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Coordenação de
Ensino Instituto IPB
FUNDAMENTOS DA
EDUCAÇÃO DE SURDOS
SUMÁRIO
No momento em que nos propomos a trazer uma visão geral dessa história
para tentar compreender como foram engendradas, estaremos resgatando parte dela.
[...] o pensamento não podia se desenvolver sem linguagem e que esta não se
desenvolvia sem a fala. Desde que a fala não se desenvolvia sem a audição, quem
não ouvia, não falava e não pensava, não podendo receber ensinamentos o, portanto,
aprender.
declara que os surdos podiam receber instrução. Ele afirmava que essas pessoas
podiam ser ensinadas a ler e escrever sem fala. Muitos outros educadores
procuraram criar condições para que o surdo se comunicasse como foi o caso de
Pedro Ponce de Leon, Juan Pablo Bonet, Abade L’ Epée dentre outros.
sociedade como foi o caso de Ponce de Leon, por exemplo, que ensinou surdos a
falar, ler, escrever, rezar, etc. Nessa ocasião a pessoa “muda” não era reconhecida
visível através do que se chamou alfabeto digital, usado para ensinar a ler, associado
seus princípios, que procurava a todo custo acabar com aquilo que não podia ser
tratado, curado na maioria das vezes (MOURA, 2000, p.26). A única forma de “salvar”
o surdo seria através do uso da fala, pela restauração da audição, pois se ela fosse
oral puro sobre o uso de sinais o que provocou uma grande polêmica entre
professores ouvintes e surdos (a estes não foi permitido votar), em defesa do oralismo
e da língua de sinais, tendo esta última sido batida na preferência da grande maioria
de professores ouvintes.
Ficou legitimado que apenas a língua oral deveria ser aprendida pelos surdos, sendo
criança.
apenas a língua oral. Desse modo, a oralização passou a ser o principal objetivo da
educação da criança surda e para que ela pudesse dominar essa forma de
identidade surdas. Desse modo, as ideias pregadas pelo oralismo orientavam que os
surdos deveriam ter uma identidade comum com os ouvintes, ou seja, a língua.
oralidade, eram considerados deficientes mentais. Essa constatação nos sugere que
ser (re) conhecida especialmente depois dos trabalhos de William Stokoe, linguista
americano, que retomou a questão dos sinais e apresentou a língua de sinais, como
surdos datam do século XVI. Eles saíram do isolamento que lhes era imposto e
LEGISLAÇÃO E SURDEZ
que desse modo começaram a fazer parte da vida de todos os cidadãos que
aluno dentro das escolas regulares de ensino, embora na prática nem sempre
possamos identifica-las.
inclusivista, traz o bilinguismo como orientador das ações que devem se desdobrar
proposta.
A Lei 9394/96 no seu artigo 1º - passa a vigorar acrescida do art. 26-B que
de sinais não somente para os surdos, mas também para os professores que atendem
formadoras de professores que tendo de cumprir o que essa lei determinava, foi
Art. 3o - A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos
deste Decreto.
Art. 4o- A formação de docentes para o ensino de Libras nas séries finais do
II. -Até cinco Anos, em sessenta por cento dos cursos da instituição;
III. -Até sete Anos, em oitenta por cento dos cursos da instituição; e
STROBEL, 2008,p.30).
Vale salientar ainda que a acessibilidade para surdos também deve ser
garantida pela presença do intérprete de Libras que consta desta mesma lei no seu
artigo 18.
medida em que as condições para a inserção cada vez mais ampla de surdos na
que já existem.
LEIS
e dá outras providências.
providências.
DECRETOS
de 2007.
30 de março de 2007
de Deficiência.
Promoção de Acessibilidade
PORTARIAS
RESOLUÇÕES
AVISO
Aviso Circular nº 277/96 - Dirigido aos Reitores das IES solicitando a execução
especiais.
DOCUMENTOS INTERNACIONAIS
Declaração de Salamanca
Convenção da Guatemala
cada unidade e dos próprios sistemas educacionais. (GLAT, 2007, p.16 e 17.)
mudanças que foram ocorrendo, ao longo dos tempos. Desde a Grécia se preconizava
similares às demais pessoas, até chegar a uma reviravolta nessa concepção, na qual
sociedade.
Vivemos no nosso país uma realidade que não pode ser entendida se não
época, não representaram o respeito ao direito de ser cidadão. Nessa ótica, podemos
parcialmente. Portanto, trata-se de aplicar políticas que determinam “quem está dentro
Nessa trilha, a segregação foi sendo imposta, trazendo para aqueles de quem
momento ainda se percebia que “estar juntos” não podia acontecer de forma plena.
aqueles que apresentam algum tipo de necessidade especial. A inclusão supõe que
sejam oferecidas para todos aqueles que vivem e participam da sociedade condições
Essa mudança radical nas propostas de uma sociedade para todos foi
representantes.
STROEBEL, 2008).
