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MODELAGEM NUMÉRICA

DE OBRAS GEOTÉCNICAS

UNIDADE II
METODOLOGIAS
Elaboração
Ramon Matos Arouca Júnior

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO

UNIDADE II
METODOLOGIAS.........................................................................................................................5

CAPÍTULO 1
MÉTODOS DE EQUILÍBRIO LIMITE, MÉTODO DAS FATIAS E MÉTODO DAS CUNHAS.............. 5
CAPÍTULO 2
MÉTODO DE FELLENIUS, BISHOP E JANBU ........................................................................ 11
CAPÍTULO 3
MÉTODO DE MORGENSTERN E PRICE, SPENCER E SARMA.................................................. 19
REFERÊNCIAS.........................................................................................................................23
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METODOLOGIAS UNIDADE II

Capítulo 1
MÉTODOS DE EQUILÍBRIO LIMITE, MÉTODO DAS
FATIAS E MÉTODO DAS CUNHAS

Os métodos para a análise da estabilidade de taludes, atualmente em uso, baseiam-se


na hipótese de haver equilíbrio em massa de solo, tomada como corpo rígido-plástico,
na iminência de entrar em processo de escorregamento. Daí a denominação geral
“métodos de equilíbrio limite” (Massad, 2010).

Com base no conhecimento das forças atuantes, determinam-se as tensões de


cisalhamento induzidas, o que ocorre por meio das equações de equilíbrio. A análise
termina com a comparação dessas tensões com a resistência ao cisalhamento do
solo em questão.

A observação dos escorregamentos na natureza levou as análises a considerar a massa


de solo como um todo (método do círculo de atrito), ou subdividida em lamelas
(método sueco), ou em cunhas (método das cunhas).

A partir de 1916, motivados pelo escorregamento que ocorreu no cais de Stigberg, em


Gotemburgo, os suecos desenvolveram os métodos de análise, hoje em uso, baseados
no conceito de “equilíbrio limite”, tal como foi definido anteriormente. Constataram
que as linhas de ruptura eram aproximadamente circulares e que o escorregamento
ocorria de tal modo que a massa de solo instabilizada se fragmentava em fatias ou
lamelas, com faces verticais.

O conceito de “círculo de atrito” e a divisão da massa de solo em “lamelas” (ou fatias)


já eram praticados naquele tempo; o que Fellenius fez, na década de 1930, foi estender

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UNIDADE II | Metodologias

a análise para levar em conta também a coesão na resistência ao cisalhamento do


solo, além de considerar casos de solo estratificado.

Documentaram-se escorregamentos com linha de ruptura não circular, por exemplo,


os escorregamentos planares que ocorrem na Serra do Mar. Outros exemplos estão
na figura a seguir:

Figura 9. Exemplos de casos em que a linha de ruptura é não circular.

Linha de
ruptura
Enroca- Enroca-
mento mento
Núcleo
de argila

Linha de
ruptura
Aterro
Aterro
“seco”
“úmido”

Solo de baixa resistência

Fonte: Massad, 2010.

Trata-se de seções de barragens zoneadas, em que as análises de estabilidade são


feitas com superfícies de ruptura planas, representadas no desenho por “linhas” de
ruptura poligonais.

Evidentemente, não se conhece a posição da linha de ruptura ou da “linha crítica”,


isto é, da linha à qual está associado o coeficiente de segurança mínimo, o que se
consegue por tentativas. Atualmente, essa tarefa é facilitada graças aos recursos de
computação eletrônica disponíveis.

Os métodos de equilíbrio limite partem dos seguintes pressupostos:

» o solo se comporta como material rígido-plástico, isto é, rompe-se bruscamente,


sem se deformar;

» as equações de equilíbrio estático são válidas até a iminência da ruptura, quando,


na realidade, o processo é dinâmico;

» o coeficiente de segurança (FS) é constante ao longo da linha de ruptura, isto é,


ignoram-se eventuais fenômenos de ruptura progressiva.

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Metodologias | UNIDADE II

Na classe de métodos de equilíbrio limite existem diversas variantes, conforme o quadro


a seguir:

Quadro 1. Pressão acústica e respostas estruturais e humanas.

Método do círculo de
atrito
Método de Fellenius
Métodos de equilíbrio Método de Bishop
limite Método sueco simplificado
Método de Morgenstern-
Price
Método das cunhas
Fonte: Massad, 2010.

