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Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Centro de Ciências, Tecnologias e Saúde (CTS)


Coord. Especial de Física, Química e Matemática (FQM)
Disciplina: FQM7110 – Física A
Semestre: 2023/1 Turma: 03655
Professor: Bernardo Walmott Borges (bernardo.borges@ufsc.br)

Capítulo 1 - Padrões e unidades


1.1. Introdução à Mecânica cançou elevado grau de especialização. Por-
tanto, por uma limitação de tempo e de co-
nhecimento matemático prévio dos estudan-
"Que os mortais se regozijem por ter
tes de Engenharia, é importante delinearmos
existido tamanho ornamento da raça hu-
aqui quais locais este curso pretende visitar
mana."
no vasto território da Mecânica. Outras dis-
Epitáfio escrito em latim sobre o tú- ciplinas do ciclo básico de Física das Enge-
mulo de Sir Isaac Newton (1642-1727), nharias (Física B, Estática e Dinâmica) avan-
na Abadia de Westminster, em Londres. çarão sobre novos territórios. Também retor-
narão às áreas já exploradas com um olhar
A Mecânica é o ramo da Física que estuda mais apurado matematicamente, ou com ob-
o mais comum de todos os fenômenos físi- jetivo de aplicar os conceitos básicos já co-
cos, o movimento. O movimento é observado nhecidos à problemas de Engenharia.
cotidianamente por todos nós. Acontece em A primeira delimitação do conteúdo desta
todas as escalas de tamanho – das partículas disciplina será no contexto histórico. Pela li-
subatômicas aos superaglomerados de galá- nha histórica, podemos dividir a Mecânica
xias – e em todos os regimes – do repouso às em:
velocidades próximas ao limite universal da
velocidade da luz no vácuo. i. Mecânica Clássica: pode ser consi-
derado o primeiro e mais desenvolvido
ramo de toda Física. Marcada por no-
mes como Aristóteles (384-322 a.C.) e
Arquimedes (287-212 a.C.) em seu iní-
cio, passando por Galileu Galilei (1564-
1642), teve seu auge nos trabalhos de
Isaac Newton (1642-1727). No começo
do Século XX surgiram várias evidên-
cias experimentais que seus princípios
falhavam em certos regimes, o que le-
vou ao nascimento da Mecânica Mo-
Figura 1: Colisão entre duas galáxias, denomi- derna.
nadas NGC4676 A e B, localizadas a 290 milhões
de anos-luz na constelação de Coma Berenices, ii. Mecânica Moderna: desenvolvida
obtida pelo Telescópio Espacial Hubble em 2002. no início do Século XX, quando se
Muito tempo antes da luz que permitiu a obten- acumularam evidências que a Mecâ-
ção da imagem acima chegar ao espelho do te- nica Clássica falhava em certos regi-
lescópio, os dois objetos estavam separados e se mes. Pode ser subdividida em dois
movimentavam um em direção ao outro devido grande ramos:
à atração gravitacional entre elas. Crédito: NA-
SA/ESA, domínio público. a. Mecânica Relativística: considera
os conceitos da Relatividade Res-
Pode ser considerado o ramo mais antigo
trita (1905) e da Relatividade
da Física, com origens na Grécia Antiga, e al-

1
Geral (1915) de Albert Eins- número infinitamente grande de partí-
tein (1879-1955). Suas dife- culas constituintes. As propriedades fí-
renças com a Mecânica Clássica sicas variam continuamente entre ele-
tornam-se evidentes em velocida- mentos infinitesimais vizinhos.
des próximas à velocidade da luz
(vluz ≡ c ≃ 3 × 108 m.s−1 ) a. Mecânica dos sólidos: ramo da
ou quando os objetos se tornam Mecânica dos meios contínuos
muito massivos (gerando campos que, como o próprio nome in-
gravitacionais intensos). dica, trata dos corpos sólidos.
Um corpo sólido pode ser definido
b. Mecânica Quântica: válida em ní-
de maneira mais simples como
vel atômico e subatômico. Desen-
aquele que mantém aproximada-
volvida a partir do começo do sé-
mente sua forma sob ação de um
culo passado, sua história reune
conjunto de forças. Ou de modo
nomes como Max Planck (1858-
mais formal como corpo que pode
1947), Werner Heisenberg (1901-
resistir à ação de forças internas
1976), Erwin Schrödinger (1887-
cortantes (ou tangenciais).
1961) e Paul Dirac (1902-1984).
I. Mecânica dos corpos rígidos
Nesta disciplina nosso foco estará na Me- (ou indeformáveis): caso em
cânica Clássica. Um comentário sobre o adje- que as deformações do corpo
tivo "clássica" é conveniente: não se trata de sólido (sob ação de forças)
um conhecimento ultrapassado ou incorreto são desprezíveis, ou seja, ele
ou inadequado. Pelo contrário, é satisfatori- é dito rígido.
amente aplicada em quase tudo de nosso co- II. Mecânica dos corpos defor-
tidiano, do projeto de estruturas e máquinas máveis: quando as deforma-
ao cálculo da órbita de satélites. ções do corpo (sob ação de
A Mecânica Clássica pode ser subdividida forças) devem ser considera-
utilizando como critério a natureza do corpo das, ainda que não alterem
que está sendo estudado: substancialmente a forma do
corpo. Quando cessada a
i. Mecânica de partícula e de sis- ação das forças, essas (peque-
tema de partículas: aplicada a cor- nas) deformações sofridas po-
pos (ou sistema de corpos) com dimen- dem ser elásticas (não perma-
sões desprezíveis se comparadas às ou- nentes) ou plásticas (perma-
tras dimensões envolvidas. O estudo nentes).
do movimento dessas partículas pode
ser reduzido ao estudo do movimento b. Mecânica dos fluidos: trata o mo-
de pontos geométricos. vimento de fluidos, ou seja, corpos
que se deformam facilmente sob
ii. Mecânica dos meios contínuos: ação de forças (ou, mais formal-
aplicada a corpos cujas dimensões não mente, não suportam forças inter-
podem ser desprezadas quando compa- nas cortantes). Outra diferença
radas às outras dimensões envolvidas. em relação à Mecânica dos Sólidos
O corpo é modelado como um contí- é o método matemático tradicio-
nuo, ou seja, preenchendo todo o vo- nalmente utilizado para descrever
lume que ocupa (ou seja, não pode ser o movimento de fluidos, chamado
considerado um conjunto finito de par- formalismo de Euler1 .
tículas ou discretizado). Podemos to-
mar porções cada vez menores deste iii. Mecânica estatística: aplicada ao
corpo (chamados elementos de volume estudo de sistemas com um número
infinitesimais) que sempre teremos um muito grande de partículas (da ordem
1
Leonhard Euler (1707-1783), matemático suíco.

