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Palhoça
2020
WICTOR PEDROSO ANTUNES
Orientadores:
Palhoça
2020
WICTOR PEDROSO ANTUNES
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AGRADECIMENTOS
De todo coração e por meio de toda musicalidade que eu possa assomar neste
mundo, agradeço aos meus professores, colaboradores e amigos ligados à sétima arte com
quem tive contato durante esses anos. Aos meus pais, que sempre me apoiam e me dão
suporte para vencer meus desafios. E a mim mesmo por buscar me superar e reconhecer
meus erros para superá-los.
6
RESUMO
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE GRÁFICOS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO. 10
CONSIDERAÇÕES FINAIS 40
REFERÊNCIAS 43
10
Introdução.
1
Mídia, compreendemos como o meio de comunicação com a finalidade de transmitir informações e
conteúdos variados, sendo neste projeto esse meio a internet. Portanto, a internet como a ―mídia‖ para o
acesso fílmico nos aparelhos móveis, por meio de plataformas interativas de streaming audiovisual.
2
Interativa, refere a possibilidade do espectador ter controle sobre o que consome. Como se trata de filmes,
é a interatividade do espectador com o que é exibido no streaming, permitindo avançar, recuar, pausar o
filme escolhido, além das opções que lhe são oferecidas para ter controle sobre a qualidade sonora, sejam
essas opções oferecidas pela plataforma de streaming ou mesmo pelo dispositivo móvel.
3
Móvel, pela mobilidade do dispositivo, a facilidade para o transporte do aparelho eletrônico, que é o
contrário de uma sala de cinema, onde o espectador deve ir até ela.
11
Deixo claro que, quando estou falando de mídia interativa móvel, me refiro aos
dispositivos que permitem a reprodução de conteúdo audiovisual conectados à internet,
portanto, também irei mencionar muitas vezes como dispositivo interativo móvel como
sendo o celular, a televisão, o computador pessoal de mesa/laptop e/ou o tablet. Esses
dispositivos que são manipuláveis pelo público e interativos por permitir que o consumidor
possa moderar como deseja consumir o conteúdo no momento que ele desejar. Ao
contrário, por exemplo, de ir assistir a um filme em uma sala de cinema, onde é possível
apenas controlar qual filme vamos ver, em qual horário e data específica assistir, onde
sentar na sala de cinema, quando ir ao banheiro e se desejamos comer e beber algo.
Meu objetivo nesta pesquisa é descobrir como se dá a transmissão sonora aplicada a
dispositivos interativos móveis. Em outras palavras, como é a experiência auditiva, de
escuta, por meio de dispositivos eletrônicos móveis que conhecemos popularmente por
celular (computador pessoal de bolso), tablet (computador pessoal com tela maior que do
celular), notebook (computador pessoal portátil) e desktop (computador pessoal de mesa).
Visando explorar a tecnologia envolvida no hardware (partes físicas de um
computador ou dispositivos como o celular) responsável pela experiência sonora do
espectador, com ou sem o apoio de acessórios como fones de ouvido e/ou caixas sonoras
externas como o home theater. Compreendendo os seus diferenciais tecnológicos, sejam
eles as tecnologias que abrangem desde o sistema sonoro 5.1, até aos formatos de arquivos
de decodificação do som oferecidos pelas plataformas de streaming. Abordando tal
experiência sonora, preferencialmente a fílmica, de filmes assistidos por streaming, sejam
eles no celular, tablet ou computador pessoal.
Partindo também de como os profissionais do som no cinema, o desenhista de som,
mixador, editor, lidam com os atributos e/ou as limitações necessárias para o pós-
processamento de som para as plataformas de streaming de conteúdo audiovisual. Apoiado
por dois questionários enviados a profissionais da área de som que estão no mercado,
professores especializados no som para cinema e ao público do conteúdo audiovisual.
E, ainda, comparar as diferenças na estrutura tecnológica sonora de uma sala de
cinema para o dispositivo móvel.
Portanto, a questão pertinente à pesquisa intitulada por ―A Experiência Sonora e
suas Implicações no Audiovisual Acessado em Dispositivos Interativos Móveis‖ é o
mesmo que perguntar: ―como é e o que implica ao ouvir um conteúdo audiovisual por
streaming nos dispositivos interativos móveis?‖
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Vale frisar que, apesar de o computador pessoal de mesa, o desktop, não ser tão
prática quanto à sua mobilidade, é importante ressaltar a tecnologia envolvida no mesmo,
até porque segue a mesma lógica que é aplicada aos dispositivos portáteis. Essa lógica, da
sua usabilidade para quando vamos assistir a um filme em ambos aparelhos, depende de
uma tela e alto-falantes sonoros.
No primeiro capítulo explico a relação do cinema como referência para a
experiência sonora fílmica, partindo do seu histórico que hoje é reconhecido com muita
legitimidade, quando falamos de experiência imersiva de som e imagem.
No capítulo 2, apresento o contexto da pesquisa que foi realizada junto ao público
especializado e profissionais da área audiovisual. E nos subcapítulos do capítulo 2, que são
intitulados por perguntas feitas aos participantes nos formulários enviados, vou construindo
pontos de vista diferentes sobre o que engloba a experiência imersiva sonora, não
considerando nenhum caso como melhor ou pior, mas apenas expondo os fatos de quão
imersivo realmente é a experiência fílmica sonora em ambos métodos4, cinema e
dispositivos interativos móveis.
4
Método, técnica ou meio de fazer alguma coisa, por meio de um processo organizado, lógico, sistemático,
que envolve pesquisa, investigação. Que muitas vezes logo está diretamente relacionado no inconsciente das
pessoas, pelo motivo de até posteriormente passar a aceitá lo como uma necessidade.
