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Comentários à Lei 13.

151/2015, que altera regras sobre as FUNDAÇÕES


PRIVADAS
quarta-feira, 29 de julho de 2015

Olá amigos do Dizer o Direito,

Foi aprovada hoje mais uma novidade legislativa.

Trata-se da Lei n.° 13.151/2015, que altera algumas regras sobre as


FUNDAÇÕES PRIVADAS.

Vamos entender o que mudou, mas antes é preciso fazer uma breve revisão
sobre o tema.

ESPÉCIES DE PESSOAS JURÍDICAS


O Código Civil afirma que existem dois grupos de pessoas jurídicas:

1) Pessoas jurídicas 2) Pessoas jurídicas


de direito PÚBLICO de direito PRIVADO

As pessoas jurídicas de direito público dividem-se São pessoas jurídicas de direito privado:
em: I - as associações;
II - as sociedades (simples ou empresárias);
1.1) Pessoas de direito publico INTERNO: III - as fundações;
• União, Estados, Distrito Federal, Municípios e IV - as organizações religiosas;
Territórios; V - os partidos políticos;
• as autarquias (incluindo as associações públicas); VI - as EIRELI (empresas individuais de
• as demais entidades de caráter público criadas responsabilidade limitada).
por lei. Ex: fundações públicas.
Obs: a doutrina afirma que esse rol, previsto no
1.2) Pessoas de direito publico EXTERNO: art. 44 do CC, é exemplificativo, podendo ser
• Estados estrangeiros. Exs: Alemanha, EUA. reconhecidas outras pessoas jurídicas de direito
• Pessoas que forem regidas pelo direito privado (enunciado 144 da Jornada de Direito
internacional público. Exs:ONU, OIT, Santa Sé. Civil).

FUNDAÇÕES PRIVADAS

Espécies de fundações
Existem duas espécies de fundações:

a) Fundações PÚBLICAS (fundações governamentais):


- São classificadas como pessoas jurídicas de direito público.
- São instituídas pela Administração Pública e estudadas no Direito
Administrativo.
- Desempenham atividades de caráter social, como assistência social,
assistência médica e hospitalar, educação e ensino, pesquisa, atividades
culturais etc. Não podem desenvolver atividades industriais ou econômicas.
- Integram a Administração Pública indireta.
- A fundação pública pode ser instituída pela Administração com natureza
jurídica de direito público ou privado. Se tiverem natureza de direito público
serão consideradas uma espécie de autarquia (fundação autárquica).
- Se forem de direito público, são criadas diretamente pela lei.
- Se forem de direito privado, a lei apenas autoriza a sua instituição e será
necessário que o Poder Público registre seu estatuto no Registro Civil de
Pessoas Jurídicas para que adquiram personalidade jurídica.
- Exemplos de fundações públicas de direito público: Fundação Nacional do
Índio (FUNAI), Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) etc.
- Exemplo de fundação pública de direito privado: Fundação Padre Anchieta
(fundação instituída pelo Estado de São Paulo e responsável pela TV Cultura).

b) Fundações PRIVADAS
A fundação privada é...
- uma pessoa jurídica de direito privado
- criada por iniciativa de um particular (um grupo de particulares)
- que decide separar um patrimônio (dinheiro, imóveis etc.)
- e destiná-lo (afetá-lo) para que seja utilizado
- na realização de determinada finalidade de interesse coletivo.

Ex: João, indivíduo milionário, decide instituir uma fundação para ajudar
crianças carentes (assistência social). Para isso, ele vai até um cartório de
Tabelionato de Notas e, por meio de escritura pública, doa R$ 5 milhões para
custear a fundação (é chamado de dotação especial de bens livres). Em
seguida, o próprio instituidor, ou alguém a seu pedido, elabora o estatuto da
fundação especificando o fim a que se destina e a maneira de administrá-la.
Esse estatuto é submetido à análise do Ministério Público, que poderá aprová-
lo ou não. Imaginemos que o MP aprovou. A partir daí, o estatuto é registrado
no cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas (RCPJ) e a fundação passa a
ter existência legal.

A Lei n.° 13.151/2015 altera algumas regras sobre as FUNDAÇÕES PRIVADAS


conforme veremos abaixo.

