Você está na página 1de 3

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CCH


DEPARTAMENTO DE LETRAS
DISCIPLINA: ESTUDOS LITERÁRIOS MARANHENSES
DOCENTE: JOSÉ DINO COSTA CAVALCANTE
DISCENTE: NOEMY PRAZERES SOUSA

RESENHA SOBRE A NOVELA “O PALÁCIO DAS LÁGRIMAS”, DE CLODOALDO


FREITAS

FREITAS, Clodoaldo. Palácio das Lágrimas. São Luís: AML - EDUEMA, 2008.

A novela “O palácio das lágrimas” foi publicada originalmente como folhetim


do Diário do Maranhão(São Luís), em 1910, pelo escritor Clodoaldo Severo Conrado
de Freitas, que nasceu em Oeiras (PI), no dia 07 de setembro de 1855. Aluno do
Seminário das Mercês e do Liceu Maranhense, o escritor passou boa parte de sua
vida em São Luís, onde teve uma notável produção intelectual, ajudando na
fundação da Academia Maranhense de Letras. Entre as suas principais obras
destacam-se: Os fatores do Coelhado (1892), História do Piauí (1902) e o Palácio
das Lágrimas (1910).
Em “O Palácio das Lágrimas”, Clodoaldo de Freitas conta a história de
Jerônimo de Pádua, personagem principal, que é uma evidente representação do
sistema aristocrático. O personagem vive em um sobrado, com seus dois sobrinhos
e uma mulata chamada Clemência, com quem tem 3 filhos. A história gira em torno
dos atos de Jerônimo e faz uma importante crítica às injustiças do regime
escravocrata.
É importante destacar que Jerônimo é uma figura contraditória, pois é
descrito como um “bom católico”, que nunca perdia as missas, mas também é um
contrabandista de escravos, responsável por uma feitoria. O personagem cometia
abusos sexuais com as escravas, por meio do seu “magnífico harém”, “cheio de
negrinhas que eram suas odaliscas”, pois achava que tinha direito sobre elas. É um
homem corrupto, de personalidade vil e gananciosa, o qual representa o domínio
português, que pode ser interpretado como uma denúncia à sociedade desigual da
época, em que não existia espaço para a justiça, como evidencia o trecho abaixo:

No ano de 1848, morava neste sobrado, então luxuoso e belo, o português


Jerônimo de Pádua, já idoso, mas forte, alto, amorenado, fartos bigodes
grisalhos. Era um homem valente, de força hercúlea, rico e geralmente
benquisto. Negociava com fazendas em um grande armazém no grande
sobrado à Rua da Estrela nº 33, e tinha uma grande feitoria no Tamancão.
Era contrabandista. Apesar de vedarem as leis o tráfico de africanos, ele os
introduzia, sem muita cautela, na sua feitoria. Todo mundo sabia disto. Mas
ninguém atrevia-se a embaraçá-lo, porque, então os portugueses
dominavam o Maranhão, e traziam a Justiça nas gavetas de suas
burras.(FREITAS, 2008, p.16)

Além de Jerônimo, é importante destacar a personagem Dona Anicota, de


caráter também ganancioso, traiçoeiro e sem piedade, como mostra o trecho: “D.
Anicota, esposa do capitão do navio, manifestou um dia, entre risadas tímidas, o
desejo de ver surrar um preto no banco” (Freitas, 2008, p.53). Ela começou a viver
no sítio, passou a se relacionar com Pádua e o convenceu a fazer sociedade
econômica com o marido, com a intenção de assumir as riquezas. Quando
descobriu que o Jerônimo tinha vontade de alforriar Clemência e seus filhos, D.
Anicota mostrou-se contra. Ela consegue casar as suas irmãs com os sobrinhos de
Jerônimo, mas ao longo da narrativa, tentando impedir que Clemência e os filhos
fossem libertos, manda matar Jerônimo de Pádua. Através de enganações e
assassinatos, a personagem D. Anicota consegue ficar com a fortuna de Jerônimo.
A história é repleta de tragédias, mortes e injustiças, especialmente com as
pessoas escravizadas que vivem no sítio. Desde o início, a novela retrata os
diversos abusos sofridos por essas pessoas, de modo que não tinham nem a opção
de defesa, como a personagem Joaquina, levada como escrava para o sítio e
acusada de assassinato injustamente, por Bartolomeu, que afirmou tê-la visto deitar
um pó na papa das crianças de D. Anicota. A morte de Joaquina é retratada com
muitos detalhes chocantes, “O carrasco deu-lhe um empurrão pelas costas. Ela caiu
no vácuo, presa pelo pescoço” (Freitas, 2008, p.76), a personagem não teve a
compaixão da opinião pública e nem a de um Frei, foi presa e condenada à forca,
implorou por sua vida e inocência em praça pública, deu gargalhada, correu, mas
nada adiantou. Os trechos da condenação de Joaquina evidenciam uma grande
crueldade e falta de justiça, “Querem minha vida? Levem. Deus é um juiz hoje, e
amanhã será vosso, malvados. Homens sem coração, homens sanguinários,
deixo-vos meu ódio” (Freitas, 2008, p.76).
O Palácio das Lágrimas é uma novela que faz uma crítica severa ao sistema
escravocrata, mas não só isso, a história trata das injustiças sociais, da
insesibilidade, crueldade e ganância humana. A injustiça é um tema bastante
recorrente na obra, pois o autor Clodoaldo Freitas, ao descrever o velho casarão no
início da história, afirma que o crime imperou naquele lugar, onde o amor não teve
vez, somente as desgraças. “Aqui nunca entrou a Justiça, não vicejou o amor, não
fulgurou a piedade na sua blandícia divina. Neste desmoronado Palácio das
Lágrimas habitou a escravidão e a desonra, sob a vergasta do despotismo” (Freitas,
2008, p.15).

REFERÊNCIAS
FREITAS, Clodoaldo. Palácio das Lágrimas. São Luís: AML - EDUEMA, 2008.

JÚNIOR, Flávio Pereira Costa. Entre o popular e o erudito: as lendas como representação do
Maranhão oitocentista / Flavio Pereira Costa Júnior. — São Luís, 2013.

Júnior, Flávio P. Costa. O PALÁCIO DAS LÁGRIMAS. REVISTA DE LETRAS - JUÇARA, v. 4, n. 1, p.


465-469, 2020.

Você também pode gostar