LDB 9394/96
CAPÍTULO V
DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não
especiais:
IV- Educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida
bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística,
intelectual ou psicomotora;
atuação exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e financeiro pelo
Poder Público.
neste artigo.
a provisão de condições que precisam acontecer para que possamos falar de que
ela, religiosa, étnica, sexual, política, socioeconômica. Um traço físico pode ser
interpretado tanto como uma questão cultural tanto quanto uma questão médica. E,
diante da diversidade de destinos que eles podem ter os que forem pegos nas redes
deficientes.
diferentes, difunde-se a crença de que eles, ou não pensam, ou não sentem, ou não
É preciso ir mais além, pois uma visão que mantenha restrições, por algum
motivo, de pessoas diferentes, significa que talvez estejamos “criando” barreiras mais
apresentam.
exemplo, pode significar na perspectiva adotada pelo modelo brasileiro não apenas
uma questão linguística. Para além da língua de sinais e do português. Essa escola
não pode ser traduzida como espaço monolíngue, ao contrário, o confronto se faz
multicultural. Nesse sentido as políticas públicas devem não apenas projetar ações
alunos nas salas de aula, mas devem ser impulsionadoras do seu cumprimento.
A história de educação de surdos mostra que sua trajetória foi marcada por uma
diversidade de opiniões que ao longo desse tempo foi se modificando. Sabemos que
os surdos foram alvos desde o início da Idade Moderna de dois tipos de atenção: a
médica e a religiosa.
(1999) um desafio para a medicina, pois estava ligada a anomalia orgânica. Por outro
lado a ajuda para aqueles que não podiam ouvir, nem falar, fazia parte dos preceitos
religiosos.
pessoas foram determinantes para que essa percepção fosse mudando. A atuação
dos médicos que foram se interessando pela educação de surdos foi marcada por
uma prática essencialmente pedagógica voltada para que o surdo adquirisse algum
tipo de conhecimento.
presença da escrita nos diferentes métodos utilizados pelo oralismo teve como
Oralismo
oralismo como a única via de realização do surdo. Nesse congresso foi decidido por
(1998) que apenas a língua oral deveria ser aprendida pelos surdos e a língua de
surda.
Essa concepção gerou uma mudança radical nas escolas do mundo inteiro que
Para atingir esse fim, como já mencionamos, a maior parte do tempo previsto
para o trabalho com essas crianças era dedicado ao treinamento oral, afim de que
pudessem dominar a língua na modalidade oral. Essa opção foi dominante no mundo
inteiro até a década de 60, ocasião em que William Stokoe, linguística americano,
demonstrou que a língua de sinais era uma língua como qualquer outra, com todas as
características das línguas orais e que seriam adquiridas naturalmente pelo surdo.
individual (AASI). Esse aparelho amplifica os sons, possibilitando que o surdo consiga
Leve
Moderada
Severa
Profunda
estimulada e desse modo conseguir que o surdo oralize. Tendo em vista esta
trabalhados para chegar a oralidade. Como métodos que adotaram essa perspectiva
de ouvido biônico) que começa a fazer parte das opções disponíveis para os surdos.
Nesse caso, após a cirurgia o surdo passa a ”ouvir” se toda a intervenção for bem-
sucedida.
Treinamento auditivo
Leitura orofacial
É a utilização de recursos
processo de comunicação
do emissor.
ele entenda a mensagem do interlocutor a partir da leitura que faça dos lábios, da face
produzidos e desse modo muitos dos sons emitidos não são identificados claramente,
da ideia.
O desenvolvimento da fala
e relaxamento.
O desenvolvimento da linguagem
como o elemento no qual essas intervenções são efetivadas. Por esse motivo alguns
sucinta
criança começa a produzir as primeiras palavras, sempre auxiliada pelo AASI e pela
ouvinte.
Uma estratégia que perdurou durante os anos áureos do oralismo foi a Chave
teria de ser seguido, embora não incluísse a possibilidade de que o aluno criasse
novas estruturas.
Mais recentemente, outra forma utilizada por métodos orais, dentro desse
Comunicação Total
comprovou que a língua de sinais era uma língua legítima tal qual uma língua oral.
Comunicação Total.
utiliza ainda a datilologia (alfabeto manual), o cued speech ( sinais manuais que
que utiliza o léxico da língua de sinais com a estrutura sintática do português e alguns
com a língua oral. Essa opção é denominada bimodalismo e cria uma terceira
Bilinguismo
língua natural dos surdos e, como segunda língua, a língua na oficial de seu país na
modalidade oral e/ou escrita. Autores como Sanches (1993) acredita ser necessário
para o surdo adquirir a língua de sinais e a língua oficial do seu país apenas na
Skliar (1999) comenta que a educação bilíngue não pode ser neutra nem
opaca. Ela deve se constituir como consciência política, para entender a educação
dos surdos como uma prática de direitos humanos concernentes aos surdos; a
Essas línguas não devem ser utilizadas simultaneamente para que suas
formam uma comunidade, com cultura e língua próprias. A língua de sinais deve ser
suas aulas em português, por professores ouvintes que na sua grande maioria não
domina a língua de sinais. Por outro lado, o número insuficiente de intérpretes que
não estão presentes em todas as salas de aula, durante todo o tempo, assinala outra
aula. Ao mesmo tempo temos de esclarecer que mesmo contando com essa presença
Para o bilinguismo o domínio da língua de sinais é mais fácil para que o surdo
perceba estes aspectos na língua oral, já que tem exemplos da língua de sinais para
se guiar.
