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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO TOCANTINS/CAMETÁ


FACULDADE DE LINGUAGEM

RODINILSON GONÇALVES SOARES

ESTRATÉGIAS DE POLIDEZ LINGUÍSTICA REALIZADAS POR JOVENS DA


COMUNIDADE QUILOMBOLA DE PORTO ALEGRE, CAMETÁ-PA.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Graduação em Letras, habilitação em
Língua Portuguesa, da Faculdade de
Linguagem, Campus Universitário do
Tocantins/Cametá, Universidade Federal do
Pará, como requisito parcial à obtenção do título
de Licenciado em Letras Língua Portuguesa.

Orientador: Profa. Dra. Benedita Maria do


Socorro Campos de Sousa.

Cametá-PA
2022
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO TOCANTINS/CAMETÁ
FACULDADE DE LINGUAGEM

ESTRATÉGIAS DE POLIDEZ LINGUISTÍCA REALIZADAS POR JOVENS


DA COMUNIDADE QUILOMBOLA DE PORTO ALEGRE, CAMETÁ-PA.

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado


adequado à obtenção do título de Licenciado em
Letras Língua Portuguesa e aprovado em sua forma
final pelo Curso de Graduação em Letras
Licenciatura Língua Portuguesa, da Faculdade de
Linguagem, Campus Universitário do
Tocantins/Cametá, Universidade Federal do Pará.

Cametá, PA, 16 de julho de 2022.

Prof. Dra. Benedita Maria do Socorro Campos de Sousa.


Universidade Federal do Pará

Prof. Me. Fernanda Nílvea Pompeu Varela (Membro interno)


Universidade Federal do Pará

Prof. Dr. Nome do avaliador (Membro externo)


Universidade ...
Estratégias de Polidez Linguística realizadas por jovens da
Comunidade Quilombola de Porto Alegre, Cametá-Pa

Rodinilson Gonsalves Soares1

Resumo: O presente trabalho investiga a Polidez Linguística na interação dos Jovens


informantes da Comunidade Remanescente Quilombolas de Porto Alegre Município de
Cametá, tendo como objetivo principal analisar as interações verbais de remanescente
de Quilombo de modo a depreender estratégias de preservação de face e o emprego da
polidez linguítica a partir da visão de Brown e Levinson (1967) e de Goffman (1967).
Desse modo, foi possível observar que o tema da conversação entre os falantes pode
determinar o modo como eles se comportaram linguísticamente. Os jovens falantes se
engajaram em falar mais sobre temas, como educação, família e futuro. Para essas
temáticas eles tendem a utilizar a estratégia de polidez positiva. Isso parece estar
relacionado à importância significativa que essas pautas têm para a vida desses
moradores. Porém, quando se trata de temas mais delicados, como relações humanas,
religião e sociabilidade, a tendência é para a polidez negativa por se tratar de temas mais
complexos que requer deles uma resposta mais elaborada e, portanto, eles se utilizam
dessas estratégias para justificar suas falas.

Palavras-chave: Polidez; Estratégia; Faces.

Abstract: The present work investigates the Linguistic Politeness in the interaction of
Young informants from the Quilombola Remnant Community of Porto Alegre
Municipality of Cametá, having as main objective to analyze the verbal interactions of
Quilombo remnant in order to infer face preservation strategies and the use of linguistic
politeness from the views of Brown and Levinson (1967) and Goffman (1967). In this
way, it was possible to observe that the topic of conversation between the speakers can
determine the way they behaved linguistically. Young speakers engaged in talking more
about topics such as education, family and the future. For these themes, they tend to use
the strategy of positive politeness. This seems to be related to the significant importance
that these guidelines have for the lives of these residents. However, when it comes to
more delicate topics, such as human relations, religion and sociability, the tendency is
towards negative politeness because they are more complex issues that require a more
elaborate answer from them and, therefore, they use these strategies to justify your lines.

Keywords: Politeness; Strategy; faces.

1. INTRODUÇÃO
1
Estudante do Curso de Graduação em Letras, habilitação em Língua Portuguesa, da Faculdade de
Linguagem, Campus Universitário do Tocantins/Cametá, Universidade Federal do Pará, matrícula nº
201615740014, ano de ingresso 2016. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito
parcial à obtenção do título de Licenciado em Letras Língua Portuguesa, sob a orientação de Prof. Dra.
BENEDITA MARIA DO SOCORRO CAMPOS DE SOUSA.

2
Por falta de um acesso pleno à internet na zona rural do município de Cametá
(PA), é possível que as interações orais ainda sejam o modo predominante pelo qual os
indivíduos comunicam suas experiências, suas crenças, suas atitudes e emoções no
curso das interações. Dessa maneira, para que os falantes possam transmitir essas
informações e causar determinadas impressões aos seus ouvintes, para além da acepção
básica das palavras de sua língua (ou variedade linguística), ele utiliza estratégias
extralinguísticas que, de algum modo, implicam estruturação e os elementos utilizados
no seu discurso, a fim de que, com isso, possa estabelecer relações equilibradas (ou não
equilibradas) com o seu ouvinte (interlocutor).
As estratégias extralinguísticas, que determinam o modo como os sujeitos devem
agir verbalmente na conversação/diálogo/interação e servem a uma cooperação mútua e
harmoniosa entre sujeitos em interação, constituem a Polidez Linguística (doravante
PL). No entanto, esse processo só é possível a partir de três regras básicas, segundo
Lakoff (1973): 1) regra de formalidade: manter um distanciamento e não impor ao
outro; 2) regra de respeito: dar opções ao outro; e a 3) regra de camaradagem: mostrar
simpatia, fazer o outro sentir-se bem. (apud GUIMARÃES, p. 23).
Ainda, além das regras que estabelecem a polidez, sua realização dependerá
do(s) fator (es) sociológico(s), como: I - o poder do falante sobre o ouvinte (típico de
interações assimétricas, geralmente em ambientes institucionais); II - a distância social
entre os dois (em interações simétricas e assimétricas essa distância pode revelar que
estratégias de polidez devem e podem ser usadas) e; III - o grau de imposição envolvido
nos atos ameaçadores de face (AAF) (algumas imposições são mais fortes que outras.
Imposições mais pesadas demandam estratégias mais diretas na mitigação da ameaça).
(RODRIGUES, 2014). Portanto, a relação entre as regras e os fatores, em alguma
medida, influenciam os usos de determinadas estratégias de polidez linguística (EPL),
ou seja, como os interactantes deverão comportar-se verbalmente em alguma situação
interacional.
A partir desses conceitos que surgiu a necessidade de investigar as estratégias de
polidez linguística realizadas por falantes jovens da comunidade quilombola de Porto Al
egre, pertencente ao município de Cametá-Pa, por meio das seguintes indagações: a) qu
e estratégias de polidez linguísticas são utilizadas pelos morados dessa comunidade? b)
quais funções elas exercem nas interações dos falantes durante a entrevista? c) o que é n
ecessário considerar na realização dessas estratégias e d) em que medida essas estratégia

3
s de polidez linguística ganham Particularidades socioafetivas (que também podem ser
históricas) (Quais são as relações sócio afetivas que se dão (comuns, digamos) em
comunidades quilombolas? Como se dão essas relações nessa comunidade?)
A fim de responder estes questionamentos, o presente estudo analisou as
estratégias de polidez linguística utilizadas nas formulações discursivas dos moradores
da comunidade de Porto Alegre, considerando as estratégias utilizadas por falantes
jovens, em situação de entrevista, diante de determinados temas que envolvem assuntos
dos seus cotidianos, tendo como principais objetivos apresentar as estratégias de PL
utilizadas por esses indivíduos e as finalidades pretendidas por eles nesse contexto de
interação discursiva, com base nos pressupostos teóricos de Brown e Levinson (1987) e
de Goffman (1967).
A necessidade de uma abordagem acerca da PL em uma comunidade quilombola
se dá pelo fato de que esse povo possui saberes, manifestações culturais (religiosas,
festivas, etc...) historicamente estabelecidas nesse lugar que são compartilhados também
por suas interações linguísticas/ discursivas. Portanto, esses aspectos sociais podem
influenciar (as normas) os modos como os falantes comportam-se verbalmente tanto em
situações mais informais como rotineiras (situação cotidiana), quanto em situações mais
formais (perguntas mais elaboradas).
Este trabalho encontra-se dividido em cinco seções: a primeira seção consiste na
introdução, a segunda versa sobre os pressupostos teóricos, seguido da metodologia, a
quarta, trata das análises e a quinta e última sintetiza nossas conclusões.
A segunda seção trata sobre o universo da pesquisa, extração de dados, e
sistematização de dados.
Na terceira seção apresentamos a análise, discussões dos dados e resultados da
pesquisa.
Por último, a conclusão da pesquisa e referências bibliográficas.
Em termos teórico-metodológicos, esta pesquisa é de caráter qualitativa, para
fundamentá-la contamos com a contribuição de Brown e Levinson (1987), e o postulado
de Goffman (1967), Watts (2003) e Kerbrat-Orecchioni (2006), entre outros autores que
tratam do tema abordado.
Durante o levantamento bibliográfico e pesquisa de campo constatamos que até
o fechamento desta pesquisa não encontramos registro de literatura que abordem a
questão da polidez linguística em relação ao discurso dos remanescentes de quilombolas

4
de Porto Alegre. Assim, nossa pesquisa servirá para contribuir com os estudos sobre os
discursos linguísticos de um determinado grupo de falantes da comunidade acima
citada.

2. AS TEORIAS DE FACE E AS ESTRATÉGIAS DE POLIDEZ LINGUÍSTICA

Esta seção traz uma abordagem dos aspectos teóricos que dão base ao tema deste
trabalho, para isso buscaram-se subsídios em duas áreas da Linguística: Pragmática e
Sociolinguística Interacional, a partir de pesquisas realizadas no campo linguístico
dessas disciplinas que discorreremos acerca do conceito de Polidez linguística, Teoria
das faces, além de fazer uma breve revisão do tema. Para isso, contamos com a
contribuição de Brown e Levinson (1987), e o postulado de Goffman (1967), Watts
(2003) e Kerbrat-Orecchioni (2006), entre outros autores.

2.1 O conceito de face e as estratégias de polidez

O termo “face” foi introduzido a partir dos estudos abertos pelo sociólogo
Goffman (1967), um estudioso das produções linguísticas orais incluídas no quadro da
interação face a face do ponto de vista social. Esse termo foi seguido pelos variados
estudos de sociolinguística interacional e etnografia da comunicação e, conforme o
autor faz referência à imagem pública, comercializada e interiorizada pelo falante, em
que este mesmo falante quer vê-la socialmente consagrada, partindo das normas e
valores constituídos por membros de uma determinada comunidade. Por exemplo, os
interlocutores em um encontro social têm o objetivo de proteger a frágil estima que eles
têm de si mesmos. Para isso, eles atuam de modo a, pelo menos, minimizar os danos
potenciais a essa autoestima ou, numa situação positiva, a aumentar seus níveis.
(GOFFMAN, 1967).
Ancorados nesse estudo, Brown e Levinson (1987) estabeleceram uma divisão
entre:
Face Positiva: o desejo que cada um tem de que suas necessidades sejam
supridas. A autoimagem positiva ou ‘personalidade’, incluindo o desejo dessa
autoimagem ser apreciada e aprovada;

5
Face Negativa: o desejo que cada um tem de que suas ações não sejam
impedidas pelos outros. Os limites básicos de território/espaço, de defesa pessoal, de
direito a não distração. Exemplo: direito de ação e de liberdade frente à imposição.
A polidez tem seu caráter linguístico, uma vez que, a face é moldada, na
maioria das vezes, pelas práticas enunciativas que realizamos em conjunto com outras
formas de interação sejam utilizadas na manutenção da autoestima. Nesse sentido, Foley
(2005) caracteriza a Face como sendo: [...] linguisticamente construída e a capacidade
de usar habilidades verbais facilmente é o que nos possibilita manipular um encontro
social a fim de maximizar nossos ganhos de face e minimizar nossas perdas. (p. 270)
De acordo com Goffman (1967, p.309 apud JAWORSKY & COUPLAND,
1999), estudar a forma de manutenção da Face de uma determinada cultura é estudar as
regras da interação social. Desse modo, apresentamos algumas estratégias de polidez
descritivas/ classificadas por Brown e Levinson (1987).

Quadro 1: Estratégias de Polidez apresentadas por Campos-de-Sousa (2016), baseadas em


Brown e Levinson (1987)
POLIDEZ POSITIVA POLIDEZ NEGATIVA POLIDEZ INDIRETA
1) Note, preste atenção no 1) Seja convencionalmente 1) Dê pistas /
ouvinte (seus interesses, indireto; Insinue;
desejos, necessidades); 2) Recorra aos modalizadores 2) Dê pistas
2) Exagere (interesse, (“hedges”) para evitar associativas;
aprovação e simpatia); comprometimento; 3) Pressuponha;
3) Intensifique o interesse do 3) Seja pessimista – presuma que 4) Minimize;
ouvinte; o ouvinte não colabore com 5) Exagere;
4) Use marcadores de você; 6) Use tautologias;
identidade de grupo; 4) Minimize a imposição; 7) Use
5) Busque concordar; 5) Preste deferência (tratando contradições;
6) Evite discordância; como alguém superior); 8) Seja irônico;
7) Pressuponha/ levante/ 6) Desculpe-se; 9) Use metáforas;
assegure um terreno 7) Impessoalize locutor e 10) Use questões
comum; interlocutor (evitando retóricas;
8) Brinque para deixar o pronomes de 1ª e 2ª pessoa); 11) Seja ambíguo;
interlocutor à vontade (Faça 8) Estabeleça o FTA como uma 12) Seja vago;
piadas); regra geral (que independe da 13) Generalize;
9) Assegure ou pressuponha o sua vontade); 14) Desloque o
conhecimento e a 9) Nominalize; ouvinte;
consideração do falante 10) Comporte-se como se 15) Seja
sobre o desejo do ouvinte; estivesse em débito com o incompleto, use
10) Ofereça, prometa; interlocutor ou como se este elipses.
11) Seja otimista; não lhe devesse nada.
12) Inclua falante e ouvinte na
mesma atividade;
13) Dê ou peça razões;
14) Assuma ou assegure a
reciprocidade (entre falante
e ouvinte);
15) Dê presente ao ouvinte
(qualidade, simpatia,
entendimento, cooperação).

