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Psicologia Jurídica.

1-Início da relação entre a Psicologia e o Direito

1. Psicologia do Testemunho: avaliação da veracidade de relatos de acusados e de testemunhas,


fundamentando-se em estudos experimentais sobre memória e percepção.

1. A “Psicologia do Testemunho” historicamente a primeira grande articulação entre Psicologia e Direito.

1. Metodologia: uso de instrumentos de medida considerados objetivos, que possibilitavam


comprovações matemáticas. Utilizavam-se, sobretudo, testes psicológicos.

1. Final do século XIX => a Psicologia privilegiava o método científico empregado pelas Ciências
Naturais (Biologia possibilidade de explicação dos comportamentos humanos), dando ênfase a uma
prática profissional voltada, quase que unicamente, à perícia, ao exame criminológico e aos laudos
psicológicos baseados no psicodiagnóstico. (Altoé, 2001).

1. Psicologia Jurídica no Brasil: 1945 - Manual de Psicologia Jurídica, de Mira y Lopez: psicologia como
ferramenta para avaliação e diagnóstico de criminosos e infratores.

Contribuições da Psicologia:

• detectar a mentira;

• descobrir causas subjetivas para desvio de normas sociais;

• indicar técnicas para alteração do comportamento anormal;

• classificar as pessoas (conforme hereditariedade, caráter, constituição física e psíquica);

• avaliar condições de discernimento ou sanidade mental das partes;

• determinar a periculosidade dos indivíduos.

Perícia: avaliação de condições psicológicas com a finalidade de responder a quesitos formulados por
operadores do Direito -> atividade avaliativa e de subsídio às decisões judiciais.

O trabalho do psicólogo => Pode auxiliar e nortear a atuação de advogados, promotores, juízes
reconhecendo a necessidade de uma ação em conjunto com os demais profissionais na construção de
um saber que auxilie a expressão da Justiça, permitindo ao juiz aplicar a Lei, dentro dos fins sociais,
visando a uma relação democrática, justa e igualitária (Verani, 1994.) ou prejudicar e alongar o
processo por vários anos, sem diminuir o conflito e a dor dos envolvidos, através da restrição de seu
exercício profissional à elaboração de laudos ou pareceres psicológicos, por vezes conclusivos,
fechados e, portanto, iatrogênicos (alteração patológica provocada no paciente por tratamento errôneo
ou inadequado), como antes.
Lei Jurídica X Lei Simbólica.

Psicanálise e Direito

LIVRO: Direito de Família e Psicanálise. Rumo a uma Nova Epistemologia

GROENINGA, G. e PEREIRA, R.C. Direito de Família e Psicanálise — Rumo a uma nova


epistemologia. RJ: Imago, 2003.

• SUJEITO DO DIREITO/ SUJEITO DO DESEJO E A LEI

A primeira lei é uma lei de Direito de Família: a lei do pai e o fundamento da lei (Rodrigo da Cunha
Pereira)

Kelsen (Teoria Geral das Normas) e Freud (Totem e Tabu)

A ideia de Lei

A partir do momento em que o homem passou a "viver-con" (conviver), ele começou a estabelecer leis
para normalizar esse convívio.

Kelsen => norma é um comando de conduta, o dever-ser de conduta. A norma legislada formalmente
pelo Estado é a emanação de um poder, autorizado por uma norma anterior que é a lei básica de um
Estado: a Constituição. Esta por sua vez, é baseada em uma constituição anterior e assim
sucessivamente até que se chegue à primeira assembleia, que talvez tenha originado a primeira
constituição. Chegaremos aí a uma norma fundante do sistema jurídico, que é a norma fundamental.

Esta norma fictícia, a que se refere Kelsen, autorizadora de todo o sistema jurídico e na verdade de
todas as leis jurídicas e morais, é a norma fundante, pressuposto de validade de todas as normas.

Freud em seu texto Totem e Tabu => nos remete também às primeiras leis do homem. Descreve o
"tabu" como o código de leis não escrito mais antigo do mundo, anterior a qualquer espécie de religião.
Nesse trabalho, Freud nos remete a um lugar de surgimento da lei, que é anterior ao culto das religiões
e das prescrições das religiões mais primitivas.

1. De onde vem essa norma?

1. Essa norma não pode ser posta em questão e isso parece significar que é porque ela é fundada pelo
inconsciente.

1. Essa lei inconsciente é dada pelo que Freud chamou de lei do incesto, ou depois Lévi-Strauss ou
Lacan, como a Lei do Pai, que é exatamente a Lei (inconsciente) que possibilita a passagem da
natureza para a cultura, (p. 24).

1. Essa obra veio demonstrar que o incesto é a base de todas as proibições. É então a primeira lei. A lei
fundante e estruturante do sujeito, consequentemente da sociedade e obviamente do ordenamento
jurídico. " [...] podemos dizer que é exatamente porque o homem é marcado pela Lei do Pai que se
torna possível e necessário fazer as leis da sociedade onde ele vive, estabelecendo um ordenamento
jurídico" (p. 27).

1. Lei do incesto => fundamento da cultura, da linguagem, das relações entre os homens.
1. Ao abordar a norma fundamental, e no regressus infínitum a norma fictícia, não estaria Kelsen
falando da mesma norma fundamental, a lei do simbólico de Freud e Lévi-Strauss?

1. "Os conceitos interdisciplinares de direito e psicanálise, a partir de Freud e Kelsen, nos autorizam a
dizer que a primeira lei, a lei fundante, fundamentadora e organizadora da cultura, uma lei de Direito de
Família. [...] é a Lei do Pai, que é a base de sustentação e a partir da qual se torna possível o
ordenamento jurídico sobre a família (p. 29).

Exemplo: A exogamia é a expressão do tabu do incesto => no nosso ordenamento, a tradução na lei do
interdito básico encontra-se nos impedimentos para o casamento art. 1521 do Código Civil de 2002.