13
Pode ser árduo para muitos admitir que as salas de cinema já não são mais o
principal meio para assistir a filmes. A praticidade oferecida pelas plataformas de
streaming traz uma infinidade de vantagens e em tempos de pandemia como a atual pelo
Covid-19 as pessoas ficam ainda mais próximas dessas plataformas.
De maneira alguma me atreveria menosprezar a experiência de ir a uma sala
dedicada para assistir uma obra cinematográfica. Muito pelo contrário, serve como modelo
quando trata de experiência imersiva. Como disse, a palavra dedicada esclarece bem o que
queremos dizer: uma sala de cinema é adequada, possui isolamento acústico em todo seu
entorno, caixas acústicas posicionadas estrategicamente para criar também o surround5 no
som, telas muito maiores de dimensão em relação ao que temos em casa. Ou seja, as salas
de cinema bem equipadas, preparadas de fato, fazem com que o espectador esqueça que ele
está em uma sala de cinema, ele não deve saber no momento em que assiste ao filme que
em seu entorno existe uma estrutura complexa montada para lhe comportar e lhe imergir
no filme. O público torna-se um participante passivo em terceira pessoa no filme.
Mas contrariando a ideia do espectador como participante passivo, devemos
também inverter esse papel, para que ele não seja seduzido pelo espetáculo, torne-se
participante ativo em vez de voyeur.
5
Surround, é um padrão na banda sonora de um filme, por exemplo, em que permite maior imersão ao
espectador através do som, criando assim uma maior interação com o ambiente, como se os sons do filme,
estivessem sendo emitidos exatamente onde o espectador está, criando a sensação de que está dentro do
filme.
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simples que chama de paradoxo do espectador, onde diz que não há teatro sem espectador.
Segundo ele, quando o espectador mantém-se seduzido pelo espetáculo ele é separado da
capacidade de conhecer e do poder de agir. E no trecho acima são colocadas duas fórmulas
da atitude do espectador, que resume o teatro de Bertolt Brecht e Antonin Artaud - para um
o espectador deve refinar o olhar, para o outro deve abdicar da posição de observador.
E onde quero chegar? Esse livro citado do Rancière foi desenvolvido a partir das
ideias de outro livro seu, O Mestre Ignorante, que expunha a teoria de Joseph Jacotot que
afirma que um ignorante pode ensinar a outro ignorante aquilo que ele mesmo não sabe.
Meu ponto de vista, provindo do livro ―O Espectador Emancipado”, diz respeito a uma
reflexão sobre a busca do espectador pelo espetáculo que cativa e seduz, quando o público
a que me refiro aqui, aquele que assiste a filmes e não abdica de uma experiência imersiva,
está tão intrinsecamente próximo desse espectador de Rancière.
Portanto, para mim, quando o público utiliza como parâmetro aquela incrível
experiência imersiva sonora de uma vez que foi ao cinema e se sentiu seduzido, é que ele
torna-se passível desse âmbito experimental para imersão cinematográfica. Ou seja, uma
tela inferior e um sistema sonoro modesto comparado ao cinema não o conforta para ser
um novo parâmetro, assistir em casa não se compara ao palco cinema. É aqui onde esse
apego não rompe a barreira longínqua dos diferentes métodos de se ver e ouvir um filme.
Novos parâmetros são necessários para novas possibilidades. Se o cinema mudo tivesse
permanecido como principal meio de experiência fílmica, o que seria imersão sonora hoje,
será que os músicos da orquestra estariam espalhados na sala de cinema para criar o efeito
surround?
E por fim, onde realmente quero chegar? Não vamos abandonar o cinema, vamos
dissecá-lo e abarcar a sua magia para que seja transportada para os dispositivos interativos
móveis. Se o espectador não deseja reivindicar sua imersão sonora, ele precisa entender o
que é imersão sonora e quais os limites enfrentados nos dispositivos interativos móveis.
Para ressaltar a relevância em discutir sobre experiência fílmica sonora, é válido
mencionar como a convergência da cultura transpassa entre esses métodos de
comunicação.
Palavras impressas não eliminaram as palavras faladas. O cinema não eliminou o teatro. A televisão
não eliminou o rádio. Cada meio antigo foi forçado a conviver com os meios emergentes. É por isso
que a convergência parece mais plausível como uma forma de entender os últimos dez anos de
transformações dos meios de comunicação do que o velho paradigma da revolução digital. Os
15
velhos meios de comunicação não estão sendo substituídos. Mais propriamente, suas funções e
status estão sendo transformados pela introdução de novas tecnologias. (JENKINS, 2006, p. 41 e
42).
6
Computador de Bolso, os dispositivos que conhecemos por telefone celular, smartphone, tablet, que
desempenham funções idênticas ao computador pessoal, sendo usados para organização pessoal, visualização
de fotos, vídeos, leitura de textos, para o entretenimento com jogos, interação com pessoas via chats virtuais,
com a diferença de que não possui um teclado físico, um mouse ou rato, periféricos de entrada, ou até mesmo
um gabinete que ocupa uma escrivaninha. Em outras palavras, um computador pessoal que cabe no bolso da
sua calça.
17
Por esse motivo, faz sentido mencionar esses dispositivos como interativos, pois,
além da distração que eles potencialmente podem causar, também podem auxiliar para uma
rápida consulta com alguns toques na tela sendo possível conhecer algum aspecto do autor,
ator, atriz do filme que antes não se conhecia.
Portanto, o desafio aqui não é novamente a destruição do novo meio emergente,
mas sim em como vamos permitir que a experiência sonora possa ser tão imersiva quanto
em uma sala de cinema, considerando exceções em relação a salas de cinema, pois muitas
vezes um bom fone de ouvido pode fazê-lo imergir no filme muito mais do que em uma
sala de cinema que possui um sistema sonoro precário, muitas das vezes nem mesmo em
5.1 apenas 2.0 (estéreo).