Existem muitas variantes do método sueco, não indicadas na tabela 3. Serão


abordados neste capítulo as hipóteses simplificadoras e os Métodos de Fellenius e
Bishop simplificado, que permitem resolver muitos problemas de estabilidade de
taludes de obras de terra. Esses dois métodos serão comparados com o Método de
Morgenstern-Price, tomado como referência por ser mais rigoroso (Whitman et al.,
1967).

Para esses dois métodos, admite-se que a linha de ruptura seja um arco de
circunferência; além disso, a massa de solo é subdividida em lamelas ou fatias, como
mostra a figura a seguir:

Figura 10. Método sueco ou das lamelas.

Fonte: Massad, 2010.

A figura a seguir ilustra uma lamela genérica, com a indicação das forças e dos
parâmetros desconhecidos. O equilíbrio das forças ainda envolve o peso (P) da
lamela; as forças resultantes das pressões neutras, tanto na base (U) quanto nas faces
da lamela (não mostradas nos desenhos); e as forças dos tipos E e X, atuantes na face
direita da lamela.

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Figura 11. Forças na lamela genérica.

Fonte: Massad, 2010.

A força T mede a resistência mobilizada que é uma fração da resistência total ao


cisalhamento, isto é:
1
T τ=
= .l .s.l
F

Em que l é o comprimento da base de uma lamela. Logo:


1
=T . ( c′l + N .tgφ ′ )
F

N = σ.l é a força normal (“efetiva”) atuante na base da lamela.

Um balanço das forças atuantes e resistentes (quadro a seguir) permite estabelecer o


número de incógnitas e de equações disponíveis, no caso de haver n lamelas.

Quadro 2. Equações x incógnitas.

Incógnitas Equações disponíveis


Tipo Número Subtotal Tipo Número
N n

F 1
3n-1 Equilíbrio de forças 2n
E n-1

X n-1
a n Equilíbrio de
2n-1 n
b n-1 momentos
n. total de incógnitas 5n-2 n. total de equações 3n

Fonte: Massad, 2010.

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Metodologias | UNIDADE II

Ao examinar as equações disponíveis e as incógnitas descritas anteriormente, observa-se


que o problema é estaticamente indeterminado. As equações de equilíbrio
e de resistência ao cisalhamento são aplicadas a todas as fatias, em total de 4n
equações, sendo n o número de fatias. As incógnitas envolvem não só o FS, como
também os esforços atuantes na base e no contato entre as fatias, além do ponto
de aplicação dessas resultantes. Com isso, o número de incógnitas (6n-2) é superior
ao de equações (4n). Para resolver esse problema, vários métodos de cálculo foram
propostos, com diferentes hipóteses simplificadoras, para reduzir o número de
incógnitas.

Vê-se que, tal como foi colocado, o problema é estaticamente indeterminado, pois
existem (5n-2) incógnitas e apenas 3n equações disponíveis. Para levantar essa
indeterminação, são adotadas algumas hipóteses que simplificam o esquema das forças
associadas às lamelas.

Como existem muitas maneiras de levantar essa indeterminação, é grande a


quantidade de métodos atualmente em uso. A diferença fundamental entre os
métodos de Fellenius e Bishop simplificado está na direção da resultante das forças
laterais e X, que atuam nas faces verticais das lamelas.

No caso do Método de Fellenius, a resultante é paralela à base das lamelas (figura


10); no de Bishop simplificado, ela é horizontal, como veremos a seguir.

Para a dedução da fórmula do coeficiente de segurança, reportando-se novamente


à figura 10, a primeira equação que se escreve é a do equilíbrio dos momentos
atuantes e resistentes. O momento das forças atuantes é dado por:
∑ ( P.R.sen θ )

O momento das forças resistentes:


∑ ( T .R )

Ambas são tomadas em relação ao centro do círculo de ruptura.

Veja a figura a seguir para a convenção de sinais de θ:

9
Figura 12. Convenção de sinais do ângulo θ.

Fonte: Massad, 2010.