PROGRAMA DE RÁDIO ESCUTAR E PENSAR RÁDIO MEC-AM 800 MHZ Transgressão2ª feira:
22/Dezembro/2003

Quando afirmamos que alguém transgrediu, estamos dizendo que alguma coisa foi violada: uma regra,
uma lei, um pacto, um contrato ou mesmo um acordo não falado, nem escrito entre duas ou mais
pessoas. Quer dizer, alguma combinação foi desrespeitada. Pode ser uma leve ultrapassagem de
algum limite estabelecido, sem maior gravidade, ou um ato violento com conseqüências danosas.

Se pensarmos na sociedade, por exemplo, há uma série de contratos sociais que exigem
responsabilidade dos governantes, daqueles que detém algum tipo de poder. Aí, qualquer ato ilícito tem
conseqüência sobre inúmeras pessoas. É o caso das atuais denúncias envolvendo juizes, que nos
deixam inseguros, já que justamente quem deveria cuidar do cumprimento das leis é o primeiro a usar
seu poder pra transgredir. Será que os roubos feitos por poderosos acabam justificando roubos feitos
pelos menos favorecidos? Se os que têm muito roubam, por que quem não tem nada não pode se
aproveitar?

Na verdade, o que estão em jogo são valores e princípios que organizam a vida civilizada. O processo
do animalzinho humano até chegar a ser um homem civilizado é longo e trabalhoso. Esse processo
inclui cuidados, nutrição, ensinamentos, e uma coisa muito importante que a gente quase não nota: a
transmissão de códigos que caracterizam o indivíduo, e que são como marcas que ficam registradas
dentro da mente. Essas marcas são heranças, que passam de geração em geração, há muitos milhares
de anos, e que estabelecem certos limites pra vida em grupo.

No plano da sexualidade, por exemplo, os tabus do incesto, e das gerações: não pode haver relações
sexuais entre pai e filhos ou entre mãe e filhos. Tios e avós devem respeitar os membros mais novos da
família e não interagir sexualmente, o que seria um abuso. Enfim, algumas barreiras que vão se
formando no nosso mundo psíquico, como nojo, horror e vergonha de certas práticas, nós vamos
adquirindo desde a primeiríssima infância, na relação com aqueles que cuidam da gente, aqueles que
exercem a função de pais. Esses códigos são como que depositados na cultura e transmitidos de
geração em geração, através da linguagem verbal e também da não verbal, isto é, através do que se
diz, das histórias que se conta, e também do que se passa através de atos, gestos, sinais...E isso tudo
que é passado pra nós por uma figura de autoridade é que vai nos servir de referência. E nos dar
condições de viver em sociedade.

Então, existe uma lei que é transmitida de forma invisível, é uma lei simbólica. E que está inscrita
internamente como uma tatuagem psíquica que sustenta a nossa existência. É um pacto que nos faz
respeitar o próximo, e reconhecer as diferenças sexuais, sociais, geracionais, culturais. É mais ou
menos como um contrato social e pessoal que a gente assina para poder ser humano,civilizado. Mas
nem todo mundo têm esse contrato pessoal e social firmado dentro de si mesmo. Aí, o pacto fracassa.
O indivíduo fica sem qualquer compromisso com o próximo e sem as barreiras que interditam o livre
curso dos impulsos sexuais e agressivos. É quando o ser humano mata, abusa, destrói. A primeira
pessoa com quem nos relacionamos no início da vida, a mãe, ou quem exerce essa função, é quem
transmite as primeiras leis organizadoras da vida em sociedade, à medida que vamos sendo
apresentados à linguagem.

Logo, outras pessoas importantes nos deixam suas marcas pela vida afora, ou seja durante toda vida
novos registros são internalizados. Então, a mensagem é a seguinte: aquilo que os adultos dizem,
vivem e fazem têm incidência sobre crianças e adolescentes. Se existem abusos, violência e ausência
de uma autoridade protetora, a resposta é quase sempre desestruturação, desamparo, loucura e
mesmo a morte.

2 – ESTUDO PSICOSSOCIAL DA FAMÍLIA

O Direito de Família até 1988.

1. Á época do início da vigência do Código Civil (1916).

1. Família somente a constituída pelo casamento.

1. Gerador de vínculo indissolúvel entre os cônjuges.

1934 => Transformou-se em norma constitucional, princípio mantido na Carta de 1937e nas
Constituições que se seguiram (1946, 1967, 1969).

1. Até 1934 apenas o casamento civil era reconhecido.

A mulher => relativamente incapaz, passando a ser assistida pelo marido nos atos da vida civil.

Ao marido competia:

1. A chefia da sociedade conjugal;

1. Administrar o patrimônio familiar.

2. Autorizar a profissão da mulher.

1. As relações sem casamento eram moral, social e civilmente reprovadas.

1. Os filhos eram classificados e conseqüentemente discriminados em função da situação jurídica dos


pais.

Legítimos =>concebidos na constância do casamento e os legalmente presumidos.

Ilegítimos => os que não procediam de justas núpcias, aqueles que não tinham sua filiação assegurada
pela lei.

Distinguiam-se os ilegítimos em:

1 - Naturais => os que nasciam de homem e mulher entre os quais não havia impedimento matrimonial.

2 - Espúrios => aqueles que descendiam de pessoas impedidas de casar por parentesco, afinidade ou
casamento subsistente.
1. Adulterinos.

2. Incestuosos (até 1989 não podiam ser reconhecidos).

Em 1941 =>Lei de Proteção da Família - os filhos adulterinos e incestuosos continuavam excluídos da


proteção.

Três grandes alterações legislativas marcaram o meado do século:

1 - A admissão do reconhecimento dos filhos adulterinos;

2 - A emancipação da mulher casada;

3 - A dissolubilidade do vínculo matrimonial.