Os dados foram obtidos por meio de dois formulários com questões pertinentes
para a pesquisa enviados aos meus colegas, também estudantes do curso de Cinema e
Audiovisual da Unisul - Universidade do Sul de Santa Catarina, que eu juntamente com a
orientadora desta pesquisa, professora Mara Salla, visitamos durante o período de aula
remota por videoconferência. As turmas da 2ª e 4ª fase por ocasião da visita estavam em
atendendimento com a professora Nádia Maffi Neckel; 6ª fase em atendimento com o
professor Roberto Svolenski; 8ª fase com as professoras Ana Carolina Cernicchiaro,
Ramayanna Lira e Solange Gallo, orientadoras de monografia do ano de 2020. Durante a
visita apresentei o trabalho, explicando meus objetivos com a pesquisa e convidando os
alunos e professores a participarem respondendo o formulário. Além de outros
participantes, os coordenadores do Centro Acadêmico de Cinema da Unisul e profissionais
da área de som e professores de cinema participaram da pesquisa.
O formulário enviado às turmas teve foco para o público especializado de conteúdo
audiovisual, ou seja, um público exigente, que assiste muito conteúdo cinematográfico e
possui conhecimento sobre a indústria cinematográfica, reunindo 52 participantes. Já o
outro formulário foi enviado aos profissionais que atuam na área de som, com exceção do
grupo especializado, que recebeu os dois formulários por fazerem parte do público que
consome cinema também. Sendo entre os profissionais e professores: Rodrigo Carreiro,
professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e do Bacharelado em Cinema e
Audiovisual da Universidade Federal de Pernambuco, que menciono como referência do
18
2.1. 1ª Pergunta: Qual/quais dos dispositivos você utiliza para o consumo de conteúdo
audiovisual?
Gráfico 1
19
Gráfico 2
20
Percebendo quais meios o público utiliza, vale agora descobrir por qual ou quais
plataformas possuem acesso. 96.1% possui acesso a Netflix, a plataforma com maior
concentração de conteúdo audiovisual, ficando atrás somente do Youtube em quantidade de
conteúdo audiovisual, mas cujo foco é diferente. Youtube é utilizado para vídeos mais
caseiros, mas com qualidade de Cinema em alguns casos, como grandes canais que exigem
de uma equipe completa, como o Porta dos Fundos.
Dentre essas plataformas, com exceção do Youtube, Libreflix e Vimeo, é necessário
ter uma assinatura paga para acessar o conteúdo audiovisual. Alguns casos oferecem teste
gratuito por até 30 dias. As plataformas Cardume, Crunchroll e Libreflix, citadas pelos
participantes, possuem focos diferentes, como o Cardume que é voltada a filmes de curta-
metragens, Crunchroll para animes e Libreflix varia entre curtas, médias e longas-
metragens de filmes documentários e ficção, sendo a única plataforma totalmente gratuita.
Uma vantagem muito comentada pelos participantes é a facilidade para consumir o
conteúdo, sem que seja necessário você baixar, alugar ou comprar o filme, ou baixar as
legendas. As plataformas já oferecem até mais de uma linguagem em muitos casos, além
da variedade de conteúdo, entre séries, filmes de curta a longa-metragem, filmes
documentários e musicais disponíveis nas plataformas mais completas.
2.3. 3ª Pergunta: Comente o que lhe agrada mais ao consumir por tal/tais dispositivos.
2.4. 4ª Pergunta: Você utiliza algum acessório para a sua experiência sonora do
conteúdo audiovisual, fone de ouvido, alto-falantes externos (home theater, soundbars)
e/ou outros?
Gráfico 3
acusticamente preparadas, com isolamento acústico. Alguns comentam que com o uso de
fone de ouvido conseguiram perceber maiores nuances na banda sonora7 do filme. Uns
valorizam a experiência compartilhada para assistir ao filme, pois se você usa o fone de
ouvido a experiência é só sua. Portanto, para a maioria deles, enquanto no cinema a
experiência sonora é pensada e preparada para isso, pelos serviços de streaming é mais
prática.
Um aspecto relevante é que quando falamos de conforto, fones de ouvido nem
sempre são a melhor aposta, ainda mais se utilizados para assistir filme no celular. Imagine
você estar no ônibus, voltando pra casa da faculdade, já cansado e precisa encontrar uma
maneira de apoiar seu celular. Quase impossível em um ônibus lotado onde não é possível
nem mesmo sentar, você coloca seus fones, mantendo o máximo de cuidado para não
encalhar o fio do fone e ainda em pé mantendo o equilíbrio para não tombar quando o
ônibus passa em algum buraco na estrada. Além do seu conforto ser completamente
comprometido, em alguns casos muitos não têm um fone de ouvido ou headphone
adequados, são duros, secos, não ergonômicos, no caso de fones headphone. Em alguns
deles a alça aperta tanto sua cabeça e orelha que fica dolorido depois de um tempo do uso.
No caso dos fones que não possuem alça, eles devem ser colocados na entrada do canal
auditivo e podem muitas vezes também não se adaptarem bem, escapando do seu ouvido,
impedindo que você se movimente muito.
Detalhes como esses afetam a experiência auditiva imersiva, como pode mesmo um
fone entregando uma boa qualidade sonora, tendo uma construção física de material barata,
entregar experiência imersiva? Torna-se questionável, pois se um fone de ouvido é tão
desconfortável ao ponto de machucar seus ouvidos, essa imersão é quebrada, você acaba
lembrando o tempo todo que está usando um péssimo fone de ouvido.
