denominados
caso eficiente e ineficiente. Montados a partir da combinação dos parâmetros
que obtiveram os maiores valores de indicadores de consumo energético pela
área (caso ineficiente) e os menores indicadores de consumo (caso eficiente). A
elaboração desses casos teve como finalidade a análise do impacto das decisões
arquitetônicas no consumo energético global do objeto de estudo. Ao todo foram
simulados 17 casos.

3.3 Critérios para análise dos Resultados da Simulação


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Todas as análises foram feitas com foco nas zonas térmicas condicionadas
artificialmente (apartamentos, gerência, diretoria e restaurante). O procedimento
utilizado para a análise dos resultados está descrito abaixo:

a) Indicador de consumo energético por área útil da edificação (kWh/m²):


O cálculo para identificar o indicador de consumo de energia dos casos
simulados foi realizado através da razão entre o consumo total anual e
o total das áreas úteis dos ambientes internos.
b) Consumo por uso final (kWh): Foram analisados os percentuais de
consumos por uso final através da razão entre o consumo global anual
e o consumo total anual de cada um dos principais consumidores de
energia elétrica do estabelecimento (aparelhos de ar-condicionado,
equipamentos eletrodomésticos e iluminação), de cada caso. É impor-
tante ressaltar que a única fonte com consumo variável analisada no
presente trabalho é o sistema de condicionamento artificial, as demais
fontes (iluminação e equipamentos eletrodomésticos) possuem con-
sumo energético fixos. O padrão de ocupação dos usuários também foi
mantido inalterado.
c) Sazonalidade de consumo de energia elétrica da edificação: Foram iden-
tificados os meses com maior consumo de energia elétrica da edificação,
cruzando os dados de consumo com a estação do ano e com os dados
de temperatura média existentes do arquivo climático utilizado para
as simulações.
d) Identificação das regiões do hotel com maior consumo energético
proveniente de climatização artificial: Essa análise tem como finali-
dade identificar as regiões do hotel (apartamentos) que possuem o
menor consumo energético e, consequentemente, teriam prioridade
para serem alugados. Para isso foram obtidos relatórios da simulação
Influência de medidas de conservação de energia no desempenho energético:
140 estudo de caso de um hotel econômico de pequeno porte em Maceió, AL

computacional acerca do consumo energético dos compressores dos


aparelhos de ar-condicionado.
e) Identificação das principais fontes de ganho de calor: Para a análise
do comportamento das cargas térmicas dos ambientes condicionados
artificialmente foi solicitado como dado de saída do software EnergyPlus
o relatório de “Componentes da carga de pico de resfriamento”, que
fornece uma estimativa das cargas máximas de resfriamento para zona,
dividida em diversos componentes, determinando quais componentes
da carga têm o maior impacto para as condições de configuração do
horário de pico de resfriamento. Em todos os casos simulados o dia de
pico aconteceu em 21/01 e o horário de pico variou de acordo com as

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zonas térmicas e as especificidades de cada uma delas (schedules de
funcionamento, ocupação, atividade, cargas térmicas e posição geo-
métrica diferenciadas).
f) Tempo de setpoint não alcançado: Essa análise tem como objetivo iden-
tificar o percentual de horas de funcionamento em que a climatização
artificial não atingiu a temperatura setpoint configurada e tem como
finalidade observar se os condicionadores de ar estão corretamente
dimensionados para seus respectivos ambientes.
g) Desconforto térmico dos usuários por região do hotel: Por fim, foi reali-
zada a análise das condições de conforto dos usuários através dos dados
de saída da simulação que informa as horas de desconforto dos usuários
para cada zona térmica modelada. A finalidade dessa análise é verifi-
car se a configuração de setpoint adotada é compatível com os índices
de conforto admitidos pelas normativas nacionais e internacionais. O
método para análise de conforto escolhido para análise simplificada
do desconforto dos usuários foi o “Método Gráfico para Ambientes
Internos Típicos”16 da ASHRAE 55 (2013), que relaciona o desconforto
dos usuários no tempo em que a zona está ocupada, e em que a com-
binação de taxa de umidade e temperatura operativa não está dentro
da região de aceitabilidade para vestimentas de verão, conforme pode
ser observado na figura 1.

Foram analisadas as seguintes fontes de calor: superfícies opacas, pessoas,


iluminação, equipamentos, infiltração, janelas e portas opacas. As fontes de calor
referente as “superfícies opacas” estão distribuídas em seis componentes, são
eles: cobertura, teto das zonas, paredes externas, paredes internas, piso das
zonas e piso em contato com o solo. As fontes de calor referente às esquadrias
transparentes são divididas em dois componentes, categorizados pelo tipo de

16 Graphical Method for Typical Indoor Environments.


Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 141

ganho de calor: janelas – condução (por condução térmica) e janela radiação


solar (por radiação solar).
Para melhor entendimento dos resultados da simulação, para essa análise
também foram divididas as zonas térmicas em 5 regiões distintas, de forma
a identificar quais componentes da edificação representam maior participa-
ção no ganho/perda de calor de cada região do objeto de estudo, para cada
caso simulado.

Figura 1 | Alcance aceitável da temperatura operativa


e da umidade em espaços internos
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Fonte: ASHRAE STANDARD 55, 2013.

Para facilitar a visualização do desconforto dos usuários foi realizado uma


média aritmética dos níveis de desconforto das zonas térmicas pertencentes a
cada região do hotel, a partir dos relatórios de desconforto dos usuários por apar-
tamento fornecido como resultado das simulações computacionais. As análises
de desconforto foram realizadas considerando vestimentas de verão (vestimentas
leves – abaixo de 1,0 clo) e a região em que o ambiente está situado no hotel. É
importante mencionar que devido ao clima quente e úmido e a tradição de turismo
de sol e mar, para a cidade de Maceió, vestimentas leves são típicas do local.
Ao término das análises dos resultados são feitas recomendações a res-
peito de quais UH’s devem ser alugadas primeiro, sendo a sugestão em função
do consumo energético verificado por Zona térmica, bem como recomendações
a respeito do retrofit da envoltória, de forma a atrelar a eficiência energética ao
conforto dos usuários.
Influência de medidas de conservação de energia no desempenho energético:
142 estudo de caso de um hotel econômico de pequeno porte em Maceió, AL

3.4 Caracterização climática da cidade de Maceió

Os fatores climáticos interferem no desempenho energético das edificações,


com destaque para a temperatura e radiação solar média mensal, conforme afir-
mam Deng e Burnett (2002) e Bohdanowicz, Churie-Kallhauge e Martinac (2002).
Visando analisar a relação entre o clima local, as características das edificações e
seu consumo energético, foram utilizados no presente estudo os dados climáticos
históricos da cidade de Maceió, conforme pesquisa de Passos (2009) e também os
dados anuais de 2015 e 2016, anos em que foram obtidas as informações acerca do
consumo energético dos estabelecimentos pertencentes ao universo e ao objeto
do estudo. Os dados climáticos de temperatura e insolação para os anos de refe-
rência 2015 e 2016 foram obtidos através dos dados históricos do Instituto Nacional

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de Meteorologia (INMET), a velocidade e direção dos ventos predominantes foram
obtidos através dos trabalhos de Maia (2016) e Passos (2011).

4. Resultados da etapa de levantamento de campo do objeto de estudo

Neste subcapítulo da pesquisa estão descritos os resultados referentes à


análise comparativa entre os dados adquiridos durante o levantamento de infor-
mações acerca do espaço amostral da pesquisa e do objeto de estudo. Esses resul-
tados fazem parte do entendimento sobre o consumo energético da tipologia
hoteleira e foram utilizados como base para configuração e análise da simula-
ção computacional.

4.1 Questionários

Os questionários foram aplicados entre 10 de julho de 2017 e 20 de setembro


de 2017. Foram aplicados, ao todo, 34 questionários. A tabela 1 ilustra a distribuição
dos respondentes (faixa etária e sexo). A maior parte dos respondentes declarou
que o motivo da viagem era o lazer (81,8%) e 18,2% responderam que estavam
à trabalho.

Tabela 1 | Distribuição por faixa etária e sexo dos respondentes

Distribuição de faixa etária por sexo:

18-30 31-43 44-56 57-69 >69

Feminino 3 9 6 3 1

Masculino 5 3 3 1 0

Fonte: Acervo das autoras, 2017.

Sobre os hábitos de consumo energético dos hóspedes dentro das UH’s,


94,1% informaram que desligam as luzes ao sair do apartamento para o café
da manhã. Já a respeito dos aparelhos eletrônicos, 20,6% informaram deixá-los
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 143

ligados ao sair para o café da manhã, sendo os equipamentos mais recorrentes o


carregador do aparelho celular e o ar-condicionado. Contudo, 97,9% dos respon-
dentes afirmaram que não saem do hotel deixando os aparelhos ligados. O uso
do frigobar se mostrou bastante recorrente entre os respondentes, com 79,4%
deles afirmando utilizá-lo. Já o uso do secador de cabelo foi declarado por 50%
dos respondentes, sendo 76,47% destes do sexo feminino. A respeito da tempe-
ratura ideal para o banho (frio ou quente), 91,2% dos hóspedes afirmaram preferir
banhos quentes, sendo o período de duração de banho mais recorrente entre 6 e
10 minutos, podendo variar de 5 a 15 minutos.
O uso do ar-condicionado foi declarado por 82,3% dos respondentes. Desses,
62,1% afirmaram ligá-lo apenas quando estavam com calor e 31% informaram
que o acionamento se dava após a chegada ao apartamento. Contudo, 64,7% dos
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hóspedes informaram que se sentem neutros (ausência de sensação de calor ou


frio) quando chegam ao hotel. Apenas 20,6% afirmaram sentir um pouco de calor,
8,8% sentiram calor e 5,9% dos respondentes informaram sentir frio ao chegar
no estabelecimento. As temperaturas de setpoint do ar-condicionado informadas
com maior frequência pelos respondentes variaram entre 21 e 23°C, representando
42,9% das respostas. Os hóspedes que declararam preferir temperaturas mais
baixas, entre 17 e 20°C, corresponderam a 35,7%.
Ao analisar a comparação entre a temperatura de configuração do ar-con-
dicionado com a sensação térmica na hora de dormir, observou-se que 75% dos
hóspedes que configuraram os aparelhos com temperatura abaixo de 20°C decla-
raram sentir algum tipo de desconforto por frio. Por fim, a respeito da adoção de
medidas de conservação de energia praticadas em suas residências, 60,6% dos
respondentes afirmaram aplicá-las, sendo as mais recorrentes: apagar as luzes ao
sair do ambiente, desligar aparelhos quando não estão em uso, banhos rápidos e
deixar as janelas abertas para ventilação natural. Através do exposto foi observado
uma manutenção das medidas de conservação de energia por parte dos clien-
tes, enquanto hospedados, exceto a medida que envolve ventilação natural, pois
82,3% dos hospedes informaram utilizar o ar-condicionado durante a utilização
dos apartamentos.