Primeira alteração:

1949 => permitiu-se o reconhecimento do filho havido fora do matrimônio desde que dissolvida a
sociedade conjugal (exigência que se manteve até 1977).

O segundo grande marco da evolução do Direito de Família:

1962 => Estatuto da Mulher Casada que promoveu a emancipação da mulher e a colocou na posição
de colaboradorado marido.

1. Deixava de ser relativamente incapaz.

1. Passando a ter tratamento igualitário para a prática dos atos da vida civil (isonomia entre marido e
mulher que viria a se consolidar plenamente em 1988).

A terceira grande alteração legislativa:

1977 => Lei do Divórcio – indissolubilidade do casamento.

O Direito de Família após 1988.

1. Família não mais se origina apenas do casamento.

1. Duas novas entidades familiares passaram a ser reconhecidas:

1 - A constituída pela união estável;

2- A formada por qualquer dos pais e seus descendentes.

1. A dissolução do casamento foi facilitada, diminuindo-se o prazo para um ano, se precedida de


separação judicial, e para dois anos no caso de separação de fato.

Quanto aos filhos:


1. Garantidos foram aos filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, iguais direitos
e qualificações, proibidas qualquer designações discriminatórias.

1. Dentre os membros da família ganharam tratamento próprio à criança e oadolescente, sendo dever
da família, da sociedade e do Estado assegurar-lhes, com absoluta prioridade, os direitos
especificamente enumerados na Constituição Federal.

O Novo Papel dos Integrantes das Entidades Familiares.

1. A instituição familiar, idealizada pelo legislador de 1916, cede lugar a seus integrantes, igualados em
direitos e obrigações.

1. A comunidade familiar, haja ou não casamento, deixou de ser um ente abstrato, adquirindo
concretude no afeto e na solidariedade que une seus membros.

1. O afeto => elemento identificador das entidades familiares levando ao surgimento da família
eudemonista.

1. A preservação da liberdade de escolha e o direito de assumir os próprios desejos geraram a


possibilidade de transitar de uma estrutura de vida para outra que pareça mais atrativa e gratificante.

1. A proteção assegurada histórica e unicamente ao casamento passou a ser concedida à família.

A Constituição Federal de 1988:

1. Além do casamento foram reconhecidas outras entidades familiares, ainda que elencadas somente a
união estável entre um homem e uma mulher e a comunidade dos pais com seus descendentes.

Segundo Paulo Luiz Lobo:

1. Norma de inclusão - o que não permite excluir qualquer entidade que preencha os requisitos da
afetividade,estabilidade e ostensividade.

Uniões homoafetivas => vêm sendo reconhecidas pela jurisprudência como entidades familiares.

1. Não só a família, mas também a filiação foi alvo de profunda transformação.


1. No confronto entre a verdade biológica e a realidade vivencial, a jurisprudência passou a atentar ao
melhor interesse de quem era disputado por mais de uma pessoa.

1. O prestígio à afetividade fez surgir uma nova figura jurídica, a filiação socioafetiva, que acabou se
sobrepondo à realidade biológica.

1. A moderna doutrina não mais define o vínculo de parentesco em função da identidade genética. A
valiosa interação do direito com as ciências psicossociais ultrapassou os limites do direito normatizado e
permitiu a investigação do justo buscando mais a realidade psíquica do que a verdade eleita pela lei.

1. A definição da paternidade está condicionada à identificação da posse do estado de filho,


reconhecida como a relação afetiva, íntima e duradoura, em que uma criança é tratada como filho, por
quem cumpre todos os deveres inerentes ao poder familiar: cria, ama, educa e protege.

3-Guarda

Aspectos destacados na guarda compartilhada

É costumeiro afirmar que, com a separação do casal, a família não se dissolve, se transforma. São
muitas as mudanças nos ciclos de vida familiares. Desde a regulamentação do divórcio no Brasil em
1977, a separação conjugal ficou cada vez mais como um fato presumido nas famílias. Quando não há
possibilidade de reconciliação entre o casal, mesmo que tenham filhos, não existe mais aquela
necessidade de permanecerem casados, como anteriormente.

Segundo alguns especialistas, um dos motivos que desencadeiam distúrbios emocionais nos filhos é a
convivência num lar em conflito permanente. Desta forma, entende-se que a separação conjugal
deveria representar uma possível solução, mas infelizmente muitos casais encontram sérias
dificuldades na reorganização desse sistema, inclusive na divisão de responsabilidades. Assim, o casal
decide procurar um profissional que ajuizará ação competente, prosseguindo o feito até sentença
judicial ou homologação de acordo que estabelecerá quem ficará com a guarda dos filhos, visitas,
pagamento de alimentos e partilha dos bens. A questão é que guarda e o direito de visitas existe em
função dos menores, com o objetivo de manter contato entre os filhos e os pais após a separação,
contribuindo com a “homeostase” emocional dos envolvidos.

Regulamentação de Visitas: um direito da criança

A lei confere ao genitor que não possui a guarda, o direito de visitas, que constitui o direito de
personalidade do filho de ser visitado não só pelos pais, como qualquer pessoa que por ele tenha afeto.
Cabe salientar que o direito de visitas é extensivo aos avós, sendo muito comum requerer a
regulamentação da visita mesmo em procedimento judicial consensual. Afinal, um dos objetivos da
visita é o de fortalecer os laços de amizade entre pais, filhos e familiares, já enfraquecidos pelo
processo de separação.