6
Fonte: autor do trabalho.

O termo “estratégia”, em contextos de polidez linguística, segundo Barrere


(2017, p.390),

[...] é usado por eles, devido ao fato de ser um termo que remete à cognição,
isto é, um elemento da racionalidade que engloba atitudes conscientes e
também inconscientes, o que significa dizer que os indivíduos sabem o que é
necessário amenizar os riscos de ameaça às faces envolvidas, porém as
escolhas estratégicas são feitas com tanta rapidez e naturalidade que esse
processamento nem sempre acontece de maneira totalmente consciente.

É exatamente nesse sentido de preservar a face dos interlocutores que


percebemos a real necessidade e a importância de utilizar as estratégias de polidez
apresentadas acima como meio de minimizar os efeitos de ameaça dos sujeitos
envolvidos.
Por outro lado, cada contexto possui suas particularidades que consequentemente
exercem efeitos sobre o modo como a polidez deve atuar. Assim, quando observamos
como as pessoas se cumprimentam, amigos/conhecidos que não se veem há bastante
tempo, é possível verificar a partir do que é dito um modo específico, particular, de
interação que pode ser diferente ou variar conforme a situação como também o grau de
intimidade dos indivíduos.
Partindo da categorização de Brown e Levinson (1987), a brincadeira é uma das
estratégias de preservação da Face positiva, assim como o exagero, mostrando interesse,
aprovação e simpatia para com o outro. Tais estratégias são intenções utilizadas de
forma particular por parte do interlocutor, é uma maneira de suavizar um discurso, de
certo modo, grosseiro ou torná-lo mais direto. Essas são atitudes que dependem
estritamente da face positiva ou negativa.
A partir do postulado de Brown e Levinson (1987), Leech (1983) foi a fundo em
seus estudos sobre polidez linguística. Barrere (2017) comenta que esse autor “buscou
aprimorar os princípios conversacionais, estabelecendo as “Máximas da Polidez” (p.3),
que consistem na maneira como os interlocutores se comportam ao expressarem suas
opiniões, como mostra a seguir:
1. Máxima do Tato:
a. Minimize o custo do outro
b. Maximize o benefício do outro
2. Máxima da Generosidade

7
a. Minimize o benefício de si próprio
b. Maximize o custo a si próprio
3. Máxima da Aprovação
a. Minimize a aprovação do outro
b. Maximize a honra do outro
4. Máxima da Modéstia
a. Minimize seu orgulho/ sua vaidade
b. Maximize sua modéstia
5. Máxima da Concordância
a. Minimize a desavença entre as pessoas
b. Maximize a concordância entre pessoas
6. Máxima da simpatia
a. Minimize a antipatia
b. Maximize a simpatia
Compreende-se que a máxima da polidez oferece uma noção de contraste
existente no comportamento do indivíduo ao demonstrar sua opinião. Em cada
modalidade da máxima, o interlocutor tem duas possibilidades: minimizar ou maximizar
o discurso. Desse modo, estamos diante de três formas de estratégias de se apropriar da
polidez e, apesar de esta ser positiva, negativa ou máxima, o objetivo principal torna-se
um só: evitar ameaças e preservar a face do participante na interação. (BARRERE,
2017).
A polidez funciona, nesse sentido, para preservar/resgatar a face perdida. A face,
por outro lado, é a forma como o sujeito gostaria de ser visto. Koch (1992, p. 107) se
posiciona da seguinte maneira: “cada indivíduo tem uma face externa (positiva) (...) Por
outro lado, possui uma face interna (negativa)” (apud BARRERE 2017, p. 388).
Nessa perspectiva, entende-se por face positiva como a face externa do
interlocutor, aquela capaz de suavizar o discurso, a face que o indivíduo gostaria de ser
vista pelo próximo, enquanto que a face negativa é a face interna, aquela que permanece
no seu interior, no oculto, que jamais gostaria de revelar, e gostaria de manter
preservada.

2.2 Polidez linguística

8
São muitas as noções de polidez dentro do campo da linguística, e faz-se
importante ressaltar os múltiplos conceitos desse fenômeno linguístico para obtermos
melhor compreensão sobre a linguagem polida.
De acordo com Foley (2002, p.270), “a Polidez pode ser conceituada como
sendo um conjunto de habilidades sociais que objetiva a certeza de que cada indivíduo
se sinta socialmente afirmado”, já para Spolsky (1998, p.19), esse fenômeno “em termos
mais simples, consiste no reconhecimento do ouvinte e de seus direitos dentro de uma
determinada situação”, em se tratando sobre O Discurso da Polidez, Alves (1994, p.60),
afirma que a polidez não é um instrumento da comunicação, mas, antes, uma verdadeira
“estratégia social”. Sendo assim, “A polidez é, então, a manifestação, através da fala, de
respeito, em relação à face do outro. Comumente vem acompanhada de uma
demonstração, mostrando nossa preocupação pelo outro, quando estamos justamente no
ato de ameaçar a sua face” (WOLFSON, 1989, p.67). Os pressupostos básicos adotados
por Brown e Levinson nos remetem exatamente a essas estratégias, colocando em pauta
as premissas de que:

a) Ser polido é ser indireto; b) ser indireto é ser implícito; c) a indiretividade


tem seu conteúdo dependente das implicaturas e é obtida através da
inferência. A relação entre polidez e a indiretividade é considerada assim, sob
dois pontos de vista: Por um lado, a razão de ser indireto é ser polido, ou seja,
se abandonarmos os princípios conversacionais (como gricerianos) o fazemos
em nome da polidez. Por outro lado, a melhor forma de ser polido é ser
indireto, quanto mais extrema é a necessidade de ser polido mais indireta
deve ser a estratégia de polidez. (C.F. ESCANDELL VIDAL, 1996 apud
RODRIGUES, 2014, p. 5)

Na concepção de Rodrigues (2014) é possível compreender a indiretividade


como uma qualidade ou caráter do sujeito polido. Ela funciona como uma estratégia da
interação verbal, que torna a conduta do falante mais minimizada em relação ao ouvinte.
Dessa forma, ela pode atingir o mais alto grau de polidez, pois, quanto maior for o
esforço do falante em compreender o discurso indireto como estratégia de minimizar a
imposição sobre sua face, maior será o nível de polidez usado por ele. (RODRIGUES,
2014).
Segundo Barrere (2017, p.389),

A polidez está relacionada a processo de preservação da face e consiste em


uma atitude duplamente orientada que visa organizar e manter a cordialidade
no tratamento que os indivíduos oferecem uns aos outros em certas situações
de comunicação.

9
Conforme exposto pelo autor, acima, a polidez só existe em razão da face, em
uma perspectiva de interação linguística que possibilite a cordialidade, a simpatia e a
moderação na forma de tratar os envolvidos no ato de comunicação.
Por outro lado, a polidez linguística está situada dentro dos padrões de
comportamento, que conduzem toda e qualquer interação, de maneira a abrigar-se às
intenções comunicativas e sociais dos sujeitos. Entre as intenções nas quais se registra a
polidez, encontra-se a manutenção da estabilização das relações interpessoais. Ou seja,
os falantes concentram táticas de polidez em suas interações com a finalidade de mantê-
las livres de conflitos. Goffmam (1967) reitera que,

O termo face pode ser definido como um valor social positivo que uma
pessoa reclama para si mesma através daquilo que os outros presumem ser a
linha tomada por ela durante um contato específico. Face é a imagem do eu
delineada em termos de atributos sociais aprovados (...) (GOFFMAN,1967,
p.5)

De acordo com o autor, toda relação de interação acaba sendo potencialmente


intimidante, fazendo com que os sujeitos policiem seus comportamentos verbais para
que assim ocorra harmonia durante a interação social.
É sabido que a polidez é a base para a vida em sociedade e tem valor
sociocultural inestimável para a sociolinguística, tendo em vista que a linguagem não é
uma mera transmissora de informações, mas sim aquela que regula as relações sociais.
A polidez linguística está presente em nosso cotidiano basicamente em todos os
discursos que proferimos, e ela se manifesta de maneira positiva ou negativa,
dependendo das relações traçadas.
Em muitos casos, a polidez é vista como um conjunto de regras, boas maneiras
que devem serem utilizadas durante um ato conversacional, tendo em vista que se faz
necessário ser claro e polido durante um diálogo. Contudo, a polidez acaba por se
sobrepor a esse conjunto de regras, colocando em evidência que é aconselhável
evitarem conflitos para se alcançar a clareza.
Observa-se que a polidez parte do princípio de conservar o equilíbrio social e as
relações amigáveis, fazendo com que haja uma relação de cooperação entre os sujeitos
envolvidos no discurso.
Segundo Brown e Levinson (1987), no que diz respeito à polidez linguística nos
atos de comunicação,

10
A polidez se manifesta em contextos sociais específicos e que a compreensão
que o falante tem desse contexto é essencial. O falante precisa entender o tipo
de relação que se estabelece entre ele e seu ouvinte, entender a
contextualização da enunciação, compreender o tipo de ato por ele
enunciado, para então selecionar uma estratégia adequada capaz de atenuar
os efeitos indesejados causados por esse ato, nesse determinado contexto e
em relação a esse determinado ouvinte. Isso mostra que o uso das estratégias
de polidez nas situações comunicativas está diretamente ligado aos efeitos
perlocucionários que essas estratégias produzem em um contexto particular.
Daí a importância do papel da polidez na interação verbal, já que, quanto
melhor forem os efeitos perlocucionários produzidos por uma estratégia, mais
o ouvinte estará disposto a cooperar com o falante e, assim, mais chances terá
o falante em alcançar o sucesso da interação. (BROWN e LEVINSON, 1987,
p. 281)

Partindo desse excerto, é notório como se dão os atos de comunicação verbal


entre os interlocutores de um dado diálogo, se faz necessário entender os diferentes
contextos sociais dos envolvidos nos diálogos.

2.2 Fins interacionais da Polidez Linguística (PL): categorias das estratégias

Naquilo que se refere à polidez positiva e negativa, postuladas por Brown e


Levinson (1987), em que apenas o ouvinte tinha papel de destaque nas conversações,
Paiva (2008) vem colocar em evidência a participação do falante tanto na ação da face
positiva quanto na da face negativa, nos mostrando que há uma importante relação entre
as estratégias de polidez linguística e o locutor/falante, uma vez que, quando sua própria
face se encontra em risco, utiliza-se de estratégias para prevenir ou amenizar um ato
ameaçador de face. Sendo assim, o autor afirma que a PL deve também ser considerada
na perspectiva de face do falante e de seus interesses, pois, “assim como o ouvinte, o
falante também possui interesses que deseja compartilhar socialmente e que sente a
necessidade de ser aprovado por determinado grupo e ter, ao mesmo tempo, a liberdade
de ação.” (PAIVA, 2008, p. 60).

2. 3 A situação interativa e a polidez

Conforme Fávero, Andrade e Aquino (2000, p. 69-71), os indivíduos em


situação interacional desenvolvem uma relação dialógica, em que seus diálogos se
adaptam segundo suas necessidades. Entretanto, segundo os autores, quando se trata do
uso de polidez, não são somente as intenções dos interagentes que influenciam nos
comportamentos linguístico-discursivos. O contexto pode também propiciar o uso da
polidez.

