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Geral (1915) de Albert Eins- número infinitamente grande de partí-
tein (1879-1955). Suas dife- culas constituintes. As propriedades fí-
renças com a Mecânica Clássica sicas variam continuamente entre ele-
tornam-se evidentes em velocida- mentos infinitesimais vizinhos.
des próximas à velocidade da luz
(vluz ≡ c ≃ 3 × 108 m.s−1 ) a. Mecânica dos sólidos: ramo da
ou quando os objetos se tornam Mecânica dos meios contínuos
muito massivos (gerando campos que, como o próprio nome in-
gravitacionais intensos). dica, trata dos corpos sólidos.
Um corpo sólido pode ser definido
b. Mecânica Quântica: válida em ní-
de maneira mais simples como
vel atômico e subatômico. Desen-
aquele que mantém aproximada-
volvida a partir do começo do sé-
mente sua forma sob ação de um
culo passado, sua história reune
conjunto de forças. Ou de modo
nomes como Max Planck (1858-
mais formal como corpo que pode
1947), Werner Heisenberg (1901-
resistir à ação de forças internas
1976), Erwin Schrödinger (1887-
cortantes (ou tangenciais).
1961) e Paul Dirac (1902-1984).
I. Mecânica dos corpos rígidos
Nesta disciplina nosso foco estará na Me- (ou indeformáveis): caso em
cânica Clássica. Um comentário sobre o adje- que as deformações do corpo
tivo "clássica" é conveniente: não se trata de sólido (sob ação de forças)
um conhecimento ultrapassado ou incorreto são desprezíveis, ou seja, ele
ou inadequado. Pelo contrário, é satisfatori- é dito rígido.
amente aplicada em quase tudo de nosso co- II. Mecânica dos corpos defor-
tidiano, do projeto de estruturas e máquinas máveis: quando as deforma-
ao cálculo da órbita de satélites. ções do corpo (sob ação de
A Mecânica Clássica pode ser subdividida forças) devem ser considera-
utilizando como critério a natureza do corpo das, ainda que não alterem
que está sendo estudado: substancialmente a forma do
corpo. Quando cessada a
i. Mecânica de partícula e de sis- ação das forças, essas (peque-
tema de partículas: aplicada a cor- nas) deformações sofridas po-
pos (ou sistema de corpos) com dimen- dem ser elásticas (não perma-
sões desprezíveis se comparadas às ou- nentes) ou plásticas (perma-
tras dimensões envolvidas. O estudo nentes).
do movimento dessas partículas pode
ser reduzido ao estudo do movimento b. Mecânica dos fluidos: trata o mo-
de pontos geométricos. vimento de fluidos, ou seja, corpos
que se deformam facilmente sob
ii. Mecânica dos meios contínuos: ação de forças (ou, mais formal-
aplicada a corpos cujas dimensões não mente, não suportam forças inter-
podem ser desprezadas quando compa- nas cortantes). Outra diferença
radas às outras dimensões envolvidas. em relação à Mecânica dos Sólidos
O corpo é modelado como um contí- é o método matemático tradicio-
nuo, ou seja, preenchendo todo o vo- nalmente utilizado para descrever
lume que ocupa (ou seja, não pode ser o movimento de fluidos, chamado
considerado um conjunto finito de par- formalismo de Euler1 .
tículas ou discretizado). Podemos to-
mar porções cada vez menores deste iii. Mecânica estatística: aplicada ao
corpo (chamados elementos de volume estudo de sistemas com um número
infinitesimais) que sempre teremos um muito grande de partículas (da ordem
1
Leonhard Euler (1707-1783), matemático suíco.
2
do Número de Avogadro NA , ou seja, partículas poderá ser adaptado ao estudo dos
∼ 1023 partículas). Um exemplo é um corpos rígido, no fim do curso.
gás ideal contido em um recipiente fe-
chado. Relaciona grandezas macroscó- Um corpo rígido pode ser definido em
picas à grandezas dinâmicas microscó- termos da distância de dois pontos do
picas médias. corpo, como ilustrado na figura abaixo.
