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Quem guarda os guardas? Como se garante que os juizes não excedem a sua
função e se apropriam da Constituição?
è O sistema português não se enquadra em nenhum dos modelos típicos, mas tem as três
componentes:
o Fiscalização preventiva abstrata e concentrada – influência francesa, evitar que
leis inconstitucionais entrem em vigor. O Presidente recebe uma lei e tem três
alternativas:
§ Promulgar.
§ Vetar politicamente.
§ Requerer a ficalização preventiva, na qual o Tribunal Constitucional se
Recurso de amparo?
è Qual o conceito de direitos fundamentais e o que é que os distingue dos outros direitos?
è A mesma realidade pode ser vista numa perspetiva:
o Filosófica: inatos e inerentes – núcleo mais restrito, como diz Vieira de Andrade,
“núcleo de direitos de todos os homens, em todos os tempos e em todos os
lugares”.
o Internacional: catálogo de direitos do homem – de todos os homens em todos os
lugares, mas no tempo presente.
o Constitucional ou Nacional: direitos fundamentais – espaços geográficos mais
restritos, catálogo tendencialmente mais amplo do que é reconhecido
universalmente e, seguramente, mais amplo do que aquele que resulta dos
textos filosóficos desta matéria e remontam a autores como Hobbes, Locke,
etcetera.
è Esta aceção remonta, não à Grécia Antiga, mas, por ventura, a alguns autores
romanos (Cícero e Terêncio – nenhum homem pode ser estranho àquilo que é
humano), ao cristianismo (ideia de que todos os homens são filhos de Deus e têm- por
isso, a mesma dignidade). Mas, seguramente, ganha outras vestes com o iluminismo
com aqueles que são os grandes teóricos das revoluções liberais (Thomas Hobbes,
John Locke, etcetera).
è Esta ideia também está, profundamente, associada à igualdade entre os homens –
ideia do liberalismo – e conduz ao primeiro movimento de codificação de direitos
dos homens (mais ampla) e direitos dos homens e dos cidadãos (já pressupõe
constitucionalização).
è Num primeiro momento, nos momentos constituintes originais, não existe uma grande
diferença entre os direitos naturais, os direitos fundamentais e direitos dos cidadãos,
mas, progressimavemente, os catálogos vão-se expandindo.
Nota1: não confundir direitos com bens jurídicos que os direitos protegem, uma coisa é o direito
à vida (que pode ser atentado, mas a vida continua intacta) e outra coisa é a própria vida (pode-se
viver e morrer sem o direito à vida ter sido atentado). É fácil explicar quando o bem jurídico tem
base naturalística, é mais difícil quando o próprio bem jurídico seja uma construção do
Direito. Todos os bens precisam de construção jurídica, porque no Estado de natureza não há
direitos.
Nota2: não confundir os direitos fundamentais com as faculdades que os compõem. Muitas
vezes essas faculdades, na linguagem comum, designam-se direitos (ex.: direito de propriedade tem
várias faculdades, transmissão por morte para os herdeiros da propriedade, não ser despojado do
que é seu; o direito ao esquecimento e direito de acesso são faculdades do direito à proteção de
dados). A cláusula aberta também vale para o desdobramento de direitos antigos para novas
faculdades, e não só para novos direitos.
è A cláusula aberta aparece junto de uma remissão para a Declaração Universal dos
Direitos Humanos. Quer isto dizer que os direitos fundamentais têm sentido
universalista.
è Discute-se se esta Declaração Universal dos Direitos Humanos faz parte da
Constituição ou não, mas o que importa é que o artigo, que enquadra os direitos
fundamentais em Portugal no âmbito significativo da Declaração Universal dos Direitos
Humanos, significa que hoje em dia esta se configura em ius cogens, intergra o
núcleo restrito de direitos que não estão na disponibilidade dos Estados. Está
acima, hierarquicamente, da nossa e qualquer outra Constituição.
è A interpretação do direitos fundamentais tem que ser sempre sistemática e tem
que se ter em conta as normas jurídicas que estão acima da norma em causa. A própria
Declaração Universal dos Direitos Humanos é um limite ao poder constituinte e ao
poder de revisão constitucional, a própria Constituição reconhece essa superioridade.
