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JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL
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Há autores que, inclusive, fazem um paralelo entre essa especificidade e a ideia
de um quarto poder. Há quem entenda que a figura do poder moderador seria uma
espécie de embrião histórico do que chamamos de jurisdição constitucional.
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desse primeiro controlador, esse segundo passará a ter a última palavra (e quem fará o
controle?).
Porém, se se coloca que esse poder soberano tem limites, haverá algum
momento de tensão: ou a soberania se sobreporá aos limites (isso significa dizer, em
última análise, que não há limites); ou a vontade da maioria é válida até determinado
ponto. Por isso, ambos os conceitos, se forem radicalizados, significarão uma
vulneração recíproca (um vai vulnerar o outro, se sobrepondo ao outro em eventual rota
de colisão).
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respeitados limites mínimos (assim, não se confere uma liberdade absoluta; mas,
também, não se sufoca a democracia com limites excessivos).
Tudo o que foi dito se conecta com a seguinte ideia de Bobbio: o jogo é a
democracia, os jogadores são os agentes políticos (todos os agentes que vivem a
realidade constitucional, em um conceito amplo, que inclui os particulares) e o manual
de regras é a CF. Nesse caso, quem é o árbitro do jogo? A jurisdição constitucional.
Então, quem define como o jogo deve ser jogado, à luz de sua interpretação
constitucional, é a jurisdição constitucional.
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que vivemos, que surjam tensões entre esses dois polos, vale dizer,
entre os direitos fundamentais de uma minoria e a vontade da
maioria. É disso, precisamente, que trata a presente demanda, na
qual se contrapõem interesses dos povos indígenas e a vontade (ao
menos potencial) do Congresso Nacional.
PODER LEGISLATIVO
- composto por representantes do povo;
- as decisões emanadas do Poder Legislativo são emanadas da vontade
majoritária do povo;
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JURISDIÇAO CONSTITUCIONAL
- membros não eleitos pelo povo;
- déficit de representatividade popular;
- essa decisão NÃO é fruto de representantes eleitos pelo povo – logo, nesse
sentido, não é representativa.
Mas isso resolve o problema? Não. Isso porque, mesmo as EC’s criadas nesse
contexto, podem ser objeto de controle de constitucionalidade, e, portanto, de
interpretação do STF (é uma espécie de “ping-pong”). Assim, as EC reprogramadoras
têm limites e estão sujeitas à jurisdição constitucional.
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ADI 2860 (Min. Sepúlveda Pertence).
Neste ponto, o professor faz um parêntese: essa ideia de textura aberta está
diretamente ligada à ideia de princípios. Quanto maior a carga principiológica, maior
será a textura aberta da CF (maior será a carga axiológica da Constitucional; e, por via
de consequência, maior será o poder do intérprete). Os princípios constitucionais têm
alto grau de abstração e baixa densidade normativa; enquanto que as regras têm
baixo grau de abstração e alta densidade normativa (ex.1.: dignidade da pessoa
humana – conceito muito “poroso”; ex.2: matar alguém – regra art. 121, CP – cuida-se
de situação delimitada).
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princípios constitucionais que, em última análise, são definidos e interpretados pelo
próprio STF. Uma CF com uma carga axiológica valorativa muito elevada significa uma
potencial concentração de poderes nas mãos da jurisdição constitucional. Cai-se num
risco chamado de “ditatura judicial”, que tem uma roupagem de legitimidade
institucional. Uma ditadura militar, por natureza, já tem uma roupagem de
ilegitimidade. O problema de uma ditadura jurisdicional é que ela se reveste de uma
roupagem de legitimidade institucional.
Evolução histórica
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Constituição Americana, Bill of rights, Declaração Francesa dos Direitos do Homem e
do Cidadão e Constituição Francesa: no entanto, no modelo francês, a primazia continua
com o Parlamento (a CF é vista como carta de intenções). Tanto é que a França não
adota, desde já, um modelo de controle de constitucionalidade, porque não vê, na CF, a
força que os EUA enxergam.
No início do sec. XIX, o caso Marbury X Madson, traz esse reforço da força
normativa da Constituição, mas, nessa época, ainda vemos algumas decisões americanas
em um contexto de escravidão. O fenômeno mais global de força normativa da CF
acontece ao longo do sec. XX, mais especificamente a partir de 1920, com Kelsen, na
Áustria; e, especialmente, após a 2GGM com o pós-positivismo e o
neoconstitucionalismo.
1881-1973
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a posição hierárquica superior (na pirâmide “kelseniana”, a CF está em seu ápice, tendo,
ainda, acima de si, uma norma hipotética fundamental). Nesse sentido, a interpretação
da CF segue os mesmos critérios clássicos de interpretação das demais leis. Nos
utilizamos dos métodos tradicionais (histórico, teleológico, gramatical, sistemático,
etc.). A interpretação constitucional é meramente subsuntiva (a norma incide sobre o
fato nela descrito). Nessa realidade, o juiz é mera “boca da lei”, de mero revelador da
norma (não tem função criativa).
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O positivismo entende o direito como ciência própria, com características
próprias, que, por sua vez, se assentam dentro da norma positivada, da norma posta.
Nesse sentido, não cabe a nenhum intérprete analisar nenhum viés interpretativo
(qualquer elemento extrapositivo ou suprapositivo), pois isso não seria Direito (seria
moral, ética, etc.).
Visão positivista: você, como juiz, enxerga as normas aplicáveis aos casos,
percebendo, ao final, duas alternativas juridicamente válidas. Qual das 2 soluções deve
ser usada pelo intérprete? Bom senso, bem estar social, dignidade da pessoa humana etc.
estão fora do Direito. Dentro dessa moldura normativa, o aplicador do Direito pode
escolher qualquer solução – ou a A ou a B são legitimamente válidas, pois são
compatíveis com o Direito posto. O que internamente levou o juiz a escolher uma ou
outra alternativa é um problema não-jurídico (é um problema da Ética, da moral, etc.).
Isso leva a uma discricionariedade – dentro da moldura normativa, o aplicador tem
plena discricionariedade.
Dentro dessa lógica, se poderia afirmar que o legislador cria Direito, quando
elabora uma norma, dentro da margem dada pela norma superior, que é a CF. E o juiz
também cria Direito quando cria a norma do caso concreto, dentro da moldura
normativa. Então, a decisão do juiz é um ato cognitivo, no sentido de que cabe ao
magistrado conhecer a norma (ele conhece a norma e dentro da moldura normativa traz
uma decisão). Mas é também um ato volitivo, porque ele vai escolher, dentro da
moldura normativa, uma das soluções possíveis. Então, a atividade volitiva na
interpretação constitucional, que é reconhecida por Kelsen, influenciará a atuação do
intérprete. O juiz constitucional tem um ato de vontade a partir do momento em que ele
faz uma escolha válida. Mas essa escolha é um problema teórico que o positivismo não
resolve, porque ele está fora do Direito (é uma questão não jurídica).
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vou reclamar com você, você responde – ué, mas eu não falei! Você disse que eu não
podia falar; eu simplesmente escrevi o que me passou em um papel. Escrever não é
falar. Por isso, sua conduta foi legítima.
Eventuais valores morais não devem ser trazidos para o debate jurídico. O
positivismo não deixa de reconhecer a moral. Ele apenas acredita que a moral faz parte
de outro campo de estudo. Numa perspectiva não moral, no caso do exemplo citado, não
há nada de errado (interpretação formal não valorativa), vez que a pessoa seguiu o meu
comando (não falou a informação para os outros). Mas, do ponto de vista moral, ela
violou o valor de guardar a informação.