Se o espectador decide ouvir o filme pelos alto-falantes nativos do celular ou
notebook vale lembrar que o som envolve mecânica e elétrica, portanto, dependendo do
material que é usado nos componentes do alto-falante, interfere na sua qualidade sonora.
Alguns alto-falantes produzem distorções, adicionando frequências que não existiam no
áudio original, pois possuem uma saída de baixa energia, como por exemplo os alto-
falantes de celulares ou laptops. Eles não conseguem produzir graves (altura, tom de uma
7
Banda Sonora, o conjunto sonoro de um produto audiovisual, que inclui desde a música, os efeitos
sonoros, diálogos, foleys, também chamada por trilha sonora.
23
música, que vai do grave ao agudo) tão evidentes, por isso normalmente as caixas acústicas
que carregam o subwoofer são grandes e conseguem emitir graves intensos.
Figura 1
(Ilustração de alto-falante com dimensão do cone para cada frequência sonora, fonte no link:
<https://www.newtoncbraga.com.br/index.php/projetos/14669-divisores-de-frequencia-para-alto-falantes-
art1696.html>).
Figura 2
Como as imagens acima ilustram, para cada frequência ou altura, desde o grave ao
agudo, é necessário uma dimensão diferente dos alto-falantes, é aqui que eles ganham
nomes diferentes. O de menor dimensão, o chamado tweeter para os agudos, o mid range
para as médias frequências, woofer para os graves e subwoofer para os subgraves.
É possível constatar que celulares, laptops e televisões não irão conseguir atender a
todas as frequências de maneira nativa sem o uso de sistemas sonoros externos como de
um home theater.
Agora, quando falamos de fone de ouvido com mais qualidade sonora e imersão,
existe uma longa discussão sobre quais modelos podem entregar a melhor experiência, que
se aproxime da experiência que temos em uma sala de cinema bem equipada. Existem
fones específicos para ocasiões distintas, como fones para quem pratica esporte -
normalmente sem fio e com resistência a água -, para quem trabalha com produção musical
ou até pós-produção de som para cinema - que utilizam os chamados fones monitores -,
para quem joga videogames - com fones mais voltados para imersão e estratégia, onde
alguns casos possuem sensores para captar o movimento da cabeça, facilitando o gamer se
localizar no espaço tridimensional do jogo e se algum inimigo se aproxima dele.
Além dos tipos e subtipos de fones, existe o tipo de tecnologia aplicada neles.
Falando sobre os transdutores8, entre os mais tradicionais, são os alto-falantes dinâmicos,
onde sua construção também é a mais difundida (exemplo dos componentes que o compõe
na figura 3). Nesses alto-falantes é mais suscetível a criação de distorções no áudio. A
movimentação dos cones, por exemplo, pelo fato de ser um cone e por outros fatores não
permite uma propagação da onda sonora tão fiel, mas que é o mecanismo mais usado por
ser mais barato. No entanto, essas distorções quase são imperceptíveis para um consumidor
não exigente, principalmente em modelos melhor construídos e caros.
8
Transdutor, consiste da conversão de energia elétrica em energia mecânica, compreendendo que o som é
possível pela propagação de uma onda sonora, que se dá quando partículas de ar são comprimidas e
rarefeitas, criando a propagação, que é composta pela compressão (quando os átomos ficam mais próximos
um do outro) e descompressão (os átomos ficam mais afastados). É nesse movimento de vai e vem que o
alto-falante faz, quando nós processamos o fenômeno como o som. Para que seja possível essa movimentação
nos alto-falantes é necessário alguns componentes, que são: Tampa protetora (Dust Cap), contra poeira e
resíduos; Cone e o domo (Cone + Surround), o que move o ar e produz som; A centragem e a guarnição
(Spider), o que fixa o cone no lugar e permite o movimento; O eletroímã ou bobina e o ímã (Voice Coil e
Magnet), as duas partes interagem mudando os pólos magnéticos para criar atração e repulsão e geram o
movimento; A carcaça (Basket), que sustenta o cone, a centragem, a guarnição e a bobina; O pólo e a chapa
polar (Top Plate e Pole + Rear Plate), que conduz a energia magnética gerada pelo ímã; Por fim a estrutura
que acopla todos esses componentes.
25
Figura 3
(Partes do alto-falante, fontes sobre como funciona o alto-falante nos links: <https://blog.landr.com/pt-
br/como-funcionam-os-alto-falantes-compreendendo-a-reproducao-de-audio-infografico/>
<http://www.eletrica.ufpr.br/edu/Sensores/1999/alysson/partesdoaltofalante.htm>).
claro, para o ser humano é inaudível. Um estudo científico prova que existem pessoas que
conseguem perceber essa diferença, mas que são casos raros. Outro detalhe é que para esse
estudo os engenheiros de som tiveram que produzir músicas com frequências acima do
espectro humano, pois praticamente não existe conteúdo de áudio com essas frequências.
Link do estudo científico: <http://drewdaniels.com/audible.pdf>. Todavia, sobre esse
estudo é importante ressaltar que muitos outros especialistas afirmam que alguns
parâmetros técnicos não foram seguidos à risca, como afirma o blog Archimago's Musings
e Real Hd-Audio nos links: <http://archimago.blogspot.com/2020/07/summer-musings-
post-hi-res-audio-why-hi.html> <https://www.realhd-audio.com/?p=5755>.
Esse exemplo, nos ajuda a compreender que alto custo não significa melhor
qualidade para um fone de ouvido, que antes de adquirir um fone devemos pesquisar e
analisar.
