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Apresentação
Sumário
HERMENÊUTICA.................................................................................................................. 03
Introdução à hermenêutica.................................................................................................................................... 03
O quê têm gerado interpretações erradas............................................................................................................. 06
Breve história da interpretação da Bíblia.............................................................................................................. 07
Princípios gerais de interpretação bíblica............................................................................................................... 11
Regras de interpretação da Bíblia........................................................................................................................... 12
Aplicação das regras de interpretação................................................................................................................... 23
HOMILÉTICA.......................................................................................................................... 26
1ª parte: Noções gerais de homilética.................................................................................................................. 27
2ª parte: O Pregador............................................................................................................................................. 33
3ª parte: O Sermão................................................................................................................................................ 36
EVANGELHOS......................................................................................................................... 51
Mateus: o Messias chegou!.................................................................................................................................... 51
Marcos: o Filho de Deus: servo de todos.............................................................................................................. 55
Lucas: Salvador para todas as pessoas.................................................................................................................. 57
João: vida eterna por meio do seu nome............................................................................................................... 61
HERMENÊUTICA
A NATUREZA DA TEOLOGIA
Existem muitas pessoas que não gostam de a realidade. A religião é a vida de Deus, vida em
estudar Teologia, de pensar teologicamente, pois que tornam parte ativa o intelecto, a vontade e as
acham-na sem interesse, sem utilidades ou sem afeições. A vida religiosa envolve o homem em todo
valor espiritual e prático. o seu ser, e os fatos apurados das suas experiências
É necessário notar porém, que a Teologia com Deus, no transcurso da vida, constituem a sua
do cristão. É saudável, interessante e prática. Sã O homem é um ser que reflete, que pensa
do texto bíblico sob forma de pregação. 15 Ora, os irmãos de Beréia conferiam nas Escrituras
A hermenêutica não se ocupará da Exegese, se era aquilo mesmo que eles haviam dito, e nem
nem da Homilética. Seu foco está colocado sobre por isso deixaram de ouvir de bom grado a Palavra
as formas (princípios) de se interpretar a Bíblia 16. do Senhor transmitida por eles.
Como não existe teologia sem compreensão da
Bíblia, não existe compreensão da Bíblia sem uso b) Influência de programas e livros evangélicos.
de métodos, princípios ou regras, o que torna a Se por um lado somos privilegiados de
hermenêutica uma matéria de suma importância. termos vários programas de rádio e de televisão, e
dezenas de editoras evangélicas. Temos no entanto
o desafio de sabermos selecionar bem o que
ouvimos ou lemos. Infelizmente nem todos que
fazem uso da mídia falada ou escrita são de fato
comprometidos com a Palavra de Deus, ou tiveram
a oportunidade de receberem um ensino embasado
nas Escrituras, e acabam sendo reprodutores de
visões distorcidas do Reino de Deus, e de sua
O QUÊ TEM GERADO INTERPRETAÇÕES
mensagem 18.
ERRADAS?
motivações dos escritores bíblicos, no uso que Será proveitoso identificar as metodologias
faziam das palavras e em seus métodos. Eles da igreja primitiva com os seguintes modelos ou
acreditavam que o sentido literal e histórico da pontos de apoio:
Bíblia era primordial e as aplicações morais eram a) o modelo “pietista” ou “funcional,” dos pais
dele extraídos. apostólicos;
A exegese madura de Teodoro e b) o modelo “dogmático” ou “autorizado,” dos
Crisóstomo, ainda que literal, não era um apologistas;
literalismo cru nem rígido que não reconhecia c) o modelo “alegórico” ou “orientado para o
figuras de linguagem no texto bíblico. Dando leitor,” dos alexandrinos;
continuidade aos costumes anteriores de Jesus e da d) o modelo “histórico-literal” ou “orientado para o
igreja primitiva, os mestres de Antioquia liam as autor,” dos antioquenos e
Escrituras de maneira cristológica, pela aplicação e) o modelo ”canônico” ou “orientado para o texto,”
da interpretação tipológica. de Agostinho e Teodoreto. 28
Quando a igreja entrou no século V,
desenvolveu-se uma abordagem eclética e A Idade Média e a Reforma
27
multifacetada de interpretação , que às vezes
destacava o literal e histórico, e às vezes, o Da época de Agostinho, a igreja, seguindo a
alegórico, mas sempre o teológico. Agostinho liderança de João Cassiano (que morreu em cerca
(354-430 d.C.) e Jerônimo (c. 341-420 d.C.) defini- de 433), abraçou a teoria do sentido quádruplo das
ram os rumos desse período. O texto bíblico era Escrituras:
interpretado em seu contexto mais amplo, 1) O sentido literal era o que podia nutrir as
compreendido como o cânon da Bíblia. virtudes da fé, esperança e amor. Quando não o
O cânon estabelecia parâmetros para fazia, o intérprete podia apelar às três virtudes
validar tanto a interpretação tipológica como complementares, em que cada sentido equivalia a
alegórica, de modo que o significado histórico uma das virtudes.
permanecesse básico, ainda que o sentido espiritual 2) O sentido alegórico referia-se à igreja e à
mais profundo não fosse desconsiderado. Não sua fé, àquilo em que ela devia crer.
predominavam nem as práticas alegóricas de 3) O sentido tropológico ou moral referia-
Alexandria, nem as ênfases históricas de Antioquia. se aos indivíduos e ao que eles deviam fazer,
Emergiu um equilíbrio influenciado por interesses correspondendo ao amor.
pastorais e teológicos. A Bíblia era vista da 4) O sentido anagógico indicava a
perspectiva da fé, produzindo interpretações que expectativa da igreja, correspondendo à esperança.
davam ênfase à edificação da igreja, ao amor ao Por exemplo, a cidade de Jerusalém, em todas as
próximo e, principalmente, ao conhecimento de referências na Bíblia, era compreendida
Deus e amor por ele. literalmente como uma cidade judaica,
alegoricamente como a igreja de Jesus Cristo,
tropologicamente como as almas de homens e
27 PESTANA, Álvaro César. Do texto à paráfrase. São Paulo: 28 DOCKERY, David S. Hermenêutica contemporânea à luz da
Editora Vida cristã. 1992. p.126. igreja primitiva. SP: Vida, 2005. p. 153.
mulheres e anagogicamente como a cidade não resultaram apenas na ênfase cada vez
maior no sentido literal (sensus literalis).
celestial. O sentido quádruplo caracterizou a Lutero continuou a usar amplamente o
método alegórico. Sua reforma, porém,
interpretação na Idade Média.
trouxe mais do que uma modificação do
Martinho Lutero (1483-1546), o grande método exegético. Ela deu início à libertação
da Escritura do cativeiro babilônico da Igreja
reformador, começou empregando o método sob o predomínio da doutrina eclesiástica,
magistério, tradição e harmonização
alegórico, mas depois afirmou tê-lo abandonado.
alegórica. Também a reação da ortodoxia
Foi Erasmo (1466-1536), mais que Lutero, posterior – bem como de toda neo-ortodoxia
– somente conseguiu frear ou encobrir essa
quem redescobriu a primazia do sentido literal. tendência, mas jamais conseguiu detê-la. Se a
João Calvino (1509-1564), o maior Escritura é norma normativa, então a
interpretação se torna a principal tarefa
intérprete da Reforma, desenvolveu a ênfase no teológica. 29
A era atual tem geralmente se mantido em
método histórico-gramatical como base para o
uma das três direções; a abordagem reformada, a
desenvolvimento da mensagem espiritual a partir
pietista ou histórico-crítico.
da Bíblia. A ênfase de Lutero num sentido mais
pleno localizado no significado cristológico das
A era atual
Escrituras ligava os reformadores a Jesus, aos
apóstolos e à igreja primitiva.
A era atual testemunhou o surgimento e o
Geralmente se acredita que os sucessores
desenvolvimento de várias abordagens críticas das
dos reformadores encolheram a liberdade de
Escrituras.
interpretação empregada por Lutero e Calvino.
A interpretação existencial tem sido
Apesar de ser uma declaração genérico e super-
amplamente cultivada no século XX,
simplificada, é verdade que eles conduziram sua
principalmente sob a influência de Rudolf Karl
exposição da Bíblia ao longo de novas fronteiras
Bultmann (1884-1976). Essa abordagem declarava
teológicas. Essa nova forma resultou numa
que os intérpretes deviam projetar-se na
interpretação autorizada e dogmatizada. Quase
experiência do autor para revivê-la.
simultaneamente, o pensamento iluminista
A “Nova Hermenêutica” desenvolveu-se da
começou a se desenvolver.
abordagem existencial. Eles consideravam a
Esse movimento rejeitava as abordagens
interpretação como a criação de um “evento
autorizadas e dogmáticas, resultando em duas
lingüístico” em que a linguagem autêntica da Bíblia
reações: (a) um novo pietismo associado a Philipp
confronta leitores contemporâneos, desafiando-os
Jakob Spener (1635-1705) e August Herman
à decisão e à fé.
Franke (1663-1727) e (b) um método histórico-
Foi Deus quem nos deu a capacidade de
crítico que destacava a importância da raciocinar e de analisar logicamente as coisas.
interpretação teológica da Bíblia. Entretanto, o racionalismo esqueceu-se de
que a razão do homem está corrompida pelo
Inicialmente, também Lutero ainda se pecado. A simples análise racional não pode
encontrava no âmbito da tradicional doutrina trazer o verdadeiro conhecimento de Deus ao
eclesiástica do sentido quádruplo da homem. “O homem natural não entende as
Escritura e estava convencido da legitimidade coisas do Espírito de Deus” (1 Co 2.14). É
e necessidade da alegorese. Seu rápido somente com a assistência do Espírito,
abandono do método escolástico, bem como trazendo cativo todo pensamento à
sua compreensão totalmente nova da tarefa
da teologia e da essência da Igreja como
comunidade que vive da palavra anunciada, 29 GUNNEWEG, Antonius H. Hermenêutica do AT. São Leopoldo-
RS: Sinodal, 2003. p. 46.
caráter, sua glória, seu poder e a sua vontade. Assim, devemos saber que durante a
Podemos dividir a revelação em revelação história, Deus foi se revelando, e acrescentando
geral e especial. mais revelações. Na época da igreja primitiva em
1. Revelação geral é a revelação não Atos, eles não tinha o Novo Testamento, não
proposicional que Deus faz às pessoas, através de tinham tanta revelação como temos hoje.
várias manifestações, mediante as quais elas vêm a Na época do Velho Testamento, eles não
saber que Ele existe. imaginavam a igreja, a união de judeus e gentios.
Essa revelação se dá através do Assim, não podemos olhar para os personagens do
testemunho interno. Deus colocou no homem a Antigo Testamento como se eles estivessem vivido
crença na existência de um ser divino superior ao a era da igreja. Também devemos tomar cuidado
próprio homem. Mesmo que essa crença seja para não jogar o Velho Testamento no Novo.
abafada, a consciência e o raciocínio humano Alguns textos bíblicos são explicados na
reforça a necessidade de um Criador poderoso. própria seqüência do relato, como no caso da
Gênesis. 1.26; Atos 17.29; Romanos 2.14-15. parábola do semeador (Marcos 4.1-20) e nas
A revelação geral também se dá através do revelações no livro de Daniel.
testemunho externo. Muitos textos do Velho Testamento,
quando analisados à luz do Novo Testamento,
a) Através da criação e preservação da natureza. passamos a entender o que o autor estava querendo
Salmo 19.1-6; Romanos 1.18-21; Atos 14.17; Cl 1.17; Jó transmitir.
38.1 a 39.30 Muitas pessoas têm experiências com Deus
b) Através da história da humanidade e dos hebreus. e injetam a experiência em algum texto bíblico. Os
(Teofanias, milagres, testemunhos pessoais, exemplos mais comuns são: Cura de enfermidades,
sonhos, visões, etc) conversão, provações livramentos etc.
A revelação geral apresenta os atributos
invisíveis de Deus. Ela não é suficiente para a REGRAS DE INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA
salvação. Ela alerta ao homem quanto à sua
necessidade de crer em Deus e serve também para Regra um: A Bíblia é a autoridade suprema em
condenar o homem caso ele rejeite essa revelação. questões de religião, fé e doutrina.
2. A revelação especial é o auto-
descobrimento de Deus por vários meios e para Quando se trata das questões de religião, fé
várias pessoas na história fazendo com que elas e doutrina o cristão se submete, consciente ou
entendam e creiam na mensagem salvadora, inconscientemente, a uma das seguintes
recebendo assim uma nova vida. Essa revelação autoridades, acatando-a como autoridade última: a
surge da seguinte maneira: tradição, a razão, ou as Escrituras.
a. Através da atuação do Espírito Santo – João 16.8 e A posição oficial e histórica da Igreja
13 Católica romana tem sido a de fazer da tradição o
b. Através da fé em Jesus Cristo – Filipenses 2.5-9 guia e juiz em tais assuntos.
c. Através da Bíblia – 2 Pedro 1.21 Já no protestantismo, boa parte
centralizou-se no racionalismo. Liberalismo e
modernismo são termos cunhados para descrever mesma. Não se deve acrescentar ou subtrair nada.
esta abordagem. É a razão que decide o que é Compare Escritura com Escritura. Normalmente
fundamental para a fé em Deus. aplica-se esta regra às grandes verdades da Bíblia, e
O cristão fiel considera a Bíblia como o seu não a versículos específicos.
supremo tribunal de recursos. Segundo a Bíblia, Satanás foi o primeiro
Henrichsen 32
, apresenta três maneiras intérprete da Palavra de Deus. Quanto a isto, diz o
pelas quais a autoridade das Escrituras se texto sagrado:
expressam: Gn 3.1-5 (ARC) ” Ora, a serpente era mais
astuta que todas as alimárias do campo que o
1. Uma pessoa age como quem tem SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à
mulher: É assim que Deus disse: Não comereis
autoridade, e a passagem explica se o ato é
de toda árvore do jardim? E disse a mulher à
aprovado ou reprovado. Por exemplo, no Jardim do serpente: Do fruto das árvores do jardim
comeremos, mas, do fruto da árvore que está
Éden “a serpente disse à mulher: ‘é certo que não no meio do jardim, disse Deus: Não comereis
dele, nem nele tocareis, para que não morrais.
morrereis’” Gn 3.4. Você sabe que isso está errado
Então, a serpente disse à mulher: Certamente
porque Adão e Eva de fato morreram. O rei Davi não morrereis. Porque Deus sabe que, no dia
em que dele comerdes, se abrirão os vossos
queria construir um templo para Deus, assim Natã olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o
lhe disse: “Vai, faze tudo quanto está no teu mal.”
coração; porque o Senhor é contigo” 2 Sm 7.3. Natã Antes Deus dissera: “De toda árvore do
falou em tom de autoridade a Davi o que este devia jardim comerás livremente, mas da árvore do
fazer, mas lemos que este conselho foi errado e que conhecimento do bem e do mal não comerás; porque
Deus não queria que Davi edificasse o templo (v.4- no dia em que dela comeres, certamente morrerás”
17).[...] 2. Uma pessoa age com atitude de Note que Satanás não negou que Deus dissera essas
autoridade e a passagem não mostra aprovação nem palavras. Em vez disso, torceu-as, dando a elas um
reprovação. Neste caso, a ação precisa ser julgada sentido que não tinham. Esse tipo de erro dá-se por
com base naquilo que o restante da Bíblia ensina omissão ou por acréscimo.
sobre o assunto.[...] 3. Deus ou um dos Seus
representantes declara a mente e a vontade de Deus. Regra três: A fé salvadora e o Espírito Santo são
Muitas vezes isto vem na forma de mandamentos. imprescindíveis para a compreensão e
Toda a Escritura tem autoridade, mas há partes que interpretação da Bíblia.
você não tem de seguir. Todavia, precisa ter o
cuidado de não usar uma lógica fantasiosa para O cristão dedicado não poucas vezes, fica
evitar fazer o que sabe que é a vontade de Deus perplexo diante do fato de que o homem natural
para você. [...] Para o cristão, a Bíblia tem e sempre não apenas rejeita a Palavra de Deus, mas até
terá autoridade. zomba dela, como coisa de menor importância,
quando o crente a aceita alegremente e de bom
Regra dois: A Bíblia é a melhor intérprete de si grado.
mesma. Face a isto, muitas vezes o crente indaga:
Ao estudar a Bíblia, deixe-a falar por si “Por que o pecador rejeita a vontade de Deus, tão
claramente expressa através das Escrituras? “
32 HENRICHSEN, Walter A., Princípios de interpretação da bíblia.
SP: Mundo cristão. 1986. p. 45. Respondendo a esta pergunta, disse Jesus: “Porque
o coração deste povo está endurecido, de mau grado Quando inspirou os escritores da Bíblia,
ouviram com os seus ouvidos, e fecharam os seus Deus tinha em mente fazer dela um livro prático e
olhos; para não suceder que vejam com os olhos, aplicável à nossa vida cotidiana. As próprias
ouçam com os ouvidos, entendam com o coração e Escrituras afirmam que esse é o propósito por ela
sejam por mim curados.” Dizendo porque isto visado:
acontece, escreve o apóstolo Paulo que “o deus 2 Pe 1.20, 21 sabendo primeiramente isto: que
deste século cegou os entendimentos dos nenhuma profecia da Escritura é de particular
interpretação; porque a profecia nunca foi
incrédulos.” produzida por vontade de homem algum,
mas os homens santos de Deus falaram
O crente, no entanto, lê uma mensagem
inspirados pelo Espírito Santo.
das Escrituras, e sua verdade se torna muito clara
2 Tm 3.16, 17 Toda Escritura divinamente
para ele. inspirada é proveitosa para ensinar, para
redargüir, para corrigir, para instruir em
justiça, para que o homem de Deus seja
Regra quatro: Deve-se interpretar a experiência perfeito e perfeitamente instruído para toda
boa obra.
pessoal à luz das Escrituras e não as Escrituras
à luz da experiência pessoal. Regra seis: Os exemplos bíblicos só tem
autoridade prática quando amparados por
A Bíblia Sagrada é um livro de causas e uma ordem que os faça mandamento universal.
efeitos, por isto, é de se esperar que aqueles que a
lêem tenham as suas vidas mudadas para melhor, - Ao ler a Bíblia, fica evidente que ninguém
também tenham experiências pessoais reais de tal está obrigado a seguir o exemplo de cada pessoa
forma, que dêem prova de comunhão com Deus e que protagoniza os acontecimentos nela
de amor para com o próximo. encontrados.
A experiência pessoal se constitui na Por exemplo: o fato de Noé haver plantado
evidência daquilo que Deus fez por nós, por isso uma vinha e ter se embriagado com o vinho do seu
não pode e nem deve ser desprezada; porém, no fruto, não indica que se deve fazer o mesmo. Gn
momento de determinar o que é mais importante, 9.20 e 21.
se a experiência ou as Escrituras, para efeito de O fato de Jesus ter mandado dizer a
interpretação bem sucedida da Bíblia, as Escrituras Herodes: “Ide dizer a essa raposa que hoje e amanhã
são superiores à experiência pessoal. Deste modo, expulso demônios e curo enfermos, e no terceiro dia
as Escrituras não podem estar sujeitas à terminarei”, (Lc 13.32) não nos autoriza a mandar
interpretação da experiência pessoal; pelo portadores com recados de afronta às autoridades.
contrário, a experiência pessoal é que deve
submeter-se à interpretação ortodoxa e ao juizo da Regra sete: Todo cristão tem o direito e a
Escrituras. responsabilidade de interpretar as Escrituras
segundo princípios universais aceitos pela
Regra cinco: O propósito principal das ortodoxia bíblica
Escrituras é mudar nossas vidas e não
multiplicar nossos conhecimentos. O estudo desta regra de interpretação das
Escrituras nos leva o pensamento aos dias
anteriores aos dias anteriores à Reforma Regra oito: Apesar da importância da história
Protestante do Século XVI. Era uma época quando da Igreja, ela não chega a ser decisiva na fiel
a Bíblia ainda não estava traduzida para as línguas interpretação das Escrituras.
dos povos, quando apenas os clérigos da Igreja
Romana eram indicados para interpretá-la. Muitas doutrinas consideradas essenciais
Contra essa pretensão monopolizadora do pelos evangélicos são apenas implícitas nas
clero da Igreja Romana do seu tempo, se insurgiu Escrituras. Devemos à História da Igreja o fato de
Martinho Lutero, dizendo: que tais questões tenham sido resolvidas e
“se é certo o artigo na nossa fé ‘creio na Igreja explicadas para a posteridade. Graças à História da
Cristã’ etão o papa não pode estar certo
sozinho; do contrário deveríamos dizer: ‘creio Igreja, sabemos que no Séc. II a Igreja lidava
no papa de Roma’ e reduzir a Igreja Cristã a
especialmente com a apologética e as idéias
um único homem, o que é uma heresia
diabólica e condenável . Além disto somos fundamentais do cristianismo; nos Séc. III e IV, com
todos sacerdotes, como já disse, todos temos
uma fé, um Evangelho um sacramento; como a doutrina de Deus; no começo do Séc. V, com o
então não teríamos o poder de discernir e homem e o pecado; desde o Séc. V até o VII, com a
julgar o que é certo ou errado em matéria de
fé?” 33 pessoa de Cristo; nos Séc. XI a XVI, com a expiação;
Ao contrário daqueles tempos, hoje existe
e no Séc. XVI, com a aplicação da redenção, a
grande quantidade de diferentes traduções e
justificação, etc.
paráfrases da Escritura ao alcance de todos,
Portanto, é lendo a História da igreja que
tornando mais fácil o acesso à Bíblia para quem
descobrimos como os crentes do passado se deram
saiba e queira lê-la. 34
ao penoso trabalho de sondagem e interpretação
33 BETHENSSON W. H. Documentos da igreja Cristã. Sào das Escrituras, defendendo a integridade da
Paulo: ASTE, 1996. p. 212.
34 AS REVISÕES DE ALMEIDA:
doutrina cristã.
ARC - ALMEIDA REVISTA E CORRIGIDA, de 1944. No entanto, a Bíblia é o árbitro final em
revisada em 1995.
ARA - ALMEIDA REVISTA E ATUALIZADA, todas as questões pertinentes a fé e a conduta.
publicada em 1958. Em 1993 a SBB lançou a 2a. Edição.
R - REVISADA, conhecida como “de Acordo com os
Melhores Textos em Hebraico e Grego”, pub. em 1967.
C - CONTEMPORÂNEA, lançada em 1990, pela Editora
Vida.
ACF - ALMEIDA CORRIGIDA, FIEL, 1995, SBTB,
Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil. Bíblica, Lisboa, Portugal.
BÍBLIA SAGRADA, Círculo do Livro, 1982, tradução e
OUTRAS VERSÕES: VERSÕES PROTESTANTES: comentários coord. por Ludovico Gamus.
TB – TRAD. BRASILEIRA, de 1917. LEB - EDIÇÕES LOYOLA, 1983, prepara pela Liga de
BLH - LINGUAGEM DE HOJE, lançada no Brasil pela Estudos Bíblicos.
SBB em 1988. BF - BÍBLIA FÁCIL, 1984, Tradução de Frei Paulo
NVI - NOVA VERSÃO INTERNACIONAL, lançada no Avelino de Assis, editada pelo CBC.
Brasil em 1993, pela SBI. EP - EDIÇÃO PASTORAL, 1990, Edições Paulinas.
BÍBLIA COM AJUDAS ADICIONAIS, traduzidas das
Línguas originais, Alfalit Brasil, em 1998. VERSÕES ECUMÊNICAS:
NTLH - NOVA TRADUÇÃO NA LINGUAGEM DE JER - BÍBLIA DE JERUSALÉM, 1982, Paulinas.
HOJE, SSB, 2000. TEB - TRADUÇÃO ECUMÊNICA BRASILEIRA, 1995.
2. Sinédoque. É a substituição da parte pelo todo, 11. Elipse. É a omissão de uma palavra ou palavras
ou do todo pela parte. Ex.:Lc. 2.1,(ARC), Pv l.l6, Rm cuja falta deixa incompleta a estrutura gramatical.
l.l6, Jr 25.29, Rm l6.4. Às vezes uma adjetivo ligado a um substantivo vem
substituir ambos. Ex.:1 Co l5.5, 2 Tm 4.l8.
3. Merisma: É uma tipo de sinédoque em que a
totalidade ou o todo é substituído por duas partes 12. Zeugma. Consiste na associação de dois
contrastantes ou opostas. Ex.:Sl 139.2 substantivos a um mesmo verbo, quando pela
lógica o verbo só pede um substantivo. Ex.:Lc l.64.
4. Hendíade. Consiste na substituição de um único
conceito por dois termos coordenados(ligados por 13. Reticência. É uma interrupção repentina do
‘e’) em que um dos elementos define o outro. Ex.: discurso, como se o orador não tivesse podido
Fp 2.17, At 1.25 terminá-lo. Ex.: Ef 3.1,2, Lc l9.42.
5. Personificação. Quando ações humanas são 14. Pergunta retórica. É aquela pergunta que exige
atribuídas a objetos inanimados, a conceitos ou a resposta, seu objetivo é forçar o leitor a respondê-la
animais. Ex.: Is 55.12; 35.l, Rm 6.9, l Co 15.55 mentalmente e avaliar suas implicações. Ex.:Gn
l8.l4, Jr 32.27, Rm 8.31, Mt 26.55,Lc 11.11,12.
6. Antropomorfismo. Consiste na atribuição de
qualidades ou ações humanas a Deus.Ex.: Sl.8.3; FIGURAS DE LINGUAGEM QUE ENCERRAM
EXAGERO OU ATENUAÇÃO
31.2, 2 Cr l6.9.