Vantagens e Desvantagens da Guarda Compartilhada


A guarda sempre se revelou um ponto delicadíssimo no direito de família, pois dela depende
diretamente o futuro do menor. A guarda única ou exclusiva, aquela conferida a um só dos
genitores, passou a ser insuficiente para atender as necessidades e interesses dos pais e
principalmente dos filhos. Com as mudanças cada vez mais aceleradas na estrutura familiar, procuram-
se novas modalidades de guarda capazes de assegurar aos pais uma repartição eqüitativa da
autoridade parental, bem como aos filhos, que serve para amenizar os efeitos desastrosos na maioria
das separações. Historicamente, a guarda compartilhada teve sua origem na Inglaterra, na década de
60, onde ocorreu a primeira decisão favorável. Estendeu-se a França e ao Canadá, chegando mais
tarde ao Brasil e Estados Unidos. A guarda pode ser definida como o conjunto de deveres que os pais
têm em relação à pessoa e aos bens dos filhos. O direito de guarda é antes de tudo um dever de
assistência material e moral, devendo sempre ser levado em consideração o interesse do menor.
Portanto, não se recomenda a pessoas inidôneas, imaturas ou portadoras de qualquer deficiência de
natureza psíquica ou comportamental, podendo ser modificada a qualquer momento.

Foram a partir dessas mudanças nos ciclos de vida familiares, como o surgimento de famílias
monoparentais, que o compartilhamento da guarda passou a ser questionado.

Importante destacar a diferença entre guarda alternada e guarda compartilhada ou conjunta. A primeira
(alternada) tem como requisito básico a alternância de residência dos pais, por certos períodos.
A segunda (compartilhada ou conjunta) baseia-se na residência fixa para o menor, partilham-se
somente os direitos e deveres entre os pais.

A guarda compartilhada ou conjunta é um dos meios de exercício da autoridade parental aos pais que
desejam continuar a relação com os filhos quando ocorre a fragmentação da família. A justificativa para
a adoção desse sistema está na própria realidade social e jurídica, que reforça a necessidade de
garantir o melhor interesse da criança e a igualdade entre homens e mulheres na responsabilização dos
filhos. A continuidade do convívio da criança com ambos os pais é indispensável para seu
desenvolvimento emocional de forma saudável.

No entanto, esta modalidade refere-se a um tipo de guarda onde os pais dividem a responsabilidade
legal sobre os filhos, ao mesmo tempo em que compartilham suas obrigações pelas decisões
importantes relativas à criança. Desta forma, evita a sobrecarga dos pais e minimiza o conseqüente
impacto da ansiedade e do estresse sobre os filhos. Conclui-se que um dos pais pode manter a guarda
material ou física do filho, porém ambos possuem os mesmos direitos e deveres para com o menor.

A Guarda compartilhada ou conjunta privilegia a continuidade na relação da criança com seus genitores
após a separação destes e ao mesmo tempo mantém ambos responsáveis pelos cuidados cotidianos
relativos à educação e à criação do menor. A guarda compartilhada tem o apoio constitucional, por força
do que prevê o art. 226, § 5º e § 7º da CF/88, ao estabelecer que os direitos e deveres referentes à
sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher, além do estabelecido nos
princípios da dignidade da pessoa humana.

Também tem o apoio no Estatuto da Criança e do Adolescente e das disposições da Lei nº 11.698, de
13 junho de 2008 que altera os arts. 1.583 e 1.584 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 do novo
Código civil, que tratam da proteção da pessoa dos filhos.

Na realidade o maior interesse dos filhos está em conviver o máximo possível com ambos os pais, salvo
exceções. Enfim, resta claro que o poder da guarda para a mãe, uma questão cultural, já não mais
prevalece. A nítida preferência reconhecida à mãe para a guarda, já vinha sendo criticada como abusiva
e contrária a igualdade, como supramencionamos no direito constitucional. No código de 1916, foi
criado para acomodar as necessidades de uma sociedade quando a profissão da mulher era do lar, o
que já não condiz com a nossa realidade, já que a mulher se tornou independente.
Sem dúvida alguma não se pode deixar de ressaltar que o modelo de guarda compartilhada não deve
ser imposto como solução para todos os casos, havendo situações em que o modelo é inadequado e
até mesmo contra-indicado, como no exemplo da tenra idade dos filhos.

As vantagens da guarda compartilhada são maiores que as desvantagens, basicamente em função de


uma melhora na auto-estima do filho, melhora no rendimento escolar (enquanto que na guarda
monoparental decai), diminuição do sentimento de tristeza, frustração, rejeição e do medo de abandono,
já que permite o acesso sem dificuldade a ambos os pais. Também ajuda na inserção da nova vida
familiar de cada um dos genitores, além de ter uma convivência igualitária.

Não são muitas as desvantagens neste tipo de guarda. Cabe lembrar que, através de informações
fornecidas por psicólogas da teoria sistêmica, puderam constatar em seus consultórios no atendimento
dos filhos (crianças e adolescentes) que o maior sintoma é a falta dos pais, o medo do abandono, as
conseqüências de uma separação seja consensual ou litigiosa. Na guarda compartilhada o filho não
perde o vínculo com os pais. Um triste exemplo e ao mesmo tempo muito comum de ocorrer é o pai
pensar que se não é o guardião, deve manter-se distante da educação do filho, pois considera que a
justiça dá plenos poderes a guardiã que detém a guarda. Alguns desses pais acabam por afastar-se de
seus filhos provocando, sem dúvida alguma, sentimentos de angústia desnecessários. São os filhos
quem acabam por pagar o maior tributo por tais comportamentos, visto que sofrem por viver em meio ao
fogo cruzado de seus pais e podem apresentar sérios sintomas, como dificuldades afetivas, sociais e de
aprendizado.