2
do Número de Avogadro NA , ou seja, partículas poderá ser adaptado ao estudo dos
∼ 1023 partículas). Um exemplo é um corpos rígido, no fim do curso.
gás ideal contido em um recipiente fe-
chado. Relaciona grandezas macroscó- Um corpo rígido pode ser definido em
picas à grandezas dinâmicas microscó- termos da distância de dois pontos do
picas médias. corpo, como ilustrado na figura abaixo.

iv. Mecânica celeste: descreve o movi-


mento de corpos celestes, como satéli-
tes artificiais, planetas e estrelas. Ape-
sar de serem muitas vezes considerados
como partículas (ou sistema de partícu-
las), os objetos estudados pela Mecâ-
nica Celeste estão exclusivamente sob
ação da interação gravitacional, formu-
lada matematicamente na Lei da Gra-
vitação Universal de Newton. Tornou-
se uma subdivisão muito especializada,
Figura 2: Em um corpo considerado rígido,
em termos de nomenclatura e métodos
a distância dAB entre dois pontos A e B
matemáticos, o que justifica o seu tra-
(figura da esquerda) se mantém inalterada
tamento diferenciado das outras subdi- após a aplicação de um sistema de forças
visões da Mecânica listadas acima. (por exemplo, as quatro forças F⃗1 , F⃗2 , F⃗3 e
F⃗4 representadas na figura da direita).
Considerar um corpo como uma par-
tícula significa representá-lo como um Especificar a posição de um corpo rígido
ponto geométrico, uma "localização", é mais complexa que uma partícula. Re-
cuja posição é totalmente especificada quer mais que três coordenadas (ou três
por três coordenadas (duas se estivermos graus de liberdade, falando de maneira
considerando movimento em um plano, mais formal). Tecnicamente são requeri-
uma coordenada se for um movimento dos seis parâmetros para definir a posi-
retilíneo). Ele não tem dimensões e toda ção de um corpo rígido.
a propriedade relevante do corpo (massa, Vamos, enfim, à última delimitação do
por exemplo) está concentrada no ponto. nosso curso: o formalismo matemático. Hoje
podemos dividir a Mecânica Clássica de
Diante do exposto, vamos limitar nova-
acordo com o formalismo matemático em:
mente o que estudaremos neste curso. A dis-
ciplina abordará predominantemente a Me- i. Mecânica Newtoniana (ou veto-
cânica de partícula e de sistema de partí- rial): baseada nas três leis dinâmi-
culas. No último capítulo, no estudo sobre cas de Isaac Newton, publicadas em
movimento rotacional, veremos alguns ele- 1687 no monumental Philosophiæ Na-
mentos de Mecânica dos corpos rígidos. A turalis Principia Mathematica (Princí-
simplificação de corpos como partículas pode pios Matemáticos da Filosofia Natu-
parecer distante da realidade, porém veremos ral). A mecânica newtoniana considera
muitos problemas reais que poderão ser satis- grandezas vetoriais do movimento em
fatoriamente resolvidos considerando corpos sua formulação – como aceleração, mo-
como um pontos geométricos. Ademais, a mento linear e forças (por isso também
metodologia de estudar a Mecânica Clássica é amplamente conhecida por mecânica
iniciando pelos casos mais simples (das par- vetorial) – e as leis relacionam mate-
tículas) e ir agregando complexidade tem se maticamente essas grandezas, como a
mostrado eficiente. Veremos que muitos con- segunda lei de Newton (para partícula
ceitos aprendidos no estudo do movimento de com massa m constante)
2
Como será visto no Capítulo 2,