FINALIDADES DAS FUNDAÇÕES PRIVADAS

A fundação privada pode ser instituída para o desempenho de quais


finalidades?
O parágrafo único do art. 62 do Código Civil prevê as finalidades para as quais
a fundação pode ser instituída.
A Lei n.° 13.151/2015 alterou esse dispositivo aumentando o rol de finalidades
permitidas. Vejamos:

FINALIDADES DAS FUNDAÇÕES PRIVADAS

Antes da Lei 13.151/2015 ATUALMENTE


Art. 62 (...) Art. 62 (...)

Parágrafo único. A fundação somente poderá Parágrafo único. A fundação somente poderá
constituir-se para fins religiosos, morais, culturais constituir-se para fins de:
ou de assistência. I – assistência social;
II – cultura, defesa e conservação do patrimônio
histórico e artístico;
III – educação;
IV – saúde;
V – segurança alimentar e nutricional;
VI – defesa, preservação e conservação do meio
ambiente e promoção do desenvolvimento
sustentável;
VII – pesquisa científica, desenvolvimento de
tecnologias alternativas, modernização de
sistemas de gestão, produção e divulgação de
informações e conhecimentos técnicos e científicos;
VIII – promoção da ética, da cidadania, da
democracia e dos direitos humanos;
IX – atividades religiosas;

A alteração representou uma grande inovação jurídica?


NÃO. Isso porque a doutrina, mesmo antes da Lei n.° 13.151/2015, já
afirmava que o rol do parágrafo único do art. 62 do CC era exemplificativo.
Assim, sempre se entendeu que a fundação poderia ser instituída para o
exercício das atividades agora previstas na nova redação do dispositivo.
Existiam, inclusive, dois enunciados das Jornadas de Direito Civil nesse
sentido:

Enunciado 8 – Art. 62, parágrafo único: a constituição de fundação para fins


científicos, educacionais ou de promoção do meio ambiente está
compreendida no CC, art. 62, parágrafo único.

Enunciado 9 – Art. 62, parágrafo único: o art. 62, parágrafo único, deve ser
interpretado de modo a excluir apenas as fundações com fins lucrativos.

Desse modo, a alteração foi interessante como uma forma de deixar expressa
essa possibilidade. No entanto, como já dito, representa apenas a consagração
de algo que já era pacífico na doutrina.

É possível a instituição de fundação privada para o desempenho de


atividades de “habitação de interesse social”?
Penso que essa pergunta pode ser feita em provas objetivas de concurso e a
resposta deverá ser NÃO. Explico. Repare que a nova redação do parágrafo
único do art. 62 termina no inciso IX. No entanto, a Lei n.° 13.151/2015 previa
a existência do inciso X dizendo que a fundação poderia ser instituída para fins
de “X - habitação de interesse social.”

Esse inciso X foi vetado pela Presidente da República sob o seguinte


argumento:
“Da forma como previsto, tal acréscimo de finalidade poderia resultar na
participação ampla de fundações no setor de habitação. Essa extensão
ofenderia o princípio da isonomia tributária e distorceria a concorrência nesse
segmento, ao permitir que fundações concorressem, em ambiente assimétrico,
com empresas privadas, submetidas a regime jurídico diverso.”
A preocupação da Presidente foi a de que pessoas jurídicas fossem criadas sob
a roupagem de “fundação” e desempenhassem atividades de habitação
concorrendo com sociedades empresárias em vantagem competitiva já que as
fundações gozam de alguns privilégios.

Em provas objetivas de concurso público, o examinador poderá perguntar


quais são as finalidades possíveis das fundações e colocar, dentre as
alternativas, a frase “habitação de interesse social”. Neste caso, esta
alternativa estará incorreta porque a questão estará querendo saber apenas o
texto literal do Código Civil.

FISCALIZAÇÃO DAS FUNDAÇÕES PRIVADAS

Quem fiscaliza o funcionamento das fundações privadas?


O Ministério Público estadual. Depois de criada, as fundações serão fiscalizadas
pelo Ministério Público do Estado onde situadas. Isso está previsto no caput do
art. 66 do CC:
Art. 66. Velará pelas fundações o Ministério Público do Estado onde situadas.