4.2 Relação entre ocupação média mensal e consumo de energia medido


pela concessionária

Para analisar a relação entre ocupação média mensal e consumo de energia


foram considerados apenas dados relativos ao hotel do objeto de estudo. Foram
utilizados dados de ocupação e o consumo energético médio mensal medidos
pela concessionária, referentes aos anos de 2015 e 2016. É pertinente observar
que alguns dos hotéis pertencentes à amostra da pesquisa possuem geração
de energia através de combustíveis fósseis17, sendo esse recurso ativado nos

17 Sendo diesel o principal combustível utilizado.


Influência de medidas de conservação de energia no desempenho energético:
144 estudo de caso de um hotel econômico de pequeno porte em Maceió, AL

horários de pico (entre as 17:30hs e 20:30hs). Desse modo, não foram utilizados
os dados da amostra de estudo e sim do objeto de pesquisa, que não possui
gerador de energia.
Observando-se os Gráficos 1 e 2 percebe-se que o consumo médio de energia e
a ocupação média mensal são proporcionais. Com exceção do mês de março/2015,
que apresentou decréscimo na ocupação e um aumento no consumo de energia
em relação ao mês anterior, sendo esse considerado um mês atípico.

Gráfico 1 | Dados comparativos entre consumo e


ocupação média mensal para o ano de 2015

100% 2015 15000


OCUPAÇÃO MÉDIA (%)

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80%
10000
60% Ocupação

40% Consumo
5000
20%
0% 0
JAN. FEV. MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

Fonte: Acervo das autoras, 2017.

Gráfico 2 | Dados comparativos entre consumo e


ocupação média mensal para o ano de 2016
2016
100% 14000
OCUPAÇÃO MÉDIA (%)

12000
80%
10000
60% 8000 Ocupação
40% 6000
Consumo
4000
20%
2000
0% 0
JAN. FEV. MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

Fonte: Acervo das autoras, 2017.

4.3. O Hotel do Estudo de Caso – Caso Base

O hotel escolhido como objeto de pesquisa fica situado a quatro quadras


da orla marítima de Maceió, no bairro da Jatiúca. Possui formato retangular, três
pavimentos, PAFp de 19,4%, coloração da fachada principal com absortância de
0,7 e fachada principal voltada a Leste.
O empreendimento foi inicialmente inaugurado em 1997, com apenas 16
unidades habitacionais. Após alguns anos de funcionamento foram acrescen-
tadas à estrutura preexistente mais três unidades habitacionais, totalizando 19
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 145

apartamentos. Em 2013, para atender a demanda crescente, o empreendimento


sofreu uma ampliação, onde foi iniciada a construção de mais um edifício ao lado
do preexistente, tendo a obra sido concluída em 2014. Com a ampliação, o esta-
belecimento dobrou de tamanho, passando a totalizar 39 unidades habitacionais.
Para facilitar a caracterização do empreendimento, a edificação inicial do hotel
será chamada de “parte antiga” e a edificação construída em 2013 de “parte nova”.
Os ambientes que compõem o hotel são: recepção e salas de estar, gerência,
diretoria, rouparias, banheiros sociais, área técnica para equipamentos, cozinha,
estoque, sala de funcionários, área de serviço, restaurante, espaço aberto, cir-
culação e apartamentos. Desses, além dos apartamentos, apenas a gerência,
diretoria e o restaurante são condicionados artificialmente e considerados áreas
focais da pesquisa.
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4.3.1 Caraterísticas construtivas

Tanto a parte antiga quanto a parte nova do estabelecimento são compostas


por vedação em alvenaria de tijolo cerâmico e sistema estrutural em concreto
armado. A superfície externa da fachada principal (Leste) possui coloração ver-
melha com detalhes em pedras portuguesas, na cor amarela. Uma pele de vidro
compõe boa parte da superfície de fachada que engloba a área da recepção. As
demais fachadas da edificação (Norte, Sul e Oeste) possuem coloração verde claro
e nelas ficam situadas as superfícies externas da maior parte das UH’s, conforme
pode ser observado na figura 2.
A edificação possui dois tipos de cobertura nas zonas condicionadas artifi-
cialmente situadas no último pavimento, uma para a edificação nova e uma para
a antiga. A edificação nova possui cobertura em laje de concreto impermeabili-
zada. Já a edificação antiga possui cobertura de telhas cerâmicas não esmaltadas
inseridas acima de uma laje de concreto.
A maioria das esquadrias das UH’s situadas na parte nova do empreendimento
possui perfil em alumínio na cor preta, com vidro simples e película opaca preta
inserida pós-instalação para bloquear a luminosidade. Apenas quatro unidades
habitacionais possuem esquadrias em alumínio bronze e vidro com película refletiva.

Figura 2 | Fachada principal e fachada lateral do objeto de estudo

Fonte: Acervo das autoras, 2017.


Influência de medidas de conservação de energia no desempenho energético:
146 estudo de caso de um hotel econômico de pequeno porte em Maceió, AL

As esquadrias situadas na parte antiga da edificação são, em sua maioria, de


madeira, com exceção dos apartamentos modificados para a realização da reforma.
Ao todo, na parte antiga, são 20 apartamentos, apenas dois deles possuem esqua-
dria de alumínio com fechamento em vidro refletivo e um possui esquadria de
alumínio com fechamento em vidro simples com adição de película opaca preta.
Para identificar a absortância das paredes das fachadas da edificação estu-
dada foi consultada a tese de doutorado de Dornelles (2008), que expõe uma base
de dados para tintas látex e PVA, conforme a Quadro 1.

Quadro 1 | Absortância aproximada das cores que compõe as


fachadas do Hotel Ciribaí, por faixa de espectro (%)

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Absortância
Cor – Real Cor – Aproximada Ultra
Visível Infravermelho Total
Violeta

Vermelho – 78 Vermelho
Acrílico Fosco Cardinal – Acrílica 96,4 72,2 57,0 61,2
Suvinil fosca Suvinil

Verde Sálvia – 48 Alecrim – Suvinil


95,5 64,2 68,1 68,4
Fosco Coral acrílica fosca

Fonte: Adaptado de DORNELLES, K., 2008.

O Percentual de Abertura na Fachada Total – PAFT, seguindo definições do


RTQ-C, contabilizado para o Hotel foi de 7,08%, sendo a fachada Leste a que apre-
sentou maior PAF e a fachada Sul o menor.

4.3.2 O entorno e a Insolação

O Hotel está circundado por edificações multifamiliares com uma quanti-


dade média de 9 pavimentos, sendo sombreado por elas no período da manhã
e da tarde, em todos os meses do ano, Gráficos 3 e 4, que possuem informações
acerca da quantidade de horas de exposição ao sol (por ambiente). Para o estudo
de insolação das fachadas do estabelecimento foi realizada uma simulação com-
putacional utilizando o software SketchUp 2016. A simulação foi realizada hora a
hora para dois dias de referência, 21 de junho (inverno) e 22 de dezembro (verão).
Foi percebido que no verão, a fachada Sul possui exposição ao sol em uma
pequena área durante 8 horas, iniciando às 8 da manhã até às 16hs. A fachada
leste também recebe radiação direta em uma diminuta área, durante 5 horas por
dia, iniciando às 7hs da manhã. A fachada oeste recebe radiação direta apenas a
partir do primeiro pavimento durante parte do período vespertino.
Já no inverno, a fachada norte recebe raios diretos durante todo o dia em
grande parte da área dos ambientes situados no primeiro e segundo pavimento.
A fachada leste possui pequena exposição à radiação solar no período matutino,
principalmente nos ambientes da “edificação antiga” e, por fim, a fachada oeste
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 147

recebe radiação apenas ao meio dia em uma pequena área de sua extensão. Já a
coberta do estabelecimento é sombreada durante algumas horas no verão, a partir
das 14h, e no inverno após as 16hs, devido a existência de obstruções no entorno.

Gráfico 3 | Exposição à radiação solar direta, por ambiente,


tomando como base o dia 22 de dezembro (Verão)

Horas de Exposição ao Sol - Por Ambiente - Verão


10
8
6
4
2
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0
Apto 101
Apto 102
Apto 103
Apto 104
Apto 105
Apto 106
Apto 107
Apto 108
Apto 109
Apto 110
Apto 111
Apto 112
Apto 113
Apto 114
Apto 115
Apto 116
Apto 117
Apto 118
Apto 119
Apto 120
Apto 121
Apto 201
Apto 202
Apto 203
Apto 204
Apto 205
Apto 206
Apto 207
Apto 208
Apto 01
Apto 02
Apto 03
Apto 04
Apto 05
Apto 06
Apto 07
Apto 08
Apto 09
Apto 10

Rest.
Gerência
Admin.
Fonte: Acervo das Autoras, 2017.

Gráfico 4 | Exposição à radiação solar direta, por ambiente,


tomando como base o dia 21 de junho (Inverno)

Horas de Exposição ao Sol - Por Ambiente - Inverno


10
8
6
4
2
0
Apto 101
Apto 102
Apto 103
Apto 104
Apto 105
Apto 106
Apto 107
Apto 108
Apto 109
Apto 110
Apto 111
Apto 112
Apto 113
Apto 114
Apto 115
Apto 116
Apto 117
Apto 118
Apto 119
Apto 120
Apto 121
Apto 201
Apto 202
Apto 203
Apto 204
Apto 205
Apto 206
Apto 207
Apto 208
Apto 01
Apto 02
Apto 03
Apto 04
Apto 05
Apto 06
Apto 07
Apto 08
Apto 09
Apto 10

Rest.
Gerência
Admin.

Fonte: Acervo das Autoras, 2017.

4.3.3 Composição dos ambientes e equipamentos instalados

Todos os apartamentos do hotel possuem instalados: televisão, frigobar,


decodificador da TV a cabo, ar-condicionado (9000 ou 7000btu’s, dependendo
do tamanho da UH) e, pelo menos, duas lâmpadas de LED ou fluorescentes. O
levantamento de todos os equipamentos existentes no estabelecimento foi rea-
lizado de forma a registrar quantidades e potências nominais de cada um deles,
estimando o horário de funcionamento médio por dia.
A organização desses equipamentos, separados por ambiente e hierarquizados
de acordo com o maior potencial de consumo mensal por metro quadrado, pode
Influência de medidas de conservação de energia no desempenho energético:
148 estudo de caso de um hotel econômico de pequeno porte em Maceió, AL

ser observado no Quadro 2. É importante frisar que os dados exibidos no Quadro 2


representam uma estimativa do consumo energético, desconsiderando a potência
real consumida pelo aparelho e a ocupação média real do estabelecimento.