E tem mais. Fones que se dizem 5.1, 7.1, não fazem sentido! Começando que não
faz sentido quando ele diz criar a espacialidade, colocando pequenos altifalantes que
simulam a posição das caixas acústicas, como em um sistema home theater, pois não tem
como o som que é emitido pela caixa central ou os do surround vir dessa direção em um
fone, ele é limitado às duas posições estéreo. Quando o fone diz reproduzir 5.1 ou 7.1 ele
está na verdade criando uma imersão muito pior. Na natureza, os sons não são
posicionados ao lado da sua orelha em 90°, eles vêm de diversas direções e todos objetos
no entorno do ouvinte alteram a propagação da onda sonora, como até mesmo o corpo do
ser humano. Fones assim anulam esses detalhes da propagação do som. Então, quando
você deseja alcançar uma espacialidade mais natural e próxima do cinema pelo fone, outras
especificações devem ser consideradas.
Figura 4
2.5. 5ª Pergunta: Quais diferenças você percebe na experiência sonora, entre uma sala
de cinema e o dispositivo móvel?
28
Eu já cansei de procurar gerentes de cinema – e não apenas no Brasil, mas também nos Estados
Unidos, inclusive em salas com selo THX [certificado de excelência de reprodução sonora, emitidos
pela Lucasfilm] – e informar ao gerente que, por exemplo, as caixas de reprodução do lado direito
estavam todas paradas, você não ouvia nada. John Williams estava tocando manco (risos), só com
um pedaço da orquestra. (CARREIRO, 2019, p. 174).
Muito mais próximo da realidade, os sons e o silêncio no mundo estão presentes em todo o
entorno.
Figura 5
tecnologia no filme e nas salas de cinema. Para quem deseja consumir em casa, são
necessários equipamentos e periféricos específicos para a reprodução do mesmo.
Uma solução atual conhecida são os sistemas de Soundbars, que oferecem um som
de qualidade em um produto mais acessível, custo e benefício, pois não exigem espaços
amplos para serem instalados e muitas vezes são mais baratos do que um sistema de home
theater completo, além de alguns Soundbars possuírem tecnologia Dolby Atmos. No caso
de Soundbars mais completos, eles vêem com uma caixa de subwoofer separada da caixa
principal, que é comprida e geralmente instalada abaixo da televisão.
Figura 6
Como estamos falando sobre os dispositivos que logo vão influenciar a experiência
sonora fílmica, vamos então mensurar o que um espectador deve ter em mãos para uma
ótima qualidade sonora e profunda experiência imersiva em casa. Não descartando a sala
de cinema para uma experiência imersiva sonora, mas que serve como referência quando
em uma sala bem equipada e preparada. Aí aqui faz sentido considerar o que deve ser
pensado no momento de consumir conteúdo audiovisual em casa, para melhor desempenho
e experiência se aproximando do que o cinema propõe.
A começar pelo grupo social em que o indivíduo se encontra. Abaixo da classe
média dificilmente esse grupo terá a oportunidade de pagar pelo ingresso de cinema, ou
muito menos ter em casa um sistema de home theater razoavelmente bom, que já deve ser
caro para alguém que recebe menos de um salário mínimo por mês. Como pensar em ouvir
um filme com qualidade, considerando que o Brasil tem um aumento da desigualdade
social, segundo pesquisa9 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)? Não
vou me ater a esse aspecto na pesquisa, mas só para ficar claro que, poder aquisitivo
também reverbera na experiência auditiva de um conteúdo audiovisual. Ou seja, ela não é
acessível a todos.
É importante que os principais dispositivos para um boa experiência audiovisual -
computador pessoal, celular, televisão ou tablet - tenham conexão à internet com boa
largura de banda10.: média de 3 Mbps (megabits por segundo) para receber do streaming
audiovisual sem interrupções a resolução SD (480 pixels); 5 Mbps para resolução HD (720
pixels); e no mínimo 25 Mbps para resoluções até Ultra HD (2160 pixels). Você pode até
mesmo constatar o quanto de dados vai demandar de sua rede, analisando os planos que as
9
<https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/25700-
pnad-continua-2018-10-da-populacao-concentram-43-1-da-massa-de-rendimentos-do-pais>
10
Largura de Banda, medida da capacidade de transmissão de uma conexão ou rede. Determinando a
velocidade que os dados trafegam através de uma rede específica. Quanto maior a banda, mais informações,
mais dados podem trafegar pela rede.
32
plataformas de streaming oferecem, como é o caso da Netflix que oferece os planos básico
(qualidade SD), padrão (HD) e premium (Ultra HD). Portanto, você deve considerar
também o que mais cada plano oferece. No caso da Netflix ela irá oferecer Dolby Atmos só
no plano Ultra HD.
Então, se você desejasse ouvir seu filme pela Netflix com Dolby Atmos iria precisar
também de um sistema que suporte tal codec de áudio11. O sistema operacional Windows
10, por exemplo, permite esse codec que deve ser comprado na loja virtual da Microsoft, o
chamado Dolby Access. Irá proporcionar a codificação com Dolby Atmos, mas que a placa
de som (hardware que processa o som) de muitos computadores não suporta. Permite só
uma virtualização espacial do som, o surround espacial12, que é realizada também pelo
chamado Windows Sonic para Fones de Ouvido13, que é concorrente do Dolby Atmos para
virtualização do som. Além disso, no caso de um sistema home theater, ele precisa ter o
selo Dolby Atmos, como no caso do soundbar.