O caput do art. 66 fala em Ministério Público do Estado. E se a


fundação estiver situada no Distrito Federal, quem irá fiscalizá-la?
Quem vela pelas fundações localizadas no DF?
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).
A Lei n.° 13.151/2015 alterou o § 1º do art. 66 do CC com o objetivo de deixar
isso expresso no texto do Código. Comparemos:

QUEM FISCALIZA AS FUNDAÇÕES SITUADAS NO DF?

Redação do CC antes da Lei 13.151/2015 REDAÇÃO ATUAL

Art. 66 (...) Art. 66 (...)

§ 1º Se funcionarem no Distrito Federal, ou em § 1º Se funcionarem no Distrito Federal ou em


Território, caberá o encargo ao Ministério Público Território, caberá o encargo ao Ministério Público
Federal. do Distrito Federal e Territórios.

A alteração representou uma grande inovação jurídica? Antes da Lei n.


° 13.151/2015 quem fiscalizava as fundações localizadas no DF?
NÃO. A alteração não representou inovação jurídica. Mesmo antes da Lei n.
° 13.151/2015 quem fiscalizava as fundações localizadas no DF já era o
Ministério Público do Distrito Federal (e não o Ministério Público Federal).

Mas no quadro aí em cima está escrito que o § 1º do art. 66, antes da


Lei n.° 13.151/2015, mencionava o Ministério Público Federal...
Vamos com calma. O § 1º do art. 66 do Código Civil, em sua redação original,
afirmava que as fundações localizadas no DF seriam fiscalizadas pelo Ministério
Público Federal. Ocorre que isso não tinha nenhuma razão lógica, considerando
que o DF possui autonomia política e administrativa em relação à União e
quem é o responsável pela atuação no DF em temas “estaduais” é o Ministério
Público do Distrito Federal (e não o MPF).
Com base nisso, tão logo o CC foi aprovado, ainda em 2002, foi proposta uma
ADI contra esse § 1º do art. 66.
O STF julgou a ação procedente e declarou a inconstitucionalidade do § 1º do
art. 66 do CC, afirmando que a atribuição de fiscalizar as fundações privadas
localizadas no DF é do MPDFT.
O MPF possui a atribuição de velar pelas fundações federais, funcionem, ou
não, no Distrito Federal ou nos eventuais Territórios.
(STF. Plenário. ADI 2794, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgado em
14/12/2006)

Desse modo, por isso, mesmo antes da alteração da Lei n.° 13.151/2015, por
força de decisão do STF, a atribuição para fiscalizar as fundações privadas
localizadas no DF já era do MPDFT.

Veja como o tema foi cobrado em prova:


(Procurador Federal AGU 2007 CESPE) De acordo com o STF, cabe ao
Ministério Público do Distrito Federal e Territórios velar pelas fundações
públicas e de direito privado em funcionamento no DF, sem prejuízo da
atribuição, ao Ministério Público Federal, da veladura das fundações federais de
direito público que funcionem, ou não, no DF ou nos eventuais territórios.
(CERTO)

A Lei n.° 13.151/2015 corrige a falha do Código Civil e se adequa ao que foi
decidido pelo STF, deixando claro que se a fundação privada funcionar no
Distrito Federal ou em Território caberá o encargo ao MPDFT.

E se a fundação abranger mais de um Estado/DF? Se ela funcionar em


dois, três, quatro Estados/DF, quem fiscaliza?
Se as atividades da fundação se estenderem por mais de um Estado, caberá o
encargo, em cada um deles, ao respectivo Ministério Público (§ 2º do art. 66).
Ex: fundação “Leia Livros” atua em SP, RJ e DF. O MPSP irá fiscalizar as
atividades dessa fundação em SP, o MPRJ no RJ e o MPDFT no DF.