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Determinado contexto pode estabelecer entre os indivíduos, em interação
comunicativa, conversações espontâneas, que, segundo Campos de Sousa (2016, p. 95),
caracterizam-se por uma simetria entre os interactantes quanto ao turno conversacional,
ou não espontâneas, que, conforme a autora, caracterizam-se por uma relação
assimétrica2, como ocorre em entrevistas. Contudo, nos é alertado pela autora que essas
características não são estanques. Elas podem se alternar3 no curso da conversação.
No âmbito da Entrevista como gênero, ela é convencionalmente caracterizada
por uma relação assimétrica entre os participantes da interação — entrevistador (es) e
entrevistado(s). (CAMPOS DE SOUSA, 2016). Por outro lado, com base em Gil (2010
apud CAMPOS DE SOUSA, 2016), esse gênero pode ser realizado de algumas
maneiras, a saber:
– informal: é a entrevista menos estruturada possível, se aproxima da conversação
e geralmente é feita com representantes de uma determinada atividade ou
representante de um grupo;
– focalizada: trata-se de uma entrevista livre, contudo ela deve se centrar em um
tema específico. Cabe ao entrevistador conduzir o entrevistado a seguir
rigorosamente o tema proposto;
– entrevista por pauta: é em alguma medida estruturada, seguindo alguns pontos
pré-estabelecidos que apresentem correlação entre si, porém, o entrevistado
pode falar livremente sobre o tema em pauta e o entrevistador pode intervir
sutilmente assegurando a espontaneidade do processo interativo;
– estruturada: realiza-se com maior fixidez na sua estrutura, a ordem e redação
permanecem invariáveis para todos os entrevistados. Há padronização das
perguntas e respostas.
A princípio, supõe-se que, dentre as formas listadas de se realizar uma
entrevista, é estabelecido o modo como se dará o diálogo entre os interagentes.
Entretanto, como já foi dito anteriormente, esses modos não são estanques. Assimetria e
simetria podem se alternar no curso da interação em uma situação de entrevista. Nesse
sentido, reforça Campos de Sousa (2016, p. 100) que,

[...] no decorrer de suas realizações, os papéis assumidos se modificam,


entrelaçam-se e a aparente monotonia e objetividade das perguntas e

2
“[...] na qual um participante da interação conversacional ocupa uma posição diferente, de maior autono
mia e se torna o mediador da temática discutida, condutor e direcionador dos turnos, dando posse ao outro
ou dele tomando o turno como ocorre nas entrevistas” (CAMPOS DE SOUSA, p. 95)
3
Cf. GUIMARÃES (2010).

12
respostas é desfeita dando lugar à complexidade da organização dos
diferentes enquadres que se desenvolvem e na postura assumida pelos
interagentes diante dessa mudança.

Isso pode acontecer, pois, a entrevista “constitui um jogo conversacional, um


encontro como diz Goffman ([1967] 2011) em que as faces estão expostas às ameaças”
(CAMPOS DE SOUSA, 2016, p. 96), tornando-se, por vezes, um espaço de confronto,
de um frágil equilíbrio, em que os entrevistadores estão a todo o momento ameaçando a
face dos entrevistados, como afirmam Lins e Marchezi (2010, p. 2390). Segundo esses
autores, nesse contexto,

[...] é impossível controlar a imagem que um participante faz do outro. Essa


impossibilidade acarreta uma desconfiança, que faz com que os participantes
se sintam ameaçados uns pelos outros. É esse sentimento de ameaça que
caracteriza os conflitos que podem ocorrer entre entrevistador e entrevistado.
(LINS; MARCHEZI, 2010, p. 2386)

Por outro lado, afirmam Fávero, Andrade e Aquino (2000, p. 70) que, “Nas
entrevistas, entrevistador e entrevistado cumprem seus papéis alternando-se nos turnos
ao mesmo tempo em que contribuem para o desenvolvimento desse tipo de texto.” Ou
seja, há uma espécie de colaboração entre os participantes, enquanto que parece, por
vezes, não haver. Nesse sentido, as entrevistas, de acordo com Lins e Marchezi (2010,
p. 2386), “tendem ora para o contrato ora para a polêmica”.
Isso porque, nessa situação interativa, “os interlocutores representam seu papel
discursivo e de identidade (entrevistador/entrevistado) que pode ser definido como o
conjunto de direitos e deveres comunicativos associados aos papéis dos interagentes e
ao desempenho de uma identidade social.” (FÁVERO, ANDRADE; AQUINO, 2000, p.
70). Desse modo, a princípio, entende-se que, em um situação de entrevista, os
participantes ocupam posições distintas que demandam de si determinados
comportamentos verbais.
Acerca disso, Campos de Sousa (2016, p. 96) diz que,

Ao [entrevistador] é dada a autonomia de assumir a mediação entre as trocas


na conversação que se trava [...] e o entrevistado é conduzido pelas temáticas
propostas, enquanto essas não o ameaçam, quando se trata de temas
polêmicos que põem sua face em risco, geralmente tendem a utilizar
estratégias de defesa, buscando evitar conflitos, ou outros meios.

Para Nazarko, Ferreira e Godoy (2019, p. 11), “a entrevista é um gênero que não
está livre da ameaça à Face, pelo contrário, permite a utilização de estratégias de
diretividade ou indiretividade que contribuem na fluidez da entrevista e de seus

13
conflitos”. Sendo assim, quando uma situação de interação como dos achados em “resulta”
estes ganhos contornos conflituosos ou, em alguma medida, se dão na sua condução
perguntas que mobilizam determinado comportamento linguístico-discursivo na
resposta daquele a quem se direciona, a tendência desses interactantes é, geralmente,
para a amenização dos atos ameaçadores de face e a harmonia entre os membros na
conversação.
A partir de um corpus de uma entrevista do programa Roda Viva (Tv Cultura),
Fávero, Andrade e Aquino (2000) verificaram que para a construção de um equilíbrio
social entre as relações assimétricas e da intenção do locutor, as principais estratégias
são amenizar ou evitar as tensões durante interação.
Anaisy Sanches Teixeira (2018, p. 3280), ao avaliar as estratégias de polidez
verbal envolvidas em uma interação face a face em um contexto coercitivo aos
interagentes, uma entrevista televisiva de teor político, constata que há um equilíbrio no
uso das estratégias de ambos e, dentre as estratégias, há inúmeros usos de polidez
negativa de atenuação das FTAs, tanto de caráter substitutivo, quanto de caráter
subsidiário.
Lins e Marchezi (2010, p. 2390), também analisaram uma entrevista de teor
político, na qual as estratégias que os interagentes realizaram foram para preservar a
face, na medida em que um ameaça a face do outro. Esses autores constatam que, além
do entrevistado em questão atenuar as FTAs, em alguns momentos, ele também ameaça
a face do entrevistador a fim de preservar a sua face e a sua liberdade.
Esses achados são corroborados por Guimarães (2010) que, ao analisar a PL em
um contexto de entrevista, também de cunho político, além do uso de marcadores de
atenuação serem utilizados para evitar o “descompasso na interação”, usa-se “a
impolidez quando a polêmica e o confronto devem ser instalados ou quando há a
necessidade de se defender a própria imagem.” (p. 95).
Uma entrevista realizada em um programa de Tv, que contou com um famoso
ator como entrevistado, Nazarka, Ferreira e Godoy (ano) avaliaram que o entrevistador
buscou a todo momento preservar tanto sua face como a do participante da conversação,
a fim de que, desse modo, se estabelecesse a harmonia diante da assimetria no curso da
interação causada pelo entrevistado, que, na maioria das vezes, feriu ambas as faces do
entrevistador, sendo direto e sem estratégias compensatórias.

14
Por fim, sobre um outro contexto de entrevista, a qual teve como participantes da
interação verbal pesquisadores e estudantes universitários, estes do Cabo-Verde e Timor
Leste, Campos de Souza constatou que as mulheres tendem para uma preocupação
maior à preservação de suas faces do que os homens, e que os estudantes que vivem a
mais tempo no Brasil foram mais polidos na interação com os entrevistadores, uma vez
que utilizaram marcadores de atenuação, de concordância, de ‘riso’ e a busca por
aprovação.

3 ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS

O presente trabalho apresenta uma análise de cunho descritiva e qualitativa a


partir das estratégias de polidez linguísticas realizadas por esses sujeitos em situação de
entrevista, tendo como bases para a análise as estratégias listadas por Brown e Levinson
(1987).
A princípio, nesta seção, apresentamos o lócus da pesquisa, detalhando o modo
como se constituiu o ambiente para a coleta de dados, em termos de entrevista, os
participantes e todas as informações referente ao procedimento adotado para a
realização da análise dos dados coletados.

3.1 A comunidade Quilombola de Porto Alegre/Cametá-Pará

A comunidade de Porto Alegre, localizada4 na Rodovia Trans Cametá, BR 422,


Km 44, próximo ao quilômetro 40 da BR 422, as margens do Igarapé Anuerá, fazendo
fronteira com o município de Oeiras do Pará.
Segundo os dados do ITERRA (Instituto de Terras do Pará), de 2016, a
comunidade de Porto Alegre compreende cerca de 2.858,7 hectares. Estima-se que a
comunidade Quilombola possui uma população de 400 habitantes, constituindo 80
famílias aproximadamente. (NUPINQ, 2018). Segundo Durão (2021), encontram-se
nessa comunidade cerca de 80 residências, a maioria dentro do povoado, enquanto que
algumas outras famílias se ecnontram mais afastadas da área de concentração da vila.
A comunidade é considerada um miniquilombo, por fazer parte de um conjunto
de comunidades quilombolas pertencentes ao distrito do Juaba (PINTO, 2001 apud

4
Informações extraídas do IBGE.

15
Durão, 2021), onde algumas casas são distantes uma das outras e as pessoas que
residem nesse local são bastante receptivas e acolhedoras.
A maior fonte de renda desses moradores é o trabalho na roça, especificamente,
o cultivo da mandioca e a produção de farinha. Durão (2021) Apesar desta atividade ser
predominante, por perdurar quase o ano todo, existem outras fontes de renda
secundárias, como: a caça a animais silvestres, pesca, plantação de pimenta do reino e
outros extrativismos vegetais. Atividades estabelecida historicamente devida a “precária
autonomia” dos grupos formados a partir do crescimento demográfico e o medo da ré
escravidão (PINTO, 2001 apud Durão, 2021).
Quanto as suas práticas religiosas, os quilombolas de Porto Alegre possuem
várias matrizes, divididas entre religiões cristãs, como o catolicismo, religião
predominante, e evangélicos5, e o candoblé. Os quilombos levam muito a sério sua fé
religiosa, faz parte de sua cultura, de sua identidade.
Figura 1: Mapa da localização da comunidade de Porto Alegre, Cametá-Pa.

Fonte: IBGE (2010)


Além das estruturas socioculturais, a comunidade dispõe ainda de estruturas
formais de ensino. Durão, (2021),
Porto Alegre possui uma escola com duas salas de aula, onde funcionam no
período da manhã as turmas de maternal e jardim da educação infantil e as
turmas do 1º e 2º ciclo do ensino fundamental. No período da tarde
5
Constituidos pelas igrejas Assembléia de Deus e do Evangélio Quadrangular.

16
funcionam as turmas do 3º e 4º ciclo do ensino fundamental. A escola possui
uma média de 100 alunos matriculados. Contudo, o espaço físico da escola
não suporta todos os alunos para que seja possível a realização das aulas, por
isso, algumas turmas ocupam o barracão comunitário, no entanto, em período
de festividades dos santos padroeiros da comunidade, as aulas nesse espaço
são suspensas.

Porto Alegre possui uma escola com duas salas de aula, onde funcionam no período da
manhã as turmas de maternal e jardim da educação infantil e as turmas do 1º e 2º ciclo
do ensino fundamental.

3.2 Pesquisa de Campo

3.2.1 Perfil dos Informantes

Foram selecionadas em grupos as pessoas que participaram das entrevistas. Os


perfis dos entrevistados são de pessoas do sexo masculino com idade entre 15 e 25 anos
e com nível de escolaridade no ensino médio. Essa seleção de jovens se deu no período
da Pandemia quando os mesmos estavam em período de lockdown e o público alvo
escolhido foram os mais jovens por estes terem baixo risco de contaminação do vírus,
visto que essa pesquisa se deu no período de pandemia.

3.2.2 Entrevista (coleta de dados)

Para que pudéssemos coletar um conjunto de dados em que fosse possível


verificar as estratégias de polidez linguísticas realizadas nas formulações discursivas
desses participantes foi utilizada/realizada uma entrevista que atendesse alguns dos
aspectos estruturantes desse gênero, conforme elencados por Gil (2010) (cf. Campos de
Souza, 2016). A entrevista, por tanto, caracterizou-se pelo aspecto informal e por pauta.
O Local da entrevista foi na Comunidade quilombola de Porto Alegre, na qual o grupo
entrevistado estava à vontade ao ar livre.

3.2.3 Elaboração das perguntas

Para essa entrevista foi elaborado um questionário aberto na intenção de


provocar interação entre os interlocutores, apresentando temas que remetem as suas
vivências diárias. O que espera esses participantes nessa comunidade, a saber:
Educação; Família; Futuro; Relações humanas; Sociabilidade e Religiosidade.

17
3.2.4 Tratamento dos dados

A entrevista foi gravada com aparelho móvel celular. O resultado foi um registro
sonoro com conteúdo oral das falas dos participantes de 25 minutos e 37 segundos. A
partir desse registro, foram realizadas as seguintes tarefas:
1º) Audição e Transcrição do registro sonoro das falas: com o auxílio do
programa computacional Audacity6, o registro foi ouvido e, com isso, transcrito
grafematicamente, considerando alguns aspectos orais representados por símbolos ou
formas de texto, com base no modelo de transcrição de Marcuschi (2002);
2º) Identificação e Classificação das estratégias de polidez: a partir do texto
oral transcrito grafematicamente foi realizada a identificação dos eventos de polidez
linguística considerando tanto a formulação discursiva quanto alguns elementos lexicais
dentro dessas elaborações que dessem conta de determinar a presença de estratégia de
PL. Desse modo, considerando o aspecto discursivo e seus elementos constituintes, foi
realizada a classificação dessas estratégias em sua natureza negativa, positiva e/ou
indireta;
3º) Organização dos trechos nos quais as estratégias foram realizadas: os
trechos nos quais foi realizada a estratégia foram organizados conforme a estratégia, o
tipo de polidez (PN, PP, PI) e o tema envolvido com o trecho.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da identificação, classificação e organização desses dados foi possível


realizar um levantamento que, além de apresentar quais estratégias esses jovens
utilizam, apresenta também algumas tendências de uso dessas estratégias nessa situação
de interação.
A partir da identificação, classificação e organização desses dados foi possível
realizar um levantamento que apresentam as tendências de uso das estratégias nessa
situação de interação. Além disso, foi possível verificar como se constituíram as
estratégias de PL nas formulações discursivas e como elas se relacionam com as
temáticas pautadas, pois acredita-se que estas contribuem os usos de estratégias na
entrevista.