Note-se, ademais, que as forças entre lamelas (tipos E e X na figura 11) não geram
momento, o que ocorre pelo princípio da ação e reação (como em duas lamelas
adjacentes). Assim, igualando-se os momentos atuante e resistente, tem-se:
∑ ( P.R.senθ ) =
∑ ( T .R )

Como R é constante, verifica-se o seguinte:


∑ ( c′.l + N .tgφ ′ )
F=
∑ ( P.senθ )

Essa expressão permite o cálculo do coeficiente de segurança associado ao arco de


circunferência em análise, linha potencial de ruptura, sendo válida para ambos os
métodos, Fellenius e Bishop Simplificado.

Pesquisa do círculo crítico


Antes de abordar detalhadamente esses dois métodos, expor-se-á uma etapa
comum a eles: a pesquisa da posição do círculo crítico, isto é, do arco de
circunferência ao qual está associado o coeficiente de segurança mínimo Fmin.
Para tanto, define-se uma malha de centros de círculos a pesquisar, impõe-se
uma condição, como círculos passando por determinado ponto ou tangenciando
uma linha, e determina-se o valor de F correspondente a cada centro. Dessa
forma é possível traçar curvas de igual valor de F, que possibilitam determinar
o Fmin e a posição do círculo crítico.

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Capítulo 2
MÉTODO DE FELLENIUS, BISHOP E JANBU

De acordo com Massad (2010), a aplicação das equações requer o conhecimento das
forças normais às bases das lamelas (N). Atinge-se esse objetivo, no que concerne
ao Método de Fellenius, fazendo-se o equilíbrio das forças na direção da normal à
base da lamela (direção do raio do círculo de ruptura).

Figura 13. Lamela de Fellenius.

Fonte: Massad, 2010.

Disso resulta:
P.cosθ
N +U =

Ou:
N P.cosθ − u.∆x.secθ
=

A substituição dessa última expressão, tendo em vista as fórmulas contidas no capítulo


anterior, permite o cálculo do Coeficiente de Segurança F. Obtém-se:
∑ c′.l + ( P.cosθ − u.∆x.secθ ) .tgφ ′
F=
∑ ( P.senθ )

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UNIDADE II | Metodologias

O Método de Fellenius pode acarretar graves erros pelo tratamento que dá às pressões
neutras. A rigor, as forças resultantes das pressões neutras atuam também nas faces entre
lamelas. Como são forças horizontais, elas têm componentes na direção da normal à
base das lamelas, que é a direção de equilíbrio das forças, como se viu anteriormente.

A figura a seguir, (a) e (b), extraídas de Whitman e Bayley (1967), ilustra esse efeito:

Figura 14. Método de Fellenius: influência das pressões neutras no coeficiente de segurança.

Fonte: Whitman et al., 1967 apud Massad, 2010.

Vê-se que, quanto maior a pressão neutra, maior é a diferença em relação ao Método
de Morgenstern-Price, o qual veremos mais adiante. Esse método é mais rigoroso do
que os métodos de Fellenius e Bishop e foi tomado como referência.

No mesmo sentido, a figura 14b mostra o caso hipotético do talude submerso


(água dos dois lados), em que a aplicação do método de Fellenius conduziu a F =
1,1, em comparação com F = 2, obtido pelo Método mais rigoroso. A hipótese de
haver água dos dois lados foi feita para exagerar, propositalmente, os valores das
pressões neutras, realçando os seus efeitos no Método de Fellenius. Na prática,
pressões neutras elevadas implicam valores N de negativos, quando então
são tomados como nulos, na sequência dos cálculos. A despeito desse fato, o
Método de Fellenius continua sendo usado pela sua simplicidade. Ele é, em geral,
mais conservativo do que os outros métodos mais rigorosos, como o de Bishop
simplificado, que se passa a descrever.

Outro método que discutiremos aqui neste capítulo refere-se ao método proposto
por Bishop (1955). Este considera a análise da estabilidade de um talude mediante a

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Metodologias | UNIDADE II

divisão da cunha de escorregamento em diversas fatias. Na realidade, representa uma


modificação do Método de Fellenius, levando em conta as reações entre as fatias
vizinhas. Segundo Rogério (1977), o Método de Fellenius provoca superestimativa
do fator de segurança (Fs) da ordem de 15% em relação ao de Bishop, fornecendo,
assim, valor conservador.