3
longo do Séc. XIX. É uma formulação
F = ma , matemática alternativa à Mecânica ve-
torial. Não é uma "nova" Mecânica, no
onde F2 é a força (resultante) sobre a sentido que pode ser aplicada em regi-
partícula e a a aceleração desenvolvida. mes onde a Mecânica Newtoniana não
Perceba que a lei é uma relação entre os é válida (como no regime relativístico
vetores F e a. Mais especificamente, a ou quântico, por exemplo). Contras-
grandeza vetorial F é igual a multipli- tando com a formulação vetorial, uti-
cação da grandeza vetorial a pela gran- liza somente grandezas escalares, como
deza escalar m. Como m > 0, veremos energia cinética e energia potencial.
que os dois vetores, F e a tem a mesma Contempla o trabalho de diversos ci-
orientação ("apontam" na mesma dire- entistas e matemáticos, que imprimi-
ção). ram diferentes abordagens (mas todas
com a mesma característica de utili-
zarem grandezas escalares). Dois ra-
mos se destacam: os desenvolvidos por
Joseph-Louis Lagrange (1736-1813) em
1788 (chamada Mecânica Lagrangiana)
e por Sir William Hamilton (1805-
1865) em 1833 (chamada Mecânica Ha-
miltoniana). Para todas as formulações
da Mecânica analítica, é possível de-
monstrar suas equivalências com a Me-
cânica vetorial. Além da beleza concei-
tual, a Mecânica analítica permite a so-
lução de problemas que demandariam
um tortuoso trabalho matemático pela
formulação vetorial.

Na disciplina de Física A, assim como nas


outras disciplinas de Física Básica das Enge-
nharias de Computação e Energia, será utili-
Figura 3: Retrato de Galilei feito por Justus zado majoritariamente o formalismo vetorial.
Sustermans (1597-1681) em 1636. Galilei foi o No entanto, no Capítulo 7 faremos uma re-
precursor de muitos conceitos básicos da Mecâ- leitura de alguns problemas utilizando uma
nica Newtoniana, como inércia e referencial iner-
abordagem escalar, aplicando o conceito de
cial. Envolveu-se em uma disputa com a Inqui-
energia (cinética e potencial). A aplicação de
sição Romana na defesa ao heliocentrismo em
um poderoso princípio de conservação dessa
1615. Porém, sua maior contribuição foi o esta-
belecimento das bases do método científico, so- grandeza escalar (o princípio da conserva-
bre as quais se sustenta a Ciência Moderna. Em ção da energia) permitirá o entendimento e a
uma carta enviada a Robert Hooke (1635-1703) resolução eficiente de problemas que seriam
em 1676, Newton disse: "Se vi mais longe, foi consideravelmente complexos se tentássemos
por estar sobre ombros de gigantes". Os gigantes aplicar o formalismo Newtoniano. Não será
aos quais Newton se refere são Nicolau Copér- exatamente o estudo de alguma vertente da
nico (1473-1543), Johannes Kepler (1571-1630) e Mecânica analítica – que são bastante com-
Galilei. Homens que, assim como Newton, reti- plexas matematicamente – mas a utilização
raram a Terra do centro do Universo e mudaram de conceitos básicos utilizados por estas re-
a história da Humanidade. Crédito: domínio pú- formulações. O ganho conceitual e compu-
blico. tacional na utilização do conceito de ener-
gia será, inclusive, estendido a outros ramos
ii. Mecânica analítica (ou escalar):
da Física, como o Eletromagnetismo Clássico
foi desenvolvida a partir do Séc. XVIII,
(visto na disciplina de Física C).
após a Mecânica Newtoniana, e ao

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Sir Isaac Newton nasceu no ano de cipia Mathematica (usualmente referida de
1643 do calendário Gregoriano em maneira simplificada por Principia). A pu-
Woolsthorpe-by-Colsterworth na Ingla- blicação do tratado foi um divisor de águas
terra. Filho de agricultores, com 18 anos na história da Ciência, sendo considerada por
foi aceito no Trinity College, da Univer- muitos a obra científica mais importante já
sidade de Cambridge, onde obteve seu publicada. A obra foi escrita em latim e é
título de Bacharel em Artes em 1665, composta por três livros. No livro 1, De motu
mesmo ano que a universidade teve que corporum (Dos corpos em movimento), New-
ser fechada devido à Grande Peste que ton desenvolve os princípios gerais da dinâ-
assolou Londres. Por causa disso, New- mica dos corpos em movimento. O livro 2,
ton teve que retornar a sua cidade na- a segunda parte do De motu corporum, fala
tal. No período que esteve isolado, en- sobre o movimento dos corpos em meios re-
tre 1665 e 1667, Newton fez desenvolvi- sistentes e do movimento desses meios. Já
mentos extraordinários em Cálculo Infi- no livro 3, De mundi systemate (Sobre o sis-
nitesimal, Mecânica, Gravitação e Óp- tema do mundo), ele aplica a seus conceitos
tica. O ano de 1666 é considerado o de mecânica (do livro 1) ao movimento dos
seu annus mirabilis (ano miraculoso). O corpos celestes. É uma exposição das diver-
trabalho em cálculo neste período ele- sas consequências da Gravitação Universal,
varam Newton à condição de seu inven- especialmente suas implicações à Astronomia
tor, título dividido com Gottfried Leib- (derivação das leis da gravidade, as impli-
niz (1646-1716) num caso de descoberta cações para órbitas planetárias, a Lua e os
simultânea. As ideias sobre Mecânica e equinócios em sua relação com a teoria da
Gravitação amadureceram após seu re- gravitação, o estudo dos cometas).
torno a Cambridge em 1667. Sua maior
contribuição à Ciência veio alguns anos
depois...