4.1 Números de Estratégias de PL em Ordem Decrescente.


6
Audacity é um software livre para a inspeção e edição digital de áudio disponível para plataformas: Win
dows, Linux e Mac.

18
No quadro 01, abaixo, apresentamos as estratégias de Polidez Linguísticas
presentes nos dados coletados para essa pesquisa, reconhecemos que a polidez não é um
fenômeno contável, mas quantificamos as ocorrências de atos polidos para mostrar as
tendências de uso na Comunidade Quilombola de Porto Alegre/Cametá-Pará.

Quadro 01: Número de estratégias de Polidez Linguística (PL) nas interações da Comunidade
Quilombola de Porto Alegre
Estratégias Tipo Quantidade
1. Atenuação PN7 41
2. Intensificação PP8 36
3. Ofereça, prometa PP 20
4. Impessoalize PN 16
5. Marc. de identidade de grupo PP 15
6. Busque concordar PP 13
7. Evite discordância PP 9
8. Generalize PI9 9
9. Seja vago PI 6
10. Use metáforas PI 6
11. Inclua falante e ouvinte PP 5
12. Pressuponha, assegure um terreno PP 5
comum
13. Assegure ou pressuponha o PP 4
conhecimento
14. Brincar, fazer piada PP 3
15. Seja irônico PI 3
16. Ser incompleto, utilizar elipse PI 2
17. Desculpe-se PN 1
18. Minimize PI 1
19. Note, preste atenção no ouvinte PP 1
20. Seja ambíguo PI 1
21. Seja otimista PP 1
22. Ser irônico PI 1
23. Usar contradições PI 1
Fonte: elaborado pelo autor da pesquisa.

O quadro 01 apresenta 23 estratégias que os jovens da comunidade realizaram


no momento da entrevista. Dentre essas, destacam-se as 3 primeiras estratégias, as quais
tiveram uma maior tendência de uso, a saber: Atenuação (PN); Intensificação (PP);
Ofereça, prometa (PP).
Dentre essas três estratégias, a atenuação obteve maior número de usos (41) em
comparação com as outras. Porém, com uma quantidade aproximada a da intensificação,
que foi realizada 36 vezes.

7
Polidez Negativa
8
Polidez Positiva
9
Polidez Indireta

19
A frequência de uso da atenuação pode estar diretamente ligada à natureza do
contexto interativo pelo fato de ser entrevista, obter perguntas, que tem algum grau de
ameaça à face, relação assimétrica entre entrevistador e entrevistado, a temática tratada.
Entretanto, essa conclusão confronta outro achado, a seguir.

4.1.1 Tendências de uso dos tipos de Polidez Linguística (PL)

Apesar de termos especificamente uma frequência de uso significativa da


estratégia Atenuação, que é uma estratégia de polidez negativa, quando se trata do tipo
de PL, foi observada uma maior frequência de Polidez Positiva.

Tabela 01: Tipos de PL e tendências de uso

PP 112

PN 58

PI 30

Fonte: Elaborado pelo autor da pesquisa.


O quadro apresenta uma tendência de uso de estratégias de natureza positiva.
Podemos observar pelo quadro anterior a este as estratégias que representam essa
quantidade. O número de polidez positiva representa pouco mais que o dobro da polidez
negativa. Foram poucas as ocorrências de polidez indireta.
Esse dado parece ser incomum quando se trata de entrevistas, uma vez que,
nesse contexto de interação discursiva, há tendência para polidez negativa, em razão das
características desse contexto. Porém, a razão para este resultado provavelmente reside
nas temáticas tratadas no decorrer da entrevista.

4.1.2 Relações entre estratégias de PL e temas da entrevista

Buscando atender ao objetivo Compreender/Discutir as razões/os fatores


envolvidas/os no uso dessas EPL, observamos que a sua resposta não está centralizada
ao tema das entrevistas, mas em vários pontos da análise. O Tema só é uma das
razões/fatores que estão envolvidos no uso. Há outras razões que precisam ser
consideradas, como a interação face a face e o contexto de realização do ato de fala.
A figura abaixo reforça a ideia de que, conforme o tema abordado em uma
entrevista, os falantes tendem a ter determinado comportamento linguístico-discursivo,
ora orientado para o uso de polidez positiva, negativa ou indireta. Vejamos:

20
Figura 01: relações entre os tipos de estratégias de PL e temas

Fonte: Elaborado pelo autor do trabalho.


A figura acima apresenta 6 temas que foram abordados durante a entrevista.
Cada um deles está relacionado à quantidade de uso dos três tipos de polidez (positiva,
negativa e indireta). Além disso, a ilustração representa as tendências de uso dessas
estratégias. Dessa forma, observamos o seguinte:

4.2 Categorias de funcionamento das estratégias de Polidez Linguística.

Sintetizando as ocorrências de polidez linguística quanto à temática,


apresentamos o quadro 01, abaixo, em que reúne todas as temáticas e as ocorrências de
estratégias por temática tratada durante a entrevista.
Quando o tema é (...), que estratégias de PL são usadas e para quais fins?
Quadro 02: Estratégias de Polidez Linguística por temática

Tema Núm. de Estratégias Tipologia Categorias/fins


comunicativos
2 Atenuação PN 7. Redução do peso e da
2 Impessoalize PN Responsabilidade com o ato
2 Use metáforas PI Ameaçador de face (fta)
1 Intensificação PP 3. Geração de expectativas
RELIGIÃO
(intensifique o do ouvinte em relação às
interesse do ouvinte) ações do falante
1 Ofereça, prometa PP
1 Inclua falante e PP 1. Inclusão e manutenção
ouvinte do ouvinte na interação

21
12 Impessoalize PN 7. Redução do peso e da
7 Generalize PI responsabilidade com o ato
4 Seja vago PI ameaçador de face (fta)
3 Use metáforas PI
1 Seja incompleto, PI
utilizar elipse
1 Seja irônico PI
23 Atenuação PN
8 Busque concordar PP 5. Busca pela harmonia
1 Evite discordância PP interacional
RELAÇÕES
HUMANAS 4 Intensificação PP 3. Geração de expectativas
2 Ofereça, prometa PP do ouvinte em relação às
ações do falante
1 Brincar, fazer PP 2. Simpatia do falante em
piadas relação ao ouvinte
7 Marc. de PP 1. Inclusão e manutenção
identidade de grupo do ouvinte na interação
2 Pressuponha, PP
assegure um terreno
comum
1 Inclua falante e PP
ouvinte
2 Seja irônico PI 7. Redução do peso e da
1 Seja vago PI responsabilidade com o ato
2 Atenuação PN ameaçador de face (fta)
FUTURO
1 Evite discordância PP 5. Busca pela harmonia
interacional
15 Intensificação PP 3. Geração de expectativas
11 Ofereça, prometa PP do ouvinte em relação às
ações do falante
2 Brincar, fazer piada PP 2. Simpatia do falante em
1 Assegure ou PP relação ao ouvinte
pressuponha o
conhecimento
2 Marc. de PP 1. Inclusão e manutenção
identidade de grupo do ouvinte na interação
FAMÍLIA 1 Desculpe-se PN 7. Redução do peso e da
1 Generalize PI responsabilidade com o ato
1 Impessoalize PN ameaçador de face (FTA)
1 Minimize PI
1 Seja ambíguo PI
1 Seja irônico PI
1 Seja vago PI
1 Use metáforas PI
6 Atenuação PN
5 Busque concordar PP 5. Busca pela harmonia
3 Evite discordância PP interacional
10 Intensificação PP 3. Geração de expectativas
5 Ofereça, prometa PP do ouvinte em relação às

22
ações do falante
3 Assegure ou PP 2. Simpatia do falante em
pressuponha o relação ao ouvinte.
conhecimento
1 Note, preste PP
atenção no ouvinte
5 Marc. identidade PP 1. Inclusão e manutenção
de grupo do ouvinte na interação.
3 Pressuponha, PP
levante, assegure um
terreno comum
1 Ser incompleto, PI 7. Redução do peso e da
utilizar elipse responsabilidade com o ato
1 Usar contradições PI ameaçador de face (fta)
7 Atenuação PN
1 Generalize PI
3 Evite discordância PP 5. Busca pela harmonia
EDUCAÇÃO Interacional
1 Seja otimista PP 4. Geração de expectativas
6 Intensificação PP do falante em relação às
1 Ofereça, prometa PP ações do ouvinte
3 Inclua falante e PP 1. Inclusão e manutenção
ouvinte do ouvinte na interação
1 Marc. de PP
identidade de grupo

A identificação de fins comunicativos baseada nas categorias de PL demonstra o


seguinte:

 Quando tratado o tema Educação, os jovens elaboraram seu discurso com fins de

- Categoria de Polidez Linguística10- CPL -7. Redução do peso e da


responsabilidade com o ato ameaçador de face (FTA), por meio das
estratégias: 7 atenuações; 1 Generalize; 1 Usar contradições; 1 Ser incompleto,
utilizar elipse.
- Categoria de Polidez Linguística - CPL -5. Busca pela harmonia Interacional, por
meio das estratégias: 3 Evite discordância.
- Categoria de Polidez Linguística - CPL -4. Geração de expectativas do falante em
relação às ações do ouvinte, por meio das estratégias: 6 intensificações; 1 seja
otimista; 1 ofereça, prometa.

10
Categoria de Polidez Linguística.

23
- Categoria de Polidez Linguística - CPL -1. Inclusão e manutenção do ouvinte na
interação, por meio das estratégias: 3 Inclua falante e ouvinte; 1 Marc. de
identidade de grupo.
 Quando tratado o tema Família, os jovens elaboraram seu discurso com fins de
Categoria de Polidez Linguística - CPL-7. Redução do peso e da
Responsabilidade com o ato Ameaçador de face (fta), por meio das estratégias: 6
atenuações; 1 use metáforas; 1 seja vago; 1 seja irônico; 1 seja ambíguo; 1
minimize; 1 impessoalize; 1 generalize; 1 desculpe-se.

Categoria de Polidez Linguística - CPL -5. Busca pela harmonia interacional, por
meio das estratégias: 5 Busque concordar; 3 Evite discordância.
Categoria de Polidez Linguística - CPL - 3. Geração de expectativas do ouvinte em
relação às ações do falante, por meio das estratégias: 10 Intensificações; 5
Ofereça, prometa.
Categoria de Polidez Linguística - CPL -2. Simpatia do falante em relação ao
ouvinte, por meio das estratégias: 3 Assegure ou pressuponha o conhecimento;
1 Note, preste atenção no ouvinte.
Categoria de Polidez Linguística - CPL -1. Inclusão e manutenção do ouvinte na
interação, por meio das estratégias: 5 Marc. identidade de grupo; 3
Pressuponha, levante, assegure um terreno comum.
 Quando tratado o tema Família, os jovens elaboraram seu discurso com fins de

Categoria de Polidez Linguística - CPL -3. Geração de expectativas do ouvinte em


relação às ações do falante, por meio das estratégias: 15 Intensificação; 11
Ofereça, prometa.
Categoria de Polidez Linguística - CPL -5. Busca pela harmonia interacional, por
meio das estratégias: 1 Evite discordância.
Categoria de Polidez Linguística - CPL -7. Redução do peso e da Responsabilidade
com o ato Ameaçador de face (FTA), por meio das estratégias: 2 atenuações; 2
Seja irônico; 1 Seja vago.
Categoria de Polidez Linguística - CPL -2. Simpatia do falante em relação ao
ouvinte, por meio das estratégias: 2 Marc. de identidade de grupo; 1 Assegure
ou pressuponha o conhecimento.
 Quando tratado o tema Relações humanas, os jovens elaboraram seu discurso
com fins de

24
Categoria de Polidez Linguística - CPL-1. Inclusão e manutenção do ouvinte na
interação, por meio das estratégias: 7 Marc. de identidade de grupo; 2
Pressuponha, assegure um terreno comum; 1 Inclua falante e ouvinte.
Categoria de Polidez Linguística - CPL -2. Simpatia do falante em relação ao
ouvinte, por meio das estratégias: 1 Brincar, fazer piadas.
Categoria de Polidez Linguística - CPL -3. Geração de expectativas do ouvinte em
relação às ações do falante, por meio das estratégias: 4 Intensificação; 2
Ofereça, prometa.
Categoria de Polidez Linguística - CPL - 5. Busca pela harmonia interacional, por
meio das estratégias: 8 Busque concordar; 1 Evite discordância.
Categoria de Polidez Linguística -CPL-7. Redução do peso e da Responsabilidade
com o ato Ameaçador de face (FTA), por meio das estratégias: 23 Atenuação;
1 Seja irônico; 1 Seja incompleto, utilizar elipse; 3 Use metáforas; 4 Seja vago;
7 Generalize; 12 Impessoalize.
 Quando tratado o tema Religião, os jovens elaboraram seu discurso com fins de

Categoria de Polidez Linguística - CPL- 7. Redução do peso e da Responsabilidade


com o ato Ameaçador de face (FTA), por meio das estratégias: 2 atenuações; 2
Impessoalize; 2 Use metáforas.
Categoria de Polidez Linguística - CPL-3. Geração de expectativas do ouvinte em
relação às ações do falante, por meio das estratégias: 1 Intensificação
(intensifique o interesse do ouvinte); 1 Ofereça, prometa; 1 Inclua falante e
ouvinte.
 Quando tratado o tema Religião, os jovens elaboraram seu discurso com fins de

Categoria de Polidez Linguística - CPL-7. Redução do peso e da Responsabilidade


com o ato Ameaçador de face (FTA), por meio das estratégias: 1 atenuação; 1
impessoalize.
Categoria de Polidez Linguística - CPL-5. Busca pela harmonia interacional, por
meio das estratégias: 1 Evite discordância.