A resistência ao cisalhamento ao longo da superfície de escorregamento (figura 15)


em presença de pressão neutra é igual a (Fiori, 2015):
1
σ s= c + (σ n − µ ) tgφ 
Fs 

Em que c é a coesão do material, φ é o ângulo de atrito interno, σn é a pressão


normal atuante ao longo da superfície de ruptura, µ é a pressão neutra, e FS é o fator
de segurança.

Considere-se a fatia de ordem (n) e levemos em conta as reações Rn−1 e Rn+1 das
fatias vizinhas. Suas componentes horizontais são designadas por Hn−1 e Hn+1, e as
verticais, por Vn−1 e Vn+1 (figura 15).

Figura 15. Distribuição de forças em fatia de solo (n) em uma vertente com deslizamento
rotacional.

Fonte: Caputo, 1987 apud Fiori, 2015.

13
Do polígono de forças indicado na figura, obtém-se, projetando as forças segundo
a direção do peso P, para um solo sem coesão:
( N − µ ) tgα c∆l
Pn + Vn −1 − Vn +=
1 Ncosα + senα + senα
F F

Em que (U) é a força neutra, e (FS), o fator de segurança. Como N = Pe + U, tem-se:


Pe.tgα .senα c∆l
Pn + Vn −1 − V=
n +1 Pe.cosα + U .cosα + + senα
F F

Ou:
 tgα .senα  c∆l
Pe  cosα +  =Pn + Vn −1 − Vn +1 − U .cosα − senα
 F  F

E logo:
 c∆l 
 Pn + Vn −1 − Vn +1 − U .cosα − F senα 
Pe =  
tgα .senα
 cosα + 
 F 

Ainda, substituindo-se o valor de Pe:


 c∆l 
 Pn + Vn −1 − Vn +1 − U .cosα − senα 
N −U = F
 tgα .senα 
 cosα + 
 F 

O fator de segurança FS definido em função da força de resistência ao cisalhamento


Fr e da força cisalhante S atuante ao longo do arco AB, por definição, é dado por:
Fr
Fs =
S

Em que:
Fr
S=
Fs

Por outro lado, a resistência ao cisalhamento S ao longo do arco AB é igual a (por


Coulomb) Fr= cl + ( N –U ) tg φ , em que cl é a força de resistência devido à coesão (c)
do solo. Logo, substituindo-se na equação anterior, verifica-se:
c∆l ( N − U ) tgφ
S
= +
F F

Considerando-se a igualdade dos momentos em relação ao centro O do círculo de


raio R, tem-se:

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R
∑ Pn x =∑ SR = ∑[c∆l + ( N − U ) tgφ ]
F

Como x = Rsenα, tem-se:


∑ c∆l + ( N − U ) tgφ  ( P.cosθ − u.∆x.secθ ) .tgφ ′]
F=
∑ ( Pn .senα )

Substituindo-se o valor de N - U anteriormente obtido, tem-se:


 
1  Pn + Vn −1 − Vn +1 − U .cosα − c∆lsenα 
= F ∑ c∆l + 
tgα .senα  tgφ
∑ Pn .senα  cosα + 
 F 
  c∆lsenα tgφ
1  Pn + Vn −1 − Vn +1 − U .cosα  F
=F ∑
tgα .senα  tgφ − + c∆l
∑ Pn .senα    tgα .senα 
cosα +  cosα +  tgφ
 F   F 

Finalmente, verifica-se:
1 ( P + Vn −1 − Vn +1 − U .cosα )tgφ + c∆lcosα
=Fs ∑ n
∑ Pn .senα senα
cosα + tgφ
F

Nessa última equação, a diferença (Vn−1 − Vn+1) pode ser igualada a zero, isto é,
Σ(Vn−1 − Vn+1) tg ϕ = 0, pois, segundo Bishop, o erro resultante dessa simplificação
é da ordem de apenas 1%.

Agora fica fácil entender o método simplificado de Bishop!

Se introduzirmos a simplificação apresentada anteriormente, fazendo-se (Vn−1 −


Vn+1) = 0, chega-se à expressão de FS conhecida como método simplificado de
Bishop, que é atualmente muito usado no estudo da estabilidade de taludes (Fiori,
2015).

No caso do Método de Bishop simplificado, o equilíbrio das forças é feito na direção


vertical, conforme indica a figura a seguir:

15
UNIDADE II | Metodologias

Figura 16. Lamela de Bishop.

Fonte: Massad, 2010.