comunicação por surdos. Sabemos que esse modelo está ocupando um grande
Venezuela, Israel, entre outros países que desenvolvem muitas pesquisas sobre
maioria, crescem em famílias de pais que falam e ouvem o português e não adquirem
dessas duas línguas desde a infância, não atende as principais recomendações desse
modelo uma vez que a presença do intérprete de Libras não garante a aprendizagem.
peculiaridades que esse grupo de pessoas apresenta diante da limitação auditiva que
interfere largamente na visão de mundo que elas possuem. Não estamos tratando de
uma questão resolvida quando falamos de identidade surda, como afirma DORZIAT
(2009).
Ainda segundo a autora, o debate inócuo até então realizado orbitava em torno
dos conceitos de deficiência e reabilitação que não traziam questões que devem
As diversas lutas encetadas por essas comunidades sejam no seu lugar de origem
e/ou em outras localidades, alavancaram os ganhos políticos pelo respeito aos seus
direitos.
grupos de lazer, trabalho, trouxeram conquistas até bem pouco tempo não possíveis
de imaginar. Desse modo cada grupo foi se constituindo como comunidade surda
poucos foram ganhando espaço na sociedade hoje representada pelos seus órgãos
países, dos quais o Brasil passou a ser sentido”. Para tal fim, ela afirma que: [...] o
respeito à responsabilidade dos governos e dos sistemas escolares de cada país com
com deficiência, ainda como afirma Glat ( 2007) , maiores condições de adaptação
dispositivos clínicos sejam afastados. A lógica global não auxilia muito nesse
2009).
demanda uma organização menos rígida” (DORZIAT, 2009, p.18). Nesse sentido se
desconstruindo a lógica existente para criar uma nova lógica de convivência social
Segundo Skliar (2003, p 47), a única opção possível para que a alteridade não
fique aprisionada entre a condição e o estado do ser ou não ser deve ser a de uma
fala, treinamentos de restos auditivos, técnicas para adquirir a leitura orofacial são
cultura majoritária, e, nesse sentido a Libras toma corpo apenas no aparato legal que
difícil, devido ao que pode ser considerado como uma diferença linguística
por sua vez não dominam os conhecimentos fundamentais para que possa
resolva essa questão. Nesse caso sem as condições adequadas o surdo não poderá
e, deixar de camuflar alguns dos padrões que tenta encobrir. Nesse sentido, [...] as
perpetuação de uma visão circunstancial das situações, mostradas nas falas dos
segundo Larrosa Skliar (2001) desconstrói as ideias que vem do mundo ouvinte.
seja na forma de comunicação seja na forma de aquisição dos saberes, não levando
desse aluno.
renovação dos padrões até então adotados, pois muitas vezes conservando modelos
especial, pois temos de considerar que, por exemplo, no caso da Libras, adquirida
Nesse caso, a avaliação de textos escritos por surdos deve levar em consideração o
fato de que é um aprendiz de segunda língua que sofre a influência da primeira língua
geral, a língua portuguesa é ensinada para surdos como se fosse para ouvintes, o que
certamente vai provocar interpretações distorcidas sobre o texto escrito por ele.
Apesar da presença do intérprete de Libras nas salas de aula essa situação ainda não
foi minimizada, pois diante do exercício de um papel que não foi devidamente
de sua atuação.
número sequer razoável para atuar em todas as salas de aula, sejam: intérpretes de
parâmetros em que “as ações sejam reinventadas sob outra lógica” que em nada
tendências tecnicistas na educação de surdos por uma nova versão na qual a língua
de sinais alcança o verdadeiro lugar que deve ocupar, juntamente com profissionais
Karnopp (2005); Fernandes (2005), Ferreira Brito, (1993) dentre outros, mostram que
esse idioma, da mesma forma que se aprende uma língua estrangeira escrita sem
contexto social dos ouvintes cujos símbolos que impregnam a cultura só vão se
p.92).
busca estratégias eficazes para ensiná-la nas escolas, a exemplo de tantos outros
países.
exclusivistas que operaram tanto tempo nas escolas, dentro da ótica médico-clínica,
segregação e adotar a participação desse ser diferente com sua cultura, valores, e
culturais entre si. A identidade cultural pode ser melhor entendida se considerarmos a
educação de surdos.
REFERÊNCIAS