6. CONCLUSÃO

O presente estudo analisou as estratégias de polidez linguística utilizadas nas


formulações discursivas dos moradores da comunidade de Porto Alegre, considerando

25
as estratégias utilizadas por falantes jovens, em situação de entrevista, diante de
determinados temas que envolvem assuntos dos seus cotidianos, tendo como principais
objetivos apresentar as estratégias de PL utilizadas por esses indivíduos e as finalidades
pretendidas por eles nesse contexto de interação discursiva.
Nesse sentido, foi possível verificar uma diversidade de estratégias utilizadas
nesse contexto interacional, por outro lado, houve algumas tendências para algumas
estratégias em detrimento as demais. Como é o caso da Atenuação que já era esperada
pelo fato de se tratar de uma entrevista, em que há em alguma medida uma certa carga
de ameaça à face dos indivíduos, como apontam algumas pesquisas apresentadas neste
estudo. Apesar disso, houve também uma forte tendência para o uso de Intensificação e,
se tratando da natureza da polidez, sendo essa de natureza positiva, compõe com as
demais uma maioria de uso desse tipo de polidez, o que contraria a ideia de que em um
contexto de entrevista espera-se que haja mais polidez negativa.
Desse modo, foi possível observar que o tema da conversação entre os falantes
pode determinar o modo como eles se comportaram linguísticamente. Os jovens
falantes se engajaram em falar mais sobre temas, como educação, família e futuro. Para
essas temáticas eles tendem a utilizar a estratégia de polidez positiva. Isso parece estar
relacionado à importância significativa que essas pautas têm para a vida desses
moradores. Porém, quando se trata de temas mais delicados, como relações humanas,
religião e sociabilidade, a tendência é para a polidez negativa por se tratar de temas mais
complexos que requer deles uma resposta mais elaborada e, portanto, eles se utilizam
dessas estratégias para justificar suas falas. Além do mais, sobre esses temas, os jovens
não se sentiram engajados em tratá-los. Por isso, houve a tendência de tratar de assuntos
que não provocassem uma maior carga de ameaça à face, mas que favorecessem a
harmonia, as expectativas e as faces positivas dos interlocutores.

26
REFERÊNCIAS

CAMPOS-DE-SOUSA, Benedita Maria do Socorro. A Polidez em entrevistas de


falantes de língua portuguesa de Cabo-Verde e Timor Leste. 2016. Tese (Doutorado) –
Universidade Federal do Ceará, Centro de Humanidades, Programa de PósGraduação
em Linguística, Fortaleza, 2016.
FÁVERO, L. L.; Andrade, M. L. C. V. O.; Aquino, Z. G. O. Papéis discursivos e
estratégias de polidez nas entrevistas de televisão. Veredas, revista de estudos
linguísticos, Juiz de Fora, v. 4, . 1, p. 67-77, 2000.
GUIMARÃES, Silvano Bragatto. A construção de face e a (im) polidez linguística em
destaque de Veja. 2010. Tese (Doutorado) – Universidade Estadual de Londrina,
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Estudos Linguísticos, Universidade
Federal do Espírito Santo, Espírito Santo, 2010.
LINS, M. P. P.; Marchezi, N. M. As estratégias de polideze a organização tópicaem
entrevistas impressas. In: Cadernos do CNLF, v. 14, n. 4, t. 3, 2010, Rio de Janeiro.
Anais eletrônicos [...]. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2010. p. 2377-2392. Disponível em:
http://www.filologia.org.br/xiv_cnlf/tomo_3/2377-2392.pdf. Acesso em: 16 de out. de
2021
NAZARKO, V.; FERREIRA, M. X.; GODOY, E. Estratégias semânticas e de polidez
linguística no gênero entrevista. In: Ciclo de Estudos em Linguagem; Congresso
Internacional de Estudos em Linguagem, 10, 3., 2019, Ponta Grossa. Anais eletrônicos
[...], Ponta Grossa: UEPG, 2019. Disponível em:
https://siseve.apps.uepg.br/storage/ciel2019/118_Viviane_Gritten_de_Oliveira_Nazarko
_Marmitt-156977167819405.pdf. Acesso em: 1 de set. de 2021.
RODRIGUES, Jan Edson. Polidez E Indiretividade: Estratégias e modelos de análise.
in: XVII Congresso Internacional Asociación de Lingüística y Filología de América
Latina (ALFAL 2014), 17, 2014, João Pessoa. Anais [...]. João Pessoa, 2014. p. 4856 -
4865.
TEIXEIRA, Anaisy Sanches. Análise de estratégias de argumentação e polidez verbal
no gênero entrevista televisiva. Fórum Linguístico, v. 15, n. 3, p. 3192-3209, 2018.

27
APÊNDICE

APÊNDICE 1 – TRANSCRIÇÃO GRAFEMÁTICA DOS REGISTROS DE FALA

E1: Entrevistador
E2; E3; etc.: Cada um dos entrevistados
E?: São aqueles em que não foi possível distinguir pela voz na audição dos
áudios. É necessária a revisão.
E1. A parte de vocês de estudo Como é que o/ (+) Esse esse estudo de vocês aqui A
comunidade ofere:::ce estudo pra vocês (++) como é que é isso?

00:29 E2. (+) EU eu tô estudando (++) Pela internet né (++) professora manda
atividade para nós aí:: FAZ a gente tem que entregar (+) No grupo de WhatsApp que
nós tem (++) Só que:: (+) esses dias agora (+) ainda não tá fazendo (+++)
(incompreensível)

00:52 E1. Sim (mano)! vocês estudam de:::sde pequeno aqui no na na na na vi::la?

00:57 E2. Desde de ÍXI (++) desde quando/ (++) (diria com) ((ri)) [E1. Nasceram]
primeira série, segundo (2.1) é:: o senhor até foi diretor uma vez diretor (lá) (+++)
(Ainda) estudava aí:: depo::is (++) Foi pra ali pro outro la::do (incompreensível) (2.6)
OITAVO (+) oitavo ano e o nono (++) Aí depois eu fui para Cidade (+) Fazer o
prime::iro (+) e o segundo agora Aí teve esse negócio de pandemia (++) parou tu:::do
(++) Teve que estudar só pela internet.

01:37 E1. E essa relação de vocês com os pais eles incentivam vocês a estuda:::r?

E2. O papai quando nós tamo a/ (+) jogando muito jog/ Free Fire (+++) fica qua/ ((ri))
vai dando porrada (++) Briga com nós para nós estudar (++) Nem fale até se nós não
estudar (++) a (incompreensível) se não eu apanho (++) mamãe então (3.3) nós todo
nosso apoio do nosso (+) papai daí (+) de casa tudo nós (++) num quer que nós pare de
estudar (2.2) e é isso.

02:19 E1. E vocês?

02:22 E3. Nós é a mesma coisa ((humor)) parar de estudar o papai me ((ri)) Ainda mais
que já é o último ano Nem fa::le eu tenho apoio total da minha família (2.5) Não querem
que eu pare não (+) eh uma vez eu fui inventar de falar (+) eh eu já/ falei ━ eu já tô no
terceiro ano eu vo/ vo par/ ━ mas eu eu tava brincando com ela eu falei ━ vou parar
(+) ela falou ━ Vem falar mais aqui perto na minha mão ━ (++) Eu num quero não (+)
((risos)) Tu é doido jamais [E? (Até obrigou parar de namorar pra nós focar nos nossos
estudos)] ela pagou casa (+++) casa pra me ficar na cidade pra me estudar (2.8)
((barulho de moto)) tu é doido!

03:09 E1. Ele fica só:: olhando lá né? ((falas e risos))

28
03:15 E4. Éh:: Também né:: (+) Éh::: (+) o estudo (+) é muito importante (+) éh:: o:: (+
+) eu to estudando (+) Eu parei né Eu tava no segundo ano eu tô meio PARADO ainda
(+) é/ [E? falei que não ia mais estudar] é eu falei que eu não ia estudar mais né e aí a
mamãe ficou braba comigo e aí ela falou que eu tenho que estudar (++) Aí eu/ eu vou eu
vo/ vo ter que voltar de novo lá (+) me:: rematricular de novo (+) (Mas) porque tipo eu
num eu num num parei né (+) Eu fiquei esse tempo afastado porque::: Por falta de
internet né que eu tava estudando::: (+) éh::: (+) Por aula online né (+) Pelo grupo do
WhatsApp da minha escola (++) Aí eu parei (+) por esse motivo fiquei sem internet (+
+) Mas (+) a::: (+) eu vou ter que (+) voltar lá na/ na escola (++) e::: (+) Pedi para eles
me botarem de novo no grupo (+) Porque o::s CONTATO que eu tinha do grupo da
escola eu perdi tudo (++) aí eu tive/ eu troquei de de chi::p (+) éh:: a questão foi essa daí
(++) Aí eu tô voltando em Cametá pra mim fazer isso de novo (++) pra mim voltar a
estudar (++) pra mim terminar o meu/ (++) meus estudos né e focar pra frente ((ri))

04:29 E1. e aqui na vila vocês (++) éh::: qual é o (+) sonho que vocês têm aqui? [E?
Virar modelo ((risos))] Pra VI::LA como estudan:::te Como morador aqui da vila.

04:45 E2. (incompreensível) estudar e (++) Estudar e (tipo) (+) ser alguém na/ (+) na
frente (té) e voltar pra cá pra:: (+) Ajudar o pessoal daqui da vila (++) Do Nosso pessoal
((marcador de identidade de grupo)) (2.0) Deus quiser dar aula (++) Pras criançada
daqui futuramente e tal (+++) Minha visão é essa (+++) e dá/ (+) comunidade.

05:11 E1. Todos vocês tem pai e mãe? (+) Todos são criado com quem com os/ (+) com
os avó:::s com os pa::is ?

05:17 E3. Eu moro com a vovó (+) Só que o papai mora lá PERTO mas eu num moro lá
moro com a minha vó (+) A maioria do tempo eu passo com eles Porque eu t/ eu ta/
trabalho com eles o dia inteiro (+) As vez que num vou assim (+) Que::/ hoje a gente
não foi mesmo porque (+) a gente terminou foi (++) Nós não eu não foi mais eles que
terminaram Ontem o serviço e DOMINGO ontem (+++) né:: a gente não foi hoje (+) só
amanhã (+) A maioria do tempo eu passo com o papai e com mamãe (+) só (+) varo de
tarde (++) com a vovó (+) moro com ela [E1. mas aqui na Vila mesmo?] Não! não moro
aqui sou filho do Necão lá da Vila (+) (lá da frente) [E1. Ah mas para mais tempo aqui
na vila] É! mais pra cá as vez que eu venho pra cá de tarde [E1. Dentro do território né]
hum hum!

05:59 E1. No:::: (1.8) para mais tempo com os pais né? (+) e a relação com os pais?

06:05 E2. Olha! (+) a relação aqui em casa é/ (++) boa [E1. A BRINCADEIRA pode
BRINCAR à VONTADE] anarquia brincadeira (++) Com a mamãe eu fico quase (+) o
dia inteiro enjoando ela (+) só na brincadeira (++) brincadeira saudável (++) num tem
(filho) (+++) Aqui em casa graças a Deus (++) Tudo certo tudo de boa (++) e (quais) (+
+) O papai é mais fechado mas (++) É porque é o pai né (+) Sempre vai mais fechado
né (+) Tem hora que nós fica na brincade::ira só na anarquia que eles vejam né (+) só
para na anarquia (+) ((risos)) (com os cara) (+++) éh::: (+) nossa relação é boa graças a
Deus.

29
06:50 E1. éh::: se vocês fossem (2.6) Fala::r deixa::r assim como se fosse uma::: (2.1)
Um recado uma mensagem pros (+) pros que que cuidam de vocês os pais de vocês os
responsáveis os avós (++) O que que vocês diriam pra eles com relação ao futuro de
vocês O que que eles podem esperar de vocês (2.9) Como forma de gratidão que que
vocês diriam pra eles?

07:17 E3. hum (++) Eu só tinha que agradecer sim (+) porque [E2. Mãe! pai!] (E4:
hum! hum!) [E2. Nun/ nunca se esqueça que (++) Ainda vou honrar vocês ainda] [E4:
trazer orgulho pra família ] [E2. Conquistar meu sonho e trazer orgulho pra senhora
mãe] (A gente) se transformar naquilo que (a gente) sempre sonhou né (+) que tipo num
vá/ num saia daqui (+) (dum) caminho bom para ir pro caminho errado (+) Que
nenhuma mãe quer isso toda certeza que nenhuma mãe nem um pai quer isso.

