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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

CINEMA E AUDIOVISUAL 2020.2


WICTOR PEDROSO ANTUNES

A EXPERIÊNCIA SONORA E SUAS IMPLICAÇÕES NO AUDIOVISUAL


ACESSADO EM DISPOSITIVOS INTERATIVOS MÓVEIS

Palhoça
2020
WICTOR PEDROSO ANTUNES

A EXPERIÊNCIA SONORA E SUAS IMPLICAÇÕES NO AUDIOVISUAL


ACESSADO EM DISPOSITIVOS INTERATIVOS MÓVEIS

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado


adequado à obtenção do título de Bacharelado em
Cinema e aprovado em sua forma final pelo Curso de
Cinema e Audiovisual da Universidade do Sul de
Santa Catarina.

Orientadores:

Dra. Mara Salla (Orientadora)

Dra Ana Carolina Cernicchiaro (Coorientadora)

Dra Ramayanna Lira (Coorientadora)

Dra Solange Gallo (Coorientadora)

Palhoça
2020
WICTOR PEDROSO ANTUNES

A EXPERIÊNCIA SONORA E SUAS IMPLICAÇÕES NO AUDIOVISUAL


ACESSADO EM DISPOSITIVOS INTERATIVOS MÓVEIS

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado


adequado à obtenção do título de Bacharelado em
Cinema e aprovado em sua forma final pelo Curso de
Cinema e Audiovisual da Universidade do Sul de
Santa Catarina.

Palhoça, dia 9 de Dezembro de 2020.

______________________________________________________

Dra. Mara Salla (Orientadora)

Universidade do Sul de Santa Catarina


______________________________________________________

Dra. Ana Carolina Cernicchiaro (Coorientadora)

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________

Dra. Ramayanna Lira (Coorientadora)

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________

Dra. Solange Gallo (Coorientadora)

Universidade do Sul de Santa Catarina


4

Dedicado a audiófilos e não audiófilos.


5

AGRADECIMENTOS

De todo coração e por meio de toda musicalidade que eu possa assomar neste
mundo, agradeço aos meus professores, colaboradores e amigos ligados à sétima arte com
quem tive contato durante esses anos. Aos meus pais, que sempre me apoiam e me dão
suporte para vencer meus desafios. E a mim mesmo por buscar me superar e reconhecer
meus erros para superá-los.
6

RESUMO

As implicações enfrentadas por dispositivos interativos móveis para a experiência


de imersão sonora através do conteúdo audiovisual. Apresentando uma pesquisa de campo
realizada por meio de um formulário online com questões para o público especializado e
profissionais da área de som, auxiliando no debate sobre o que é mais importante e
acessível para a experiência sonora audiovisual. Relatando os desafios encontrados pelo
público e profissionais da área de som, que visam se aproximar da experiência fílmica das
salas de cinema, inserida por meio do novo meio emergente de distribuição de conteúdos
audiovisuais, as plataformas de streaming audiovisual. E as possibilidades tecnológicas
para mais imersão sonora nos dispositivos interativos móveis, comparando os acessórios
para som externo entre os sistemas sonoros nativos dos dispositivos interativos móveis, que
alcançam diferentes tipos de experiência sonora.

Palavras-Chaves: Experiência sonora audiovisual; Sonoro em dispositivos móveis;


Preferências do público; Pós-produção de som.
7

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Alto-falante com dimensão do cone para cada frequência sonora. 23


Figura 2 - Diâmetro dos diferentes tipos de alto-falante. 23
Figura 3 - Partes do alto-falante. 25
Figura 4 - Boneco com microfones binaurais instalados no canal auditivo. 26
Figura 5 - Comparação entre o Dolby Atmos e o estéreo. 29
Figura 6 - Representação da dissipação do som no Soundbar da Sony com Dolby Atmos.30
Figura 7 - Representação da faixa dinâmica. 35
Figura 8 - Dinâmica de reprodução dentro do espectro sonoro humano entre cinema e
televisão. 37
Figura 9 - Representação de imersão sonora. 38
8

LISTA DE GRÁFICOS

Figura 1 - Porcentagem do uso de dispositivos para consumo audiovisual. 18


Figura 2 - Porcentagem do uso de plataforma de streaming. 19
Figura 3 - Números de pessoas que utilizam os acessórios de som. 21
9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO. 10

1. A CONVERGÊNCIA CINEMATOGRÁFICA NO SONORO FÍLMICO. 13

2. PESQUISA REALIZADA COM O PÚBLICO ESPECIALIZADO E PROFISSIONAIS DA


ÁREA AUDIOVISUAL. 17

2.1. 1ª PERGUNTA: QUAL/QUAIS DOS DISPOSITIVOS VOCÊ UTILIZA PARA O


CONSUMO DE CONTEÚDO AUDIOVISUAL? 18

2.2. 2ª PERGUNTA: A QUAL/QUAIS DAS PLATAFORMAS DE CONTEÚDO


AUDIOVISUAL POR STREAMING VOCÊ TEM ACESSO? 19

2.3. 3ª PERGUNTA: COMENTE O QUE LHE AGRADA MAIS AO CONSUMIR POR


TAL/TAIS DISPOSITIVOS. 20

2.4. 4ª PERGUNTA: VOCÊ UTILIZA ALGUM ACESSÓRIO PARA A SUA EXPERIÊNCIA


SONORA DO CONTEÚDO AUDIOVISUAL, FONE DE OUVIDO, ALTO-FALANTES
EXTERNOS (HOME THEATER, SOUNDBARS) E/OU OUTROS? 21

2.5. 5ª PERGUNTA: QUAIS DIFERENÇAS VOCÊ PERCEBE NA EXPERIÊNCIA SONORA,


ENTRE UMA SALA DE CINEMA E O DISPOSITIVO MÓVEL? 27

2.6. 6ª PERGUNTA: O QUE IMPLICA NA PÓS-PRODUÇÃO DE SOM DE UM FILME,


QUANDO ELE É PENSADO PARA OS DISPOSITIVOS MÓVEIS? 33

CONSIDERAÇÕES FINAIS 40

REFERÊNCIAS 43
10

Introdução.

É comum identificar que profissionais da área de som para o Cinema, ou estudantes


da área, como eu, possuam um elo íntimo com a música, encontram-se espelhados na
música. Essa paixão, geralmente, desperta desde cedo. Quando você valoriza um disco de
vinil que é colocado em um toca disco surrado, mesmo em uma tecnologia arcaica, o
simbolismo criado a partir do entretenimento de ouvir música fica marcado como um ato
singelo, sincero, até mesmo compaixão quando é compartilhado com pessoas que você
ama e valoriza tanto quanto a música. Pois são esses momentos, de colocar um vinil no
toca disco, escolher uma música pra tocar no Spotify (meio de ouvir música mais atual),
que aproximam a paixão das pessoas, a rotina, as responsabilidades e preocupações passam
a serem levadas de maneira mais harmônica, mais tranquila.
Foi assim que me aproximei tanto da música, pelo fato de valorizar esse ato para
além de apenas ouvir uma música, pois foram em momentos como esses que minhas
melhores memórias foram registradas. Não me considero um músico profissional, ainda,
não é por menos que estou aprendendo a tocar teclado/piano, no qual estou me
especializando para me tornar produtor musical e compositor, para trabalhar com produção
de trilha musical de filmes, séries, jogos, buscando meu eu artista representado aqui.
Sinto-me motivado a desbravar territórios em que nunca tenha colocado os pés.
Estudo Cinema, mas sou um apaixonado pela música, o som, o ruído, o silêncio. Não é por
menos que decido discorrer neste trabalho sobre o novo meio emergente de se assistir a um
filme, a um conteúdo audiovisual, como forma de o compreender e de o utilizar de maneira
democrática. Desse novo meio emergente, a mídia1 interativa2 móvel3, que converge entre
as salas de cinema, os dispositivos interativos móveis e os serviços de streaming
audiovisual. E também relevar a importância de discutir sobre um tema pouco falado
dentro da sétima arte. Esse tema, o som, compreendê-lo como constituinte fundamental
para uma obra cinematográfica, não mais como algo para agregar na imagem.

1
Mídia, compreendemos como o meio de comunicação com a finalidade de transmitir informações e
conteúdos variados, sendo neste projeto esse meio a internet. Portanto, a internet como a ―mídia‖ para o
acesso fílmico nos aparelhos móveis, por meio de plataformas interativas de streaming audiovisual.
2
Interativa, refere a possibilidade do espectador ter controle sobre o que consome. Como se trata de filmes,
é a interatividade do espectador com o que é exibido no streaming, permitindo avançar, recuar, pausar o
filme escolhido, além das opções que lhe são oferecidas para ter controle sobre a qualidade sonora, sejam
essas opções oferecidas pela plataforma de streaming ou mesmo pelo dispositivo móvel.
3
Móvel, pela mobilidade do dispositivo, a facilidade para o transporte do aparelho eletrônico, que é o
contrário de uma sala de cinema, onde o espectador deve ir até ela.
11