OBS.: alguns positivistas mais radicais não aceitam sequer a ideia de uma
interpretação teleológica. E há quem sustente a ideia de interpretação teleológica
desprovida de fundamentos valorativos.
AULA 2.
1931-2013
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O autor defende uma leitura moral da CF, partindo da ideia de uma
fundamentação moral e universal dos direitos fundamentais. O pensamento do autor
entende o constitucionalismo e o judicial review (revisão judicial ou controle judicial
de constitucionalidade) como uma espécie de “garantia” desses direitos fundamentais
em relação a maiorias legislativas ocasionais. No nosso último encontro, o professor
deu exemplos que evidenciam a formação de uma maioria eventual, o que pode levar a
decisões que, em última análise, se voltem contra o próprio povo.
O constitucionalismo tem o papel de defender os direitos fundamentais frente a
essas maiorias ocasionais, eventuais.
A fundamentação moral desses direitos fundamentais vai legitimar um papel
mais construtivo, mais ativista da jurisdição constitucional. A lógica desse pensamento
acaba sendo predominante nos EUA entre 1753 e 1786 / “Era Warren”– exemplos de
ações afirmativas, proteção de grupos vulneráveis a partir de um ativismo judicial.
Ao defender que a CF deve passar por uma leitura moral, o autor defende que o
ordenamento jurídico é um sistema composto de regras e princípios, onde esses
princípios têm uma valoração moral, e, exatamente nesses princípios morais é que
o magistrado deve buscar a sua fundamentação, principalmente para resolver os
hard cases. Essa ideia de valoração moral se insere no contexto mais amplo chamado,
por alguns, de “virada Kantiana”, sobretudo pós 2º GGM. É A
REVALORIZAÇÃO DAS IDEIAS DE KANT, O QUE GERA UMA
APROXIMAÇÃO ENTRE DIREITO E MORAL.
Neste ponto, o professor retoma a ideia de “imperativo categórico”, que
decorre da razão. É uma espécie de “regra universal que determina que o homem
deve agir de tal modo que sua conduta possa ser universalmente aceita” – de forma
que a conduta do ser humano seja elevada a uma “máxima universal”. Essa ideia de
“imperativo categórico” pode ser trazida para o Direito para falar em uma espécie de
“imperativo categórico jurídico” (não só moral). Para se chegar nesse imperativo
categórico jurídico, é preciso entender a ideia humanista de Kant, que sustenta que o
homem é um fim em si mesmo. Não é o Direito que se autolegitima (como defendido
pelo positivismo - ”teoria escalonada do ordenamento jurídico”, em que uma norma
busca o seu fundamento de validade na norma imediatamente superior), mas, sim, a
ideia de que o homem é um fim em si mesmo. Nesse sentido, o fundamento final do
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Direito é o ser humano. É o ser humano que é o fundamento de validade do Direito (e
não o direito que se fundamenta em si mesmo). E qual o princípio traduziria essa ideia?
O princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III da CF 88). Esse princípio passa
a ser uma espécie de “valor fonte” ou de “centro gravitacional do Direito” – o
Direito orbita em torno da dignidade da pessoa humana.
O ser humano é o fundamento último de validade de todas as coisas e do próprio
direito. Daí a juridicização desse conceito na formatação do princípio da dignidade da
pessoa humana. Por via de consequência, se pode afirmar que esses direitos de conteúdo
moral e legitimados no ser humano não podem ser relativizados em favor de uma
maioria eventual, não podem ser relativizados diante de um “projeto coletivo de
bem comum”, porque esse projeto não tem fundamento em si mesmo. Isso poque todas
as coisas buscam o seu fundamento último de validade no ser humano. Logo, se,
eventualmente, esse projeto estiver em contrariedade com valores morais humanos, esse
projeto deve ceder espaço à dignidade, mesmo que se cuidem de leis elaboradas pelos
representantes do povo (mesmo se cuidem de maiorias legislativas).
Como esses valores morais se cristalizam na CF? Por meio dos princípios e dos
direitos fundamentais. Por isso é que muitos autores afirmam que os direitos
fundamentais têm uma carga axiológica, uma carga principiológica (uma carga
valorativa, que decorre da dignidade da pessoa humana). Por isso é que muitos
aspectos da interpretação constitucional de princípios também são utilizados para os
direitos fundamentais. Por isso é que, quando se utiliza a expressão “ponderação,
sopesamento”, se fala em ponderação de princípios, bens e valores. E esse sopesamento
pode ser usado quando direitos fundamentais entram em rota de colisão.
Assim, a moral se cristaliza no direito através dos princípios. Como os seres
humanos vivem em uma comunidade que é permeada de valores morais, vivemos em
uma comunidade de princípios (pois somos agentes morais, que são regidos por valores
morais, que são manifestados na forma de princípios).
Se esses princípios são valores morais, esses valores são manifestados através
do Direito, e não em decorrência do Direito. Ex.: no D. Americano, as leis e os
precedentes judiciais não geram princípios, mas apenas manifestam os princípios. Por
isso é que não é difícil entender, dentro dessa concepção, que um princípio pode ser
explícito ou implícito. Ora, se um princípio não existe “por causa”, e, sim, através, ele
pode ter existência implícita.
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Resumo: direitos fundamentais são direitos morais. Esses valores morais se
manifestam através de direitos fundamentais, e, por isso, estes têm uma carga
axiológica.
Essa lógica leva a uma postura do julgador mais ativa, mais construtivista, mais
criativa em relação à interpretação. Isso porque, “no final do dia”, o que o juiz deve
buscar é uma fundamentação principiológica. Porque esses princípios carregam os
verdadeiros valores morais, que, por via de consequência, carregam os valores morais
de toda ação humana.
Por isso é que a lógica do pensamento subsuntivo não se aplica aqui (típica do
positivismo). Para uma lógica de regra, isso pode até funcionar. Mas para uma lógica
fundamentada em princípios, o método subsuntivo perde relevância, ante a carga
axiológica dos princípios.
Isso fica mais evidenciado quando o juiz (sobretudo o juiz constitucional) se
depara com os chamados “hard cases”, ou casos difíceis, ou casos complexos. Ex.:
fulano matou beltrano. Não há, aqui, um caso difícil. Nestes, não se encontra uma
descrição clara e evidente sobre a situação concreta. Então, se vai buscar nos princípios
a fundamentação. No pensamento positivista, se o magistrado se depara com uma
situação, e, dentro da moldura normativa, verifica a existência de mais de uma solução
para o caso, ele pode se valer de qualquer delas legitimamente. Isso porque qualquer
delas tem uma fundamentação normativa, e, portanto, válida. O que levou o juiz a
decidir dessa ou daquela forma "não é um problema do direito”, mas, sim, de “fora” do
Direito (é uma questão da ciência política, da filosofia, etc.). Essa linha leva a uma
discricionariedade? Sim, porque, dentro da moldura normativa, o juiz pode escolher
qualquer das soluções possíveis. Isso é o que importa juridicamente.
Ao contrário, para Dworkin, não há essa discricionariedade dentro da moldura
normativa. Isso porque se o juiz deve buscar uma fundamentação em princípios, ele está
limitado a eles. Ainda que não haja uma regra clara, o juiz não poderá partir de escolhas
de sua vontade (ato volitivo) de escolher uma solução dentro de uma moldura. Ele
partirá dos princípios para encontrar a solução adequada ao caso. Regra: tudo ou nada.
Princípios: valoração.