3
longo do Séc. XIX. É uma formulação
F = ma , matemática alternativa à Mecânica ve-
torial. Não é uma "nova" Mecânica, no
onde F2 é a força (resultante) sobre a sentido que pode ser aplicada em regi-
partícula e a a aceleração desenvolvida. mes onde a Mecânica Newtoniana não
Perceba que a lei é uma relação entre os é válida (como no regime relativístico
vetores F e a. Mais especificamente, a ou quântico, por exemplo). Contras-
grandeza vetorial F é igual a multipli- tando com a formulação vetorial, uti-
cação da grandeza vetorial a pela gran- liza somente grandezas escalares, como
deza escalar m. Como m > 0, veremos energia cinética e energia potencial.
que os dois vetores, F e a tem a mesma Contempla o trabalho de diversos ci-
orientação ("apontam" na mesma dire- entistas e matemáticos, que imprimi-
ção). ram diferentes abordagens (mas todas
com a mesma característica de utili-
zarem grandezas escalares). Dois ra-
mos se destacam: os desenvolvidos por
Joseph-Louis Lagrange (1736-1813) em
1788 (chamada Mecânica Lagrangiana)
e por Sir William Hamilton (1805-
1865) em 1833 (chamada Mecânica Ha-
miltoniana). Para todas as formulações
da Mecânica analítica, é possível de-
monstrar suas equivalências com a Me-
cânica vetorial. Além da beleza concei-
tual, a Mecânica analítica permite a so-
lução de problemas que demandariam
um tortuoso trabalho matemático pela
formulação vetorial.
4
Sir Isaac Newton nasceu no ano de cipia Mathematica (usualmente referida de
1643 do calendário Gregoriano em maneira simplificada por Principia). A pu-
Woolsthorpe-by-Colsterworth na Ingla- blicação do tratado foi um divisor de águas
terra. Filho de agricultores, com 18 anos na história da Ciência, sendo considerada por
foi aceito no Trinity College, da Univer- muitos a obra científica mais importante já
sidade de Cambridge, onde obteve seu publicada. A obra foi escrita em latim e é
título de Bacharel em Artes em 1665, composta por três livros. No livro 1, De motu
mesmo ano que a universidade teve que corporum (Dos corpos em movimento), New-
ser fechada devido à Grande Peste que ton desenvolve os princípios gerais da dinâ-
assolou Londres. Por causa disso, New- mica dos corpos em movimento. O livro 2,
ton teve que retornar a sua cidade na- a segunda parte do De motu corporum, fala
tal. No período que esteve isolado, en- sobre o movimento dos corpos em meios re-
tre 1665 e 1667, Newton fez desenvolvi- sistentes e do movimento desses meios. Já
mentos extraordinários em Cálculo Infi- no livro 3, De mundi systemate (Sobre o sis-
nitesimal, Mecânica, Gravitação e Óp- tema do mundo), ele aplica a seus conceitos
tica. O ano de 1666 é considerado o de mecânica (do livro 1) ao movimento dos
seu annus mirabilis (ano miraculoso). O corpos celestes. É uma exposição das diver-
trabalho em cálculo neste período ele- sas consequências da Gravitação Universal,
varam Newton à condição de seu inven- especialmente suas implicações à Astronomia
tor, título dividido com Gottfried Leib- (derivação das leis da gravidade, as impli-
niz (1646-1716) num caso de descoberta cações para órbitas planetárias, a Lua e os
simultânea. As ideias sobre Mecânica e equinócios em sua relação com a teoria da
Gravitação amadureceram após seu re- gravitação, o estudo dos cometas).
torno a Cambridge em 1667. Sua maior
contribuição à Ciência veio alguns anos
depois...
Figura 4: Retrato de Newton feito por Figura 5: Contra capa do da primeira edição
Godfrey Kneller (1646-1723) em 1702. Cré- do Philosophiæ Naturalis Principia Mathematica
dito: domínio público. (simplificadamente Principia), publicada em 5
de julho de 1687. O estudante que tiver inte-
Como mencionado anteriormente, as três resse pode baixar o livro aqui. Newton publicou
leis dinâmicas que fundamentam a Mecânica outras duas edições em 1733, com correções dos
erros da edição de 1687. Uma edição aperfei-
vetorial foram publicadas pela primeira vez
çoada também foi publicada em 1726. Crédito:
em julho de 1687, na obra-prima de New-
domínio público.