Quadro 2 | Quadro de consumos estimados dos equipamentos


existentes no Hotel Ciribaí, organizados por ambiente

AC (kWh/mês)

Equipamentos

Área (kWh/m²)
(kWh/mês)
(kWh/mês)

(kWh/mês)
Iluminação

Mensal por

Ranking de

mensal/m²
Área (m²)

Consumo

Consumo

Consumo
Mensal
-Piso-
Local

Área Técnica 0,4 0 547,3 10 547,8 54,8 1°

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Apartamentos
99,6 9910,9 1022,9 528,5 11033,5 20,9 2°
(UH’s)

Gerência 4,8 120,9 208,8 16,4 334,5 20,4 3°

Administração 10,9 104,7 143,1 16,8 258,6 15,4 4°

Recep. e
Circulação 33,3 0 437,6 37,3 470,9 12,6 5°
Térreo

Restaurante 13,5 421,9 185,1 83,0 620,5 7,5 6°

Cozinha 21,6 0 150,1 32,3 171,7 5,3 7°

W.C’s dos
28,8 0 73,6 141,3 102,4 0,7 8°
apartamentos

Circulação 1° e
30,1 0 3,6 88,6 33,7 0,4 9°
2° Pavimentos

W.C’s Sociais 2,7 0 0 8,2 2,7 0,3 10°

Vestiário 1,3 0 2,4 14,2 3,7 0,3 11°

W.C’s dos
1,8 0 0 9,7 1,8 0,2 12°
Funcionários

Arquivo 0,4 0 0 5,1 0,4 0,1 13°

Rouparia 0,9 0 0 11,0 0,9 0,1 14°

W.C.
0,2 0 0 2,8 0,2 0,1 15°
Administração

Triagem (Área
externa da 0,4 0 0 12,4 0,4 0,03 16°
cozinha)

Iluminação
3 0 0 169,5 3 0,02 17°
Externa

Dispensa 0,2 0 0 15,3 0,2 0,01 18°

Fonte: Adaptado de ORNSTEIN; BRUNA; ROMERO, 1995.


Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 149

Conforme é possível observar no quadro 2, a área técnica é o ambiente com


maior consumo de energia mensal por metro quadrado, devido a concentração
de equipamentos que mantém o funcionamento de todo o hotel em uma área
pequena. São eles: switch18, gravador do circuito de câmeras, decodificadores das
televisões e o PABX (central telefônica). Desses, o que mais consome energia é
o Switch: aproximadamente 318,0 kWh/mês. É importante ressaltar que a área
técnica é ventilada naturalmente.
O conjunto de apartamentos é o segundo maior consumidor de energia por
área, sendo o consumo total do ar-condicionado equivalente a quase 9 vezes o
consumo dos demais equipamentos e iluminação. Ao hierarquizar os dados de
acordo com o consumo estimado mensal é observada a seguinte classificação de
consumo energético por setor, em ordem decrescente: apartamentos, restaurante,
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área técnica, recepção, gerência e administração.

5. Simulação Computacional

As zonas térmicas (ZT) foram definidas com base nas recomendações do


RTQ-C. Segundo o regulamento, a zona térmica pode ser definida como: “Espaço
ou grupo de espaços dentro de um edifício condicionado que são suficientemente
similares, onde as condições desejadas (temperatura) podem ser controladas
usando um único sensor (termostato ou sensor de temperatura)” (INMETRO,
2012, p. 58). Para ambientes condicionados artificialmente, o regulamento não
determina que cada ar-condicionado deva pertencer a uma única zona térmica.
O documento expõe que: “No caso de simulações com ambientes condicionados,
ambientes contíguos de um mesmo piso e com a mesma orientação costumam
fazer parte de uma mesma zona térmica” (INMETRO, 2012, p. 58).
Devido a característica específica dos meios de hospedagem, onde existe um
ar-condicionado por apartamento e esses são isolados uns dos outros para garantir
a privacidade do cliente, optou-se nesse trabalho por isolar a zonas térmicas por
apartamento (unidade habitacional) e modelar zonas térmicas em comum para
ambientes sociais e de circulação. Ao todo foram modeladas 78 zonas térmicas,
dessas 42 são condicionadas artificialmente.
O consumo de energia do setor hoteleiro apresenta comportamento dife-
renciado em relação aos demais empreendimento comerciais. Isso é resultado de
uma estrutura de serviços vasta e variável (dependendo do porte, tipo, preço das
diárias e público alvo pretendido). Os hotéis também possuem outros dois fatores
de impacto em seu consumo energético: a sazonalidade, ou seja, períodos de maior
ou menor ocupação e os hábitos de uso e ocupação dos usuários.
Com base nas observações em campo e nas entrevistas com os gestores
dos empreendimentos hoteleiros, foi possível estipular rotinas representativas
de cada tipo de usuário do hotel. Contudo, apenas as rotinas dos usuários que
ocupam ambientes condicionados são relevantes a essa pesquisa; as demais serão
mencionadas apenas com finalidade informativa. Foi percebido que os hóspedes

18 Equipamento que possibilita a conexão dos computadores do estabelecimento em uma rede local.
Influência de medidas de conservação de energia no desempenho energético:
150 estudo de caso de um hotel econômico de pequeno porte em Maceió, AL

de turismo geralmente se ausentam do estabelecimento às 7hs da manhã, devido


aos horários dos passeios turísticos, e retornam ao hotel às 17hs. Devido à falta
de refeições noturnas no empreendimento, os hóspedes se ausentam no período
noturno retornando ao estabelecimento, geralmente, após duas horas e meia. O
período do dia que concentra maior ocupação para esse tipo de usuário é entre 21hs
e 6hs da manhã, período noturno e madrugada. Já a rotina dos hóspedes executivos
é mais previsível devido aos horários de trabalho. Esse hóspede geralmente deixa
o estabelecimento próximo das 8:00hs e retorna no fim do expediente às 18hs.
Seu período de ausência para refeição noturna também é mais curto, apenas uma
hora e meia. O período de maior ocupação dos clientes hospedados e a trabalho
vai das 20:30 até as 8:00hs.
Através da comparação entre as rotinas expostas na figura 3, nota-se que

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o cliente empresarial usufrui do hotel uma hora a mais do que o cliente turista.
É importante mencionar que apesar dos motivos de viagem serem distintos, o
padrão de ocupação dos clientes é muito parecido. Atribui-se esse resultado a
falta de atrativos que essa tipologia de meio de hospedagem disponibiliza, levando
os hóspedes a procurarem serviços de infraestrutura fora do estabelecimento.
Dessa forma, o schedule dos hóspedes foi padronizado em 12 horas de ocupação,
conforme gráfico 5.

Gráfico 5 | Rotina padronizada dos clientes

Rotina padronizada dos clientes


100
Percentual de Ocupação

80
60
40
20
0

Hora

Fonte: Acervo das autoras, 2017.

Os funcionários do setor administrativo e gerencial do hotel possuem rotina


fixa ao longo do ano. O horário de trabalho e de ocupação dos respectivos ambien-
tes, de segunda a sexta, corresponde aos períodos de 8:00h ao 12:30h e da 13:30h
às 18:00h e, aos sábados, das 8:00h às 12:00h. O setor receptivo (funcionários da
recepção) funciona 24hs no dia, com 3 trocas de turno. Por fim, o setor de serviços
funciona 8 horas por dia, iniciando suas atividades às 5:30hs da manhã e finali-
zando às 15:30h. Todos os funcionários almoçam dentro do estabelecimento e
possuem uma hora de almoço entre 12:30h e 13:30h.
As rotinas de uso e ocupação foram configuradas de acordo com o ambiente
do estabelecimento e permaneceram inalteradas em todos os casos simulados.
A respeito da atividade metabólica do usuário foi utilizada como referência a
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 151

norma NBR16401-2 (2016) que está em fase de revisão. Para o cálculo de descon-
forto térmico dos usuários da presente pesquisa são relevantes as condições de
conforto térmico dos usuários do objeto de estudo que usufruem de ambientes
condicionados artificialmente, ou seja, hóspedes e funcionários administrativos,
cuja atividades metabólicas são: 1,0 met (relaxamento, sentado) e 1,2 met (ativi-
dades de escritório para arquivamento, sentado), respectivamente. A respeito da
vestimenta dos usuários, pode-se resumir que os funcionários dos estabelecimen-
tos hoteleiros possuem a seguinte vestimenta: Calça + camisa de manga curta +
roupas de baixo + meias médias + sapatos, o que resulta em um isolamento de
0,66 clo19. Já para os hóspedes, em momento de descanso dentro do apartamento,
será admitida uma vestimenta leve e descontraída: Shorts + camisa de manga
curta + roupa de baixo, o que resulta em um isolamento de vestimenta de 0,4 clo.
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As condições de entorno e o PAFT foram mantidas inalteradas para todos


os casos variantes. Essa decisão foi fundamentada na consolidação da tendência
construtiva do bairro em que o objeto de estudo está inserido, de forma que não se
prevê uma modificação de adensamento construtivo para a região20. Já a manuten-
ção do PAFT foi estabelecida devido ao alto custo de sua alteração, necessitando a
interdição do empreendimento por determinado período ou causando incomodo
aos hóspedes (caso o gestor decida alterar as dimensões ou tipologia das abertu-
ras com o estabelecimento funcionando), fatores que reduzem as possibilidades
dessa recomendação ser executada.

5.1 Parâmetro 1- Fator solar dos vidros (aberturas):

No hotel de referência existem três tipos de esquadrias distintas: caixilho e


vedação em madeira de jatobá, caixilho em alumínio bronze e vedação em vidro
refletivo bronze e caixilho em alumínio preto com vedação em vidro simples com
adição de película preta opaca. Para a variação desse parâmetro foi padronizado o
tipo de esquadria para toda a edificação, formando as seguintes situações: esqua-
dria com vidro simples e esquadria com vidro Low-E.

5.2 Parâmetro 2: Absortância das fachadas e coberturas

Parte da cobertura do caso base é composta por telhas cerâmicas não esmal-
tadas e parte em laje impermeabilizada. Contudo, para a construção dos casos a
absortância de ambas coberturas foi padronizada com a finalidade de simplificar
a análise dos resultados, adotando-se a pintura na cor branca (α=20%), com o

19 Valor obtido através do somatório dos valores de isolamento por tipo de vestimenta expostos
no anexo B, tabela B.2 da NBR 16.401-2 (2016).
20 O entorno imediato do objeto de estudo é composto, predominantemente, por edificações resi-
denciais multifamiliar verticais e não possuem terrenos disponíveis para construção de novas
edificações. Segundo legislação municipal o bairro está zoneado como sendo zona residencial
do tipo 4, com características condizentes com a realidade descrita, caracterizando uma região
consolidada e sem previsão de modificações morfológicas.
Influência de medidas de conservação de energia no desempenho energético:
152 estudo de caso de um hotel econômico de pequeno porte em Maceió, AL

propósito de melhorar o desempenho térmico do modelo, sendo o modelo assim


configurado denominado caso 3.
Os valores adotados para a absortância das fachadas corresponderam a:
20% (referente à cor branca, valor mínimo encontrado durante a investigação da
tipologia predominante, denominado caso 4) e 57% (adotado para o caso base),
sendo este o valor ponderado das absortâncias do objeto de estudo, vermelho
α=74% e verde α=40%. Valores de absortância mais altos do que os do caso base
não foram adotados, uma vez que não são representativos da tipologia de hotéis
econômicos em Maceió. No caso 4, a absortância das coberturas foi mantida igual
ao caso base: telha cerâmica (α = 70%) e laje impermeabilizada (α = 70%).