Isso pode levar a algumas críticas: o juiz concebido pelo autor é um “juiz
Hércules” (sobre humano), porque o magistrado teria que necessariamente pensar em
princípios e nos valores existentes por trás desses princípios. Para ele, os juízes devem
ser filósofos, mas não no sentido da profissão em si, mas, sim, no sentido de que devem
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ser obrigados a pensar filosoficamente. Ora, diante da realidade extremamente
complexa e de uma enorme quantidade de casos, seria extremamente impossível que o
juiz pensasse filosoficamente em todos os casos dispostos à sua apreciação. Nem todo
juiz terá condição de tempo para tanto (limitação temporal); ademais, há uma limitação
de pensamento, de formação (nem todos os juízes são preparados para pensarem
filosoficamente todos os casos).
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ainda que seja contrária à vontade da maioria. É uma decisão democraticamente
constitucional, ainda que seja contramajoritária.
Ao declarar a inconstitucionalidade de uma norma, essa decisão fortalece a
democracia. Está se dizendo que essa declaração corrobora com a democracia, a
fundamenta ainda mais.
Dito de outro modo: direitos fundamentais constituem uma exigência
democrática e não uma limitação contrária à democracia. São condições da própria
democracia. Não se concebe democracia sem direitos fundamentais. É a democracia
constitucional, e não a democracia puramente majoritária! Nenhuma decisão
democrática pode ser democrática e contrária a um direito fundamental. Na democracia
constitucional, os direitos fundamentais são condições de exercício e de manutenção da
própria democracia.
Isso tudo nos leva a dizer, por exemplo (como no pensamento de Robert Alexy),
que os direitos fundamentais, dentro de todo esse raciocínio, representam uma
“desconfiança” em relação ao legislador, em relação ao processo legislativo, porque
retira dele o poder de decidir sobre determinadas materiais. Afinal, algumas matérias
são protegidas sob a ótica dos direitos fundamentais.
Em resumo: DWORKIN – DIREITOS FUNDAMENTAIS A PARTIR DE
UMA VALORAÇÃO.
Uma das críticas feitas a Dworkin é a de que o seu pensamento pode levar a uma
“ditadura do Judiciário”, que se reveste de aparente legitimidade (dá-se um enorme
poder interpretativo ao juiz constitucional). Há quem faça uma conexão entre as ideias
de Dworkin e de Platão, que defendia a governabilidade pelos sábios (filósofos da
época).
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1921-2002.
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Rawls não ignora que cada pessoa possa ter sua própria concepção de bem, de
justiça. OBS.: toda vez em que se ouve o termo “pluralismo”, se deve pensar na
coexistência de mundividências distintas. O autor não ignora o pluralismo da
sociedade- cada indivíduo, por ser racional, pode ter a sua concepção de bem e de
justiça. Mas ele avança para entender que, através do uso público da razão, possa ser
realizado um consenso obtido por sujeitos que são livres, iguais e racionais, que por sua
vez, por um consenso (consenso que se sobrepõe a essas visões individuais), podem
chegar a uma concepção ampla e aceita (overleping consensus ou consenso
sobreposto) – mesmo com as concepções particulares, pela razão pública, os indivíduos
poderiam chegar a uma espécie de “concepção mínima de justiça”. A respeito dessa
noção básica de justiça, não haveria divergência.
Pelo consenso sobreposto, chegamos à formulação de princípios básicos de
justiça e de direitos fundamentais, que serão reconhecidos no plano constitucional e que
se sobrepõem a todas as diferenças ou concepções individuais (princípios “aclamados”
por uma sociedade composta por indivíduos livres, iguais e racionais).
Ele pressupõe a capacidade dos indivíduos de superar as suas concepções em
nome de uma concepção que se sobrepõe. A crítica que se faz é que, na teoria de Rawls,
se deve partir do pressuposto de que isso é possível. Outra crítica que se faz é a de essa
posição original é, na verdade, inexistente. Não há como os indivíduos partirem uma
“base zero”, despidos de suas concepções, de seus vieses.
A partir do autor (elementos constitucionais básicos, mínimo composto a partir
de um consenso), a CF é uma CF “garantia”, que é aquela que foca no mínimo para
garantir a vida em sociedade, a ordem do Estado. Essas CF se preocupam com a
organização do Estado e com as liberdades individuais (os direitos sociais já iriam além
desse mínimo).
Como a jurisdição constitucional se manifesta? A jurisdição constitucional é a
sede da razão pública. Pela razão pública se chegará a esse consenso sobreposto, sobre o
qual não há divergência ou há ampla aceitação. Se uma determinada lei é analisada pela
jurisdição constitucional e essa chega à conclusão, pela razão pública de que a lei viola
o consenso sobreposto, ela será antidemocrática porque se sobrepõe à vontade máxima
do povo, que, por sua vez, se manifesta nesse consenso sobreposto.
Qual é o fundamento de legitimidade da jurisdição constitucional? nessa visão, a
legitimidade da jurisdição está em ser a sede, a instituição do uso público da razão (onde
o consenso sobreposto é formulado). Aqui, também se faz uma crítica: se acaba
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´pressupondo que o juiz terá a capacidade de se despir de suas pré-concepções de seus
valores predefinidos, para chegar, através de um consenso racional, a esses valores
básicos.
A partir da visão do autor, se pode afirmar que a CF não é o que os juízes dizem
que ela é, mas, sim, o que o povo permite que eles digam, através dessa razão pública.
Se o tribunal constitucional é a sede da razão pública, uma de suas atuações é a
de ser um articulador do debate público, exatamente para se chegar a essas concepções
básicas, sobre as quais não haverá divergência. A jurisdição constitucional não atua
como mero legislador negativo (apenas exclui a lei do ordenamento jurídico), mas, sim,
como articulador do debate público, para se chegar ao consenso sobreposto (e promover
a razão pública).
Sintetizando: Kelsen – pensamento positivista/ atuação dentro da moldura
normativa; Dworkin - fundamento da jurisdiça9o constitucional é atuar com base em
argumentos de princípios, que revelam valores morais, em que os direitos fundamentais
que são condições da democracia, e não limites a ela. Rawls – a jurisdição
constitucional é a sede onde se manifesta o uso público da razão. Jurisdição
constitucional como articulador do debate público, para o uso da razão, na busca desse
consenso sobreposto.
1938-2003
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democrático observado, o resultado desse procedimento legítimo também é legítimo.
Então, não cabe ao juiz constitucional olhar para a norma e analisar as escolhas
substantivas ou as escolhas morais feitas pelo legislador. Cabe, ao juiz constitucional,
analisar se o procedimento utilizado para se chegar àquela lei foi democraticamente
legítimo. Então, o juiz vai se conter; não vai adentrar no conteúdo da norma para
verificar se ele é ético, moral. Ele não adentra nas escolhas substantivas (escolhas de
conteúdo moral, valorativo).
E o que seria um procedimento democraticamente legítimo? Um procedimento
de elaboração da norma é democraticamente legítimo se as minorias (ou as vozes
minoritárias) tiveram participação política. Se os direitos fundamentais de participação
política, inclusive das minorias, foram observados, o procedimento é legítimo.
Para o autor, há duas soluções equivocadas no contexto da jurisdição
constitucional: o juiz constitucional não deve adentrar nas opções valorativas daqueles
que elaboraram a CF (lá atrás). Afinal, isso seria subordinar a vontade dos vivos à
vontade dos mortos. A CF não é patrimônio dos mortos, mas, sim, dos vivos. Não se
pode submeter a uma geração futura ao pensamento de uma geração passada. A CF não
é patrimônio de uma geração passada.
Outro pensamento rejeitado pelo autor é o de que o juiz constitucional pode
adentrar nas opções legislativas do legislador hoje. Para ele, não cabe fazer isso, porque
a sociedade é extremamente plural, sendo praticamente impossível se chegar a um
conjunto de valores morais universalmente válidos (Dworkin) ou de valores morais
consensados, acordados (Rawls). Assim, não seria legítimo ao juiz se impor sobre esses
valores morais, porque isso levaria a uma ditadura.