Deixo claro que, quando estou falando de mídia interativa móvel, me refiro aos
dispositivos que permitem a reprodução de conteúdo audiovisual conectados à internet,
portanto, também irei mencionar muitas vezes como dispositivo interativo móvel como
sendo o celular, a televisão, o computador pessoal de mesa/laptop e/ou o tablet. Esses
dispositivos que são manipuláveis pelo público e interativos por permitir que o consumidor
possa moderar como deseja consumir o conteúdo no momento que ele desejar. Ao
contrário, por exemplo, de ir assistir a um filme em uma sala de cinema, onde é possível
apenas controlar qual filme vamos ver, em qual horário e data específica assistir, onde
sentar na sala de cinema, quando ir ao banheiro e se desejamos comer e beber algo.
Meu objetivo nesta pesquisa é descobrir como se dá a transmissão sonora aplicada a
dispositivos interativos móveis. Em outras palavras, como é a experiência auditiva, de
escuta, por meio de dispositivos eletrônicos móveis que conhecemos popularmente por
celular (computador pessoal de bolso), tablet (computador pessoal com tela maior que do
celular), notebook (computador pessoal portátil) e desktop (computador pessoal de mesa).
Visando explorar a tecnologia envolvida no hardware (partes físicas de um
computador ou dispositivos como o celular) responsável pela experiência sonora do
espectador, com ou sem o apoio de acessórios como fones de ouvido e/ou caixas sonoras
externas como o home theater. Compreendendo os seus diferenciais tecnológicos, sejam
eles as tecnologias que abrangem desde o sistema sonoro 5.1, até aos formatos de arquivos
de decodificação do som oferecidos pelas plataformas de streaming. Abordando tal
experiência sonora, preferencialmente a fílmica, de filmes assistidos por streaming, sejam
eles no celular, tablet ou computador pessoal.
Partindo também de como os profissionais do som no cinema, o desenhista de som,
mixador, editor, lidam com os atributos e/ou as limitações necessárias para o pós-
processamento de som para as plataformas de streaming de conteúdo audiovisual. Apoiado
por dois questionários enviados a profissionais da área de som que estão no mercado,
professores especializados no som para cinema e ao público do conteúdo audiovisual.
E, ainda, comparar as diferenças na estrutura tecnológica sonora de uma sala de
cinema para o dispositivo móvel.
Portanto, a questão pertinente à pesquisa intitulada por ―A Experiência Sonora e
suas Implicações no Audiovisual Acessado em Dispositivos Interativos Móveis‖ é o
mesmo que perguntar: ―como é e o que implica ao ouvir um conteúdo audiovisual por
streaming nos dispositivos interativos móveis?‖
12

Vale frisar que, apesar de o computador pessoal de mesa, o desktop, não ser tão
prática quanto à sua mobilidade, é importante ressaltar a tecnologia envolvida no mesmo,
até porque segue a mesma lógica que é aplicada aos dispositivos portáteis. Essa lógica, da
sua usabilidade para quando vamos assistir a um filme em ambos aparelhos, depende de
uma tela e alto-falantes sonoros.
No primeiro capítulo explico a relação do cinema como referência para a
experiência sonora fílmica, partindo do seu histórico que hoje é reconhecido com muita
legitimidade, quando falamos de experiência imersiva de som e imagem.
No capítulo 2, apresento o contexto da pesquisa que foi realizada junto ao público
especializado e profissionais da área audiovisual. E nos subcapítulos do capítulo 2, que são
intitulados por perguntas feitas aos participantes nos formulários enviados, vou construindo
pontos de vista diferentes sobre o que engloba a experiência imersiva sonora, não
considerando nenhum caso como melhor ou pior, mas apenas expondo os fatos de quão
imersivo realmente é a experiência fílmica sonora em ambos métodos4, cinema e
dispositivos interativos móveis.

4
Método, técnica ou meio de fazer alguma coisa, por meio de um processo organizado, lógico, sistemático,
que envolve pesquisa, investigação. Que muitas vezes logo está diretamente relacionado no inconsciente das
pessoas, pelo motivo de até posteriormente passar a aceitá lo como uma necessidade.
13

1. A convergência cinematográfica no sonoro fílmico.

Pode ser árduo para muitos admitir que as salas de cinema já não são mais o
principal meio para assistir a filmes. A praticidade oferecida pelas plataformas de
streaming traz uma infinidade de vantagens e em tempos de pandemia como a atual pelo
Covid-19 as pessoas ficam ainda mais próximas dessas plataformas.
De maneira alguma me atreveria menosprezar a experiência de ir a uma sala
dedicada para assistir uma obra cinematográfica. Muito pelo contrário, serve como modelo
quando trata de experiência imersiva. Como disse, a palavra dedicada esclarece bem o que
queremos dizer: uma sala de cinema é adequada, possui isolamento acústico em todo seu
entorno, caixas acústicas posicionadas estrategicamente para criar também o surround5 no
som, telas muito maiores de dimensão em relação ao que temos em casa. Ou seja, as salas
de cinema bem equipadas, preparadas de fato, fazem com que o espectador esqueça que ele
está em uma sala de cinema, ele não deve saber no momento em que assiste ao filme que
em seu entorno existe uma estrutura complexa montada para lhe comportar e lhe imergir
no filme. O público torna-se um participante passivo em terceira pessoa no filme.
Mas contrariando a ideia do espectador como participante passivo, devemos
também inverter esse papel, para que ele não seja seduzido pelo espetáculo, torne-se
participante ativo em vez de voyeur.

...é preciso arrancar o espectador ao embrutecimento do parvo fascinado pela aparência e


conquistado pela empatia que o faz identificar-se com as personagens da cena. A este será mostrado,
portanto, um espetáculo estranho, inabitual, um enigma cujo sentido ele precise buscar.
...é essa própria distância reflexiva que deve ser abolida. O espectador deve ser retirado da posição
de observador que examina calmamente o espetáculo que lhe é oferecido. Deve ser desapossado
desse controle ilusório, arrastado para o círculo mágico da ação teatral, onde trocará o privilégio de
observador racional pelo do ser na posse de suas energias vitais integrais. (RANCIÈRE, 2008, p.
10).

Jacques Rancière no seu livro ―O Espectador Emancipado” implica sobre as


acusações do espetáculo teatral, reduzindo a inúmeras críticas ao teatro em uma fórmula

5
Surround, é um padrão na banda sonora de um filme, por exemplo, em que permite maior imersão ao
espectador através do som, criando assim uma maior interação com o ambiente, como se os sons do filme,
estivessem sendo emitidos exatamente onde o espectador está, criando a sensação de que está dentro do
filme.
14

simples que chama de paradoxo do espectador, onde diz que não há teatro sem espectador.
Segundo ele, quando o espectador mantém-se seduzido pelo espetáculo ele é separado da
capacidade de conhecer e do poder de agir. E no trecho acima são colocadas duas fórmulas
da atitude do espectador, que resume o teatro de Bertolt Brecht e Antonin Artaud - para um
o espectador deve refinar o olhar, para o outro deve abdicar da posição de observador.
E onde quero chegar? Esse livro citado do Rancière foi desenvolvido a partir das
ideias de outro livro seu, O Mestre Ignorante, que expunha a teoria de Joseph Jacotot que
afirma que um ignorante pode ensinar a outro ignorante aquilo que ele mesmo não sabe.
Meu ponto de vista, provindo do livro ―O Espectador Emancipado”, diz respeito a uma
reflexão sobre a busca do espectador pelo espetáculo que cativa e seduz, quando o público
a que me refiro aqui, aquele que assiste a filmes e não abdica de uma experiência imersiva,
está tão intrinsecamente próximo desse espectador de Rancière.
Portanto, para mim, quando o público utiliza como parâmetro aquela incrível
experiência imersiva sonora de uma vez que foi ao cinema e se sentiu seduzido, é que ele
torna-se passível desse âmbito experimental para imersão cinematográfica. Ou seja, uma
tela inferior e um sistema sonoro modesto comparado ao cinema não o conforta para ser
um novo parâmetro, assistir em casa não se compara ao palco cinema. É aqui onde esse
apego não rompe a barreira longínqua dos diferentes métodos de se ver e ouvir um filme.
Novos parâmetros são necessários para novas possibilidades. Se o cinema mudo tivesse
permanecido como principal meio de experiência fílmica, o que seria imersão sonora hoje,
será que os músicos da orquestra estariam espalhados na sala de cinema para criar o efeito
surround?
E por fim, onde realmente quero chegar? Não vamos abandonar o cinema, vamos
dissecá-lo e abarcar a sua magia para que seja transportada para os dispositivos interativos
móveis. Se o espectador não deseja reivindicar sua imersão sonora, ele precisa entender o
que é imersão sonora e quais os limites enfrentados nos dispositivos interativos móveis.
Para ressaltar a relevância em discutir sobre experiência fílmica sonora, é válido
mencionar como a convergência da cultura transpassa entre esses métodos de
comunicação.

Palavras impressas não eliminaram as palavras faladas. O cinema não eliminou o teatro. A televisão
não eliminou o rádio. Cada meio antigo foi forçado a conviver com os meios emergentes. É por isso
que a convergência parece mais plausível como uma forma de entender os últimos dez anos de
transformações dos meios de comunicação do que o velho paradigma da revolução digital. Os
15

velhos meios de comunicação não estão sendo substituídos. Mais propriamente, suas funções e
status estão sendo transformados pela introdução de novas tecnologias. (JENKINS, 2006, p. 41 e
42).

Quando falamos de convergência, segundo Jenkins, não se trata da destruição do


antigo e sim do convívio com o emergente, pegando como exemplo a invenção do
telégrafo, que foi o primeiro aparato elétrico a transmitir mensagens públicas e privadas,
assim logo após veio a invenção do telefone, patenteada por Graham Bell, como o primeiro
método de comunicação acústica à distância, causando espanto por parte da população, que
acreditava que se tratava de um truque, de mágica, um milagre. Durante a evolução desses
dois equipamentos, qualquer indivíduo logo pode identificar que aqui existiu um encontro
de funções, uma convergência. Enquanto o telégrafo transmitia mensagens por códigos, o
código morse (provindo do nome do seu criador Samuel Finley Breese Morse), o telefone
passa a transmitir mensagens com som acústico, ou seja, um novo método emergente.

As ferrovias — transportando pessoas, mercadorias, jornais e livros — e os telégrafos — a primeira


invenção elétrica do século XIX a transmitir "mensagens" públicas e privadas — estavam
diretamente relacionados entre si na cabeça dele e de outras pessoas. (BRIGGS e BURKE, 2002, p.
137).

É a convergência que transpassa entre os métodos que permite sua transposição.