37 GREEN, Joe B. How can I inderstand the bible. Michigan – É desta forma que um estudioso brilhante
EUA: Academie books,1985. p. 112.
como foi Agostinho, ofereceu a seguinte A poesia hebraica difere da nossa, por que
interpretação da parábola do bom samaritano, Lc não depende de rima ou ritmo. O fator principal é
10.25-37: seu paralelismo de pensamento. As idéias de uma
Certo homem descia de Jerusalém para Jericó – linha se equilibram com as da seguinte. O
Adão Jerusalém – a cidade celestial de paz, da
qual Adão Caiu paralelismo sinonímico ocorre quando o
Jericó – a lua, assim significa a mortalidade de
pensamento da primeira linha está de acordo com
Adão
salteadores – o Diabo e seus anjos lhe o da segunda ( Jó 9.11). O paralelismo antitético
roubaram – a saber: a sua imortalidade
lhe causaram ferimentos – ao persuadi–lo ocorre quando o pensamento da segunda linha
pecar contrasta com o da primeira (Jó 16.4,5). O
deixando-o semimorto, como homem vivo,
mas que morreu espiritualmente; está paralelismo sintético é o arranjo que faz a segunda
semimorto, portanto
O sacerdote e o levita – o sacerdócio e linha melhorar ou completar o pensamento da
ministério do Antigo Testamento primeira. (Jó 11.18)
O samaritano – diz–se que significa
Guardador; logo a referência é ao próprio
cristo
pensou–lhe os ferimentos – significa restringir Identificar as figuras de linguagem
o constrangimento ao pecado
óleo – o consolo da boa esperança
vinho – a exortação para trabalhar com um Estudar o contexto histórico do Salmo e ler
espírito fervoroso
animal – a carne da encarnação de Cristo a introdução do mesmo.
hospedaria – a igreja Descobrir a idéia central do Salmo e
dia seguinte – depois da ressurreição
dois denários – a promessa desta vida e do expressar esta idéia numa afirmação concisa e
porvir
hospedeiro – Paulo.38 clara.
b) Idioma c) Cultura
A cultura é um conjunto de
Os escritos originais do Antigo Testamento
comportamentos, crenças, valores morais,
foram escritos em hebraico, e uma pequena parte
espirituais e materiais característicos de uma
em aramaico. Já o Novo Testamento foi escrito em
sociedade. Mesmo dentro do Brasil, encontramos
grego koiné. sendo que muitas palavras aparecem
comportamentos diferentes nas mais diversas
apenas uma vez na Bíblia, tornando o trabalho de
regiões. Nomes de alimentos e animais recebem
tradução muito árduo. A versão em português, feita
nomes diferentes, a maneira de se comunicar muda
por João Ferreira de Almeida já sofreu inúmeras
bastante. O mesmo acontece com a maneira de
alterações. Nos últimos anos a arqueologia tem
viver onde os hábitos mudam completamente de
descoberto manuscritos que têm colaborado no
uma região para outra. O mesmo encontramos na
trabalho de busca do texto original 40
. O bom
Bíblia. Além da questão do tempo, da questão dos
interprete é aquele que leva este detalhe em
idiomas, temos também levar em consideração as
consideração. Os comentários, muitos em
diversas culturas em que a história bíblica se deu.
português, nos apresentam estudos de palavras
Dada a existência de um abismo cultural
que, certamente, nos darão uma maior
entre nossa era e os tempos bíblicos - e como o
compreensão do sentido que o autor original
nosso objetivo na interpretação bíblica é descobrir
queria dar ao texto. Fazer uma interpretação
o sentido original das Escrituras - é imperativo que
baseada apenas na tradução da Bíblia em
nos familiarizemos com a cultura e os costumes de
português, sem nenhum outro critério de
então.
investigação, poderá resultar em uma verdadeira
Uma grande dificuldade dos leitores da
catástrofe teológica.
Bíblia é saber se as práticas de cada cultura devem
Hebraico V.T. Também chamado de
ser repetidas ainda hoje, ou se foram apenas
Judaico, Neemias 13.24, ou a língua de Canaã.
temporárias.
Aramaico - Daniel 2,4,7,8 - Esdras 4.8 -
No quadro abaixo, coloque P se o
6:18 - Jeremias 10.11. Era a língua falada pelos povos
mandamento for permanente e T se for
ao norte e nordeste de Canaã, da Síria até o alto
temporário, ou seja, somente para a época em que
Eufrates.
foi escrito.
Grego N.T. - Alexandre dominou o mundo
com o império Grego-Macedônico, e levou o grego 01 Cumprimentar uns aos outros com
ósculo santo – Rm 16.16
Koiné, “comum”, que passou a ser falado em 2/3 do
02 Lavar os pés uns dos outros – Jo 13.14
mundo da época.
03 Proibir as mulheres de falar na igreja – 1
Co 14.34
40 Não existem mais os escritos originais da Bíblia, tanto do Velho 04 Cantar salmos, hinos e cânticos
como do Novo Testamento. O que temos hoje são cópias, umas mais espirituais – Cl 3.16
antigas e outra bem mais recentes. As traduções que possuímos são,
05 Celebrar a ceia do Senhor – 1 Co 1.24
em termos gerais, fiéis ao texto original. Elas foram feitas por
homens capazes, que possuíam muito conhecimento dos idiomas 06 Ungir os enfermos com óleo – Tg 5.14
grego e hebraico. A cada dia a arqueologia vai descobrindo
07 Abster-se de relações sexuais ilícitas – At
manuscritos que vão lançando luzes sobre algumas partes dos textos
duvidosos. Com isso, e com as revisões nas edições, o texto em
15.29
português está ficando cada vez mais fiel aos originais.
10 Dizer amém ao final das orações – 1 Co Exemplos: Casa, pegar, peça, passo, amor etc.
14.16 c) As palavras são convenções que podem
11 Lançar sortes para ocupação dos cargos variar geograficamente e cronologicamente. Por
da igreja – At 1.26
isso, é necessário dar atenção ao contexto, para a
12 Deve haver sete diáconos na igreja – At
6.3 autoria e para a situação histórica em que a palavra
13 Falar em línguas e profetizar – 1 Co 14.5 aparece.
14 Tomar ceia num único cálice – Mc 14.23
15 Os homens não devem usar cabelo O VALOR DO ESTUDO DE UM VOCÁBULO
comprido – 1 Co 11.14
observador uma melhor compreensão do texto. aos nossos contemporâneos do que o Novo
Testamento.
PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO TEOLÓGICA c) Avaliar a extensão do conhecimento teológico
disponível ás pessoas daquele tempo. Que
Regra um: Para compreender a Bíblia conhecimento prévio haviam elas recebido? (Nos
teologicamente, devemos antes verificar as livros que tratam de hermenêutica, ás vezes este
regras gerais de interpretação, bem como as conhecimento prévio é mencionado como
gramaticais e históricas. “analogia da Escritura”.) Bons textos de teologia
bíblica podem revelar-se muito úteis a este
Regra dois: Para entender a Bíblia respeito.
teologicamente, devemos considerar o AT e o d) Determinar o significado que a passagem
NT como uma unidade. possuía para seus primitivos destinatários á luz do
conhecimento que tinham.
Regra três: Quando duas doutrinas bíblicas e) Descobrir o conhecimento complementar acerca
parecem contraditórias, devemos aceitar deste ponto que hoje temos disponível em virtude
ambas como verdadeiras,até posterior de revelação posterior.(Nos livros de hermenêutica,
confirmação em outra unidade. ás vezes este ponto é mencionado como a “analogia
da fé”).
APLICAÇÃO DAS REGRAS DE INTERPRETAÇÃO
TEOLÓGICA
BIBLIOTECA DO ESTUDANTE (INTÉRPRETE)
DA BÍBLIA
Os passos dessa analise são:
exploraremos as ruas do Antigo e Novo DYCK, Elmer (Org.). Ouvindo a Deus: uma abordagem
multidisciplinar da leitura bíblica. São Paulo: Shedd,
Testamentos. Faremos isso prazerosamente, sem 2001. 223p.
tantas dificuldades. Aqui, é claro, termina a
FEE, Gordon et all. Entendes o que lês? São Paulo: Vida
similaridade com o treinamento na bicicleta. No Nova: 1984.
caso da interpretação bíblica, jamais poderemos FERREIRA, Júlio Andrade Ferreira. Bíblia – enigma da
literatura. São Paulo: LPC, 1985. p. 192.
dispensar a ajuda de nosso treinador: o Espírito
Santo. Ele sempre estará conosco neste caminho, e GRENZ, Stanley J.; OLSON,Roger E. Quem precisa de
teologia? SP: Vida, 2002. 159p.
nosso destino será a terra da boa doutrina, de onde
poderemos encontrar ao Senhor Jesus Cristo, e GUNNEWEG, Antonius H. Hermenêutica do Antigo
Testamento. São Leopoldo-RS: Sinodal, 2003. 251p.
desfrutar por ele do gostoso fruto da árvore da vida.
HALL, Christopher A. Lendo as escrituras com os pais
A Deus toda honra e toda glória. da igreja. Viçosa-MG: Ultimato. 2003. 207p.
42 MARINHO, Robson Moura. A arte de pregar: a comunicação na 43 BROOKS, Phillips. The joy of preaching. Grand Rapids: Kregel
homilética. SP: Vida Nova, 2004. p.15 Publications, 1989. p.165.
conhecimento, habilidade, voz, pensamento, e a aplicar a avançada estilística. Não se pode ignorar o
sua vida para transmitir a verdade divina, e essa perigo de substituir a pregação do evangelho pelas
união do divino com o humano tem o poder de disciplinas seculares e de adaptar a pregação do
alcançar outros seres humanos e transformá-los. evangelho às demandas do secularismo. A relação
Isto é pregação: um poderoso milagre de entre a homilética e as ciências modernas é de
Deus, o infinito fluindo por via finita, o perfeito caráter secundário e horizontal; pois as Escrituras
chegando até nós por meio do imperfeito, a Sagradas são a fonte primária, a revelação vertical,
santidade sendo transmitida através de pecadores, o fundamento básico de toda a homilética
e isso tem o poder de transformar outros evangélica.
pecadores. Por isso, o apóstolo Paulo escreveu aos
Coríntios:
Com essa visão da pregação como um
Eu, irmãos, quando fui ter convosco,
milagre de Deus, passemos a considerar os anunciando-vos o testemunho de Deus, não o
elementos técnicos e estratégicos que Deus deseja fiz com ostentação de linguagem, ou de
sabedoria. Porque decidi nada saber entre
utilizar nessa mistura do humano com o divino, ou vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. E
foi em fraqueza, temor e grande tremor que
seja, os recursos da personalidade para transmitir a eu estive entre vós. A minha palavra e a
verdade. minha pregação não consistiram em
linguagem persuasiva de sabedoria, mas em
demonstração do Espírito e de poder, para
que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria
humana; e sim, no poder de Deus (1 Co 2.1-5).
Parte 1
NOÇÕES GERAIS DE HOMILÉTICA
Sagradas eram lidas em público ou nas sinagogas A Idade Média não foi além de Agostinho,
(Ne 8.1-18). mas produziu coletâneas famosas de sermões,
Por volta de 500-300 a. C., os gregos atualmente publicadas em forma de livros
Sócrates, Platão e Aristóteles desenvolveram a devocionais. (A homilética era quase a única forma
retórica, aperfeiçoada pelos romanos na forma da de oratória conhecida.) O maior pregador latino da
oratória (principalmente Cícero, em cerca de 106-43 Idade Média foi Bernardo de Claraval (1090-1153).
a. C.). Graças a Carlos Magno (768-814), a pregação era
Jesus, no entanto, pregou o evangelho do feita na língua do povo e não exclusivamente em
reino de Deus com simplicidade, utilizando latim.
principalmente parábolas (Mt 13.34s.; Mc 4.10-12, 33, A grande inovação da Reforma Protestante foi
34) e aplicando textos do Antigo Testamento à Sua tornar a Bíblia o centro da pregação. Os discursos
própria vida (Lc 4.16-22). éticos e litúrgicos foram substituídos pela pregação
Uma análise do livro de Atos revela cinco evangélica das grandes verdades bíblicas, versículo
elementos básicos comuns às mensagens por versículo. Martinho Lutero (1483-1546) e João
apostólicas: Calvino (1509-1564) expuseram quase todos os
• o Messias prometido no Antigo livros da Bíblia em forma de comentários que,
Testamento;
ainda hoje, possuem vasta aceitação acadêmica e
• a morte expiatória de Jesus Cristo;
• Sua ressurreição pelo poder do Espírito espiritual. Os líderes da Reforma Protestante deram
Santo; à pregação um novo conteúdo (a graça divina em
• a gloriosa volta de Cristo;
• e o apelo ao ouvinte para que se Jesus Cristo), um novo fundamento (a Bíblia
arrependesse e cresse no evangelho. Sagrada) e um novo alvo - a fé viva.
10.17). Como é possível, então, que surjam • Falta de prioridade da mensagem no culto.
50
dificuldades quando esta palavra é proclamada?
• Falta de um bom planejamento ministerial.
O problema não está na palavra em si, porque 51
“a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante Há vários outros motivos que resultam em
do que qualquer espada de dois gumes, e penetra problemas para a homilética. Além das dificuldades
até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e já mencionadas, devemos lembrar que a pregação
medulas, e apta para discernir os pensamentos e vem sendo desvalorizada pela secularização que
propósitos do coração" (Hb 4.12). atinge nossas igrejas. Muitas famílias preferem
O problema não está na Palavra de Deus, mas assistir ao "Fantástico", em vez de ouvir uma
em sua proclamação, quando feita por pregadores mensagem simplesmente exortativa e moralista. Há
que não admitem suas imperfeições homiléticas também a questão da grande diversidade de igrejas
pessoais! Atualmente, as dificuldades mais comuns e pregadores evangélicos, o que facilita à família
da pregação bíblica encontram-se nas seguintes recém-chegada optar entre o pregador eloqüente e
áreas: popular e a igreja com status. Além disso, o estresse
• Falta de preparo adequado do pregador.45 do dia-a-dia faz com que, mesmo no domingo, não
• Falta de unidade corporal na prédica. 46
haja mais o sossego necessário para reflexões
• Falta de vivência real do pregador na fé espirituais profundas.
cristã. 47
• Falta de aplicação prática às necessidades
existentes na igreja. 48 AS CARACTERÍSTICAS DA HOMILÉTICA
• Falta de equilíbrio na seleção dos textos
bíblicos. 49
Koller 52
apresenta o conceito bíblico de
45 Na maioria das vezes, a pregação pobre tem sua raiz na falta de pregação como (aquele processo único pelo qual
estudo do pregador. Muitos julgam ter condições de preparar uma Deus, mediante Seu mensageiro escolhido, Se
mensagem em menos de seis horas, sem o árduo trabalho exegético e
estilístico. introduz na família humana e coloca pessoas
46 Os ouvintes do sermão dominical perdem o interesse pelo recado
do pastor quando este apresenta uma mensagem que consiste numa evangélicos pregados no Brasil baseiam-se no Novo Testamento e,
mera junção de versículos bíblicos, às vezes até desconexos, pulando em geral, limitam-se a textos evangelísticos. Prega-se a verdade, mas
de um livro para outro, sem unidade interior, sem um tema não toda a verdade! O alvo do apóstolo Paulo era pregar "o
organizador. A falta de unidade corporal na prédica leva o ouvinte a evangelho das insondáveis riquezas de Cristo" (Ef 3.8). É bom
depreciar até a mais correta exposição da Palavra de Deus. lembrar que os apóstolos, e com eles a primeira geração da igreja
47 O pior que pode acontecer ao pregador do evangelho é proclamar primitiva, utilizavam quase sempre o Antigo Testamento. Eles
as verdades libertadoras de Cristo e, ao mesmo tempo, levar uma vida baseavam suas mensagens naqueles 39 livros, que constituem mais
arraigada no pecado e em total desobediência aos princípios da de dois terços de nossa Bíblia atual.
Palavra de Deus. Por isso, Paulo escreveu: "... esmurro o meu corpo, 50 A característica principal de um culto evangélico é a pregação da
e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não palavra de Deus. Números especiais bem ensaiados, testemunhos
venha eu mesmo a ser desqualificado" (1 Co 9.27). Em outras autênticos, avisos, tudo isso é útil e necessário, desde que em seu
ocasiões, o pregador talvez esteja vivendo em santificação, mas, devido lugar. Devemos zelar para que nossos cultos não se tornem
ainda assim, quando suas mensagens são apresentadas de forma festivais de música popular ou reuniões para avisos, mas, sim,
muito teórica, empregando termos técnicos, latinos e gregos que o encontros com Deus em Sua palavra! Lutero era muito enfático em
povo comum não entende, elas se tornam enfadonhas. No fim do afirmar que, onde se prega a palavra de Deus e são ministrados o
culto, o rebanho admite que seu pastor falou bem e bonito, mas se batismo e a ceia, é ali que se encontra a verdadeira igreja.
queixará de não ter entendido nada. 51O pregador tem de planejar sua pregação com antecipação.
48 Muitas mensagens são boas em si mesmas, mas se tornam pobres Aqueles que não planejam sua pregação, geralmente cedem à
na prática, na edificação do povo de Deus. Constituem verdadeiros tentação do plágio. O bom pregador deve fazer um planejamento
castelos doutrinários, mas não mostram como colocar em prática, de anual, incluindo mensagens para os dias especiais (Natal, Páscoa,
maneira viável, o ensino da Palavra de Deus. aniversário da igreja etc.). Dessa forma, ele alimentará a seu rebanho
49 A maior parte das Escrituras foi praticamente abandonada na com uma dieta sadia e balanceada.
pregação eficiente do evangelho. Mais de 95% dos sermões 52 op. cit., Koller p. 9.
perante Si, face a face). Em sua tese, Koller refere-se Nenhuma outra religião jamais tornara a
reunião freqüente e regular de massas
ao mensageiro (vocação, caráter, função) e à humanas para ouvir instrução religiosa e
exortação uma parte integrante do culto
mensagem (conteúdo, poder, objetivo). Na
divino". Para o seminarista e futuro pregador
realidade, porém, as características da homilética do evangelho, "a homilética constitui a coroa
da preparação ministerial" porque para ela
evangélica não devem restringir-se somente aos convergem todas as matérias teológicas, a fim
de originar, vivificar, caracterizar, renovar e
pólos mensageiro - mensagem. Três elementos, no
perpetuar o cristianismo autêntico. Além de
mínimo, participam da prédica: o pregador, o(s) importante, a homilética é também nobre,
"porque se interessa exclusiva-mente pelo
ouvinte(s) e Deus. bem das almas", que são objeto do amor
Podemos representá-los por meio de um infinito, da graça remidora e do poder
renovador de Jesus Cristo. 54
triângulo, cujos vértices simbolizam o autor, o
Durante o COMIBAM 87 (Congresso
comunicador e o receptor:
Missionário Ibero-Americano), o líder evangélico
Deus
René Zapata (El Salvador) disse :
pregador ouvinte
Bíblia "A pregação é o principal meio de difusão do
cristianismo, mais poderosa do que a página
Neste triângulo, o pregador dirige-se a Deus, na escrita, mais efetiva do que a visitação e o
aconselhamento, mais importante do que as
preparação e na proclamação da mensagem, e ao cerimônias religiosas. É uma necessidade
sobrenatural, convence a mente, aviva a
ouvinte, sua comunidade evangélica. O ouvinte imaginação, move os sentimentos,
recebe a mensagem da Palavra de Deus através da impulsiona poderosamente a vontade. Mas,
depende do poder do Espírito Santo. É um
comunicação pelo pregador ou por sua própria instrumento divino; não é resultado da
sabedoria humana, não descansa na
leitura. Deus, por Sua vez, é autor, inspirador e eloqüência, não é escrava da homilética". 55
ouvinte da Sua Palavra. Entretanto, é bom lembrar
A homilética é importante devido a seu
que o triângulo só se completa com um núcleo: este
conteúdo (a proclamação do evangelho como
âmago é a palavra do Cristo crucificado (1 Co 2.2).
característica fundamental do cristianismo
Para, nós, os evangélicos, Cristo é o centro
autêntico), seu lugar central na preparação do
da Bíblia. Lutero ensinou enfaticamente:
ministro evangélico e seu objeto (o bem-estar do
A Escritura deve ser entendida a favor de
Cristo, não contra Ele; sim, se não se refere homem, criado por Deus).
a Ele não é verdadeira Escritura ... Tire-se
Cristo da Bíblia, e que mais se encontrará
nela? 53 A NATUREZA DA HOMILÉTICA
A IMPORTÂNCIA DA HOMILÉTICA
É a teoria e prática da pregação do
evangelho de nosso bendito Senhor Jesus Cristo,
A igreja viva de nosso Senhor Jesus Cristo
que revela o poder e a justiça de Deus para todo
origina-se, vive e é perpetuada pela Palavra de Deus
homem que nEle crê (Rm 1.16).
(Rm 10.17). Pregar o evangelho significa despertar,
Os termos pregação e pregar vêm do latim
confirmar, estimular, consolidar e aperfeiçoar a fé
praedicare, que significa (proclamar). O Novo
(Ef 4.11ss.). Por essa razão, a prédica é a
Testamento emprega quatro verbos para
característica marcante do cristianismo.
54 Nobre, A. Manual do Pregador. São Paulo: Casa Editora
53 HAGGLUND, Bengt. História da Teologia. 7a Ed. Porto Alegre: Presbiteriana, 1955. p. 7.
Concórdia, 2003, p. 187. 55 Revista Ultimato nº 192, Viçosa-MG, fevereiro de 1988, p. 7.
• ou ao ar livre (Mt 5.2; Mc 6.34; Lc 5.3). Para Hawkins 61, "o objetivo da homilética é
Somente Lucas 4.16ss. dá detalhes acerca auxiliar na elaboração de temas que apresentem em
da forma externa de Seu ensino, ficava em pé para forma atraente uma mensagem da Palavra de Deus,
ler um trecho dos profetas, depois se sentava para com tal eficiência que os ouvintes compreendam o
fazer a exposição, sendo este o costume judaico e que devem fazer e sejam movidos para fazê-lo".
rabínico normal (cf. Lc 5.3; Mc 9.35; Mt 5.2). Jesus Em geral, podemos dizer que o objetivo da
recebeu Seu ensino diretamente de Seu Pai (Jo mensagem evangélica é a conversão, nutrição,
fundadas (At 2.42; 5.28). O alvo do ensino mensagem bíblica é a salvação de pecadores
apostólico era firmar os cristãos em sua fé, prepará- perdidos (Rm 1.16). "Em toda pregação, Deus
los para o serviço e aperfeiçoá-los para a vinda do procura primariamente, mediante Seu mensageiro,
Senhor Jesus Cristo (Ef 4.11ss.). Os apóstolos trazer o homem para a comunhão Consigo". 62
Santo (Rm 12.6s.; 1 Pe 4.11). ouvida e crida que os homens são salvos da
mensagem evangélica é explicar a história da 10.10,17; Jo 8.34-36). Isso vale tanto para os povos
58 Op cit. NDITNT, vol. I, p. 500. 61 HAWKINS, T. Homilética Prática. Rio de Janeiro: JUERP, 1978
59 Op cit NDITNT, vol. II, p.44. p. 13-14.
60 carisma, ou dom. 62 C. W. Koller, op. cit., p. 14.
evangélica também não pode silenciar quanto à de Deus e a entrega aos homens. É o que trata com
situação e ao destino dos perdidos (Jo 3.18, 36; Ap Deus os interesses dos homens; e, com os homens,
reconhecer, confessar e deixar todo e qualquer tipo primordial da Igreja e, por conseguinte, dos que
vivo e verdadeiro (Pv 28.13; Rm 10.10; 1 Ts 1.9s.). sentido, todo crente é um pregador do Evangelho,
A pregação do evangelho, porém, não se dá pelo dever de testemunhar de Cristo, mas nem
por satisfeita em apenas chamar à comunhão viva todos são ministrantes da Palavra.
com o Senhor Jesus Cristo. Após a conversão, a Quem prega deve conhecer a Deus e amá-
ênfase deve estar sobre as coisas que acompanham lo de forma absoluta. Isto provê a realidade em sua
a salvação (Hb 6.9). Nutrição, motivação, vida e deixa claro que a sua proclamação é sincera.
consagração e santificação devem complementar a mudança de vida dos que o ouvem. Porém, isto não
pregação evangelístico-missionária (Cl 1.28; 2.6s., Ef pode ocorrer a menos que ele mesmo seja
3.17; 4.11ss., 1 Co 3.11). Isto deve acontecer individual convertido. Pois casa mensagem é, na realidades,
e eclesiasticamente (Rm 15.2; 1 Co 14.3s.; Ef 2.21; 1 Pe um testemunho de vinda aos pés de Cristo.
T e s e:
1.1.2 - Introdução: a "introdução é o processo pelo
qual o pregador procura preparar a mente dos
ASSUNTO
1° argumento ouvintes e prender-lhes o interesse na mensagem
2° argumento
que vai proclamar". 64
Os objetivos principais da
3° argumento
4° argumento introdução são conquistar a atenção do auditório e
despertar seu interesse pelo tema da pregação.
Conclusão Uma boa introdução, preparada e memorizada, dá
ao pregador segurança, tranqüilidade, firmeza e
Apelo
liberdade na pregação.
Vejamos:
1.1.3 - Proposição: a proposição bíblica é a
apresentação, explicação e desenvolvimento das
1.1.1 - Título: o título da mensagem especifica, o
grandes idéias doutrinárias, éticas e espirituais das
assunto sobre o qual o pregador irá falar. Exemplo,
Sagradas Escrituras, de maneira simples e
você prepara uma mensagem baseada em João 15.1-
convincente, que estimule o ouvinte a aceitá-las e
8. O assunto é a videira verdadeira, mas o título da
aplicá-las em sua vida.
mensagem será mais específico, ou seja, "a vida
Exemplos:
frutífera do cristão" ou "como o cristão pode ter
• O homem natural não entende nada das
uma vida frutífera". coisas de Deus.
• Todo homem nasce pecador.