Tem-se, pois:
( N + U ) .cos θ + T.senθ =
P

Ou:
c′.∆x.tgθ
P − u.∆x −
N= F
cosθ + tgφ ′.senθ / F

A substituição resulta em:


 tgθ 
 P − u.∆x − c′.∆x.
∑ c′.l + F .tgφ ′

 cosθ + tgφ ′.senθ / F 
F=  
∑ ( P.senθ )

O cálculo iterativo do coeficiente de segurança F é feito da seguinte forma: adota-se um


valor inicial F1 e extrai-se novo valor do coeficiente de segurança F2, que é comparado
ao inicial F1. Para os problemas correntes, basta obter precisão decimal no valor de F.
Se a precisão escolhida não for atingida, deve-se repetir o procedimento.

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Metodologias | UNIDADE II

Entra-se com F2 na última equação estudada, extrai-se novo valor do coeficiente de


segurança F3, e assim por diante, até obter a precisão desejada. Em geral, três ciclos de
iteração são suficientes. Se for necessário atingir uma precisão maior, será possível
recorrer ao Método de Newton-Raphson para acelerar o processo, como indicado
por Whitman e Bailey (1967).

Analisando-se as expressões anteriormente visualizadas, que permitem o cálculo de


N , pode-se também prever algumas dificuldades na aplicação do Método de Bishop
simplificado:

» na região do pé de um talude, θ pode ser negativo, e, consequentemente, o


denominador de N pode ser também negativo ou, pior ainda, nulo;

» se F for menor do que 1, e se a pressão neutra u for suficientemente grande,


então o denominador de N poderá tornar-se negativo. Quando isso ocorrer,
será necessário tentar aplicar outro método mais rigoroso.

Finalmente, a título de curiosidade, o Método de Bishop incluía, originariamente,


forças entre lamelas do tipo X, conforme indica a figura 11. No entanto, a não
consideração dessas forças conduzia a um erro de aproximadamente 1% no
valor de F. Por esse motivo, Bishop recomendou o esquema da figura 16,
sem as forças X, razão pela qual foi agregado ao nome do método o termo
“simplificado”.

Por outro lado, o Método de Janbu (1973) é utilizado quando as superfícies de


escorregamento não são necessariamente circulares (FIORI, 2015).

A Fórmula de Janbu é bastante similar à última equação vista:

1
∑[bc + ( P − µ b)tgφ . ]
N( a )
Fs = f o
∑ Ptgα

O coeficiente N(α) é igual a:

 tgφ 
N ( a ) cos 2α 1 + tgα .
= 
 F 

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UNIDADE II | Metodologias

Comparando-se o coeficiente N(α) com o M(α), tem-se que:


N( a )
M (a) =
cosα

Ou:

N(a) = M(a).casa

Substituindo-se N(α) na Equação de Janbu, tem-se:


1
∑[bc + ( P − µ b)tgφ . ]
M (a)
Fs = f o
∑ Psenα

O valor de Fs calculado pelo Método de Janbu é igual ao Fs obtido pelo Método de


Bishop, multiplicado por um fator f0 (Rogério, 1977). O fator f0 é relacionado com a
geometria da superfície de escorregamento estudada, depende dos parâmetros c e
ϕ e leva em conta a influência das forças verticais entre as lamelas. Em geral, tem-se
1,0 ≤ f0 ≤ 1,3.

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Capítulo 3
MÉTODO DE MORGENSTERN E PRICE, SPENCER E
SARMA

O Método de Morgenstern e Price (1965) é rigoroso e aplicado a quaisquer superfícies


de ruptura. As condições de estabilidade satisfazem simultaneamente todas as condições
de equilíbrio de forças e de momentos.

A massa potencialmente instável é dividida em fatias infinitesimais, e, para ser


aplicado, o método necessita do auxílio de computador para os cálculos. As forças
atuantes nas fatias, consideradas no desenvolvimento desse método, estão expostas
na figura a seguir:

Figura 17. Forças atuantes em uma fatia pelo Método de Morgenstern e Price (1965).

Fonte: Fabrício, 2006.

Em que Pw = pressões neutras nas laterais da fatia; dPb= resultante das pressões neutras
na base da fatia; dW = força peso da fatia; T = força tangencial entre as fatias; E =
força normal entre as fatias; dN = força normal na base da fatia; e dS = força cisalhante
mobilizada na base da fatia.