Como o exemplo do surgimento da Televisão nos anos 1950, que afastou o público das
salas de cinema, forçando a indústria cinematográfica a encontrar formas de trazer seu
público novamente, assim foi necessário investir no que a televisão não poderia oferecer,
acrescentando cor a imagem dos filmes além de maior dimensão na tela. E no som surge o
sistema multicanal distribuindo mais caixas acústicas nas salas de cinema. Como o
Cinerama (1950), utilizava sete canais magnéticos independentes, sendo cinco atrás da tela
e dois para o surround, mas devido à complexidade desse sistema a Twentieth Century Fox
funda o Cinemascope (1953), que usava quatro pistas magnéticas no som, com um canal
esquerdo, direito, centro e um surround mono. Devido a outro problema decorrente no
formato Cinemascope, onde nas salas de cinema com telas mais largas, a grande distância
entre os alto-falantes fazia despontar buracos na acústica do ambiente, M. Todd então cria
seu próprio sistema de som multicanal, Todd-AO (1955). Desenvolvido pela Westrex e pela
Ampex, o formato utilizava seis pistas magnéticas com os canais: esquerdo, esquerdo-extra,
16

centro, direito-extra, direito e surround, excluindo a percepção de buracos no som pelos


espectadores.
Os mesmos desafios enfrentados pelos antigos sistemas cinematográficos são
enfrentados ainda hoje. Como podemos garantir que o público em casa vá posicionar suas
caixas acústicas devidamente para melhor experiência sonora, sem que fiquem buracos
como do formato Cinemascope? É claro que é muito mais fácil resolver esse problema
hoje com uma pesquisa no Google, no Youtube, onde muitos consumidores já expõem suas
considerações sobre algum produto antes mesmo que você o compre. O que não é de fácil
solução é saber se o consumidor possui poder aquisitivo para bens materiais e se está
disposto a pagar caro por um sistema sonoro de ponta.
Podemos criar uma linha temporal que apresenta todos os meios que surgiram e
foram qualificados, melhorados, até nossa atualidade. Mas apenas para breve reflexão, fica
claro que quando um inventor inventa ele logo ali firma um novo método, que pode ou não
cair na popularidade. E porventura, quando a demanda de produção desse novo método, ter
ganho exponencial. É aí que vamos conhecer cada vez mais novos métodos que podem
fazer aquilo que o primeiro método já fazia, melhor e até desempenhando mais funções.
Como exemplo, o Iphone da Apple, onde Steve Jobs com sua equipe de engenheiros e
designers decide unir o telefone a um dispositivo com multifunções midiáticas, ou seja, um
telefone de bolso que é um computador de bolso6. Se antes você apenas podia telefonar
pelo telefone, hoje você tem conexão a internet, pode ouvir música, assistir a filmes,
trabalhar em planilhas, importar/exportar arquivos pdf, jogar videogames, entre as
inúmeras possibilidades que confluem entre esse dispositivo e outros.
É aqui, quando o dispositivo conflui, que novos desafios são alcançados e devem
ser superados. Podemos diagnosticar que é possível flagrar mais e mais pessoas com um
celular na mão, se não com mais de um, nessa atualidade século XXI. No meu ponto de
vista existe um impasse que corrompe a experiência imersiva do sonoro fílmico, quando ao
mesmo tempo em que se assiste a um filme pelas plataformas de streaming, como o
Netflix, o espectador pode responder a mensagens no WhatsApp. A atenção dele na linha
narrativa do filme é dividida entre as notificações desses dispositivos e o filme.

6
Computador de Bolso, os dispositivos que conhecemos por telefone celular, smartphone, tablet, que
desempenham funções idênticas ao computador pessoal, sendo usados para organização pessoal, visualização
de fotos, vídeos, leitura de textos, para o entretenimento com jogos, interação com pessoas via chats virtuais,
com a diferença de que não possui um teclado físico, um mouse ou rato, periféricos de entrada, ou até mesmo
um gabinete que ocupa uma escrivaninha. Em outras palavras, um computador pessoal que cabe no bolso da
sua calça.
17

Por esse motivo, faz sentido mencionar esses dispositivos como interativos, pois,
além da distração que eles potencialmente podem causar, também podem auxiliar para uma
rápida consulta com alguns toques na tela sendo possível conhecer algum aspecto do autor,
ator, atriz do filme que antes não se conhecia.
Portanto, o desafio aqui não é novamente a destruição do novo meio emergente,
mas sim em como vamos permitir que a experiência sonora possa ser tão imersiva quanto
em uma sala de cinema, considerando exceções em relação a salas de cinema, pois muitas
vezes um bom fone de ouvido pode fazê-lo imergir no filme muito mais do que em uma
sala de cinema que possui um sistema sonoro precário, muitas das vezes nem mesmo em
5.1 apenas 2.0 (estéreo).

2. Pesquisa realizada com o público especializado e profissionais da área audiovisual.

Os dados foram obtidos por meio de dois formulários com questões pertinentes
para a pesquisa enviados aos meus colegas, também estudantes do curso de Cinema e
Audiovisual da Unisul - Universidade do Sul de Santa Catarina, que eu juntamente com a
orientadora desta pesquisa, professora Mara Salla, visitamos durante o período de aula
remota por videoconferência. As turmas da 2ª e 4ª fase por ocasião da visita estavam em
atendendimento com a professora Nádia Maffi Neckel; 6ª fase em atendimento com o
professor Roberto Svolenski; 8ª fase com as professoras Ana Carolina Cernicchiaro,
Ramayanna Lira e Solange Gallo, orientadoras de monografia do ano de 2020. Durante a
visita apresentei o trabalho, explicando meus objetivos com a pesquisa e convidando os
alunos e professores a participarem respondendo o formulário. Além de outros
participantes, os coordenadores do Centro Acadêmico de Cinema da Unisul e profissionais
da área de som e professores de cinema participaram da pesquisa.
O formulário enviado às turmas teve foco para o público especializado de conteúdo
audiovisual, ou seja, um público exigente, que assiste muito conteúdo cinematográfico e
possui conhecimento sobre a indústria cinematográfica, reunindo 52 participantes. Já o
outro formulário foi enviado aos profissionais que atuam na área de som, com exceção do
grupo especializado, que recebeu os dois formulários por fazerem parte do público que
consome cinema também. Sendo entre os profissionais e professores: Rodrigo Carreiro,
professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e do Bacharelado em Cinema e
Audiovisual da Universidade Federal de Pernambuco, que menciono como referência do
18

seu livro ―A Pós-Produção de Som no Audiovisual Brasileiro”, e com quem,


posteriormente às suas respostas no formulário, entrei em contato via WhatsApp para
esclarecer dúvidas mais específicas; Daniel Becker Athayde Ciqueira, formado em
Comunicação Social com Habilitação em Cinema e Vídeo na Unisul, atuante
principalmente como microfonista desde 2014 em filmes e séries, com quem também
conversei pelo WhatsApp; José Cláudio Siqueira Castanheira, é doutor em comunicação
pela Universidade Federal Fluminense, professor de Cinema da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), pesquisador nas áreas de cultura digital, música, estudos do som e
cinema e atua como compositor de trilhas musicais e sound designer para cinema e
televisão. Nessa ocasião, com José conversei por e-mail, por onde enviei os formulários. -
Ambos gentilmente se prontificaram a colaborar em tirar outras dúvidas que eu tive
durante a pesquisa.
As respostas dos participantes de ambos os formulários, do público e profissionais,
foram assim integradas ao texto de acordo com as questões dadas no título dos
subcapítulos deste capítulo. Além das questões elaboradas por mim, abri uma margem para
sugestões dos participantes que puderam colocar sua opinião a respeito do assunto.

2.1. 1ª Pergunta: Qual/quais dos dispositivos você utiliza para o consumo de conteúdo
audiovisual?

Gráfico 1
19

Considerando o formulário enviado ao público, quando questionados por qual ou


quais meios, dispositivos, consumiam o conteúdo audiovisual, dentre os citados o celular,
tablet, notebook, desktop e televisão smart, é verificado que os dispositivos mais usados
são a televisão, depois o notebook ou laptop e por último o celular. E já entre os menos
usados estão o tablet em primeiro seguido do computador desktop. Como mostra o gráfico
1.
Fica perceptível por meio desta questão que a televisão e celular estão entre os mais
usados para consumo audiovisual, mas devo esclarecer que esse conteúdo audiovisual não
se restringe a filmes, então nem sempre os participantes consomem filmes por celular, que
seria o dispositivo com a menor qualidade sonora caso o público escute o filme pelos alto-
falantes nativos do aparelho. Para vídeos do Youtube, WhatsApp, Instagram, que são
conteúdos onde normalmente não consideramos imersão sonora, pela praticidade da
mobilidade e interatividade no celular e televisão smart, é comum o uso dos mesmos para
assistir conteúdos audiovisuais.

2.2. 2ª Pergunta: A qual/quais das plataformas de conteúdo audiovisual por streaming


você tem acesso?

Gráfico 2
20

Percebendo quais meios o público utiliza, vale agora descobrir por qual ou quais
plataformas possuem acesso. 96.1% possui acesso a Netflix, a plataforma com maior
concentração de conteúdo audiovisual, ficando atrás somente do Youtube em quantidade de
conteúdo audiovisual, mas cujo foco é diferente. Youtube é utilizado para vídeos mais
caseiros, mas com qualidade de Cinema em alguns casos, como grandes canais que exigem
de uma equipe completa, como o Porta dos Fundos.
Dentre essas plataformas, com exceção do Youtube, Libreflix e Vimeo, é necessário
ter uma assinatura paga para acessar o conteúdo audiovisual. Alguns casos oferecem teste
gratuito por até 30 dias. As plataformas Cardume, Crunchroll e Libreflix, citadas pelos
participantes, possuem focos diferentes, como o Cardume que é voltada a filmes de curta-
metragens, Crunchroll para animes e Libreflix varia entre curtas, médias e longas-
metragens de filmes documentários e ficção, sendo a única plataforma totalmente gratuita.
Uma vantagem muito comentada pelos participantes é a facilidade para consumir o
conteúdo, sem que seja necessário você baixar, alugar ou comprar o filme, ou baixar as
legendas. As plataformas já oferecem até mais de uma linguagem em muitos casos, além
da variedade de conteúdo, entre séries, filmes de curta a longa-metragem, filmes
documentários e musicais disponíveis nas plataformas mais completas.

2.3. 3ª Pergunta: Comente o que lhe agrada mais ao consumir por tal/tais dispositivos.