è A evolução dos direitos fundamentais revela que têm uma característica de estarem
sempre em movimento, vão-se desdobrando à medida que vão surgindo novas
ameaças:
o Direito à vida reage conra as execuções sumárias (típico do regime Nazi).
o Integridade física reage contra a tortura.
o Habeas Corpus reage contra as prisões arbitrárias.
o Inviolabilidade do domicílio reage contra as buscas domiciliárias sem uma
autorização legal.
o Inviolabilidade da correspondência reage contra o controlo da PIDE nos correios,
entre outros.
o Liberdade de expressão reage contra a censura.
o Propriedade reage contra a expropriação e requisição.
o Direito ao emprego reage contra o despeimento sem justa causa.
o Direito à privacidade reage contra as máquinas fotográficas portáteis.
o Direito de autor reage contra as fotocopiadoras (Xerox na década de 70 e ainda no
Brasil) e gravadores de vídeo (VCR).
è Vão surgindo novos direitos que estão tutelados ao abrigo da cláusula geral do
artigo 16º (ex.: direito à identidade genética), mas também os direitos velhos se vão
desdobrando em novas faculdades (ex.: faculdade de esquecimento do direito à
utilização informática) e novas interpretações do próprio direito que, devido à
evolução tecnológica, são necessárias fazer face às novas ameaças.
Desenvolvimento funcional: a
multidimensionalidade dos direitos
fundamentais
Direitos a prestações
è Direitos dos indivíduos a exigirem prestações dos Estados (direitos políticos, mas não
são a prestações como os direitos sociais).
C C
è Relativamente às suas atuações, o Estado não tem o dever de proteção, tem o dever
de não fazer nada, não tem que proteger os direitos dos indivíduos contra si
próprio, tem um dever de abstenção. Mas tem o dever de evitar que outras pessoas
façam aquilo que o próprio está constitucionalmente proibido de fazer, o Estado
não perde a sua capacidade de lesar estas pessoas, por muito domesticado que esteja
o poder estadual nos dias de hoje (ex.: há sempre abusos policiais), tem que ter uma
conduta que não restrinja arbitrariamente os direitos das pessoas.
è Nem sempre o triângulo é perfeito:
1. Há casos em que a relação é meramente bilateral, não há propriamente um
agressor titular de direitos fundamentais, contra os quais o Estado possa e
deva agir. O agressor também pode estar fora da jurisdição do Estado (ex.:
hacker). O agressor e o lesado podem ser a mesma pessoa (condutas auto
referentes, suicídios, condutas prejudiciais para a saúde, desportos que podem
pôr em causa a integridade física, consumo de álcool e estupfacientes, etcetera).
2. Há relações mais complexas do que um triângulo, caso de consumo do
tabaco, não é necessariamente uma conduta auto referencial, há o problema do
fumador passivo, ainda existem as empresas que produzem e comercializam o
tabaco, a lei restringe os direitos do fumador para proteger o passivo, v.g. não
fumar em espaços fechados. Os comercializadores e produtores também estão
obrigados a fazer publicidade negativa (ex.: as fotografias nos massos de tabaco),
Princípio da Proporcionalidade:
è O artigo 18º nº2 da Constituição tem uma palavra chave: “salvaguardar”, é de alguma
forma proteção jurídica. O artigo não diz respeito a restrições, visa proteger todos os
direitos fundamentais, no fundo, só é possível restringir para salvaguardar, em
circunstâncias em que essa proteção seja necessária. O que comanda a restrição é
a necessidade de salvaguardar um direito.
è O artigo 18º faz ambas restrição dos direitos do agressor e proteção legal dos
direitos que são postos em causa (ex.: direito de manifestação que começam a atirar
pedras, a agredir e insultar os polícias, que também têm o direito à integridade fiísica – a
polícia não pode matar os manifestantes [proibição do excesso], nem manter-se à
distância sem fazer nada [proibição do défice]).
è Foi identificado muitas vezes como a proibição do excesso na doutrina alemã, está
exclusivamente pensada para as restrições, estas não podem ser demasiado
pesadas.
è Tem que haver, não só proibição do excesso, mas também do defeito ou défice, a
proteção insuficiente, a passividade também não são compatíveis com a proibição do
défice (ex.: ausência de proteção penal do homícidio [vinculação do legislador a
salvaguardar a vida face a potenciais condutas prejudiciais desta], caso a norma fosse
declarada inconstitucional, não é aceitável).