Figura 4: Retrato de Newton feito por Figura 5: Contra capa do da primeira edição
Godfrey Kneller (1646-1723) em 1702. Cré- do Philosophiæ Naturalis Principia Mathematica
dito: domínio público. (simplificadamente Principia), publicada em 5
de julho de 1687. O estudante que tiver inte-
Como mencionado anteriormente, as três resse pode baixar o livro aqui. Newton publicou
leis dinâmicas que fundamentam a Mecânica outras duas edições em 1733, com correções dos
erros da edição de 1687. Uma edição aperfei-
vetorial foram publicadas pela primeira vez
çoada também foi publicada em 1726. Crédito:
em julho de 1687, na obra-prima de New-
domínio público.
ton intitulada Philosophiæ Naturalis Prin-

5
Newton faleceu em 1727 enquanto dor- eram chamados os estudiosos da natureza à
mia, aos 84 anos. Seu funeral foi gran- época de Newton – utilizou apenas limites
dioso. Seis nobres membros do Parla- de conceitos geométricos. Hoje em dia, no
mento inglês carregaram seu ataúde, até entanto, o ensino de Mecânica (incluindo Fí-
a Abadia de Westminster, onde repou- sica A) já utiliza a roupagem (em termos de
sam até hoje seus restos mortais. O po- notação e métodos) do cálculo moderno.
eta Alexander Pope (1688-1744) escre-
veu em seu epitáfio: A descoberta de Netuno: o apogeu
da Mecânica newtoniana
"A natureza e as leis da natureza esta-
vam imersas em trevas; Netuno é o oitavo planeta conhecido e o
Deus disse ’Que haja Newton!’ e tudo se mais distante do Sol. É o terceiro mais
iluminou." massivo do Sistema Solar, atrás apenas
de Júpiter e Saturno, e o quatro em diâ-
Apesar de colecionar atitudes polê- metro. Tem uma massa igual a 17 vezes
micas – homem de gênio difícil – hoje a massa da Terra e um pouco maior que
Newton é considerado um dos mais influ- seu quase gêmeo Urano. Composto de
entes cientistas de todos os tempo. Para gases e líquidos, não tem uma superfície
muitos historiadores da Ciência, ele é o sólida bem definida. Netuno não é visível
maior. à vista desarmada (olho nu) e sua desco-
berta aconteceu de maneira puramente
teórica, com a aplicação das leis dinâmi-
cas de Newton e da Gravitação Univer-
sal, pelo francês Urbain Le Verrier (1811-
1877) em 1846. Na época, Le Verrier cal-
culou a posição de um novo planeta para
explicar irregularidades na órbita do pla-
neta Urano, observadas pelo astrônomo
Alexis Bouvard (1767-1843).

Figura 6: Pintura (monotipo) Newton de


William Blake (1757-1827) de 1795. A obra
de arte é representativa da crítica blakeana
à nascente tradição científica, tecnológica
e racional que imperava no final do século
XVIII, considerando Newton seu influenci-
ador. Blake abominava os excessos da ra-
zão iluminista, pensando que isso poderia
reduzir o homem a uma mera engrenagem
na máquina universal. A crítica à (suposta)
visão estreita da Ciência é recorrente nos
dias de hoje, já que sem evidências, como
disse Carl Sagan (1934-1996), ela "não ad- Figura 7: Fotografia de Netuno obtida pela
mite espíritos, almas, anjos, diabos, os dar- sonda Voyager 2 da NASA em 1989. Urano
mas do Buda. Nem visitantes alienígenas." completa uma órbita ao redor do Sol a cada
Crédito: domínio público. 164.8 anos. Netuno e Urano são chama-
dos de "gigantes de gelo", destacando suas
É interessante destacar que, apesar de diferenças de composição interna (gelos de
Newton ter desenvolvido muitas das ferra- água, amônia e metano, e rochas) com Júpi-
mentas do cálculo infinitesimal que conhece- ter e Saturno, chamados de "gigantes gaso-
mos hoje, elas estão praticamente ausentes sos". Crédito: NASA, Creative Commons.
do Principia. O "filósofo natural" – como