Quando questionados sobre o que mais agrada em assistir pelos dispositivos


selecionados, foi destacado a facilidade de acesso, da portabilidade e praticidade na hora de
consumir, como em um celular onde pode assistir um filme indo para casa no ônibus.
Outros já prezam pela experiência em casa, no conforto do seu sofá, uma tela grande e um
bom home theater se o possuir.
Um detalhe importante, principalmente para quem respira cinema, é a
interatividade com o conteúdo, por permitir que possa pausar, tirar prints da tela, para
posteriormente analisar minuciosamente os frames do filme, destacando que isso é mais
prático usando computadores pessoais, como o notebook e desktop, pois pela televisão e
celular demanda um processo mais lento. Algumas televisões smart, por exemplo, possuem
um processador e memória ram muito limitados. Você clica no botão do controle para a
TV processar tal comando, mas precisa esperar. A resposta muitas vezes não é imediata,
exceto em televisores mais modernos e de alto custo.
21

2.4. 4ª Pergunta: Você utiliza algum acessório para a sua experiência sonora do
conteúdo audiovisual, fone de ouvido, alto-falantes externos (home theater, soundbars)
e/ou outros?

Entre 52 participantes da pesquisa, 21 revelam que quando estão no computador ou


celular, utilizam fones de ouvido, mas na televisão mantêm o uso dos alto-falantes nativos
dos aparelhos, em alguns casos possuem home theater, soundbar ou caixinha de som
conectada por bluetooth (protocolo de comunicação que permite dois dispositivos trocarem
informações entre si). No caso de fones de ouvido, 8 participantes revelam que optam por
um fone de ouvido ou headphone profissional (conjunto de fone de ouvido que possui
acoplado o alto-falante a uma alça que fica sobre a cabeça do usuário, geralmente
indicados para quem procura mais conforto e imersão), que utilizam até mesmo na sua área
profissional. Nos que não utilizam acessórios externos, 8 alegam ouvirem o filme na
televisão pelo seu alto-falante nativo. Quanto ao soundbar, dispositivo para som externo
mais recente, 2 participantes confirmam o uso e não detalham se possui Dolby Atmos
(comento mais sobre essa tecnologia no próximo subcapítulo) nos seus soundbars.

Gráfico 3

Mesmo utilizando acessórios, a maioria dos participantes prefere a experiência de


uma sala de cinema, alegando ser mais imersiva, sem ruídos externos, por serem salas
22

acusticamente preparadas, com isolamento acústico. Alguns comentam que com o uso de
fone de ouvido conseguiram perceber maiores nuances na banda sonora7 do filme. Uns
valorizam a experiência compartilhada para assistir ao filme, pois se você usa o fone de
ouvido a experiência é só sua. Portanto, para a maioria deles, enquanto no cinema a
experiência sonora é pensada e preparada para isso, pelos serviços de streaming é mais
prática.
Um aspecto relevante é que quando falamos de conforto, fones de ouvido nem
sempre são a melhor aposta, ainda mais se utilizados para assistir filme no celular. Imagine
você estar no ônibus, voltando pra casa da faculdade, já cansado e precisa encontrar uma
maneira de apoiar seu celular. Quase impossível em um ônibus lotado onde não é possível
nem mesmo sentar, você coloca seus fones, mantendo o máximo de cuidado para não
encalhar o fio do fone e ainda em pé mantendo o equilíbrio para não tombar quando o
ônibus passa em algum buraco na estrada. Além do seu conforto ser completamente
comprometido, em alguns casos muitos não têm um fone de ouvido ou headphone
adequados, são duros, secos, não ergonômicos, no caso de fones headphone. Em alguns
deles a alça aperta tanto sua cabeça e orelha que fica dolorido depois de um tempo do uso.
No caso dos fones que não possuem alça, eles devem ser colocados na entrada do canal
auditivo e podem muitas vezes também não se adaptarem bem, escapando do seu ouvido,
impedindo que você se movimente muito.
Detalhes como esses afetam a experiência auditiva imersiva, como pode mesmo um
fone entregando uma boa qualidade sonora, tendo uma construção física de material barata,
entregar experiência imersiva? Torna-se questionável, pois se um fone de ouvido é tão
desconfortável ao ponto de machucar seus ouvidos, essa imersão é quebrada, você acaba
lembrando o tempo todo que está usando um péssimo fone de ouvido.
Se o espectador decide ouvir o filme pelos alto-falantes nativos do celular ou
notebook vale lembrar que o som envolve mecânica e elétrica, portanto, dependendo do
material que é usado nos componentes do alto-falante, interfere na sua qualidade sonora.
Alguns alto-falantes produzem distorções, adicionando frequências que não existiam no
áudio original, pois possuem uma saída de baixa energia, como por exemplo os alto-
falantes de celulares ou laptops. Eles não conseguem produzir graves (altura, tom de uma

7
Banda Sonora, o conjunto sonoro de um produto audiovisual, que inclui desde a música, os efeitos
sonoros, diálogos, foleys, também chamada por trilha sonora.
23

música, que vai do grave ao agudo) tão evidentes, por isso normalmente as caixas acústicas
que carregam o subwoofer são grandes e conseguem emitir graves intensos.

Figura 1

(Ilustração de alto-falante com dimensão do cone para cada frequência sonora, fonte no link:
<https://www.newtoncbraga.com.br/index.php/projetos/14669-divisores-de-frequencia-para-alto-falantes-
art1696.html>).

Figura 2

(Diâmetro dos diferentes tipos de alto-falante)


24

Como as imagens acima ilustram, para cada frequência ou altura, desde o grave ao
agudo, é necessário uma dimensão diferente dos alto-falantes, é aqui que eles ganham
nomes diferentes. O de menor dimensão, o chamado tweeter para os agudos, o mid range
para as médias frequências, woofer para os graves e subwoofer para os subgraves.
É possível constatar que celulares, laptops e televisões não irão conseguir atender a
todas as frequências de maneira nativa sem o uso de sistemas sonoros externos como de
um home theater.
Agora, quando falamos de fone de ouvido com mais qualidade sonora e imersão,
existe uma longa discussão sobre quais modelos podem entregar a melhor experiência, que
se aproxime da experiência que temos em uma sala de cinema bem equipada. Existem
fones específicos para ocasiões distintas, como fones para quem pratica esporte -
normalmente sem fio e com resistência a água -, para quem trabalha com produção musical
ou até pós-produção de som para cinema - que utilizam os chamados fones monitores -,
para quem joga videogames - com fones mais voltados para imersão e estratégia, onde
alguns casos possuem sensores para captar o movimento da cabeça, facilitando o gamer se
localizar no espaço tridimensional do jogo e se algum inimigo se aproxima dele.
Além dos tipos e subtipos de fones, existe o tipo de tecnologia aplicada neles.
Falando sobre os transdutores8, entre os mais tradicionais, são os alto-falantes dinâmicos,
onde sua construção também é a mais difundida (exemplo dos componentes que o compõe
na figura 3). Nesses alto-falantes é mais suscetível a criação de distorções no áudio. A
movimentação dos cones, por exemplo, pelo fato de ser um cone e por outros fatores não
permite uma propagação da onda sonora tão fiel, mas que é o mecanismo mais usado por
ser mais barato. No entanto, essas distorções quase são imperceptíveis para um consumidor
não exigente, principalmente em modelos melhor construídos e caros.

8
Transdutor, consiste da conversão de energia elétrica em energia mecânica, compreendendo que o som é
possível pela propagação de uma onda sonora, que se dá quando partículas de ar são comprimidas e
rarefeitas, criando a propagação, que é composta pela compressão (quando os átomos ficam mais próximos
um do outro) e descompressão (os átomos ficam mais afastados). É nesse movimento de vai e vem que o
alto-falante faz, quando nós processamos o fenômeno como o som. Para que seja possível essa movimentação
nos alto-falantes é necessário alguns componentes, que são: Tampa protetora (Dust Cap), contra poeira e
resíduos; Cone e o domo (Cone + Surround), o que move o ar e produz som; A centragem e a guarnição
(Spider), o que fixa o cone no lugar e permite o movimento; O eletroímã ou bobina e o ímã (Voice Coil e
Magnet), as duas partes interagem mudando os pólos magnéticos para criar atração e repulsão e geram o
movimento; A carcaça (Basket), que sustenta o cone, a centragem, a guarnição e a bobina; O pólo e a chapa
polar (Top Plate e Pole + Rear Plate), que conduz a energia magnética gerada pelo ímã; Por fim a estrutura
que acopla todos esses componentes.
25

Figura 3

(Partes do alto-falante, fontes sobre como funciona o alto-falante nos links: <https://blog.landr.com/pt-
br/como-funcionam-os-alto-falantes-compreendendo-a-reproducao-de-audio-infografico/>
<http://www.eletrica.ufpr.br/edu/Sensores/1999/alysson/partesdoaltofalante.htm>).