A definição do título é um dos últimos
• Somos salvos inteiramente pelos méritos
itens a serem elaborados na mensagem. Não é de Cristo.
aconselhável escolher primeiro o título da • A leitura bíblica é um meio que Deus usa
para levar o homem à maturidade cristã.
mensagem e depois definir o texto, a não ser que • A verdadeira adoração é uma questão de
seu sermão seja tópico. É mais fácil definir o título
64 BRAGA, op. cit., p. 91.
espiritual, pessoal, atual e estimulante, que ajuda o de um 'Verbo transicional', que é sempre um verbo
desenvolvimento da proposição ocorre também emparelhado com uma preposição que requer um
com o passar do tempo. Por isso, recomenda-se objeto. Num ou noutro caso, o objeto é a 'Palavra
segunda-feira. A vivência diária, as visitas pastorais, colocados em combinações naturais com 'Palavras
a reflexão, a pesquisa exegética e as informações do Chaves', para demonstrar o seu uso normal. 65
As palavras-chave de um texto bíblico ajudam- uma arte em si. Todavia, os princípios para o
nos a chegar às proposições. A seguinte série de esquema de um bom esboço são de caráter técnico,
possíveis palavras-chave não tem limites, e estas podendo ser estudados e apropriados por qualquer
da prédica, que formam os passos lógicos de seu principais do sermão. Outra vantagem é que o
desenvolvimento. Ele pode ser composto dos ouvinte lembra-se com mais facilidade das
argumentos fundamentais, das respostas básicas ou afirmações-chave do texto bíblico, as quais
das exclamações centrais do sermão. serviram como base para a mensagem. Em muitos
Não é indispensável que cada esboço tenha três casos, o esboço do pregador consegue ser tão
pontos principais, embora, na prática, isso muitas simples, claro e convincente que o ouvinte ainda se
vezes corresponda à realidade. O esboço pode ser recorda da prédica após dez anos, quando relê a
composto de apenas dois pontos ou até de oito ou passagem bíblica. Portanto, um bom esboço tem
nove aspectos principais. O bom senso do seu valor didático e espiritual, levando o cristão a
pregador, assim como o nível médio dos ouvintes, crescer em sua fé.
determinam os pontos do esboço. Não é Entretanto, quais são os princípios que
recomendável ter 19 tópicos num só esboço, nem devemos aplicar para fazermos um esboço
apresentar seis subesboços no esboço principal do ordenado?
sermão. As subdivisões do esboço-chave da Em primeiro lugar, ele deve corresponder ao
mensagem não devem constituir um novo esboço tema. Não adianta escolher o tema "a videira
central. Isso apenas confunde o auditório. verdadeira" e, no esboço, referir-se ao significado, à
Sugerimos, portanto, um esboço principal necessidade, à urgência, aos métodos e aos
composto de dois a cinco pontos, como regra resultados do arrependimento. O esboço deve
básica. Se você tiver mais do que isto, será melhor corresponder ao tema, assim como os frutos
subdividir o tema e apresentá-lo em duas correspondem à árvore. Conseqüentemente, o
mensagens. esboço emana do tema, assim como o tema emana
A elaboração de um bom esboço não é uma do texto bíblico que fundamenta o sermão.
regra homilética, um dever do pregador, mas uma Em segundo lugar, o esboço deve corresponder
ajuda homilética para apresentar um sermão também ao texto bíblico. Em muitos casos, o
ordenado. Um esboço bem ordenado e harmônico próprio texto bíblico oferece um esboço natural
ajuda o pregador a obter clareza de idéias. Através para o sermão.
do esboço, os tópicos principais da mensagem são Em terceiro lugar, os pontos individuais do
colocados em ordem lógica e conseqüente. O esboço devem ser totalmente distintos, pois cada
esboço bem preparado ajuda também o pregador a argumento é uma parte integrante de toda a
obter unidade de pensamento. É muito fácil os estrutura do sermão. Não adianta repetir no
pensamentos do pregador saírem da linha, terceiro ponto, com palavras semelhantes, o que já
incompatibilizarem-se mutuamente ou até se foi esclarecido no primeiro. A repetição ou
repetirem. semelhança de pensamentos, afirmações,
Finalmente, o esboço previamente estruturado interrogações, exclamações ou argumentos no
e anotado no manuscrito ajuda o pregador a esboço é o erro mais comum dos pregadores
lembrar-se do conteúdo do sermão, de maneira que iniciantes.
ele se torna mais independente de suas anotações. Em quarto lugar, o esboço precisa ser ordenado
A grande vantagem de um esboço bem patente seqüencial e progressivamente. Seqüencialmente, a
para a congregação é que ele esclarece os pontos fim de mostrar coerência lógica de pensamento, e
progressivamente, por motivos retóricos e três pontos, por exemplo, você empregaria três
psicológicos. Deixe o argumento mais importante, palavras principais que terminam com: são, ação,
o ponto alto, para o final da mensagem, visando ável, o, a, ismo, tude, ar, er, ir ou dade.
garantir que o auditório o acompanhe através de
toda a prédica. Exemplos:
Em quinto lugar, o esboço tem de apresentar 1) Texto: João 19.17-18
coerência lógica. O esboço ordenado não se Título: O LUGAR CHAMADO CALVÁRIO
contradiz, não complica, não deixa dúvidas; pelo Esboço: 1. Era lugar de crucificação.
contrário, elimina dúvidas. 2. Era lugar de separação.
Em sexto lugar, o esboço deve ser elaborado 3. Era lugar de exaltação.
harmonicamente. Use três afirmações, três
exclamações ou três interrogações, mas nunca 2) Texto: 1 Timóteo 2.4
misture uma afirmação com uma interrogação ou Título: "A VISÃO DE DEUS"
uma exclamação com uma pergunta. Esboço: 1. É uma visão da humanidade.
Em sétimo lugar, o esboço também deve estar 2. É uma visão da eternidade.
gramaticalmente correto e coerente. Comece 3. É uma visão da verdade.
quatro vezes com o artigo masculino ou com o
feminino; ou três vezes com os verbos principais, 1.1.5 - Discussão: "as divisões principais e as
com substantivos, i. e., sempre na mesma ordem subdivisões não passam do esqueleto do sermão, e
gramatical. Seus pontos encontram-se todos no servem para indicar as linhas de pensamento a
presente, no passado ou no futuro. Nunca misture serem seguidas ao apresentá-lo. A discussão é o
os tempos! Agostinho já ensinava: "Distingue descobrimento das idéias contidas nas divisões". 66
tempora et concordabis Scriptura." A elaboração e redação do sermão (latim:
Em oitavo lugar, cada ponto do esboço deve elocutio) merece diligência, exatidão e tempo do
conter uma só idéia; do contrário, confundiremos o pregador. Um tema interessante e um bom esboço
ouvinte. Cada ponto também deve esclarecer não são suficientes para garantir um fluxo
completamente seu tópico único. Não é agradável de pensamentos na mensagem. A questão
recomendável iniciar uma idéia nova sem ter do estilo é negligenciada por muitos pregadores e,
exposto a anterior claramente. por isso, a mensagem torna-se enfadonha,
Em nono lugar, o bom esboço emprega o complexa e desordenada. O estilo fraco do
menor número possível de pontos. O excesso de pregador é capaz de destruir suas melhores idéias.
pontos comprova a super-elaboração da prédica e Os aspectos a seguir ajudam a melhorar as
não ajuda o auditório a lembrar-se dos discussões da prédica. A boa prédica é
pensamentos-chaves do texto bíblico. caracterizada pela unidade de pensamento vista em
Em décimo lugar, é dever moral do pregador todas suas discussões.
não elaborar um esboço ambíguo ou escandaloso. O tema, o esboço, as subdivisões, o
Finalmente, recomenda-se também que o descobrimento, as ilustrações e os exemplos
esboço seja rítmico. Com isto, referimo-nos à refletem a unidade de pensamento do pregador.
rítmica gramatical das palavras. Num esboço de 66 BRAGA, op. cit., p. 144.
Recomendações práticas para o bom uso de auditório é a que fica gravada na memória.
ilustrações:
1. Pregue a Palavra e não ilustrações. II – TIPOS DE SERMÕES
2. Use no máximo duas ou três ilustrações por
sermão. A CLASSIFICAÇÃO DOS SERMÕES
3. Empregue ilustrações patentes e verídicas.
4. Comente as ilustrações com simplicidade e Tradicionalmente, os sermões são
naturalidade, sem exagero e sem espírito crítico, classificados quanto TIPO e quanto a sua
lembrando-se de que os exemplos bíblicos são as FINALIDADE:
melhores ilustrações.
Quanto ao tipo, os sermões podem ser:
1.1.7 - Aplicações: já explicamos detalhadamente a a) sermão temático (também chamado de sermão
aplicação do texto do sermão: a necessidade, as de tópico), cujos argumentos resultam do tema,
possibilidades e as formas de aplicação. Enquanto a independentemente do texto;
ilustração esclarece e ilumina a verdade bíblica, na b) sermão textual, cujos argumentos principais
aplicação, o ouvinte é confrontado direta e são tirados do texto bíblico;
pessoalmente com o ensino da Bíblia. Através da c) sermão expositivo, cujos argumentos giram em
aplicação, ele é convidado à reflexão, ao torno da exposição exegética completa do trecho
posicionamento, à mudança pessoal diante das bíblico em pauta.
afirmações das Sagradas Escrituras. Quanto ao objetivo ou finalidade, o sermão
pode ser:
1.1.8 - Conclusão: a boa mensagem merece a) pastoral;
cuidados especiais em sua conclusão. Esta não é o - exortativo;
mero fim, o ponto final da prédica. É o ponto - doutrinário;
culminante, o que fala mais diretamente ao - de avivamento;
- devocional;
ouvinte. Numa mensagem evangelística, é marcada
- inspirativo;
pelo convite à salvação. Mas seria um crime - consolador;
espiritual apenas lançar formalmente o convite sem b) evangelístico,
outras palavras, divide-se o tema, não o texto de INTRODUÇÃO: As dádivas são muito apreciadas
onde o tema é tirado. por todos os homens. Esta apreciação chega ao
ponto de existirem casas comerciais que exploram a
Vantagens do sermão temático: venda de artigos específicos para presentes. De fato,
1. É o de divisão mais fácil. De fato, é o mais a vida social perderia muito de seu encanto se os
simples. É mais fácil dividir um tema do que um amigos e parentes não se presenteassem. Os homens
texto, visto que este é mais complexo. aprenderam ou herdaram isso de Deus. Deus é o
2. É o de lógica mais fácil. O sermão temático é o autor das dádivas. "Toda boa dádiva e todo dom
que mais se presta à observação da ordem e da perfeito é lá do alto, descendo do Pai das luzes, em
harmonia das partes. quem não pode existir variação ou sombra de
3. Conserva melhor a unidade. A proporção entre o mudança" (Tg 1.17). E, entre as dádivas que vêm de
primeiro e o último ponto e a relação de harmonia Deus, há uma que é suprema, a qual muitos ainda
entre estes e o tema constituem o segredo de sua não quiseram receber, embora lhes seja diariamente
unidade. Assim, é mais fácil ser mantido até o fim. oferecida.
4. Presta-se melhor à discussão de temas morais,
evangelísticos e ocasionais. DIVISÃO:
5. Adapta-se melhor à arte da oratória.
I. Em que consiste esta dádiva
Desvantagens desse tipo de sermão:
1. Exige muito controle do pregador para evitar 1. Não consiste apenas em valores materiais ou
nas ricas e abundantes coisas criadas por Deus e
divagações ou generalidades vazias e inexpressivas.
colocadas à disposição do homem:
2. Requer um estilo mais apurado e formal do que a) os animais que lhe servem de alimento,
aumentam suas posses ou ajudam no trabalho;
os outros tipos.
b) os rios, lagos, mares e florestas, de onde extrai a
3. Exige mais imaginação e vigor intelectual, visto substância, o conforto e os recursos para viver;
c) os minerais (minérios e pedras preciosas), com os
que se presta mais ao uso de símiles, metáforas e
quais se enriquece e obtém matéria-prima.
analogias.
Todas estas coisas são dádivas
4. Exige mais cultura geral e teológica, já que não
de Deus, mas não são dádivas supremas.
está limitado à análise do texto. 2. Consiste, na verdade, em uma pessoa: Jesus
Cristo, Seu Filho Unigênito.
5. Exige mais conhecimentos da lógica e da
dialética, pois tende a discussões apologéticas. II. O valor desta dádiva
6. Há o perigo de desprezar o uso abundante das
1. Não há outra maior do que ela, visto que se
Escrituras. trata do Filho de Deus.
a) Quem dá um Filho que ama, dá o melhor
que possui.
Exemplo de sermão temático ou tópico: b) Quem dá um Filho que ama, dá a própria
vida.
2. Não há outra melhor do que ela, visto que
TEMA: A DÁDIVA SUPREMA DE DEUS Deus deu o melhor que possuía no céu e na terra.
1. Não há outra melhor do que ela, visto que
Jesus encerra as perfeições divinas e
TEXTO: João 3.16 humanas.
2.
2 - O SERMÃO TEXTUAL
Exemplo de sermão textual:
O sermão textual natural ou puro é aquele INTRODUÇÃO: O crente em Jesus Cristo é um ser
cujas divisões são feitas de acordo com as privilegiado por Deus. Talvez não seja honrado pelo
mundo, mas, seja quem for, é sempre honrado por Deus os argumentos principais à partir da
Deus, que o cobre de privilégios divinos e celestiais.
interpretação bíblica ou exposição completa de um
Eis aqui alguns desses privilégios, entre muitos:
trecho mais ou menos extenso. O Dr. KOLLER,
I. A raça eleita
famoso professor de homilética, define o sermão
1. Eleitos ou escolhidos não segundo nossas expositivo com estes dois argumentos: 68
obras, mas conforme o propósito e a graça de Deus 2
(1) O 'Sermão Expositivo' consiste da
Tm 1.9.
2. Eleitos segundo a presciência de Deus para a 'Exposição' mais aplicação e persuasão
vida eterna 1 Pe 1.2; Mt 25.34,46.
(argumentação e exortação). Uma
3. Eleitos para testemunhar as grandezas de
Deus 1 Pe 2.9. 'exposição' torna-se um sermão, e o mestre
4. Eleitos para serem segundo a imagem de Jesus
torna-se pregador, no ponto em que é feita
Rm 8.29.
uma aplicação ao ouvinte, com vistas a
II. O sacerdócio real
alguma forma de resposta, em termos de fé
1. Como sacerdotes, podem se aproximar de ou entrega.
Deus por meio de Jesus Cristo Hb 4.14-16.
(2) O 'Sermão Expositivo' extrai os seus
2. São sacerdotes para oferecerem eles mesmos
sacrifícios espirituais a Deus 1 Pe 2.5. principais pontos, ou o subtítulo
3. Os cristãos, como sacerdotes de Deus, têm
dominante de cada ponto principal, do
como sumo sacerdote Jesus Cristo Hb 4.14-15.
particular parágrafo ou capítulo do livro da
III. A nação santa
Bíblia de que trata".
1. Os cristãos são santos porque alcançaram O sermão expositivo, define BRAGA, é
misericórdia mediante Jesus Cristo 1 Pe 2.10.
aquela mensagem "em que uma porção mais ou
2. Os cristãos são santos porque foram
separados do mundo e do pecado para a glória de menos extensa da Escritura é interpretada em
Deus, bem como para Seu serviço Tt 2.14.
relação a um tema ou assunto. A maior parte do
3. Os cristãos são santos porque participam da
natureza de Deus 1 Pe 1.15-16. material deste tipo de sermão provém diretamente
da passagem, e o esboço consiste em uma série de
IV. O povo adquirido
idéias progressivas que giram em torno de uma
1. Cristo resgatou-nos e adquiriu-nos para Si,
idéia principal". 69
pagando por nós o preço de nossa redenção At 20.28.
2. Cristo resgatou-nos da maldição e da morte
para termos vida eterna e sermos Sua herança Ef
Características do sermão expositivo:
1.18.
3. Cristo adquiriu-nos não com prata e ouro,
mas com o preço do sangue imaculado 1 Pe 1.18.
1. Unidade. Não é um mero comentário de textos
4. Os cristãos são propriedade de Deus, são Seu
povo, e não pertencem mais ao mundo 1 Pe 2.20. bíblicos e, sim, uma análise pormenorizada e lógica
do texto sagrado.
CONCLUSÃO: Se temos tais privilégios e honras,
vivamos para Deus e, dentro de nossas forças e com 2. Presta-se melhor à exposição contínua de um
Sua graça, realizemos Sua vontade e Seu propósito
livro bíblico inteiro ou de uma doutrina.
no mundo; anunciemos as virtudes dAquele que "nos
chamou das trevas para Sua luz", do nada para Sua 3. É de grande valor para o desenvolvimento do
glória, da morte para a salvação, da terra para o céu.
poder espiritual e da cultura teológica do pregador e
de sua congregação.
3 – O SERMÃO EXPOSITIVO:
O sermão expositivo tira da Palavra de 68 KOLLER, op. cit., p. 17.
69 BRAGA, op. cit., p. 47.
4. Inclina-se mais à interpretação natural das coisas do reino de Deus. "Senhor, não te importas de
que minha irmã me deixe servir só?"
Escrituras do que à alegórica.
5. É o método mais difícil, apreciado pelos que se 5. Desse modo, os cristãos que andam
assoberbados de serviços e negócios não dispõem de
dedicam à leitura e ao estudo diário e constante da
tempo:
Bíblia.
- para falar com o Senhor em oração;
- para ler Sua Palavra e nela meditar;
Exemplo de sermão expositivo: - para dar testemunho do poder salvador de Jesus;
- para ir à igreja ou tomar parte das atividades
eclesiásticas.
TEMA: DOIS TIPOS DE CRISTÃOS
II. Cristãos que se preocupam mais com o aspecto
TEXTO: Lucas 10.38-42 espiritual da vida cristã do que com o material v. 42.
INTRODUÇÃO: Todos os cristãos são discípulos de 1. Maria sabia que era seu dever ajudar a irmã
Jesus, sendo salvos por Sua divina graça; mas nem no serviço doméstico; entretanto, sentia que maior
todos são iguais. De fato, estudando as atitudes das era o dever de ouvir e aprender de Jesus aquilo que
duas discípulas de Betânia, Marta e Maria, a quem o ninguém poderia ensinar melhor do que Ele.
Senhor amava e em cuja casa gostava de estar, 2. Os serviços domésticos, sempre ela os poderia
descobrimos nelas dois tipos de cristão. Vejamos, fazer, mas ouvir a Palavra da vida dos lábios de Jesus
pois, em face do texto, quais são esses tipos. era raro. Por esse motivo, não queria perder tal
oportunidade. Assim deve proceder todo cristão.
I. Cristãos mais preocupados com o aspecto 3. Não há prejuízo, mas somente lucro em
material da vida cristã do que com o espiritual v. 40. pararmos um pouco as atividades materiais ou
1. Marta, não obstante ter sido uma boa crente, nossos negócios a fim de nos dedicarmos ao serviço
representa esse tipo de cristão. e interesses do reino de Deus.
2. Notemos que Marta provavelmente estava 4. Os cristãos que submetem seus interesses aos
preparando uma refeição para o Senhor e Seus de Jesus sempre:
discípulos v. 38. - são espirituais;
3. Ou, talvez, após oferecer a refeição, tenha se - são fervorosos;
dedicado a outros trabalhos domésticos, aos quais - não têm preocupações obsessivas de ordem
deu mais importância do que ao aprendizado dos material;
mistérios do reino de Deus, aos pés de Jesus v. 42. - são confiantes na providência e no amor de Deus;
4. Essa atitude arrastou Marta como também - têm paz e tranqüilidade de espírito;
acontece com qualquer cristão aos seguintes - têm satisfação e prazer em ser cristãos;
estados: - escolhem a melhor parte, que jamais lhes será
• Viver preocupado "te preocupas com muitas tirada, e crescem "na graça e no conhecimento de
cousas". Queremos fazer diversos negócios Jesus".
ao mesmo tempo e preocupamo-nos com a
possibilidade do prejuízo ou do fracasso. CONCLUSÃO: A que tipo pertencemos nós? Se do
• Viver ansioso "Marta, estás ansiosa". A tipo de Maria, somos bem-aventurados. Entretanto,
ansiedade é fruto de alguma preocupação de não nos devemos orgulhar disso, mas persistir
ordem material ou moral, a falta de humildemente no mesmo caminho. Se, porém,
confiança na providência de Deus. Ela pode somos do tipo de Marta, atendamos às advertências
gerar graves distúrbios físicos com carinhosas do Senhor e mudemos de rumo para
conseqüências fatais. nossa felicidade e para a glória de Seu nome.
• Viver perturbado "Marta, andas
perturbada". O cristão que coloca os valores A APRESENTAÇÃO DO SERMÃO
materiais em primeiro plano em sua vida
não pode deixar de ter perturbações, porque
quase sempre confia mais em sua própria Existem três métodos típicos de
habilidade do que no Senhor, para
solucionar seus problemas. apresentação do sermão: a leitura do sermão, a
memorização parcial da mensagem e a pregação
Censurar os cristãos mais espirituais ou chamá-
los de fanáticos, porque preocupam-se mais com as sem anotações.
a) Leitura - É muito comum nos meios políticos 1. O pregador fica preso à leitura e pode perder o
apresentar um discurso sob forma de peça literária contato com o auditório, não observando com
(numa assembléia, na Câmara, no Senado, em segurança suas reações.
solenidades públicas, quando o presidente fala em 2. O pregador fica prejudicado na arte da
cadeia nacional de televisão e rádio, nos fóruns, nos gesticulação, fator importante para enfatizar as
comícios políticos etc.). palavras e manter presa a atenção do auditório.
3. O sermão pode se tornar monótono e de tom
Vantagens da leitura do sermão:
acadêmico.
4. Cansa muito o pregador.
1. Demonstra a habilidade do pregador para
5. Exige muito tempo para ser escrito.
escrever ou redigir. Isto é importante, porque o
6. Tira a espontaneidade, o contato pessoal e a
pregador pode tornar-se escritor ou jornalista e
vivacidade.
estará capacitado a enfrentar polêmicas na
7. Restringe a liberdade mental do pregador de
imprensa.
reformular, adaptar e improvisar na hora.
2. Habilita o pregador a ter e desenvolver um estilo
8. Não é simpático ao povo; o pregador perde o
sempre correto, perfeito e atraente, visto que se
crédito intelectual e o prestígio.
empregam as palavras com bastante cuidado e
9. Nem todo pregador sabe ler de maneira que
segurança.
impressione e atraia.
3. Aprimora o conhecimento preciso da língua
portuguesa. O pregador pode consultar um
b) Memorização parcial - Na memorização
dicionário e uma gramática antes do discurso.
parcial, a mensagem é escrita, memorizada,
4. A argumentação é distribuída em ordem mais
parcialmente decorada (introdução, frases
lógica e mais convincente.
importantes e conclusão) e parcialmente recitada.
5. Os componentes do sermão são também
distribuídos em ordem lógica e proporcional.
Vantagens da memorização parcial do sermão:
6. Conserva melhor a unidade do sermão.
7. Evita que o pregador vá para o púlpito nervoso e
1. Possui as mesmas vantagens já estudadas no
preocupado com o que tem a dizer.
método anterior.
8. Exige menos tempo para dizer o que tem de ser
2. Possui ainda a vantagem de exercitar e
dito.
desenvolver a memória.
9. Podem-se citar mais textos bíblicos e com maior
3. Deixa o pregador livre para gesticular e estar em
precisão.
contato direto com seu auditório.
10. O sermão pode ser reproduzido a qualquer
4. Parece mais natural.
tempo, sem prejuízo de um só pensamento, ou
5. Impressiona mais e produz melhores efeitos.
publicado em qualquer ocasião.
11. Fixa a mente do pregador no texto ou tópico-
Desvantagens da memorização parcial do
base.
sermão:
o que põe em risco todo o sermão, em virtude da 1. O pregador gasta menos tempo no preparo
perturbação emocional que isso produz no literário do sermão.
pregador e da má impressão que causa no 2. O pregador habitua-se a pensar logicamente.
auditório. 3. O pregador habitua-se a pensar rapidamente.
2. Pode levar o orador a generalizar e a fazer 4. Os textos ficam livres.
dissertações vagas no desenvolver do discurso. 5. O contato psicológico entre o pregador e o
3. O estilo não será tão apurado e elegante como o auditório não sofre solução de continuidade.
dos sermões escritos. 6. Dá oportunidade ao pregador de usar ao máximo
4. O pregador pode perder o hábito de escrever os recursos naturais de sua imaginação e de sua
bem, visto que tem facilidade para falar livremente. oratória.
5. O sermão não pode ser reproduzido com os 7. O pregador fica livre para expandir seu
mesmos pensamentos, idéias, imagens e figuras de temperamento entusiasta e ardoroso, podendo
retórica da ocasião anterior. tornar-se vibrante, eloqüente e impressionante.
8. O pregador pode dispor de mais tempo no
c) Pregação sem anotações (de enunciação livre) preparo das partes essenciais dos sermões.
- Pregar sem manuscrito nenhum é a arte mais 9. O pregador fica livre para aproveitar a
sublime e difícil da homilética. Poucos pregadores iluminação e o auxílio do Espírito, bem como para
dominaram essa arte. O famoso orador Cícero (106- utilizar idéias, palavras e ilustrações que ocorram
43 a. C.), que cativou a capital do Império Romano no momento.
com sua eloqüente oratória, declarou: 10. Este era o método usado por Jesus e Seus
apóstolos.
"Na alocução, em seguida à voz e à
11. É o método mais popular e consagrado na
eficácia, vem a fisionomia; e esta é
dominada pelos olhos. O poder de história da oratória sacra.
expressão do olhar humano é tão
grande que, de certa maneira, ele
determina a expressão do Desvantagens do sermão sem anotações:
semblante todo". 70
precisão, rapidez e lógica, de maneira que seus memorização. Todavia, deve-se evitar a fala
pensamentos sejam claros, simples e de fácil improvisada (sem estrutura, totalmente espontânea
2. Deve cuidar do aperfeiçoamento de sua manuscrito). A maioria dos pastores usa notas,
linguagem e estilo, ora enriquecendo seu evitando desta maneira investir horas na
4. Deve evitar levar notas escritas para o púlpito, as transições básicas, o esquema do sermão, as
esboço, a fim de não ficar escravo das notas e poder 2. O sublinhar das frases fundamentais com
falar com maior liberdade de ação. cores diferentes também ajuda na memorização.
6. Não deve esquecer o cuidado com a saúde, a fim 3. A memorização em voz baixa, talvez no
de ter força e boa disposição física para pregar. escritório, é outra ajuda.
sempre o auxílio e a iluminação do Espírito Santo, prédica, para rever a mensagem, é um método
seja o mais livre possível em suas pregações e que 6. Certos pregadores apresentam sua prédica
tenha o contato visual mais íntimo possível com o primeiro para a esposa.
ouvinte, lembramo-nos do velho bispo Edwin H. 7. Sabe-se de alguns pregadores que pregam em
Hughes que, aos 76 anos de idade, comentou o voz alta na igreja diante de bancos vazios, ou no
pecado mais comum dos pregadores, escrevendo: gabinete pastoral, como forma de memorização.
8. Escrever toda a mensagem primeiro e depois
"Espontaneidade... Esta tentação surge memorizar várias vezes as partes principais parece
quando chegamos à meia-idade... É
ser o método mais prático.
devastação que assola ao meio-dia ... O
hábito de escrever não é apenas mestre que
dirige a indústria, é guarda contra o
desleixo... Tremo ao recordar que quase
sucumbi... Se somos desleixados em nossa 72 HUGHES, E. H. I was made a minister. NY e Nashiville, 1943,
preparação, não somos criaturas decentes. pp. 311-314.
L
e .A apresentação pública do sermão. Uma boa
apresentação não compensa uma prédica regular, Onde ler mais!
mas uma apresentação pública fraca diminui o
testemunho e o brilho da boa prédica. Portanto, ACIOLI, Daniel Sales. Do púlpito a palavra de Deus.
1999. Edição do autor.
uma boa apresentação pública da prédica é idônea
e indispensável à nossa vocação ministerial. BARTH, Karl. A proclamação do evangelho:
homilética. 3a Ed. São Paulo: Novo Século, 2004. 68p.
3. Nossa apresentação é total, isto é, envolve GOMES, Geziel Nunes. Prega a palavra. 6a Ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 1991. 93p.
gestos, atitudes e aparência. Somos embaixadores
de Cristo com todo nosso ser. Então, todo nosso KEY. Jerry Stanley. José da Silva, um pregador leigo:
seus problemas, suas dúvidas, suas experiências, suas
ser, e não apenas o falar, deve fazer transparecer a vitórias. 7a Ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1988.110p.
majestade, a glória e a sinceridade divinas, porque a
KNOX, John. A integridade da pregação. São Paulo:
Palavra de Deus nos promete: "Quem vos der ASTE, s. d. 94p.
ouvidos, ouve-me a mim..." (Lc 10.16). JOWETT, John Henry. O pregador sua vida e obra. São
Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1969. 158p.
esgotar um assunto de tão grande relevância. Mas REIS, Romeu Ritter dos. O púlpito evangélico. São
se ao final deste estudo, tivermos despertado o Paulo: Casa Editora Presbiteriana. s.d. 164p.
gosto dos alunos pela matéria, e ao mesmo tempo ROBINSON, Haddon W. (Ed.). Como aplicar os
princípios da pregação bíblica. Rio de Janeiro: CPAD,
aguçado a vontade de se estudar homilética com 2001. 272p.
mais afinco, nos damos por satisfeitos.