5.3 Parâmetro 3: Temperatura de Set Point do ar-condicionado

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Com base nos questionários aplicados aos hóspedes do hotel, foi percebido
que o valor médio utilizado como temperatura de funcionamento do ar-condicio-
nado é de 22°C, sendo essa temperatura utilizada para configuração do setpoint
dos condicionadores de ar do caso base. Contudo, pesquisas anteriores como a
de Carlo (2008), adotam a temperatura de setpoint de 24°C para a realização de
estudos com simulação termo energética. Dessa forma, o caso 5 foi criado para
ser semelhante ao caso base, modificando apenas a configuração de temperatura
de setpoint dos aparelhos ar-condicionado para 24°C.

5.4 Parâmetro 4: Transmitância Térmica das Superfícies verticais e


horizontais

Melo (2007, p. 25) afirma que “(...) a utilização de isolantes térmicos no


envelope da edificação origina uma redução do consumo de energia em razão da
diminuição da utilização do sistema de condicionamento de ar”. A autora ainda
completa afirmando que a redução do consumo energético, pelo isolamento das
superfícies opacas (paredes, cobertura e piso), está relacionada com a diminuição
da carga térmica interna dos ambientes, uma vez que isolantes térmicos reduzem
a quantidade de fluxo que calor que atravessa essas superfícies.
A partir do parâmetro 4 foram criados os casos 6 e 7. O primeiro deles é
semelhante ao Caso Base com inclusão de isolamento térmico nas superfícies
de envoltória. A escolha do tipo e da aplicação do isolamento das superfícies
internas levou em consideração sua facilidade de implementação em uma
reforma (retrofit) predial, sendo composto por uma placa de poliestireno (espes-
sura de 8 cm) e um revestimento de MDF (espessura de 1,8 cm)21, aplicados no
interior da edificação. A configuração adotada para as superfícies externas está
descrita no quadro 3.

21 A escolha do tipo de isolamento foi realizada conforme modelo contido no anexo V do RTQ-C.
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 153

Quadro 3 | Propriedades termo físicas das superfícies externas do caso 6

Propriedades termo físicas das paredes de envoltória do caso 6

Transmitância (W/m².K) Capacidade térmica (kJ/m².k) Absortância (%)

0,391 148,40 57%

Já o caso 7 é semelhante ao caso base, diminuindo-se a transmitância das


paredes externas das áreas condicionadas com inclusão de isolamento externo. O
tipo, posição e espessura do material de isolamento foi embasado em pesquisas
anteriores como a de Ozel e Pihtili (2006) apud Melo (2007), onde foi observado
que a configuração de isolamento térmico de paredes que traz melhor atraso
térmico é através da inserção de material isolante em camada tripla da estru-
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tura (no interior, no meio e no exterior da mesma). Contudo, essa situação não é
viável para uma edificação já construída. Os autores também concluíram que o
pior (menor) atraso térmico observado se deu através da disposição do isolante
térmico aplicado internamente à edificação.
A partir do exposto, o caso 7 tem como objetivo verificar se a disposição do
isolamento térmico externo à superfície de envoltória resulta em uma melhor
redução nos ganhos de calor dos ambientes e, consequentemente, em um menor
consumo de energia nas áreas condicionadas artificialmente. É importante men-
cionar que devido aos recuos obrigatórios da legislação municipal da cidade de
Maceió, foram escolhidos materiais isolantes cuja espessura não acarretasse na
impossibilidade da reforma predial.
A configuração de parede com isolamento térmico empregada para a simula-
ção termo energética foi a seguinte (Quadro 4): parede de alvenaria convencional,
reboco interno e externo (espessura de 2,5cm) e aplicação de placas de poliestireno
expandido na face externa do bloco cerâmico, resultando em um acréscimo de
3cm à espessura original da parede.

Quadro 4 | Propriedades termo físicas das superfícies externas do caso 7

Propriedades termo físicas das paredes de envoltória do caso 7

Transmitância (W/m².K) Capacidade térmica (kJ/m².k) Absortância (%)

0,832 150,30 57%

Fonte: Acervo das autoras, 2018.

Para configuração da transmitância das coberturas foram utilizadas as reco-


mendações do RTQ-C para obtenção do nível A de etiquetagem e a análise dos resul-
tados das simulações dos casos base e 3 (alteração da absortância das coberturas). O
caso 8 foi criado modificando a transmitância da cobertura do prédio antigo e novo.
Para tal foi utilizado o método prescritivo do regulamento, onde foi constatado a
necessidade de alteração da transmitância da laje de cobertura do 2° pavimento
do prédio novo para Ucob ≤ 1,0 W/m²K. Para isso foi incluído o sistema de telhas
metálicas com isolamento térmico em poliestireno acima da laje mencionada.
Influência de medidas de conservação de energia no desempenho energético:
154 estudo de caso de um hotel econômico de pequeno porte em Maceió, AL

Entretanto, conforme descrição das análises dos resultados percebeu-se que


o sistema de cobertura composto por telhas cerâmicas ao ser configurado com
baixa absortância, representa fonte de perda de calor. Já a modificação da absor-
tância do sistema de cobertura de laje impermeabilizada diminui sua transmissão
de calor, contudo o sistema continua se destacando como fonte de ganho de calor.
A partir do exposto foi criado o caso 9, semelhante ao caso base e ao caso 8, porém
modificando apenas a cobertura do prédio novo do hotel (laje impermeabilizada)
através da adição de telhas metálicas com sanduiche de poliestireno expandido.
As especificações do caso 8 e 9 estão descritas no quadro 5.

Quadro 5 | Propriedades termo físicas da cobertura dos casos 8 e 9

Propriedades termo físicas das coberturas do hotel – Caso 8

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Transmitância Capacidade Absortância
Cobertura
(W/m².K) térmica (kJ/m².k) (%)

Prédio Antigo 0,684 232 5%

Prédio Novo 0,451 230 5%

Propriedades termo físicas da cobertura do prédio novo – caso 9

Transmitância Capacidade Absortância


Cobertura
(W/m².K) térmica (kJ/m².k) (%)

Prédio Antigo 2,120 238 70%

Prédio Novo 0,451 230 5%

Fonte: Acervo das autoras, 2018.

É importante mencionar que as cores e absortâncias das fachadas foram


mantidas conforme configuração do caso base.

6. Simulações – Análise dos Resultados

Conforme explanado na metodologia, todas as simulações foram realiza-


das nas áreas condicionadas artificialmente do objeto de estudo. As análises das
simulações foram divididas em três blocos. No primeiro bloco de simulações foi
realizada uma análise comparativa entre os casos de 1 a 8, variando apenas parâ-
metros individualmente e observando seu impacto no consumo energético da
edificação; no segundo bloco de simulações foram analisados comparativamente
os casos 9 a 14, realizando combinações entre os parâmetros (absortância e trans-
mitância das superfícies opacas) utilizando como base os casos cuja densidade de
consumo energético, simulados no bloco 1, apresentaram menor consumo; por
fim, no terceiro bloco de simulações foram realizadas análises comparativas dos
resultados dos casos 15 (caso eficiente) e 16 (caso ineficiente).
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 155

6.1 Conclusões acerca das análises da primeira parte do primeiro bloco


de simulações

Conforme pode ser observado no gráfico 06, a maior variação de consumo


anual por área foi de 13,78%, e foi resultado da diminuição da configuração de tem-
peratura dos sistemas de climatização artificial (caso 5), medida dependente do
comportamento dos usuários e/ou da administração do estabelecimento. Dentre as
medidas de conservação de energia cujas variações paramétricas envolvem modi-
ficações arquitetônicas testadas, a que teve maior redução de consumo foi o caso
9 (com 2,3% de redução), ou seja, diminuindo a transmitância da coberta do prédio
novo através da adição de um sistema de coberta de telhas metálicas sanduíche.
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Gráfico 6 | Comparação e variação dos indicadores de


consumo anual por área entre os casos simulados

76 4%
Indcador de consumo de energia pela

2%
74 0%
72 -2%
-4%
área (kWh/m²)

70 -6%

%
-8%
68 -10%
66 -12%
-14%
64 -16%
Caso Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5 Caso 6 Caso 7 Caso 8 Caso 9
Base
Casos simulados

Casos Variação em relação ao caso base

Fonte: Acervo das autoras, 2018.

Dentre as medidas de conservação de energia ativas, além da diminuição


da transmitância da coberta do prédio novo, os casos 3 (diminuição da absor-
tância das cobertas) e 6 (diminuição da transmitância das superfícies verticais
da envoltória) foram os que obtiveram maior variação percentual de economia
de energia por unidade de área. Através do exposto pode-se concluir que os
casos que obtiveram os indicadores de consumo energético mais baixos são
aqueles cujas variações paramétricas estão relacionadas às superfícies opacas,
principalmente a coberta.
A padronização das janelas para vidro de baixa emissividade (caso 2) foi a
medida ativa que obteve menor variação percentual do consumo de energia por
unidade de área, em relação ao caso base. Logo, percebe-se que a modificação
das esquadrias, para essa edificação em que o PAFT é de 7,08%, é uma medida
que gera pouca economia de energia, na ordem de 0,8%.
Influência de medidas de conservação de energia no desempenho energético:
156 estudo de caso de um hotel econômico de pequeno porte em Maceió, AL

Ao comparar o resultado de variação entre os indicadores de consumo pela


área total útil da edificação percebe-se que a diminuição da transmitância da
cobertura do segundo pavimento (caso 9) acarreta em uma maior economia do
consumo energético do que a diminuição da transmitância de todas as paredes
de envoltória (caso 6 e 7), mesmo considerando que as áreas das zonas térmicas
condicionadas artificialmente, do segundo pavimento, correspondem a 9,8% da
área de piso útil total do hotel climatizada artificialmente. Também foi possível
perceber, ao comparar os casos 8 e 9, que o sistema de telhas cerâmicas apresen-
tou melhor resultado no consumo energético da edificação do que o sistema com
telhas metálicas com sanduiche de EPS.
Por fim, ao comparar a economia do consumo de energia entre os casos 3
(diminuição da absortância das coberturas) e 4 (diminuição da absortância das

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paredes de envoltória), observou-se que a economia resultante da diminuição da
absortância das paredes de envoltória é 0,92% menor do que a economia resul-
tante da diminuição da absortância das de coberturas.

