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Disciplina: Criança, Infância e Diferenças - Profa. Dra. Anete Abramowicz.

Aluna especial: Bruna do Nascimento.

A disciplina “Criança, Infância e Diferenças” possuía os adjetivos que


estavam em questão na formulação da temática que eu pretendia pesquisar no
projeto para o mestrado, no entanto, ainda eram ideias e pensamentos vagos.
O que eu tinha era o objeto: crianças e crianças no ensino fundamental,
marcadas pela diferença, crianças surdas e negras.
Como a minha formação é em licenciatura em Educação Especial pela
Universidade Federal de São Carlos e faz parte do departamento de psicologia,
por mais que a área discuta a diferença também no campo sociológico,
acabamos presos a normalidade e no conceito de criança da psicologia,
através do desenvolvimento ou comportamento. E a virada de chave do
pensamento que eu vinha construindo, baseado no que eu conhecia e na
disputa teórica das ciências humanas, foi o conceito da criança cunhado e
discutido na disciplina. A criança como uma forma, uma forma precária, lotada
de forças.
Em Criança, Infância e Diferenças foi dada a oportunidade de entender
que a criança é plural, são as diversas crianças, as várias formas de viver
como crianças, a infância não é universal. Pensamos as infâncias indígenas
com a Eronilde Kambeba, cacica do Povo Indígena Kambeba e a infância no
Mali, em sua tradição oral, bem como as infâncias negras e refugiadas com o
Moussa Diabate, refugiado político do Mali, entre outras discussões.
Outra discussão essencial se fez em relação a educação e eu como
professora, almejando estudos em um programa de pós-graduação em
educação, me percebi como uma professora da diferença. Esse olhar foi
fazendo sentido após as leituras na disciplina e pelas discussões em relação a
diferença. Analisando a especificidade de trabalhar no ensino fundamental
com relações étnico-raciais, no Programa Diadema de Dandara e Piatã e com
estudantes em situação de deficiência ou uma cultura diferente que é a Surdez,
ser professora da diferença se apresentou como um conceito que eu buscava
para explicar a particularidade do meu trabalho, pois eu jamais poderia ser a
professora do controle de corpos, mas a professora que apresenta outras
identidades, histórias por outras perspectivas, culturas, novos possíveis ou
ainda “atualização de possíveis que já estavam dados”, conforme fala da
professora Anete, se referindo a Nietzche. Contudo, não sou eu o objeto, ou a
minha atuação em sala de aula, essa é crítica, é necessário “inverter a
perspectiva pedagógica, é da infância que é necessário esperar instruções”.
(ABRAMOWICZ, 20015 apud VIRNO, 2012, p. 34) , ou seja, é a própria infância,
as próprias crianças se colocando e colocando seu modo, sua experiência, sua
linguagem para iluminar as relações sociais. Isto posto, a metodologia que
preciso explorar no meu projeto de mestrado é no sentido de como trazer o
protagonismo da criança, a partir da ideia da autoria social da criança, sobre
quem são elas, o que é a criança negra e Surda ou negra-Surda/Surda-negra,
as formas como ela se organiza nesse espaço escolar, com sua identidade
negra e sua cultura Surda, para além de quais as relações étnico-raciais que a
forjam e o processo de crianças subjetivadas pela raça e pela diferença.

REFERÊNCIAS

ABRAMOWICZ, A. Dossiê Infância e Relações Étnico-Raciais. Revista


Eletrônica de Educação, v. 9, n. 2, p. 35-65, 2015.

SILVERIO, V. Relações étnico-raciais e educação: entre a política de


satisfação de necessidades e a política de transfiguração. Revista Eletrônica de
Educação, v. 9, n. 2, p. 35-65, 2015.

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