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Movimento relativo ao Centro de Massa

Caio Bianchi
Agosto 2020

1 Introdução
Nosso objetivo é analisar o momento linear e a energia cinética de um sistema de
duas partı́culas (m1 , ~v1 ) e (m2 , ~v2 ) - perceba que ~v1 e ~v2 não necessariamente são
unidirecionais - no referencial do centro de massa desse sistema, cuja velocidade
é dada por:
m1~v1 + m2~v2
~vcm =
M
Em que M ≡ m1 + m2 .

2 Momento Linear
O momento linear do sistema no referencial do centro de massa será dado por:

p~1,cm = m1~v1,cm

Onde ~v1,cm = ~v1 − ~vcm é a velocidade relativa da partı́cula (1) em relação ao


CM. Substituindo a relação acima:
   
m1~v1 + m2~v2 m1~v1 + m2~v1 − m1~v1 − m2~v2
p~1,cm = m1 (~v1 −~vcm ) = m1 ~v1 − = m1
m1 + m2 m1 + m2

Anulando termos simétricos, chegamos em:


m1 m2
p~1,cm = · (~v1 − ~v2 )
m1 + m2
Vamos definir as quantidades massa reduzida (µ) e velocidade relativa (~vr ):
m1 m2
µ≡
m1 + m2
~vr ≡ ~v2 − ~v1
É fácil ver, portanto, que:
p~1,cm = −µ~vr

1
Fazendo o mesmo procedimento para a partı́cula (2), chegamos a um resultando
interessante e importante:

p~1,cm = −µ~vr = −~
p2,cm (1)

Perceba que p~1,cm + p~2,cm = ~0

3 Energia
Seja E = T1 + T2 a energia cinética total do sistema no referencial inercial, ou
seja:
m1 v12 m2 v22
E = T1 + T2 = +
2 2
Podemos escrever v1 e v2 em função das velocidades relativas ao centro de massa.
m1 m2
E= (~v1,cm + ~vcm )2 + (~v2,cm + ~vcm )2
2 2
Desenvolvendo os produtos notáveis:
2 2 2
m1 v1,cm m2 v2,cm (m1 + m2 )vcm
E= + + + ~vcm · (m1~v1,cm + m2~v2,cm )
2 2 2
Note que m1~v1,cm + m2~v2,cm = p~1,cm + p~2,cm , que, pela equação 1 é nulo. Logo,
finalmente chegamos em:
2 2 2
m1 v1,cm m2 v2,cm M vcm
E = T1 + T2 = + +
2 2 2
Ou, ainda:

2
M vcm
E = T1 + T2 = T1,cm + T2,cm + (2)
2

Onde T1,cm e T2,cm são as energias cinéticas relativas ao centro de massa. Essa
equação deixa bem clara a dependência que o valor da energia tem do referencial
adotado: as energias medidas no referencial inercial e no referencial do centro de
massa diferem por um fator (de correção) de 21 M v cm 2 . Outra preocupação que
pode nos dar um resultado interessante é calcular a energia total no referencial
do centro de massa, ou seja, T1,cm + T2,cm = Ecm .

1 1
Ecm = T1,cm + T2,cm = m1 (~v1,cm )2 + m2 (~v2,cm )2
2 2
Substituindo as velocidades em relação ao centro de massa:
1 1
Ecm = m1 (~v1 − ~vcm )2 + m2 (~v2 − ~vcm )2
2 2

2
Inserindo no resultado acima a expressão da velocidade do centro de massa
(~vcm ) e desenvolvendo, chegamos em:
 2  2
1 m2 (~v1 − v~2 ) 1 m1 (~v2 − v~1 )
Ecm = m1 + m2
2 m1 + m2 2 m1 + m2
Mas sabemos que:
~v2 − v~1 = −(v~1 − v~2 ) = ~vr
Logo:
 2  2
1 −m2 v~r 1 m1 v~r 1 2 m1 m2 (m1 + m2 )
Ecm = m1 + m2 = v
2 m1 + m2 2 m1 + m2 2 r (m1 + m2 )2
Cancelando ”m1 +m2 ” e identificando o termo massa reduzida (µ), definido na
seção 2, chegamos finalmente a um resultado importante:
1 2
Ecm = T1,cm + T2,cm = µv (3)
2 r
A equação 3 nos permite reescrever a equação 2 da forma:
1 2 1 2
E = T1 + T2 = µv + M vcm (4)
2 r 2
Através da equação 4 vemos que a energia cinética total (no referencial em
repouso com relação ao C.M.) é a soma de duas parcelas: uma associada ao
movimento do centro de massa e a outra equivalente à de uma partı́cula de
massa igual à massa reduzida e velocidade igual à velocidade relativa.

4 Aplicações
1. Mostre que o calor dissipado em uma colisão com coeficiente de restituição ε
entre dois corpos com velocidades iniciais v~1 e v~2 e massas m1 e m2 é dado por:
1 m1 m2
Q= · (v~2 − v~1 )2 · (ε2 − 1)
2 m1 + m2
Faça casos limites, isto é, analise fisicamente os casos quando ε = 1 e quando
ε = 0.
2. Uma prancha de comprimento L e massa M está apoiada em uma superfı́cie
lisa horizontal; em sua extremidade encontra-se uma partı́cula esférica de massa
m. O coeficiente de atrito entre a esfera e a prancha é µ. Qual velocidade v
limite deve ser fornecida à prancha em um empurrão rápido para que a partı́cula
não caia?

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