Outro detalhe importante para o sucesso na decodificação do Dolby Atmos é que se
ao utilizar um sistema home theater ou soundbar, o cabo HDMI conectado do computador
ou televisão ao receiver14 do som deve suportar maior resposta na transmissão, que é
possível através de cabos que normalmente acompanham nas suas especificações a sigla
ARC ou eARC. O ARC significa retorno de áudio, que além de transmitir imagem,
também transmite som, sem que seja necessário outro cabo para o som. No entanto, no
caso de cabos ARC eles não conseguem transmitir áudio multicanal 5.1 de alta qualidade,
muito menos em Dolby Atmos. Mas o eARC (canal de retorno de áudio aprimorado) já
consegue transmitir em Dolby Atmos, como é detalhado no site da HDMI disponível no
link: <https://hdmi.org/spec21sub/enhancedaudioreturnchannel>. Além do cabo, também
11
Codec de Áudio, algoritmo de codificação e compressão de dados em um formato de áudio, como por
exemplo os codecs da Dolby Laboratories, o Dolby Digital, Dolby Atmos, entre outros. Que pode ser
confundido com o formato de áudio, mas o formato é aquele que suporta diferentes tipos de codecs. O
formato de áudio corresponde à extensão do arquivo, que determina por quais aplicativos ele poderá ser
reproduzido, que são compatíveis para ser reproduzido pelo Windows Media Player, por exemplo. Extensões
essas que conhecemos por .mp3, .mp4, .wma, .aac. E dentro dos formatos existem os codecs que ou garantem
toda a informação do áudio registrada, como os FLAC Free Lossless Audio Codec, APE Monkey’s Audio,
ALAC Apple Lossless Audio Codec, ou comprimem o áudio, excluindo frequências que são inaudíveis ao
ouvido humano, possibilitando que o peso do arquivo seja menor, como MP3, WMA, OGG, AAC.
12
Surround Espacial é a tecnologia do áudio que permite maior precisão no posicionamento do som, na
profundidade e altura. Criando um espaço tridimensional virtual, ao contrário de tradicionais sistemas 5.1,
que são restritos a canais e posicionamentos fixos.
13
Windows Sonic para Fones de Ouvido, tecnologia que permite som espacial, áudio mais envolvente e
imersivo, em até mesmo fones de ouvido de baixo custo.
14
Receiver, receptor de áudio e vídeo, que é interligado entre as caixas de som e uma televisão por exemplo.
Muitos possuem até o hardware para reprodução de DVD, CD, entre outras funções.
33
deve ficar claro que a porta de conexão dos cabos nos dispositivos deve suportar maior
velocidade de transmissão, como as que são intitulados por HDMI 2.1 (canal de retorno de
áudio aprimorado), que suportam o eARC, como também mencionado no link acima.
Mas se você deseja utilizar fones de ouvido não terá o impasse dos cabos e portas
HDMI, como promete o Windows Sonic para Fones de Ouvido. A virtualização espacial é
possível mesmo em fones mais simples. No caso do Dolby Atmos, essa espacialidade
também independe do fone em si, mas vale considerar alguns fones que possuem
qualidades superiores, como os Hi-Fi (High Fidelity, Alta Fidelidade), que buscam garantir
menos distorções no som e se aproximar mais de como o som realmente é, que não é só
presente em fones, mas em caixas de som também. Até aqui, se você atender a todos essas
especificações sua experiência imersiva está praticamente garantida.
Outro aspecto não mencionado é em relação às plataformas de streaming que
oferecem conteúdo com qualidade imersiva sonora disponível, como em alguns títulos da
Netflix, que oferecem Dolby Atmos e Dolby Digital 5.1, portanto também resulta da pós-
produção de som para esse tipo de tecnologia. No caso do Youtube, se você não pagar uma
assinatura mensal, a qualidade considerando em taxa de bits15 fica em 128 Kbps no
formato AAC, com Youtube Premium vai para 256 Kbps. O Amazon Prime Video oferece
na maioria dos dispositivos de reprodução, som surround 5.1. Em alguns casos Dolby
Atmos pelo Chromecast, Apple TV, entre outros, como é listado no site da Amazon quais
conversores e reprodutores permitem o uso do Prime Video, mostrando suas especificações
e restrições no link:
<https://www.primevideo.com/help/ref=atv_hp_nd_cnt?language=pt_BR&nodeId=GTAQ
MQBSRQKKE9FJ>. Outro exemplo menos convencional, como a Globosat Play, não
permite nem mesmo o som surround.
16
Faixa Dinâmica (Dynamic Range), como descreve CARREIRO no seu livro, quando é uma faixa
dinâmica menor significa que a distância entre os elementos mais delicados e os mais ruidosos da banda
sonora é menor do que nas produções cinematográficas, que possui uma dinâmica muito maior, permitindo
que as extremidades entre o mais alto ou agudo e o mais baixo ou grave, seja mais perceptível.
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acumulam, sem mencionar o fato de que o espectador permanece envolto por ruídos do cotidiano.
(CARREIRO, 2019, p. 33).
Figura 7
maioria dos filmes, ao contrário de músicas com muito grave, que não aparecem nesses
dispositivos com o uso do alto-falante nativo.
Dessa forma é na mixagem de som que podemos misturar o som, permitindo que
essa dinâmica entre altura mais grave e aguda seja mais perceptível. Mas não podemos
negar que perdemos sutilezas ao ouvir um filme em um celular, como comenta Bernardo
Uzeda sócio do estúdio Aura Post (RJ), editor de som e compositor, em sua entrevista
concedida para Rodrigo Carreiro.
O espectador brasileiro tem o ouvido um pouco adormecido, porque ele está sempre lendo legendas.
Aí, quando ele pega uma série brasileira, se o diálogo não está na frente, como nas novelas da
Globo, em que está todo mundo berrando o tempo inteiro, aquilo causa um choque, e o problema
mundial finalmente é notado. Para resolver isso, é preciso educar o espectador. Não se trata de dizer
que as séries são perfeitas e o espectador é estúpido, mas de entender que se o cara decide ouvir no
iPhone, vai perder coisas. Infelizmente. (CARREIRO, 2019, p. 67 e 68).