Hodiernamente, a possibilidade jurídica da guarda compartilhada como mencionamos, leva em


consideração as vantagens tanto para os genitores quanto aos filhos, restando aos operadores do
direito ter a consciência do melhor interesse do menor. O promotor de justiça deve favorecer esta
modalidade e o magistrado conceder a guarda compartilhada, salvo exceção. Filhos precisam
igualmente do pai e da mãe. É necessário que um permita o direito de existência do outro na vida de
seus filhos. A separação conjugal não pode se estender à ruptura parental, pois a criança precisa de
ambos para ter um bom desenvolvimento cognitivo, psíquico e emocional. A guarda conjunta é o
caminho possível para assegurar aos filhos de pais separados a presença contínua em harmonia de
ambos os genitores.

4-ALIENAÇÃO PARENTAL.

Euclydes de Souza

A alienação parental é a rejeição do genitor que "ficou de fora" pelos seus próprios filhos, fenômeno
este provocado normalmente pelo guardião que detêm a exclusividade da guarda sobre eles (a
conhecida guarda física monoparental ou exclusiva).

Esta guarda única permite ao genitor que detêm a guarda com excluvidade, a capacidade de
monopolizar o controle sobre a pessoa do filho, como um ditador, de forma que ao exercer este poder
extravagante, desequilibra o relacionamento entre os pais em relação ao filho. A situação se caracteriza
quando, a qualquer preço, o genitor guardião que quer se vingar do ex cônjuge, através da condição de
superioridade que detêm, tentado fazer com que o outro progenitor ou se dobre as suas vontades, ou
então se afaste dos filhos.

Levando em consideração que as Varas de família agraciam as mulheres, com a guarda dos filhos, em
aproximadamente 91% dos casos (IBGE/2002), salta aos nossos olhos que a maior incidência de casos
de alienação parental é causada pelas mães, podendo, todavia ser causada também pelo pai, dentro
dos 9% restantes.
Concluímos assim, que o compartilhamento parental na criação dos filhos, anularia o excesso de poder
uni-lateral, origem da alienação parental, trazendo a solução para este e vários outros problemas
causados pela Guarda Única.

Com o objetivo de ajudar aos pais a identificar quando é que seus filhos podem estar sendo vítimas da
alienação parental, juntamos as seguintes situações que demonstram em menor ou maior grau o risco
da rejeição paterna.

• ...”Cuidado ao sair com seu pai . Ele quer roubar você de mim”...

• ...”Seu pai abandonou vocês “...

• ...”Seu pai não se importa com vocês”...

• ...”Você não gosta de mim!Me deixa em casa sozinha para sair com seu pai”...

• ...”Seu pai não me deixa refazer minha vida”...

• ...”Seu pai é muito violento, ele vai te bater”...

Com isso, ocorrem casos de crianças com problemas psicológicos diversos, onde vemos tais reflexos
somatizados, de uma culpa que elas não tem, ora em forma mais grave, como o desvio de
comportamento, e outras copiando o modelo materno ou paterno de forma inadequada. Outras
características de mães, ou pais, que induzem a alienação parental aos filhos:

• Cortam as fotografias em que os filhos estão em companhia do pai, ou então proíbe que as exponha
em seu quarto.

• Pais monoparentais, não participam ao pai que “ficou de fora” informações escolares como os boletins
escolares, proíbe a entrada destes na escola, não fornece fotografias, datas de eventos festivos
escolares e tentam macular a imagem do pai junto ao corpo docente do colégio.

• Pais dessa natureza, não cooperam em participar de mediações promovidas por instituições que
promovem a mediação entre casais em litígio, são freqüentemente agressivos, arrogantes, e exímios
manipuladores.

• Restringem e proíbem terminantemente, a proximidade dos filhos e parentes com os membros da


família do ex-cônjuge.

• Encaram o ex-cônjuge como um fator impeditivo para a formação de uma outra família (normalmente
porque idealizam uma nova vida imaginando poder substituir a figura do pai pela a do padrasto, o que
não seria possível com a proximidade do ex).

• Pais que induzem a alienação parental, ao ser necessário, deixam seus filhos com babás, vizinhos,
parentes ou amigos, mas nunca com o pai não residente, (mesmo que ele seja o seu vizinho), a
desculpa clássica é: ” Seu pai está proibido de ver as crianças fora do horário pré-estipulado para ele “ ,
” Seu pai só pode ficar com vocês de 15 em 15 dias. Foi o Juiz que disse “ ou “ Não permito, porque seu
pai vai interferir na rotina da nossa família”

• Pais que induzem a alienação parental, normalmente são vítimas do seu próprio procedimento no
futuro, sendo julgados pelos seus próprios filhos impiedosamente.

• Tem crises de depressão e agressividade, exercendo violência física ou psicológica sobre seus filhos.
• Fazem chantagem emocional sempre que possível, especialmente quando a criança está de férias
com o pai não residente.

• Não percebe o cônjuge na sua angustiante revolta e infelicidade que o seu “maior inimigo” poderia ser
seu maior aliado, sendo enormemente beneficiada dividindo a responsabilidade no compartilhamento da
guarda do filho, com o ex-cônjuge.

• Muitas vezes negam ao pai não residente o direito de visitar seus filhos nos horários pré-estipulados,
desaparecendo por semanas a fio, ou obrigando as crianças a dizerem, que não querem sair com o pai,
não permitindo nem mesmo que ele se aproxime de sua casa, chamando a polícia sob a alegação que
está sendo ameaçada ou perseguida.

• Não permitem o contato telefônico do pai com o filho em momento algum, proibindo inclusive que o
filho ligue para ele.

• Proíbem a empregada doméstica de passar a ligação do pai ao seu filho.

• Desaparece com o telefone celular que o pai dá para o filho.

• Costumam fazer denunciações caluniosas de agressão, ameaça, crimes contra a honra,

etc.

• Agridem fisicamente o pai em locais não públicos, e imediatamente se deslocam para locais públicos,
para forjar um pedido socorro por terem sido agredidas.