07:50 E2. o sonho da mamãe é ver eu fazendo (++) faculdade (+) se formando (+++)
Ainda vou realizar esse sonho dela (+++) (um dia)

08:01 E1. Você já tem aqui um curso já que (+++) (vocês) (++) Já pensaram assim num
cu:::rso que vocês pretendem faze:::r (+) seguir uma carre::ira (4.2) alguém já tem um
(+++) tu qual é o::: (2.6) Teus planos pro FUTURO (+) Pretende ficar aqui na vila
MESMO?

08:29 E3. hu:::m eu” (+) eu (+) (vou) fazer/ Como te/ como eu te falei logo/ no primeiro
né (incompreensível) eu ia fa/ fazer o curso pra Rotan (+) Se Deus quiser vai dar tudo
certo (++) Estudar (+) entrar para Rotan (+) e um dia vol/ poder voltar aí (1.7) com
meus pais né (+) poder ajudá-los (++) da melhor forma possível (1.9) Já tudo com farda
(+) a/ se Deus quiser.

08:55 E1. E o perigo da [E2 ((ri)) Da vida] da/ de usar/ [E3. Esse perigo eu vou ter que
ENFRENTAR né num vai tem jeito (+) venha o que vier (+) chego la/] como é que
surge isso aí essa/ [E2 (adrenalina)] VIU alguém tem alguém da família que já é isso (+)
Já faz parte da [E? Assiste muito filme] ou tu achou bonito a farda lá? [E4 Acho que foi
por incentivo dele mesmo]

09:18 E3. Não, eu fui sempre desde (+) Desde quando eu estudava/ hum/ nossa/ (no
quinto ano desde sempre) (++) sempre (né) já (+) cresci com isso na minha mente (+++)
Tipo eu achava” sabe eu achava” não, acho legal assim sabe boni::to assim de ver [E?
(incompreensível)] [E? Sem (mataridade) o Chicão fala ((ri))] nã:::o acho (+) com ele
porque eu sempre sonhei mesmo (++) entrar pra Rotan (+) Sempre sonhei vou realizar
se Deus quiser (1.7) Quando eu falei para mamãe ela também nã::/ num coisa sabe ela
me apoiou várias vezes (+++) meu Pai de novo (+) Nunca eles tipo me deram uma
palavra de desânimo (++) Sempre me deram uma palavra de (+) De animação sabe pra
mim nunca desistir (+++) e é isso

10:05 E1. Então a relação com teus/ com teus pais sã:::o [E3. São ótima] a relação bo:::a
né [E3. É! é legal passar o tempo com eles] pouca cobrança ou muita cobrança?

10:13 E3. Não! graças a Deus é pouca (1.8) Às vez que eu saio da linha às VEZES” (+)
mas isso (++) Eu peço desculpa aí.

30
10:24 E1. Tá novo ainda né? [E3. É::] [E? Tem 23 anos] [E3. ((ri)) Doido ((risos))
(incompreensível) ((ri))] (Ta novo) (++) Idade é uma idade boa (+++) ah:::: [E? Quem
dera que eu pegasse um meno uns 100 a::nos] [E? Porquê?] Olha os/ os 100 anos tem
que ter uma::: /ma::: (++) A perspectiva BOA né (+) SONHOS né:: (+) foca:::do (+++)
estu:::do (++) importante é FOCAR isso aí (1.9) qual é o nome dele lá? [E? Oséias] E
você, Oséias? [((risos))] (incompreensível) os teus estudos quais são as expect/ a::s
expectativas dos estudos? o que que (+) a VI:::LA o teus PAIS podem esperar disso?

11:15 ((falas))

11:33 E1. ah:: tu não tá estudando? [E? Não] tu não tá matriculado? [E? To:: mas (+)
[E? Num tá se interessando] (dois anos) num fiz atividade ((ri))] Ah:: tu não tá indo
buscar as atividades né (2.0) entendi. (2.5) Todo mundo aqui tem pai vivo (++) mã::e?
[E2. Graças a Deus] [E4. O meu ele (+) ele ta vivo, mas não mora com a gente (++)
separado] ((risos))

12:10 E1. Pra gente encerrar isso aqui:: (+) esse meu momento (++) assi:::m (++) Tem
muitas pessoas aqui idosa aqui na vila (+) vocês conhecem? (++) muitas pessoas? [E?
hum hum] Qual é a relação de vocês com essas pessoas mais idosas aqui? (++) Como é
que vocês conhe:::cem tem muito apeli:::do::: (vocês)?

12:31 E2. (incompreensível) eu conheço sim (+) é só idosa que tem aqui [E4. É::,
muitas pessoas idosas aqui:: mas só é ] só que/ [E4. A nossa relação são boas com elas]
é, tipo::/ [[E1. Quais são que vocês conhecem aqui:: as brincadeiras que vocês (++) que
TEM assim? [[E? Com a vovó então com a vovó eles meche muito ((ri))] chama de/ por
apeli:::do [E? Apelido] pelo NO::ME:: como é que eles falam?

12:50 E4. É:::! a gent/ voc/ a gente passa um no lado do outro [E2. Passa tipo assim
uma galera e tem gente que mexe com eles] ((ri)) fica mexendo [E2. Nessa comunidade
eles ficam/] [E? Somo PÉSSIMO nós] ((risos)) [E? Somo de tá brincan::do] ah, mas
uma brincadeira tipo que não é muito desrespeitosa né (+) éh:: aquela brincadeira:: éh::”
a gente tá:: tipo mexendo com o:::utro éh::: (+) Tipo assim falando assim ━ Ei fulano
de ta:::l! ━ [E? Apelidando] é! apelidando botando um apelidinho e aí pronto.

13:15 E1. Esse apelido seria como?

E4. Éh::: Porqui::::nho ((ri)) Maria ve::lha ((ri)) [E? ((ri)) (só falta já quer quebrar o
cara) ((risos)] [E1. Como é que é?] ((risos)) [E? maria velha disque] [E? vovó que
(sabe)]

13:36 E1. Maria VELHA é?

E? Por que Maria Velha?

13:40 E2. (porque) é Maria o nome dela.

13:46 E? eh:: Chamar/ eu chamo de velha pra coro/ pra minha vó ela fala ━ velho é o
mundo

13:59 E? Daqui a pouco é o futebo:::l

31
14:02 E1. as brincadeiras de vocês são o quê? (+) tirando da internet o quê que vocês
brincam mais aqui?

E? Hum:::” um apelidando o outro de (+) (de Benado) ((há uma fala simultânea))
((risos)) [E4. É:: tipo/] (de Barco)[E? Baralho] [E4. é tipo] (incompreensível)((falas
simultâneas))

14:13 E? Tem o Neymar Junior ((ri))

E4. Éh:: tipo Botar o nome de uma pessoa na outra ((ri)) [E? Aí fica falando] [E? Tem o
Clelcio] ((risos)) [E? Tal de:: ((ri))] É essa a brincadeira que a gente faz mais [E? Doido
êh:::] [E? tem o paizão ((ri)) o paizão não] [E? eu num tenho apelido eu] Paizão (+)
John Max ((humor)) [E? Tão tudinho aí logo (incompreensível)] [E? ((ri)) Tem o John
Max] ((risos e falas))

14:44 E4. éh/ num é a::/ a ((ri)) o Manduca ((ri))

E2. (Livalquia) ((risos))

14:53 ((risos e falas))

15:09 E1. A relação de vocês com com a Vila aqui é bo::a né [E? É!] E é isso que vocês
estão me falando aí (++) éh tem as BRINCADEIRAS tem ahm (++) FESTA:: éh (+)
nem se fala por enquanto, mas quando vocês participavam das festas vocês pagavam a
entra:::da por la pela/ [E? Pagava!] ((risos)) [E? pagava!] [E? Pagava principalmente eu
((ri)) entrar com a muleca tinha que pagar ((ri))] [E? Vintão então o cara tinha numa
farra era VINTÃO o cara xia] [E? Entrava logo/] [E? Trinta pau o casal ((ri))] [E? en/
en/ entrava logo escondido na festa] [E? Trinta conto o casal]
15:44 E4. Antes de começar a festa (incompreensível) [E? As vez (logo) o cara
arrumava as vez o cara arrumava uma fêmea que já tava lá dentro ((ri)) com a entrada
paga ((ri))] [E? Uma meia pulseira é só (++) meia pulseira aquela pulseirinha que dão
lá] Um dia um dia [E? Só dá a gente já (incompreensível) enquanto tá com
(incompreensível)] [E? Lá nós fizemo nós pass/ fize/ tiremo a pulseira e passemo lá por
cima] ((risos)) foi assim que a Andreza fez para mim, me deu a pulseira dela eu
coloquei no braço e entrei para dentro (+) lógico né eu num ia entrar pra fora ((ri))

16:11 E1. ah! usa a pulseira né [E4. É:::]


E? E lá cai pro samba e ((ri)) [E? Deixe estar (incompreensível)]
E4. E risco/ e risca o Brega

16:18 E1. Estilo de música que vocês gostam? qual é/ qual é o estilo que vocês mais
gostam? [E? Eu gosto de Rock doido e::u]
E4. O meu mais éh:::: (++) é len::to né um::/ [E2. O meu é Fa:::nk] um bre::ga [E1. É
mais um arrochazinho] [E? O meu é arrocha e Rock Doido] O meu é arrocha também
[E? o meu é um arrochazinho] [E? Melody também, mas/] [E? Melody] [E? As
marcante] o meu:::: é! também é marcante e um::: (+) um arrochinha lá só pra ((sorri))
((risos))

16:46 E1. Aqui a Vila tem algum projeto cultural?

32
E2. (Com) Capoeira [E4. Capoeira]

16:52 E1. Como é que vocês participam disso quando tava::


E2. Olha quando tava (+) fazia lá [E3. Eles davam aula lá no barracão] é eles davam
aula [E4. Eu (+) eu nunca participei] [E? De capoeira?] eu também eu ficava só olhando
lá [E? Eu também nunca participei só que o cara tinha vergonha] Só meu irmão que já
participou aqui no centro (+) ele já (++) (participou)

[Morador: Bora bora acabar a pesqui::sa]

17:14 E1. O homem casado lá [E? Maszu (mas o)]


E2. É::: aí casado lá [E? É::: depois que ele virou CASADO virou PAVULAGEM] [E3.
É ele se afastou mais de nós (+) só andava com nó/ moradessa ele tava aqui se ele num
tivesse com ela (+++) se afastou] ((risos)) parou de andar com nós [E3. É não anda mais
com nós] [E4. É::]
E? Aqui também casou ó [E? Não é mais um de nós] [E? ele não é mais um de nós
nesse exato momento] [E3. Ele não só casou como [E? já tem uma família] não só casou
como ele já tem uma família] ((risos))

E4. Esqueceu dos amigos ((humor))

17:42 E? Sabe quem tinha uma amig/ Coroa que ela deixou dele [[E? Tira uma folha aí
só pra mi falar uma história dele] (+) lembra que [[E1. Mas ele ele já tinha também?]
ele tinha ele tava casado [E1. Já tinha também?] [E? Já tava casado] [E? Ta:::va]

17:50 E? Só eu que nunca (+) arranje::i/ ele brigou com a muleca dele esses dias

(morador) Já tem mulhe::r, aquele ali de chapéu te::m, esse que tá na cadeira aí tem, tem
até tu tem mulher [E? Eu num tenho!] Daí tá solteiro esses dois aí e AQUELE LÁ
TINHA LÁ porque eu não sei o que deu [(moradora) tá queimado] mas tudo são/ esse lá
o Bernardo (++) tinha::: (+) único solteiro daí só o Gabriel (+) por enquanto né [E? Ele
é meu] Tu vai querer? [E? HAha Tu tá por fora do Gabriel a Cieli tá doido por causa
dele] ((risos))

E4. Esse negócio de namoro num é pra mim rapá tenho tenho::: éh um foco (mas) é em
outra coisa [[E? Mas tem essa cois/] [E1. ESTUDO!?] É::: [[E? eu ainda não penso em
arrumar mulher ainda pra me dá dor de cabeça (em nenhum de nós) (++) porque pro
cara arrumar uma mulher (as coisa) num tá fácil pro cara]
E4. ((falas simultâneas)) (incompreensível) me formar na na matéria que eu quero e
vinham passar a (incompreensível) [[E3 Eu com o Rafinha nós tem os nossos lances]
aquilo que aprendi (+) acho que é (ações) [[E? acho quem faz assim pro/] [[E? Hoje em
dia agora é só curtir com a muleca/ nós que tamo novo é só curti::::r (+) e sair (+) eu
penso assim num me apego a mulher eu] [[E? (Além) de se apegar (incompreensível) já
pegar fala em curtição tu só em curtição]
[[E? Nã:::o! eu curti com a muleca de (incompreensível)] ((falas simultâneas)) [[E?
Vamos dizer que o cara não fica, só dar um fica ali num leva nada a sério] [E? Nada a
sério] [E? Explica pra ela qual é a situação] [E? Sem se apegar] [[E? óh num quero nada
sério logo fal/] [[E4. (incompreensível) esse num num num é meu caso num falo nada
num me importo]

33
19:04 E1. Fica de longe lá ((ironia)) [E? Casado] é:: muda tudo né [[E? Vai casado]

19:12 E1. Pois é então é isso olha (++) éh:::: (+++) vocês têm sonhos têm projetos (++)
Vocês tem que lutar em cima disso né (+) tem que buscar isso aí (++) o ponto principal
((falas)) (++) e é o estudo (+) Se vocês estão estudan:::do mesmo com::: alguma
dificuldade mas [E? Bandidão (que é o) (+) da Rotan] não desistam sabe (1.9) e pronto a
idade tá boa (++) a idade de vocês é uma idade boa (++) eh:::: (+++) que vocês
continuem estudando né (2.7) Vocês queriam deixar assim alguma:: (2.7) Alguma
mensagem pra daqui a VINTE ANOS vocês LEMBRAREM disso (+) e falarem ━
olha! esse período eu falei isso e agora eu tô vivendo (+++) esse sonho.