è Visa impedir o legislador de ir longe de mais, mas também o impede de impor
sanções demasiado ligeiras, ineficientes – dupla vertente deste princípio. É uma
primeira linha de controlo.
è O conteúdo essencial do direito é uma segunda linha de controlo, tem que ser
sempre salvaguardado, segundo do 18º nº3, é um limite da restrição, uma imposição na
salvaguarda – mínimo dos mínimos (ex.: caso de greve nos transportes, tem que
haver sempre um número mínimo de transportes a circular, para respeitar os direitos
dos utilizadores dos mesmos).
Organização:
Eficácia irradiante:
Garantia institucional
è Por exemplo o direito à vida, a não ser executado pelas autoridades judiciais ou, no
caso portugues, a não ser condenado à morte.
è Mas não apenas isto, pois também tem que haver um conjunto de condições materiais
mínimo que garantam a sobrevivência, v.g. alimentos e rendimento mínimo para não
morrer à fome, neste sentido é um direito positivo também.
è O direito à saúde exige prestações do Estado e dos seus serviços na relação com os
seus cidadãos, essencialmente os doentes. Mas uma campanha de vacinação
obrigatória já passa a fronteira para um sentido negativo do direito, ou seja, as pessoas
têm a pretensão de recusar a vacinação, invocando o direito à saúde (se houver dúvidas
sobre os efeitos secundários da vacina); política que obriga a fazer determinados tipos
de exames médicos, há exames que pressupõe radiações, por isso as pessoas podem
recusar intervenções médicas, cirúrgicas, exames, etcetera. Aproxima-se muito do
direito à integridade física.
è Por exemplo o direito à habitação, direito dos cidadãos a exigirem uma habitação ou,
pelo menos, apoio do Estado no acesso à habitação. Mas a generalidade das pessoas
não precisa disso, para estas pessoas o direito à habitação é negativo – recusa –,
pressupõe o direito a não ser privado arbitrariamente da sua habitação (ex.: tanto pelo
senhorio, como, se eu for proprietária, pelo Estado na execução do meu património por
dívidas).
è Todos os direitos implicam prestações, mas os direitos sociais são direitos com
uma dimensão, seguramente, positiva, são direitos a prestações, é aqui que está a
diferença. A questão está em saber onde estão as prestações.
è Nos direitos sociais as prestações estão no núcleo, pois estes são direitos a
prestações.
è Nos direitos civis e políticos as prestações estão a seguir ao núcleo, também têm
prestações, mas têm uma função mais secundária e auxiliar às faculdades que estão
no núcleo.
è Os direitos civis são subjetivos; os direitos sociais estão sob uma condição ou
reserva do financeiramente possível.
è Os direitos sociais pressupõe amplos recursos financeiros, mas é possível limitar o
conteúdo destes direitos, por exemplo, substituindo a regra da universalidade de
atribuições, pela regra da seletividade, isto é, não signfica que todos os indivíduos
tenham que receber do Estado todas as prestações em todos os domínios. A
generalidade tem capacidade para aceder, no mercado, a prestações nesse domínio. O
papel do Estado é conceder a pessoas previamente selecionadas, que não
conseguem aceder a esses bens jurídicos sem apoio público – reduz o encargo dos
direitos sociais.
è Há quem encare, sobretudo na Alemanha, os direitos sociais como direitos de quota
parte, ou seja, como os recursos são limitados, o direito social significa o direito a
aceder, através de um procedimento justo, a um determinado bem.
o Na Alemanha o Tribunal decidiu um caso estabelecendo o numerus clausus,
procedimento justo de acesso, o direito social não garante a todos uma fatia do
bolo, mas sim um processo justo para aceder a uma no fim, ou não (ex.: acesso à
universidades pública de medicina não é absoluto para todos; o direito à saúde não
significa que todas as pessoas que precisam de um transplante de órgãos tenham
acesso a um, estes são escassos e, por isso há uma lista de espera com fatores de
prioridade). Uma das consequências é o respeito pela equitatividade, o princípio
da igualdade e os outros princípios constitucionais, proteção contra todas as
formas de discriminação no acesso aos bens disponíveis.
è Há diferenças entre estas categorias de direitos, mas não é radical. Há muitas zonas
cinzentas nesta distinção e dentro de cada uma destas categorias de direitos
também há diferenças significativas (ex.: dentro dos próprios direitos civis e políticos
há diferenças significativas e nos direitos sociais também – os direitos civis e políticos
são eles próprios muito diferentes, ninguém vota sem organização das eleições).