E qual seria a terceira via proposta pelo autor (a primeira via estaria em olhar
para as escolhas originais (originalismo); a segunda via está em olhar para as escolhas
morais do legislador hoje)? A autocontenção judicial, de modo que o Judiciário não
invade sobre as escolhas morais do legislador, mas verifica se as condições
democráticas foram observadas. A legitimidade da CF é monitorar a lisura do
procedimento democrático.
O autor dispõe sobre três critérios que devem ser seguidos pelo juiz em suas
decisões:
- o juiz deve se ater, tanto quanto possível, ao texto constitucional (verificar se a
lei violou frontalmente o texto);
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- o juiz constitucional deve analisar se os canais de participação política estavam
abertos (sufrágio universal, liberdade de expressão, participação política direta do povo
etc.);
- verificar se houve violação aos direitos das minorias, dos grupos
subrepresentados. Subrepresentado significa “não ter voz”. Termos equivalentes:
grupos insulares (grupos “ilhados”, que não conseguem se manifestar). Um termo que
foi muito utilizado no passado e que caiu em desuso é a expressão “minoria”, que
denota muito mais um viés quantitativo (e não necessariamente voltado para a
qualidade do grupo).
Se uma lei passar por esses três critérios, será considerada legítima.
A essência da jurisdição constitucional é a disciplina do processo
democrático. Os administrativos devem seguir as escolhas políticas. Se as escolhas
foram feitas a partir de um processo legítimo, “está tudo bem”.
Dworkin concorda com esse pensamento, dizendo que as decisões políticas
cabem mesmo, inicialmente, aos representantes do povo. Porém, não há consenso sobre
o que é um procedimento democrático. A crítica de Hart a Dworkin é no sentido de que
não consenso sobre quais são os valores morais em uma sociedade plural. Assim,
Dworkin devolve a crítica “na mesma moeda”. Isso porque, ao fim e ao cabo, se se
disser, por exemplo, que o processo democrático é aquele que respeita “A, B, C”, isso
significa uma escolha moral do intérprete. Para o juiz constitucional dizer o se o
procedimento foi democrático, ele tem que definir o que é procedimento democrático, e,
para isso, ele deve fazer uma escolha moral. Dizer que os subrepresentados devem ser
salvaguardados no futuro é fazer uma escolha moral. Desse modo, Dworkin diz que, por
mais que Hart tenha feito um trajeto diferente do seu, eles chegam ao mesmo resultado,
que indica que o juiz deve fazer escolhas morais sim. Tratam-se de escolhas
substantivas. A ironia de tudo é a de que as duas teses acabam coincidindo: a
democracia deve ser respeitada, a partir do respeito a certos valores. “Ao final do dia”,
ambos acabam defendendo escolhas substantivas.
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1929-
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E em que ponto Habermas se diferencia de Dworkin? O autor entende que a
moral não antecede o Direito, e, portanto, não o fundamenta. Tanto o Direito quanto
a moral derivam do princípio discursivo. Pelo princípio discursivo, os indivíduos
participam de um processo deliberativo e comunicativo, em que, pelos melhores
argumentos, definem o que é direito e o que é moral. Assim, direito e moral são
cooriginários (um não existe antes do outro), porque se originam a partir do mesmo
ponto, que é o princípio discursivo. Por isso é que o indivíduo, aqui, é tanto autor
como destinatário do próprio direito (e da própria moral).
Assim, essa lógica se separa de todas as linhas de raciocínio que entendem que a
moral fundamenta o Direito (de que uma norma seria legítima quando se fundamentasse
na moral).
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posto que viabilizam a participação do indivíduo na deliberação das decisões (da
deliberação pública no amplo espaço de comunicação).
Relação do trecho desse julgado com a aula de hoje: quando a STF afirma que é
guardião da CF por expressa delegação do Poder Constituinte, ele está querendo dizer que
existe uma norma superior estabelecida pelo Poder Constituinte que delega o meu poder (visão
positivista – o fundamento do poder está em uma norma positivada). Se a Suprema Corte falhar
nisso, a integridade do sistema política restará ameaçada – ou seja, denota o papel da
jurisdição constitucional como guardiã da higidez de um processo democrático na formação da
vontade política. Proteção das liberdades públicas – jurisdição constitucional como protetora
dos direitos fundamentais. Estabilidade do ordenamento normativo – da ordem normativa, da
legitimidade escalonada do ordenamento jurídico. Segurança das relações jurídicas – higidez
do direito como sistema como higidez do indivíduo dentro desse direito (de novo, remete a ideia
dos direitos fundamentais). Jurisdição constitucional como guardiã da legitimidade das outras
instituições. Ou seja, as outras instituições atuam legitimamente na medida em que atuam de
acordo com o que determina a jurisdição constitucional. “Ao final do dia, tudo o que os
pensadores dizem é importante de alguma forma”.
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ADI 4029
AULA 3.
INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL
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de pessoa para pessoa. Se se utiliza da palavra “blue”, já se pensa na cor azul em inglês.
Mas se o professor resolve falar “azul” em “mandarim”, para nós, não ia ter significado
algum, porque sequer conhecemos a expressão. O significado não está na palavra, mas,
sim, no intérprete que analisa a palavra. Nesse sentido, a interpretação é uma atividade
do intérprete, que atribui, à norma, o seu significado. As palavras têm o significado
atribuído a elas a partir de uma convenção social.
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norma constitucional, outra norma jurídica positivada superior que sirva de
interpretação. Uma outra característica que separa a interpretação constitucional da das
demais normas é a de que não há métodos exclusivos e unânimes que digam que essa ou
aquela é a forma correta de se interpretar a constitucional. Como o próprio examinador
defende, esses métodos são, por muitas vezes, complementares entre si.
Interpretar o que?
Interpretar como?
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E quem interpreta?
Metódica constitucional
DIFICULDADES METÓDICAS
- textura aberta
- caráter político
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- epigonismo positivista: o termo “epigonismo” significa uma imitação que uma
geração nova faz em relação a uma geração anterior. Normalmente, a expressão é
levada para o seu sentido negativo (um sentido de ser retrógrado).
Essa segunda crítica deve ser vista com cautela (porque se faz uma crítica
aqueles que valorizam precipuamente o positivismo), especialmente quando se está
diante de uma banca mais conservadora e cautelosa em relação a uma posição mais
ativista.
MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO
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Diz-se que esse método é problematicamente orientado – ele dá uma
proeminência ao problema. Envolve um processo aberto, que permite a participação de
uma pluralidade de participantes, construindo, assim, uma pluralidade de argumentos
(dentre eles, a norma), para se chegar à solução ideal do caso concreto.
Críticas que se faz ao método: esse método pode levar a um casuístico “sem
limites” (que pode ser retratado no ditado “cada cabeça de juiz, uma sentença”), já que
se vai sempre buscar a solução ideal do caso concreto. Ademais, ele leva a um
esvaziamento da norma (desvalorização da norma ou degeneração da norma), em
detrimento ao problema. O problema tem primazia em relação à norma, e não o
contrário. Alguns adentram na parte crítica dizendo que o intérprete, a partir desse
método, visualiza o caso concreto e vislumbra uma solução, e, então, inicia a busca dos
argumentos que se encaixariam para consubstanciar essa solução dada por ele.
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de progresso e de involução) e a CF vem dessa sociedade, a própria interpretação da CF
tem que ser dinâmica, que acompanhe o caminhar da sociedade.
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dizendo isso, seguramente você iria afirmar que essa norma é absurda. A grande questão
é que existem países em que essa conduta não chega a ser um problema. Existem
variações culturais que influenciam as suas concepções de vida, de mundo. Quando se
interpreta essa regra inventada pelo professor, já se interpreta com essa carga que a
gente tem e que talvez nem percebamos.