Para resolver a indeterminação do problema, admite-se uma relação entre as forças


E e T da seguinte forma:

T = λ.f(x).E

Em que:

» λ = constante a ser determinada por processo iterativo;

» f(x) = função que precisa ser especificada.

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UNIDADE II | Metodologias

Geralmente, arbitra-se para f(x) a função arco de seno, pois é a função que menos
influencia o valor final do fator de segurança, segundo Morgenstern e Price (1965).
No entanto, outras funções são empregadas para f(x), como: constante, arco de seno
incompleto, trapezoidal ou outra forma qualquer. O método é considerado um dos
mais rigorosos.

Já o Método de Spencer (1967) foi desenvolvido inicialmente para superfícies de


ruptura de formas circulares e depois adaptado para superfícies de deslizamento com
formas irregulares. Ele é um método rigoroso, pois atende a todas as equações de
equilíbrio de forças e de momentos.

Spencer considerou que as forças Xi, Yi, Xi+1 e Yi+1 poderiam ser substituídas por uma
resultante Qi inclinada de um ângulo δi com a horizontal. Supondo a componente
sísmica nula, e satisfazendo o equilíbrio de momentos, a força Qi deve passar pelo
ponto de intercessão das forças Wi, Ti e Ni (pelo ponto médio da base da fatia). A
figura a seguir ilustra as hipóteses de Spencer:

Figura 18. Forças atuantes na base da fatia pelo Método de Spencer (1967).

Fonte: Fabrício, 2006.

Impondo-se o equilíbrio de forças nas direções normal e paralela à base da fatia e


considerando-se o critério de Ruptura de Mohr-Coulomb, encontra-se a equação a
seguir:
c′b sec α tg ∅ ( h cos α − ub sec α )
'

+ − Wsenα
Q= F F
 tg ∅′tg (α − δ ) 
cos (α − δ ) 1 + 
 F 

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Metodologias | UNIDADE II

Supondo-se que não existam forças externas atuando no talude, as componentes


horizontal e vertical da força Q devem ser nulas. Portanto:
∑ Q cos δ =0
∑ Qsenδ = 0

Como a soma dos momentos das forças externas em relação ao centro de rotação é
zero, a soma dos momentos das forças entre as fatias em relação ao centro também
é nula. Assim:
∑ QR cos (α − δ ) =
0

Como a superfície é circular e R é constante, vem:


R ∑ Q cos (α − δ ) =
0

Logo:
∑ Q cos (α − δ ) =
0

Para tornar o sistema de equações determinável, foi considerada a hipótese de δ


constante para todas as fatias. Desse modo, as equações 10 e 11 se reduzem para:
∑Q =
0

Assim, aplicando-se as equações nas quais Q é obtido, a solução do problema é


alcançada de forma gráfica. Plotam-se em um gráfico os diversos fatores de segurança
(FS) ao variar-se o ângulo δ. No ponto de interseção das duas funções, encontra-se o
valor de F que satisfaz às duas equações. Esse procedimento está ilustrado na figura
a seguir:

Figura 19. Determinação gráfica do fator de segurança pelo Método de Spencer.

Fonte: Fabrício, 2006.

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UNIDADE II | Metodologias

Nota-se no gráfico anterior que o fator de segurança obtido do equilíbrio de


momento é pouco sensível à variação de δ e que efeito contrário ocorre com o
fator de segurança obtido do equilíbrio de forças. Assim, espera-se que métodos
simplificados, cujos fatores de segurança sejam obtidos do equilíbrio de forças,
apresentem maiores divergências dos resultados fornecidos por métodos rigorosos.

Já o Método de Sarma (1973) é tão rigoroso quanto o de Morgenstern e Price (1965),


e a força sísmica KWi pode ser levada em consideração para simulação de terremotos.
O fator de segurança é calculado por meio de equilíbrio de forças e de momentos,
podendo ser resolvido com o auxílio de apenas uma calculadora.

O problema de indeterminação do sistema de equações de equilíbrio é resolvido


admitindo-se conhecer a forma das distribuições das forças cisalhantes entre fatias.

Presume-se, também, que o fator K seja conhecido, e, dessa forma, as equações de


soluções são lineares, evitando-se problemas de convergência. Tal característica torna
o método Sarma vantajoso aos demais métodos rigorosos.