Veja como o tema já foi cobrado em prova:


(Procurador Federal AGU 2007 CESPE) Se uma fundação estender suas
atividades por mais de um estado, independentemente de ser federal ou
estadual, sua veladura caberá ao Ministério Público Federal. (ERRADO)

Obs: esse art. 66 do CC não exclui (não impede) que o MPF fiscalize as
fundações públicas que forem instituídas pela Administração Pública federal ou
que recebam recursos federais. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.
Nesse sentido:
Enunciado 147 – Art. 66: A expressão “por mais de um Estado”, contida no §
2o do art. 66, não exclui o Distrito Federal e os Territórios. A atribuição de
velar pelas fundações, prevista no art.
66 e seus parágrafos, ao MP local – isto é, dos Estados, DF e Territórios onde
situadas – não exclui a necessidade de fiscalização de tais pessoas jurídicas
pelo MPF, quando se tratar de fundações instituídas ou mantidas pela União,
autarquia ou empresa pública federal, ou que destas recebam verbas, nos
termos da Constituição, da LC n. 75/93 e da Lei de Improbidade.

ALTERAÇÕES NO ESTATUTO DA FUNDAÇÃO

As fundações são regidas por um ESTATUTO, que é aprovado pelo Ministério


Público e posteriormente registrado no cartório do Registro Civil de Pessoas
Jurídicas.

Depois de registrado, esse estatuto só poderá ser alterado se cumpridas


algumas formalidades. Para se alterar o estatuto da fundação é necessário
que:
a) haja a deliberação de 2/3 das pessoas competentes para gerir e representar
a fundação;
b) a mudança não contrarie ou desvirtue a finalidade da fundação;
c) o Ministério Público aprove essa mudança (se este negar, o juiz pode supri-
la, a requerimento).

Existe algum prazo máximo para que o MP analise a proposta de


mudança do estatuto?
45 dias. Esse prazo foi acrescentado pela Lei n.° 13.151/2015:

PRAZO PARA QUE O MP ANALISE A PROPOSTA DE


ALTERAÇÃO DO ESTATUTO

Antes da Lei 13.151/2015 ATUALMENTE

Não havia prazo. 45 dias.

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DE FUNDAÇÕES QUE SE CARACTERIZEM


COMO ENTIDADES EDUCACIONAIS E ASSISTENCIAIS

O art. 150, VI, “c” da CF/88 prevê que as “instituições de educação e de


assistência social, sem fins lucrativos” gozam de imunidade tributária quanto
aos impostos, desde que atendidos os requisitos previstos na lei. Vejamos a
redação do dispositivo constitucional:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é


vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
VI — instituir impostos sobre:
c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas
fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de
educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos
da lei;

Algumas fundações privadas podem se incluir nesse conceito de instituições de


educação e de assistência social e, com isso, gozarem de imunidade tributária.
Para isso, no entanto, precisam cumprir os requisitos previstos em lei.

Requisitos gerais previstos no art. 14 do CTN


Para gozarem da imunidade, as entidades devem obedecer aos seguintes
requisitos elencados no art. 14 do CTN:
a) não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas, a
qualquer título;
b) aplicarem integralmente, no País, os seus recursos na manutenção dos seus
objetivos institucionais;
c) manterem escrituração de suas receitas e despesas em livros revestidos de
formalidades capazes de assegurar sua exatidão.

Sem fins lucrativos


Tais entidades podem e devem ter superávit, até para que consigam se manter
e ampliar o atendimento dos fins sociais propugnados. O que não podem é
visar ao lucro. Se houver resultado positivo (superávit), este deverá ser
reaplicado na própria instituição e em suas finalidades institucionais.
Não se pode confundir também a apropriação particular do lucro (o que é
proibido) com a permitida e natural remuneração dos diretores e
administradores da entidade imune, como contraprestação pelos seus
trabalhos.
A remuneração não pode ser proibida, desde que ela represente com
fidelidade e coerência a contraprestação dos serviços profissionais executados,
por meio de pagamento razoável ao diretor ou administrador da entidade, sem
dar azo a uma distribuição disfarçada de lucros. Portanto, admite-se salário,
desde que a preço de mercado e sem benefícios indiretos.

Lei n.° 9.532/97


Além dos requisitos previstos no art. 14 do CTN, se a fundação quiser ter
imunidade de impostos federais deverá observar as regras da Lei n.° 9.532/97
que, em seu art. 12, prevê o seguinte:
Art. 12. Para efeito do disposto no art. 150, inciso VI, alínea "c", da
Constituição, considera-se imune a instituição de educação ou de assistência
social que preste os serviços para os quais houver sido instituída e os
coloque à disposição da população em geral, em caráter complementar às
atividades do Estado, sem fins lucrativos.