Com isso, o professor quer demonstrar que todo intérprete carrega, dentro de
si, certos valores, certas concepções, até difíceis de serem percebidas por ele. Essa
carga é anterior ao próprio ato de interpretar – o intérprete tem pré-compreensões, e
carrega isso em sua análise. Daí vem a importância do problema, porque, com ele, se
torna a questão mais objetiva (pressuposto objetivo). O pressuposto objetivo é a
situação fática.
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6. Método comparativo (heterointegração): nada mais é do que a utilização
do Direito Constitucional comparado, de referências externas, de standards, para a
solução dos problemas internos.
7. Método da abertura da interpretação constitucional (interpretação
como processo público) – Peter Harbele: o autor fala em duas sociedades de
intérpretes constitucionais – a sociedade aberta e a sociedade fechada. A sociedade
fechada é formada por intérpretes em sentido estrito (são os agentes formais, oficiais da
interpretação – agentes políticos propriamente ditos, especialmente os juízes). Por outro
lado, a sociedade aberta é formada pelos intérpretes em sentido amplo (são todos os
agentes conformadores da realidade constitucional; são aqueles que vivenciam a
realidade constitucional). Nós vivenciamos a realidade constitucional, e. por isso,
somos intérpretes em sentido amplo, integrando a sociedade aberta de intérpretes (não
há um rol taxativo de intérpretes nessa sociedade aberta). É nesse sentido que o método
vai propugnar uma pluralidade de participantes na interpretação constitucional como
forma até mesmo de legitimação da jurisdição constitucional (ex.: amicus curiae e
audiência pública são instrumentos de democratização do processo de interpretação
constitucional).
Muitos autores – incluindo o examinador- entendem que esses métodos não são
excludentes (ideia de complementariedade). O intérprete pode se utilizar de métodos
diferentes a depender da situação concreta.
O autor Paulo de Barros Carvalho, citado pelo examinador, fala em três planos
dos métodos de interpretação (lato sensu): plano sintático, plano semântico e plano
pragmático. O plano sintático seria o plano de análise da relação que uma norma tem
com outras normas (ex.: o método lógico está no plano sintático). O plano semântico,
por sua vez, denota a relação entre a norma e os fatos descritos por ela. Busca-se o
significado, o sentido. Já o plano pragmático denota a efetiva aplicação e as
35
consequências dessa aplicação (o método histórico se volta mais para o plano semântico
e para o plano pragmático).
AULA 4.
PRINCÍPIOS X REGRAS
A primeira coisa que temos que ter em mente é que, tradicionalmente, tanto
regras como princípios são considerados normas jurídicas.
Por sua vez, as regras têm baixo grau de abstração e alto grau de
determinabilidade. Dela, se extrai uma consequencia bem definida no plano normativo.
Outro exemplo se refere ao regramento pertinente à concessão dos benefícios
previdenciários.
A regra parte para a aplicação “tudo ou nada”. Significa dizer o seguinte, por
exemplo: se eu não pratiquei o fato descrito na norma, a regra não se aplica a mim. Isso
37
me leva a outro ponto: “eu matei uma pessoa, mas o fiz em legítima defesa”. A partir
daí, se trabalha com uma segunda regra, que entra em rota de colisão com a primeira.
Como resolver o conflito? Pelo critério da exclusão – a regra B exclui a A (a legítima
defesa é uma regra excludente da conduta capitulada no art. 121, CP).
- cronológico
38
dentro das circunstâncias do fato. A aplicação desmedida de uma regra pode implicar na
violação de princípios constitucionais – no caso, a própria ideia de Estado Democrático
de Direito (a impunidade viola a ideia de Estado Democrático de Direito).
Os princípios, por sua vez, possuem uma natureza estruturante, que significa
que os princípios se mostram com uma estrutura a partir da qual se construirão outras
regras ou outras normas (para a construção do ordenamento jurídico normativo).
39
Imagine um sistema jurídica somente baseado em princípios ou somente baseado
em regras. Um sistema baseado somente em regras teria um grau de engessamento
muito grande, por seu extremo legalismo. Isso levaria a uma necessidade de um
esgotamento da disciplina normativa, ou seja, se teria que exigir um detalhamento tão
grande do ordenamento a ponto de ele descrever todas as situações possíveis (o que, na
prática, mostra-se inviável).
Por isso é que, no fim das contas, o que se busca é um sistema composto por
princípios e regras.
a. Função normogenética
b. Função sistêmica: é uma função de irradiar, para todo o ordenamento
jurídico, lhe conferindo coesão e coerência. O ordenamento deixa de ser um
conjunto aleatório de normas e passa a ser um conjunto harmônico de
normas coesas e coerentes.
c. Função hermenêutica: função de interpretação. Os princípios orientam a
interpretação de outras normas.
d. Função integradora: função de colmatação de lacunas. O que é colmatar? É
preencher.
40
princípio da dignidade da pessoa humana, por sua vez, traz, em si, um parâmetro da
ideia de justiça.
41
infraconstitucionais – relacionada à ideia de rigidez constitucional). A segunda está
relacionada ao conteúdo – a mensagem deixada pelas normas constitucionais tem
prevalência em relação à mensagem deixada pelas normas infraconstitucionais.
Na dúvida sobre a norma, se deve adotar uma posição a favor da norma, a favor
do legislador que a elaborou (in dubio pro legislatore). Como segunda consequência, se
tem que o intérprete deve ter o esforço de argumentação para declarar a norma
inconstitucional. A declaração de inconstitucionalidade pressupõe um dever de
argumentação.
42
alguns complicadores, e, por isso, é estudado em dois planos. O primeiro
plano é o plano hermenêutico. Nesse plano, o referido princípio é
intrumental, em que as normas infraconstitucionais devem ser entendidas em
compatibilidade com a CF.
43
entre a EC e uma outra limitação, prevalece a emenda, porque a emenda tem o poder de
justamente alterar a Constituição.
Pense hipoteticamente: ao analisar uma lei, você observa que a norma cuida de
múltiplos assuntos, não sendo possível esgotar todas as interpretações possíveis. Nesse
caso, ele pode se limitar a dizer qual é o sentido incompatível com a Constituição. Isso
não significa que os demais sentidos são compatíveis com a CF. Ex.: art. 90 da Lei
9099/95 – o termo “as disposições desta lei” pode ser entendido de duas formas,
fazendo remissão ou à parte processual ou à parte penal da lei. Como, no Direito Penal,
deve prevalecer a norma mais benéfica, o art. 90 é válido em relação às normas de
natureza processual. Nesse caso, o intérprete poderia dizer o seguinte: declaro que o art.
90 da lei é inconstitucional no que tange às normas de natureza penal. Outra forma de
dizer: declaro que o art. 90 só é constitucional no que concerne às normas de natureza
processual da lei.
44
É comum aparecer a seguinte redação nas decisões do STF proferidas pelos
relatores: “julgo procedente o pedido contido na ADI para dar interpretação conforme
no sentido de que a norma deve ser interpretada no sentido Y”. Qual é o pedido aqui? A
declaração de inconstitucionalidade da norma. Na verdade, o relator, aqui, diz qual é a
interpretação correta. Pode até parecer um contrassenso, a princípio, mas o relator quer
dizer que o pedido é julgado procedente, e, portanto, a norma é declarada
inconstitucional, a exceção da interpretação em determinado sentido (ele exclui os
demais sentidos, portanto).
Quando o professor discorre sobre esse tema, é comum que o aluno faça a
conexão com a declaração de inconstitucionalidade sem redução de texto. Veja que o
próprio artigo da Lei 9868 (art. 28, pu) faz menção à interpretação conforme e à
declaração sem redução de texto no mesmo contexto.