è Os típicos direitos sociais não são mais positivos que os direitos civis e políticos. Nos
direitos sociais os recursos são finitos, nos políticos e civis não (o número de
votos não é limitado – não deixam de ser direitos políticos em que se espera que o
Estado organize as eleições e as campanhas eleitorais). Os próprios direitos,
liberdades e garantias (civis e políticos) não são a mesma coisa, as garantias são
instrumentais de outros direitos (a punição da pena de morte é uma garantia do
direito à vida). Nos direitos sociais há direitos universais e há direitos de pessoas
especialmente vulneráveis, desprotegidas (ex.: os direitos das crianças, idosos,
deficientes).
è Há um catálogo de direitos fundamentais que não tem dois direitos iguais,
independentemente da sua natureza. Há alguns direitos que a própria
Constituição consagra divididos pelos dois títulos (ex.: direitos, liberdades e
garantias – direitos dos trabalhadores ao não despedimento sem justa causa,
integridade física; respetivamente, direitos económicos, sociais e culturais – direito ao
apoio de desemprego, direito à saúde).
è Atribuição ou adjudicação dos direitos fundamentais, isto é, que sujeitos têm acesso a
esses direitos.
NOTA3: a proteção diplomática e consular está regulada por um regime jurídico razoavelmente
detalhado. A proteção consular é mais uma proteção de apoio em situações de calamidade,
infurtunio e outras. A proteção diplomática é uma proteção que diz, essencialmente, respeito a
situações em que os cidadãos do Estado enfrentam a justiça do país de acolhimento, ou são
alvo de medidas duras, como por exemplo, expropriatórias, ou afins, dos seus bens (ex.: processos
que possam conduzir à pena de morte noutros países, esses países tem a obrigação de notificar
os respetivos serviços diplomáticos e consulares para que possam exercer a proteção
diplomática e consulares [o EUA não têm feito isso e têm condenado à morte muitos cidadãos
estrangeiros]; nacionalizações, empresas cujos os bens, num determinado Estado, são
nacionalizados, sem indemnização e por governantes não inteiramente legitimados num ponto
de vista democrático, o Estado intervém em defesa do direito de propriedade das empresas do
respetivo país).
è O artigo 18º nº1 da Constituição diz que os direitos, liberdades e garantias são
diretamente aplicáveis. Trata-se de uma reação contra o passado (Constituição de
1933, os direitos fundamentais eram meras proclamações políticas), consagrava um
conjunto significativo de direitos fundamentais e remetia para o legislador ordinário (que
não era um legislador democrático) a sua regulamentação, o modo concreto de
exercício que, na prática, acabava por suprimir esses direitos (também a Constituição
de Bona reage contra a Constituição de Vaimar alemã que permitiu a subida de Hitler
ao poder).
è Afirmação de recusa de um modelo jurídico passado, em que se diz hoje que os
direitos, liberdades e garantias valem na ausência de lei e mesmo contra a lei. Os
direitos fundamentais não vivem à margem da lei.
è O artigo 18º nº1 diz que vinculam as entidades públicas, mas as entidades
públicas já estão sujeitas à totalidade da Constituição, segundo o artigo 3º nº3.
O artigo 18º nº1 tem que dizer mais qualquer coisa do que o que já resulta do
artigo 3º nº3.
è O artigo refere-se ao Estado e todas as entidades públicas (fuga para o direito
privado [utilização mais tendencial de formas jurídicas de direito privado], limitação
intransponível, não há fuga quanto aos direitos fundamentais), todas as funções
do Estado a começar pela política, mas também a legislativa, a administrativa e a
jurisdicional.
è Na função política: a vinculação significa, antes de mais, que o Governo não pode
negociar Convenções Internacionais contrárias aos direitos fundamentais. A
Assembleia da República não pode aprovar Convenções Internacionais contrárias
aos direitos fundamentais. O Presidente da República não pode ratificar
Convenções Internacionais contrárias aos direitos fundamentais. O Estado
português não pode integrar Convenções Internacionais contrárias aos
è Quais os bens jurídicos que têm que ser protegidos através destes deveres Estaduais:
o Direitos passíveis de vincular os privados, por exemplo, não faz sentido falar de
habeas corpus. Direitos negativos, idóneos a produzir efeitos nas relações
entre privados (ex.: vida, saúde, integridade física, privacidade).
o Também deve proteger os direitos das gerações futuras? Já adiantado supra.
o Perigos causados pelo próprio titular do direito (ex.: fumador, mas há
fumadores passivos, há outros agressores: empresas que produzem e outras que
comercializam, outras que permitem que se fume nos seus estabelecimentos, o
Estado cobra os impostos), infra.