ton intitulada Philosophiæ Naturalis Prin-
5
Newton faleceu em 1727 enquanto dor- eram chamados os estudiosos da natureza à
mia, aos 84 anos. Seu funeral foi gran- época de Newton – utilizou apenas limites
dioso. Seis nobres membros do Parla- de conceitos geométricos. Hoje em dia, no
mento inglês carregaram seu ataúde, até entanto, o ensino de Mecânica (incluindo Fí-
a Abadia de Westminster, onde repou- sica A) já utiliza a roupagem (em termos de
sam até hoje seus restos mortais. O po- notação e métodos) do cálculo moderno.
eta Alexander Pope (1688-1744) escre-
veu em seu epitáfio: A descoberta de Netuno: o apogeu
da Mecânica newtoniana
"A natureza e as leis da natureza esta-
vam imersas em trevas; Netuno é o oitavo planeta conhecido e o
Deus disse ’Que haja Newton!’ e tudo se mais distante do Sol. É o terceiro mais
iluminou." massivo do Sistema Solar, atrás apenas
de Júpiter e Saturno, e o quatro em diâ-
Apesar de colecionar atitudes polê- metro. Tem uma massa igual a 17 vezes
micas – homem de gênio difícil – hoje a massa da Terra e um pouco maior que
Newton é considerado um dos mais influ- seu quase gêmeo Urano. Composto de
entes cientistas de todos os tempo. Para gases e líquidos, não tem uma superfície
muitos historiadores da Ciência, ele é o sólida bem definida. Netuno não é visível
maior. à vista desarmada (olho nu) e sua desco-
berta aconteceu de maneira puramente
teórica, com a aplicação das leis dinâmi-
cas de Newton e da Gravitação Univer-
sal, pelo francês Urbain Le Verrier (1811-
1877) em 1846. Na época, Le Verrier cal-
culou a posição de um novo planeta para
explicar irregularidades na órbita do pla-
neta Urano, observadas pelo astrônomo
Alexis Bouvard (1767-1843).
6
O fantástico evento – um dos mais mar- No início de 2016, os astrônomos Kons-
cantes da Ciência no Século XIX – co- tantin Batygin (1986-) e Michael Brown
roou o apogeu do desenvolvimento da (1965-), do Intituto de Tecnologia da
Mecânica Newtoniana: nas palavras de Califórnia (CALTECH ), baseando-se no
François Arago (1786-1853), Le Verrier agrupamento anômalo de objetos com
havia descoberto Netuno "com a ponta órbitas externas à de Netuno (chamados
da sua caneta". O cenário anterior à de Objetos Transnetunianos ou TNO),
descoberta é de uma verdadeira corrida propuseram a existência de um nono pla-
científica, com toques de nacionalismo, neta do Sistema Solar (Batygin, K. &
entre a Europa Continental e a Comuni- Brown M. E., 2016, AJ, 151, 22; link
dade Britânica. do artigo aqui). A distância do hipoté-
O desvio observado de Urano, pla- tico planeta ao Sol é de 250 vezes a da
neta descoberto em 1781 por Sir Wil- Terra, e sua massa estimada é de 5 a 10
liam Herschel (1738-1822), em relação à vezes a massa terrestre. A existência do
tabela de posições construída por Ale- planeta ainda é uma conjectura e as bus-
xis Bouvard (1767-1843) baseado nas leis cam prosseguem. Porém, a história tem
de Newton e na Gravitação, o levaram a certa semelhança com a descoberta de
propor em 1821 a existência de um corpo Netuno, ainda que a Mecânica Celeste
celeste desconhecido perturbando sua ór- (baseada na Mecânica Newtoniana) te-
bita através da interação gravitacional. nha evoluído muito – em termos de mé-
Duas décadas depois, Le Verrier e o todos matemáticos – desde a época de
britânico John Adams (1819-1892), de Le Verrier.
forma independente, iniciaram os cál-
culos de sua posição no céu. Apesar Em suma, a disciplina de Física A con-
dos cálculos mais elaborados, a predi- templará os seguintes aspectos da Mecânica:
ção de Le Verrier não gerou interesse de • Contexto histórico:
seus compatriotas franceses que tinham
acesso à telescópios na época e que po- Mecânica Clássica (todos capítulos);
deriam confirmar a existência do novo • Natureza do corpo:
planeta. Já Adams contou com apoio
de astrônomos do Observatório de Cam- Mecânica de partícula e de sistema de
bridge que, sem que Le Verrier soubesse, partículas (Caps. 1 a 6);
começaram uma intensa busca (secreta) Mecânica dos corpos rígidos (Cap 7);
ao objeto, sem lograrem sucesso.