6.2 Conclusões das Análises do Primeiro Bloco de Simulações

Os casos 3, 6 e 8 (respectivamente: diminuição da absortância da cobertura,


menor transmitância térmica na parede e na cobertura do prédio novo) foram
os que apresentaram menor consumo energético. É importante mencionar que
apesar desses parâmetros terem apresentado uma redução de consumo anual por
área da edificação pequena (na média de -2,05%), conforme pode ser observado
no gráfico 6, eles ainda representam as medidas de conservação de energia que
apresentaram maior economia de consumo energético, considerando o retrofit
de características arquitetônicas da edificação estudada.
Já ao analisar o consumo por uso final do estabelecimento foi possível con-
cluir que, em todos os casos, o ar-condicionado foi considerado protagonista no
consumo de energia da edificação, seguido pelos equipamentos eletrodomésticos
e, por último, pelo sistema de iluminação. Logo, medidas de gerenciamento (dimi-
nuição da temperatura de setpoint do sistema de ar-condicionado) e de modifi-
cação de elementos da envoltória que colaborem para a diminuição do consumo
dos condicionadores artificiais são de fundamental importância para a eficiência
energética da tipologia estudada.
Dentre as medidas de conservação de energia que colaboram para a diminui-
ção do consumo energético dos aparelhos de ar-condicionado, foram propostas
alterações de características arquitetônicas de fácil implementação e de um sis-
tema de gestão que visa a diminuição das temperaturas de configuração de setpoint
dos ar-condicionado. Finalmente, após a realização das simulações e análises
comparativas entre os oito casos do primeiro bloco foi possível perceber que as
variações paramétricas que obtiveram maiores diminuições do consumo ener-
gético foram advindas de medidas arquitetônicas voltadas ao aumento do isola-
mento das paredes e cobertura e alteração da absortância térmica das superfícies
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 157

opacas verticais e horizontais (paredes e coberturas). Logo, esses dois parâmetros


(transmitância e absortância) foram selecionados para serem combinados entre si,
com a finalidade de analisar se a combinação entre eles potencializa os resultados
de economia energética.
Por fim, após a simulação e análise das medidas de conservação de energia do
primeiro bloco, atribui-se o baixo resultado de economia energética à situação de
entorno em que o hotel está inserido, uma vez que o mesmo possui sombreamento
em boa parte do dia, ao longo de todo ano. Dessa forma o ganho de calor é redu-
zido e, consequentemente, as medidas de conservação de energia que envolvem
modificações arquitetônicas da envoltória diminuem seu potencial de redução.

6.3 Análise Comparativa do 2° Bloco de Casos


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A criação dos casos do segundo bloco de simulações se deu através da com-


binação simples entre os parâmetros que obtiveram melhores resultados de con-
sumo energético no primeiro bloco. Para análise dos casos 10 a 15 foram realizadas
comparações entre eles com a finalidade de identificar qual combinação resulta
em um melhor desempenho energético da edificação.

6.4 Conclusões acerca do 2° bloco de simulações e criação dos Casos


eficiente e ineficiente

Através da análise dos indicadores de consumo de energia por unidade de


área (kWh/m²) pode-se concluir que a diminuição da absortância das coberturas
(do prédio novo e do prédio antigo) possui efeito semelhante, na redução dos
indicadores de consumo energético, à diminuição da transmitância da cobertura
do prédio novo. Também foi possível perceber que medidas de conservação de
energia que visem a diminuição da absortância e da transmitância das coberturas
são as que garantem as maiores reduções dos indicadores de consumo energético,
mesmo as coberturas dos ambientes climatizados artificialmente representando
31,72% da área útil total da edificação. Atribui-se esse resultado ao entorno do
objeto de estudo, composto por edificações multifamiliares verticais com média de
9 pavimentos, sombreando o objeto de estudo, principalmente as superfícies ver-
ticais da envoltória, em boa parte do dia, diminuindo assim o alcance e eficácia da
aplicação de medidas de conservação de energia simuladas na presente pesquisa.
Ao combinar diversas medidas de conservação de energia, relacionadas
às superfícies opacas, nos casos 10 a 15 constatou-se que o consumo de energia
percentual por uso final do sistema de ar-condicionado sofreu uma redução em
relação ao caso base. Contudo, também foi observado que mesmo após a aplicação
de medidas para redução de ganhos térmicos e, consequentemente, redução do
consumo do sistema de ar-condicionado, a climatização artificial continua sendo
responsável por mais de 50% do consumo energético da edificação.
Através da análise do balanço térmico da edificação para o horário de pico
pode-se concluir que, independente da combinação entre as medidas de conser-
vação de energia aplicada, as superfícies opacas continuam sendo a principal fonte
Influência de medidas de conservação de energia no desempenho energético:
158 estudo de caso de um hotel econômico de pequeno porte em Maceió, AL

de calor da edificação. Também foi possível concluir que diminuir a transmitância


térmica do sistema de coberta do prédio novo é mais eficiente (do ponto de vista
térmico) do que diminuir a absortância das coberturas de toda edificação, mesmo
considerando que a área direta de influência entre esses dois parâmetros não é
a mesma. Por fim foi possível notar que diminuir a transmitância das paredes da
envoltória ou diminuir a transmitância da laje de cobertura do segundo pavimento,
possui o mesmo resultado em relação ao fanho de calor total da edificação.
Através da análise de consumo de energia dos compressores, separados por
região do hotel, foi percebido que a combinação de medidas de conservação de
energia propostas, relacionadas à diminuição de absortância e transmitância das
superfícies de envoltória, afetaram pouco o consumo energético dos compressores
situados no pavimento térreo da edificação nova. Também pode-se concluir que

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a diminuição da absortância da laje impermeabilizada (sem isolamento térmico)
acarreta em uma economia de energia na ordem de 17,1% para os compressores
situados no segundo pavimento. Já o efeito da diminuição da absortância das telhas
cerâmicas no consumo energético dos compressores do primeiro pavimento do
prédio antigo é pequeno (abaixo de 2%), pois o sistema de cobertura de telhas
cerâmicas dissipa calor das zonas térmicas situadas no primeiro pavimento do
prédio antigo, independentemente da alteração (diminuição) de sua absortância.
Assim conclui-se que diminuir apenas a absortância das telhas cerâmicas não traz
uma redução significativa no consumo energético dos compressores em contato
direto com a laje de cobertura.
Por fim, acerca do consumo energético dos compressores dos aparelhos
de ar-condicionado, pode-se concluir que ao diminuir apenas a transmitância
térmica da cobertura, quando a edificação já possui transmitância e absortân-
cia baixa nas paredes de envoltória, não resulta em uma maior diminuição do
consumo energético proveniente dos compressores dos condicionadores de ar,
mesmo para aqueles situados no segundo pavimento do prédio novo, pois, a área
de influência da cobertura do segundo pavimento representa menos de 10% da
área útil do objeto estudo.
Acerca do percentual de temperatura de setpoint não alcançada pode-se
concluir que as combinações das medidas de conservação de energia realizadas no
segundo bloco de simulações não tiveram impacto sobre o trabalho dos aparelhos
de ar-condicionado. Por fim, através da análise das simulações realizadas pode-se
constatar as medidas de conservação mais eficientes e as menos eficientes. Com-
parando os 14 casos simulados com o caso base pode-se concluir que o caso que
obteve pior desempenho energético e maior ganho de calor foi o Caso 1, sendo
esse configurado como caso ineficiente, conforme pode ser observado no gráfico 7.
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 159

Gráfico 7 | Relação entre os indicadores de consumo


energético dos 16 casos simulados e o caso base

76
Indicador de consumo de energia pela

74
72
70
área (kWh/m²)

68
66
64
62
60
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Caso Caso Caso Caso Caso Caso Caso Caso Caso Caso Caso Caso Caso Caso Caso Caso
5 15 14 12 13 10 9 11 3 6 4 7 2 Base 8 1
Casos

Fonte: Acervo das autoras, 2018.

O caso mais eficiente simulado foi o caso 15, que une baixa transmitância das
paredes de envoltória, da cobertura do prédio novo, baixa absortância das paredes
de envoltória e da cobertura do prédio antigo. Contudo, o caso 15 não possui modi-
ficações nas esquadrias do objeto de estudo. Foi constatado através do 1° bloco de
simulações que janelas Low-E são mais eficientes termo energeticamente do que a
configuração de esquadrias original do objeto de estudo. Dessa forma, esse tipo de
esquadria foi selecionada para configurar o caso mais eficiente. A configuração termo
energética dos casos eficiente e ineficiente (caso 16 e 17) está exposta no quadro 6.

Quadro 6 | Propriedades termo físicas dos casos 16 e 17 –


casos eficiente e ineficiente, respectivamente

Propriedades termo físicas dos casos 16 e 17 (Eficiente e Ineficiente)

Ucob Ucob αcob αcob


Upar (W/ (Prédio (Prédio (Prédio (Prédio FS das
Casos αpar(%)
m².K) Antigo) Novo) Antigo) Novo) esquadrias
(W/m².K) (W/m².K) (%) (%)

Caso 16
0,391 2,120 0,451 20 20 0,05 0,278
– Eficiente

Caso 17 –
Ineficiente 2,211 2,120 1,651 57 70 70 0,816
(caso 1)

Fonte: Acervo das autoras, 2018.


Influência de medidas de conservação de energia no desempenho energético:
160 estudo de caso de um hotel econômico de pequeno porte em Maceió, AL

6.5 Análise comparativa Caso Base x Caso Eficiente x Caso Ineficiente

A criação dos casos eficiente e ineficiente teve como objetivo demonstrar


o quanto decisões arquitetônicas podem afetar no consumo energético da edi-
ficação. Ao comprar os indicadores de consumo de energia entre os casos base,
eficiente e ineficiente percebe-se que ao realizar o conjunto de medidas de con-
servação de energia indicados no primeiro e segundo bloco de simulações, a
economia energética anual pode ser de até 6,36% (em relação ao caso base) e
de 7,6% (em relação ao caso ineficiente), o equivalente a cerca de 6.795,71 kWh.
ano e 8.169,24 kWh.ano, respectivamente. Ao comparar os resultados é possível
concluir que apenas ao modificar as esquadrias da edificação para vidro simples o
impacto no consumo energético da edificação sobe em 1,27% (1.373,53 kWh.ano).

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Os dados de indicadores de consumo energético dos casos mencionados podem
ser observados no gráfico 8.

Gráfico 8 | Indicador de consumo energético por unidade de


área entre os casos base, eficiente e ineficiente

76 75,34
Indicador de consumo

74
energético pela área

72
69,65
(kWh/m²)

70
68
66
Caso Eficiente Caso Ineficiente
Casos simulados

Caso Base

(Fonte: Acervo das autoras, 2018).

Através da análise do segundo bloco de simulações foi constatado que as


maiores economias de energia acontecem nos meses em que a temperatura média
são mais elevadas (meses de verão), ou seja, quanto maior a temperatura média
mensal da região maior a diferença de consumo entre o caso base e os casos simu-
lados com medidas de conservação de energia. Ao comparar a economia média
mensal entre os casos base, eficiente e ineficiente percebe-se que a economia
mensal entre os casos eficiente e ineficiente chegam no máximo a 9,8% mensal
(nos meses de janeiro e março) e no mínimo 3,4% (no mês de junho). Já entre o
caso eficiente e o caso base essa variação é entre 8,7% (no mês de março) e 2,3%
(no mês de junho). Por fim, observa-se que a economia entre os casos base e ine-
ficiente, variou entre 1% (no mês de maio) e 1,5% (no mês de setembro), sendo
essa variação percentual pequena devido a semelhança entre os dois casos (que
possuem de diferente apenas a padronização dos vidros da esquadria), conforme
pode ser observado no gráfico 9.
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 161

Gráfico 9 | Economia de consumo médio mensal entre


os casos base, eficiente e ineficiente

10,0%

8,0%
Economia (%)

6,0%

4,0%

2,0%

0,0%
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Meses
Caso Eficiente / Caso Base Caso Eficiente / Caso Ineficiente Caso Base / Caso Ineficiente

Fonte: Acervo das autoras, 2018.