45
normativo da norma. Retira-se, da incidência da norma, determinadas hipóteses, mas
NÃO há redução do texto.
46
contexto menor, em assuntos técnicos não definidos, a priori, pela CF (são conceitos
deixados ao encargo do legislador).
AULA 5.
47
interpretação A faz com que a norma seja aplicada imediatamente, mas não
em sua plenitude. A B diz que se deve aguardar uma serie de fatores. No
caso, se deve optar pela norma A. Pense, também, nos Tribunais de Contas
dos Estados – 04 vagas são oriundas do Poder Legislativo e 03 são oriundas
do chefe do Executivo (uma de livre escolha; outro que tenha atuado como
auditor; outro que tenha atuado como MP). Para o STF, na transição entre a
CF passada e a nova CF, a melhor interpretação dessa nova norma
constitucional é no sentido de que, dentre as três vagas, as duas primeiras já
devem ser ocupadas por cargos técnicos (escolhas vinculadas – auditores e
membros do MP). Assim, se busca dar uma concretização, o mais rápido
possível, às normas constitucionais.
3. Princípio da unidade da CF: impõe que o intérprete deve olhar para a CF,
analisar a CF em sua globalidade, em não de forma compartimentada, sem
conexão. Olhando para a CF em sua globalidade, deve o intérprete buscar
harmonizar as normas constitucionais de uma forma coesa e coerente.
Entender que as normas constitucionais não são isoladas, dispersas ou
estanques (como se fossem normas insulares, ilhadas). Todas elas fazem
parte de um sistema unitário, de uma globalidade.
4. Princípio do efeito integrador: aqui, o professor também vai se utilizar da
expressão “problemas jurídico-constitucionais”, que denotam problemas
reais, que têm repercussão jurídica (têm, de alguma forma, relação com o
sistema jurídico), e, especificamente, têm uma repercussão constitucional.
Um problema somente moral, por exemplo, não tem repercussão jurídica,
como quando se descriminaliza determinada conduta, a exemplo do
adultério.
48
entenda que sim e há quem entenda que não. Mesmo para aqueles que entendem que
sim, o fazem com entendimentos de graus de vulnerabilidades diversos. Por vezes, essas
ações geram uma radicalização e, por via de consequência, uma fratura social. O
princípio em comento visa a reduzir essas fraturas constitucionais.
Aqui, cabe uma observação quanto à teoria dos poderes implícitos ou princípio
dos poderes implícitos: a cada dever, correspondem os poderes instrumentais para a
realização desse dever. Se é dever do juiz solucionar os conflitos aplicando o direito
adequado, e ele percebe, por exemplo, que uma não intervenção imediata agravará a
situação, ele pode conceder uma liminar. Assim, em alguns casos, ainda que não
houvesse previsão legal, o juiz estaria autorizado a conceder uma liminar, pautado no
poder geral de cautela. Esse é um princípio que ajuda na solução de problemas
49
operacionais no exercício da função. Os poderes devem realizar seus deveres
institucionais; por vezes, porém, os instrumentos para tanto não estão previstos na CF.
Por isso, nos utilizamos da referida teoria disposta acima. A reclamação, décadas atrás,
surgiu de uma derivação do direito de petição e de uma derivação do poder de o STF
fazer impor as suas decisões. Outro exemplo dado pelo professor é o poder de
investigar, que deriva do poder de fiscalizar, que, por sua vez, deriva do poder de
legislar do Legislativo. Por isso, o Poder Legislativo pode criar grupos menores de
trabalho para o exercício de suas funções, através das comissões parlamentares. Para o
STF, mesmo nos casos em que as Constituições mais antigas não previram as CPI’s,
essas poderiam ser criadas, pois nada mais são do que a instrumentalização do órgão na
realização de suas funções.
Mas atenção! A teoria dos poderes implícitos tem um limite: não se pode, por
meio dela, dar, a determinado poder, algum instrumento que subverta o sistema
organizatório constitucional. Essa teoria é importante para operacionalizar as funções
dos órgãos, mas possui limites no princípio da justeza constitucional.
PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE
50
O documento também dispunha que ninguém seria lesado, exceto pelo
julgamento legítimo de seus pares ou pela “Lei da Terra” (the law of de land). Essa
ideia será convertida, quando direcionada aos EUA, no due process of law.
51
Ainda neste contexto inicial, vamos nos voltar para a Prússia do sec. XVIII. Na
Prússia, a ideia de proporcionalidade surge ligada à ideia de que o poder público,
quando impõe limitações administrativas aos indivíduos, o deve fazer de forma
proporcional.
SENTIDOS DE PROPORCIONALIDADE
ELEMENTOS DA PROPORCIONALIDADE
52
2. Necessidade (exigibilidade): está ligada com o MEIO. A medida escolhida
ou os meios escolhidos devem ser os absolutamente necessários para se
alcançar aquela finalidade. Significa dizer que, sem aquela medida, não se
alcança aquela finalidade. Entre duas medidas possíveis, por exemplo, se
deve utilizar daquela que gera a menor ingerência possível, a menos onerosa.
Também é chamado de princípio da escolha do meio mais suave; princípio
da menor ingerência possível; princípio da intervenção mínima. Ex.:diante
das chuvas, famílias são transferidas a um galpão. É possível a
desapropriação, e, também, a ocupação temporária. Como a desapropriação
gera gastos ao Estado e ônus ao particular, considerando que a necessidade
de abrigar as famílias é temporária, se deve optar pela ocupação (em
detrimento da desapropriação).
53
Nesse caso, o bônus deve superar o ônus. Ao final do dia, as vantagens devem
superar as desvantagens. Essa proporcionalidade em sentido estrito gera uma obrigação
positiva (caráter positivo) e uma obrigação negativa (caráter negativo). A obrigação
positiva denota que se deve utilizar dos meios adequados. Já a obrigação negativa indica
que não se pode utilizar de meios excessivos.
Uma corrente mais contemporânea acrescenta dois elementos aos três já vistos,
quais sejam, “objeto legítimo” e “meio legítimo”. Objeto e meio juridicamente válidos.
AULA EXTRA I
Dentro da ideia de Estado de Direito, o autor faz uma separação entre dois
momentos. O primeiro se pauta no Estado de Direito a partir do princípio da legalidade.
A primazia do princípio da legalidade é típico do Estado Liberal (formatado no final do
sec. XVIII, perdurando por boa parte do sec. XIX), que, por sua vez, tem pilares
fundamentais, dentre os quais podem ser citados:
54
CF”. Essa primazia se firma, sobretudo, após a 2GGM (mormente a partir da década de
60, 70). No Brasil, a grande virada ocorreu após a CF88, especialmente após a segunda
metade da década de 90 em diante.
OBS.: quando se tem uma nova CF, é comum que olhemos para os seus
institutos jurídicos, as suas instituições com um olhar baseado nos conceitos e nas ideias
anteriores à Constituição. São pré-compreensões que influenciam no modo de leitura da
CF. É o fenômeno chamado de “interpretação retrospectiva”. Por esta razão, as ideias
embutidas na CF88 começam a ser internalizadas a partir da segunda metade da década
de 90.
55
E há uma tendência nesse sentido (IF 298, STF): a intervenção, como medida
extrema, deve atender à MÁXIMA DA PROPORCIONALIDADE. O professor pede
para observarmos a expressão usada pelo STF, que adveio da tradução de um dos livros
de Robert Alexy por Virgílio Afonso.