A grande vantagem do Método de Sarma sobre o de Morgenstern e Price é não


precisar de programa para resolvê-lo, podendo o fator de segurança ser obtido por
intermédio de planilhas eletrônicas ou com o auxílio de calculadora.

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REFERÊNCIAS

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Imagens
Figura 1. Condição tridimensional.

Figura 2. Exemplo de divisão em fatias de uma superfície circular.

Figura 3. Equações de equilíbrio.

Figura 4. Procura da superfície crítica.

Figura 5. Exemplificação dos empuxos de terra em repouso, ativo e passivo. Parede AB sem atrito.

Figura 6. Empuxo da terra pela Teoria de Rankine.

Figura 7. Círculo de Mohr ativo para Teoria de Rankine.

Figura 8. Empuxo Ativo de Coulomb: a) cunha de ruptura; b) polígono de força.

Figura 9. Exemplos de casos em que a linha de ruptura é não circular.

Figura 10. Método sueco ou das lamelas.

Figura 11. Forças na lamela genérica.

Figura 12. Convenção de sinais do ângulo θ.

Figura 13. Lamela de Fellenius.

Figura 14. Método de Fellenius: influência das pressões neutras no coeficiente de segurança.

Figura 15. Distribuição de forças em fatia de solo (n) em uma vertente com deslizamento rotacional.

Figura 16. Lamela de Bishop.

Figura 17. Forças atuantes em uma fatia pelo método de Morgenstern e Price (1965).

Figura 18. Forças atuantes na base da fatia pelo Método de Spencer (1967).

Figura 19. Determinação gráfica do fator de segurança pelo Método de Spencer.

Figura 20. Ciclo hidrológico.

25
Referências

Figura 21. Distribuição da taxa precipitada ao longo do tempo.

Figura 22. Estágios da evolução do teor de umidade com o tempo.

Figura 23. Perfil de infiltração.

Figura 24. Diferentes processos de infiltração.

Figura 25. Dependência da taxa de infiltração com o tempo.

Figura 26. Cargas piezométricas, altimétricas e total para o fluxo de água através do solo.

Figura 27. Cargas piezométricas, altimétricas e total para o fluxo de água através do solo.

Figura 28. Evolução da área variável de afluência durante o processo de escoamento superficial em
precipitação.

Figura 29. Os quatro tipos básicos de vertentes, combinando concavidade e convexidade das linhas
de fluxo e das curvas de nível.

Figura 30. Perfil de poropressão.

Figura 31. Elementos geométricos de uma vertente ilimitada empregados na análise da estabilidade
– A linha tracejada representa o nível freático.

Figura 32. Área de contribuição da bacia de drenagem (a) (em sombreado) e comprimento (b) da
curva de nível, por onde passa o fluxo de água da chuva na vertente. Z representa a profundidade
do perfil de solo, e h2 é a altura da zona saturada. As linhas em traço fino representam as curvas de
nível, e aquelas em tracejado são as linhas de fluxo.

Figura 33. Exemplos de aplicações de estudos de estabilidade.

Figura 34. Zona fraca, zona cisalhada e superfície de cisalhamento.

Figura 35. Elementos que caracterizam uma massa escorregada.

Figura 36. Cunha simples e em dois planos.

Figura 37. Elementos que caracterizam uma massa rotacionada.

Figura 38. Elementos que caracterizam o talude.

Figura 39. Elementos que caracterizam uma massa escorregada.

Figura 40. Zona fraca, zona cisalhada e superfície de cisalhamento.

Figura 41. Análise de talude infinito (sem percolação).

Figura 42. Análise de talude infinito (com percolação).

Figura 43. Análise de talude finito — Método de Culmann.

Figura 44. Modos de ruptura de um talude finito.

Figura 45. Análise de estabilidade por métodos comum s de fatias: (a) tentativa de superfície de
ruptura; (b) forças atuando na (n - ésima fatia).

26
Referências

Tabelas
Tabela 1. Fatores de segurança mínimos para escorregamentos.

Tabela 2. Valores típicos de e .


∆La ∆L p
H H

Quadro 1. Pressão acústica e respostas estruturais e humanas.

Quadro 2. Equações  Incógnitas.

Tabela 3. Valores típicos da condutividade hidráulica dos solos saturados.

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