No § 2º do art. 12 da Lei n.° 9.532/97 são elencados alguns requisitos que


devem ser preenchidos pela entidade para gozar da imunidade. Veja:
§ 2º Para o gozo da imunidade, as instituições a que se refere este artigo,
estão obrigadas a atender aos seguintes requisitos:
(...)
A Lei n.° 13.151/2015 alterou alínea “a” do § 2º do art. 12 prevendo a
possibilidade de serem pagos salários aos dirigentes das entidades sem que,
com isso, elas percam a imunidade. Confira:

ALTERAÇÃO NA LEI 9.532/97

Antes da Lei 13.151/2015 ATUALMENTE

Art. 12 (...) Art. 12 (...)

§ 2º Para o gozo da imunidade, as instituições a § 2º Para o gozo da imunidade, as instituições a


que se refere este artigo, estão obrigadas a que se refere este artigo, estão obrigadas a atender
atender aos seguintes requisitos: aos seguintes requisitos:

a) não remunerar, por qualquer forma, seus a) não remunerar, por qualquer forma, seus
dirigentes pelos serviços prestados; dirigentes pelos serviços prestados, exceto no
caso de associações assistenciais ou
fundações, sem fins lucrativos, cujos
dirigentes poderão ser remunerados, desde
que atuem efetivamente na gestão executiva,
respeitados como limites máximos os valores
praticados pelo mercado na região
correspondente à sua área de atuação,
devendo seu valor ser fixado pelo órgão de
deliberação superior da entidade, registrado
em ata, com comunicação ao Ministério
Público, no caso das fundações;

A mudança proposta é salutar considerando que, conforme já explicado, não


há razão que justifique a proibição de que os dirigentes de fundações recebam
remuneração. Esta é importante até para que eles possam se dedicar de forma
exclusiva aos serviços da entidade. O que não se pode permitir é que tal
remuneração seja exorbitante a ponto de ficar caracterizada uma burla e uma
forma de lucrar com a fundação como se essa fosse uma empresa.

FUNDAÇÕES DECLARADAS COMO SENDO DE UTILIDADE PÚBLICA E


REMUNERAÇÃO DE SEUS DIRIGENTES

As fundações privadas podem ser declaradas como sendo de utilidade pública.

O título de utilidade pública é o reconhecimento conferido pelo Poder Público


aos relevantes serviços prestados pelas associações e fundações privadas, que
servem desinteressadamente à sociedade.

Essa qualificação de “utilidade pública” pode ser dada tanto pela União, como
pelos Estados e Municípios. Cada ente tem a sua legislação na qual especifica
os requisitos necessários para que a fundação possa receber o título.

No âmbito federal, o título de “Utilidade Pública Federal” (UPF) é concedido


pelo Ministro da Justiça (Decreto 3.415/2000) e os requisitos para que as
fundações possam ser enquadradas como tal estão previstos no art. 1º da Lei
n.° 91/1935.
O art. 1º, “c”, da Lei n.° 91/1935 previa que se os dirigentes ou conselheiros
da fundação recebessem remuneração, esta não poderia ser reconhecida como
de “utilidade pública”. A Lei n.° 13.151/2015 altera essa regra e estabelece a
possibilidade de serem pagos salários desde que respeitados alguns
parâmetros. Confira:

ALTERAÇÃO NA LEI 91/1935

Antes da Lei 13.151/2015 ATUALMENTE

Art. 1º As sociedades civis, as associações e as Art. 1º As sociedades civis, as associações e as


fundações constituidas no paiz com o fim exclusivo fundações constituidas no paiz com o fim exclusivo
de servir desinteressadamente á collectividade de servir desinteressadamente á collectividade
podem ser declaradas de utilidade publica, podem ser declaradas de utilidade publica,
provados os seguintes requisitos: provados os seguintes requisitos:

(...) (...)

c) que os cargos de sua diretoria, conselhos fiscais, c) que os cargos de sua diretoria, conselhos fiscais,
deliberativos ou consultivos não são remunerados. deliberativos ou consultivos não são
remunerados, exceto no caso de associações
assistenciais ou fundações, sem fins
lucrativos, cujos dirigentes poderão ser
remunerados, desde que atuem efetivamente
na gestão executiva, respeitados como limites
máximos os valores praticados pelo mercado
na região correspondente à sua área de
atuação, devendo seu valor ser fixado pelo
órgão de deliberação superior da entidade,
registrado em ata, com comunicação ao
Ministério Público, no caso das fundações.