Os antigos e mais tradicionais alto-falantes, segundo os especialistas, possuem uma


das tecnologias menos eficientes que ainda utilizamos hoje em dia, até menos eficientes
que as lâmpadas incandescentes. Menos de 1% da energia enviada ao alto-falante é
convertida em som, a maior parte é convertida em calor. É aí que o som do carro como
exemplo pode acabar com a bateria, se não for dada partida no veículo para recarregá-la.
Por isso, hoje em dia existem alto-falantes que são eletrostáticos, planar-magnéticos e
armadura balanceada, que diminuem consideravelmente as distorções normalmente
causadas em falantes dinâmicos, são mais eficientes em alguns casos e são relativamente
muito caros.
Como saber o tipo de tecnologia colocada nos fones de ouvido, no que vai
influenciar a experiência fílmica sonora imersiva? O mais importante é analisar o produto
que você adquire, é descobrir se não existe alguma especificação que seja puro marketing,
ou seja, que não faz diferença alguma e encarece o produto.
É o caso da tecnologia chamada Hi-Res, informando trazer alta resolução, que
significa que os alto-falantes reproduzem mais frequências sonoras. Quando eles
aumentam o espectro de frequências, o que ocorre é que o alto-falante vai reproduzir
frequências além do espectro sonoro humano, que é de 20 Hz a 20.000 Hz, sendo mais
26

claro, para o ser humano é inaudível. Um estudo científico prova que existem pessoas que
conseguem perceber essa diferença, mas que são casos raros. Outro detalhe é que para esse
estudo os engenheiros de som tiveram que produzir músicas com frequências acima do
espectro humano, pois praticamente não existe conteúdo de áudio com essas frequências.
Link do estudo científico: <http://drewdaniels.com/audible.pdf>. Todavia, sobre esse
estudo é importante ressaltar que muitos outros especialistas afirmam que alguns
parâmetros técnicos não foram seguidos à risca, como afirma o blog Archimago's Musings
e Real Hd-Audio nos links: <http://archimago.blogspot.com/2020/07/summer-musings-
post-hi-res-audio-why-hi.html> <https://www.realhd-audio.com/?p=5755>.
Esse exemplo, nos ajuda a compreender que alto custo não significa melhor
qualidade para um fone de ouvido, que antes de adquirir um fone devemos pesquisar e
analisar.
E tem mais. Fones que se dizem 5.1, 7.1, não fazem sentido! Começando que não
faz sentido quando ele diz criar a espacialidade, colocando pequenos altifalantes que
simulam a posição das caixas acústicas, como em um sistema home theater, pois não tem
como o som que é emitido pela caixa central ou os do surround vir dessa direção em um
fone, ele é limitado às duas posições estéreo. Quando o fone diz reproduzir 5.1 ou 7.1 ele
está na verdade criando uma imersão muito pior. Na natureza, os sons não são
posicionados ao lado da sua orelha em 90°, eles vêm de diversas direções e todos objetos
no entorno do ouvinte alteram a propagação da onda sonora, como até mesmo o corpo do
ser humano. Fones assim anulam esses detalhes da propagação do som. Então, quando
você deseja alcançar uma espacialidade mais natural e próxima do cinema pelo fone, outras
especificações devem ser consideradas.

Figura 4

(Boneco com microfones binaurais instalados no canal auditivo)


27

Aí um aspecto que depende da gravação de som, que vai trazer espacialidade, é


quando a gravação feita por microfones binaurais coloca os microfones no local de onde
seriam os tímpanos humanos em um boneco que simula o corpo humano, se aproximando
muito mais da realidade de como os seres humanos ouvem o som, criando então a
especialidade desejada. Neste caso não dependeria do equipamento que o espectador tem
em mãos, exceto pelos fones de ouvido que são necessários para essa imersão, mas de
como a gravação e pós-produção do som são feitas.
Outra especificação para os fones de ouvido que vai ajudar na espacialidade é
quando eles possuem os sensores que captam o movimento da cabeça. O som assim fica
onde deve estar e você pode movimentar a sua cabeça à vontade, pois o fone não é como
nos home theaters onde as caixas acústicas são fixas. Ao movimentar a cabeça o som te
acompanha, que não deveria ser assim como a tela onde passa o filme também é fixa.
E uma última consideração quanto ao fone de ouvido é sobre o cancelamento de
ruído, termo em inglês conhecido por noise cancelling, que garante maior imersão
reduzindo os sons ambientes ao entorno do ouvinte. Essa propriedade é presente de forma
passiva nos fones de ouvido em geral, como em headphones que possuem os falantes
grandes o suficiente, cobrindo as orelhas junto às almofadas presentes ao redor do alto-
falante e reduzindo os sons externos. Mas existem fones que cancelam o ruído de forma
ativa, identificando quais as frequências externas que passam pelo cancelamento passivo e
assim reduzindo quase ao silêncio absoluto. No caso de quem mora em locais muito
movimentados, como com uma avenida na frente de casa, com tráfego de carros
diariamente, fones com cancelamento de ruído são ótimos para ajudar na imersão sonora e
esquecer o mundo à sua volta.
Deixo aqui uma indicação para um guia que pode lhe ajudar na hora de adquirir um
fone de ouvido, do site Mind The Headphone (<http://mindtheheadphone.com.br/>) que é
especializado em fones de ouvido e possui canal no Youtube com análises dos fones. Guia
no link:
<https://drive.google.com/drive/folders/1Hf1wlDdUMWpOnfNT0vrPLm_5JAnWjPcM>.

2.5. 5ª Pergunta: Quais diferenças você percebe na experiência sonora, entre uma sala
de cinema e o dispositivo móvel?
28

Em relação à experiência auditiva nas salas de cinema, não podemos esquecer as


exceções de salas que muitas vezes possuem os alto-falantes estourados (quando a
intensidade máxima do volume é ultrapassada ao limite, que é determinada pelas
dimensões físicas e pela elasticidade do diafragma do alto-falante), distorcidos, muitas
vezes nem em 5.1, apenas estéreo, ou como em casos de salas que possuem certificação
THX ou outro, mas que não funcionam, como cita Gera Vieira, sócio do estúdio Carranca
em Recife/PE, na sua entrevista com Rodrigo Carreiro.

Eu já cansei de procurar gerentes de cinema – e não apenas no Brasil, mas também nos Estados
Unidos, inclusive em salas com selo THX [certificado de excelência de reprodução sonora, emitidos
pela Lucasfilm] – e informar ao gerente que, por exemplo, as caixas de reprodução do lado direito
estavam todas paradas, você não ouvia nada. John Williams estava tocando manco (risos), só com
um pedaço da orquestra. (CARREIRO, 2019, p. 174).

Mesmo que em casa estejamos suscetíveis a interrupções indesejadas, como do


vizinho te chamando para pedir o açúcar emprestado ou o cachorro latindo, no cinema,
também há aquelas pessoas que reagem ao filme rindo alto, berrando ao levar um susto,
utilizando o celular no escuro, comendo pipoca, abrindo embalagens. Não estou dizendo
que ninguém deveria reagir assim no cinema, mas que a interferência de ruídos na sua
experiência sonora fílmica pode ocorrer em ambos os casos. Tudo depende de
infraestrutura e a cessação de ruídos externos repentinos - que não vêm do filme -, nas
salas de cinema, em casa, no celular, quando queremos alcançar determinada experiência
sonora.
Agora falando de imersão sonora, no Dolby Atmos temos um avanço referente à
experiência de ouvir o filme. A tecnologia desenvolvida pela Dolby Laboratories em 2012,
que insere a reprodução do som verticalmente, incorporando o eixo vertical, além do
horizontal, abraça muito mais o espectador, para mais imersão sonora. Enquanto em
sistemas sonoros de até 7.1 canais, por exemplo, a distribuição dos sons pode ser feita
apenas nos 7 canais, mesmo que você tenha 30 caixas de som, os canais são apenas
divididos, no Dolby Atmos você tem até 128 canais e até 64 caixas de som. A imersão é
muito maior, você está praticamente dentro do filme. Você, enquanto espectador, consegue
relacionar de forma muito mais profunda os sons que ali estão na tela. Um avião decolando
pode ser acompanhado pelo som, saindo na pista de decolagem até se perder no horizonte.
29

Muito mais próximo da realidade, os sons e o silêncio no mundo estão presentes em todo o
entorno.

Figura 5

(Comparação entre o Dolby Atmos e o Estéreo, disponível no link <https://www.dolby.com/atmos-visualizer-


music/>).

As duas imagens acima, podem exemplificar como o Dolby Atmos funciona,


abraçando tudo ao redor do espectador, que você pode experienciar no virtualizador do site
da Dolby (link na descrição da imagem). No site é indicado que utilize um fone de ouvido
para melhor reprodução da experiência imersiva. Sabemos assim que não basta possuir a
30

tecnologia no filme e nas salas de cinema. Para quem deseja consumir em casa, são
necessários equipamentos e periféricos específicos para a reprodução do mesmo.
Uma solução atual conhecida são os sistemas de Soundbars, que oferecem um som
de qualidade em um produto mais acessível, custo e benefício, pois não exigem espaços
amplos para serem instalados e muitas vezes são mais baratos do que um sistema de home
theater completo, além de alguns Soundbars possuírem tecnologia Dolby Atmos. No caso
de Soundbars mais completos, eles vêem com uma caixa de subwoofer separada da caixa
principal, que é comprida e geralmente instalada abaixo da televisão.

Figura 6

(Representação da dissipação do som no Soundbar da Sony com Dolby Atmos, disponível em


<https://www.youtube.com/watch?v=bZNI73wKVmo>).

A imagem retirada da vinheta do sistema de Soundbar da Sony mostra a


distribuição do som feita no ambiente, onde para criar o efeito imersivo na experiência
auditiva alguns alto-falantes direcionam o som para o teto, para as paredes, refletindo no
centro onde o espectador está, não necessitando dessa forma de outras caixas acústicas, que
deveriam ser posicionadas atrás, nas laterais e até no teto. A dificuldade nesse tipo de
sistema é novamente de infraestrutura. Como garantir que o ambiente, a sala, onde o
espectador está possa garantir uma reflexão do som correta, sem que cause reverberação
indesejada, ou até mesmo consiga refletir o som no teto, por exemplo, por ser muito alto? É
o que Rodrigo Meirelles, supervisor de produção de áudio na Globo, aponta na sua
entrevista com Rodrigo Carreiro.
31

No caso do soundbar há ainda um desafio interessante: as pessoas vão experimentar o áudio


tridimensional em níveis diferentes, a depender do nível de reflexão sonora do teto de cada
ambiente, já que o alto-falante aponta para cima, a onda sonora bate e volta, e o teto de um local é
diferente do outro. Não é possível ter muito controle sobre o nível e a qualidade acústica de
reprodução dos elementos que a gente joga para cima. Por outro lado, você sabe que os sons vindos
de cima não vão competir com outros sons. (CARREIRO, 2019, p. 231).