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O fantástico evento – um dos mais mar- No início de 2016, os astrônomos Kons-
cantes da Ciência no Século XIX – co- tantin Batygin (1986-) e Michael Brown
roou o apogeu do desenvolvimento da (1965-), do Intituto de Tecnologia da
Mecânica Newtoniana: nas palavras de Califórnia (CALTECH ), baseando-se no
François Arago (1786-1853), Le Verrier agrupamento anômalo de objetos com
havia descoberto Netuno "com a ponta órbitas externas à de Netuno (chamados
da sua caneta". O cenário anterior à de Objetos Transnetunianos ou TNO),
descoberta é de uma verdadeira corrida propuseram a existência de um nono pla-
científica, com toques de nacionalismo, neta do Sistema Solar (Batygin, K. &
entre a Europa Continental e a Comuni- Brown M. E., 2016, AJ, 151, 22; link
dade Britânica. do artigo aqui). A distância do hipoté-
O desvio observado de Urano, pla- tico planeta ao Sol é de 250 vezes a da
neta descoberto em 1781 por Sir Wil- Terra, e sua massa estimada é de 5 a 10
liam Herschel (1738-1822), em relação à vezes a massa terrestre. A existência do
tabela de posições construída por Ale- planeta ainda é uma conjectura e as bus-
xis Bouvard (1767-1843) baseado nas leis cam prosseguem. Porém, a história tem
de Newton e na Gravitação, o levaram a certa semelhança com a descoberta de
propor em 1821 a existência de um corpo Netuno, ainda que a Mecânica Celeste
celeste desconhecido perturbando sua ór- (baseada na Mecânica Newtoniana) te-
bita através da interação gravitacional. nha evoluído muito – em termos de mé-
Duas décadas depois, Le Verrier e o todos matemáticos – desde a época de
britânico John Adams (1819-1892), de Le Verrier.
forma independente, iniciaram os cál-
culos de sua posição no céu. Apesar Em suma, a disciplina de Física A con-
dos cálculos mais elaborados, a predi- templará os seguintes aspectos da Mecânica:
ção de Le Verrier não gerou interesse de • Contexto histórico:
seus compatriotas franceses que tinham
acesso à telescópios na época e que po- Mecânica Clássica (todos capítulos);
deriam confirmar a existência do novo • Natureza do corpo:
planeta. Já Adams contou com apoio
de astrônomos do Observatório de Cam- Mecânica de partícula e de sistema de
bridge que, sem que Le Verrier soubesse, partículas (Caps. 1 a 6);
começaram uma intensa busca (secreta) Mecânica dos corpos rígidos (Cap 7);
ao objeto, sem lograrem sucesso.
• Formalismo matemático:
Sem conseguir comover seus compa-
triotas, mesmo com sucessivos aprimora- Mecânica vetorial (Caps. 1 a 4, 6 e 7);
mentos nos cálculos, Le Verrier decidiu Mecânica escalar (Cap. 5).
escrever para Johann Galle (1812-1910)
do Observatório de Berlim em agosto de
1846. Ao receber a carta com os cálcu- 1.2. Padrões e unidades
los, em 23 de setembro, Galle preparou- A Física, bem como todas as Ciências di-
se para iniciar a busca ao novo planeta tas naturais (Química, Astronomia, Biolo-
na mesma noite, com auxílio de seu es- gia), dependem da observação e da experi-
tudante Heinrich d’Arrest (1822-1875). mentação para confirmação de suas leis e
Menos de uma hora após iniciar a enunciados. A observação consiste no regis-
busca (na primeira hora de 24 de setem- tro e análise cuidadosos e críticos de fenôme-
bro de 1846) e a menos de 1◦ do local pre- nos que ocorrem naturalmente. Infelizmente,
visto por Le Verrier (uma precisão fan- muitos fenômenos não ocorrem com as vari-
tástica para época), Challis e d’Arrest ações ou frequências necessárias para que as
encontraram Netuno. O trabalho minu- análises desejadas sejam realizadas adequa-
cioso e a persistência de Le Verrier ha- damente. Por esse motivo, a experimenta-
viam triunfado. ção se torna necessária. A experimentação

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consiste no registro e análise de fenômenos Unidade: segundo (s);
em condições controladas (em laboratórios),
dando ao cientista controle total dessas con- ii. Grandeza: comprimento;
dições. Unidade: metro (m);
A observação e experimentação não são
as únicas ferramentas da Física. Um físico iii. Grandeza: massa;
pode inferir novos conhecimentos pelo cha- Unidade: quilograma (kg).
mado método teórico: ele propõe um mo-
delo para explicar um dado fenômeno físico.
Aplicando raciocínio lógico-dedutivo e técni-
cas matemáticas na elaboração deste modelo,
ele pode prever algum fenômeno ou verificar
relações entre eles (até então desconhecidas).
O conhecimento adquirido via teórica tam-
bém pode ser utilizado para realizar novos
experimentos, seja para provar o próprio mo-
delo, seja para determinar suas limitações ou
falhas. Estas últimas ainda permitirão ao fí-
sico teórico corrigir ou elaborar novos mode-
los. É por meio deste casamento entre te- Figura 8: O Sr. Nilton presta um serviço essen-
oria e experimentação/observação que a Fí- cial. Porém, não é a Mecânica dele que vamos
sica evolui em bases sólidas. Na disciplina estudar neste curso...
de Física A, veremos modelos teóricos que já
foram exaustivamente corroborados por ex- É muito importante utilizar um conjunto
perimentos (e ela poderia facilmente ser cha- consistente (também chamado coerente) de
mada de Física Teórica A). unidades. O SI é um sistema coerente de uni-
A experimentação ou observação de um dades, fortemente recomendado para áreas
fenômeno físico é incompleta quando dela das Ciência e Tecnologia (C&T). É a forma
não resultar uma informação quantitativa. moderna do sistema métrico, estabelecida em
Para isso, é necessário medir uma grandeza 1960 pela 11a Conferência Geral de Pesos e
física. Medir é um processo que nos permite Medidas (CGPM ). É o sistema de unidades
atribuir um número a uma grandeza física mais utilizado no mundo, adotado por todos
como resultado de comparações entre gran- os países menos Estados Unidos, Libéria e
dezas semelhantes, sendo uma delas padro- Myanmar. Até 2019, o SI estava baseado em:
nizada e adotada como unidade. Quais gran-
• 7 (sete) grandezas básicas que corres-
dezas, e suas respectivas, unidades são utili-
pondem a 7 (sete) unidades básicas, de-
zadas em Mecânica? Antes vamos definir de
finidas em termos de definições físicas
maneira formal que é Mecânica.
universais (com exceção da definição da
Mecânica é o ramo da Física que estuda unidade de massa)
o movimento dos corpos, descrevendo-
o (geometricamente) e investigando suas i. Tempo:
causas. segundo (s);
Movimento é a variação temporal ii. Comprimento:
da posição de um corpo (medida em re- metro (m);
lação a um sistema de coordenadas). iii. Massa:
Dito isso, podemos elencar quais gran- quilograma (kg);
dezas e suas respectivas unidades no Sis- iv. Corrente elétrica:
tema Internacional de Unidades (abreviado ampere (A);
SI) são necessárias ao estudo da Mecânica:
v. Temperatura termodinâmica:
i. Grandeza: tempo; kelvin (K);