Já ao comparar o consumo energético percentual por uso final entre os três


casos observa-se que ao aplicar medidas de conservação de energia a participação
percentual final dos condicionadores artificiais decresce. Já ao substituir e padro-
nizar as esquadrias do caso base para vidro simples, a participação percentual
final do sistema de ar-condicionado aumenta. O sistema de iluminação manteve
seu percentual de participação inalterado, em todos os 16 casos simulados, com
participação por uso final de 5%, conforme pode ser observado no gráfico 10.

Gráfico 10 | Comparação entre consumos percentuais por


uso final entre os casos base, eficiente e ineficiente

50%
Consumo por uso final (%)

40%

30%

20%

10%

0%
Caso Eficiente Caso Ineficiente

Iluminação Equipamentos Ar-Condicionado


Caso Base Iluminação Caso Base Equipamentos Caso Base Ar Cond.

Fonte: Acervo das autoras, 2018.

Ao comparar o ganho de calor total da edificação no horário de pico perce-


be-se que o caso eficiente é o que apresenta o menor ganho e o caso ineficiente
o maior ganho de calor, sendo a diferença entre eles de 20,5%, já o caso base
Influência de medidas de conservação de energia no desempenho energético:
162 estudo de caso de um hotel econômico de pequeno porte em Maceió, AL

apresenta ganho de calor 2,7% inferior ao caso ineficiente e 18,3% superior ao


caso base. O comportamento de ganho de calor entre os casos pode ser observado
no gráfico 11.

Gráfico 11 | Comparação entre o ganho de calor total no horário de pico


do objeto de estudo entre os casos base, eficiente e ineficiente
8000
7000
Ganho de calor total (W)

6000
5000
4000
3000
2000

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1000
0
Caso Eficiente Caso Base Caso Ineficiente
Casos

Fonte: Acervo das autoras, 2018.

Já ao observar o percentual final por fontes de ganho de calor entre os três


casos percebe-se que após aplicar diversas medidas de conservação de energia
para evitar o ganho de calor (caso eficiente), as principais fontes de calor per-
centual por ganho final passam a ser as pessoas (com 22,5%), os equipamentos
(com 21,8%) e as superfícies opacas (com 21,7%). Já nos casos ineficiente e base
as principais fontes de calor percentual por ganho final são as superfícies opacas,
as pessoas e os equipamentos, em ordem decrescente de participação, conforme
pode ser observado no gráfico 12.

Gráfico 12 | Comparação entre o percentual final das fontes de ganho de


calor no horário de pico entre os casos base, eficiente e ineficiente

50%
40%
30%
Cargas térmicas (W)

20%
10%
0%
Superfícies Pessoas Iluminação Equipamentos Infiltração Janelas Portas Opacas
Opacas
Fontes

Caso Base Caso Eficiente Caso Ineficiente

Fonte: Acervo das autoras, 2018.

O gráfico 13 expõe a comparação do balanço térmico proveniente dos com-


ponentes da edificação entre os casos base, eficiente e ineficiente. Através
da análise dos dados do gráfico percebe-se que dentre os componentes das
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 163

superfícies opacas (cobertura, laje entre pavimentos, paredes externas, pare-


des internas e piso entre zonas, piso em contato com o solo) o que representa
maior fonte de calor para a edificação são as paredes externas (casos base e
ineficiente) e as paredes internas (caso eficiente), sendo essa diferença entre
os casos devido à diminuição da absortância das paredes de envoltória e das
coberturas do objeto de estudo.
A variação de ganho de calor proveniente das paredes externas é de -607%
(entre o caso eficiente e o caso base), de -558% (entre o caso eficiente e o caso
ineficiente) e 7% (entre o caso ineficiente e o caso base). Já a variação de ganho
de calor proveniente das paredes internas é de -29% (entre o caso eficiente e o
caso base), de -30% (entre o caso eficiente e o caso ineficiente) e -0,2% (entre o
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caso base e o caso ineficiente).

Gráfico 13 | Comparação do ganho de calor proveniente dos componentes da


edificação, para o horário de pico, entre os casos base, eficiente e ineficiente

2000
Balanço térmico (W)

1500

1000

500

-500

Componentes da edificação

Caso Base Caso Eficiente Caso Ineficiente

Fonte: Acervo das autoras, 2018.

O ganho de calor por infiltração e pelo piso em contato com o solo mantém-
-se praticamente inalterados para os três casos, uma vez que não há medidas de
conservação de energia que atinjam diretamente esses componentes. Já o com-
portamento de fluxo de calor proveniente da cobertura passa de absorver calor
(nos casos base e ineficiente) para dissipar calor (caso eficiente), sendo que essa
alteração de comportamento acontece devido a inserção de isolamento térmico
na cobertura do prédio novo, bem como devido a diminuição da transmitância da
cobertura do prédio antigo (telhas cerâmicas).
O ganho de calor proveniente da condução das esquadrias é maior no caso efi-
ciente (vidro de baixa emissividade) e menor no caso base (esquadrias de madeira,
de vidro refletivo e vidro simples com aplicação de película preta opaca). Já o ganho
Influência de medidas de conservação de energia no desempenho energético:
164 estudo de caso de um hotel econômico de pequeno porte em Maceió, AL

de calor proveniente pela radiação solar das esquadrias é menor no caso eficiente
e maior no caso ineficiente (vidro simples).
Através da análise do gráfico 14 nota-se que as medidas de conservação de
energia propostas produzem impactos diferentes a depender da região a ser con-
siderada do objeto de estudo. Ao analisar a diferença de consumo de cada região
entre os três casos pode-se notar que o consumo anual dos compressores do
pavimento térreo novo mantém-se praticamente inalterado (sendo a diferença
entre eles abaixo de 1,4%). Observando o consumo dos compressores do térreo do
prédio antigo nota-se que os do caso eficiente possuem menor consumo energé-
tico e o do caso ineficiente maior consumo, sendo a diferença entre eles de 6,6%.
Pode-se concluir, através do exposto, que a redução da transmitância e absortância

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das paredes, bem como a inserção de janelas Low-E tiveram pouco impacto no
consumo dos aparelhos de ar-condicionado do pavimento térreo.

Gráfico 14 | Comparação dos consumos de energia anual dos compressores


dos ar-condicionado entre os casos base, eficiente e ineficiente

14.000
12.000
Consumo anual de energia dos

10.000 Térreo Novo


8.000
compressores (kWh)

6.000 Térreo Antigo


4.000
2.000
0 1° Pavto. Antigo
Caso Base Caso Eficiente Caso Ineficiente
Térreo Novo 4.512,95 4.466,39 4.530,37
1° Pavto. Novo
Térreo Antigo 12.167,03 11.538,90 12.351,24
1° Pavto. Antigo 9.199,48 8.261,39 9.474,13
2° Pavto.
1° Pavto. Novo 12.398,48 11.193,62 12.684,93
2° Pavto. 10.373,94 8.371,38 10.646,43

Fonte: Acervo das autoras, 2018.

No primeiro pavimento do prédio antigo e novo a diferença de consumo


entre os compressores do caso eficiente e ineficiente foi de 12,8% e 11,8%, res-
pectivamente, sendo o caso eficiente o de menor consumo. Já a diferença entre o
caso de maior e o de menor consumo de energia, proveniente dos compressores,
do segundo pavimento foi de 21,4%. A diferença de variação, entre o consumo
de energia dos compressores das zonas térmicas do primeiro e do segundo pavi-
mento, é explicada devido ao fato da diminuição da transmitância da cobertura do
segundo pavimento possuir maior impacto na redução do consumo de eletricidade
do que a diminuição da absortância das telhas cerâmicas, uma vez que esta última
já possui um bom desempenho térmico.
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 165

7. Paralelo entre os indicadores de consumo energético e a Classificação


da envoltória segundo o método prescritivo do RTQ-C dos casos
simulados

A aplicação do método prescritivo para a envoltória dos casos simulados teve


como objetivo identificar a relação entre o comportamento do consumo energético
e o nível de eficiência energética obtido. Os resultados podem ser observados no
Quadro 7, sendo ENCE a etiqueta nacional de conservação de energia, referente
a classificação do nível de eficiência energética em cada caso .

Quadro 7 | Análise comparativa entre o nível de etiquetagem os


indicadores de consumo de energia dos casos simulados
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Indicador
Caso Descrição ENCE de consumo
(kWh/m²)

Caso Base - E 74,38

Caso 1 Padronização das esquadrias para vidro simples incolor E 75,34

Caso 2 Padronização das esquadrias para vidro Low-E E 73,82

Caso 3 Padronização da absortância das coberturas (α=0,20) E 72,85

Caso 4 Padronização da absortância das paredes externas (α=0,20) E 73,51

Diminuição da transmitancia das paredes externas das áreas


Caso 6 E 73,06
condicionadas artificialmente (Adição de isolamento interno)

Diminuição da transmitancia das paredes externas das áreas


Caso 7 E 73,55
condicionadas artificialmente (Adição de isolamento externo)

Diminuição da transmitância das coberturas conforme


Caso 8 A 74,48
recomendações para nível A do RTQ-C

Diminuição da transmitância da cobertura do prédio novo


Caso 9 A 72,74
conforme recomendações para nível A do RTQ-C

Padronização da absortância das coberturas e das fachadas


Caso 10 E 71,91
(α=20%)

Padronização da absortância das paredes externas (α=20%) e


Caso 11 diminuição da transmitância das paredes externas das áreas E 72,76
condicionadas artificialmente (adição de isolamento interno)

Padronização da absortância das paredes externas e da


cobertura (α=20%) e diminuição da transmitância das paredes
Caso 12 E 70,81
externas das áreas condicionadas artificialmente (adição de
isolamento interno)

Padronização da absortância das paredes externas (α=20%) e


Caso 13 diminuição da transmitância da cobertura do prédio novo para A 71,74
o nível A do RTQ-C

continua...
Influência de medidas de conservação de energia no desempenho energético:
166 estudo de caso de um hotel econômico de pequeno porte em Maceió, AL

continuação
Indicador
Caso Descrição ENCE de consumo
(kWh/m²)

Padronização da absortância das paredes externas (α=20%),


diminuição da transmitância das paredes externas através
Caso 14 A 70,62
da adição de isolamento interno à edificação e diminuição da
transmitância da cobertura do prédio novo.

Padronização da absortância das paredes externas (α=20%),


diminuição da absortância do prédio antigo (α=20%),
Caso 15 diminuição da transmitância das paredes externas através A 70,54
da adição de isolamento interno à edificação e diminuição da
transmitância da cobertura do prédio novo.