Como estamos falando sobre os dispositivos que logo vão influenciar a experiência
sonora fílmica, vamos então mensurar o que um espectador deve ter em mãos para uma
ótima qualidade sonora e profunda experiência imersiva em casa. Não descartando a sala
de cinema para uma experiência imersiva sonora, mas que serve como referência quando
em uma sala bem equipada e preparada. Aí aqui faz sentido considerar o que deve ser
pensado no momento de consumir conteúdo audiovisual em casa, para melhor desempenho
e experiência se aproximando do que o cinema propõe.
A começar pelo grupo social em que o indivíduo se encontra. Abaixo da classe
média dificilmente esse grupo terá a oportunidade de pagar pelo ingresso de cinema, ou
muito menos ter em casa um sistema de home theater razoavelmente bom, que já deve ser
caro para alguém que recebe menos de um salário mínimo por mês. Como pensar em ouvir
um filme com qualidade, considerando que o Brasil tem um aumento da desigualdade
social, segundo pesquisa9 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)? Não
vou me ater a esse aspecto na pesquisa, mas só para ficar claro que, poder aquisitivo
também reverbera na experiência auditiva de um conteúdo audiovisual. Ou seja, ela não é
acessível a todos.
É importante que os principais dispositivos para um boa experiência audiovisual -
computador pessoal, celular, televisão ou tablet - tenham conexão à internet com boa
largura de banda10.: média de 3 Mbps (megabits por segundo) para receber do streaming
audiovisual sem interrupções a resolução SD (480 pixels); 5 Mbps para resolução HD (720
pixels); e no mínimo 25 Mbps para resoluções até Ultra HD (2160 pixels). Você pode até
mesmo constatar o quanto de dados vai demandar de sua rede, analisando os planos que as

9
<https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/25700-
pnad-continua-2018-10-da-populacao-concentram-43-1-da-massa-de-rendimentos-do-pais>
10
Largura de Banda, medida da capacidade de transmissão de uma conexão ou rede. Determinando a
velocidade que os dados trafegam através de uma rede específica. Quanto maior a banda, mais informações,
mais dados podem trafegar pela rede.
32

plataformas de streaming oferecem, como é o caso da Netflix que oferece os planos básico
(qualidade SD), padrão (HD) e premium (Ultra HD). Portanto, você deve considerar
também o que mais cada plano oferece. No caso da Netflix ela irá oferecer Dolby Atmos só
no plano Ultra HD.
Então, se você desejasse ouvir seu filme pela Netflix com Dolby Atmos iria precisar
também de um sistema que suporte tal codec de áudio11. O sistema operacional Windows
10, por exemplo, permite esse codec que deve ser comprado na loja virtual da Microsoft, o
chamado Dolby Access. Irá proporcionar a codificação com Dolby Atmos, mas que a placa
de som (hardware que processa o som) de muitos computadores não suporta. Permite só
uma virtualização espacial do som, o surround espacial12, que é realizada também pelo
chamado Windows Sonic para Fones de Ouvido13, que é concorrente do Dolby Atmos para
virtualização do som. Além disso, no caso de um sistema home theater, ele precisa ter o
selo Dolby Atmos, como no caso do soundbar.
Outro detalhe importante para o sucesso na decodificação do Dolby Atmos é que se
ao utilizar um sistema home theater ou soundbar, o cabo HDMI conectado do computador
ou televisão ao receiver14 do som deve suportar maior resposta na transmissão, que é
possível através de cabos que normalmente acompanham nas suas especificações a sigla
ARC ou eARC. O ARC significa retorno de áudio, que além de transmitir imagem,
também transmite som, sem que seja necessário outro cabo para o som. No entanto, no
caso de cabos ARC eles não conseguem transmitir áudio multicanal 5.1 de alta qualidade,
muito menos em Dolby Atmos. Mas o eARC (canal de retorno de áudio aprimorado) já
consegue transmitir em Dolby Atmos, como é detalhado no site da HDMI disponível no
link: <https://hdmi.org/spec21sub/enhancedaudioreturnchannel>. Além do cabo, também

11
Codec de Áudio, algoritmo de codificação e compressão de dados em um formato de áudio, como por
exemplo os codecs da Dolby Laboratories, o Dolby Digital, Dolby Atmos, entre outros. Que pode ser
confundido com o formato de áudio, mas o formato é aquele que suporta diferentes tipos de codecs. O
formato de áudio corresponde à extensão do arquivo, que determina por quais aplicativos ele poderá ser
reproduzido, que são compatíveis para ser reproduzido pelo Windows Media Player, por exemplo. Extensões
essas que conhecemos por .mp3, .mp4, .wma, .aac. E dentro dos formatos existem os codecs que ou garantem
toda a informação do áudio registrada, como os FLAC Free Lossless Audio Codec, APE Monkey’s Audio,
ALAC Apple Lossless Audio Codec, ou comprimem o áudio, excluindo frequências que são inaudíveis ao
ouvido humano, possibilitando que o peso do arquivo seja menor, como MP3, WMA, OGG, AAC.
12
Surround Espacial é a tecnologia do áudio que permite maior precisão no posicionamento do som, na
profundidade e altura. Criando um espaço tridimensional virtual, ao contrário de tradicionais sistemas 5.1,
que são restritos a canais e posicionamentos fixos.
13
Windows Sonic para Fones de Ouvido, tecnologia que permite som espacial, áudio mais envolvente e
imersivo, em até mesmo fones de ouvido de baixo custo.
14
Receiver, receptor de áudio e vídeo, que é interligado entre as caixas de som e uma televisão por exemplo.
Muitos possuem até o hardware para reprodução de DVD, CD, entre outras funções.
33

deve ficar claro que a porta de conexão dos cabos nos dispositivos deve suportar maior
velocidade de transmissão, como as que são intitulados por HDMI 2.1 (canal de retorno de
áudio aprimorado), que suportam o eARC, como também mencionado no link acima.
Mas se você deseja utilizar fones de ouvido não terá o impasse dos cabos e portas
HDMI, como promete o Windows Sonic para Fones de Ouvido. A virtualização espacial é
possível mesmo em fones mais simples. No caso do Dolby Atmos, essa espacialidade
também independe do fone em si, mas vale considerar alguns fones que possuem
qualidades superiores, como os Hi-Fi (High Fidelity, Alta Fidelidade), que buscam garantir
menos distorções no som e se aproximar mais de como o som realmente é, que não é só
presente em fones, mas em caixas de som também. Até aqui, se você atender a todos essas
especificações sua experiência imersiva está praticamente garantida.
Outro aspecto não mencionado é em relação às plataformas de streaming que
oferecem conteúdo com qualidade imersiva sonora disponível, como em alguns títulos da
Netflix, que oferecem Dolby Atmos e Dolby Digital 5.1, portanto também resulta da pós-
produção de som para esse tipo de tecnologia. No caso do Youtube, se você não pagar uma
assinatura mensal, a qualidade considerando em taxa de bits15 fica em 128 Kbps no
formato AAC, com Youtube Premium vai para 256 Kbps. O Amazon Prime Video oferece
na maioria dos dispositivos de reprodução, som surround 5.1. Em alguns casos Dolby
Atmos pelo Chromecast, Apple TV, entre outros, como é listado no site da Amazon quais
conversores e reprodutores permitem o uso do Prime Video, mostrando suas especificações
e restrições no link:
<https://www.primevideo.com/help/ref=atv_hp_nd_cnt?language=pt_BR&nodeId=GTAQ
MQBSRQKKE9FJ>. Outro exemplo menos convencional, como a Globosat Play, não
permite nem mesmo o som surround.

2.6. 6ª Pergunta: O que implica na pós-produção de som de um filme, quando ele é


pensado para os dispositivos móveis?

O crescente cenário de um extenso catálogo de conteúdo audiovisual disponível por


meio da internet nas plataformas de streaming audiovisual (Netflix, Amazon Prime,
Youtube, Globosat Play, HBO Go, entre outros), além de modificar o cenário de consumo
15
Taxa de bits, é uma medida usada para determinar a quantidade de dados transmitida durante um
determinado período de tempo. Normalmente medida em Kb/s (quilobits por segundo), ela é um indicador
usado para saber quantos pacotes de 1.000 bits são transmitidos a cada segundo.
34

dos espectadores, também muda o cenário da pós-produção sonora do audiovisual para


esses serviços.
Considerando que a pós-produção sonora é a etapa de desenvolvimento de uma
obra audiovisual após sua filmagem (captação de imagens e som direto), sendo que na pós
envolve o desenho de som, edição do som, gravação de foleys, dublagem, mixagem e
finalização, e fazendo um elo comparativo entre a televisão e o cinema, onde há regras
rígidas quanto à finalização da banda sonora do filme, devemos respeitar as diferenças dos
aparelhos tecnológicos que emitem o som quando pensamos a transmissão do sonoro por
meio dos serviços de streaming.
Para maior recepção das informações, que abrangem a pós-produção do som para
as plataformas de streaming audiovisual, uso como referência o livro ―A Pós-Produção de
Som no Audiovisual Brasileiro” de Rodrigo Carreiro, professor do Programa de Pós-
Graduação em Comunicação e do Bacharelado em Cinema e Audiovisual da Universidade
Federal de Pernambuco. Sua obra reúne entrevistas de alguns profissionais da área de pós-
produção sonora, construindo um olhar dirigido ao mercado da pós-produção de áudio para
cinema, televisão e streaming atualmente do Brasil. Reunindo informações a par de quem
está no mercado, trabalhando com as possibilidades técnicas e tecnológicas que estão
disponíveis para eles, lidando com os desafios necessários para alcançar os requisitos de
padronização, para a divulgação de seus trabalhos nas plataformas de streaming
audiovisual.