Mesmo para streaming. Os caras trabalham com 5.1 de verdade, não têm medo de usar a tecnologia.
E a masterização é feita com cuidado, eles têm tempo para trabalhar. No Blade Runner 2049, li uma
reportagem dizendo que a pós-produção de áudio levou quase seis meses. A mixagem sozinha
consumiu 49 dias, um número enorme. Gastaram seis meses para fazer todos os deliveries
necessários, provavelmente porque foi um daqueles filmes dublados em muitas línguas, e todo esse
material era enviado para o mixador do filme. (CARREIRO, 2019, p. 143).
Para que seja possível alcançar uma experiência sonora confortável, tanto no
cinema quanto na televisão e streaming, seria necessário que os mixadores de áudio
entregassem um arquivo separado para cada plataforma, adaptado para as mesmas. Na
televisão, segundo os profissionais entrevistados no livro do Carreiro, os diálogos, os
foleys, os efeitos, devem ser colocados mais intensos no volume e a diferença entre as
alturas mais graves e agudas deve ser menor, ao contrário do cinema, que pode ser mais
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Figura 8
(Dinâmica de reprodução dentro do espectro sonoro humano entre cinema e televisão, de acordo com a
capacidade de frequência de cada sistema sonoro).
O que acontece é que muitas vezes o mixador de áudio não tem muito tempo, e em
vez de utilizar diferentes foleys para uma porta abrindo, por exemplo, ele usa um ou dois
foleys sobrepostos, que reflete na experiência sonora do filme. Alguns passos dos
personagens soam semelhantes, ou parece que o passo na verdade ressoa outra coisa.
Já é possível perceber que quando falamos de pós-produção de som para televisão,
streaming e cinema, falamos de ambientes diferentes. Não dá pra esperar que uma
televisão de tubo de 15 anos atrás pudesse reproduzir a mesma experiência sonora de uma
sala de cinema, muito menos de um celular atual, a menos que com uso de fones de
ouvido, em alguns casos com tecnologias para espacialidade que permite ouvir o som em
360º, ou com um home theater.
Kiko Ferraz, proprietário da KF Studios em Porto Alegre (RS), revela na sua
entrevista com Rodrigo Carreiro que não adianta você esperar ouvir os graves geralmente
muito presentes em salas de cinema enquanto assiste a um filme em casa, exceto se tiver
um bom subwoofer. Assim como com o surround, que permite uma maior imersão no
filme, mas que como menciona Kiko Ferraz:
Agora, no cinema... se tiver que botar uma voz no surround, uma porta batendo, um efeito, eu boto.
E acho que tem que ser assim mesmo, é para isso que a tecnologia foi criada. Claro que eu não vou
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botar uma narração, um diálogo inteiro lá atrás, até porque tu não quer o público olhando para fora
da tela... não sei se tu conhece a expressão ―exit sign effect‖... (CARREIRO, 2019, p. 91).
Ele fala sobre a expressão “exit sign effect”, que é quando ruídos produzidos pelos
canais surround chamam a atenção do espectador para fora da tela do filme, ficando
perdido procurando a origem do som, às vezes até confundindo, achando que a explosão do
filme na verdade é lá fora da sala de cinema. Ou seja, no trabalho de Kiko Ferraz, ele
esclarece que o surround é sim importante, mas não para colocar inúmeros efeitos, foleys,
diálogos nos canais surround em excesso, não se trata de uma vinheta da Dolby (que
apresenta as possibilidades para explorar em um sistema de multicanais 5.1/7.1 com a
tecnologia Dolby). Em um filme apenas trabalhamos com o surround quando faz sentido,
exceto claro em situações experimentais. Não existe regra, mas você não colocaria o som
de um diálogo que está no centro da tela saindo no canal surround de um lado só, a menos
claro que tenha um porquê.
Figura 9
(Ilustração de Ryan Garcia, de Toronto, Canadá. Publicado em matéria sobre som surround no The Wall
Street Journal. GARCIA ilustra como o sistema sonoro projeta a experiência imersiva. Disponível em
<https://www.wsj.com/articles/dazzling-surround-sound-for-your-home-theater-a-beginners-guide-
1489693538> Site do Artista <http://ryangarcia.ca/>).
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experiência sonora fílmica, as salas de cinema sem dúvida são essenciais quando buscamos
mais imersão. Apesar dessa dificuldade, eu acredito que partindo de um ponto de vista
otimista um cenário como esse serve como um aditivo para a melhora na qualidade do
serviço de streaming oferecido. Os espectadores são exigentes, a indústria terá que se
adaptar, dessa maneira poderá perceber, por exemplo, que uma pós-produção de som
produzida especialmente para as plataformas de streaming ou televisão deve ser diferente
da feita para o cinema.
Considerações Finais
O salto da evolução tecnológica permite que a sétima arte - quando trata de imersão
sonora - se aproxime mais do público, mas que esse público se distância cada vez mais das
salas de cinema, estando mais presente em plataformas de streaming audiovisual,
principalmente em situações de distanciamento social, como a causada pelo Covid-19.
Partindo da necessidade de equipamentos mais eficientes e acessíveis para
experiência sonora audiovisual, é encontrada que ela ganha novos desafios para alcançar
mais imersão, quando comparada a salas de cinema, que são adequadas para mais imersão
sonora e visual. Compreendendo então, que a experiência de ouvir um filme em casa por
determinado método, é diferente de ouvir o filme em uma sala de cinema, que por esse
método depende de uma estrutura complexa para garantir imersão para todo o público
presente na sala de cinema. Em casa também depende de uma estrutura complexa, mas que
para um público muito menor, ou seja, depende de uma estrutura de menor escala.