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Caso
Melhores resultados de economia energética A 69,65
Eficiente

Caso
Piores resultados de economia energética E 75,34
Ineficiente

Fonte: Acervo das autoras, 2017.

Conforme pode ser observado no Quadro 7 todos os casos que tiveram nível
E não tiveram alterações na transmitância da cobertura. Já todos os ambientes
que tiveram nível de eficiência energética A, possuem em comum a modificação
da transmitância da cobertura. Logo, pode-se concluir que a única medida de
conservação de energia, dentre as propostas, que modifica o nível de eficiência da
edificação é a diminuição da transmitância da cobertura do prédio novo. É impor-
tante destacar que o caso 5 foi excluído dessa análise uma vez que para o mesmo
não houveram variações paramétricas relacionadas a envoltória da edificação.
Já comparando o resultado dos indicadores de consumo com o nível de efi-
ciência, pode-se perceber que os casos com menor consumo energético possuem
nível A, são eles: caso eficiente, caso 15 e caso 14. Contudo, percebe-se também
que os caso 11, 12 e 10 (nível E), possuíram menores indicadores de consumo do
que os casos 8, 9 e 13 (nível A). O caso 8 possui maior consumo energético devido
a alteração da cobertura do primeiro pavimento da edificação antiga (de telhas
cerâmicas para telhas metálicas sanduíche) e, conforme explicado anteriormente,
aquela promove a perda de calor das zonas térmicas em contato direto com ela,
enquanto esta promove pequeno ganho de calor, na hora de pico de resfriamento.
Já os casos 9 e 13, ambos, possuem baixa absortância da cobertura, enquanto
os casos 12 e 10 apresentam alta absortância das coberturas. Por fim, pode-se con-
cluir que para obtenção de menores consumos energéticos, do objeto de estudo, é
necessário a diminuição da absortância ou da transmitância do sistema de cober-
turas, enquanto para obtenção de melhores níveis de certificação é necessário
apenas a diminuição da transmitância das coberturas. Logo, para o caso 10 e 12,
nos quais apenas a absortância das coberturas foram reduzidas (mantendo-se as
transmitâncias similares ao caso base) o consumo energético da edificação sofreu
redução enquanto o nível de eficiência se manteve em “E”.
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 167

8. Conclusões

A partir da pesquisa de referencial teórico, etapa inicial do estudo de caso,


foi possível perceber que estudos sobre a eficiência energética, conservação de
energia e padrões de consumo energético ainda estão em fase inicial de desenvol-
vimento no Brasil. Os estudos realizados em território nacional são geralmente
desenvolvidos pelos cursos de graduação e pós-graduação em arquitetura e urba-
nismo e engenharia civil, tendo como foco principal a identificação da influência
entre os elementos do espaço edificado no consumo energético.
O presente estudo concluiu que, com a combinação de medidas de conser-
vação de energia testadas, a economia pode chegar a 15,5%. Contudo, dentre as
medidas pesquisadas por Santamouris et al. (1995) e Lima (2007) estava a troca de
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equipamentos de iluminação, aquecimento e resfriamento por equipamentos de


maior eficiência energética, medidas que não foram testadas na presente pesquisa.
Através da pesquisa de campo, foi possível identificar as tipologias constru-
tivas da amostra do estudo, revelando a predominância de edificações hoteleiras
em Maceió com forma retangular da projeção horizontal, com 3 pavimentos, orien-
tados à leste e percentual de abertura de fachada principal (PAFp) entre 10,1%
e 20%. As fachadas principais possuem, predominantemente, coloração com
absortâncias médias, variando entre 0,5 e 0,75. Os estabelecimentos da amostra
também possuem entre 25 e 39 unidades habitacionais e consomem entre 5.327
kWh/mês e 9.627 kWh/mês. A identificação das características predominantes
dos meios de hospedagem de uma região é informação fundamental para estudos
cujo objetivo é a investigação do desempenho termo energético de edificações.
Em relação ao consumo de energia real por unidade de área da edificação
(kWh/m²) observou-se que o objeto de estudo possui um consumo energético
muito inferior ao identificado na pesquisa de referencial teórico. Enquanto o objeto
de estudo (real) possui um consumo energético de 74,38 kWh/m², no referencial
foi identificado que o consumo da tipologia hoteleira pode variar entre 168,7 kWh/
m² a 688,7kWh/², em hotéis gregos (SANTAMOURIS et al., 1995) e em uma média
de 126,22 kWh/m², em hotéis situados no nordeste brasileiro (LIMA, 2007). As
diferenças encontradas são advindas da diversidade das tipologias hoteleiras
estudadas, conforme foi exposto ao longo do referencial teórico os meios de hos-
pedagem, apesar de abrigarem a mesma função, possuem tamanhos, serviços,
equipamentos, ocupações e ambientes diversos o que influenciam diretamente
em seu consumo de energia.
Dentre os resultados da avaliação pós-ocupação foi percebido que o compor-
tamento do consumo de energia mensal do objeto de estudo acompanha a taxa
de ocupação média mensal. Além disso, foi identificado que os meses de maior
ocupação, para o ano de 2016, foram: novembro, dezembro e janeiro, meses em
que a temperatura média mensal é acima da média anual da cidade. Logo, pode-se
afirmar que, para o objeto de estudo, os meses de maior potencial de economia
de energia coincidem com os meses de maior taxa de ocupação.
Mediante a análise dos resultados das simulações é possível perceber
que o comportamento do consumo de energia médio mensal acompanha o
Influência de medidas de conservação de energia no desempenho energético:
168 estudo de caso de um hotel econômico de pequeno porte em Maceió, AL

comportamento da temperatura média do arquivo climático local, resultado


compatível com os dados reais levantados na avaliação pós-ocupação. Com base
nos resultados das simulações pode-se concluir que o consumo energético do
objeto de estudo é intensificado nos meses de maior temperatura média mensal
(dezembro a março) tanto devido ao aumento da carga térmica da edificação como
pela alta taxa de ocupação identificada nesse período. Resultado semelhante ao
encontrado por Bohdanowicz, Churie-Kallhauge e Martinac (2002), que identifi-
caram forte influência entre o consumo de nergia da edificação e a temperatura
média externa.
Também foi possível concluir que devido ao percentual de abertura da
fachada total (PAFt) do objeto de estudo ser de apenas 7,08%, as medidas de
conservação de energia aplicadas às esquadrias possuem pouco efeito sobre os

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indicadores de consumo de energia, sendo esse atenuado também devido ao
entorno da edificação, que produz sombreamento nas superfícies de envoltória
em boa parte do dia. Contudo, maiores investigações são necessárias para avaliar o
impacto das configurações de entorno no consumo energético do objeto de estudo.
Signor, Westphal e Lamberts (2001) observaram que o sistema de cobertura
representa grande influência no consumo energético da edificação, resultado
semelhante ao identificado no presente trabalho. Acerca das medidas de conser-
vação de energia testadas foi observado que ao substituir as telhas cerâmicas por
telhas metálicas sanduíche houve um aumento no consumo de energia devido ao
fato do sistema de cobertura de telhas cerâmicas atuar como dissipador de calor
dos ambientes e o sistema de telhas metálicas sanduíche atuar como um provedor
de ganho de calor, mesmo esse ganho sendo pequeno (na ordem de apenas 5,01W,
no horário de pico de consumo). Dessa forma, nos compressores dos aparelhos
de ar-condicionado, situados no primeiro pavimento do prédio antigo (em con-
tato direto com a cobertura de telhas), foi observado um aumento de consumo
energético na ordem de 15%, em relação ao caso base. Pode-se concluir então
que mesmo a telha metálica sanduíche tendo uma transmitância mais baixa do
que a telha cerâmica, as propriedades termo físicas desta são mais adequadas às
condições climáticas e configurações arquitetônicas do objeto de estudo.
É importante destacar que segundo o RTQ-C a transmitância ponderada do
sistema de cobertura deve estar abaixo de 1,0 W/m².K, para obtenção do nível “A”
de etiquetagem da envoltória. Contudo, foi observado no presente trabalho que,
para o objeto de estudo, a diminuição da absortância ou transmitância da cober-
tura tem efeitos semelhantes no consumo energético. Todavia, quando apenas a
absortância é reduzida, a envoltória da edificação é classificada com nível “E”. Isto
revela uma incoerência entre o comportamento do consumo energético, resul-
tante da presente pesquisa, e o nível de desempenho resultante da etiquetagem
da envoltória. Logo, sugere-se que sejam realizados estudos complementares que
investiguem, a partir da variação de parâmetros construtivos, a relação entre o
consumo energético e o nível de eficiência, resultante de cada variação.
Percebeu-se que houve diferentes consumos energéticos nos apartamentos
do estudo de caso. Dessa forma, uma das medidas de gerenciamento resultante
do presente trabalho consiste na hierarquia de locação dos quartos, baseada no
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 169

consumo energético dos mesmos. Dessa forma deve-se priorizar, inicialmente, a


reserva dos quartos situados no primeiro pavimento da edificação antiga.
Devido ao sombreamento proveniente das edificações de entorno, pode-se
concluir que, considerando as características do objetivo de estudo, do ponto
de vista da economia no consumo energético anual, aplicar medidas de conser-
vação de energia nas coberturas da edificação acarreta em uma melhor econo-
mia energética do que aplicar medidas de conservação nas superfícies verticais
de envoltória.
A respeito do potencial de economia de energia foi observado que a medida
que obteve maior redução de consumo foi a diminuição de temperatura de confi-
guração do sistema de ar-condicionado, podendo reduzir em até 15,5% o consumo
energético mensal e em até 12,2% o consumo médio anual. Resultado semelhante
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ao identificado por Bohdanowicz e Martinac (2002) que observaram uma eco-


nomia energética de 10% ao diminuir 1°C da temperatura interna do ambiente.
Já analisando apenas as medidas de retrofit de características arquitetônicas,
através da análise entre os casos eficiente e ineficiente, pode-se concluir que a eco-
nomia de consumo energético médio anual pode chegar a até 7,6% e a economia
do consumo de energia mensal a até 9,8%. Destaca-se também que, em edifícios já
construídos, soluções de adequação bioclimática e de melhoria termo energéticas
possuem resultados menos eficazes e maior custo de implementação do que em
edificações novas. Portanto, frisa-se a importância da adoção de estratégias de
adequação climáticas ainda na fase de concepção projetual.
Finalmente, pode-se recomendar, para o objeto de estudo e edificações em
condições de configuração arquitetônica, climática e morfológica semelhantes, a
adoção de medidas de conservação de energia gerencial que incentivem os hós-
pedes e funcionários a manter seus aparelhos de ar-condicionados em tempera-
turas superiores a 22°C. Atreladas a essas, também se propõe que sejam adotadas
medidas de conservação de energia relacionadas à envoltória da edificação, sendo
essas medidas simples que podem ser realizadas durante a manutenção periódica
da edificação sem custos adicionais ao orçamento do empreendimento, e que
trazem uma redução mensal do consumo de energia de até 3,2% (representadas
pelo caso 10): redução da absortância das paredes de envoltória e do sistema de
coberturas, ou seja, a realização de pintura com cor clara.