SALVIANO, Nelson. A arte de pregar: como
compartilhar sua fé através da pregação. Belo Horizonte:
edição do autor, 1999. 160p.
Deus tinha apenas um Filho,
e fez Dele um pregador! SILVA, Plínio Moreira da. A arte de pregar o
evangelho.4a Ed. São Paulo: ELEVA, 1986. 120p.
4 Estrutura do livro
Testamento? Se era, porque não estabeleceu o
reino prometido? Esse reino será estabelecido
algum dia? Qual o propósito de Deus para este
1. Nascimento e a preparação de Jesus (1.1-4.16)
ínterim? Assim, neste Evangelho, Jesus é
a) O nascimento e a infância (1.1-2.23)
frequentemente chamado de Filho de Davi e é
b) a preparação para o ministério (3.1-4.16)
apresentado como aquele que cumpre as profecias
2. O ministério público na Galiléia (4.17-16.20)
messiânicas do Antigo testamento; o reino 74
dos
a) Começo do ministério público (4.17-25)
céus 75
é o assunto central de boa parte de Seu
b) Os ensinamentos de Jesus sobre o
ensino aqui registrado 76.
discipulado, (5.1-7.29)
c) A autoridade de Jesus se manifesta 73 ELWELL, 2002, p. 79-80.
(8.1-9.34) 74 A palavra “reino” aparece mais de 55 vezes em Mateus, pois este
é o Evangelho do Rei.
d) O ministério do discípulos (9.35-11.1) 75 A expressão “reino dos céus” aparece 35 vezes aqui e não figura
em nenhum outro dos evangelhos. Das 15 parábolas registradas em
e) O ministério de Jesus é alvo de várias
Mateus, só três não começam com a expressão “O reino dos céus é
reações (11.2-12.50) semelhante a ...”
76 BER, 1994, p. 1181.
U
voz”: “Voz do que clama no deserto: Preparai o
1. Nascimento e a preparação de Jesus (1.1-4.16) sem nome, seria o arauto de Jesus Cristo. Teria
duas funções: a de voz e a de mensageiro.
Mateus é o evangelho do Messias, o
Fazendo jus ao seu nome, João o Batista
Ungido de Deus. O propósito principal neste livro é
batizou Jesus (Mt 3.13-17), vindo em seguida, O
mostrar que o Jesus de Nazaré é o Messias predito,
Espírito Santo sobre Jesus.
o Libertador, de quem Moisés e os profetas
escreveram: “...cujas origens são desde os tempos
2. O ministério público na Galiléia (4.17-16.20)
antigos, desde os dias da eternidade” (Mq 5.2 ARC).
Jesus nasceu em Belém da Judéia (Mq 5.2; O Senhor Jesus deixa sua vida pessoal e
Mt 2.1), nos dias do rei Herodes. A época e local são particular e ingressa em seu ministério público.
definidos historicamente, o que não deixa margem Mas, já começa com uma crise. Foi levado ao
para contestação por parte de críticos e de deserto a para enfrentar o primeiro grande conflito
incrédulos. do seu ministério público.
Devido ao fato de o evangelho de Mateus Satanás ofereceu-lhe um atalho para
ser direcionado aos judeus e consequentemente alcançar o reino universal que ele viria ganhar por
por apresentar o Senhor como Rei, Mateus meio do caminho longo e doloroso da cruz, mas
apresenta a genealogia 77
de Jesus. Mateus traça a Cristo veio primeiro para ser Salvador e, então
linhagem de Jesus até Abraão e Davi a fim de Senhor. Jesus, porém, saiu vitorioso.
mostrar que ele era judeu descendente de da Todo o reino precisa ter leis e padrões para
linhagem real de Davi. Daí talvez porque só Mateus governar seus súditos. O reino dos céus não
relate a visita dos magos do Oriente que vieram constitui exceção. Jesus declarou ter vindo não para
para adorar o Rei dos judeus (Mt 2.1-12). destruir a lei, mas para cumpri-la. Jesus disse que
A visita dos magos acabou desencadeando toda reforma que inicia de fora para dentro está
uma perseguição ao recém-nascido Jesus e então começando do lado errado. Cristo inicia do interior
sua família foge para o Egito para que ele não seja para o exterior. Do elevado de um monte, Jesus
morto, e só retornam quando tomaram pregou o sermão que contém as leis do seu reino
conhecimento de que Herodes, o perseguidor havia (Mt 5-7). Leia esses três capítulos e recorde o mais
morrido (Mt 2.13-23). maravilhoso de seus discursos. Está repleto de
Eis que surge um profeta! João Batista (3.1- ensinamentos. Cristo mostra que o pecado não
12). Assim como o Senhor Jesus ele também foi consiste apenas no ato cometido, mas também no
predito no Antigo Testamento. O profeta Isaías, ao motivo que o provocou (v. Mt 5.21,22,27,28).
falar da vinda do Messias, o Servo Jeová, menciona Ninguém pode esperar perdão se não perdoa (Mt
um personagem conhecido simplesmente como “a 6.12,14,15).
O Senhor Jesus define a natureza e os
77 GENEALOGIA: é o estudo da origem das pessoas e das famílias.
limites do reino, as condições de entrada, suas leis,
Há duas genealogias de Cristo: uma em Mt 1.1-17, e a outra em Lc
3.23-38. Não são iguais, e a razão é que cada uma delas traça a seus privilégio e recompensas. O Sermão do Monte
ascendência de Cristo com um propósito diferente.
✍
oposição. Os escribas, com seu espírito crítico,
entram em cena agora e passam a julgar com Formas literárias
hostilidade os atos de Jesus (Mt 9.3).
Mateus, a exemplo de outros evangelhos, é
Jesus não só pregou, mas também reuniu
mais bem descrito como uma biografia teológica.
outros ao seu redor. Ele separou alguns para serem
Praticamente nenhum detalhe do livro tem apenas
mais próximos dele: os discípulos. Em Mt 10.1-42 e
interesse histórico. Mateus estava tentando
11.1, temos o nome dos discípulos, bem como
transmitir aos seus leitores sua maneira de
advertências e instruções aos seus discípulos.
entender o cristianismo. Motivação teológica, a Ele o seu lugar legítimo, o de Rei da nossa vida.
porém, não exclui a confiabilidade histórica. A Por Jesus ter sido enviado por Deus,
historiografia antiga valorizava sempre a exatidão e podemos confiar-lhe nossa vida. Reconhecê-lo
também a ideologia. como salvador e Senhor e entregar-nos a Ele vale
Como o evangelho de Mateus é mais do que tudo o que temos, porque Ele é o
interpretado segundo as convenções literárias da nosso Messias. A única maneira de entrar no Reino
época, que na maioria das vezes, não fazem de Deus é pela fé – crendo em Cristo, para que Ele
questão dos padrões modernos de narrativa, nos salve do pecado e mude nossa vida. Devemos
podemos presumir sem dificuldades que seus praticar agora as obras pertinentes a s seu Reino e
relatos são confiáveis em termos históricos. estar preparados para a volta de nosso Senhor.
Todavia, a razão para serem incluídos é quase O ensinamentos de Jesus nos mostram
sempre teológica. 78
como devemos preparar-nos para seu Reino terno,
G
tendo atitudes corretas no presente, pois assim
como Ele viveu o que ensinou, nós também
Propósito e teologia
devemos praticar aquilo que pregamos.
Jesus é revelado como o Rei dos reis. Seu A ressurreição de Jesus demonstra a vida
nascimento miraculoso, sua vida, seus poderosa que só Ele tem a oferecer-nos, pois nem
ensinamentos, milagres e seu triunfo sobre a morte mesmo a morte pôde impedir seus plano de vida
revelam a verdadeira identidade dEle. eterna para nós. Aqueles que crêem em Jesus
Jesus é o Messias, aquele que os judeus podem esperar por uma ressurreição como a dEle.
esperavam, para libertá-los da opressão romana. Nossa tarefa é divulgar sua história a toda a
Contudo, tragicamente, não o reconheceram humanidade, para que todos possam compartilhar
quando veio, porque seu Reino não era exatamente a sua vitória.79
L
Libertador ungido de Deus era morrer por todas as
pessoas para libertá-las da opressão do pecado. Onde ler mais!
Jesus veio à terra para dar início a seu JENSEN, Irving L. Mateus: estudo bíblico. São Paulo: Mundo
Cristão, 1984. 111 p. (Série Mundo Cristão).
Reino, que será totalmente estabelecido por
TASKER, R. V. G. Mateus: introdução e comentário. São
ocasião da sua volta. Este governo será constituído Paulo: Vida Nova, 1991, 176 p. (Série Cultura Bíblica).
✐ Anotações
- Mensagem para hoje
____________________________________________
____________________________________________
Jesus não pode ser comparado a qualquer ____________________________________________
outra pessoa. Ele é o Governador supremo do ____________________________________________
tempo cronológico e da eternidade, do céu e da ____________________________________________
terra, dos seres humanos e dos anjos. Devemos dar ____________________________________________
78 DOCKERY, 2001, p.579. 79 BAP, 2004, p. 1209-1210.
(8.27-15.47)
a) a viagem a Jerusalém, (.8.27-15.47)
b) Jesus enfrenta Jerusalém (11.1-13.37)
c) Jerusalém se opõe a Jesus (14.1-15.47)
O Tema
4 Estrutura do livro
cruz. Segundo o Evangelho de João, Jesus fez pelo
menos cinco visitas a Jerusalém. Mateus e Lucas
registram mais dos ensinamentos de Jesus do que
1. Prólogo temático: O evangelho de Jesus
Marcos, mas o objetivo de Marcos é diferente.
Cristo, Filho de Deus (1.1-15)
Usando detalhes históricos, apresenta uma
a) início do evangelho (1.1)
narrativa ampla do que os apóstolos pregavam a
b) a pregação de João Batista (1.2-8)
respeito da cruz de Cristo (At 1.21-22; 2.22-24; 1 Co
c) a tentação de Jesus no deserto (1.12,13)
2.2)81
d) o início da proclamação de Jesus (1.14,15)
2. Jesus invade o deserto e a cidade com as
boas-novas (1.16-8.26)
a) o ministério inaugural de Jesus na
U Conteúdo do livro
b) o ministério itinerante (3.7-6.29) da vida de Jesus, mas esses anos todos foram
c) Jesus e retira para o deserto além da necessários à sua preparação humana para a obra
d) a missão dos gentios (7.24-8.10) João Batista preparando o povo para a vinda do
d) questões relativas a sinais e visões Messias (1.2). João e Jesus encontraram-se. Ele logo
submeter-se ao batismo de arrependimento que último conflito com autoridades judaicas e de seu
pregava (Mt 3.14). Após ser batizado “o Espírito o triunfo sobre os líderes religiosos, 11.27-12.44. Jesus
impeliu para o deserto” (Mc 1.12). A seguir do procurou persuadir os judeus como Messias.
capítulo 1.14 ao 8.30 temos um registro ininterrupto Depois que Jesus respondeu a todos eles, lemos: “E
de ações de Jesus, tanto em palavras quanto através já ninguém mais ousava a interrogá-lo”, 12.34.
de milagres: Antes de Jesus ir para a cruz, revela o
* demônios expulsos, 1.21-28 futuro aos conturbados discípulos em seu discurso
* a febre repreendida, 1.29-31 no monte das Oliveiras (cap. 13).
* várias doenças curadas, 1.32-34 A trama os principais sacerdotes para
* leprosos purificados, 1.40-45 apanhá-lo astuciosamente e o matarem e a unção
* um paralítico anda, 2.1-12 do seu corpo para a sepultura abrem o cap. 14. Em
* a cura da mão ressequida seguida, vem a história sempre triste da traição por
* multidões curadas, 3.6-12 parte de um dos discípulos (14.10,11); a celebração
* a tempestade apaziguada, 4.35-41 da Páscoa e a instituição da ceia do Senhor estão
* um endemoninhado liberto, 5.1-15 comprimidas em 25 breves versículos.
* fluxo de sangue estancado, 5.21-34 Acrescentado o insulto à injúria, lemos a negação
* a filha de Jairo ressuscitada, 5.35-43 de Pedro (14.26-31, 66-71).
* cinco mil alimentados, 6.32-44 Depois que o Servo deu a vida em resgate
* Jesus anda por sobre as águas, 6.45-51 por muitos, ressuscitou dos mortos. Vem em
* todos os que o tocam são curados, 6.53-56 seguida a Grande Comissão (16.15), também
* surdos e mudos ouvem e falam, 7.31-37 registrada em Mateus 28.19, 20. Finalmente, foi
* quatro mil são alimentados, 8.1-9 recebido no céu para sentar-se à destra de Deus,
* o cego curado, 8.22-26 16.19.
humanidade de Jesus, também é bastante singular, Quando o Senhor Jesus ressuscitou dos
1.41; 3.5; 4.38; 6.6; 11.12; 14.33) e sua ênfase na mortos, provou que é Deus, pode perdoar os
dificuldade em ser discípulo.83 pecados e tem o poder para mudar nossa vida.
G
Confiando em seu perdão, podemos iniciar uma
nova vida ao seu lado, e o fizermos nosso guia. Por
Propósito e teologia
causa do exemplo de Jesus, também devemos estar
Somente Jesus Cristo é o Filho de Deus. No dispostos a servir a Deus e a nossos semelhantes. A
livro de Marcos, a divindade de Jesus é verdadeira grandeza do Reino de Cristo pode ser
demonstrada por meio de seu poder, que o fez vista no serviço e no sacrifício que Ele realizou. A
vencer as enfermidades, o Diabo e morte. Embora ambição e o amor ao poder ou à posição não devem
tivesse o poder para reinar na terra, Ele preferiu ser as nossas motivações; devemos fazer a obra de
obedecer ao Pai e morrer por nós. Deus por amor a Ele.
Jesus cumpriu as profecias do Antigo Quando mais nos convencermos de que
Testamento ao vir à terra como Messias. Ele não Jesus é Deus, mais o seu poder e amor se tornarão
veio como um rei conquistador, mas como um evidentes para nós. As poderosas obrade Jesus nos
servo. Ajudeou as pessoas, curando-as e falando- mostram que Ele é capaz de salvar quaisquer
lhes a respeito de Deus. Além disso, ao dar sua vida pessoas, a despeito do passado delas. Seus milagres
em sacrifício para apagar nossos pecados, realizou e seu perdão trazem a cura e o completo bem-estar,
o maior serviço em prol da humanidade. Seus transformando a vida daqueles que nEle confiam.84
milagres foram mais enfatizados do que os seus
sermões, a fim de demonstrar que Ele é um homem
de poder e ação, não apenas de palavras. Jesus fez
milagres para convencer as pessoas sobre quem
L Onde ler mais!
realmente era e para confirmar aos seus discípulos HENDRIKSEN, William. Exposição do Evangelho de Marcos.
São Paulo: Cultura Cristã, 2003, 880 p. (Comentário do Novo
suas verdadeira identidade: Deus. Testamento).
Primeiro Jesus pregou sua mensagem aos JENSEN, Irving L. Marcos: estudo bíblico. São Paulo: Mundo
Cristão, 1984. 118 p. (Série Mundo Cristão).
judeus. Mas, quando os líderes judaicos se lhe
MULHOLLAND, Dewey M. Marcos: introdução e
opuseram, jesus também se dirigiu ao mundo comentário. São Paulo: Vida Nova, 2005, 240 p. (Série Cultura
Bíblica, v. 2).
gentílico, pregando as Boas Novas do Reino e
curando. Soldados romanos, sírios e outros gentios
ouviram o evangelho. Muitos creram e seguiram-
no. A mensagem final de Jesus aos seus discípulos
os desafiou a dirigirem-se ao mundo inteiro, a fim
homem ideal para essa tarefa, e apresenta Jesus f) a crucificação e o enterro (23.26-56a)
4 Estrutura do livro
O Tema
1. Prólogo: um relato confiável da história da
salvação (1.1-4). O principal de interesse de Lucas é pela
2. A preparação para o ministério de Jesus (1.5- história do que Deus realizou em Jesus para trazer
4.13). a salvação aos pecadores. Lucas deixa claro que esta
a) a previsão de dois nascimentos (1.5-56)
salvação está disponível aos pecadores e uma
b)o nascimento de dois meninos (1.57-2.52)
grande preocupação pelas pessoas de má
c) o ministério de João Batista: preparação
reputação, negligenciadas na religião
para o Senhor (3.1-20)
contemporânea, mas que podiam encontrar a paz
d) Jesus: no poder do Espírito Santo para o
na salvação de Deus. Lucas registra várias profecias
ministério (3.21-4.13)
do sofrimento e da morte de Cristo e dedica muito
espaço a isso. Também se faz presente no livro de
3. Jesus proclama a Salvação na Galiléia no
poder do Espírito (4.14-9.50). Lucas o pensamento de que o reino de Deus virá
com poder nos tempos finais está certamente
a) proclamação das boas novas na Galiléia presenta na sua (12.35-48; 17.22-37; 21.25-36).86
(4.14-5.16)
b) conflito com os fariseus (5.17-6.11) 85 ELWELL, 2002, p. 100.
86 BEG, 1999, p. 1179.
U
* A ressurreição da filha de Jairo, 8.49-56
em 7.18-35 e 11.14-23.87
✍ Formas literárias
G Propósito e teologia
Lucas é um evangelho, uma obra literária
que só se encontra na Bíblia. O relato flui como Lucas descreveu como o Filho de Deus
uma narrativa. Ele é mais que uma biografia, entrou na História. Jesus viveu de forma exemplar,
porque seleciona seu material e tem uma foi Homem perfeito. Depois de um ministério
mensagem teológica a transmitir. É história, mas perfeito. Ele se entregou como sacrifício perfeito
história seletiva. Não dá detalhe algum da infância pelos nossos pecados, para que pudéssemos ser
de Jesus. Passa-se diretamente do nascimento para salvos. Ele estava profundamente interessado nas
o seu ministério, com exceção de um incidente pessoas e nos relacionamentos interpessoais.
quando ele tinha doze anos de idade e da breve Mostrou uma calorosa preocupação com seus
interposição do ministério de João Batista. Um seguidores e amigos, fossem homens, mulheres ou
evangelho é uma explanação teológica e pastoral da crianças.
importância e do impacto da vida, morte e Como o Homem perfeito, Jesus mostrou
ressurreição de Jesus. Portanto, os personagens, o uma compaixão sublime pelos pobres, desprezados,
cenário e as mudanças de tempo e lugar, atitude e feridos e pecadores. Ninguém foi rejeitado ou
sequência de eventos fazem parte do relato do ignorado por Ele.
ministério de Jesus. O Espírito Santo estava presente no
Todos os evangelhos contam a sua maneira nascimento, no batismo, no ministério e na
os fatos que cercam Jesus, e às vezes não os ressurreição de Jesus. Como um exemplo perfeito
apresentam em sua ordem histórica ou cronológica para nos, Jesus viveu na dependência do Espírito.
mas seguindo seus objetivos temáticos. Um sinopse
mostra facilmente essas redisposições (compare Mc
6.1-6 com Lucas 4.1-13), ou a ordem das tenções em
Mt 4.1-11 com Lc 4.1-13). A narrativa de Lucas é
- Mensagem para hoje
dominada por dois cenários: a reunião dos Jesus é o nosso Líder e Salvador perfeito.
discípulos na Galiléia (4.14-9.50) e a viagem para Ele oferece perdão a todos aqueles que o aceitam
Jerusalém. Durante a viagem, a rejeição aumenta, e como Senhor de sua vida e crêem que aquilo que
Jesus prepara s discípulos para a sua partida (9.51- Ele diz é a verdade. Lucas forneceu detalhes, a fim
19.44). Aí podemos encontrar os elementos centrais de que possamos crer na confiabilidade da história
no evangelho de Lucas. da vida de Jesus. Podemos crer com certeza que
Lucas também tem muitos relatos de Jesus é Deus!
milagres e muitas parábolas. Estas enfatizam o O amor de Jesus pelas pessoas é uma boa
pode e o ensino de Jesus. Lucas tem mais parábolas nova a todos. Sua mensagem é para todas as
que qualquer outro evangelho. A maioria trata ou pessoas, de todas as nações. Casa um de nós tem
do plano de Deus ou da vida do discípulo. A uma oportunidade de responder a Ele com a nossa
explicação dos seus milagres e do significado está fé. Jesus é mais que um bom Mestre, Ele se importa
87 DOCKERY, 2001, p.625.
JOÃO
pessoas a viverem para Cristo. Pela fé, podemos ter
a presença e o poder do Espírito Santo que habita
em cada um de nós; podemos testemunhar sobre
Cristo e servir a Deus.88
vida eterna
L Onde ler mais!
MORRIS, Leon L. Lucas: introdução e comentário. São Paulo:
por intermédio
Vida Nova, 200, 330 p. (Série Cultura Bíblica, v. 3).
do seu nome
✐ Anotações
O livro de João foi escrito para provar que
____________________________________________ Jesus era o Cristo, o Messias, o Ungido de Deus
____________________________________________ prometido (para os judeus) e o Filho de Deus (para
____________________________________________ os gentios); tinha em mira levar seus leitores a crer
____________________________________________ nele a fim que, crendo, tivessem vida em seu nome
____________________________________________ (20.31).
____________________________________________
____________________________________________
_________________________________________________
4 Estrutura do livro
_________________________________________________
d) a ressurreição (20.1-29)
e) conclusão (20.30,31)
_________________________________________________
4. epílogo (21.1-25)
_________________________________________________
a) o milagre dos 153 peixes (21.1.-14)
b) Jesus e Pedro (21.15-23)
88 BAP, 2004, p. 1337.
U
c) apêndice (21.24,25)89
O
Conteúdo do livro
Tema João inicia seu registro com Jesus Cristo
antes da encarnação, 1.1-18. Quando João Batista
A interação de Jesus com aqueles que não o
entra em cena, começa o grande drama do
receberam embora fossem “seus” (1.11) é um
evangelho de João (1.19). Uma delegação de
enfoque importante do ministério público (cap. 1-
sacerdotes e levitas foi enviada a João para
12). Jesus aparece frequentemente em Jerusalém
perguntar quem ele dizia ser. Disse-lhes que não
por ocasião das festas judaicas. Estas festas têm
era o Messias; nem mesmo Elias ou qualquer outro
especial importância por causa do modo como
profeta de que Moisés falara, mas simplesmente “a
Jesus relaciona a sua própria obra com o que elas
voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho
significam (7.37-39). Apesar deste ministério, sua
do Senhor”.
nação não o recebeu, um fato que João explica
Os discípulos de Jesus convenceram-se da
como resultado do pecado humano. Jesus é
sua divindade no primeiro milagre que realizou ao
rejeitado não porque ele é um estranho, mas
transformar água em vinho. Ele falou e aconteceu,
porque as pessoas amam mais as trevas que a luz.
2.1.
O Evangelho de João faz uso de contrastes
Ao contrário dos demais evangelistas, João
bem marcados: luz e trevas (1.4-9), amor e ódio
narra o início do ministério de Jesus em Jerusalém,
(15.17,18), de cima e de baixo (8.23), vida e morte
2.13-22. É lá que que Jesus ensinou a Nicodemos
(6.57,58), verdade e falsidade (8.32-47). outros
sobre a vida eterna, 3.1-21. Em seguida Jesus revelou
traços distintivos aparecem no tema da má
a uma mulher a verdade de sua obra messiânica
compreensão (2.21; 6.51-58), no uso de duplo
(4.1-30). Já na Galiléia , Jesus cura o filho de um
sentido (3.14; 6.62) e no papel dos ditos “Eu sou”
oficial do rei, bem como o leva a confessá-lo como
(6.35).
Senhor, 4.46-54.
João destaca de vários modos a realidade
O milagre da alimentação de 5 mil pessoas
do pecado, mas especialmente pela ênfase na nossa
foi encenada. Jesus era o próprio pão do céu.
total dependência de Deus para a salvação. Assim
Queria mostrar-lhes que ele podia dar satisfação e
como nosso nascimento físico não foi o resultado
alegria a todos os que confiassem nele, 6.35.
de nosso próprio esforço ou desejo, também nosso
O povo fica dividido por causa de Jesus,
nascimento espiritual não depende de nós, mas da
7.40-44, a incredulidade gera nos incrédulos
vontade de Deus e no poder de seu Espírito.
hostilidade, mas nos verdadeiros seguidores a fé
Homens e mulheres pecadores são incapazes de
crescia.
chegar a salvação em Jesus Cristo se não forem
A cura do cego (9.35-41) levou jesus a
atraídos pelo Pai (6.44). Mas quando vêm a Jesus,
revelar-se a ele. Quando o expulsaram por ter
eles têm a “vida eterna” e não entram em juízo”
confessado Cristo, Jesus pronunciou um grande
(5.24); pertencem ao Pai, e ele não os deixará
discurso sobre o bom pastor (101.-42).
morrer (10.27-29).90
A ressurreição de Lázaro é o último “sinal”
89 ELWELL, 2002, p. 110. do evangelho de João. Os outros evangelhos
90 BEG, 1999, 1226.
✍
aqueles que crêem em Jesus.
ATOS
- Mensagem para hoje
4
segui-lo. Mas devemos corresponder a Ele com fé.
Por intermédio do Espírito Santo, somos
Estrutura do livro
atraídos a Deus pela fé. Devemos conhecer o
Espírito para entender tudo o que Jesus ensinou. 1. O testemunho inicial de Cristo em Jerusalém
discípulos foram, e ter a confiança de que o nosso d) Pentecostes: surgimento da Igreja (2.1-
eternamente com Cristo. O mesmo poder que e) o primeiro confronto da Igreja com os
(6.8-7.60)
2. o testemunho inicial de Cristo na Judéia e
Samaria (8.1-12.25) U Conteúdo do livro
a) Saulo, o perseguidor e Filipe o
evangelista (8.1-40) Os discípulos passaram quarenta dias
d) a igreja da Antioquia: Barnabé (11.19-30) de instrução. Ele falava das coisas do reino de Deus;
d) a terceira viagem de Paulo (18.23-21.15) quanto à época em que Cristo iria estabelecer seu
e) a prisão de Paulo em Jerusalém e o reino na terra. Ainda esperavam um reino que lhes
f) A viagem de Paulo a Roma (27.1-28.10) posição de liderança no mundo (1.6). Qual foi a
g) o ministério de Paulo em Roma (28.11- resposta de Jesus (1.7)? Um dia, Jesus os levou para
O
político, mas espiritual (1.8).