Por sua vez, na Const. Espanhola, se fala em respeito ao conteúdo essencial. Isso
porque, no que diz respeito aos direitos fundamentais, há quem defenda que estes
possuem um núcleo mínimo que não pode ser atingido. Significa dizer que o direito
pode ser restringido, mas até o limite do conteúdo essencial. Quando uma restrição se
torna uma violação ao direito fundamental? Quando essa restrição passa a ser abusiva,
excessiva, no sentido de violação desse conteúdo essencial.
56
Paulo Bonavides também destaca que o D. Const. Sofreu, ao longo dos séculos,
algumas revoluções:
Nos EUA, a ideia da 5º emenda, no sentido de que ninguém será privado sem o
devido processo, pode ser observada somente de maneira formal. Ex.: imagine que você
pratique um crime de furto no valor de 1.000 reais, em que formalmente foi atendido o
processo legal, com observância das regras procedimentais. Considere, ainda, que, na
hipótese, a lei formal imputa, ao agente, uma pena de 30 anos, sendo você condenado a
uma pena de 20 anos. Pela perspectiva formal, estão atendidos a legalidade e o devido
processo legal. Vamos “piorar” essa situação, aumentando a previsão para 40 anos.
Nesse caso, a pena parece muito maior do que o que indica a razoabilidade do delito.
58
De forma geral, predomina a ideia de que direitos fundamentais são restringíveis,
e a de que o princípio da proporcionalidade estaria conectado à ideia de restrição aos
direitos fundamentais como uma forma de proteção desses direitos. Então, se impediria
que um direito fundamental fosse restringido para além do necessário, adequado e da
justa medida.
Agora, imagine uma lei que exija níveis condicionais absurdos, como por
exemplo, uma faculdade com 10 anos de duração. Alguns, inclusive, argumentam que o
próprio exame da ordem seria desproporcional. Sobre a matéria, o STF se utilizou de
vários argumentos para legitimar o exame, sendo que, dentre eles, está o impacto da
profissão para a sociedade. Desse modo, quanto maior a consequência social, maior será
a restrição. Há a possibilidade de restrição como garantia da própria sociedade (a
própria CF dispõe que o advogado é essencial à atividade da justiça). É uma atividade
de alto impacto em uma sociedade que se organiza na forma de um Estado Democrático
de Direito. O mesmo raciocínio é utilizado para o médico e para o engenheiro, por
exemplo.
Alguns ainda criticam que existem diversas atividades que impõe riscos sociais
mas não exigem exame para exercê-la, e o Supremo refuta esse argumento pois o
correto é exigir, não se pode olhar de forma comparativa para os que faltam de forma a
59
diminuir a segurança social, pelo contrário, o certo seria exigir maiores controles aos
demais.
Em suma, a restrição ao direito fundamental deve ter uma base legal, e, de igual
forma, deve ser proporcional.
CANOTILHO afirma, por sua vez, que o campo de aplicação mais importante da
proporcionalidade é o da restrição aos direitos fundamentais e garantias por atos do
Poder Público.
60
JUSTA, necessária e adequada de EQUILÍBRIO entre os direitos, princípios que estão
em rota de colisão. É exatamente a proporcionalidade que evita o abuso; e, por via de
consequência, evita um sacrifício total.
Imagine que dois filhos, um de 15 anos e outro de 3 anos, não serão tratados da
mesma forma, devido às diferenças. Esse exemplo fático se relaciona ao princípio da
igualdade, que é um princípio substancial (princípio que é analisado sob o aspecto do
seu conteúdo próprio).
61
A classificação da inconstitucionalidade pode ser formal ou material. Ex.: lei
elaborada com a observância dos procedimentos, mas que preveja pena de morte.
Dentro dessa ideia, o princípio da proporcionalidade, no âmbito do controle de
constitucionalidade, é sobretudo utilizado na análise da constitucionalidade sobre o
aspecto material, o que demanda observar se o conteúdo da lei é abusivo ou não.
Neste ponto, alguns doutrinadores tecem críticas, no sentido de que o juízo sobre
o excesso ou não do conteúdo da norma perpassa por uma valoração do intérprete
(Gilmar Mendes fala em uma “situação tormentosa”). Há o risco de o juízo
constitucional adentrar excessivamente nas escolhas substantivas e morais que o
legislador fez, se sobrepondo ao Poder legislativo. Nesse caso, a proporcionalidade
serve de instrumento, de argumentação, para conferir poderes demasiados ao juiz.
Isso é problemático, pois há casos em que pode ocorrer uma aceitação total da
sociedade em relação à decisão do juiz constitucional; mas, em outras hipóteses, o
comando decisório pode ser discutível. É um risco que o próprio julgador pode agir com
excesso ao tratar o legislador como excessivo.
62
->PROPORCIONALIDADE RELACIONADA AO PRINCÍPIO DA MANIFESTAÇÃO OU VEDAÇÃO DE
OBS. Cuidado, a palavra garantia aqui não está relacionada ao direito penal, mas
à correlação com a garantia das ordens e do direito.
ENCONTRO EXTRA 2
NATUREZA DA PROPORCIONALIDADE
63
chegamos à conclusão de que se cuida de um princípio implícito (somente princípios
podem ter
Para além, os princípios têm um âmbito de aplicação que não tem uma descrição
a priori. Nas regras, se determina o seu âmbito de aplicação. Há uma definição do
âmbito de aplicação. Com efeito, as regras têm zonas cinzentas, mas, de forma geral já
tem o seu âmbito de aplicação pré-definido. No caso dos princípios, é praticamente
impossível que o legislador anteveja as hipóteses em que um princípio pode ser
aplicado.
A proporcionalidade, em si, não traz um estado ideal das coisas a ser perseguido,
mas, sim, uma estrutura de pensamento (“uma lista de requisitos”, em linguagem
64
informal) a ser observado para se verificar se a medida que se quer adotar é adequada,
necessária e na justa medida.
Quando se diz que alguma coisa é instrumental, se fiz que essa coisa será apenas
um instrumento para se alcançar a finalidade. Se se entende que a proporcionalidade não
fixa o estado ideal das coisas, mas, sim é uma estrutura de compreensão para se chegar a
uma definição, se pode afirmar que a proporcionalidade não é um princípio, no sentido
de coisas que carregam um valor.
Em provas, o professor disse que podemos nos utilizar das expressões “princípio
da proporcionalidade” e “dever de proporcionalidade. Até mesmo “máxima da
proporcionalidade”, porque é uma expressão muito usada no STF. Não é muito
recomendável utilizar a expressão "postulado”, a não ser que o questionamento verse
diretamente sobre este ponto.
65
PROPORCIONALIDADE X RAZOABILIDADE
A razoabilidade, por sua vez, terá uma aplicação individual ou uma condição
para a aplicação individual da justiça. Na razoabilidade, se analisa a situação pessoal
do individual, para identificar quais são os direitos desse individuo; os bens jurídicos
protegidos; os interesses e os valores em jogo; para se garantir que não haja nem
excesso e nem insuficiência em relação aos direitos, bens e interesses desse indivíduo. É
uma situação mais subjetiva. Obs.: subjetiva no sentido de ser algo relacionado ao
sujeito envolvido na situação.
66
roupagem de juridicidade, e, por isso, se torna a mais difícil de ser “resistida”. As
ditaduras, no geral, se valem do direito como instrumento de domínio. Sendo esse
direito manejado pelos juízes, “ao fim do dia”, o direito será o que os juízes querem que
ele seja. Há uma roupagem de juridicidade = não há aparência de ditadura. Por isso, há
maior dificuldade de percepção pela sociedade. Por via de consequência, essa ditadura
terá mais dificuldade de encontrar oposição.
O “rule of law” não é “law of judges”. O governo da lei não é a lei dos juízes.
Essa é a linha utilizada pelos interpretativistas.