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Índice remissivo

A
Absortância das paredes 132, 133, 146, 156, 159, 163, 164, 165, 166
Ação do vento 89, 90, 125, 126
Ar-condicionado 11, 13, 25, 26, 42, 129, 132, 133, 138, 139, 140, 143, 147,
149, 152, 156, 157, 158, 161, 164, 168, 169, 170
Área de abertura 12, 26, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 51, 52, 53, 54, 56, 57, 63,
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64, 65, 66, 67, 68, 69, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 79, 80, 81
Área de piso 53, 56, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 71, 72, 73, 74, 76, 77, 84, 156
Associação brasileira de normas técnicas 39, 41, 42, 81, 124, 170

C
Caso base 136, 138, 144, 151, 152, 153, 154, 156, 157, 158, 159, 160, 161,
162, 163, 164, 165, 167, 168
Clima quente e úmido 21, 24, 84, 125, 128, 129, 132, 141, 172
Conforto adaptativo 17, 18, 19, 20, 21, 23, 24, 26, 30, 43, 44
Conforto térmico 11, 12, 13, 14, 16, 17, 21, 22, 25, 26, 30, 34, 35, 37, 40, 41,
42, 43, 44, 45, 48, 49, 50, 52, 54, 65, 68, 76, 79, 85, 86, 87, 88, 104, 111,
112, 118, 119, 122, 124, 129, 132, 133, 134, 151, 170, 171
Consumo energético 25, 128, 129, 130, 131, 132, 133, 134, 136, 137, 138,
139, 140, 141, 142, 143, 148, 149, 152, 154, 155, 156, 157, 158, 159, 160, 161,
164, 165, 166, 167, 168, 169

D
Desempenho térmico 3, 13, 32, 35, 37, 39, 41, 43, 46, 47, 48, 51, 52, 67,
78, 81, 83, 84, 90, 124, 126, 152, 165, 170
Distribuição do escoamento 106, 107, 108, 110

E
Edificações comerciais 50, 134, 138, 172
Eficiência energética 12, 13, 32, 34, 37, 41, 43, 44, 45, 46, 48, 49, 50, 52,
53, 55, 82, 124, 130, 131, 132, 133, 134, 138, 142, 156, 165, 166, 167, 170,
171, 172
Índice remissivo
174 estudo de caso de um hotel econômico de pequeno porte em Maceió, AL

F
Fluxo de ar 25, 50, 63, 64, 65, 79, 80, 85, 87, 88, 89, 90, 97, 102, 104, 105,
106, 107, 108, 115, 116, 117, 118, 120, 121, 122

G
Ganho de calor 140, 141, 154, 157, 159, 161, 162, 163, 164, 166, 168

I
Incidência do vento 80, 87, 95, 96, 105, 106, 107, 108, 109, 110, 112, 115,
116, 117, 118

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Isolamento 89, 131, 151, 152, 153, 154, 157, 158, 163, 165, 166

M
Medidas de conservação de energia 127, 129, 131, 134, 139, 143, 155, 156,
157, 158, 160, 161, 162, 163, 164, 167, 168, 169
Meios de hospedagem econômicos 128, 129, 135, 136
Muro com lâminas horizontais 112, 113, 114, 115, 116, 117, 118, 119
Muro com lâminas ortogonais 92, 96, 107, 112, 113, 114, 119
Muro com lâminas verticais 112, 113, 114, 119

P
Paredes externas 33, 36, 38, 98, 138, 140, 153, 163, 165, 166
Porosidade das portas 56, 57, 63, 64, 65, 68, 69, 70, 71, 74, 75, 76, 79,
80, 81
Potencial eólico 28, 29, 30, 42, 47, 51, 82

S
Simulação computacional de modelos 34, 35, 37

T
Temperatura do ar 15, 22, 23, 24, 25, 50, 85, 93
Tipologias vazadas 94, 112, 114, 115, 118, 122
Transmitância 35, 36, 37, 38, 55, 132, 133, 138, 152, 153, 154, 155, 156,
157, 158, 159, 163, 164, 165, 166, 168, 172
Desempenho térmico e energético em edificações nos trópicos 175

V
Velocidade média do vento 97, 112, 113, 114
Ventilação cruzada 34, 39, 49, 52, 54, 56, 57, 66, 68, 76, 77, 78, 79, 80,
81, 87, 93, 129
Ventilação natural 22, 40, 41, 42, 43, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 56, 58, 59,
63, 64, 67, 71, 76, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92,
98, 100, 111, 112, 117, 118, 119, 120, 122, 123, 124, 125, 126, 127, 129, 132,
133, 143, 170

Z
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Zoneamento bioclimático 32, 33, 34, 35, 41, 46, 47, 51, 52, 82, 85, 170
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Sobre os organizadores

Ricardo Victor Rodrigues Barbosa


(http://lattes.cnpq.br/0913248203327424)
Doutor e Mestre em Ciências da Engenharia Ambiental pela Escola de Engenharia de
São Carlos da Universidade de São Paulo (2009 e 2005, respectivamente). Graduado
em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Alagoas (2002). Professor
e atual Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, da
Universidade Federal de Alagoas. Líder do Grupo de Estudos da Atmosfera Climática
Urbana (GATU), onde desenvolve pesquisas na área de Conforto Ambiental, Desem-
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penho Térmico e Clima Urbano. Professor Associado da Faculdade de Arquitetura e


Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas, lotado no Setor Tecnologia.

Jéssica Daiane Santos Pereira


(http://lattes.cnpq.br/1612048036037122)
Doutoranda e Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo,
da Universidade Federal de Alagoas. Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela
Universidade Federal de Alagoas (2018). Membro do Grupo de Estudos da Atmos-
fera Climática Urbana (GATU), onde desenvolve pesquisas relacionadas à área de
Qualidade Ambiental ligada às Áreas Verdes Urbanas, Simulação Computacional,
Clima e Planejamento Urbano.
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Sobre os autores

Isabela Cristina da Silva Passos Tibúrcio


(http://lattes.cnpq.br/9927185043429306)
Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Alagoas
(2006), mestrado em Dinâmica do Espaço Habitado pela Universidade Federal de Ala-
goas (2009) e doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de
Alagoas (2017). Atualmente é professora no Campus de Engenharias e Ciências Agrá-
rias da Universidade Federal de Alagoas. Presta consultorias à arquitetos e empresas
com ênfase nos Regulamentos de Eficiência Energética, Normas de desempenho
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e Conforto Ambiental. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com


ênfase em Conforto Ambiental, atuando principalmente nos seguintes temas: Ven-
tilação Natural, Eficiência Energética, Arquitetura Bioclimática e Sustentabilidade.

Isabely Penina Cavalcanti da Costa


(http://lattes.cnpq.br/4532710368747333)
Professora do Instituto Federal de Alagoas (IFAL), campus Batalha. Possui graduação
em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Alagoas (2012), pós-gra-
duação em Gestão Ambiental (2016) e mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela
Universidade Federal de Alagoas (2018). Atualmente é doutoranda no programa
de pós-graduação em Arquitetura, Tecnologia e Cidade da Universidade Estadual
de Campinas.

Iuri Ávila Lins de Araújo


(http://lattes.cnpq.br/1403485089688293)
Possui graduação (2001), mestrado (2006) e Doutorado (2021) em Arquitetura e
Urbanismo pela Universidade Federal de Alagoas - UFAL. Atualmente, é professor
adjunto no curso de Arquitetura e Urbanismo da UFAL / Campus Arapiraca. Tem
experiência na área de adaptação do edifício ao clima, para conforto térmico e lumi-
noso passivos, visando maior eficiência energética.

Juliana Oliveira Batista


(http://lattes.cnpq.br/5219320875826842)
Professora Adjunta da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), tendo exercido a
coordenação do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Dinâmica
do Espaço Habitado - PPGAU/DEHA (Gestão 2015 - 2017). Possui graduação em
Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Alagoas (2004), mestrado
em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (2006) e
doutorado em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Santa Catarina (2011).
Tem experiência em pesquisa científica relacionada com adequação ambiental de
edificações, atuando principalmente nos seguintes temas: desempenho térmico de
edificações, arquitetura bioclimática e eficiência energética.
180 Sobre os autores

Leonardo Salazar Bittencourt


(http://lattes.cnpq.br/8764685045584103)
Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Per-
nambuco (1977) e doutorado em Environment and Energy Studies - Architectural
Association Graduate School (1993 Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo
pela Universidade Federal de Pernambuco (1977) e doutorado em Environment and
Energy Studies - Architectural Association Graduate School (1993). Atualmente é
professor voluntário da Universidade Federal de Alagoas, atuando nos cursos de mes-
trado e doutorado em Arquitetura e Urbanismo). Foi Vice-diretor e Diretor do Centro
de Tecnologia (2006-2010) e Vice-Diretor e Diretor da Faculdade de Arquitetura da
UFAL (2007-2011).. Tem experiência em consultoria, projetos e pesquisas na área
de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Sustentabilidade Ambiental, atuando

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principalmente nos seguintes temas: conforto ambiental, sustentabilidade do espaço
construído, arquitetura bioclimática, eficiência energética em edificações e projeto
de arquitetura. Publicou livros, capítulos de livros, artigos em revistas científicas e
mais de uma centena de artigos em anais de eventos nacionais e internacionais.
Atualmente é professor da Universidade Federal de Alagoas, atuando nos cursos
de mestrado e doutorado em Arquitetura e Urbanismo. Tem experiência em con-
sultoria, projetos e pesquisas na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em
Sustentabilidade Ambiental, atuando principalmente nos seguintes temas: conforto
ambiental, sustentabilidade do espaço construído, arquitetura bioclimática, eficiência
energética em edificações e projeto de arquitetura. Publicou livros, capítulos de livros
e mais de uma centena de artigos em eventos nacionais e internacionais.

Natalia Moura Gomes Leal


(http://lattes.cnpq.br/9350089408249018)
Possui ensino médio (segundo grau) pelo Colégio Contato (2006), foi aluna de Enge-
nharia química no período de 2007-2008. Atualmente é formada em Arquitetura e
Urbanismo pela Universidade Federal de Alagoas. Enquanto estudante, trabalhou
como colaboradora na área de patrimônio histórico no grupo de pesquisa Repre-
sentação do Lugar (RELU) e foi bolsista de Desenvolvimento Institucional (BDI) da
Universidade Federal de Alagoas no grupo de pesquisa em iluminação (GRILU) dando
suporte e monitoria aos usuários do software Troplux. Como profissional trabalhou
auxiliando o desenvolvimento de um projeto hoteleiro de médio porte e em sua
construção.
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SOBRE O LIVRO
Tiragem não comercializada
Formato: 16 x 23 cm
Mancha: 12,3 x 19,3 cm
Tipologia: Corbel | 10,5 |11,5
Verdana 8 | 8,5 | 13 | 16 | 18
Papel: Pólen 80 g (miolo)
Royal | Supremo 250 g (capa)

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