13). O Pentecoste era uma das festas mais O quadro da igreja nesse momento era de
populares, e Jerusalém estava repleta de peregrinos união (4.32), havia espontaneidade quanto a
de toda parte. Cinquenta dias havia passado desde distribuição de bens, no entanto tal comunhão
a crucificação. A partir dessa data, o Pentecoste não estava sujeita a abuso e engano (5.1-11).
seria mais uma festa judaica, mas o raiar de um Através dos apóstolos muitos milagres são
novo dia, o dia do nascimento da igreja de Cristo. feitos (5.12-16), mas a contínua oposição resulta-
O Espírito Santo pousou sobre os lhes em prisões (5.17-42).
discípulos (2.1-3). Eles foram cheios do Espírito Com a multiplicação dos criam,
Santo e, assim, estavam capacitados para um avolumam-se os problemas internos entre o povo e
serviço especial. Não só foram capacitados para isto exigiu a instituição de sete auxiliares, os
pregar com poder, mas para falar nas diferentes diáconos (6.1-7). Estes tinham por ofício servir às
línguas representadas naquele dia em Jerusalém mesas e a pregação e a oração. Dentre eles
(2.2-4). destacaram-se Estevão e Filipe.
Devido a mal interpretação de algumas A oposição concentrou-se em Estevão, o
pessoas que não entenderam o que estava que resultou em sua morte. Veja as experiências
acontecendo, pois zombavam (2.13-15), Pedro se registras nos capítulos 6 e 7.
defende contra essa falsa acusação (2.15-31). At 8-12 reflete uma ligeira mudança de
A primeira igreja de Jerusalém foi perspectiva. Os primeiros capítulos enfatizam mais
organizada com 3 mil membros e o conteúdo e o impacto da mensagem pregada. At
“Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, 8-12 continua esse foco, mas também se interessa
dia a dia, os que iam sendo salvos” (2.47)
em uma série de pessoas individualmente. A fim de
O cap. 3 inicia junto à porta do templo tornar mais forte a reação da Igreja Primitiva ao
chamada Formosa. Pedro havia curado um coxo de mandato de Jesus (“sereis minhas testemunhas,
nascença que era colocado diariamente naquele tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e
lugar para pedir esmolas. O milagres atraiu a Samaria...”), esses capítulos retratam habilmente o
atenção dos líderes judeus e resultou na primeira impacto do evangelho sobre diversas vidas em
oposição à igreja. particular. Geralmente, o impacto envolve a
Ao juntar-se uma multidão ao redor do aceitação de Cristo. Em alguns casos, envolve
coxo curado tão milagrosamente, Pedro aproveitou repreensão e também julgamento pela
a oportunidade para pregar seu segundo sermão. desobediência a Cristo. Em todos os casos, esse
As palavras de Pedro e João foram tão poderosas trecho de Atos mostra o conhecimento pessoal de
que um total de 5 mil pessoas aceitassem a Cristo. Deus e o interesse na vida de todas as pessoas,
Os líderes religiosos da época revoltaram- fossem judeus (como Jesus e os que estavam em
se porque os apóstolos ensinavam ao povo que esse sua volta) ou gentios.
Jesus a que eles haviam crucificado ressuscitara dos Algumas dessas pessoas são personagens
mortos e iria voltar (4.2). Pedro e João foram secundários n escopo geral da formação da Igreja
presos, e levados perante ao Sinédrio foi lhes Primitiva. Outras são fundamentais. Todos são
ordenado que não mais pregassem. Não tendo o afetados pelo mesmo evangelho.
que lhes castigar (4.21) eles os soltaram. Dos que creram:
✍ Formas literárias
DOUTRINA
O autor faz um relato sobre o cristianismo
primitivo. Ele não idealiza a situação, e tampouco
conta tudo o que aconteceu. Nem mesmo todos os
DE DEUS
eventos importantes importantes são tratados. Ele
escolhe o que é importante para ele, para alcançar
CONTEÚDO:
o seu objetivo, e omite, pelo mesmo motivo, o que
lhe parece prescindível. O que é importante para os
seus objetivos ele detalha; e repete o que gostaria I – O ESTUDO DA DOUTRINA
II – A BÍBLIA, FONTE DA DOUTRINA CRISTÃ
de ressaltar de maneira especial. Assim, as notícias III – A EXISTÊNCIA DE DEUS
sobre a igreja primitiva são um tanto resumidas.94 IV – OS NOMES DE DEUS
V – A DEFINIÇÃO DE DEUS
VI – OS ATRIBUTOS (QUALIDADES) DE DEUS
✐ Anotações
O dicionário Webster define teologia da
seguinte maneira:
____________________________________________
Teologia é o estudo de Deus e das relações entre
____________________________________________
Deus e o universo; o estudo das doutrinas religiosas
____________________________________________
e questões de divindade;uma forma específica ou um
____________________________________________
sistema de estudo.
____________________________________________
____________________________________________
O vocábulo TEOLOGIA, vem de duas
____________________________________________ palavras gregas:
_________________________________________________
_________________________________________________
Qeo,j (Deus) e
_________________________________________________ lo,goj (palavra).
_________________________________________________ Pensar, raciocinar a respeito de Deus95.
94 HÖSTER, 1996, 67. 95 Num certo sentido da palavra, é uma ciência, um estudo de Deus e
dos que confiam nele e o seguem. Por isso talvez - A PRÓPRIA NATUREZA PODE SERVIR COMO CANAL ATRAVÉS DO QUAL NOS
documentos todos escritos no mundo antigo, cerca - Sem dúvida, a revelação sumamente perfeita de Deus é concedida
no caráter e na personalidade de seu Filho Unigênito, conhecido no
de 2 a 3 mil anos atrás. Se podemos conhecer o prólogo do Evangelho de João como o LOGOS ou VERBO.
Deus vivo hoje, por que deveríamos incomodar-nos Também, a revelação é um conjunto de verdade
apreendidas ou conhecidas, compreendendo a fé cristã,
com documentos antigos? Mas o fato é que os historicamente registrada nas páginas da Escritura. A palavra
REVELAR vem de três fontes: - Revelo, lat.,- Gala (h), heb.,-
cristão dão, e sempre deram importância central à
Apocalipto, grego. Todos estes termos significam a mesma coisa,
Bíblia. Por quê? “desvendar alguma coisa escondida até aquele momento”.
99 Sócrates, o sábio grego, afirmou que sem uma revelação especial
Não há, naturalmente, nenhuma da parte de Deus, homem nada podia descobrir acerca Dele. Cristo é
necessidade de justificar a importância da leitura esta Revelação, e a Bíblia é o único livro que fala Dele com
autoridade divina absoluta.
contexto dentro da Palavra de Deus. Milagres são existência ou não de Deus. Ela apresenta Deus,
uma revelação de Deus para aqueles que assistiram, como o Criador auto-revelador agindo como
porém, o registro deles na Bíblia, aumenta o seu redentor. Os 66 livros do Antigo e Novo
valor, para todos quanto estudam o seu Testamento encontram sua unidade nesse tema
testemunho nas páginas sagradas. comum. Os livros históricos da Bíblia contam como
O que Deus disse diretamente aos homens, Deus está realizando um grande plano para a
poderia ter sido esquecido ou pervertido com salvação de uma imensa comunidade internacional
facilidade, porém, tem sido conservado em todas a que o Novo Testamento chama de igreja.
sua pureza o registro divino. Da mesma maneira, a Como sabemos que Deus existe? A resposta
Encarnação, a Vida, a Morte e Ressurreição de pode ser dada em duas partes: primeira, todas as
Cristo, tem valor infinito, porém Deus tem pessoas têm uma intuição íntima de Deus.
prometido uma benção para todo aquele que crê no Segunda, cremos nas provas encontradas nas
natureza. Quem olha para o céu, de dia ou de 1. O argumento cosmológico considera o fato de
noite, vê o sol, a lua e as estrelas, o
firmamento e as nuvens, todos declarando que toda coisa conhecida do universo tem uma
continuamente pela sua existência, beleza e
Causa Primeira. Nada do que vemos é sua própria
grandeza que foi um Criador poderoso e
sábio quem os fez e os sustém na sua ordem. causa. Tudo em nossa experiência tem causas fora
101
4. O argumento moral parte do senso humano do que lhes não resplandeça a luz do evangelho da
certo e do errado, e da necessidade da imposição da glória de Cristo” (2Co 4.4).
justiça, e raciocina que deve necessariamente
existir um Deus que seja a fonte do certo e do III.2 – O conhecimento à respeito de Deus
errado e que vá algum dia impor a justiça a todas as
“ E a vida eterna é esta: que te conheçam a
pessoas. ti só por único Deus verdadeiro.” Jo 17.3.
“demais” sobre Deus, pois jamais nos faltarão coisas ele fala conosco pela sua Palavra. Temos comunhão
para aprender sobre ele, e assim nunca nos com ele na sua presença, entoamos seus louvores e
cansaremos de nos deleitar com a descoberta de temos consciência de que ele pessoalmente habita
mais e mais coisas da sua excelência e da grandeza no meio de nós e dentro de nós para nos abençoar
das suas obras. (Jo 14.23). De fato, pode-se dizer que esse
Se desejássemos um dia nos igualar a Deus relacionamento pessoal com Deus Pai, com Deus
em conhecimento, ou se desejássemos encontrar Filho e com Deus Espírito Santo é a maior de todas
prazer no pecado do orgulho intelectual, o fato de as bênçãos da vida cristã.
que jamais cessaremos de crescer no conhecimento
de Deus seria para nós fator desencorajador — IV – OS NOMES DE DEUS
poderíamos sentir-nos frustrados pelo fato de Deus
se revelar um objeto de estudo que jamais Os dicionários em geral definem “nome”
poderemos dominar! Mas se nos deleitamos no fato como ‘aquilo pelo qual a pessoa ou coisa é
de que só Deus é Deus, de que ele é sempre conhecida’. Os hebreus consideravam os nomes
infinitamente maior do que nós, de que somos como uma revelação, encerrando algum atributo
criaturas dele, que lhe devemos culto e adoração, ou característica da pessoa nomeada. No antigo
então essa nos será uma idéia bastante Oriente o nome declarava a natureza e a função da
encorajadora. pessoa.
Embora não possamos conhecer Por exemplo, no nome “Adão” significa “da
exaustivamente a Deus, podemos conhecer coisas terra” ou “tirado da terra”; o seu nome revela a sua
verdadeiras sobre ele. De fato, tudo o que as origem.
Escrituras nos falam sobre Deus é verdadeiro. É Abraão significa “pai de uma multidão”.
verdade dizer que Deus é amor (1Jo 4.8), que Deus Jesus significa “o Senhor salva. ‘Conhecer o nome
é luz (1Jo 1.5), que Deus é espírito (Jo 4.24), que de Deus’ é, portanto, adorar a Deus e confiar em
Deus é justo ou reto (Rm 3.26) e assim por diante. Deus conforme ele se mostrou ser.
Podemos conhecer alguns pensamentos de Deus — As escrituras contêm vários nomes para
até muitos deles — com base na Bíblia, e quando os Deus, pois nem um só nome nem uma
conhecemos, como Davi, os consideramos multiplicidade de nomes podem revelar todos os
“preciosos” (Sl 139.17). seus atributos. Nós necessitamos saber o atributos
Ainda mais significativo é perceber que de Deus apenas no limite em que Ele se agrada em
conhecemos o próprio Deus, e não meramente fatos revelá-los, e aqueles que referem às relações que
sobre ele ou atos que ele executa. Aqui Deus diz temos com ele.
que a fonte da nossa alegria e da nossa noção de
importância deve vir não das nossas capacidades IV.1- Os nomes de Deus no Antigo Testamento:
ou posses, mas do fato de conhecê-lo.
O fato de conhecermos o próprio Deus é a) ~yhi_l{a/ - Elohim (pl.); Eloah (sing.).
demonstrado ainda pela percepção de que a Aparece mais de 2.500 vezes. Há sugestões de que
riqueza da vida cristã envolve um relacionamento esta palavra derivou de El. Outro ponto de vista é
pessoal com Deus. Falamos com Deus em oração, e
que a palavra Elohim é o plural de Eloah. Essa é da revelação do seu nome. A tradução é "Todo-
uma maneira de intensificar a palavra Eloah com a Poderoso". Há uma dificuldade para estabelecer a
intenção de glorificar a Deus. A pluralidade da etimologia da palavra. É possível que seja derivado
palavra Elohim não significa nada em termos de de dois verbos. Sadar(destruir) e Sadu(montanha).
número como sendo Deus múltiplo. Não há uma Basicamente El Shaddai refere-se ao seu poder.
sugestão do ponto de vista do Antigo Testamento
que os judeus tinham a idéia de Trindade. Podemos
a.3) ~l'(A[ lae - El Olam, O Deus
dizer que a pluralidade significa a própria
eterno. O pensamento transmitido por este nome
divindade e majestade de Deus. A palavra Elohim é
não é só a duração eterna de Deus, mas também a
usada com outros significados também e mais uma
sua fidelidade eternidade eterna. Como registrado
vez é o contexto quem determinará sua função e
em Gênesis, Abraão chama Jeová de Deus Eterno,
tradução. Por exemplo em Êxodo 21.6 encontramos
que guarda suas alianças (Gn 21.33). O Salmista,
a palavra "dono"; já em Jó 1.6 temos a palavra
pensando em Deus como um refúgio eterno, disse
"servidores celestiais"; no Salmo 8.5 você encontra
“Senhor, tu tens sido o nosso refúgio, de geração em
a palavra "ser humano" e em Êxodo 18.11 temos a
geração.Antes que os montes nacessem e se
palavra "deuses".
formassem aterra e o mundo, de eternidade em
eternidade, tu é Deus”. Sl 90.1,2.
a.1) lae - El = Forma mais antiga usada
para outros deuses. Vem do verbo hebraico ser
a.4) !Ay*l.[, lae - El Elion = Vem do
forte, poderoso. Há que diga que o nome El
verbo Olah(subir) e significa o "Deus Altíssimo".
origina-se dos verbos ligar e alcançar. El é um Deus
Um dos tipos de sacrifícios é o olah que é realizado
que as pessoas alcançam. A palavra El quando se
sob a forma de fumaça que sobe. Deus que está nas
refere a Deus enfatiza o seu poder. Mas nem
alturas, que só pode ser encontrado nas alturas.
sempre ela é usada para referir-se a Deus(Salmo
Deus está muito acima dos homens. Esta
29.1). As vezes a palavra vem ligada a outras como
declaração demonstra, a separação entre Deus e o
no caso de "filhos de El" (Gênesis 6) e significa
ser humano que aqui é mais em termos de espaço
homens fortes, valentes ou anjos. Leia o Salmo
do que de santidade.
44.20 e veja que El é usada para referir-se a outros
deuses. No Salmo 118.50 encontramos uma
declaração. Registre e comente tal declaração. El "é
b) yn"doa] - Adon = Senhor, Adonai = "meu
uma palavra básica em várias línguas semíticas; no
Senhor". A palavra adonai não significa
Antigo Testamento geralmente aparece junto de
necessariamente Senhor Deus, pode significar. um
outros títulos e nomes". Uma importante
homem, um dono de escravos, um profeta ou até
orientação é que palavra El é um nome genérico
mesmo um esposo. A idéia de Adonai em termos
mais o contexto é que determina a sua tradução.
do seu significado quando utilizado em relação a
Deus, desenvolver a noção de autoridade e
a.2) yTi[.d;ÞAn al{ - El Shaddai = superioridade. Ao mesmo tempo(El Elion) o Deus
Êxodo 6.3 - Foi assim que Ele foi conhecido antes que mora nas alturas dos céus pode ser conhecido
Yahweh. Os hebreus para não profanarem o nome Abba105 - Pai. No AT essa palavra tem que ser
de Deus o substituiram por adonai = meu Senhor. compreendida dentro do contexto cultural. Pode
Jeová é então o fruto da mistura de Adonai com ser usada também a outras pessoas que exercem
Javé, e Jeová surgiu em 1520 d.C. No verso 14 autoridade, que mandam; porém, não existe
encontramos IHWH = que permite duas somente esta conotação de autoridade, mas
possibilidades de tradução(o verbo hebraico no também de uma relação familiar (Jr 3.4), essa
perfeito ou no imperfeito) = "Ele será", "Ele foi". A palavra não tem a mesma expressão encontrada no
tradução "Eu Sou" que temos em nossas Bíblias Novo Testamento entre Deus e o homem no Antigo
nome de Deus sendo baseado num verbo tem um entender a palavra Abba como: paternidade, honra,
proverá,Gn 22.14.
a) qeo,j (Theos)- Deus. Jo 1.1. A palavra
c.3) ^a<)p.ro hw"hy> - Jeová-Rafá, O Senhor
grega theos, como elohim, pode significar “Deus, ou
é o que te sara, Ex 15.26.
“deuses”. Trata-se do termo comum para “Deus” no
c.4) ySi(nI hw"hy - Jeová-Nissí, O Senhor é a Novo Testamento.
minha bandeira, Ex 17.15
Getsêmani. Que privilégio podermos invocar o STRONG, Deus é Espírito infinito e perfeito,
em Quem todas as coisas tem origem,
Onipotente como nosso Pai celestial, pela obra sustento e fim106.
redentora de Jesus Cristo.
HODGE, Deus é Espírito inteligente, pessoal,
infinito, eterno, imutável em Seu ser,
sabedoria, poder, santidade e em todas as
1. Ku,rioj (Kurios)- Senhor. Essa perfeições consistentes com Seu ser107 .
palavra aparece pelo menos 175 vezes no CLARKE, Deus é um Espírito pessoal, perfeito
em bondade, que impelido por amor santo,
Novo Testamento. E equivale a palavra cria, sustenta e ordena todas as coisas108.
Adonai no Velho Testamento.
EBRARD, A fonte eterna de tudo que é
2. temporal.
quando as heresias investiam contra a verdade em verdadeiro Deus, gerado, não criado, de uma só
um dos seu aspectos, os cristãos não inventavam substância com o Pai, pelo qual todas as coisas
foram feitas; o qual, por nós homens e por nossa
novas idéias, mas buscavam a melhor maneira de
salvação, desceu dos céus, foi feito carne pelo
utilizar os ensinamentos bíblicos, com relação à
Espírito Santo e da Virgem Maria, e tornou-se
nova necessidade que havia surgido.
homem, e foi crucificado por nós sob Pôncio
Por outro lado, é bom observar, que os
Pilatos, e padeceu e foi sepultado e ressuscitou ao
cristãos primitivos não dispunham da Bíblia como terceiro dia, conforme as Escrituras, e subiu aos
nós a temos hoje. É praticamente impossível céus e assentou-se à direita do Pai, e de novo há
encontrar uma casa de algum cristão que não tenha de vir com glória para julgar os vivos e os mortos,
um exemplar da Bíblia. Logo, é de se pensar, que e o seu reino não terá fim. E no Espírito Santo,
este seja capaz de defender a sua fé em caso de Senhor e Vivificador, que procede do Pai e do
na remissão de pecados, na ressurreição da carne Todo que for salvo: antes de todas as coisas é
e na vida eterna. Amém. necessário que se apegue à fé católica; Tal fé, se
não guardada plena e imaculada, sem dúvida
Não se pode afirmar que este credo tenha trará perdição eterna. E a fé católica é esta: Que
sido escrito pelo apóstolos, mas, sim, que contêm nós adoramos um Deus em Trindade, e Trindade
um resumo dos ensinamentos dos apóstolos. É uma na Unidade; Sem confundir as pessoas, sem
incompreensível. O Pai eterno, o Filho eterno, e o homem, também Deus e homem são um Cristo;
Espírito Santo eterno. No entanto não são três Que padeceu para a nossa salvação, desceu ao
eternos mas um eterno. Porque também não há inferno, ressuscitou dentre os mortos ao terceiro
três incriados nem três incompreensíveis, mas dia; Subiu aos céus e está assentado à direita do
um incriado e um incompreensível. Assim do Pai, Deus, Todo-Poderoso; De onde virá julgar os
mesmo modo o Pai é Todo-Poderoso, o Filho, vivos e os mortos. Em cuja vinda todos os
Todo-Poderoso, e o Espírito, Todo-Poderoso. No homens ressuscitarão em corpo; E prestarão
entanto não são três Todo-Poderosos, mas um contas de suas obras. E os que fizeram o bem irão
Todo-Poderoso. Assim o Pai é Deus, o Filho é para a vida eterna, e os que fizeram o mal, para o
Deus, e o Espírito Santo é Deus; No entanto não fogo eterno. Esta é a fé católica: quem nela não
são três Deuses, mas um Deus. Também somos crer fielmente não pode ser salvo.
proibidos pela religião católica de dizer: Há três
Deuses, ou há três Senhores. O Pai não é feito de Não se sabe com certeza a origem deste
coisa alguma, nem criado nem gerado. O Filho é credo, pois alguns crêem que surgiu no Norte da
do Pai somente; não feito, nem criado, mas
África durante o século VI e que seu nome se deve
gerado. O Espírito Santo é do Pai e do Filho; não
ao fato de que Atanásio, bispo de Alexandria,
foi feito, nem criado, nem gerado, mas deles
também continuou lutando contra o Arianismo. É
procede. Assim, há um Pai, e não três Pais; um
bom lembrar que a palavra católica usada não quer
Filho, e não três Filhos; um Espírito Santo, e não
três Espíritos Santos. E nesta Trindade nenhum
dizer romana, mas universal.
pessoa e em uma subsistência; não separado nem Jo 1.18 Ninguém jamais viu a Deus; o Deus
unigênito, que está no seio do Pai, é quem o
dividido em duas pessoas, mas um só e o mesmo
revelou.
Filho, o Unigênito, Verbo de Deus, o Senhor Jesus Mt 28.20...E eis que estou convosco todos os
dias até à consumação do século.
Cristo, conforme os profetas desde o princípio
Mt 18.20 Porque, onde estiverem dois ou três
acerca dele testemunharam, e o mesmo Senhor reunidos em meu nome, ali estou no meio
deles.
Jesus nos ensinou, e o Credo dos santos Pais nos
Hb 13.5 Seja a vossa vida sem avareza.
transmitiu. Contentai-vos com as coisas que tendes;
porque ele tem dito: De maneira alguma te
deixarei, nunca jamais te abandonarei.
VI – A NATUREZA DE DEUS Jo 3.5 Respondeu Jesus: Em verdade, em
verdade te digo: quem não nascer da água e
do Espírito não pode entrar no reino de Deus.
O estudo da natureza de Deus dever ser
VI.2 – Deus é perfeito
abordado com humildade e reverência. Ora, quem
pode definir a natureza e essência do Deus infinito? Jesus disse aos seus discípulos: Portanto,
Não só os seus caminhos são “inescrutáveis” Rm sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai
11.33, como também sua natureza e seu ser celeste, Mt 5.48. É quase impossível pensar no
ultrapassa nossa compreensão. Todavia Deus nos criador, que é ao mesmo tempo justo e amoroso,
revelou o necessário de sua natureza essencial para santo e misericordioso, juiz eterno e pai do Senhor
podermos servi-lo e adorá-lo. É especialmente Jesus Cristo, com sendo outra coisa além de
importante entender a natureza de Deus, como perfeito. As Escrituras afirmam isto, declarando-o
8.27, como pode uma frase ou um parágrafo de consciência de si mesmo, que possui intelecto,
palavras humanas definir o seu ser? sentimentos e vontade. Nos dias de hoje, alguns
Várias declarações sobre Deus na Escritura superficialmente crêem num Deus impessoal, algo
definem diversos aspectos de sua natureza, tais como um princípio de vida que pode ser chamado
como “Deus é espírito” Jo 4.24, “Deus é luz” 1 Jo 1.5; “natureza”. Tal Deus não responde orações, nem se
“Deus é amor” 1 Jo 4.8 e “Deus é fogo consumidor” desagrada com os atos indignos: ele é apenas o
Hb 12.29. Vejamos alguns aspectos da natureza próprio universo, inclusive as suas leis. Um “deus”
significa que ele não pode ficar limitado a um pessoal, transcendente, que se mantém, à parte do
corpo físico, nem as dimensões de espaço e tempo. universo como seu Criador; mas, ao mesmo tempo,
Ele é um Deus invisível e eterno: é um Deus imanente que habita dentro da sua
criação, preservando e cuidando dela como um Pai
determinadas passagens que falam da presença de partes”. Mas como a palavra simples hoje tem o
Deus em toda parte do espaço. Lemos em Jeremias: sentido mais comum de “fácil de compreender” e
“Acaso, sou Deus apenas de perto, diz o SENHOR, e “simplório ou insensato”, é mais proveitoso agora
não também de longe? Ocultar-se-ia alguém em falar da “unidade” de Deus em vez da sua
esconderijos, de modo que eu não o veja? — diz o “simplicidade”.
SENHOR; porventura, não encho eu os céus e a terra?
— diz o SENHOR” (Jr 23.23-24). Deus aqui repreende VII.1a) Como reagir a essas qualidades exclusivas de
os profetas que pensam que suas palavras ou Deus?
pensamentos ficam ocultos de Deus. Ele está em
Deus tem qualidades
todo lugar e enche o céu e a terra. que lhe são
exclusivas. Quais?
Nosso
b) Deus não tem dimensões espaciais. Embora para
problema com as qualidades que só pertencem a
nós pareça necessário dizer que todo o ser de Deus
Deus é que nossa experiência humana do que são
está presente em toda parte do espaço, ou em cada
as “pessoas” e os “relacionamentos pessoais”
ponto do espaço, é também necessário dizer que
acontece totalmente dentro dos limites do tempo,
Deus não pode ser contido por espaço nenhum, por
do espaço, do conhecimento e do poder. Mas em
maior que seja. Salomão diz na sua oração a Deus:
Deus estamos lidando com uma pessoa que está
“Mas, de fato, habitaria Deus na terra? Eis que os
além dessas limitações. Compreensivelmente, não
céus e até o céu dos céus não te podem conter,
sabemos exatamente como resolver essas questões.
quanto menos esta casa que eu edifiquei” (1Rs
Não temos informações suficientes. Mas há
8.27).
diversas coisas úteis que os cristãos podem fazer
quando tentam pensar a respeito do caráter de
c) Deus pode estar presente para punir, sustentar
Deus.
ou abençoar. A idéia da onipresença de Deus às
vezes perturba as pessoas, que se perguntam como
a) Precisamos admitir ignorância. Só podemos
Deus pode estar presente, por exemplo, no inferno.
conhecer o que Deus revela de si mesmo. Afirmar
De fato, não é o inferno o oposto da presença de
que sabemos mais a respeito de Deus do que ele
Deus, ou a ausência de Deus? A dificuldade pode
tem revelado é sinal não de conhecimento, mas de
ser resolvida pela percepção de que Deus está
arrogância. Na realidade, se soubéssemos tudo o
presente de modos diversos em lugares diferentes,
que há para ser conhecido a respeito de Deus,
ou de que Deus age diferentemente em locais
teríamos de atravessar aquelas barreiras que fazem
distintos da sua criação.
de nós criaturas. Resumindo, teríamos de ser Deus.