• Freqüentemente ameaçam mudar-se para bem longe, os Estados Unidos ou uma cidade bem longe.

BIBLIOGRAFIA: SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL (Por François Podevyn).

LEI N° 11.698. DE 13 JUNHO DE 2008.

Altera os arts. 1.583 e 1.584 da Lei n e 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, para instituir e
disciplinar a guarda compartilhada.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a


seguinte Lei:

Art. 1 a Os arts. 1.583 e 1.584 da Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, passam a

vigorar com a seguinte redação:

"Art. 1.583. A guarda será unilateral ou compartilhada.

§ 1º - Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos genitores ou a alguém que o


substitua (art. 1.584, §5°) e, por guarda compartilhada a responsabilização conjunta e o exercício de
direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar
dos filhos comuns.

§ 2 º - A guarda unilateral será atribuída ao genitor que revele melhores condições para exercê-la e,
objetivamente, mais aptidão para propiciar aos filhos os seguintes fatores:
I - afeto nas relações com o genitor e com o grupo familiar;

II - saúde e segurança

III - educação.

§ 3 º - A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervisionar os interesses dos
filhos.

§ 4 º - (VETADO)." (NR)

"Art. 1.584. Aguarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser:

I - requerida, por consenso, pelo pai e pela mãe, ou por qualquer deles, em ação autónoma de
separação, de divorcio, de dissolução de união estável ou em

medida cautelar;

II - decretada pelo juiz, em atenção a necessidades específicas do filho, ou em razão da distribuição de


tempo necessário ao convívio deste com o pai e com a mãe.

§ 1 a Na audiência de conciliação, o juiz informará ao pai e à mãe o significado da guarda


compartilhada, a sua importância, a similitude de deveres e direitos atribuídos aos genitores e as
sanções pelo descumprimento de suas cláusulas.

§ 2 a Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho, será aplicada, sempre
que possível, a guarda compartilhada.

§ 3 a Para estabelecer as atribuições do pai e da mãe e os períodos de convivência sob guarda


compartilhada, o juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, poderá basear-se em
orientação técnico-profissional ou de equipe interdisciplinar.

§ 4°A alteração não autorizada ou o descumprimento imotivado de cláusula de guarda, unilateral ou


compartilhada, poderá implicar a redução de prerrogativas atribuídas ao seu detentor, inclusive quanto
ao número de horas de convivência com o filho.

§ 5 e Se o juiz verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda do pai ou da mãe, deferirá a
guarda à pessoa que revele compatibilidade com a natureza da medida, considerados, de preferência, o
grau de parentesco e as relações de afinidade e afetividade." (NR)

Art. 2- Esta Lei entra em vigor após decorridos 60 (sessenta) dias de sua publicação.

Brasília, 13 de junho de 2008; 187 º da Independência e 120 9 ºda República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto José António Dias Toffoli
5-As principais áreas de atuação da Psicologia no Brasil no campo Jurídico

a.Psicologia Penitenciária ou Carcerária: avaliação psicológica do recluso; estudos e pesquisas


sobre os processos de ressocialização; intervenções junto ao recluso e ao egresso no que pese os
objetivos de ressocialização e ''desinstitucionalização" em relação ao sistema penitenciário; trabalho
com os agentes de segurança (p. ex. estresse, violência etc.), estudos sobre penas alternativas (p.ex.,
prestação de serviço à comunidade etc.); trabalho junto aos parentes dos reclusos (aconselhamento).

b.Justiça da Infância e da Juventude: avaliação psicológica nos casos de violência contra criança e
adolescente; trabalhos com os Conselhos Tutelares (p.ex., treinamento de conselheiros); adoção,
estágio de convivência; intervenção junto a crianças abrigadas e seus pais; estudos, pesquisas e
intervenções junto a adolescentes com práticas infratoras, medidas sócio-educativas, prevenção.

O Estatuto da Criança e Adolescente descreve:

Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta orçamentaria, prever recursos para
manutenção de equipe interprofissional, destinada a assessorar a Justiça da Infância e da juventude.

Art. 151. Compete à equipe interprofissional, dentre outras atribuições que lhe forem reservadas pela
legislação local, fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou verbalmente, na audiência, e bem
assim desenvolver trabalhos de aconselhamento, orientação, encaminhamento, prevenção e outros,
tudo sob a imediata subordinação à autoridade judiciária, assegurada a livre manifestação do ponto de
vista técnico.

c.Direito de Família: intervenção em casos de separação, divórcio, pensão alimentícia, destituição do


pátrio poder; avaliação psicológica das partes; assessoria em relação aos tipos de guarda (alternada ou
compartilhada) não obstante os interesses dos filhos, acompanhamento de visitas.

d.Direito Civil: avaliação psicológica em casos de interdições; em casos de indenizações por dano
psicológico (ou, psíquico) em diversas circunstâncias (p.ex., em acidentes).

e.Direito do Trabalho: avaliação psicológica em questões trabalhistas, como acidentes de trabalho,


indenizações; avaliação do dano psicológico em perícias acidentarias;

f.Mediação: o psicólogo pode atuar de duas maneiras: como mediador ou dando um suporte
psicológico antes, durante e depois das sessões de mediação (p.ex., em questões de família, de
trabalho etc.);

g.Direito Penal: avaliações psicológicas no que pese a sanidade mental das partes; violência
doméstica contra a mulher, intervenções junto às famílias vitimizadas;

h. Pessoal do Judiciário (Magistrado, Serveatuários): aconselhamento psicológico; estudos e


pesquisas sobre o perfil profissiográfico (podendo colaborar nos processos de recrutamento, seleção e
treinamento desse pessoal).

Em suma, as principais atividades exercidas pelos psicólogos jurídicos que atuam nas instituições
governamentais ou não governamentais de âmbito do Direito referem-se às atuações junto às varas
cíveis, criminais, da família, da criança, do adolescente e o exercício profissional nas penitenciárias.