• Formalismo matemático:
Sem conseguir comover seus compa-
triotas, mesmo com sucessivos aprimora- Mecânica vetorial (Caps. 1 a 4, 6 e 7);
mentos nos cálculos, Le Verrier decidiu Mecânica escalar (Cap. 5).
escrever para Johann Galle (1812-1910)
do Observatório de Berlim em agosto de
1846. Ao receber a carta com os cálcu- 1.2. Padrões e unidades
los, em 23 de setembro, Galle preparou- A Física, bem como todas as Ciências di-
se para iniciar a busca ao novo planeta tas naturais (Química, Astronomia, Biolo-
na mesma noite, com auxílio de seu es- gia), dependem da observação e da experi-
tudante Heinrich d’Arrest (1822-1875). mentação para confirmação de suas leis e
Menos de uma hora após iniciar a enunciados. A observação consiste no regis-
busca (na primeira hora de 24 de setem- tro e análise cuidadosos e críticos de fenôme-
bro de 1846) e a menos de 1◦ do local pre- nos que ocorrem naturalmente. Infelizmente,
visto por Le Verrier (uma precisão fan- muitos fenômenos não ocorrem com as vari-
tástica para época), Challis e d’Arrest ações ou frequências necessárias para que as
encontraram Netuno. O trabalho minu- análises desejadas sejam realizadas adequa-
cioso e a persistência de Le Verrier ha- damente. Por esse motivo, a experimenta-
viam triunfado. ção se torna necessária. A experimentação
7
consiste no registro e análise de fenômenos Unidade: segundo (s);
em condições controladas (em laboratórios),
dando ao cientista controle total dessas con- ii. Grandeza: comprimento;
dições. Unidade: metro (m);
A observação e experimentação não são
as únicas ferramentas da Física. Um físico iii. Grandeza: massa;
pode inferir novos conhecimentos pelo cha- Unidade: quilograma (kg).
mado método teórico: ele propõe um mo-
delo para explicar um dado fenômeno físico.
Aplicando raciocínio lógico-dedutivo e técni-
cas matemáticas na elaboração deste modelo,
ele pode prever algum fenômeno ou verificar
relações entre eles (até então desconhecidas).
O conhecimento adquirido via teórica tam-
bém pode ser utilizado para realizar novos
experimentos, seja para provar o próprio mo-
delo, seja para determinar suas limitações ou
falhas. Estas últimas ainda permitirão ao fí-
sico teórico corrigir ou elaborar novos mode-
los. É por meio deste casamento entre te- Figura 8: O Sr. Nilton presta um serviço essen-
oria e experimentação/observação que a Fí- cial. Porém, não é a Mecânica dele que vamos
sica evolui em bases sólidas. Na disciplina estudar neste curso...
de Física A, veremos modelos teóricos que já
foram exaustivamente corroborados por ex- É muito importante utilizar um conjunto
perimentos (e ela poderia facilmente ser cha- consistente (também chamado coerente) de
mada de Física Teórica A). unidades. O SI é um sistema coerente de uni-
A experimentação ou observação de um dades, fortemente recomendado para áreas
fenômeno físico é incompleta quando dela das Ciência e Tecnologia (C&T). É a forma
não resultar uma informação quantitativa. moderna do sistema métrico, estabelecida em
Para isso, é necessário medir uma grandeza 1960 pela 11a Conferência Geral de Pesos e
física. Medir é um processo que nos permite Medidas (CGPM ). É o sistema de unidades
atribuir um número a uma grandeza física mais utilizado no mundo, adotado por todos
como resultado de comparações entre gran- os países menos Estados Unidos, Libéria e
dezas semelhantes, sendo uma delas padro- Myanmar. Até 2019, o SI estava baseado em:
nizada e adotada como unidade. Quais gran-
• 7 (sete) grandezas básicas que corres-
dezas, e suas respectivas, unidades são utili-
pondem a 7 (sete) unidades básicas, de-
zadas em Mecânica? Antes vamos definir de
finidas em termos de definições físicas
maneira formal que é Mecânica.
