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Universidade Federal do Pará

Instituto de Filosofia e Ciências Humanas


Faculdade de História

Alessandra Moreira Galvão

ANÁLISE SOBRE A DITADURA MILITAR NA AMÉRICA DO SUL: a participação


dos Estados Unidos nos regimes cerceadores

Belém
2023
Com o intuito de abordar as ditaduras militares ocorridas na América Latina os textos
Governos Militares na América Latina de Osvaldo Coggiola; Ditaduras civil-militares no
Cone Sul e a Doutrina de Segurança Nacional – algumas considerações sobre a
Historiografia de Ricardo Antonio de Souza Mendes e Ditaduras militares [América Latina]
de Emir Sader abordam os “regimes cerceadores” (MENDES, 2013) na década de 1960,
dando ênfase nos seguintes países: Brasil, Argentina, Chile e Uruguai. Dentro desse escopo, o
texto de Coggiola aponta, com mais aprofundamento o processo de usurpação do poder civil
nos países mencionados, também expõe a conjuntura econômica presente no âmbito mundial
e a interferência dos Estados Unidos nesse processo. A respeito do texto de Mendes, o autor
avalia a Doutrina de Segurança Nacional como norte do ideário do período ditatorial e a
maneira como a DSN está presente nas obras literárias produzidas no final da década de 1970
ao início da década 1980. Tendo um viés diferente, o trabalho de Sader avalia, de uma
maneira geral e breve, sobre o norteador das ditaduras na América Latina – DSN – e os
períodos e de apogeu e declínio do crescimento nos países do Cone Sul. Em linhas gerais,
esses são os pontos identificados em cada texto.
Sobre a reflexão feita a partir dos textos lidos, chega a ser algo redundante e muito
convencional: a presença dos Estados Unidos como financiador das ditaduras na América
Latina. Esse fato é algo incontestável, assim como as mazelas deixadas pelo fornecimento
bélico vindo da parte norte do continente Americano. Coggiola expõe em seu texto que esse
investimento militar (2001, p.16-20) e a manutenção desse regime na América Latina (2001,
p. 35-40) mesmo quando o período ditatorial não era mais bem visto no âmbito mundial,
como posto por Sader (2006, p. 412). Além disso, o ideário pregado nesse período pelos
governos militares1 foi embasado em um modelo criado por civis dos Estados Unidos para os
Estados Unidos, mas que tomou outras proporções como a elaboração da política e economia
externa, mas mantida como segurança nacional para dentro do território estadunidense
(MENDES, 2013, p. 11-13). Assim a Doutrina de Segurança Nacional foi para a América
Latina um forma de “compreensão da realidade com a qual se deparavam” (MENDES, 2013,
p. 8).
Além disso, algo presente no artigo de Mendes e de Sader, e pode ser subentendido no
texto de Coggiola, é a perda da identidade que esses países, mantidos pelos Estados Unidos
sofreram. O fornecimento bélico não é o único exemplo dessa perda de identidade, o fator
cultural está presente com a absorção do ideário pregado pela DSN, afinal foi a assimilação de

1
Ao qual Mendes assinala que foram ditaduras cívico-militares, pois a direita, oriundas das camadas políticas,
das oligarquias, apoiaram a investida militar (2013, p. 8).
uma doutrina feita e proposta para o povo dos Estados Unidos. O quesito econômico está
dentro dessa absorção das coisas produzidas para os Estados Unidos, Sader fala sobre a
introdução de políticas neoliberais em países da América Latina, usando uma forma de pensar
a economia proposta pela Escola de Chicago (2006, p. 413). Essa mentalidade estadunidense
corroeu as identidades dos países da América Latina, impediu a reestruturação dos direitos
tribalistas e as reformas agrárias, tentou silenciar os sindicatos, investiu em milícias para isso,
tudo para não conter perto de si uma (ou umas) “ameaça comunista” com receio de acontecer
o mesmo que ocorreu no Vietnã (COGGIOLA, 2001, p. 39).
Todo o período da ditadura militar no Cone Sul foi cercado de violências que foram
desde a violência a democracia a violência física. Algo que marcou esse tempo de
cerceamento foi o silêncio que os governos ditatoriais promoveram sobre as “ameaças” à
segurança nacional (COGGIOLA, 2001, p. 17-20). Contudo, como dito por Sader, mesmo os
responsáveis não sofrendo a condenação devida e a destruição de algumas provas, atualmente,
ler sobre documentos, ouvir os prisioneiros ou familiares desses, tornou-se algo possível.
Referências
COGGIOLA, Osvaldo. Governos Militares na América Latina. São Paulo: Contexto, 2001, p.
11-20 e 35-49.
MENDES, Ricardo Antonio Souza. Ditaduras civil-militares no Cone Sul e a Doutrina de
Segurança Nacional – algumas considerações sobre a Historiografia. Tempo e Argumento,
Florianópolis, vol. 5, nº 10, 2013, p. 6-38.
SADER, Emir. Ditaduras militares [América Latina]. Enciclopédia Contemporânea de
América Latina. São Paulo: Boitempo, 2006, p. 412-413.
http://latinoamericana.wiki.br/verbetes/d/ditaduras-militares.

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