20:04 E4. deixa eu ver aqui (+++) (deixa eu ver) éh:::: (++) segunda-feira dia 3 de Maio
(++) eu disse que eu queria:: me formar em:: (++) Na matéria que eu que eu (+) que eu
tenho sonho né que é em filosofia e geografia eu espero que ne/ (+) e ANOS seguintes
mais tarde eu vou conseguir me formar e pronto [E1. Dois mil e quarenta] é:: nesse:::
nesse (atraso) aí ou mais cedo [[E1. Ou em quarenta (+) e um] ou mais cedo (3.7) Tenho
essa ca::/ tenho que ter essa capacidade (+++) objetivo

20:38 E1. Vocês se chamam pelo nome mesmo aqui como é que você se chamam?
[[E? mas o que é? [[E? as vez as vez a gente chama pelo no:::me [[E? aqui é paizão [[E?
mais apelido as vezes [[E4 Num é apelido disque [[E? só apelido [[E? Esse aqui é o
Clelcio Cuxixó ((ri)) ((risos))
E? John Max aquele um [[E? Aqui é John Max ((ri)) [E? Doido]
E4. ((ri)) Nume é esse que é o John Max ((ri))
E? esse aqui é o Dicão ((ri)) (++) Tá qui o Lival ((ri))
E? (num foi o Munval) [[E4. O Necão ((ri)) [[E? A Telma ((risos))
E? Zecão ((ri)) [[E? Da Telma ((risos)) [E? Doido ((risos)) [E? Sai daí óh] [E? doido]
[E? Zinho] ((risos))
21:16 E? Aqui o Manezinho

21:23 E1. Como é que vocês se apelidam entre vocês? (++) vocês

21:27 E3. Como surgiu? (+++) ãh (+) daí (+) tal de Bené que (++) ((ri)) [E1. Tem um
tem um (+) [[E4. É porque tipo assim] um batizador:: aí:::] Tem tem mora pra lí o cara
que batizou esse apelido mora pra lí ((falas simultâneas)) [[E4. É porque um um um
pessoa/ [[E? Mas os cara que são da cidade, não!] [[E4. Uma pessoa mais feia daqui da/
[[E? os cara daí da/ tem daqui da cidade tem daqui [[E4. Uma pessoa que é mais feia
daqui quer cassoar a outra né já que todo mundo cassoa dela e ela já começou a botar
apelido do outro (+) no nome (incompreensível) O Bernardo quando ele já começou a
apelidar né Começaram a cassoar e:::le já começou a botar o apelido do Rafinha tipo:::
(+) o apelido do Rafinha” (+) no nome do (incompreensível)[[E3 ((ri)) botar bernardo
((ri)) e Rafinha] no no no do Quiel [E3 Doido ((ri))
E? Isso já começou a muito tempo ainda não parou (ainda) [[E3 ih::::: ainda não parou a
unica brincadeira que ainda num parou foi essa aí [[E2. Fo::i]
E3. E:: tipo essa brincadeira num num gera confusão nenhuma
22:10 E4. Ele já levam tipo já na na (++) [E? tudo na brincadeira]] é tipo, não, já é/
(levam na) (++) na graça
[[E1. Mas vocês tem essa (+) Essa relação entre vocês num (++) Num gera nenhum
atrito?

34
E? Não! [E? não!] e pelo menos entre nós nunca gerou e nem vai gerar graças a deus
E4. É porque eu fico mais preocupado né com o John Max aqui ((ri)) [[E? porque o::
John Max num (fudeu) esse vai ficar no lugar do John Max no futuro ((humor)) (++) é::
e pra ele tanto faz ter o apelido de John Max ((ri)) [E? John Max falou que ele pega cem
fêmeas por dia ((humor)) ((risos)) ele quer ser ele ((ri))] Nã não jamais
E1. Tem o dinheiro né?
E? É:: John Max [[E4. É essa frase que ele usa] [[E? John Max é muito pintoso] [[E4.
Essa frase que ele usa ele fala que ele tem dinheiro ((ri)) [E3. A fala dele a fala dele]
[E4. ━ Eu tenho dinheiro! ━ ((ri))] ((risos))
22:50 E3. ━ Posso conseguir a fê:::mea que eu quiser ━ ((humor)) [[E4. Posso
conseguir a mulher que eu quiser ele fala ((ri)) (+++) dinheiro num é o problema ((ri))]
[E? É dinheiro e mulher] [E4. Dinheiro num problema [[E? conta essa í conta essa í (+
+) chegou aos trezentos?] [E4. Trezu/ duzentos/ [[E? Duzentos e noventa e sete [[E?
Oitenta e oito né?
E2. Ele falou que ele tem marcado na agenda dela ((risos))
E? Diferente um do outro ((ri))

E1. Se eles fo/ se se [[E? (xave) goleador ((ri))] se eles fossem perguntar pra vocês
Alguém fosse perguntar para vocês O qual é a cultura aqui da:: (+) da vila (+) né (++)
éh::: vocês teriam como falar alguma coisa com relação a isso? (1.9) E que aqui a/ (+)
fazem ma:::i:::s DAN:::ÇAM::: o samba de Cace:::te:::: Carimbó SIRIÁ:::

23:37 E? Parada aí
E? Té é aliás éh ter tem, mas é só nos periodos da festa eh (tempo) de festa né essas
novena que tava tendo de antes (++) aí:: [[E? Daqui quem dança::: daqui quem dança
((ri))] (aí) de Samba de Cacete dançava o Rafi:::nha ((risos e falas))
23:56 E3. Porque isso é mais ih ih mais os mais e mais velho né (+) negócio de Samba
de Cacet/ vão um mustre de SAIÃO lá pra dentro do barracão ((ri)) (de dá aula) ((ri))
[[E4. É o Bernardo, o Bernardo (incompreensível) dançar aí chega ele botava uma saia e
saía ((risos))
E? É:: negócio de QUADRILHA ((risos))
24:11 E4. Tá queimado ((humor))

24:14 E1. E a religião (++) cês (+) participam das REZAS dos cultos?

E3. Éh::::: eu geralmente cultos

24:28 E1. O quê que vocês PARTICIPAM mais?


E3. Mais culto né [E? é culto só]
E? Cu:::lto
E4. Aqui graças a Deus todos vamos pra igreja (++) Pelo menos o que eu JÁ VI
E3. (incompreensível) pra igreja?
E? (incompreensível) NÃO, tu já
24:43 E? Tem vivido aqui esse aqui já rasgou a bíblia óh umas setenta vezes ((humor))
(++) Teve gente que já rasgou Bíblia muitas vezes
((uso de prefácios “pelo menos o que eu já vi”, é estratégia de atenuação, indicam o
modo como o falante deseja ser compreendido pelo interlocutor))

24:52 E1. Então quer dizer que vocês participam MAIS da (+) da::: [[E? Quando chega
na hora da FARRA num se aguentam

35
E1. Ah::::: ((compreensão)) (+) come a bíblia né que eles falam né
E? Por isso que num (entro) que eu/ (+++) Quando chegar a hora certa se for da vontade
de Deus [[E4. Só que a carne é fraca né
E1. Entendi!

25:14 E1. Então pra sonho de vocês é se formar né (+++) Se forma::::r traze::::r né (+)
Alegria pros pais

E? Ver melhora pra Vila


E1. E melhora pra Vila também (2.2)
E1. é:: a princípio é isso né

36
APÊNDICE 2 – IDENTIFICAÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE PL EM TRECHOS

Tema11 Trecho Estratégia de polidez Tipologia da Descrição


estr.
Educação 00:29 E2. Olha! no momento aí (+) EU eu 1 Inclua falante e ouvinte PP 1 O uso de primeira pessoa
tô estudando (++) Pela internet né (++) (3) PP do plural se dá em um
professora manda atividade para nós aí:: 2 Evite discordância PP contexto em que o falante
FAZ a gente tem que entregar (+) No PP preserva/eleva a face
grupo de WhatsApp que nós tem (++) Só positiva de modo coletivo,
que:: (+) esses dias agora (+) ainda não integrando os ouvintes em
tô fazendo (+++) (incompreensível) uma mesma situação.

2 Apesar dele declarar que


está incluso em alguma
situação/atividade, conforme
a pergunta, esse falante
acaba contradizendo aquilo
que disse anteriormente. A
expressão “só que” funciona
como uma adversativa, por
ex., o “mas”. Ex. Eu estou
fazendo algo, mas (só que),
não estou fazendo no
momento.
Educação E2. Desde de ÍXI (++) desde quando/ (+ 1 Intensificação (estr. 2 PP 1 Há uso de Intensificação
+) (diria com) ((ri)) [E1. Nasceram] e/ou 3) PP representado por “Ixi”
primeira série, segundo (2.1) é:: o senhor 2 Marc. de identidade de expressa o sentido de ‘a
11
Além da situação comunicativa (Entrevista), e dos atos de fala (perguntas) como possíveis atos ameaçadores de face (Perguntas), há a hipótese de que os temas determinam
(definem e/ou implicam) o uso/ou não de (determinadas) estratégias de polidez

37
até foi diretor uma vez diretor (lá) (+++) grupo muito tempo’.
(Ainda) estudava aí:: depo::is (++) Foi pra 2 Há uso de pronome de
ali pro outro la::do (incompreensível) tratamento “senhor”, o qual
(2.6) OITAVO (+) oitavo ano e o nono (+ demonstra respeito pelo
+) Aí depois eu fui para Cidade (+) Fazer entrevistador e hierarquia.
o prime::iro (+) e o segundo agora Aí teve
esse negócio de pandemia (++) parou
tu:::do (++) Teve que estudar só pela
internet.
Educação E.2 O papai quando nós tamo a/ (+) 1 Atenuação PN 1 É possível que o ‘riso’ que
jogando muito jog/ Free Fire (+++) fica 2 Atenuação PN acontece antes da
qua/ ((ri)) vai dando porrada (++) Briga declaração posterior sirva
com nós para nós estudar (++) Nem fale para amenizar, atenuar,
até se nós não estudar (++) a o teor desta declaração.
(incompreensível) se não eu apanho (++) 2 Apesar da informação
mamãe então (3.3) nós todo nosso apoio acerca da violência dos
do nosso (+) papai daí (+) de casa tudo pais, ele elabora o
nós (++) num quer que nós pare de discurso no sentido de
estudar (2.2) e é isso. amenizar esta ação no
próprio discurso, de
modo que aquilo que
parecia ‘castigo’, acaba
sendo como uma espécie
de ‘incentivo’
Educação E3. Nós é a mesma coisa ((humor)) 1 Ser generalizador PI 1
parar de estudar o papai me ((ri)) 2 Atenuação PN 2 O humor como um recurso
Ainda mais que já é o último ano Nem 3 Ser incompleto, utilizar PI de atenuação em relação
fa::le eu tenho apoio total da minha elipse PN ao que foi dito por este e
família (2.5) Não querem que eu pare não 4 Atenuação PP por E2.
(+) eh uma vez eu fui inventar de falar (+) 5 Intensificação (exagere PP 3?