5. Unidade. A unidade de Deus pode ser definida
desta forma: Deus não está dividido em partes;
b) Também devemos adorar. Longe de ser uma
porém percebemos atributos diversos de Deus
desculpa para a preguiça mental, a adoração é
enfatizados em momentos diferentes. Esse atributo
apenas uma reação adequada para com Deus que
de Deus é também denominado simplicidade
nos criou e que, apesar de nossa persistente
divina, empregando simples no sentido menos
rebeldia e indiferença, ainda assim se deleita em se
comum de “não complexo” ou “não composto de
revelar. Tal Deus vai levar-nos à profunda Escrituras é que “Deus é espírito” (Jo 4.24). Essa
adoração, a pensar nele em larga escala e a respeito afirmação é feita por Jesus no contexto de uma
das pessoas em pequena escala – exatamente o discussão com a samaritana ao lado da fonte.
padrão oposto da atitude predominante em nosso Assim, não devemos pensar que Deus tem
mundo secular. tamanho ou dimensões, mesmo que infinitas.
possíveis.
João nos diz que “Deus é amor” (1Jo 4.8).
5. Veracidade (e fidelidade). A veracidade divina Temos sinais de que esse atributo de Deus já existia
implica que ele é o Deus verdadeiro, e que todo o antes da criação entre os membros da Trindade.
seu conhecimento e todas as suas palavras são ao Jesus fala ao Pai da “glória que me conferiste,
mesmo tempo verdadeiros e o parâmetro definitivo porque me amaste antes da fundação do mundo” (Jo
da verdade. 17.24), indicando assim que o Pai já amava e
honrava o Filho desde a eternidade. E continua até
O termo fidedignidade, que significa hoje, pois lemos: “O Pai ama ao Filho, e todas as
“veracidade” ou “confiabilidade”, é às vezes usado coisas tem confiado às suas mãos” (Jo 3.35).
como sinônimo da veracidade divina.
8. Misericórdia, graça, paciência. A misericórdia, a
VII.2.c) As qualidades morais de Deus. paciência e a graça divinas podem ser tidas como
três atributos separados ou como aspectos
6. Bondade. A bondade de Deus implica que ele é particulares da bondade de Deus. As definições
o parâmetro definitivo do que é bom, e que tudo o dadas aqui apresentam esses atributos como casos
que Deus é e faz é digno de aprovação. especiais da bondade de Deus quando empregada
em benefício de categorias específicas de pessoas.
Nessa definição, vemos uma situação
semelhante à que encontramos na definição de * A misericórdia de Deus é a bondade divina para
Deus como o Deus verdadeiro. Aqui, “bom” pode com os angustiados e aflitos.
ser interpretado como “digno de aprovação”, mas * A graça de Deus é a bondade divina para com os
ainda falta responder à seguinte pergunta: que só merecem castigo.
aprovação de quem? Em certo sentido, podemos * A paciência de Deus é a bondade divina no sustar
dizer que qualquer coisa que seja verdadeiramente a punição daqueles que persistem no pecado por
boa deve ser digna da nossa aprovação. Mas num determinado tempo.
sentido mais absoluto, não somos livres para
decidir por contra própria o que é digno de 9. Santidade. Dizer que Deus tem como atributo a
aprovação e o que não o é. Em última análise, santidade é dizer que ele é separado do pecado e
portanto, o ser e os atos de Deus são perfeitamente dedica-se a buscar a sua própria honra. Essa
dignos da sua própria aprovação. definição contém ao mesmo tempo uma qualidade
relacional (separação de) e uma qualidade moral (a
7. Amor. Dizer que Deus tem o amor como separação é do pecado ou do mal, e a dedicação é
atributo é dizer que ele se doa eternamente aos em prol da própria honra ou glória de Deus). A
outros. Essa definição interpreta o amor como uma idéia de santidade, abarcando tanto a separação do
doação de si mesmo em benefício dos outros. Esse mal quanto a dedicação de Deus à sua própria
atributo de Deus mostra que faz parte da sua glória, encontra-se em várias passagens do Antigo
natureza doar-se a fim de distribuir bênçãos ou o Testamento.
bem aos outros.
Vontade secreta e vontade revelada. Outra 17. Perfeição. A perfeição é o atributo divino que
distinção proveitosa aplicada aos diferentes permite que Deus possua com excelência
aspectos da vontade divina é a que se faz entre a absolutamente todas as qualidades e não careça de
vontade secreta e a vontade revelada de Deus. nenhum aspecto dessas qualidades que lhe seja
Mesmo na nossa experiência sabemos que somos desejável.
capazes de desejar algumas coisas secretamente, e
só mais tarde revelar essa vontade aos outros. Às É difícil decidir se isso deve ser tido como
vezes contamos aos outros antes que a coisa atributo isolado ou simplesmente incluído na
desejada surja ou aconteça; noutras vezes descrição dos outros. Algumas passagens dizem
revelamos o segredo só quando o acontecimento que Deus é “perfeito” ou “completo”. Diz-nos Jesus:
desejado já ocorreu. “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o
vosso Pai celeste” (Mt 5.48).
15. Liberdade. A liberdade de Deus é o atributo por
meio do qual ele faz o que lhe apraz. Essa definição 18. Bem-aventurança. Ser “bem-aventurado” ou
implica que nada em toda a criação pode impedir “bendito” é ser feliz num sentido bastante pleno e
que Deus execute a sua vontade. magnífico. Freqüentemente as Escrituras falam da
Esse atributo de Deus está portanto bem-aventurança das pessoas que andam nos
intimamente associado à sua vontade e ao seu caminhos de Deus. Em 1Timóteo, porém, Paulo
poder. Mas esse aspecto da liberdade concentra-se denomina a Deus “bendito e único Soberano” (1Tm
no fato de Deus não se ver cerceado por nada que 6.15) e fala do “evangelho da glória do Deus
lhe seja exterior e de ser ele livre para fazer o que bendito” (1Tm 1.11). Em ambos os casos a palavra
desejar. Não há pessoa ou força que possa ditar a não é eulogêtos (muitas vezes traduzida como
Deus o que fazer. Ele não está debaixo de nenhuma “bendito”), mas makarios (que significa “feliz”).
autoridade nem de nenhuma limitação exterior.
19. Beleza. A beleza é o atributo divino por meio do
16. Onipotência (poder, soberania). A qual Deus se revela a soma de todas as qualidades
onipotência é o atributo de Deus que lhe permite desejáveis. Esse atributo divino está implícito em
fazer tudo o que for da sua santa vontade. A palavra vários dos atributos anteriores e é especialmente
onipotência vem de dois termos latinos, omni, associado à perfeição de Deus. Porém, a perfeição
“todo”, e potens, “poderoso”, significando portanto de Deus foi definida de uma forma que mostra que
“todo-poderoso”. ele não carece de nada que lhe seria desejável.
Enquanto a liberdade de Deus se refere ao Este atributo, a beleza, se define de uma maneira
fato de não haver constrangimentos exteriores às positiva, para mostrar que Deus de fato possui
todas as qualidades desejáveis: “perfeição” significa irar com o pecado e os pecadores. Se fosse
que Deus não carece de nada desejável; “beleza” indiferente, estaria negando a sua santidade.
significa que Deus tem tudo o que é desejável. São
VIII – AS OBRAS DE DEUS
duas formas diferentes de declarar a mesma
verdade.
VIII.1 - Propósito divino.
O grande milagre da profecia bíblica KEELEY, Robin (Org.). Fundamentos da teologia cristã. São
Paulo: Vida, 2000. 344p.
demonstra duas coisas:
L
textos das verdades bíblicas fundamentais. São Paulo: Hagnos,
2005. p. 241-249.
Onde ler mais!
TURNER, Donald D. A doutrina de Deus. São Paulo: IBB, 1956.
121p.
BANCROFT, E. H. Teologia elementar: doutrinária e
conservadora. São Paulo: EBR, 2001. 378p.
WILEY, H. Orton; CULBERTSON, Paul T. Introdução à
BERKHOF, Louis. Teologia sistemática. São Paulo: Cultura teologia cristã. São Paulo: 1990. 516p.
cristã, 2001. 720p.
_________________________________________________
HODGE, Archibald Alexander. Esboços de teologia. São Paulo:
PES, 2001.
_________________________________________________
1 – ORIGEM
ANTROPOLOGIA
seguintes:
atualidade científica. Onde está a Júnior – Teologia do Antigo Testamento, pág. 76.
evolução? Notamos aqui parte de sua exegese. “Porque assim
e) Existe grade abismo entre os reinos da diz o Senhor que criou (Barah) os céus, o único
natureza e muita superioridade entre Deus que formou (Yasar) a terra. que a fez (Asah) e
um e outro. Os instintos dos a estabeleceu (Kûn): que não a fez (Barah) para ser
irracionais permanecem os mesmos da um caos, mas o formou (Yasar) para ser habitada:
idade da pedra. Eu Sou o Senhor e não há outro”. Is.45:18. O que se
f) Se é verdadeira a teoria da evolução, pode verificar é um paralelismo muito interessante
como não encontramos provas atuais? ‘a mente mais analítica.
g) Se o cruzamento inteligente não pôde Para Bancroft a formação do homem
jamais produzir uma única espécie seguiu este processo, a saber:
nova (variedade é outra cousa), que
probabilidade existe de o acaso cego ou
1. 1 O homem veio a existência por um
a seleção natural tenha podido fazê-lo?
ato criador, Gn 1:27
h) Se é que podemos pensar em termos
2. O homem recebeu um organismo
de evolução das espécies, é certo que o
físico por um ato de formação Gn 2:7; Ec 12:7
“homem progrediu do arado ao trator,
da jangada ao transatlântico, da 3. O homem foi feito ser pessoal e vivo
das raízes nas línguas primitivas indica unidade de Concernente à constituição do homem
linguagem nos primeiros dias da raça humana. existem duas correntes teológicas de maior
Cerca de 170 raízes servem para ligar os vários importância. Ambas tomam por base declarações
grupos de línguas asiáticas, e destas, cerca de 50 bíblicas e lançam mão de figuras para assegurarem
ainda podem achar-se em todas elas; quer dizer, suas convicções teológicas.
nas línguas acadianas, egípcias, arianas, semíticas e
mongólicas”. Conder, citado por D.S. Clark –
A – OS DICÓTOMOS
Teologia Sistemática pág. 174.
c) Psche é atribuída a Jeová: Am 6:8; Is 42:1; diversa acepções contidos no vocábulo alma.
A terminologia também oriunda dos onde se lê que “O espírito volte para Deus que o
termos gregos (Trixa = tresse temnw = parte). Não deu”, não há como trocar espírito (Ruch) por alma
menos acirrada é a argumentação dos tricótomos. (Nephesh); no N.T. Lc 12:19, onde está escrito:
Para eles o homem é formado de três partes “...alma, tens em depósito muitos bens para muitos
distintas. O espírito que é o elemento mais nobre, a anos descansa, come e bebe e regala-te”. Também
alma que é a parte intermediária, e o corpo esta não é possível substituir alma por espírito, não faz
PORTUGUÊS HEBRAICO
Espírito Ruach O binômio “juntas e medulas” citado em
entre a alma e o espírito é tão delicada que só a (Ef 6:6; Fl 1:27; I Cor 3:23) e um indica emoção (I Ts
Palavra de Deus é tipo como instrumento apto. 5:23), os outros dois são usous pessoais (Rm 2:9;
Para Nee Tosheng. “Assim que o sopro de 13:1). O apóstolo usa o termo Pneuma quando se
vida que se tornou o espírito do homem, tomou refere aos dos adjetivos Psychkos e Pneumátikos,
contato com o corpo, a alma foi produzida. As distinguem a natureza humna separa da graça e
vivente’....desse modo o homem foi criado Pneuma em acepção humana para aquela parte do
predominantemente como alma vivente” (Spiritual homem que sobrevive à morte”. (Parapsicologia e
Man, pág. 23). Continua ele: Através do corpo Psicocopatologia, pág. 29).
PSYCHE, segundo Ronald Scott Bruno, é semelhança de Deus. “Ao contemplar a beleza da
usado por Paulo 12 vezes. Em 06 casos indica vida criação e compará-la com os recursos conferidos ao
(Rm 11:3; 16:4; I Cor 15:45; II Cor 1:23; Fl 2:30; I Ts homem, o escritor dos salmos exclama: “Fizeste por
2:8). Dentre os 4 usos psíquicos, 03 indicam desejo um pouco menor do que Deus e de glória e de
e filhotes. Todavia jamais poderão transmitir que é capaz de emitir juízo sobre diversas questões.
suas imaginações em termo de escrita, 3. O homem se assemelha com Deus
escultura, pintura ou servirem-se dos avanços porque possui natureza emocional. É capaz de
da informática. sentir. E quando ama, no melhor sentido, isso
acontece como um reflexo do seu criador.
apenas na semelhança intelectual e moral, mas necessária, partindo-se de uma criação que implica
3.22; 9.29.” R.A Torre. What the Bible Teaches. b) A imortalidade do homem é uma noção
praticamente universal.
que concorda trata-se de termos sinônimos, experiência da morte deixa subentendida. Todos
convêm nos seguintes aspectos: sabem que o homem é mais do que o corpo que
volta ao pó.
1. O homem reflete Deus por causa da
posse de uma natureza racional; ele é capaz de d) A imortalidade é requerida por causa
pensar, de refletir e depois de tomar decisão. das desigualdades e erros da vida presente.
disparidade de condições em que o homem vem ao ensino, apenas a parte biológica e emocional
Adão . Gn 1.27; Rm 5.12. Se a alma nesse estado por Aristóteles, Jerônimo e Pelágio; e mais
que não tenhamos nenhuma recordação de tal reformados. Para eles a alma de cada ser humano
preexistência ( Stheology- Strong pág. 490) era criada e a ele reunida no instante da
concepção, do nascimento ou em algum momento
b) Traducionismo – Conforme este ponto
entre esses dois acontecimentos.
de vista, os pais transmitem aos filhos não
somente parte biológica e emocional, mas também “O Criacionismo que se liga a Tricotomia
a parte espiritual. E assim justificam: diria, porém que a alma animal ( Pysche) é
propagada junto ao corpo, ao passo que a parte HODGE, Archibald Alexander. Esboços de teologia. São Paulo:
PES, 2001.
mais nobre do homem ( Pneuma) é em cada caso,
criada diretamente por Deus....” Strong LANGSTON, A. B. Esboço em teologia sistemática. 7a ed. Rio
de Janeiro: JUERP, 1983. 305p.
Systhematic Theology, pág. 491.
b) Se a alma humana de Cristo procedesse da LACY, G.H. Introduccion a La Teologia Sistemática. El Paso
– Texas – CBP. p.161-162
espécie humana, por ventura não participaria de
MACGRATH, Alister E. Teologia sistemática, histórica e
nossa comum pecaminosidade? ( A este filosófica: uma introdução à teologia sistemática. São Paulo:
Shedd, 2005. 659p.
argumento, defende-se afirmando que Cristo é um
caso a parte).
STRONG, Augustus Hopkins. Teologia sistemática. Vol. 1. São
Paulo, Hagnos, 2003. 680p.
c) Nenhuma daquelas passagens proíbe-nos de
supormos que Deus opera por meio dessas mesmas
THIESSEN, Henry Clarence. Palestras em teologia
leis naturais para produzir a alma. Strong pág.492. sistemática. São Paulo: IBR, 1987. 375p.
BERKHOF, Louis. Teologia sistemática. São Paulo: Cultura WILEY, H. Orton; CULBERTSON, Paul T. Introdução à
cristã, 2001. 720p. teologia cristã. São Paulo: 1990. 516p.
II - A origem do pecado
pecado, porque estritamente falando, todo pecado mundo, transparece claramente no pecado isto é,
é contra Deus, e se não há Deus, não há pecado. como transgressão da lei de Deus.
conquista do prazer e a fuga da dor; de modo que a deu a certeza da entrada do pecado no mundo, mas
primeira pergunta que se faz não é: “isso é não se pode interpretar isso de modo que faça de
correto?”, mas “trará prazer?”. Deus a causa do pecado no sentido de ser Ele o seu
4. Ciência cristã. Essa seita nega a realidade do autor responsável. Esta idéia é claramente excluída
pecado. Declara que o pecado não é algo positivo, pela Escritura. Longe de Deus o praticar ele a
do bem e do mal. Quer dizer que não seria para Satanás pois ele é a personificação do pecado ,
pecaminoso, se Deus não tivesse dito: “Da árvore e a serpente simboliza o pecado (a) em sua
do conhecimento do bem e do mal não comerás...” natureza astuta e enganosa e (b) em sua picada
A ordem dada por Deus para não se comer venenosa com a qual mata o homem.
passagens como, ( Jó 14.4, Jr 17.9, Mt 7. 15-20, Rm Rm 2.14, Fp 3.6, 1 Co 1.30, pois esta pode ser a
8.5-8, Ef 4.17-19). O pecado não reside nalguma justiça civil, cerimonial ou pactual, a justiça da lei
faldada da alma, mas no coração que na psicologia ou a justiça que há em Cristo Jesus.
da Escritura é o órgão central da alma , onde estão
as saídas da vida. ( Pv 4.23, Jr 17.9, Mt 15.19,20 , Lc V - O Pecado na Vida da Raça Humana
também todos os pensamentos e violações sério por Deus, embora os homens muitas vezes o
conscientes que decorrem do pecado original. São tratem ligeiramente. Não é somente uma
diversamente da natureza e inclinação herdada. O ao grande Legislador, uma revolta contra Deus. É
pecado original é somente um, o pecado fatual é uma infração da inviolável justiça de Deus, que é o
fundamento do seu trono, Sl 97.2, e uma afronta à
em Êx.32.33, Lv 26.21, Nm 15;3 , 1 Cr 10.13, Sl 11.6, CHAFER, Lewis Sperry. Teologia sistemática. São Paulo: IBR,
1986. 617p.
75.8, Is 1.24,28, Mt 3.10, 24.51. Todas estas passagens
CLARK, David S. Compêndio de teologia sistemática. 2a ed.
falam de uma punição do pecado por um ato Direto
São Paulo: CEP, 1998. p. 68-128.
de Deus. A palavra punição, vem do termo latino
poena, significando punição, expiação ou pena. A DAGG, John L. Manual de teologia. 2a ed. São Paulo: FIEL,
1998. 300p.
Bíblia nos ensina, por um lado, que Deus ama e
castiga o seu povo, Jó 5.17, Sl 6.1, 94.12, 118.18, Pv ERICKSON, Millard J. Introdução à teologia sistemática. São
Paulo: Vida Nova, 1997. 540p.
3.11, Is 26.16, Hb12.5-8, Ap 3.19, e, por outro lado,
que ele aborrece e pune os que praticam o mal, Sl GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática. São Paulo: Vida
Nova, 1999. 1046p.
5.5, 7.11, Na 1.2, Rm 1.18; 2.5,6, 2Ts 1.6, Hb 10.26,27.
O pecado separa de Deus o homem, e isso LANGSTON, A. B. Esboço em teologia sistemática. 7a ed. Rio
de Janeiro: JUERP, 1983. 305p.
quer dizer morte, pois é só na comunhão com o
Deus vivo que o homem pode viver de verdade. A HODGE, Charles. Teologia sistemática. São Paulo: Hagnos,
2001. 1711p.
morte entrou no mundo por meio do pecado, Rm
5.120, e que o salário do pecado é a morte, Rm 6.23. HORTON, Stanley (Org.). Teologia sistemática: uma
perspectiva pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2005. 808p.
A penalidade do pecado certamente inclui a morte
física , mas inclui muito mais que isso.
LACY, G.H. Introduccion a La Teologia Sistemática. El Paso
– Texas – CBP. p.161-162
I - A PRÉ-EXISTÊNCIA DA IGREJA
HISTÓRIA
A ) A origem da Igreja
DA IGREJA
A igreja de Cristo sempre existiu na mente
e coração do Pai, desde antes da fundação do
universo.
“Como também nos elegeu nele antes da
Introdução fundação do mundo, para que fôssemos
santos e irrepreensíveis diante dele” - Ef 1.4
V - A Igreja medieval
A Igreja que antes era um mistério "oculta
VI - A Igreja Reformada
em Deus" fora revelada em Cristo, tornando-se o
VII - A Igreja atual
"segredo de Deus" conhecido aos homens. A
117PENTECOSTE era a segunda grande festa sagrada do ano oprimiam a vida de muitos que os cercavam.
judaico. A primeira grande festa era a Páscoa. Cinquenta dias Essas características derivavam parte do
após esta, vinha a festa de Pentecoste, nome este derivado do gr.
Penteekostos (=quinquagésimo). Era também chamada Festa das seu vigor da constante expectação em que viviam
Colheitas, porque nela as primícias da sega de grãos eram
esses discípulos quanto a iminente vinda do
oferecidas a Deus (cf. Lv 23.17). Da mesma forma, o dia de
Pentecoste simboliza, para a igreja, o início da colheita de almas Senhor, em glória visível, para estabelecer seu reino
para Deus neste mundo. (Bíblia de Estudo Pentecostal, p. 1630)
118 O efeito desse acontecimento foi tríplice: (1) Iluminou a mente triunfante sobre a terra. A predominância dessa
dos discípulos, dando-lhes um novo conceito de Reino de Deus. esperança na Igreja apostólica nunca deve ser
(2) Compreenderam que o Reino não era um império político,
mas um reino espiritual, na pessoa de Jesus ressuscitado, que esquecida quando consideramos esse período
governava de modo invisível todos aqueles que o aceitavam pela
histórico da Igreja.
fé. (3) Aquela manifestação revigorou a todos, repartindo com
eles o fervor do Espírito e o poder de expressão que fazia de cada
testemunho um motivo de convicção naqueles que o ouviam.
Seus líderes
II - A IGREJA APOSTÓLICA
A leitura dos seis primeiros capítulos do
livros de Atos dá a entender que durante esse
30-100 d.C. período o apóstolo Pedro era o líder da Igreja. Em
A Igreja teve seu início na cidade de papa ou dirigente oficial nomeado por Deus. Tudo
Jerusalém. Evidentemente, nos primeiros anos de acontecia como resultado da prontidão de Pero em
sua história, as atividades da Igreja limitaram-se decidir, de sua facilidade de expressão e de seu
setentrional da Galiléia, havia grupos de pessoas contemplativo e espiritual, que raramente falava,
que criam em Jesus como o Rei-Messias; no mas que desfrutava de grande estima por parte dos
como igreja.
As sedes gerais da Igreja daquela época Numa igreja comparativamente pequena
eram o Cenáculo, no monte Sião, e o Pórtico de em número, todos da mesma raça, todos
Europa. Além disso, os cristãos, agora não eram de Tarso, cidade da costa da Ásia Menor, chamado
exclusivamente de nacionalidade judaica, mas Saulo. Esse jovem havia sido educado sob a
predominavam os gentios. O idioma usado na orientação o famoso mestre Gamaliel, sendo além
Palestina era o hebraico ou aramaico; contudo, em disso, conhecido e respeitado intérprete da lei
outras regiões bem mais povoadas, a língua usada judaica. Saulo participou do apedrejamento de
era o grego. Estevão e, logo a seguir, fez-se chefe de terrível e
obstinada perseguição contra os discípulos de
A pregação de Estêvão – At 6.1-4; 6.5; 6.11-14; 7.2- Cristo, prendendo e açoitando homens e mulheres.
53; 7.57-60. A igreja de jerusalém dissolveu-se nessa ocasião, e
seu membros dispersaram-se por vários lugares.
Na igreja de Jerusalém, surgiu uma queixa Entretanto, onde quer que chegassem, a Samaria
contra o critério adotado na distribuição de ou a damasco, ou mesmo à longínqua Antioquia
auxílios aos pobres, pois as famílias dos judeus da Síria, eles se constituam em regadores do
gregos ou helenistas prejudicadas. Os apóstolos evangelho e organizavam igrejas. Dessa forma, o
convocaram a igreja e propuseram a escolha de ódio feroz de Saulo era um fator favorável à
uma comissão de sete homens para cuidarem desse propagação do evangelho e da igreja.
serviço. Esse plano foi adotado, e os sete foram
escolhidos, figurando em primeiro lugar o nome de Filipe em Samaria, At 6.5; 8.5-13; 8.14-17; 8.40
Estevão, “homem cheio de fé e do Espírito Santo”.
Apesar de haver sido escolhido para um trabalho Na lista dos sete nomes escolhidos para
secular, rapidamente atraiu a atenção de todos administrarem a distribuição das doações aos
como pregador. Da acusação levantada contra ele, pobres, além de Estêvão, encontramos também a
quando foi preso pelas autoridades judaicas, e da Filipe, um dos doze apóstolos. Depois da morte de
sua mensagem de defesa, é evidente que Estevão Estevão, Filipe refugiu-se entre os samaritanos, um
proclamou Jesus Cristo como Salvador não povo miscigenado, que não era judeu nem gentio, e
somente para os judeus, mas também para os por isso mesmo desprezado pelos judeus. O fato
gentios. Parece que Estevão foi o primeiro membro significativo de Filipe começar a pregar o evangelho
da Igreja a ter visão do evangelho para o mundo aos samaritanos demonstra que ele se havia
inteiro, e esse ideal levou-o a tornar-se o primeiro libertado do preconceito dos judeus. Filipe
mártir cristão. estabeleceu uma igreja em Samaria, a qual foi
reconhecida pelos apóstolos Pedro e João. Foi essa
A perseguição realizada por Saulo, At 7.58; 22.3; a primeira igreja estabelecida fora dos círculos
8.3; 26.9-11; 11.19,20; 8.4 judaicos; contudo, não era exatamente uma igreja
composta de membros genuinamente gentios. Mais
Entre aqueles que ouviram a defesa de tarde encontramos Filipe pregando e organizando
Estêvão, e que se encolerizaram com suas sinceras, igrejas nas cidades costeiras de Gaza, Jope e
mas incompatíveis com a mentalidade judaica Cesaréia. Embora fossem considerada cidades
daqueles dias, estava um jovem de Tarso, cidade da gentias, todas possuíam densa população judaica.
costa da Ásia Menor, chamado Saulo. Esse jovem Nessas cidades, forçosamente, o evangelho teria de
entrar em contato com o mundo pagão. Saulo, que fora o mais temido perseguidor do
evangelho, converteu-se em seu mais ardoroso
Pedro em Jope e Cesaréia, At 9.32-43; 10.9-16; defensor. Sua oposição fora dirigida especialmente
10.17-48 contra a doutrina que eliminava a barreira entre
judeus e gentios. Entretanto, quando se converteu,
Numa de suas viagens relacionadas com a Saulo adotou imediatamente os mesmos conceitos
inspeção da Igreja, Pedro chegou a Jope, cidade de Estevão e tornou-se ainda maior que este na
situada no litoral. Ali, Tabita, ou Dorcas, foi ação de fazer prosperar o movimento de uma igreja
ressuscitada. Nessa cidade, Pedro permaneceu universal, cuja portas estivessem abertas a todos os
algum tempo em companhia de outro Simão, o homens quer que fosse judeus, fossem gentios. Em
curtidor. O fato de Pedro, sendo judeu, toda a história do cristianismo, nenhuma
permanecer em companhia de um curtidor conversão a Cristo trouxe resultados tão
significa que ele se libertara das restritas regras dos importantes e fecundos pra o mundo inteiro como
costumes judaicos, pois todos os que tinham ofício a conversão de Saulo, o perseguidor, e, mais tarde,
de curtidor eram considerados “imundos” pela lei o apóstolo Paulo.
cerimonial. Foi em Jope que Pedro teve a visão do
que parecia ser um grande lençol que descia, no A igreja em Antioquia, At 11.19-29; 11.22,23;
qual havia todo tipo de animais, e foi-lhe dirigida 9.26,27; 11.25,26; 26.28; 1 Pe 4.16; At 11.27,30; 13.1
uma voz que dizia: “ Não chame impuro ao que
Deus purificou”. Nessa ocasião, chegaram a Jope Na perseguição iniciada com a morte de
mensageiros vindos de Cesaréia, que fica acerca de Estêvão, como já foi dito, a Igreja em Jerusalém
48 quilômetros ao norte, e pediam a Pedro que dispersou-se por toda parte. Alguns de seus
fosse instruir Cornélio, um oficial romano temente membros fugiram para damasco; outros foram para
a Deus. a Antioquia da Síria, distante cerca de 480km. Em
Pedro foi a Cesaréia sob a direção do Antioquia, os fugitivos frequentavam as sinagogas
Espírito, pregou o evangelho a Cornélio, e aos que judaicas e davam testemunho de Jesus como o
estavam em sua casa e os recebeu na Igreja Messias. Em todas as sinagogas havia um local
mediante o batismo. O Espírito de Deus, separado para os adoradores gentios; muitos deles
derramado como no dia de Pentecoste, testificou ouviram o evangelho em Antioquia e aceitaram a fé
sua aprovação divina. Dessa forma, foi divinamente em Cristo. Dessa forma, floresceu uma igreja em
sancionada a pregação do evangelho aos gentios e Antioquia, na qual judeus e gentios adoravam
sua aceitação na Igreja. juntamente e desfrutavam o mesmo privilégio.