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vi. Quantidade de substância: i. Segundo (s): O segundo é duração de
mol (mol); 9192631770 períodos da radiação cor-
respondente à transição entre dois ní-
vii. Intensidade luminosa:
veis hiperfinos do estado fundamental
candela (cd); do átomo de Césio-133;
• 20 (vinte) prefixos decimais que subs- ii. Metro (m): O metro é o comprimento
tituem potências de 103 . do caminho viajado pela luz no vá-
cuo durante um intervalo de tempo de
Exemplos:
(299792458)−1 de um segundo;
Prefixo: kilo → Fator: 103
iii. Quilograma (kg): O quilograma4 é
Prefixo: centi → Fator: 10−2 uma massa igual ao Protótipo Interna-
Prefixo: micro → Fator: 10−6 cional do Quilograma (IPK, designado
por K). O IPK é um cilindro de 90%
de platina e 10% de irídio, com altura e
Em Física, os fenômenos usualmente são
diâmetro de 39 mm, conservado no Bu-
registrados/analisados através de expe-
reau Internacional de Pesos e Medidas
rimentos em laboratórios, sob condições
(BIPM) em Sèvres/França desde 1889.
controladas. Portanto a área da Física
especializada no desenvolvimento de ex- Todas as outras grandezas podem ser es-
perimentos e nas técnicas de registro e critas como grandezas derivadas e são medi-
análise de dados oriundos destes experi- das usando unidades derivadas, que são de-
mentos é chamada Física Experimental finidas como o produto de potências de uni-
(em oposição à área de desenvolvimento dades básicas.
de modelos, chamada Física Teórica).
Exemplos:
Área: m2
Densidade de massa: kg.m−3
Densidade de corrente: A.m−2
Luminância: cd.m−2

O Sistema Internacional aprovou nomes


especiais para 22 (vinte e duas) unidades de-
rivadas.

Exemplos:
Força: 1 m.kg.s−2 ≡ 1 newton (N)
Frequência: 1 s−1 ≡ 1 hertz (Hz)
Figura 9: Seção do Grande Colisor de Há- Diferença de potencial elétrico:
dron (LHC ) do Centro Europeu de Pesquisa
1 kg.m2 .s−3 .A−1 ≡ 1 volt (V)
Nucleares (CERN ), próximo à Genebra na
Suíca. Crédito: CERN, Creative Commons. Temperatura: 1 K ≡ 1 grau Celcius (◦ C)
Pressão: 1 N.m−2 ≡ 1 pascal (Pa)
As definições para as unidades básicas
As abreviações de unidades do SI cujos
utilizadas em Mecânica (até 2019) eram as
nomes foram derivados de nome próprios de-
seguintes:
vem iniciar com letra maiúscula. Por ex-
tenso, com todas as letras minúsculas (com
exceção de "grau(s) Celsius").
3
A lista completa dos prefixos, no sítio eletrônico do Bureau Internacional de Pesos e Medidas (BIPM), pode
ser encontrado aqui (em inglês).
4
Uma curiosidade sobre o quilograma: é a única unidade do SI que o prefixo "kilo" (×103 ) já está incluído, por
razões históricas. É importante mencionar que os prefixos do SI não são agregados ao "kg", eles referem-se ao
"g" (grama). Por exemplo, 0.1 kg = 100 g = 1 hg (hectograma) e não 0.1 kg = 1 dkg (deciquilograma).

9
Exemplos: radiano (rad)
newton (N): Isaac Newton (1643-1727) A partir de 2019, o SI passou a ser base-
watt (W): James Watt (1736-1819) ado em 7 (sete) constantes definidoras que,
hertz (Hz): Heinrich Hertz (1857-1894) quando consideradas em conjunto, cobrem
weber (Wb): Wilhelm Weber (1804-1891) todas as unidades do SI. E continuam os 20
(vinte) prefixos decimais que substituem po-
ampere (A): André-M. Ampère (1775-1836)
tências de 10. Qualquer unidade do SI pode
kelvin (K): William Thomson5 (1824-1907) ser obtida pelo produto de potências dessas
sete constantes e um fator adimensional. A
O registro e análise de fenômenos em As-
decisão de mudança aconteceu em 2018, na
tronomia, na maioria das vezes, não têm
26a CGPM, porém elas passaram a valer ofi-
o privilégio da realização de experimen-
cialmente em 20 de maio de 2019. Uma das
tos sob as condições controladas de la-
mudanças mais importantes foi o abandono
boratórios. Cabe ao astrônomo – utili-
do IPK. Os conceitos de unidades básicas e
zando telescópios ópticos, por exemplo
derivadas, apesar de não serem mais essenci-
– observar passivamente os fenômenos
ais, foram mantidos.
que são exibidos pelo Universo. Mui-
tas vezes, sem nenhuma oportunidade de
repeti-los. Ou mesmo com a coleta de
dados insuficiente ou incompleta. De-
vido a isso, o ramo experimental da As-
tronomia é chamado Astronomia Obser-
vacional, já que ela se vale (quase que
exclusivamente) de observações.