è Que influência têm na definição, dos deveres estaduais de proteção, as características
dos bens jusfundamentais ameaçados dos respetivos titulares?
o Admite-se a existência de uma ordem de valores constitucional – a ordem é
razoavelmente flexível até meio da tabela, mas quanto mais elevada a posição
de um bem jurídica na ordem de valores constitucional, maior é a proteção.
o Se forem as lesões reversíveis, é conjeturável um sistema de proteção à
posteriori – quanto mais acentuada a irreversibilidade das lesões, mais
intenso é o dever de proteção.
o Quanto maior a fragilidade do titular do direito, mais intensa é a necessidade
de proteção.
§ Este problema de proteção surgiu com o tema do aborto.
Reserva de lei:
è De acordo com o artigo 165º nº1 b) as restrições têm que ser feitas por Lei da
Assembleia da República ou por Decreto-Lei autorizado. Contudo, não podem ser
leis puramente formais, têm que ter um nível de densidade que permita afirmar que,
quem restringe, é o legislador, não podem ser cheques em branco passados à
Administração, Tribunais ou privados.
è A lei tem que ter uma regulação da matéria suficientemente densa, para se dizer que
o essencial dos elementos da restrição é definido pelo legislador, designa-se por
princípio da determinabilidade da lei, isto é, perante aquilo que está exposto na lei, os
respetivos destinatários têm que conseguir extrair, com alguma segurança, as
consequências quais para si e para os seus interesses na aplicação da lei
restritiva.
è Não pode ser uma cláusula legal, nem ter conceitos muito indeterminados (ex.: “atos
sexuais de relevo”, levaria à necessidade de uma tipificação destes atos), se não, a lei
de restrição não é válida. Também não pode ser uma mera lei habilitante para um
regulamento independente, também não pode haver deslegalização, uma vez legislado.
è No que diz respeito à Administração, a discricionariedade administrativa deve ser
reduzida\limitada.
Princípio da proporcionalidade:
Generalidade e abstração:
Irretroatividade:
Harm principle
è A única vez que pode ser exercido contra a vontade do titular é para evitar
prejuízos para terceiros (ex.: vacinação).
è “A única finalidade pela qual o poder pode, de pleno direito, ser exercido sobre um
membro da comunidade política contra a sua vontade, é a de evitar que prejudique
outros. O seu próprio bem, físico ou moral, não é justificação suficiente. Ninguém
pode ser obrigado justificadamente a praticar ou a não praticar determinados actos,
porque isso seria melhor para si próprio, porque o faria mais feliz, ou porque, na opinião
dos demais, isso seria mais acertado ou até mais justo. A única parte da conduta de
cada pessoa pela qual está é responsável perante a sociedade é aquela que se
refere aos outros. Na parte em que apenas concerne a si mesma, a sua independência
é, de direito, absoluta. Sobre si mesmo, sobre o seu próprio corpo e mente, o
indivíduo é soberano” – Stuart Mill, “On liberty”.
è Via suis generis de proteção dos direitos fundamentais levada a cabo por autoridades
administrativas independentes. São entidades administrativas muito específicas, não
integram a administração direta, indireta ou autónoma, que estão sempre sujeitas a
poderes de direção, tutela e superintendência por parte do Governo [artigo 199º d)].
è Segundo o artigo 267º nº3, a lei pode criar entidades administrativas
independentes, mas a Constituição também pode criar entidades que não estão
sujeitas a poderes do Governo. Não têm exatamente a mesma natureza.
è A mais importante é o Provedor de Justiça (artigo 23º), tem a função de defesa dos
cidadãos em face das instituições públicas para tutela dos respetivos direitos,
esta é uma competência genérica para todos os direitos fundamentais. Não tem
poderes decisórios, ele formula recomendações, mas estas têm poder significativo.
Como é nomeado pela Assembleia da República, estes últimos tinham um perfil
demasiado suave nos últimos anos.