Uma das atividades dos psicólogos diz respeito à participação nos processos de adoção junto aos
Juizados da Infância e adolescência.
No bojo do processo de adoção, cabe ao psicólogo:

“ ... auxiliar os candidatos a compreender melhor a criança adotada, responder adequadamente às suas
necessidades e sentimentos e, ao mesmo tempo, verificar se isso é mesmo o que pensam sobre uma
adoção, confrontando as suas próprias motivações e habilidades (maternidade e paternidade) com as
demandas da realidade que se apresenta” (Weber, In: Gonçalves,H ; Brandão,E. “ Psicologia Jurídica
no Brasil” Rio de Janeiro: Nau, 2004. p. 134).

Assim, a função do psicólogo nos processos de adoção é garantir o melhor interesse da criança, e é,
propiciar reflexão acerca dos atravessamentos da adoção.

DEFINIÇÃO DE ADOÇÃO

Existem várias definições de adoção, porém nos deteremos na definição de Robert (1989:25), para
quem a adoção é “a criação jurídica de um laço de filiação entre duas pessoas”.

No passado, a adoção tinha somente o objetivo de ser um instrumento para suprir as necessidades de
casais inférteis e não como um meio que pudesse dar uma família para crianças abandonadas. Esta
modalidade de adoção é conhecida como “adoção clássica”, e ainda hoje, no Brasil, este tipo de adoção
predomina em detrimento da chamada “adoção moderna” cujo objetivo é garantir o direito de toda
criança de crescer e ser educada em uma família.

O ECA (Estatuto da Criança e Adolescente) passa a promover a adoção como primordialmente um ato
de amor e não simplesmente uma questão de interesse do adotante. A questão da adoção do ECA
derivou do art. 227 da Constituição Federal, conhecida como a nossa “Constituição Cidadã”. A
importância do ECA para o reconhecimento dos direitos da criança no Brasil é fundamental e, em
especial, no que diz respeito à adoção, pois passa a estabelecer como Lei a igualdade de tratamento
entre filhos genéticos e adotivos.

No Brasil, também é bastante conhecido o sistema de “adoção” que foge do processo legal, a chamada
“adoção à brasileira”, que ocorre quando uma pessoa registra como seu filho legítimo uma criança
nascida de outra mulher. Esta prática de registro falso em cartório apresenta sanções civis (anulação de
registro – que cancela todo ato simulado; perda da criança – mesmo tendo em vista o fim nobre, o ato
se revestiu e ilicitude - Art. 242 CP) para este tipo de adoção.

ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI (arts. 112 c/c 101).

Segundo o Estatuto, o adolescente que comete ato infracional só pode ser apreendido em duas
hipóteses: em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada do Juiz da Infância e Juventude.

Dessa maneira, mesmo na verificação do ato infracional o adolescente apreendido, destinatário de


medidas sócio-educativas (art. 112), também pode (e deve) ser alvo de medidas protetivas (art. 101),
que pugnem por sua efetiva ressocialização e pela garantia de todos os direitos e responsabilidades
dispostos nas leis tutelar (ECA) e constitucional (Constituição Federal de 1988).

Com base na Doutrina de Proteção Integral não há mais possibilidade de falar-se em punição e sim em
educação. Como um dos promotores deste processo educativo, o psicólogo deve empreender uma
intervenção que tenha alcance maior que a elaboração de um laudo técnico. Deve caminhar para um
encontro verdadeiro, um contato mais humano, com envolvimento e compromisso, de modo a facilitar o
crescimento pessoal e social daquele ser humano em desenvolvimento e, portanto, com todas as suas
potencialidades em expansão. A tarefa que se coloca, então, para a equipe interprofissional é, além de
contextualizar o adolescente, dar inicio ao processo educativo, que terá segmento na execução
administrativa da medida.

Contextualizar o adolescente significa atender às demandas dele enquanto pessoa que quer e precisa
ser ouvida e permite investigar as mudanças de que foi capaz de empreender em suas relações
pessoais, com a família, os amigos e a escola, após o cometimento do ato infracional, ou seja, inicia-se
o processo de promoção pessoal. Permite, ainda, conhecer suas relações com as figuras parentais e
demais integrantes do núcleo familiar, e sua capacidade de estabelecer e manter vínculos afetivos, isto
é, inicia-se sua promoção social.

Embora o Direito garanta ao adolescente em conflito com a lei proteção e ressocialização é freqüente a
noticia de violência contra adolescentes que são submetidos à medida de internação (a internação
constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito
à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento).

6 - processo de avaliação psicológica no Judiciário 1 .

A avaliação psicológica é entendida como o processo técnico-científíco de coleta de dados, estudos e


interpretação de informações a respeito dos fenômenos psicológicos, que são resultantes da relação do
indivíduo com a sociedade, utilizando-se, para tanto, de estratégias psicológicas - métodos, técnicas e
instrumentos. Os resultados das avaliações devem considerar e analisar os condicionantes históricos e
sociais e seus efeitos no psiquismo, com a finalidade de servirem como instrumentos para atuar não
somente sobre o indivíduo, mas na modificação desses condicionantes que operam desde a formulação
da demanda até a conclusão do processo de avaliação psicológica.

O psicólogo, na elaboração de seus documentos, deverá adotar como princípios norteadores as


técnicas da linguagem escrita e os princípios éticos, técnicos e científicos da profissão. Oprocesso de
avaliação psicológica deve considerar que os objetos deste procedimento (as questões de ordem
psicológica) têm determinações históricas, sociais, econômicas e políticas, sendo as mesmas
elementos constitutivos no processo de subjetivação. O documento, portanto, deve considerar a
natureza dinâmica, não definitiva e não cristalizada do seu objeto de estudo. Os psicólogos, ao
produzirem documentos escritos, devem se basear exclusivamente nos instrumentais
técnicos(entrevistas, testes, observações, dinâmicas de grupo, escuta, intervenções verbais) que se
configuram como métodos e técnicas psicológicas para a coleta de dados, estudos einterpretações de
informações a respeito da pessoa ou grupo atendidos.