universais (com exceção da definição da
Mecânica é o ramo da Física que estuda unidade de massa)
o movimento dos corpos, descrevendo-
o (geometricamente) e investigando suas i. Tempo:
causas. segundo (s);
Movimento é a variação temporal ii. Comprimento:
da posição de um corpo (medida em re- metro (m);
lação a um sistema de coordenadas). iii. Massa:
Dito isso, podemos elencar quais gran- quilograma (kg);
dezas e suas respectivas unidades no Sis- iv. Corrente elétrica:
tema Internacional de Unidades (abreviado ampere (A);
SI) são necessárias ao estudo da Mecânica:
v. Temperatura termodinâmica:
i. Grandeza: tempo; kelvin (K);
8
vi. Quantidade de substância: i. Segundo (s): O segundo é duração de
mol (mol); 9192631770 períodos da radiação cor-
respondente à transição entre dois ní-
vii. Intensidade luminosa:
veis hiperfinos do estado fundamental
candela (cd); do átomo de Césio-133;
• 20 (vinte) prefixos decimais que subs- ii. Metro (m): O metro é o comprimento
tituem potências de 103 . do caminho viajado pela luz no vá-
cuo durante um intervalo de tempo de
Exemplos:
(299792458)−1 de um segundo;
Prefixo: kilo → Fator: 103
iii. Quilograma (kg): O quilograma4 é
Prefixo: centi → Fator: 10−2 uma massa igual ao Protótipo Interna-
Prefixo: micro → Fator: 10−6 cional do Quilograma (IPK, designado
por K). O IPK é um cilindro de 90%
de platina e 10% de irídio, com altura e
Em Física, os fenômenos usualmente são
diâmetro de 39 mm, conservado no Bu-
registrados/analisados através de expe-
reau Internacional de Pesos e Medidas
rimentos em laboratórios, sob condições
(BIPM) em Sèvres/França desde 1889.
controladas. Portanto a área da Física
especializada no desenvolvimento de ex- Todas as outras grandezas podem ser es-
perimentos e nas técnicas de registro e critas como grandezas derivadas e são medi-
análise de dados oriundos destes experi- das usando unidades derivadas, que são de-
mentos é chamada Física Experimental finidas como o produto de potências de uni-
(em oposição à área de desenvolvimento dades básicas.
de modelos, chamada Física Teórica).
Exemplos:
Área: m2
Densidade de massa: kg.m−3
Densidade de corrente: A.m−2
Luminância: cd.m−2
Exemplos:
Força: 1 m.kg.s−2 ≡ 1 newton (N)
Frequência: 1 s−1 ≡ 1 hertz (Hz)
Figura 9: Seção do Grande Colisor de Há- Diferença de potencial elétrico:
dron (LHC ) do Centro Europeu de Pesquisa
1 kg.m2 .s−3 .A−1 ≡ 1 volt (V)
Nucleares (CERN ), próximo à Genebra na
Suíca. Crédito: CERN, Creative Commons. Temperatura: 1 K ≡ 1 grau Celcius (◦ C)
Pressão: 1 N.m−2 ≡ 1 pascal (Pa)
As definições para as unidades básicas
As abreviações de unidades do SI cujos
utilizadas em Mecânica (até 2019) eram as
nomes foram derivados de nome próprios de-
seguintes:
vem iniciar com letra maiúscula. Por ex-
tenso, com todas as letras minúsculas (com
exceção de "grau(s) Celsius").
3
A lista completa dos prefixos, no sítio eletrônico do Bureau Internacional de Pesos e Medidas (BIPM), pode
ser encontrado aqui (em inglês).
4
Uma curiosidade sobre o quilograma: é a única unidade do SI que o prefixo "kilo" (×103 ) já está incluído, por
razões históricas. É importante mencionar que os prefixos do SI não são agregados ao "kg", eles referem-se ao
"g" (grama). Por exemplo, 0.1 kg = 100 g = 1 hg (hectograma) e não 0.1 kg = 1 dkg (deciquilograma).