Quando as notícias desses fatos chegaram a
A conversão de Saulo, At 9.1-22 Jerusalém, a igreja igreja ficou alarmada e enviou
um representante para examinar as relações dos
Nessa época, possivelmente um pouco judeus com os gentios.
antes de Pedro haver visitado Cesaréia, Saulo, o Felizmente, e para o bem de todos, a
perseguidor, foi surpreendido no caminho de escolha do representante recaiu sobre Barnabé,
Damasco por uma visão de Jesus ressuscitado. homem de idéias liberais, coração aberto e
generoso. Barnabé foi a Antioquia, observou as Os dois missionários levaram como auxiliar
condições e, em lugar de condenar a igreja local um homem mais jovem chamado João Marcos, o
por sua liberalidade, alegrou-se com essa qual os abandonou em meio à viagem. Eles
circunstância, endossou a atitude dos crentes dali e acolheram como principal campo de trabalho as
permaneceu em Antioquia, a fim de participar grandes cidades, visitando Salamina e Pafos, na ilha
daquele movimento. Anteriormente, Barnabé de Chipre; Antioquia e Icônio, na Pisídia; Listra e
viajou para Tarso, acerca de 160 km de distância, Derbe, na Licaônia.
trouxe Paulo com ele para Antioquia e o fez seu Sempre que lhes era posível, iniciavam o
companheiro na obra da evangelização. A igreja em trabalho de evangelização pregando nas sinagogas,
Antioquia, com esses esforços, elevou-se a tal pois nelas todos os judeus tinham o direito de falar;
proeminência que ali, pela primeira vez os tratando-se de um metre reputado como era Paulo,
seguidores de Cristo foram chamados “cristãos”, que havia cursado a famosa escola de Gamaliel, era
nome dado não pelos judeus mas pelos gregos, e sempre bem recebido.
somente três vezes mencionado no Novo Além disso, por meio das sinagogas, não só
Testamento. Os discípulos de Antioquia enviaram anunciavam o evangelho aos judeus, mas também
auxílio aos crentes pobres da Judéia, no tempo da aos gentios tementes ao Deus de Israel.
fome, e seus líderes foram figuras de destaque na Em Derbe, a última cidade visitada,
igreja primitiva. estavam bem próximo de Antioquia, onde haviam
iniciado a viagem. Em lugar de passarem pelas
A primeira viagem missionária, At 13 e 14 portas da Cilícia e regressarem a Antioquia,
tomaram a direção oeste e voltaram pelo caminho
Até então, os membros gentios da igreja que haviam percorrido, visitando novamente as
eram somente aqueles que espontaneamente a igrejas que organizaram em sua primeira viagem e
procuravam. Daí em diante, sob a direção do nomeando anciãos, de acordo com o costume
Espírito Santo e de acordo com os anciãos, os dois usado nas sinagogas. Em todas as viagens que o
líderes de maior destaque na igreja de Antioquia apóstolo Paulo fez mais tarte, o mesmo método de
foram enviados em missão evangelizadora a outras trabalho foi posto em prática.
terras, pregando tanto para judeus como para
gentios. Na história da primeira viagem O Concílio de Jerusalém, c. 48,(At 15)
missionária, nota-se certas características que se
tornaram típicas em todas as viagens posteriores de Em todas as sociedades ou comunidades
Paulo. Essa viagem foi realizada por dois organizadas, há sempre duas classes de pessoas: os
missionários. Inicialmente menciona-se “Barnabé e conservadores, olhando para o passado, e os
Saulo”, depois “Paulo e Barnabé”, e finalmente progressistas, olhando para o futuro. Assim
Paulo e seus companheiros, apontando Paulo como aconteceu naqueles dias. Os elementos ultrajudeus
líder espiritual. Em relação à mudança do nome de da igreja sustentavam que não podia haver salvação
Saulo, pode-se explicar da seguinte forma: era fora de Israel. Por essa, diziam, todos os discípulos
comum naqueles dias um judeu usar dois nomes; gentios deveriam ser circuncidados e observar a lei
um entre os israelitas e outros entre os gentios. judaica.
“colunas”. A tradição diz que Pedro esteve algum vai do ano 60 ao 100 AD, chamamos de "Era
tempo em Roma., dirigiu a igreja nessa cidade e, Sombria", em razão de as trevas da perseguição
por fim, morreu como marte no ano 67. O terceiro estarem sobre a igreja, e a falha de muitas
dos grandes nomes dessa época foi Tiago, irmão informações sobre este período.
mais moço do Senhor e líder da igreja de Jerusalém.
Tiago era fiel conservador os costumes judaicos. Perseguição sob Nero
Era reconhecido como líder dos judeus cristãos;
todavia, não se opunha a que o evangelho fosse Nero chegou ao poder em 54, todos os que
pregado aos gentios. A epístola de Tiago foi escrita se opunham à sua vontade, ou morriam ou
por ele. Tiago foi morto no templo, por volta do recebiam ordens de se suicidar.
ano 62. Assim, todos os três líderes do período, Assim estavam as coisas quando em 64 AD
dentre muitos outros menos proeminentes, aconteceu o incêndio em Roma. Diz-se que foi
perderam a vida como mártires da fé que Nero, quem ateou fogo à cidade, Contudo essa
abraçaram. acusação ainda é discutível. Entretanto a opinião
pública responsabilizou Nero por esse crime. Afim
Viagens missionárias de Paulo de escapar dessa responsabilidade, Nero apontou
os cristãos como culpados do incêndio de Roma, e
* Segunda viagem – visita à Europa
moveu contra eles tremenda perseguição. O fogo
At 15.36 a 18.22
* Terceira viagem – A igreja em Éfeso durou seis dias e sete noites e depois voltou a se
At 18.23 a 21.17; 16.1-3; Fp 2.19-22; acender em diversos lugares por mais três dias.
At 19.22; 20.4; 10.10; Ap 1.4,11; At 20.1,2; - Milhares de cristãos foram torturados e mortos.
20.6-12 e 20.17-36.
- Muitos serviram de iluminação para a cidade,
* Quarta viagem – Paulo é preso
amarrados em postes e ateado fogo.
At 27 e 28; 25.9.12; 27.2; 27.3,5,8;
28.7-11; 28.16; 28.17-28; 28.30,31 - Muito foram vestidos com peles de animais e
Fp 1.12-14; Fm 22; 2 Tm 4.20; jogados para os cães.
Tt 1.5 e 3.12. - Nesta época morreram :
- Pedro - Crucificado em 67
O registro desse período, conforme os 13 - Paulo - Decapitado em 68
últimos capítulos Atos, refere-se somente às - Tiago - Apedrejado depois de ser jogado do alto
atividades do Apóstolo Paulo. Entretanto, nesse do templo
período outros missionários dever tem estado em Além de matá-los fê-los servir de diversão para o
atividade, pois logo após o fim dessa época são público.
mencionados nomes de igrejas que Paulo jamais
visitou. A Perseguição sob Domiciano
as ofertas anuais, que eram enviadas a Jerusalém, durante duzentos anos suprimir uma instituição
estes, por sua vez não obedeceram, o que tão reta, tão obediente à lei e tão necessária, como
desencadeou a segunda perseguição, não somente era o cristianismo. Podem-se apresentar várias
aos judeus mas também aos cristãos. causas para justificar o ódio dos imperadores ao
Durante esses dias milhares de cristão cristianismo.
foram mortos, especialmente em Roma e em toda a
Itália. Nesta época o apóstolo João, que vivia em
Éfeso, foi preso e exilado na ilha de Patmos, foi Os Motivos das perseguições
quando recebeu a revelação do Apocalipse.
Cristo fosse meramente conhecido como um deus costumes idólatras e não comerem alimentos
qualquer entre outros deuses. usados nas festas dos ídolos. Essa suposta relação
preservou os cristãos por algum tempo da
2. A adoração aos ídolos entrelaçada com a vida perseguição. Entretanto, após a destruição de
Jerusalém, no ano 70, o cristianismo ficou isolado,
Adoração aos ídolos estava entrelaçada com sem nenhuma lei que protegesse seguidores do
todos os aspectos da vida. As imagens eram ódio dos inimigos.
encontradas em todos os lares para serem
adoradas. Em todas as festividades, eram oferecidas 5. As reuniões secretas dos cristãos
libações aos deuses. As imagens eram adoradas em
todas as cerimônias cívicas ou províncias. Os As reuniões secretas dos
cristãos, é claro, não participavam dessas formas de cristãos despertaram suspeitas.
adoração. Por essa razão, o povo não dado a pensar Eles se reuniam antes do nascer
considerava-os insociáveis, taciturnos, ateus e do sol, ou então à noite, quase
aborrecedores de seus companheiros. Com sempre em cavernas ou nas
reputação tão desfavorável por parte do povo em catacumbas subterrâneas. A esse respeito,
geral, apenas um passo os separava da perseguição. circulavam falsos rumores de que entre eles
praticavam-se atos imorais e criminosos. Além
3. A adoração ao imperador (2 Ts 2.3,4; At 17.7) disso, o governo autocrático do império suspeitava
de todos os cultos e sociedades secretas, temendo
A adoração ao imperador era considerada propósito s desleais. A celebração da ceia do
prova de lealdade. Nos lugares mais visíveis de cada Senhor, da qual eram excluídos os estranhos, era,
cidade, havia uma estátua do imperador reinante. repetidas vezes, causa de acusações e de
A essa imagem, era oferecida incenso, como se perseguições.
oferecia aos deuses. Parece que numa das primeiras
epístolas de Paulo há uma referência cautelosa 6. A igualdade na Igreja cristã
contra essa forma de idolatria. Os cristãos
recusavam-se a prestar tal adoração, mesmo um O cristianismo considerava todos os homens
simples oferecimento de incenso sobre o altar. Pelo iguais. Não havia nenhuma distinção entre seus
fato de cantarem hinos e louvores e adorarem a membros, nem em suas reuniões. Um escravo
“outro Rei, um tal Jesus”, eram considerados, pelo podia ser eleito bispo na Igreja. Tudo isso eram
povo, desleais e conspiradores de uma revolução. coisas inaceitáveis para a mentalidade dos nobres,
para os filósofos e para as classes governamentais.
4. O reconhecimento do judaísmo Os cristãos eram considerados “niveladores da
sociedade”, portanto anarquistas, perturbadores da
A primeira geração dos cristãos era tida como ordem social. Por isso, eram tidos na conta de
relacionada com os judeus, e o judaísmo era inimigos do Estado.
reconhecido pelo governo como religião permitida,
apesar de os judeus viverem separados dos 7. Os interesses econômicos
Gradual e lentamente, os livros dos Novo ministros (se é que existiam, o que duvidoso) como
Testamento, da forma como hoje usamos, de todos os leigos. Entretanto, durante o período
conquistaram a proeminência de Escrituras da perseguição, seguramente depois do ano 150, os
inspiradas, ao passo que os outros livros foram concílios eram celebrados e as leis ditadas apenas
gradualmente postos de lado e rejeitados pelas pelos bispos.
igrejas. Os concílios que realizavam de quando em
quando não escolheram os livros para formar o A forma episcopal de governo dominava no
cânon. Apenas ratificaram a escolha já feita pelas âmbito universal. A história de então não explica as
igrejas. Não é possível determinar a data exata do causas que conduziram a essa mudança de
reconhecimento completo do Novo Testamento, tal organização; contudo não e difícil de descobri-las.
com usamos atualmente, mas sabe-se que não
aconteceu antes do ano 300. Qualquer pessoa que Causas da mudança
leia um Novo Testamento apócrifo e o compare
com o conteúdo do Novo Testamento canônico 1. Perda de autoridade apostólica
notará imediatamente a razão por que tais livros
foram recusados e não reconhecidos como A perda de autoridade apostólica
canônicos. contribuiu para que fossem realizadas eleições de
Desenvolvimento da organização eclesiástica novos líderes. Os primeiros líderes da Igreja, Pedro,
Paulo, Tiago, o irmão do Senhor, e João, o último
Em quanto viveram os primeiros apóstolos, dos apóstolos, haviam morrido sem deixar homens
a reverência geral a eles, como companheiros iguais a eles, com a mesma capacidade que
escolhidos por Cristo, primeiros líderes espirituais possuíam. Depois da morte dos apóstolos Pedro e
da Igreja e homens dotados de inspiração divina, Paulo, num período de cerca de cinquenta anos, a
dava-lhes o lugar indiscutível de dirigentes da história da Igreja tem suas páginas em branco. As
Igreja, até onde era necessário governá-la. realizações de homens como Timóteo, Tito e Apolo
são desconhecidas. Entretanto, na geração
Quando Lucas escreveu o livro de Atos, e seguinte, surgem novos nomes como bispos com
Paulo, as epístolas aos Filipenses e a Timóteo, os autoridade sobre várias dioceses.
títulos “bispo” e “ancião” (presbítero) eram dados
livremente àqueles que serviam às igrejas. 2. Crescimento da Igreja
Entretanto, sessenta anos depois, isto é, por volta
do ano 125, nota-se que os bispos governavam as O crescimento e a amplitude da Igreja foi a
igrejas em toda parte, e cada um mandava em sua causa da organização e da disciplina. Enquanto as
própria diocese, tendo presbíteros e diáconos sob igrejas estavam dentro dos limites que tornavam
suas ordens. possível receber a visita dos apóstolos, poucas
autoridades eram necessárias. Contudo, quando a
O concílio de Jerusalém, por volta do ano Igreja se expandiu para além dos limites do Império
50, era composto de “apóstolos e anciãos”, que Romano, chegando até as fronteiras da Índia,
expressavam a voz de toda a Igreja, tanto dos abarcando muitas nações e raças, então se julgou
necessária a autoridade de um dirigente para suas quais as comunidades cristãs se submetiam, por
diferentes visões. estarem acostumadas à mesma forma de governo
do estado. Convém notar que, durante todo o
3. Perseguições período que foi considerado até agora, nenhum
bispo reclamou para si a autoridade de bispo
A perseguição – um perigo comum – universal – autoridade sobre outros bispos - como
aproximou as igrejas uma das outras e exerceu mais tarde o fez o bispo de Roma.
influência para que ela se unissem e se
organizassem. Quando os poderes do Estado se
levantavam contra a Igreja, sentia-se, então, a O desenvolvimento da doutrina
necessidade de uma liderança eficiente. Apareciam,
pois, os líderes para a ocasião. Essa situação durou Outra característica que distingue esse
sete gerações e fez a forma de governo se período é sem dúvida, o desenvolvimento da
estabelecer em caráter definitivo. doutrina. Na era apostólica a fé era do coração,
uma entrega pessoal a vontade de Cristo.
4. Seitas e heresias Entretanto no período que agora focalizamos, a fé
gradativamente passara a ser mental, era uma fé do
A aparição de seitas e heresias na Igreja intelecto, fé que acreditava em um sistema rigoroso
impôs, também, necessidade de se estabelecerem e inflexível de doutrinas. O credo Apostólico, a
alguns artigos de fé e, com eles, algumas mais antiga e mais simples declaração da crença
autoridades para executá-los. Note-se como as cristã, foi escrito durante esse período.
controvérsias sobre elas suscitaram o imperativo
disciplinar para se impor aos hereges e manter a Nesta época surgiram três escolas
unidade da fé. teológicas. Uma em Alexandria, outra na Ásia
Menor e outra na África. Essas escolas foram
5. Analogia com o império estabelecidas para instruir aqueles que descendiam
de famílias pagãs e que haviam aceitado a fé cristã.
Ao inquirir-se por que foi adotada essa Entretanto, não tardou que tais escolas se
forma de governo, isto é, um governo hierárquico, transformassem em centros de investigação das
em lugar de um governo exercido por um doutrinas da Igreja. Grandes mestres ensinavam
ministério em condições de igualdade, descobre-se nestas escolas.
que, por analogia, o sistema de governo imperial
serviu de modelo usado no desenvolvimento da 1. Escola de Alexandria – Panteno, Clemente e
Igreja. O cristianismo não teve início numa Orígenes
república em que os cidadãos escolhiam os
governantes, mas surgiu num império governado A Escola de Alexandria foi fundada no ano
com autoritarismo. Por essa razão, quando se fez 180 por Panteno, que fora filósofo na escola dos
necessário algum governo para a Igreja surgiu a estóicos; como cristão, porém era fervoroso em
forma autocrática, isto é, o governo de bispos, aos espírito e eloquente no ensino oral. Apenas alguns
fragmentos de seus ensinos sobrevivem. Panteno trabalharam e por eles foram inspirados, serviram
foi sucedido por Clemente de Alexandria (que de inestimável fonte de informações originais
viveu em, aproximadamente, 150-215), e vários de acerca da Igreja, sua vida, suas doutrinas e suas
seus livros (a maioria defendendo o cristianismo relações com o mundo pagão que a cercava,
contra o paganismo) ainda existem. Entretanto, o durante os séculos de perseguição.
maior vulto da escola de Alexandria, o expositor
mais competente desse período, foi Orígenes (185- O aparecimento de Seitas e Heresias
254), que ensinou e escreveu sobre muitos temas,
demonstrando possuir profundo saber e poder Juntamente com o desenvolvimento da
intelectual. doutrina teológica, desenvolviam-se também as
seitas, ou como lhes chamavam, as heresias na
2. Escola da Ásia Menor – Irineu igreja cristã. Enquanto a Igreja era judaica em
virtude de seus membros, a até mesmo depois,
A escola da Ásia Menor não estava quando era orientada por homens do tipo judeu
localizada em determinado centro, mas consistia como Pedro e até mesmo Paulo, havia apenas uma
num grupo de mestres e escritores de teologia. Seu leve tendência para o pensamento abstrato e
mais expressivo representante foi Irineu, que especulativo. Entretanto, quando a Igreja em sua
“combinou o zelo de evangelista com habilidade maioria se compunha de gregos, especialmente de
de escritor consumado”. Nos últimos anos de sua gregos místicos e instáveis da Ásia Menor,
vida, mudou-se para a França, onde chegou a ser apareceram opiniões e teorias estranhas, de toda
bispo e, por volta do 200, morreu como mártir. sorte, as quais se desenvolveram rapidamente ali.
3. Escola do norte da África – Tertuliano e Os cristãos dos séculos II e III lutaram não
Cipriano só contra as perseguições do mundo pagão, mas
também contra as heresias e doutrinas
A escola do norte a África estava corrompidas dentro do próprio rebanho. Em
estabelecida na cidade de Cartago. Mediante um seguida, vamos considerar apenas algumas das
elevado número de escritores e teólogos mais importantes seitas desse período.
competentes, fez mais do que as outras em favor do
cristianismo, no sentido de dar forma ao 1. Os Gnósticos (do grego gnósis, “sabedoria”).
pensamento teológico da Europa. Os dois nomes Acreditavam que Deus Supremo é espírito absoluto
de maior expressão que passaram por essa escola e causa de todo bem, enquanto a matéria é
foram os do brilhante e fervoroso Tertuliano (160- completamente má criada por um ser inferior que é
220) e o do mais conservador porém hábil e Jeová. O propósito é então escapar deste corpo que
competente bispo Cipriano, o qual morreu como aprisiona o espírito. Afim de chegar a libertação, é
mártir na perseguição de Décio, no ano 258. necessário que venha um mensageiro do reino
espiritual: Cristo. Cristo portanto, não era matéria
Os escritos desses eruditos cristãos, e bem (corpo físico), possuía somente a natureza divina.
assim os de muitos outros que com eles
2. Os Ebionitas (do hebraico que significa "pobre") principais entre os pais da Igreja, aceitou as idéias
eram judeus-cristãos que insistiam na observância dos montanistas e escreveu em favor deles.
da lei e dos costumes judaicos. Rejeitavam as cartas
escritas por Paulo, porque nessas epístolas Paulo Acerca dessas seitas, consideradas heresias,
reconhecia os gentios convertidos como cristãos. a dificuldade em compreendê-las ou julgá-las está
Os ebionitas eram considerados como apostatas no fato de que (com exceção dos montanistas, e até
pelo judeus não cristãos, mas também não mesmo estes, até certo ponto) seus escritos
contavam com a simpatia dos cristãos gentios, os desapareceram. Para formar nossa opinião acerca
quais, depois do ano 70, constituíam a maioria na deles, dependemos exclusivamente daqueles que
Igreja. Os ebionitas foram reduzindo-se, contra eles escreveram, e eles foram,
gradualmente, no século II. provavelmente, prejudicados com isso.
cirandou a Igreja, separando o joio do trigo. findar o período de perseguição, a Igreja era
suficientemente numerosa para constituir a
2. O ensino unificado da Igreja instituição mais poderosa do império.
De modo geral, nessa época, o ensino da Gibbon, historiador dessa época, calculou
Igreja estava unificado. Tratava-se de uma que os cristãos, ao término da perseguição, eram
comunidade de muitos milhões de pessoas, pelo menos a décima parte da população. Muitos
espalhadas em muitos países, incluindo muitas escritores aceitaram as declarações de Gibbon.
raças e falando vários idiomas. Apesar de tudo isso, Contudo, faz algum tempo o assunto foi
tinham a mesma fé. As várias seitas surgiram, cuidadosamente investigado, e a conclusão a que
floresceram e pouco a pouco despareceram. os estudiosos chegaram foi esta: o número de
membros da Igreja e seus aderentes chegou a vários
As controvérsias revelaram a verdade, e até milhões sob o domínio de Roma. Uma das provas
mesmos alguns movimentos heréticos deixaram mais evidentes desse fato foi as catacumbas de
atrás de si algumas verdades que enriqueceram o Roma, túneis subterrâneos de vasta extensão, que
“depósito” da Igreja. Apesar da existência de seis e durante dois séculos foram os lugares de refúgio,
cismas, o cristianismo do Império Romano e dos reunião e sepultamento dos cristãos.
países vizinhos estava unido na doutrina, na
comunhão e no Espírito. As sepulturas dos cristãos nas catacumbas,
conforme demonstram as inscrições e símbolos
3. A organização da Igreja sobre elas, de acordo com cálculos de alguns,
sobem a milhões. Acrescentem-se a esses milhões
Era uma Igreja inteiramente organizada. Já muitos outros que não foram sepultados nas
descrevemos o sistema de organização na era catacumbas, e teremos, então uma idéia de quão
apostólica. No século III, a Igreja á estava dividida eleado era o número de cristãos em todo o império
em dioceses, controlando com mãos firmes as Romano.
rédeas de seu governo. A igreja era um exército
disciplinado, unido, sob uma liderança IV - A IGREJA IMPERIAL
competente. Dentro do império romano,
exteriormente organizado, mas interiormente em
decadência, havia outro “império” de vida Desde o Edito de Constantino, 313 AD
até à queda de Roma em 476 AD.
abundante e de poder sempre crescente, que era a
Igreja Cristã. A “vitória” do Cristianismo
morte. Contra o cristianismo, estavam todos os conhece como "Labarum", e que consistia na
poderes do Estado. Entretanto, menos de oitenta superposição de duas letras gregas, X e P.
anos depois, em 380, o cristianismo foi reconhecido
como religião oficial do Império Romano, e um
imperador cristão exercia autoridade suprema, Em batalha travada sobre a ponte Mílvio,
cercado de uma corte constituída de cristãos Constantino venceu o exercito de Majêncio e este
professos. morreu afogado caindo nas águas do rio. Após este
vitoria Constantino fez aliança com Licínio e
Dessa forma, passaram os cristãos de um posteriormente com Maximino os outros dois
momento para o outro, das arenas romanas onde pretendentes a coroa.
tinham de enfrentar os leões, a ocupar lugares de Pouco tempo depois, em 313, Constantino
honra junto ao trono que governava o mundo! promulgou o famoso Edito de Tolerância, que
oficialmente pôs fim Às perseguições. Somente no
ano 323 foi que Constantino alcançou o posto
1. Constantino, o primeiro imperador cristão, supremo de imperador, e o Cristianismo foi então
312-337 favorecido.
de impostos. Nas causas em que estivessem Constantino como distintivo de seu exército e foi
envolvidos, os clérigos eram julgados por cortes proibida como instrumento de morte.
eclesiásticas, e não civis. Os ministros da Igreja
logo formavam uma classe privilegiada, acima da O infanticídio foi reprimido. Na história de
lei do país. Tudo isso foi, também um bem Roma e suas províncias, era fato comum que
imediato que se transformou em prejuízo tanto qualquer criança que não fosse do agrado do pai
para o Estado, como com a Igreja. era asfixiada ou abandonada para que morresse.