68
o professor vai trabalhar com elas para entendermos. Uma posição mais conservadora
denota uma posição de resistência a transformações sociais ou ao progresso da
sociedade. A visão “mais à esquerda” está ligada ao progressismo, à evolução da
sociedade. São pensamentos que, se colocados de forma estanque, podem levar a
exageros.
O não interpretativismo entende que a CF não é uma obra estática, mas, sim,
um documento vivo. Logo, entende que a CF é uma “Constituição viva”. Assim, a
Constituição é patrimônio da geração atual, e não de uma geração antiga, passada.
Então, a CF não pode ser entendida como uma “imposição dos mortos sobre os vivos”.
69
Daí, chegaremos à conclusão de que o sentido da CF é construído a cada geração, ou,
melhor, a cada dia. A Constituição está sendo escrita, constantemente, pela geração
atual, no sentido de compreensão. A Constituição é um projeto de ordenação, que vai
sendo construído a partir de um processo de argumentação valorativo, de avaliação de
novos sentidos, que transcorrem ao longo do tempo.
Outra posição: o juiz não pode se furtar a decidir questões políticas depois de
provocado.
70
NÃO INTERPRETATIVISMO – constituição como obra viva – projeto de
ordenação – construção a cada geração conforme seus valores morais e políticos.
Politização da Justiça
Pergunta-se como faria isso, se ela é inerte e demanda provocação. A inércia não
tem sido respeitada, pois basta uma provocação de qualquer tema para que a jurisdição
entre em qualquer âmbito de interpretação.
Pergunta: como um originalista interpretaria o art. 226, §8º, CF/88? Com uma
postura de cautela, mas não no sentido de não aceitar moralmente a união homoafetiva.
O originalista não discutiria se isso é bom ou adequado. Mas que não cabe ao juiz fazer
essa escolha.
AULA EXTRA 3
71
Decisões no controle de constitucionalidade
Por outro lado, se se verifica que a norma é compatível com a CF, não havendo
nenhuma contrariedade, o juiz constitucional declarará a norma constitucional. Essas
duas situações, que são óbvias, são o que chamamos de “situações constitucionais
perfeitas”. O qualificativo “constitucional” indica correspondência com a realidade
constitucional, ambiência com o plano constitucional. É uma situação “binária”
(situações constitucionais binárias), que leva a decisões ortodoxas, comuns, ou de
inconstitucionalidade, ou de constitucionalidade (declarações ortodoxas de
constitucionalidade ou de inconstitucionalidade).
A situação constitucional imperfeita fica “no meio do caminho”. Por isso é que
se fala, aqui, em “sentenças intermediarias ou em situações heterodoxas”.
72
Imagine o seguinte: quando a norma estabelecia que a Defensoria Pública possui
prazo em dobro. Qual foi a lógica pensada? Em termos simples, podemos afirmar que a
DP advoga. Essa advocacia é pública ou privada? Na verdade, o advogado público é
aquele que defende o interesse de determinado ente da federação. A DP exerce uma
advocacia de interesses privados. Na prática, não há diferença para a atuação de um
defensor contratado, a não ser o fato de ele ser um agente público. É uma forma de
consecução do acesso à justiça. Por essa perspectiva, dar o prazo em dobro para a DP
seria inconstitucional, porque seria tratar os desiguais de maneira desigual. Em
contrapartida, sob outra ótica, se pode pensar no fato de que a DP não possui, ainda,
uma estrutura de atuação efetiva, o que prejudica, em última análise, o jurisdicionado.
Por isso se justifica a concessão de prazo em dobro. Quando o STF analisou a situação,
concluiu que se cuidava de uma situação jurídica imperfeita. Porque, se considerando a
realidade fática da DP, é razoável a concessão de prazo em dobro. Assim, a Corte
concluiu que se tratava de uma norma “ainda constitucional”, que deveria perdurar
enquanto presente essa situação de ausência de estruturação da DP. A situação seria
inconstitucional se analisada apenas abstratamente; constitucional se analisada a
realidade fática; mas tendente a ser inconstitucional, a partir do momento em que
evidenciada a formação de estrutura da DP.
73
SENTENÇAS NORMATIVAS
74
veneno da norma”, a interpretação que é incompatível com a CF. a norma é
constitucional, desde que ela não seja interpretada de determinada maneira. Na
Alemanha, se utiliza da expressão “sentença interpretativa de rejeição ou de
acolhimento”. “De rejeição” = hipótese em que o intérprete rejeita a interpretação
inconstitucional; “de acolhimento” – acolhimento do sentido que é compatível com a
CF.
O ponto de partida é o de que estamos diante de uma norma que possui uma
omissão parcial. Quando se fala em “omissão parcial”, o problema não está na não
atuação do legislador (na omissão total, há uma absoluta ausência de ação), mas em uma
atuação incompleta ou insuficiente. Na omissão parcial, o legislador regula determinada
situação, mas o faz de forma incompleta ou insuficiente. Quando se fala, por exemplo,
no “direito de greve”. Há uma omissão do legislador sobre o direito de greve? Não! isso
porque o referido direito envolve tanto os trabalhadores em geral como em relação aos
servidores públicos. No caso, a legislação versava apenas sobre o direito dos
trabalhadores em geral.
75
✔ A ineficácia do legislador em atender os comandos constitucionais, em
76
juiz constitucional estabelece certas diretrizes, balizas, que deverão ser observados pelo
administrador público e pela sociedade enquanto não houver uma norma
regulamentando aquela situação. Ex.: lei estadual que estabelecia hipóteses de
destituição de dirigentes de agências reguladoras. O STF entendeu que a disposição era
inconstitucional. Diante do “vazio normativo”, a Corte Suprema decidiu que, enquanto
não houvesse norma regulamentadora, a destituição de dirigente de agência reguladora
deveria observar 03 pontos, quais sejam, renúncia, condenação judicial ou PAD. ADI
1949.
DECISÕES SUBSTITUTIVAS
DECISÕES TRANSITIVAS
77
temporal, seja pro futuro, seja ex nunc, seja retroativo parcial. No caso em análise, o
juiz pode não declarar a modulação.
78
Quando se fala em prospective overruling, o que a sentença de aviso diz o
seguinte (é como se o juiz constitucional dissesse ao legislador e ao administrador
público): “olha, até aqui, eu tinha um entendimento; mas, a partir de agora, estou
alterando o meu entendimento e estou te avisando para que você se programe”.
As duas posições, levadas aos extremos, podem levar a um juiz “grande demais”
ou de forma “apequenada em demasia”. Nas sentenças normativas, o risco é o de juiz ir
além do que deveria; e, nas sentenças transitivas, o risco é o de o juiz ficar aquém do
que deveria. O juiz pode ou se exceder (se sobrepondo ao legislador, impondo as suas
vontades; em última análise, se sobrepõe à própria CF) ou se conter demasiadamente
(prestígio da lei em detrimento da CF; em última análise, coloca o legislador à frente da
CF). O risco é o excesso do juiz ou a falta do juiz.
De uma forma, ou de outra, o juiz não está atuando como mero legislador
negativo, ou seja, extirpando a norma inconstitucional do ordenamento jurídico. Ao se
exceder, o juiz pode estar se utilizando de uma posição ativista.
Aqui, o juiz pode argumentar que o ativismo é necessário, diante da omissão dos
demais poderes instituídos.
Se, por outro lado, o juiz fica “aquém” ou com falta, se pode argumentar com
base na prudência, com base na “sobrevivência institucional”.
79
De uma forma ou de outra, o juiz estaria violando a Constituição (sendo ativista
ou sendo cauteloso demasiadamente). Então, seria um “mito” falar que o juiz agiu como
legislador negativo.
80