Figura 11: Logo do SI produzido pelo


BIPM. No anel externo estão as 7 unida-
Figura 10: Foto aérea dos telescópios do des básicas (kg, m, s, A, K, mol, cd) e
vulcão Mauna Kea no Havaí/EUA, com no anel interno as 7 constantes definidoras
uma altitude de mais de 4200 m. Crédito: (h, c, ∆ν, e, k, NA , Kcd ). Crédito: domínio pú-
domínio público. blico.
O SI também permite a utilização de uni-
Caso contrário, as abreviações devem ini- dades externas (unidades não-SI), cujos usos
ciar com letra minúscula6 . estão consolidados mundialmente por diver-
sas razões (históricas, culturais, comerciais,
Exemplos:
etc.). Essas unidades são definidas em ter-
metro (m) mos de unidades do SI.
lumen (lm)
Exemplos:
segundo (s)
minuto (min) = 60 s
5 o
1 Barão de Kelvin.
6
Uma exceção interessante é o litro – uma unidade de volume não pertencente mas aceita pelo SI – que pode ser
abreviado por "L"ou "l". A abreviação minúscula deve ser evitada com algumas fontes para evitar confusão
com o número um ("1"). Para contornar esse problema, a abreviação "ℓ" (Unicode U+2113, script small l )
também é válida.

10
hora (h) = 3600 s Exemplo: Converter 50 ns (nanossegundos)
grau (◦ ) = π × 180−1 rad para segundos.
litro (L, l ou ℓ) = 0.001 m3 Prefixo: nano → Fator: 10−9
hectare (ha) = 10000 m2 50 ns = 50 × 10−9 s = 5 × 10−8 s
elétron-volt (eV) = 1.60217653 × 10−19 J
Porém, em muitos problemas as unida-
unidade astronômica7 (UA) = des dadas nos enunciados dos problemas não
1.495978707 × 1011 m estão no SI (unidades não-SI, CGS, USCS,
etc.). Nestes casos, a dica abaixo é muito
Outras unidades não foram sanciona-
útil.
das pelo SI porém são utilizadas tradicio-
nalmente em diversas áreas das Ciências e "Converter as unidades (básicas ou de-
Tecnologias ou associadas ao sistema CGS rivadas) que não estão no SI para uni-
(centímetro-grama-segundo). dades do SI antes de utilizá-las em ex-
pressões, fórmulas, etc., garante que o
Exemplos:
resultado estará no SI."
ångström (Å) = 10−10 m
atmosfera (atm) = 101325 Pa
milha náutica (M) = 1852 m
erg (erg) = 10−7 J
milímetro de mercúrio (mmHg) =
133.322387415 Pa

As unidades usuais dos EUA (USCS 8 ) é


um sistema de unidades (não-coerente) bas-
tante utilizado nos Estados Unidos, princi-
palmente no comércio, cotidiano e alguns ra-
mos da indústria. Foram desenvolvidas a
partir de unidades inglesas após a Revolução
Americana (1785) e atualmente têm algumas
diferenças do Sistema Imperial.

Exemplos:
jarda (yd) = 36 polegadas (in ou ”)
= 3 pés (ft ou ’)
= 0.9144 m
Para a conversão de unidades, pode ser
milha (mi) = 1609.344 m
utilizado um esquema que parte da mul-
libra-força (lbf) = 4.448222 N tiplicação da unidade pelo o número 1
(um), transformando-o em uma razão da
1.3. Conversão de unidades
unidade que está inicialmente a grandeza
lembre que 1 = unidade . A seguir, o nu-
unidade

A conversão de unidades é um pro-
cedimento recorrente na resolução de proble- merador ou numerador desta razão unitária
mas em Física (e também em nosso cotidi- (a depender de qual unidade se pretender
ano). É uma etapa que gera muita confusão converter) é reescrito em termos da unidade
nos alunos e os erros são comuns. Nos casos "alvo". A partir daí, com uma simples álge-
mais simples, as unidades estão no SI e são bra, obtém-se o chamado fator de conversão
utilizados os prefixos decimais. Basta então (Fconv ). O esquema é ilustrado nos exemplos
substituí-los pelo fator correspondente antes a seguir.
de utilizá-las nas expressões.
7
Raio médio da órbita da Terra em torno do Sol.
8
United States customary units.