9
Exemplos: radiano (rad)
newton (N): Isaac Newton (1643-1727) A partir de 2019, o SI passou a ser base-
watt (W): James Watt (1736-1819) ado em 7 (sete) constantes definidoras que,
hertz (Hz): Heinrich Hertz (1857-1894) quando consideradas em conjunto, cobrem
weber (Wb): Wilhelm Weber (1804-1891) todas as unidades do SI. E continuam os 20
(vinte) prefixos decimais que substituem po-
ampere (A): André-M. Ampère (1775-1836)
tências de 10. Qualquer unidade do SI pode
kelvin (K): William Thomson5 (1824-1907) ser obtida pelo produto de potências dessas
sete constantes e um fator adimensional. A
O registro e análise de fenômenos em As-
decisão de mudança aconteceu em 2018, na
tronomia, na maioria das vezes, não têm
26a CGPM, porém elas passaram a valer ofi-
o privilégio da realização de experimen-
cialmente em 20 de maio de 2019. Uma das
tos sob as condições controladas de la-
mudanças mais importantes foi o abandono
boratórios. Cabe ao astrônomo – utili-
do IPK. Os conceitos de unidades básicas e
zando telescópios ópticos, por exemplo
derivadas, apesar de não serem mais essenci-
– observar passivamente os fenômenos
ais, foram mantidos.
que são exibidos pelo Universo. Mui-
tas vezes, sem nenhuma oportunidade de
repeti-los. Ou mesmo com a coleta de
dados insuficiente ou incompleta. De-
vido a isso, o ramo experimental da As-
tronomia é chamado Astronomia Obser-
vacional, já que ela se vale (quase que
exclusivamente) de observações.
10
hora (h) = 3600 s Exemplo: Converter 50 ns (nanossegundos)
grau (◦ ) = π × 180−1 rad para segundos.
litro (L, l ou ℓ) = 0.001 m3 Prefixo: nano → Fator: 10−9
hectare (ha) = 10000 m2 50 ns = 50 × 10−9 s = 5 × 10−8 s
elétron-volt (eV) = 1.60217653 × 10−19 J
Porém, em muitos problemas as unida-
unidade astronômica7 (UA) = des dadas nos enunciados dos problemas não
1.495978707 × 1011 m estão no SI (unidades não-SI, CGS, USCS,
etc.). Nestes casos, a dica abaixo é muito
Outras unidades não foram sanciona-
útil.
das pelo SI porém são utilizadas tradicio-
nalmente em diversas áreas das Ciências e "Converter as unidades (básicas ou de-
Tecnologias ou associadas ao sistema CGS rivadas) que não estão no SI para uni-
(centímetro-grama-segundo). dades do SI antes de utilizá-las em ex-
pressões, fórmulas, etc., garante que o
Exemplos:
resultado estará no SI."
ångström (Å) = 10−10 m
atmosfera (atm) = 101325 Pa
milha náutica (M) = 1852 m
erg (erg) = 10−7 J
milímetro de mercúrio (mmHg) =
133.322387415 Pa
Exemplos:
jarda (yd) = 36 polegadas (in ou ”)
= 3 pés (ft ou ’)
= 0.9144 m
Para a conversão de unidades, pode ser
milha (mi) = 1609.344 m
utilizado um esquema que parte da mul-
libra-força (lbf) = 4.448222 N tiplicação da unidade pelo o número 1
(um), transformando-o em uma razão da
1.3. Conversão de unidades
unidade que está inicialmente a grandeza
lembre que 1 = unidade . A seguir, o nu-
unidade
A conversão de unidades é um pro-
cedimento recorrente na resolução de proble- merador ou numerador desta razão unitária
mas em Física (e também em nosso cotidi- (a depender de qual unidade se pretender
ano). É uma etapa que gera muita confusão converter) é reescrito em termos da unidade
nos alunos e os erros são comuns. Nos casos "alvo". A partir daí, com uma simples álge-
mais simples, as unidades estão no SI e são bra, obtém-se o chamado fator de conversão
utilizados os prefixos decimais. Basta então (Fconv ). O esquema é ilustrado nos exemplos
substituí-los pelo fator correspondente antes a seguir.
de utilizá-las nas expressões.
7
Raio médio da órbita da Terra em torno do Sol.
8
United States customary units.
11
Exemplo: Converter 13.8 lbf para N. Exemplo: Converter 20 km.h−1 para m.s−1 .