Algumas pessoas dedicavam-se a recolher crianças
O primeiro dia da semana (domingo) foi abandonadas; criavam-nas e depois vendiam-nas
proclamado como dia de descanso e adoração, e a como escravos. A influência do cristianismo
observância em breve se generalizou em todo o imprimiu um sentido sagrado à vida humana, até
império No ano 321, Constantino proibiu o mesmo à das crianças, e fez o infanticídio ser
funcionamento das cortes e tribunais aos banido do império.
domingos, exceto nos casos de libertação de
escravos. Os soldados estavam isentos de exercícios Através de toda a história da república e do
militares aos domingos. Mas os jogos públicos Império Romano antes que o Cristianismo chegasse
continuaram a ser realizados nos domingos, o que a dominar, mais da metade da população era
o tornava mais um feriado que um dia santo. escrava, sem nenhuma proteção legal. Qualquer
senhor podia matar os escravos que possuía, se o
desejasse. Durante o domínio de um dos primeiros
3. Alguns bons resultado para o Estado imperadores, um rico cidadão romano foi
assassinado por um de seus escravos. Segundo a lei,
* Crucificação abolida
* Repressão do infanticídio como castigo, todos os 300 escravos daquele
* Influência no tratamento dos escravos cidadão foram mortos, sem levar em consideração
* Proibição dos duelos de gladiadores
o sexo, a idade, a culpa ou inocência. Entretanto, a
influência do cristianismo tornou mais humano o
Como se vê, do reconhecimento
tratamento dado aos escravos. Foram-lhes
do Cristianismo como religião preferida
outorgados direitos legais que antes não possuíam.
surgiram alguns bons resultados, tanto para o povo
Podiam, de acordo com a lei, acusar seu amo de
como para a igreja. O Espírito da nova religião foi
tratamento cruel, e a emancipação foi assim
incutido em muitas ordens decretadas por
sancionada e fomentada. Dessa forma, as condições
Constantino e seus sucessores imediatos.
dos escravos foram melhoradas, e a escravidão foi
gradativamente abolida.
A crucificação foi abolida. Note-se que a
crucificação era uma forma comum de castigo para
As lutas de gladiadores foram proibidas.
os criminosos, exceto para os cidadãos romanos, os
Essa lei posta em vigor na nova capital de
únicos que tinham direito a ser decapitados, se
Constantino, onde o hipódromo jamais foi
fossem condenados à morte. Contudo, a cruz,
contaminado por homens que se matavam uns aos
emblema sagrado para os cristãos, foi adotada por
outros para satisfazer o prazer mórbidos dos
religião do império, e dessa união não natural uma vez, fora cercada por exércitos estrangeiros.
surgiram males sem conta nas províncias orientais Mais tarde, também cercada por exércitos das
e ocidentais. No Oriente, o Estado dominava de tal províncias, que por várias vezes destronaram e
modo a Igreja que esta perdeu o poder que possuía. entronizaram imperadores. O sistema de governo
No Ocidente, como veremos adiante, a Igreja, organizado por Diocleciano e continuado por
pouco a pouco, usurpou o poder secular, e o Constantino não dava lugar a nenhuma parcela de
resultado não foi cristianismo, e sim o autoridade do senado romano. Os imperadores
estabelecimento de uma hierarquia mais ou menos possuíam agora poderes ilimitados, e Constantino
corrompida que dominava as nações da Europa, desejava uma capital sem os laços da tradição, uma
fazendo da Igreja uma máquina política. capital sob os auspícios da nova religião.
Na nova capital, não havia templos Um dos fatos mais notáveis da História foi
dedicados aos ídolos, mas não tardou para que se a rápida transformação de um vasto império, de
edificassem várias igrejas. A maior de todas ficou pagão que era, para cristão. Aparentemente, no
conhecida como a de Santa Sofia, “Sabedoria início do século IV, os antigos deuses estavam
Sagrada”. Foi edificada por ordem de Constantino. arraigados na reverência do mundo romano;
Algum tempo depois, foi destruída por um contudo, antes que se iniciasse o século IV, os
incêndio, mas reconstruída pelo imperador templos pagãos haviam sido abandonados à própria
Justiniano (em 537), com tanta magnificência que ruína ou, então, transformados em templos
sobrepujou todos os templos da época. Esse cristãos. Os sacrifícios e as libações haviam
templo, durante onze séculos, foi considerado a cessado, e, oficialmente, o Império Romano era
catedral do cristianismo, até o ano de 1453, quando cristão.
a cidade foi conquistada pelos turcos. Logo após, o
templo foi transformado em mesquita, até depois 1. A tolerância de Constantino
da Primeira Guerra Mundial.
Constantino era tolerante, tanto por
Divisão do Império Romano temperamento como motivos políticos, apesar de
ser enfático no reconhecimento da religião cristã.
Logo depois da fundação da nova capital, Não sancionava nenhum sacrifício as imagens que
deu-se a divisão do império. As fronteiras antes eram adoradas e determinou que cessassem
demasiado extensas, e o perigo de invasão dos as oferendas à estátua do imperador. Contudo,
bárbaros eram tão grande que um imperador favorecia tolerância para com todas as formas de
sozinho não podia defender seu vastíssimo religião e procurava a conversão gradativa do povo
território. Diocleciano havia inciado a divisão de ao cristianismo, mediante a evangelização, e não
autoridade em 305. Constantino também nomeou por decretos. Conservou alguns títulos pagãos do
imperadores aliados. Em 395, Teodósio completou imperador, como o de “Pontifex Maximus”, sumo
a separação. pontífice, título adotado por todos os papas desde
esse tempo. Também manteve as virgens, as
vestais, em Roma.
Controvérsias e Concílios
2. A intolerância de seus sucessores
Ambrósio (340 - 397) Foi eleito bispo enquanto O termo papa, significa simplesmente
ainda era leigo e nem mesmo batizado. Converteu- "papai", sendo, portanto, um termo de carinho e
se posteriormente, repreendeu o próprio imperador respeito, este termo era usado para qualquer bispo,
(Teodósio) por causa de um ato cruel e mais tarde sem importar se ele era de Roma. Como Roma era,
o próprio imperador o tratou com alta distinção. pelo menos de nome, a capital do Império, a igreja
Foi autor de vários livros. e o bispo desta cidade logo se viram em posição de
destaque.
João Crisóstomo (345 - 407) " Boca de ouro " em
razão de sua eloqüência inigualável, foi o maior Quando os bárbaros invadiram o Império,
pregador desse período. Chegou a ser bispo em a igreja de Roma começou a seguir um rumo bem
Constantinopla. Entretanto, sua fidelidade, zelo diferente Constantinopla. No Ocidente, o Império
reformador e coragem, não agradava à corte. Foi desapareceu, e a igreja veio a ser a guardiã do que
exilado e morreu no exílio. restava da velha civilização. Por isto, o papa,
chegou a ter grande prestígio e autoridade.
Jerônimo (340 - 420) Foi o mais erudito de todos. Porém, enquanto que no Oriente
Estudou literatura e oratória em Roma. De seus duvidava-se de sua autoridade, em Roma e
numerosos escritos, o que teve maior influência foi vizinhanças esta autoridade se estendia até além
a tradução da Bíblia para o latim, obra que ficou dos assuntos religiosos. Tudo isto nos mostra que
conhecida como Vulgata Latina, isto é, a Bíblia em em uma época em que a Europa estava em caos, o
linguagem comum, até hoje usada pela Igreja papado preencheu o vazio, proporcionando certa
católica Romana. estabilidade.
O período de crescimento do poder papal
Agostinho (354 - 430) O nome mais ilustre desse começou com o pontificado de Gregório I, o
período, bispo em Hipona na África. Escritor de Grande, e teve o apogeu no tempo de Gregório VII,
vários livros sobre o Cristianismo e sobre a própria mais conhecido por Hildebrando. Hildebrando
vida. Porém a fama e a influência de Agostinho reformou o clero que se havia corrompido, elevou
estão nos seus escritos sobre a teologia cristã, da as normas de moralidade de todo o clero, exigiu
qual ele foi o maior expositor, desde o tempo de celibato dos sacerdotes, libertou a igreja da
Paulo. influência do estado, pondo fim à nomeação de
papas pelos reis e imperadores. Hildebrando impôs
V - A IGREJA MEDIEVAL a supremacia da igreja sobre o Estado.
devemos citar: Inocêncio (402-417); Celestino (422- considerava bispo e até bispo dos bispos em coisas
432); Leão I (440-461); e Gregório I (590-604). formais e até doutrinárias. Sem sua permissão não
se pode reunir um sínodo.
1. Até Constantino – Os antigos autores católicos
insistem que a Igreja de Roma foi fundada por Roma surge como árbitro entre as igrejas.
Pedro e que deste tenha tido uma linha de papas, No conflito entre os arianos e Atanásio, este
vigários de Cristo, desde então. contribuiu para fortalecer Júlio por ter recorrido ao
bispo de Roma, pedindo que convocasse um
A lista dos primeiros bispos consta destes concílio. Esta e outras questões entre as igrejas do
nomes: Lino, Cleto ou Anacleto, Clemente (91-100), leste e da África foram exploradas pelos papas para
Evaristo, Alexandre(109-119), Sixto I (119-127), fortalecer suas próprias posições. Assim questões
Telesforo (127-138), Higino (139-142), Pio I (142-157), religiosas seriam resolvidas pelo "sumo-
Aniceto (157-168), Soter (168-177), Eleutero (177-193). pontífice"de religião e não pelos magistrados civis.
Estas datas são aproximadas e temos poucas
informações do seu pontificado. Siricius (354-398). Conseguiu que um concílio
realizado em Roma decretasse que nenhum bispo
Vitor (193--202). Parece ser o primeiro a procurar deve ser consagrado sem o conhecimento e
estabelecer a autoridade papal além das fronteira consentimento do bispo de Roma. Mesmo que seja
de sua igreja. Cipriano, Bispo em Cartago durante o um decreto falso, é muito antigo e exerceu grande
pontificado de Cornélio e Estevão, contribuiu influência.
bastante para fortalecer a autoridade do bispo de
Roma. Defendeu as reivindicações petrinas (Mt Inocêncio I (402-417). Demonstrou grande
16.18) sem entretanto colocar o papa sobre os ousadia em explorar as reivindicações de Roma,
demais bispos. exigindo submissão universal a sua autoridade.
Insistia que era a obrigação de todas as igrejas
Estevão (253-257). Procurou forçar as demais ocidentais se conformarem aos costumes de Roma.
igrejas a seguir o costume romano quanto ao
cálculo da data da páscoa. Um outro elemento que Celestino (422-432). Durante o exercício do seu
contribuiu para fortalecer a posição de Roma neste papado foi resolvido a mui agitada questão do
período foi a crescente prática das igrejas rurais ou direito de apelar a Roma decisões nas províncias.
de pequenas cidades serem relacionadas a alguma Celestino manipulou as questões de uma maneira
igreja em cidade grande ou incorporadas num que sempre saía ganhando o prestígio de Roma, até
sistema diocesano. Esta prática começou no II o ponto de dispensar os cânones de um concílio
século como resultado do sistema missionário das geral.
igrejas mães.
Leão I (440)-461). Homem humilde, insistia que
2. De Constantino a Gregório Magno - A era sucessor de Pedro e que não se pode infringir a
oficialização da Igreja trouxe em seu bojo rápido autoridade deste. Conseguiu do jovem e fraco
desenvolvimento hierárquico. Constantino se imperador Valentino III um edito em que este
reconhece a primazia da sé de Pedro e insiste que procurou firmar os direitos de supremacia do papa
ninguém pode agir sem a permissão desta sé. e de sua juridiçao suprema.
Leão III (795-816). O período começa com Leão III Estevao VI, foi aprisionado e morto. E
assentado na cadeira pontificial. Foi ele quem depois foi eleito o Papa Marino, cujo pontificado
colocou Carlos Magno como imperador no ano durou apenas meses. João X, feito papa, procurou
800. abrogar os atos de Estevão, e de fato abrogou
muitos deles. Leão V, depois de um breve
Estevão IV (816-817). Este papa coroou o Rei Luiz pontificado, foi morto por seu próprio capelão seu
o Pio, em Roma ato que elevou ainda mais a sucessor, Mas ao assassino coube o mesmo fim
posiçao do papa. trágico, decorrido apenas oito meses.
Gregório IV (827-844). Foi nos dias desse papa que No período de 903 a 963 Com Sergio III,
apareceram falsos documentos a favor da começa a influência perniciosa de uma aventureira
prerrogativa papal. Gregório defendeu Roma contra de alta linhagem sobre o governo papal. De 936 a
os sarracenos. 956 o papado esteve sob inf1uência de Alberico que
nomeou quatro papas. Um filho do mesmo, sob o
Nicolau I (858-867). Ascendeu a cadeira papal nome de João XIII, assumiu o ofício papal sendo o
num momento de agitaçao e desordens, seu pontificado havido como um dos mais imorais
aproveitando-se dos documentos falsos a favor da e licenciosos. Este papa morreu assassinado.
absoluta soberania e irresponsabilidade do papado,
A questão não ficou resolvida, pois, três - A Segunda Cruzada foi convocada em virtude das
papas levantaram-se disputando a cadeira invasões dos Sarracenos às províncias adjacentes ao
pontificia, cada um formando em torno de si um reino de Jerusalém. Sob a influência de Luiz VII da
considerado número de admiradores. França e Conrado III da Alemanha, um grande
exército foi conduzido em socorro dos lugares
O pontificado de Nicolau V (l448-1455) foi reconhecido como santos. Enfrentara grandes
notável, tendo sido construído nesse tempo o dificuldades, mas obtiveram vitória.
Vaticano e a Basílica de São Pedro, considerados
como duas magnificas obras de arte. Talvez nesta - A terceira Cruzada foi dirigida por Ricardo I "
época tenha-se resolvido o problema dos três Coração de Leão", da Inglaterra e outros como;
papas. Frederico Barbarroxa, Filipe Augusto. Barbarroxa
Inocêncio VIII (l484-l492). para melhorar a fortuna morrerá afogado e Filipe desentendeu-se com
de seus filhos ilegítimos, pelejou contra Nápoles e Ricardo I e voltou para França. A coragem de
recebia tributo anual de Sultão, por manter seu Ricardo I, sozinho, não foi suficiente para conduzir
irmão e rival na prisão em vez de envia-lo como seu exército para Jerusalém. Contudo fez um
cabeça de um exercito contra os inimigos da acordo para que os cristãos tivessem direito a
cristandade. visitar o santo sepulcro.
Isto se deu numa época de ignorância, - A Quarta Cruzada foi um completo fracasso,
senão no período do renascimento literário e porque causou grande prejuízo a igreja cristã. Os
quando a Europa tinha entrado numa era de cruzados, se afastaram do propósito de conquistar
invenções e descobrimentos destinados a a Terra Santa e fizeram guerra a Constantinopla,
transformar a civilização. O estado de conquistaram-na e saquearam-na. Constantinopla
ficou, posteriormente, a mercê dos inimigos. pântanos, lavrava os campos e ensinava ao povo
muitos ofícios úteis.
- Na Quinta Cruzada, Frederico II, conduziu um A Ordem dos Cistercienses - Surgiram em 1098,
exército até a Palestina e conseguiu um tratado no com objetivo de fortalecer a disciplina dos
qual as cidades de Jerusalém, Haifa, Belém e Beneditinos, que se relaxava. Seu nome deve-se a
Nazaré, eram cedidas aos cristãos. Porém 16 anos cidade francesa de Citeaux, fundada por São
depois a cidade de Jerusalém foi tomada pelos roberto. Deu ênfase às arte, arquitetura e
maometanos. especialmente à literatura, copiando e escrevendo
livros.
- A Sexta Cruzada foi empreendida por São Luiz. A Ordem dos Franciscanos - Fundada em 1209
Invadiu a Palestina através do egito, mas não por São Francisco de Assis. Tornou-se a mais
obteve êxito, foi derrotado pelos maometanos e numerosa de todas as ordens. Por causa da cor que
libertado por uma grande soma . usavam, tornaram-se conhecido como os "frades
cinzentos".
- A sétima Cruzada teve também a direção de São A Ordem dos Dominicanos - Ordem espanhola
Luiz juntamente com Eduardo I. A rota escolhida fundada por São Domingos, em 1215. Os
foi novamente a África, porém São Luiz morreu e Dominicanos e os Franciscanos diferenciavam-se
Eduardo I voltou para ocupar o trono na Inglaterra das outras ordens, pois eram pregadores, iam por
e a cruzada teve um fracasso total. Esta foi toda parte a fortalecer a fé dos crentes.
considerada a última Cruzada, porém houve outras No início, cada ordem monástica era um benefício
de menor vulto. para a sociedade. Vamos ver alguns bons
resultados.
O Desenvolvimento da vida Monástica 1. Os mosteiros davam hospedagem aos viajantes,
aos enfermos e aos pobres. Serviam de abrigo e
Este movimento desenvolveu-se proteção aos indefesos, principalmente às mulheres
grandemente na Idade Média entre homens e e crianças.
mulheres, com resultados bons e maus. Com o 2. Guardavam em suas bibliotecas muitas obras
crescimento dessas comunidades, tornava-se antigas da literatura clássica e cristã. Sem as obras
necessária alguma forma de organização, de modo escritas nos mosteiros, a Idade média teria passado
que nesse período surgiram quatro grandes ordens. em branco.
3. Os monges serviram como missionários na
A Ordem dos Beneditinos - Fundada por por São expansão do evangelho, até mesmo entre os
Bento em 529, em Monte Cassino. Essa ordem bárbaros.
tornou-se a maior de todas as ordens monásticas da Apesar dos bons resultados que emanaram do
Europa. Suas regras exigiam obediência ao superior sistema monástico, também houve péssimos
do mosteiro, a renúncia a todos os bens materiais, e resultados.
bem assim a castidade pessoal. 1. O monacato apresentava o celibato como a vida
mais elevada, o que é inatural e contrário às
Cortava bosques, secava e saneava Escrituras.
Turco e assim terminou também o período da interesse pela literatura, pelas artes e pela ciência,
Igreja Medieval. isto é, a transformação dos métodos e propósitos
medievais em métodos modernos.
Resumo da Apostasia
A maioria dos estudiosos italianos desse
Mencionaremos algumas das doutrinas que não período eram homens destituídos de vida religiosa;
tem apoio nas Escrituras Sagradas, e quando foram até os próprios papas dessa época destacavam-se
implantadas na igreja. mais por sua cultura do que pela fé. No norte dos
Alpes, na Alemanha, na Inglaterra, e na França o
Ano Doutrina
310 Reza pelos defuntos, movimento possuía sentimento religioso,
320 Uso de Velas, despertando novo interesse pelas Escrituras, pelas
375 Culto dos santos,
431 Culto à virgem Maria, línguas grega e hebraica, levando o povo a
503 Obrigatoriedade de se beijar os pés do papa, investigar os verdadeiros fundamentos da fé,
850 Uso da água benta,
993 Canonização dos Santo, independente dos dogmas de Roma. Por toda
1073 Celibato Sacerdotal, parte, de norte a sul, a Renascença solapava a igreja
1184 Instituição da Santa Inquisição,
1190 Venda de Indulgências, católica romana.
1200 Substituição do pão pela hóstia,
1215 Dogma da transubstanciação,
1229 Proibição da leitura Bíblica, A invenção da imprensa veio a ser um
1316 Instituição da reza à Ave Maria, arauto e aliado da Reforma que se aproximava. A
1546 Introdução dos livros apócrifos,
1870 Dogma da infalibilidade papal, imprensa possibilitou o uso comum das Escrituras,
1950 Ascenção de Maria e incentivou a tradução e a circulação da Bíblia em
todos os idiomas da Europa. As pessoas que liam a
VI - A IGREJA REFORMADA
Bíblia, prontamente se convenciam de que a igreja
papal estava muito distanciada do ideal do Novo
Testamento. Os novos ensinos dos Reformadores,
Desde a queda de Constantinopla, 1453 logo que eram escritos, também eram logo
até o fim da Guerra dos Trinta Anos, 1648
publicados em livros e folhetos, e circulavam aos
milhões em toda a Europa.
A Reforma na Alemanha
apesar de possuir um salvo-conduto, foi morto por católicos, que tinham maioria, condenaram as
seus inimigos, Lutero respondeu-lhes: "irei a doutrinas de Lutero. Os príncipes resolveram
Worms ainda que me cerquem tantos demônios proibir qualquer ensino do luteranismo nos estados
quantas são as telhas dos telhados." em que dominassem os católicos. Ao mesmo tempo
determinaram que nos estados em que
Finalmente, no dia 17 de abril de 1521 governassem luteranos, os católicos poderiam
Lutero compareceu ao Concílio. Em resposta a um exercer livremente sua religião. Os príncipes
pedido de que se retratasse, e renegasse o que havia luteranos protestaram contra essa lei
escrito, após algumas considerações respondeu que desequilibrada e odiosa. Desde esse tempo ficaram
não podia retratar-se, a não ser que fosse conhecidos como protestantes, e as doutrinas que
desaprovado pelas Escrituras e pela razão, e defendiam também ficaram conhecidas como
terminou com estas palavras: "Aqui estou. Não religião protestante.
posso fazer outra coisa. Que Deus me ajude.
Amém." Instaram com o imperador Carlos para que A Contra-Reforma
prendesse Lutero, apresentando como razão, que a
fé não podia ser confiada a hereges. Contudo, Logo após haver-se iniciado o movimento
Lutero pôde deixar Worms em paz. da Reforma, um poderoso esforço foi também
iniciado pela igreja católica romana no sentido de
Enquanto viajava de regresso à sua cidade, recuperar o terreno perdido, para destruir a fé
Lutero foi cercado e levado por soldados do eleitor protestante e para enviar missões a países
Frederico para o castelo de Wartzburg. Ali estrangeiros. Esse movimento foi chamado Contra-
permaneceu durante um ano, enquanto as Reforma.
tempestades de guerra e revoltas rugiam no
império. Entretanto, durante esse tempo, Lutero Tentou-se fazer a reforma dentro da
não permaneceu ocioso; nesse período traduziu o própria igreja por via do Concílio de Trento,
Novo Testamento para a língua alemã, obra que convocado no ano de 1545 pelo papa Paulo III,
por si só o teria imortalizado, pois essa versão é principalmente com o objetivo de investigar os
considerada como o fundamento do idioma alemão motivos e pôr fim aos abusos que deram causa à
escrito. Isto aconteceu no ano de 1521. O Antigo Reforma.
Testamento só foi completado alguns anos mais
tarde. Ao regressar do castelo de Wartzburg a O Concílio era composto de todos os
Wittenberg, Lutero reassumiu a direção do bispos e abades da igreja, e durou quase vinte anos,
movimento a favor da igreja Reformada, durante os governos de quatro papas, de 1545 a
exatamente a tempo de salvá-la de excessos 1563. Todos esperavam que a separação entre
extravagantes. católicos e protestantes teria fim, e que a igreja
ficaria outra vez unida. Contudo, tal coisa não
Em 1529 a Dieta reuniu-se na cidade de sucedeu. Fizeram-se, porém, muitas reformas na
Espira, com o objetivo de reconciliar as partes em igreja católica e as doutrinas foram definitivamente
luta. Nessa reunião da Dieta os governadores estabelecidas. Os próprios protestantes admitem
que depois do Concílio de Trento os papas se a fé protestante, usando para isso a espada.
conduziram com mais acerto do que os que
governaram antes do Concílio. O resultado dessa Na Espanha estabeleceu-se a Inquisição,
reunião pode ser considerado como uma reforma por meio da qual inumerável multidão sofreu
conservadora dentro da igreja católica romana. torturas e muitas pessoas foram queimadas vivas.
espiritual entre os morávios, um grupo dissidente cristã conseguiu tantos seguidores como João
da igreja Luterana. Wesley.
Em 1739 Wesley começou a pregar "o A Igreja da Inglaterra (Episcopal), foi a
testemunho do Espírito" como um conhecimento primeira religião protestante a estabelecer-se na
pessoal interior, e fundou sociedades daqueles que América do Norte, em 1607. A igreja, nos Estados
aceitavam seus ensinos. A princípio essas Unidos, tomou o nome oficial de Igreja Protestante
sociedades eram orientadas por dirigentes de Episcopal. A igreja Episcopal reconhece estas três
classes, porém mais tarde Wesley convocou um ordens no ministério: bispos, sacerdotes e
corpo de pregadores leigos para que levassem as diáconos, e aceita quase todos os trinta e nove
doutrinas e relatassem suas experiências em todos artigos da Igreja da Inglaterra, modificados para
os lugares, na Grã-Bretanha e nas colônias norte- serem adaptados à forma de governo norte-
americanas. Os seguidores de Wesley foram americano. Sua autoridade legislativa está
chamados "metodistas", e Wesley aceitou sem concentrada em uma convenção geral que se reúne
relutância esse nome. Na Inglaterra foram cada três anos. Trata-se de dois corpos, uma
conhecidos como "metodistas wesleyanos", e antes câmara de bispos e outra de delegados clérigos e
da morte de seu fundador, contavam-se aos leigos eleitos por convenções nas diferentes
milhares. dioceses.
Apesar de haver sofrido, durante muitos Uma das maiores igrejas existentes na
anos, violenta oposição da igreja de Inglaterra, sem América do Norte é a denominação Batista. Seus
que lhe permitissem usar o púlpito para pregar, princípios distintivos são dois: (1) Que o batismo
Wesley afirmava considerar-se membro da referida deve ser ministrado somente àqueles que
igreja; considerava o movimento que dirigia como confessam sua fé em Cristo; por conseguinte, as
uma sociedade não separada, mas dentro da igreja crianças não devem ser batizadas. (2) Que a única
da Inglaterra. Contudo após a revolução norte- forma bíblica do batismo é a imersão do corpo na
americana, em 1784, organizou os metodistas nos água, e não a aspersão ou derramamento.
Estados Unidos em igreja independente, de acordo Os batistas são congregacionais em seu
com o modelo episcopal, e colocou sistema de governo. Cada igreja local é
"superintendentes", título que preferiu ao de absolutamente independente de qualquer
"bispo". Nos Estados Unidos o nome "bispo" teve jurisdição externa, fixando suas próprias regras.
melhor aceitação e foi por isso adotado. Nesse Não possuem uma Confissão de Fé nem catecismo
tempo os metodistas na América eram cerca de algum para instruir jovens acerca de seus dogmas.
14.000. Surgiram os batistas pouco depois da Reforma, na
O movimento wesleyano despertou Suíça, e espalharam-se rapidamente no norte da
clérigos e dissidentes para um novo poder na vida Alemanha e na Holanda. No princípio foram
cristã. Também contribuiu para a formação de chamados anabatistas, porque batizavam
igrejas metodistas sob várias formas em muitos novamente aqueles que haviam sido batizados na
países. Na América do Norte, presentemente a infância. Na Inglaterra, a princípio, estavam unidos
igreja metodista conta com aproximadamente onze com os independentes ou congregacionais, mas
milhões de membros. Nenhum dirigente na igreja pouco a pouco tornaram-se um corpo
independente. Com efeito, a igreja de Redford, da CRISTIANI, Monsenhor. Breve história das heresias. São
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