11
Exemplo: Converter 13.8 lbf para N. Exemplo: Converter 20 km.h−1 para m.s−1 .

1 lbf = 4.448222 N 1 km = 1 × 103 m = 1000 m

1 h = 60 min = 3600 s
13.8 lbf = 13.8 (lbf × 1)
lbf
 
= 13.8 lbf × km
lbf 20 km.h−1 = 20
h
4.448222 N
   
1
= 13.8 lbf × = 20 (km × 1) ×1
lbf h
N km 1 h
    
4.448222
= 13.8  lbf
× = 20 km × ×
lbf
 km h h
= 13.8 (4.448222 N) 1000 m 1 h
  
= 20 km × ×
km h h
= 13.8 (4.448222) N
1000 m 1 h
  
= (13.8 × Fconv ) N = 20 km ×
 ×
km h h
 

= 61.388546 N
h
 
1
= 20 (1000 m) ×
= 61.4 N h 3600 s
h
 
Fconv = 4.448222 1
(1000 m)
S
= 20 ×
h 3600 s
S
 
1
= 20 (1000 m)
3600 s
m
  
1000
= 20
3600 s
m
  
1
= 20
3.6 s
m
= (20 × Fconv )
s
m
= 5.555556
s
= 5.6 m.s−1

1
Fconv =
3.6

12
Exemplo: Converter 2500 rpm (rotações por minuto) para rad.s−1 .

1 rotação (rot.) = 360◦ = 2π rad

1 min = 60 s

rot.
2500 rpm = 2500
min
 
1
= 2500 (rot. × 1) ×1
min
rot. min
  
1
= 2500 rot. × ×
rot. min min
2π rad min
  
1
= 2500 rot. × ×
rot. min min
rad min
  
2π 1
= 2500 rot.
× ×
rot. min min
 


min
 
1
= 2500 (2π rad) ×
min 60 s
min
 
1 H
(2π rad) H ×
H
H
= 2500
min
HH 60 s
 
1
= 2500 (2π rad)
60 s
2π rad rad
  
= 2500
60 s
 π   rad 
= 2500
30 s
rad
 
= (2500 × Fconv )
s
rad
 
= 261.799388
s
= 261.8 rad.s−1
π
Fconv =
30

Naturalmente, se o aluno que tiver mais referência, onde está o "observador" do mo-
desenvoltura na conversão de unidades, não vimento do corpo (o estudante de Engenha-
precisa realizar o procedimento com todos os ria), e a partir do qual será medida sua posi-
detalhes apresentados nos exemplos acima. ção. Escolhido este ponto de referência – em
Física chamado de referencial – deve ser de-
1.4. Sistemas de coordenadas finido um sistema de coordenadas, que dará
detalhes (geométricos) de como será feita a
Como estudaremos a variação temporal medição da posição deste corpo. É conveni-
da posição de um corpo (inicialmente uma ente, na maioria dos problemas, igualarmos
partícula), é necessário utilizar um ponto de a posição do observador (referencial) no sis-

13
tema de coordenadas com sua origem 0 (ma-
tematicamente, O ≡ 0, "zero" equivalente à
letra "O"). Utilizaremos dois tipos de sis-
tema de coordenadas (SC):

i. SC cartesianas (ou retangulares);

ii. SC polares.

Para o caso bidimensional (que será o


mais estudado nesta disciplina), definimos a
posição de um ponto P (i.e., partícula9 ) por:
No caso unidimensional (simplificação
i. que será estudada no Cap. 3), obviamente,
basta uma coordenada para definir a posição
x: coordenada sobre o eixo x (abcissa)
de um ponto.
y: coordenada sobre o eixo y (ordenada) A conversão entre os sistemas de coorde-
nadas também é importante:
P (x, y) onde x, y ∈ R
ii → i:
Exemplo: P (2 m, −1 m)
x = r cos θ
y = r sin θ10

i → ii:
p
r = x2 + y 2
y
θ = arctan
x
Exemplo: Converter a posição da partícula
P (2 m, −1 m), dada em um SC retangular,
para a posição em um SC polar (com mesma
origem).

r = (2)2 + (−1)2 = 5 m
p
 
−1
θ = arctan = −0.4636 rad11
2
= 5.8195 rad
ii. √
r: distância em relação à O P (2 m, −1 m) ≡ P ( 5 m, 5.81 rad)
θ: ângulo que OP faz com Ox (por conven-
Para a descrição do movimento (cinemá-
ção, medido no sentido anti-horário)
tica) pode ser utilizado qualquer referencial
P (r, θ) onde r ≥ 0, θ ∈ [0, 2π) (mais tecnicamente, qualquer condição de
movimento do observador O). Porém, como
Exemplo: P 3 m, π4 rad veremos no Capítulo 4, as leis de Newton só

valem para um classe especial de referenciais,
chamados referenciais inerciais.

9
Na Mecânica de partícula e de sistema de partículas, utilizaremos indiscriminadamente o termo "ponto" para
se referir à particula em estudo.
10
Como os textos são escritos utilizando LATEX, a língua padrão das funções matemática é o inglês. Portanto,
as abreviações de algumas funções serão diferentes daquelas que você aprendeu no Ensino Médio. Neste caso
específico, "sin" é a abreviação de sine, que é o nosso velho conhecido seno.
11
Lembrete: um ângulo negativo significa que está sentido medido no sentido contrário à convenção, ou seja, no
sentido horário. Portanto o ângulo na convenção é o replementar do seu módulo (ou seja, 2π − |θ|).

14
A utilização de referenciais não inerciais força centrífuga, que surge quando estamos
para descrever o movimento de uma partí- dentro de um carro fazendo uma curva: te-
cula leva ao surgimento de forças fictícias mos sensação de algo nos empurrando para
(ou pseudo-forças, ou forças inerciais). Um "fora" da curva.
exemplo bem conhecido pelo estudantes, é a

15

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