1 h = 60 min = 3600 s
13.8 lbf = 13.8 (lbf × 1)
lbf
= 13.8 lbf × km
lbf 20 km.h−1 = 20
h
4.448222 N
1
= 13.8 lbf × = 20 (km × 1) ×1
lbf h
N km 1 h
4.448222
= 13.8 lbf
× = 20 km × ×
lbf
km h h
= 13.8 (4.448222 N) 1000 m 1 h
= 20 km × ×
km h h
= 13.8 (4.448222) N
1000 m 1 h
= (13.8 × Fconv ) N = 20 km ×
×
km h h
= 61.388546 N
h
1
= 20 (1000 m) ×
= 61.4 N h 3600 s
h
Fconv = 4.448222 1
(1000 m)
S
= 20 ×
h 3600 s
S
1
= 20 (1000 m)
3600 s
m
1000
= 20
3600 s
m
1
= 20
3.6 s
m
= (20 × Fconv )
s
m
= 5.555556
s
= 5.6 m.s−1
1
Fconv =
3.6
12
Exemplo: Converter 2500 rpm (rotações por minuto) para rad.s−1 .
1 min = 60 s
rot.
2500 rpm = 2500
min
1
= 2500 (rot. × 1) ×1
min
rot. min
1
= 2500 rot. × ×
rot. min min
2π rad min
1
= 2500 rot. × ×
rot. min min
rad min
2π 1
= 2500 rot.
× ×
rot. min min
min
1
= 2500 (2π rad) ×
min 60 s
min
1 H
(2π rad) H ×
H
H
= 2500
min
HH 60 s
1
= 2500 (2π rad)
60 s
2π rad rad
= 2500
60 s
π rad
= 2500
30 s
rad
= (2500 × Fconv )
s
rad
= 261.799388
s
= 261.8 rad.s−1
π
Fconv =
30
Naturalmente, se o aluno que tiver mais referência, onde está o "observador" do mo-
desenvoltura na conversão de unidades, não vimento do corpo (o estudante de Engenha-
precisa realizar o procedimento com todos os ria), e a partir do qual será medida sua posi-
detalhes apresentados nos exemplos acima. ção. Escolhido este ponto de referência – em
Física chamado de referencial – deve ser de-
1.4. Sistemas de coordenadas finido um sistema de coordenadas, que dará
detalhes (geométricos) de como será feita a
Como estudaremos a variação temporal medição da posição deste corpo. É conveni-
da posição de um corpo (inicialmente uma ente, na maioria dos problemas, igualarmos
partícula), é necessário utilizar um ponto de a posição do observador (referencial) no sis-
13
tema de coordenadas com sua origem 0 (ma-
tematicamente, O ≡ 0, "zero" equivalente à
letra "O"). Utilizaremos dois tipos de sis-
tema de coordenadas (SC):
ii. SC polares.
i → ii:
p
r = x2 + y 2
y
θ = arctan
x
Exemplo: Converter a posição da partícula
P (2 m, −1 m), dada em um SC retangular,
para a posição em um SC polar (com mesma
origem).
√
r = (2)2 + (−1)2 = 5 m
p
−1
θ = arctan = −0.4636 rad11
2
= 5.8195 rad
ii. √
r: distância em relação à O P (2 m, −1 m) ≡ P ( 5 m, 5.81 rad)
θ: ângulo que OP faz com Ox (por conven-
Para a descrição do movimento (cinemá-
ção, medido no sentido anti-horário)
tica) pode ser utilizado qualquer referencial
P (r, θ) onde r ≥ 0, θ ∈ [0, 2π) (mais tecnicamente, qualquer condição de
movimento do observador O). Porém, como
Exemplo: P 3 m, π4 rad veremos no Capítulo 4, as leis de Newton só
valem para um classe especial de referenciais,
chamados referenciais inerciais.
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Na Mecânica de partícula e de sistema de partículas, utilizaremos indiscriminadamente o termo "ponto" para
se referir à particula em estudo.
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Como os textos são escritos utilizando LATEX, a língua padrão das funções matemática é o inglês. Portanto,
as abreviações de algumas funções serão diferentes daquelas que você aprendeu no Ensino Médio. Neste caso
específico, "sin" é a abreviação de sine, que é o nosso velho conhecido seno.
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Lembrete: um ângulo negativo significa que está sentido medido no sentido contrário à convenção, ou seja, no
sentido horário. Portanto o ângulo na convenção é o replementar do seu módulo (ou seja, 2π − |θ|).
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A utilização de referenciais não inerciais força centrífuga, que surge quando estamos
para descrever o movimento de uma partí- dentro de um carro fazendo uma curva: te-
cula leva ao surgimento de forças fictícias mos sensação de algo nos empurrando para
(ou pseudo-forças, ou forças inerciais). Um "fora" da curva.
exemplo bem conhecido pelo estudantes, é a
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