A linguagem nos documentos deve ser precisa, clara, inteligível e concisa, ou seja, deve-se restringir
pontualmente às informações que se fizerem necessárias, recusando qualquer tipo de consideração
que não tenha relação com a finalidade do documento específico.

l . Modalidades de documentos

a)Relatório psicológico (ou, Laudo psicológico)

O relatório ou laudo psicológico é uma apresentação descritiva acerca de situações e/ou condições
psicológicas e suas determinações históricas, sociais, políticas e culturais, pesquisadas no processo de
avaliação psicológica. Como todo documento, deve ser subsidiado em dados colhidos e analisados, à
luz de um instrumental técnico (entrevistas, dinâmicas, testes psicológicos, observação, exame
psíquico, intervenção verbal), consubstanciado em referencial técnico-filosófico e científico adotado pelo
psicólogo.
b)Parecer psicológico

Parecer é um documento fundamentado e resumido sobre uma questão focal do campo psicológico
cujo resultado pode ser indicativo ou conclusivo.

O parecer tem como finalidade apresentar resposta ,esclarecedora no campo do conhecimento


psicológico, através de uma avaliação especializada, de urna "questão-problema", visando a dirimir
dúvidas que estão interferindo na decisão, sendo, portanto, uma resposta a uma consulta, que exige de
quem responde competência no assunto.

O psicólogo parecerista deve fazer a análise do problema apresentado, destacando os aspectos


relevantes e opinar a respeito, considerando os quesitos apontados e com fundamento em referencial
teórico-científico.

c)A perícia psicológica

O exame pericial psicológico é uma espécie de avaliação psicológica "com a finalidade de elucidar fatos
do interesse de autoridade judiciária, policial, administrativa ou, eventualmente, particular. Constitui-se,
pois, em meio de prova, devendo o examinador proceder com permanente cautela devido a essa
singularíssima condição." (TABORDA, 2004, p.43)

"Conceitua-se perícia, pois, como o conjunto de procedimentos técnicos que tenha como finalidade o
esclarecimento de um fato de interesse da Justiça; e, perito, o técnico incumbido pela autoridade de
esclarecer fato da causa, auxiliando, assim, na formação de convencimento do juiz.

Do exposto, depreendem-se as seguintes observações: a perícia é um meio de prova, e o perito um


auxiliar do juízo.Como meio de prova, devera ser objeto de intenso escrutínio pelas partes,
necessitando apresentar uma clara descrição dos principais achados, a discussão destes e o porquê
das conclusões." (p.43)

Por exemplo: "a maneira como foi praticado o crime precisa ser bem similar à maneira de ser do autor e
às fantasias que tinha para com a vítima." (CAÍRES, 200Í)

d)A avaliação psicológica no judiciário

"Ao psicólogo perito cabe fornecer um laudo psicológico com informações pertinentes ao processo
judicial e à problemática diagnosticada, visando auxiliar o magistrado na formação de seu
convencimento sobre a decisão judicial a ser tomada, como forma de realização do direito objetivo das
partes em oposição. [...]

Para tanto, o psicólogo estabelece um planejamento da avaliação dos aspectos psicológicos implicados
no caso atendido, com base no estudo dos autos, isto é, de todos os documentos e provas que
compõem o processo judicial. Os instrumentos utilizados para fins de diagnósticos são escolhidos com
base no conhecimento técnico sobre técnicas de exame psicológico, na formação teórica, nas
condições institucionais para a realização do trabalho e na situação emocional dos implicados no
processo judicial. Considera-se a especificidade da situação judicial, em que as pessoas não
escolheram a intervenção do psicólogo e estão numa posição defensiva, procurando prevalecer seus
interesses sobre terceiros, com quem, em geral, mantém vínculos afetivos conflituosos. [...]

Na atuação judiciária, a adequação dos instrumentos está relacionada à natureza do processo judicial
(verificatório, contencioso), da natureza e gravidade das questões tratados no processo (criança e
adolescentes em situação de risco), do tempo institucional (urgência, data de audiência já fixada,
número de casos agendados) e da livre escolha do profissional, conforme seu referencial técnico,
filosófico e científico. [...]
Os laudos devem, portanto, ser indicativos das políticas de atendimento necessárias à garantia de
direitos das pessoas atendidas e esmiuçar as possibilidades de mudança da situação-problema,
considerando a rede de relações dos implicados e dos recursos sociais de sua realidade. Os cuidados
para com a linguagem e a precisão no uso de termos e conceitos psicológicos são imprescindíveis para
uma comunicação clara, consistente e concisa nos laudos psicológicos." (BERNARDES In: CRUZ,
MACIEL, RAM 1 IREZ, 2005, p.71-80)

1 Resolução nº 007/2003 Conselho Federal de Psicologia

i Essas inferências de processos mentais a partir da observação do comportamento são chamadas de


constructos (ou, construções) psicológicas.

ii A escola gestáltica da psicologia surgiu na mente e suas influências no comportamento.

iii A escola psicanalítica surgiu em Viena no final do século XIX e início do século XX, com Sigmund
Freud. O objetivo inicial de Freud era o de desenvolver um método de tratamento para os casos de
neurose. Porém, as do inconsciente.

iv A escola behaviorista (do inglês behavior = comportamento) surgiu no início do século XX, nos EUA,
com John Watson. Seu

v Interdisciplinaridade: Segundo Japiassu (1976, p. 75) é “a colaboração entre as diversas disciplinas


ou.”

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