No caso das salas de cinema como referência para imersão sonora, entendo ser
válido gastar o ingresso do cinema, quando buscamos ter a experiência de uma tela muito
maior, como no cinema Imax, quando o sistema sonoro da sala é devidamente posicionado,
de qualidade, com tecnologias ou padrões que qualificam o sistema sonoro das salas de
cinema, como o certificado de padronização THX, emitido pela Lucasfilm, que garante a
reprodução do som e imagem mais fiel a concebida pelos produtores, ou o mais atual
Dolby Atmos -, quando também esses padrões de certificação de fato estão funcionando -.
Ao contrário, vale mais experienciar um filme em casa, com fones de ouvidos ou um home
theater.
Por experiência fílmica sonora, com apoio desse trabalho de pesquisa, devemos
considerar que se trata do processamento de uma informação contida no conteúdo
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audiovisual feita pelo cérebro de cada indivíduo. Ou seja, será distinta para cada pessoa,
pois alguns podem relatar que ouvir um filme por fones de ouvidos pode ser até muito mais
imersivo do que em uma sala de cinema. Por estarmos suscetíveis a interrupções externas,
ruídos que não fazem parte do filme, como o de pessoas abrindo a embalagem de um
salgadinho na sala de cinema, ou do cachorro do vizinho ou o seu mesmo latindo em casa,
o uso do fone de ouvido pode auxiliar no cessamento desses ruídos. Então mais fácil
entender que imersão sonora não vai depender só do sistema sonoro dedicado para essa
imersão, mas também do ambiente em que o público se encontra.
Quanto ao sistema sonoro é evidente que, se deseja alcançar a experiência sonora
próxima à do cinema, será necessário desembolsar uma boa grana, que deve ser investida, a
começar, pelas caixas de som - seja um sistema home theater ou até um soundbar -, pelo
isolamento acústico, que na maioria das vezes para o uso doméstico não é muito valorizado
ou acessível. No caso de profissionais da área de som, eles já possuem muitas vezes uma
sala dedicada para pós-produção de som, então é ali onde ele vai escutar seus filmes muitas
vezes. Além disso, também é necessário ter acesso ao conteúdo com qualidade sonora,
como nos casos de alguns títulos de filmes da Netflix que possuem o Dolby Atmos
qualificado. E aí vai o investimento na assinatura mensal da plataforma.
Tratando do público comparado entre o mais exigente e menos exigente, para o
público leigo, que não tem o conhecimento de um audiófilo para julgar o que é necessário
para melhor experiência sonora, fica difícil mantê-lo longe de falsas especificações. Ele
pode não saber, por exemplo, que é enganado por puro marketing quando na especificação
de algum acessório sonoro, apresenta alguma tecnologia que intitula se como superior,
como o exemplo do Hi-Res, que não faz diferença alguma nos acessórios sonoros e só
encarece o produto. Portanto, quando falamos de acessibilidade, ela não é só a financeira,
de poder aquisitivo, mas também de acesso a informações corretas.
Até aqui podemos concluir que para melhor experiência sonora fílmica
necessitamos de estrutura física, que depende dos dispositivos móveis, sistemas sonoros e
ambiente adaptado, e também do que a indústria oferece em conteúdo com qualidade
adaptada para os dispositivos móveis por exemplo. Ou seja, depende do que o público
possui em mãos para reprodução do conteúdo audiovisual e do que a indústria do
entretenimento permite.
Para mim, as plataformas de streaming oferecem uma imersão sonora distinta da de
uma sala de cinema. A experiência compartilhada ao assistir um filme pode ser boa se você
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valoriza e percebe as reações do público ao assistir o filme. Essa partilha torna sensível
nosso humor que se reflete na reação do público. É como você ouvir uma música de seu
artista predileto em um show ao vivo e compará-la a audição em casa. A experiência ganha
outro ponto de vista. O que quero dizer é que a experiência compartilhada contagia. Pelos
dispositivos móveis você pode assistir com a família e amigos, mas a combinação de uma
sala preparada para imersão sonora com todo o público restrito a apenas permanecer na sua
cadeira e curtir o filme é diferente de estar em casa e ser mais suscetível a receber
interrupções que estorvam a experiência fílmica.
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REFERÊNCIAS
Livros:
JENKINS, Henry. Cultura da convergência. Trad. Susana Alexandria. São Paulo: Editora
Aleph, 2015.
CHION, Michel. A audiovisão: som e imagem no cinema. Trad. Pedro Elói Duarte. Lisboa:
Editora Texto & Grafia, 2011.
WISNIK, José Miguel. O som e o sentido: uma outra história das músicas. São Paulo:
Companhia das Letras; Círculo do Livro, 1989.
Capítulo de Livro:
BRIGGS, Asa. BURKE, Peter. ―Processos e Padrões‖. In: Uma história social da mídia:
de Gutenberg à internet. Trad. Maria Carmelita Pádua Dias. Rio de Janeiro: Editora Zahar,
2004-2006.
Artigos:
Textos na Internet:
Autor desconhecido. Post Hi-Res Audio. Why hi-res is often not for the best. Resampling,
dithering and de-clipping. Archimago’s Musing. Disponível em:
http://archimago.blogspot.com/2020/07/summer-musings-post-hi-res-audio-why-hi.html.
Acesso em: novembro de 2020.
WALDREP, Mark. Perceptual Evaluation of HRA Study Proves Nothing. Real Hd-Audio.
Disponível em: https://www.realhd-audio.com/?p=5755. Acesso em: novembro de 2020.