FUNDAÇÕES RECONHECIDAS COMO ENTIDADES BENEFICENTES E


REMUNERAÇÃO DE SEUS DIRIGENTES

As fundações privadas (e outras entidades sem fins lucrativos) que realizem


atividades de assistência social, saúde ou educação, poderão ser reconhecidas
como “entidades beneficentes de assistência social”.

A fundação certificada como “entidade beneficente” e que cumprir os demais


requisitos previstos no art. 29 da Lei n.° 12.101/2009 gozará de ISENÇÃO do
pagamento das contribuições previdenciárias de que tratam os arts. 22 e 23
da Lei nº 8.212/91.

Vale ressaltar novamente que, além de conseguirem o certificado de entidade


beneficente, as entidades deverão cumprir alguns requisitos previstos no art.
29 da Lei n.° 12.101/2009.

Se os dirigentes da fundação recebessem remuneração, em regra, esta não


poderia ter direito à isenção das contribuições previdenciárias. Isso estava
previsto no art. 29, inciso I c/c § 1º, I, da Lei n.° 12.101/2009. A Lei n.
° 13.151/2015 alterou essa regra. Vejamos:
ALTERAÇÃO NA LEI 12.101/2009

Antes da Lei 13.151/2015 ATUALMENTE

Art. 29. A entidade beneficente certificada na Art. 29. A entidade beneficente certificada na forma
forma do Capítulo II fará jus à isenção do do Capítulo II fará jus à isenção do pagamento das
pagamento das contribuições de que tratam os contribuições de que tratam os arts. 22 e 23 da Lei
arts. 22 e 23 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de nº 8.212, de 24 de julho de 1991, desde que
1991, desde que atenda, cumulativamente, aos atenda, cumulativamente, aos seguintes requisitos:
seguintes requisitos:
I - não percebam seus diretores, conselheiros,
I - não percebam, seus dirigentes estatutários, sócios, instituidores ou benfeitores remuneração,
conselheiros, sócios, instituidores ou benfeitores, vantagens ou benefícios, direta ou indiretamente,
remuneração, vantagens ou benefícios, direta ou por qualquer forma ou título, em razão das
indiretamente, por qualquer forma ou título, em competências, funções ou atividades que lhes
razão das competências, funções ou atividades que sejam atribuídas pelos respectivos atos
lhes sejam atribuídas pelos respectivos atos constitutivos, exceto no caso de associações
constitutivos; assistenciais ou fundações, sem fins
lucrativos, cujos dirigentes poderão ser
(...) remunerados, desde que atuem efetivamente
na gestão executiva, respeitados como limites
§ 1º A exigência a que se refere o inciso I do caput máximos os valores praticados pelo mercado
não impede: na região correspondente à sua área de
I - a remuneração aos diretores não estatutários atuação, devendo seu valor ser fixado pelo
que tenham vínculo empregatício; órgão de deliberação superior da entidade,
II - a remuneração aos dirigentes estatutários, registrado em ata, com comunicação ao
desde que recebam remuneração inferior, em seu Ministério Público, no caso das fundações;
valor bruto, a 70% (setenta por cento) do limite
estabelecido para a remuneração de servidores do
Poder Executivo federal.

O § 1º do art. 29 da Lei n.° Lei n.° 12.101/2009 continua em vigor e não foi
alterado pela Lei n.° 13.151/2015, o que poderá gerar dúvidas porque a nova
redação do inciso I do art. 29 é mais ampla e permissiva que esse § 1º. O
ideal seria que o § 1º tivesse sido revogado.

Bem, essas são as principais alterações operadas pela novidade legislativa


aprovada hoje.

A Lei n.° 13.151/2015 não possui vacatio legis e já se encontra em vigor.

Márcio André Lopes Cavalcante


Professor

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