Na pós-produção sonora, especialmente na etapa da mixagem, as produções para streaming seguem


regras bastante rígidas de medição de volume e dinâmica, tornando o resultado final muito
semelhante ao modelo principal de som para televisão: faixa dinâmica 16 mais reduzida, voz mais
destacada, uso econômico dos canais surround, foley e ambientes um pouco mais altos de que nas
produções para cinema. Isso acontece por dois motivos principais, ambos extensamente discutidos
nos capítulos seguintes. O primeiro é a multiplicidade de dispositivos nos quais o consumidor de
streaming assiste às produções, que variam de telefones celulares e tablets com alto-falantes de
baixa qualidade, até televisões digitais de alta resolução e home theaters. O segundo motivo parte do
princípio de que, no consumo doméstico, é raro o espectador entrar num estado de imersão idêntico
ao experimentado no cinema, já que ele está em ambientes no qual outros focos de atenção se

16
Faixa Dinâmica (Dynamic Range), como descreve CARREIRO no seu livro, quando é uma faixa
dinâmica menor significa que a distância entre os elementos mais delicados e os mais ruidosos da banda
sonora é menor do que nas produções cinematográficas, que possui uma dinâmica muito maior, permitindo
que as extremidades entre o mais alto ou agudo e o mais baixo ou grave, seja mais perceptível.
35

acumulam, sem mencionar o fato de que o espectador permanece envolto por ruídos do cotidiano.
(CARREIRO, 2019, p. 33).

Figura 7

(Representação da faixa dinâmica).

Na citação acima de Rodrigo Carreiro, ele destaca algumas limitações presentes no


processo de pós-produção sonora para as plataformas de streaming audiovisual.
Precisamos compreender algumas funções da pós-produção de som, tratando do que é
necessário seguir como regra para o streaming. A etapa de mixagem é a mais especial, pois
é nela em que vamos destacar alguns elementos mais que outros, como um diálogo em que
deve se sobressair a ambiência ou vice-versa, um efeito sonoro que deve ser evidente para
colaborar com a narrativa que o diretor do filme propõe. Pensando nessa etapa, o mixador
de som deve também considerar em quais dispositivos o filme será reproduzido e, que
também não está sobre o seu controle, de que maneira o espectador vai consumir seu
conteúdo.
Podemos concluir que no celular, por exemplo, considerando que o consumidor
fosse assistir a um filme sem o uso de fone de ouvido, pelo fato de os alto-falantes dos
celulares serem muito menores se comparados a caixas acústicas como o do subwoofer, de
um sistema home theater, percebe-se que a altura dos graves é menos perceptível como já
citado anteriormente. Mas que também a faixa dinâmica sonora de alto-falantes de
celulares, tablets, televisão sem uso de caixas externas, é muito menor se comparada ao
cinema. Fica claro que a pós-produção de som do filme pode auxiliar na experiência sonora
em casa por esses dispositivos interativos móveis. Os diálogos e foleys normalmente
ganham mais destaque para esses dispositivos por serem os elementos mais importantes na
36

maioria dos filmes, ao contrário de músicas com muito grave, que não aparecem nesses
dispositivos com o uso do alto-falante nativo.
Dessa forma é na mixagem de som que podemos misturar o som, permitindo que
essa dinâmica entre altura mais grave e aguda seja mais perceptível. Mas não podemos
negar que perdemos sutilezas ao ouvir um filme em um celular, como comenta Bernardo
Uzeda sócio do estúdio Aura Post (RJ), editor de som e compositor, em sua entrevista
concedida para Rodrigo Carreiro.

O espectador brasileiro tem o ouvido um pouco adormecido, porque ele está sempre lendo legendas.
Aí, quando ele pega uma série brasileira, se o diálogo não está na frente, como nas novelas da
Globo, em que está todo mundo berrando o tempo inteiro, aquilo causa um choque, e o problema
mundial finalmente é notado. Para resolver isso, é preciso educar o espectador. Não se trata de dizer
que as séries são perfeitas e o espectador é estúpido, mas de entender que se o cara decide ouvir no
iPhone, vai perder coisas. Infelizmente. (CARREIRO, 2019, p. 67 e 68).

Outro aspecto importante, que reflete diretamente na pós-produção sonora do som


do filme, é o orçamento dedicado a esta área responsável pela equipe de produção do filme.
Considerando o Brasil, muitas vezes o orçamento é escasso ou o tempo é curtíssimo,
comparado ao tempo dedicado para pós-produção no exterior. Exemplo do filme Blade
Runner 2049, onde sua pós-produção de áudio levou quase seis meses, como comenta
Ricardo Cutz, sócio-proprietário do estúdio 106 db no bairro da Lapa (RJ).

Mesmo para streaming. Os caras trabalham com 5.1 de verdade, não têm medo de usar a tecnologia.
E a masterização é feita com cuidado, eles têm tempo para trabalhar. No Blade Runner 2049, li uma
reportagem dizendo que a pós-produção de áudio levou quase seis meses. A mixagem sozinha
consumiu 49 dias, um número enorme. Gastaram seis meses para fazer todos os deliveries
necessários, provavelmente porque foi um daqueles filmes dublados em muitas línguas, e todo esse
material era enviado para o mixador do filme. (CARREIRO, 2019, p. 143).

Para que seja possível alcançar uma experiência sonora confortável, tanto no
cinema quanto na televisão e streaming, seria necessário que os mixadores de áudio
entregassem um arquivo separado para cada plataforma, adaptado para as mesmas. Na
televisão, segundo os profissionais entrevistados no livro do Carreiro, os diálogos, os
foleys, os efeitos, devem ser colocados mais intensos no volume e a diferença entre as
alturas mais graves e agudas deve ser menor, ao contrário do cinema, que pode ser mais
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distante. Enquanto em um televisor seus alto-falantes padrões possuem uma dinâmica


sonora aproximadamente de 200 Hz (mais grave) a 16.000 Hz (mais agudo), o cinema já
consegue reproduzir dentro do espectro sonoro humano de 20 Hz a 20.000 Hz, como em
home theaters e outros acessórios profissionais que também possuem essa dinâmica maior.

Figura 8

(Dinâmica de reprodução dentro do espectro sonoro humano entre cinema e televisão, de acordo com a
capacidade de frequência de cada sistema sonoro).

O que acontece é que muitas vezes o mixador de áudio não tem muito tempo, e em
vez de utilizar diferentes foleys para uma porta abrindo, por exemplo, ele usa um ou dois
foleys sobrepostos, que reflete na experiência sonora do filme. Alguns passos dos
personagens soam semelhantes, ou parece que o passo na verdade ressoa outra coisa.
Já é possível perceber que quando falamos de pós-produção de som para televisão,
streaming e cinema, falamos de ambientes diferentes. Não dá pra esperar que uma
televisão de tubo de 15 anos atrás pudesse reproduzir a mesma experiência sonora de uma
sala de cinema, muito menos de um celular atual, a menos que com uso de fones de
ouvido, em alguns casos com tecnologias para espacialidade que permite ouvir o som em
360º, ou com um home theater.
Kiko Ferraz, proprietário da KF Studios em Porto Alegre (RS), revela na sua
entrevista com Rodrigo Carreiro que não adianta você esperar ouvir os graves geralmente
muito presentes em salas de cinema enquanto assiste a um filme em casa, exceto se tiver
um bom subwoofer. Assim como com o surround, que permite uma maior imersão no
filme, mas que como menciona Kiko Ferraz:

Agora, no cinema... se tiver que botar uma voz no surround, uma porta batendo, um efeito, eu boto.
E acho que tem que ser assim mesmo, é para isso que a tecnologia foi criada. Claro que eu não vou
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botar uma narração, um diálogo inteiro lá atrás, até porque tu não quer o público olhando para fora
da tela... não sei se tu conhece a expressão ―exit sign effect‖... (CARREIRO, 2019, p. 91).

Ele fala sobre a expressão “exit sign effect”, que é quando ruídos produzidos pelos
canais surround chamam a atenção do espectador para fora da tela do filme, ficando
perdido procurando a origem do som, às vezes até confundindo, achando que a explosão do
filme na verdade é lá fora da sala de cinema. Ou seja, no trabalho de Kiko Ferraz, ele
esclarece que o surround é sim importante, mas não para colocar inúmeros efeitos, foleys,
diálogos nos canais surround em excesso, não se trata de uma vinheta da Dolby (que
apresenta as possibilidades para explorar em um sistema de multicanais 5.1/7.1 com a
tecnologia Dolby). Em um filme apenas trabalhamos com o surround quando faz sentido,
exceto claro em situações experimentais. Não existe regra, mas você não colocaria o som
de um diálogo que está no centro da tela saindo no canal surround de um lado só, a menos
claro que tenha um porquê.

Figura 9

(Ilustração de Ryan Garcia, de Toronto, Canadá. Publicado em matéria sobre som surround no The Wall
Street Journal. GARCIA ilustra como o sistema sonoro projeta a experiência imersiva. Disponível em
<https://www.wsj.com/articles/dazzling-surround-sound-for-your-home-theater-a-beginners-guide-
1489693538> Site do Artista <http://ryangarcia.ca/>).
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E quando se trata de dispositivos móveis, é claro que com os alto-falantes do