è Há outras entidades administrativas independentes que têm competências
específicas para a tutela de determinados direitos:
o Artigo 35º – Comissão Nacional de Proteção de Dados.
o Artigo 38º – no domínio da Comunicação Socia há a Entidade Reguladora da
Comunicação Social, visa proteger a privacidade, bom nome e reputação, não é
saudável a sua politização.
o Artigo 48º e seguintes – Comissão Nacional de Eleições, proteção dos direitos
políticos – uma parte significativa é composta por Magistrados.
o Artigo 92º – Conselho Económico-Social, importante para os trabalhadores, uma
vez que faz as negociações entre trabalhadores e empregadores.
o O próprio Ministério Público, com vocação suis generis, anda a paredes meias
com a função administrativo e jurisdicional – evolução clara para o reforço da sua
independência.
Direitos a prestações
è Podemos falar dos direitos sociais num sentido histórico da expressão e aí começa-
se pelos direitos dos trabalhadores, como direitos de classe que visavam protegê-
los na sua relação com o empregador.
è Na Constituição há direitos dos trabalhadores quer do lado dos direitos, liberdades e
garantias, quer no lado dos direitos económicos, sociais e culturais. O critério é um
critério estrutural.
è Tendencialmente aparecem como direitos positivos, como direitos a prestações por
parte do Estado (podem ser materiais [educação ou saúde] ou pecuniárias
propriamente ditas [Segurança Social]), em que a Constituição fixa, por regra, em
termos universais a titularidade do direito e, depois, estabelece um conjunto de
incumbências do Estado para a concretização desses mesmos direitos. Neste
quadro, os direitos dos trabalhadores aparecem entre os que têm estrutura negativa
(ex.: direito à greve ou não ser despedido sem justa causa) e os que têm estrutura
positiva (ex.: subsídio de desemprego, direito a condições de higiene e segurança no
local de trabalho).
è Não é o único caso em que, no conjunto temático de direitos, aparece repartido, como
acontece no direito à educação.
è Há, portanto, um critério histórico (identifica os direitos sociais como os direitos dos
trabalhadores) e um critério estrutural (olha para os direitos como direitos a
è Nem sempre os direitos sociais significam direitos a prestações. Na maior parte dos
casos são direitos derivados a prestações, isto é, a subjetivação do direito não surge
apenas da norma constitucional, supõe uma concretização legislativa.
è Pode ser visto na perspetiva de pessoas particularmente frágeis ou carenciadas, não
são, necessariamente, universais. Pois, depois dos direitos sociais, há a família, a
juventude, os deficiente, os idosos, etcetera. Estes não são universais como os do início
do catálogo dos direitos sociais, são, sim, dentro de cada uma das suas categorias (os
direitos dos idosos são universais a todos os idoso; os direitos de maternidade não
podem ser invocados por quem não têm filhos).
è Estes grupos necessitam de uma especial proteção que estes grupos têm no conjunto
da população.
Proibição do retrocesso?
è Aquela ideia era usada em conjunto com uma outra, que se designava, normalmente,
por proibição do retrocesso, ou proibição do retrocesso social.
è Esta tem uma origem claramente marxista e, no fundo, estava associada à ideia de
que a história tem um caminho pré-definido de emancipação dos trabalhadores e
melhoria de condições de vida destes.
è No fundo, estas ideias, reserva do financeiramente possível e proibição do
retrocesso, são inconciliáveis uma com a outra. Para se proibir o retrocesso é
preciso ter garantido que os recursos financeiros crescem sempre, o que não é
verdade.
è Esta ideia de “transição para o socialismo”, “irreversibilidade das nacionalizações” que
aparecia nalguns preceitos constitucionais, acabou por ser reduzida no seu alcance.
è Há um acórdão do Tribunal Constitucional de 1984 que foi redigido por Vital Moreira,
militante do partido comunista, a propósito do serviço nacional de saúde, que não
existia, mas cuja existência a Constituição impunha – houve uma lei que impunha a
existência e o Governo seguinte revogou essa lei, o legislador não pode desfazer ou
incumprir o que já tinha feito – esta ideia foi difícil de sustentar.
o Não há uma proibição do retrocesso absoluta, apenas relativa.
o O que não pode haver é um retrocesso sem justificação ou fundamentação.
è Esta ideia foi perdendo fôlego e a jurisprudência foi reduzindo esta figura, vindo a
sustentar um outro princípio que se designa: princípio da proteção da confiança.