aparelho, o surround é imperceptível. Já na televisão, a menos que você tenha home
theater, sound bars, essa experiência pode ser um pouco mais próxima da do cinema.
Outro aspecto apontado por Kiko é em relação à dinâmica na faixa sonora, o que já
foi comentado por outros entrevistados do livro citados aqui. Quando é para o cinema, essa
faixa é muito maior, permitindo que as alturas mais graves possam ser percebidas,
enquanto se a faixa for muito pequena, a dinâmica no desenho de som passa despercebida.
Em salas de cinema essa dinâmica geralmente é mais perceptível, pois mesmo um diálogo
em sussurros é completamente audível, ao contrário de ouvir em uma televisão, em que
muitas vezes a mixagem do filme para televisão ou streaming foi só adaptada. Por isso
você precisa ficar mudando o volume do filme o tempo todo. No cinema você não
consegue alterar o volume do filme, até mesmo porque não é possível e nem necessário
quando a diferença na faixa dinâmica é perceptível.
Ponto positivo para as plataformas de streaming audiovisual, para quem é cinéfilo,
ter maior controle sobre o que se está vendo, pode ser mais vantajoso. Nas salas de cinema
ninguém te entrega um controle remoto ao comprar o ingresso, você não vai conseguir
pausar, avançar, recuar o filme, está condicionado a acompanhar o filme de uma vez.
Normalmente não conseguimos perceber as inúmeras camadas do filme assistindo-o
apenas uma vez. É preciso analisar minuciosamente, ver e rever, pesquisar, compartilhar
opiniões com os amigos, ou seja, o cinema encontra um limite em relação ao novo meio
emergente. Não descartamos a experiência de uma sala de cinema, mas é muito mais
barato e prático ver e ouvir o filme em casa. Além disso, se você precisar ir ao banheiro no
meio do filme no cinema, você vai perder parte do filme, já em casa você pode pausar o
filme.
Um ponto importantíssimo levantado no formulário pelos participantes é em
relação às mudanças enfrentadas na produção e consumo do audiovisual em tempos de
pandemia, como a atual por Covid-19. A começar pela interrupção da distribuição e
reprodução de filmes nas salas de cinema. Os serviços de streaming nunca tiveram tanta
notoriedade como agora. Há quem possa ter sua própria sala de cinema em casa, mas na
maioria dos casos nosso entretenimento cinematográfico passa a ser essencialmente
atendido por plataformas como essas. No entanto, não vou me aprofundar sobre essa
situação em específico, pois não é o foco da pesquisa, mas vale considerar que, para os
consumidores que não possuem em casa bons dispositivos externos para melhor
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experiência sonora fílmica, as salas de cinema sem dúvida são essenciais quando buscamos
mais imersão. Apesar dessa dificuldade, eu acredito que partindo de um ponto de vista
otimista um cenário como esse serve como um aditivo para a melhora na qualidade do
serviço de streaming oferecido. Os espectadores são exigentes, a indústria terá que se
adaptar, dessa maneira poderá perceber, por exemplo, que uma pós-produção de som
produzida especialmente para as plataformas de streaming ou televisão deve ser diferente
da feita para o cinema.

Considerações Finais

O salto da evolução tecnológica permite que a sétima arte - quando trata de imersão
sonora - se aproxime mais do público, mas que esse público se distância cada vez mais das
salas de cinema, estando mais presente em plataformas de streaming audiovisual,
principalmente em situações de distanciamento social, como a causada pelo Covid-19.
Partindo da necessidade de equipamentos mais eficientes e acessíveis para
experiência sonora audiovisual, é encontrada que ela ganha novos desafios para alcançar
mais imersão, quando comparada a salas de cinema, que são adequadas para mais imersão
sonora e visual. Compreendendo então, que a experiência de ouvir um filme em casa por
determinado método, é diferente de ouvir o filme em uma sala de cinema, que por esse
método depende de uma estrutura complexa para garantir imersão para todo o público
presente na sala de cinema. Em casa também depende de uma estrutura complexa, mas que
para um público muito menor, ou seja, depende de uma estrutura de menor escala.
No caso das salas de cinema como referência para imersão sonora, entendo ser
válido gastar o ingresso do cinema, quando buscamos ter a experiência de uma tela muito
maior, como no cinema Imax, quando o sistema sonoro da sala é devidamente posicionado,
de qualidade, com tecnologias ou padrões que qualificam o sistema sonoro das salas de
cinema, como o certificado de padronização THX, emitido pela Lucasfilm, que garante a
reprodução do som e imagem mais fiel a concebida pelos produtores, ou o mais atual
Dolby Atmos -, quando também esses padrões de certificação de fato estão funcionando -.
Ao contrário, vale mais experienciar um filme em casa, com fones de ouvidos ou um home
theater.
Por experiência fílmica sonora, com apoio desse trabalho de pesquisa, devemos
considerar que se trata do processamento de uma informação contida no conteúdo
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audiovisual feita pelo cérebro de cada indivíduo. Ou seja, será distinta para cada pessoa,
pois alguns podem relatar que ouvir um filme por fones de ouvidos pode ser até muito mais
imersivo do que em uma sala de cinema. Por estarmos suscetíveis a interrupções externas,
ruídos que não fazem parte do filme, como o de pessoas abrindo a embalagem de um
salgadinho na sala de cinema, ou do cachorro do vizinho ou o seu mesmo latindo em casa,
o uso do fone de ouvido pode auxiliar no cessamento desses ruídos. Então mais fácil
entender que imersão sonora não vai depender só do sistema sonoro dedicado para essa
imersão, mas também do ambiente em que o público se encontra.
Quanto ao sistema sonoro é evidente que, se deseja alcançar a experiência sonora
próxima à do cinema, será necessário desembolsar uma boa grana, que deve ser investida, a
começar, pelas caixas de som - seja um sistema home theater ou até um soundbar -, pelo
isolamento acústico, que na maioria das vezes para o uso doméstico não é muito valorizado
ou acessível. No caso de profissionais da área de som, eles já possuem muitas vezes uma
sala dedicada para pós-produção de som, então é ali onde ele vai escutar seus filmes muitas
vezes. Além disso, também é necessário ter acesso ao conteúdo com qualidade sonora,
como nos casos de alguns títulos de filmes da Netflix que possuem o Dolby Atmos
qualificado. E aí vai o investimento na assinatura mensal da plataforma.
Tratando do público comparado entre o mais exigente e menos exigente, para o
público leigo, que não tem o conhecimento de um audiófilo para julgar o que é necessário
para melhor experiência sonora, fica difícil mantê-lo longe de falsas especificações. Ele
pode não saber, por exemplo, que é enganado por puro marketing quando na especificação
de algum acessório sonoro, apresenta alguma tecnologia que intitula se como superior,
como o exemplo do Hi-Res, que não faz diferença alguma nos acessórios sonoros e só
encarece o produto. Portanto, quando falamos de acessibilidade, ela não é só a financeira,
de poder aquisitivo, mas também de acesso a informações corretas.
Até aqui podemos concluir que para melhor experiência sonora fílmica
necessitamos de estrutura física, que depende dos dispositivos móveis, sistemas sonoros e
ambiente adaptado, e também do que a indústria oferece em conteúdo com qualidade
adaptada para os dispositivos móveis por exemplo. Ou seja, depende do que o público
possui em mãos para reprodução do conteúdo audiovisual e do que a indústria do
entretenimento permite.
Para mim, as plataformas de streaming oferecem uma imersão sonora distinta da de
uma sala de cinema. A experiência compartilhada ao assistir um filme pode ser boa se você
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valoriza e percebe as reações do público ao assistir o filme. Essa partilha torna sensível
nosso humor que se reflete na reação do público. É como você ouvir uma música de seu
artista predileto em um show ao vivo e compará-la a audição em casa. A experiência ganha
outro ponto de vista. O que quero dizer é que a experiência compartilhada contagia. Pelos
dispositivos móveis você pode assistir com a família e amigos, mas a combinação de uma
sala preparada para imersão sonora com todo o público restrito a apenas permanecer na sua
cadeira e curtir o filme é diferente de estar em casa e ser mais suscetível a receber
interrupções que estorvam a experiência fílmica.
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REFERÊNCIAS

Livros:

CARREIRO, Rodrigo. A pós-produção de som no audiovisual brasileiro. Pernambuco:


Editora Marca de Fantasia, 2019.

JENKINS, Henry. Cultura da convergência. Trad. Susana Alexandria. São Paulo: Editora
Aleph, 2015.

CHION, Michel. A audiovisão: som e imagem no cinema. Trad. Pedro Elói Duarte. Lisboa:
Editora Texto & Grafia, 2011.

WISNIK, José Miguel. O som e o sentido: uma outra história das músicas. São Paulo:
Companhia das Letras; Círculo do Livro, 1989.

RANCIÈRE, Jacques. O Espectador Emancipado. Trad. Ivone C. Benedetti. São Paulo:


Editora WMF Martins Fontes, 2012.

Capítulo de Livro:

BRIGGS, Asa. BURKE, Peter. ―Processos e Padrões‖. In: Uma história social da mídia:
de Gutenberg à internet. Trad. Maria Carmelita Pádua Dias. Rio de Janeiro: Editora Zahar,
2004-2006.

Artigos:

SOUZA, Fabiano Pereira. Um estudo sobre a convergência de tecnologias e mídias na


evolução do cinema sonoro: do advento do som ao sound design. 11º Interprogramas de
Mestrado em Comunicação da Faculdade Cásper Libero. São Paulo, p. 1-13, 2017.

MOTA, Regina. NORBIM, Oswaldo. A “quarta tela” e as novas estéticas audiovisuais.


Fafich. Minas Gerais, p. 1-16, 2010.
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COSTA, Nélio José Batista. O surround e espacialidade sonora no cinema. Escola de


Belas Artes, Universidade Federal de Minas Gerais. Minas Gerais, p. 18-73, 2004.

MEYER, E. Brad. MORAN, David R. Audibility of a CD-Standard A/D/A Loop Inserted


into High-Resolution Audio Playback*. Boston Audio Society. Massachusetts, p. 1-7,
2007.

Textos na Internet:

BRAGA, Newton C. Divisores de frequência para alto-falantes. Instituto NCB Newton C.


Braga. Disponível em: https://www.newtoncbraga.com.br/index.php/projetos/14669-
divisores-de-frequencia-para-alto-falantes-art1696.html. Acesso em: outubro de 2020.

VALENTE, Gabriel. Como funcionam os alto-falantes: compreendendo a reprodução de


áudio [Infográfico]. Landr. Disponível em: https://blog.landr.com/pt-br/como-funcionam-
os-alto-falantes-compreendendo-a-reproducao-de-audio-infografico/. Acesso em: outubro
de 2020.

Autor desconhecido. Post Hi-Res Audio. Why hi-res is often not for the best. Resampling,
dithering and de-clipping. Archimago’s Musing. Disponível em:
http://archimago.blogspot.com/2020/07/summer-musings-post-hi-res-audio-why-hi.html.
Acesso em: novembro de 2020.

WALDREP, Mark. Perceptual Evaluation of HRA Study Proves Nothing. Real Hd-Audio.
Disponível em: https://www.realhd-audio.com/?p=5755. Acesso em: novembro de 2020.

Autor desconhecido. Canal de retorno de áudio aprimorado HDMI (eARC). HDMI.


Disponível em: https://hdmi.org/spec21sub/enhancedaudioreturnchannel. Acesso em:
novembro de 2020.

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