38
eh eu já/ falei ━ eu já tô no terceiro ano interesse, aprovação e PP 4 O riso serve para atenuar o
eu vo/ vo par/ ━ mas eu eu tava simpatia) dito anterior.
brincando com ela eu falei ━ vou parar 6 Intensificação (o 5?
(+) ela falou ━ Vem falar mais aqui perto interesse do ouvinte) 6 Há intensificação por meio
na minha mão ━ (++) Eu num quero não 7 Intensificação da expressão “ Tu é
(+) ((risos)) Tu é doido jamais [E? (Até doido” e do termo
obrigou parar de namorar pra nós focar “jamais”, no sentido de
nos nossos estudos)] ela pagou casa (++ que, o participante
+) casa pra me ficar na cidade pra me nunca, em nenhuma
estudar (2.8) ((barulho de moto)) tu é hipótese, irá cometer o
doido! erro de parar de estudar.
7 nesse trecho há elevação
da face positiva dos
familiares do
entrevistado,
precisamente da mãe que
é retratada como uma
mãe que zela pelo futuro
dos filhos. Com isso ele
intensifica com a
expressão “tu é doido”
Educação E4.Éh:: Também né:: (+) Éh::: (+) o 1 Intensificação PP 1 nesse trecho o entrevistado
estudo (+) é muito importante (+) éh:: 2 PP/PN/PI utiliza estratégia de
o:: (++) eu to estudando (+) Eu parei né Intensificação/Atenuação/Usar PN/PP intensificação, precisamente
Eu tava no segundo ano eu tô meio contradições PP intensificação de modalidade
PARADO ainda (+) é/ [E? falei que não 3 Atenuação/Evite PP “muito importante”.
ia mais estudar] é eu falei que eu não ia discordância
estudar mais né e aí a mamãe ficou braba 4 Prometer 2 O termo “PARADO” é int
comigo e aí ela falou que eu tenho que 5 Ser otimista ensificado no nível fônico. P
estudar (++) Aí eu/ eu vou eu vo/ vo ter orém, é possível que este, de

39
que voltar de novo lá (+) me:: ntro da expressão, sirva para
rematricular de novo (+) (Mas) porque minimizar o fato do sujeito t
tipo eu num eu num num parei né (+) er parado os estudos, uma ve
Eu fiquei esse tempo afastado porque::: z que, ressaltou anteriorment
Por falta de internet né que eu tava e a importância dos estudos.
estudando::: (+) éh::: (+) Por aula online Ele se utiliza de estr. de pol.
né (+) Pelo grupo do WhatsApp da minha Negativa: atenuar, uma vez
escola (++) Aí eu parei (+) por esse que ele minimiza (e preserva
motivo fiquei sem internet (++) Mas (+) a sua face) a própria informa
a::: (+) eu vou ter que (+) voltar lá na/ na ção dada anteriormente. O tr
escola (++) e::: (+) Pedi para eles me echo que antecede este parec
botarem de novo no grupo (+) Porque o::s e ser contraditório, portanto,
CONTATO que eu tinha do grupo da pode se tratar de estr. de poli
escola eu perdi tudo (++) aí eu tive/ eu dez encoberta: usar contrad
troquei de de chi::p (+) éh:: a questão foi ições.
essa daí (++) Aí eu tô voltando em
Cametá pra mim fazer isso de novo (+ 3 Ele tenta justificar (para qu
+) pra mim voltar a estudar (++) pra e seu interlocutor não pense,
mim terminar o meu/ (++) meus estudos eventualmente) que ele paro
né e focar pra frente ((ri)) u porque quis, propositalmen
te, mas ele elabora esse discu
rso para dizer que as circunst
ancias o levaram a tomar ess
a decisão. Por se tratar de u
m assunto “nobre”, Estudo, o
locutor não preserva a sua fa
ce, portanto, para que ele a r
ecupere, ele se utiliza de est
r. de pol. Negativa: atenuar,
uma vez que ele minimiza (e

40
preserva a sua face) a própri
a informação dada anteriorm
ente. Há também o sentido d
e que ele esteja evitando des
cordar com a própria ideia/i
nformação prestada do fato d
e ter parado de estudar.

4 Estr. de polidez positiva: p


rometer. Apesar de todo os
problemas passados em relaç
ão ao estudo, ele tem o intere
sse de voltar a estudar.
5 Estratégia de polidez positiva: se
r otimista Ele tenta em todo o seu
discurso preservar sua própria f
ace.
Isso tem a ver, não somente com a
situação de interação (nesse caso,
a entrevista), mas com a própria te
mática, da qual está falando (tema:
estudo/educação)
Futuro E1. e aqui na vila vocês (++) éh::: qual é 1 Brincar, fazer piadas/ser PP/PI 1 (por que foram usadas
o (+) sonho que vocês têm aqui? [E? irônico. essas estratégias?)
Virar modelo ((risos))] Pra VI::LA como
estudan:::te Como morador aqui da vila.
Futuro E2. (incompreensível) estudar e (++) 1 Prometa PP 1 (por que foi usada essa
Estudar e (tipo) (+) ser alguém na/ (+) 2 Prometa/Marc. de identidade PP/PP estratégia?)
na frente (té) e voltar pra cá pra:: (+) de grupo. PP
Ajudar o pessoal daqui da vila (++) Do 3 Marc. de identidade de PP 2 Ele faz uma promessa.
Nosso pessoal (2.0) Deus quiser dar grupo. Também, pode se considerar

41
aula (++) Pras criançada daqui 4 Prometa. que o termo “pessoal”
futuramente e tal (+++) Minha visão é indique o contexto da
essa (+++) e da/ (+) comunidade. comunidade, do seu povo,
assim como ele diz
posteriormente.

3 (por que foi usada essa


estratégia?)
4 (por que foi usada essa
estratégia?)
Família 05:17 E3. Eu moro com a vovó (+) Só que 1 Atenuação PN 1 há uso de hedges de
o papai mora lá PERTO mas eu num moro atividade cognitiva “assim”,
lá moro com a minha vó (+) A maioria do que indica que o falante
tempo eu passo com eles Porque eu t/ eu busca planejar seu
ta/ trabalho com eles o dia inteiro (+) As enunciado. Esse
vez que num vou assim (+) Que::/ hoje a planejamento indica que o
gente não foi mesmo porque (+) a gente E3 está atenuando a atitude
terminou foi (++) Nós não eu não foi mais de não ter ido realizar o seu
eles que terminaram Ontem o serviço e compromisso com os pais,
DOMINGO ontem (+++) né:: a gente não uma vez que ele diz que
foi hoje (+) só amanhã (+) A maioria do sempre trabalha com os
tempo eu passo com o papai e com familiares.
mamãe (+) só (+) varo de tarde (++) com
a vovó (+) moro com ela [E1. mas aqui na
Vila mesmo?] Não! não moro aqui sou
filho do Necão lá da Vila (+) (lá da frente)
[E1. Ah mas para mais tempo aqui na
vila] É! mais pra cá as vez que eu venho
pra cá de tarde [E1. Dentro do território
né] hum hum!

42
Família 06:05 E2. Olha! (+) a relação aqui em 1 Atenuação PN 1 (por que ele usa essa
casa é/ (++) boa [E1. A BRINCADEIRA 2 Atenuação PN estratégia?)
pode BRINCAR à VONTADE] anarquia 3 Intensifique o interesse do PP/PP
brincadeira (++) Com a mamãe eu fico ouvinte/Exagere (interesse, PP 2 Ele tenta minimizar a situa
quase (+) o dia inteiro enjoando ela (+) só aprovação e simpatia) ção, justificando-a que não s
na brincadeira (++) brincadeira 4 Note, preste atenção no e trata de algo ruim, mas de
saudável (++) num tem (filho) (+++) ouvinte. algo bom, saudável. Uso de
Aqui em casa graças a Deus (++) Tudo 5 Busque concordar/Evite estr. de pol. Negativa: atenu
certo tudo de boa (++) e (quais) (++) O discordância/ Pressuponha, ação, pela expressão “brinca
papai é mais fechado mas (++) É porque é levante, assegure um terreno deira saudável”.
o pai né (+) Sempre vai mais fechado né comum.
(+) Tem hora que nós fica na brincade::ira 6 Ser generalizador 3 (por que ele usa essa estrat
só na anarquia que eles vejam né (+) só 7 Intensifique o interesse do égia?)/ Os termos “tudo cert
para na anarquia (+) ((risos)) (com os ouvinte o” e “tudo de boa” represent
cara) (+++) éh::: (+) nossa relação é boa am uma intensificação do est
graças a Deus. ado/ambiente familiar, de m
odo que encontra-se positiv
o.
4. 4 Em todo esse trecho par
ece ter havido uma espécie d
e gafe, um comprometiment
o da face do próprio falante,
sendo que, após ter dito isto,
ele tenta minimizar essa situ
ação, mas ao mesmo tempo i
gnora quando utiliza a polide
z positiva

5 Esse e o “né” anterior, pare


cem funcionar na busca de a

43
cordo de entendimento para
com o ouvinte/interlocutor. P
ode ser que seja estr. de poli
dez positiva: evitar desacor
do ou procurar acordo Pod
e ser também a estr. de polid
ez positiva: pressupor e dec
larar pontos em comum, u
ma vez que o locutor espera
que o assunto seja do conhec
imento (algo em comum) do
interlocutor.

6 (por que ele usa essa estrat


égia?)
7 (por que ele usa essa estrat
égia?)
Família 07:17 E3. hum (++) Eu só tinha que 1 Ofereça, prometa. PP 1 (por que ele usa essa
agradecer sim (+) porque [E2. Mãe! pai!] 2 Busque concordar. PP estratégia?)
(E4: hum! hum!) [E2. Nun/ nunca se 3 Ofereça, PP/PP
esqueça que (++) Ainda vou honrar prometa/intensificação. PP/PP 2 (por que ele usa essa
vocês ainda] [E4: trazer orgulho pra 4 Pressuponha, levante, PP/PP estratégia?)
família ] [E2. Conquistar meu sonho e assegure um terreno PP/PP
trazer orgulho pra senhora mãe] (A comum/Ofereça, prometa/ PP/PP/PP 3 (por que ele usa essa
gente) se transformar naquilo que (a Marc. identidade de grupo PP/PP estratégia?)/ O uso dos
gente) sempre sonhou né (+) que tipo 5 Ofereça, PP/PP termos “nunca”, “ainda” e
num vá/ num saia daqui (+) (dum) prometa/intensificação. PP principalmente “honrar”
caminho bom para ir pro caminho 6 Marc. identidade de grupo/ PN parecem intensificar os
errado (+) Que nenhuma mãe quer isso Marc. identidade de grupo PP/PP/PP interesses do falante.
toda certeza que nenhuma mãe nem um 7 Intensificação PP/PP/PP

44
pai quer isso. 8 Atenuação 4 Dois dos entrevistados resp
9 Marc. identidade de grupo/ ondem a pergunta. Durante e
Assegure ou pressuponha o ssas falas, os falantes acaba
conhecimento./ Intensificação m tendo um momento de int
10 Marc. identidade de grupo/ eração. Esse trecho revela qu
Assegure ou pressuponha o e o falante E4 reforça a decla
conhecimento./ Intensificação ração do E2, que em seguida
diz “trazer orgulho pra senho
ra”. / (por que ele usa essa es
tratégia?)/ (por que ele usa e
ssa estratégia?)

5 (por que ele usa essa estrat


égia?)/ Por meio do termo “c
onquistar” ele eleva a própri
a face, expressando com ele
o seu interesse.

6 (por que ele usa essas estra


tégias?)

7 O expressão “sempre sonh


ou” intensifica a ideia de que
o falante nunca abriu mão do
s seus objetivos./ (por que el
e usa essa estratégia?)

8 Ele usa o termo “tipo” para


elaborar bem o que vai dizer,
uma vez que o assunto sobre

45
o que diz pode ameaçar suas
faces.

9 (por que ele usa essa estrat


égia?)/ (por que ele usa essa
estratégia?)/ A expressão “to
da certeza” assegura a garant
ia da afirmação que esse fala
nte faz sobre o possível conh
ecimento comum compartilh
ado pelas mães.

10 (por que ele usa essa estra


tégia?)/ (por que ele usa essa
estratégia?)/ (por que ele usa
essa estratégia?)

Família 07:50 E2. o sonho da mamãe é ver eu 1 Assegure ou pressuponha o PP/PP/PP 1 Ele demonstra pontos em
fazendo (++) faculdade (+) se formando conhecimento/Pressuponha, PP comum com os interesses da
(+++) Ainda vou realizar esse sonho levante, assegure um terreno mãe que, apesar de não fazer
dela (+++) (um dia) comum/Intensificação parte da interação, o falante
2 Ofereça, prometa. a coloca na situação
interação. Essa ideia em
comum também pode ser
intensificada pela
enumeração “fazendo
faculdade”, “formando”.
2 (por que ele usa essa
estratégia?)
Futuro 08:29 E3. hu:::m eu” (+) eu (+) (vou) 1 Ofereça, prometa PP 1 O trecho todo indica uma

46
fazer/ Como te/ como eu te falei logo/ no 2 Intensificação PP oferta ou uma promessa do
primeiro né (incompreensível) eu ia fa/ 3 Intensificação/Ofereça, PP/PP falante.
fazer o curso pra Rotan (+) Se Deus prometa PP
quiser vai dar tudo certo (++) Estudar 4 Ofereça, prometa PP 2 O uso da expressão “se
(+) entrar para Rotan (+) e um dia vol/ 5 Intensificação PP Deus quiser” mais a crença
poder voltar aí (1.7) com meus pais né 6 Intensificação PP de que o que promete irá ser
(+) poder ajudá-los (++) da melhor 7 Ofereça, prometa cumprida parecem
forma possível (1.9) Já tudo com farda intensificar a ação deste
(+) a/ se Deus quiser. falante, valorizando-o.

3 É possível considerar a
estrutura sintática enumerada
como uma estratégia de
intensificação (ver em
Mecanismos de atenuação e
intensificação)./ Além disso,
ele continua a ofertar e
prometer

4 Ele pretende ajudar seus


pais, o que configura uma
promessa.

5 Podemos considerar que a


expressão “da melhor forma
possível” sirva para elevar a
face positiva.

6 O sentido literal desse


enunciado, a partir do termo

47
“tudo”, dá a ideia de
conjunto/integral. No
entanto, esse enunciado
funciona com o sentido
intensificado, expressando
que não se trata apenas de
uma roupa, mas da
Profissionalização desse
indivíduo. Ele deseja voltar
como um profissional.

7 A expressão “se Deus


quiser” indica uma
promessa.
Futuro 08:55 E1. E o perigo da [E2 ((ri)) Da 1 Ofereça, PP/PP 1 Além desse falante
vida] da/ de usar/ [E3. Esse perigo eu vou prometa/Intensificação PP demonstrar que pretende
ter que ENFRENTAR né num vai ter 2 Ofereça, prometa PP/PI exercer aquilo que acredita
jeito (+) venha o que vier (+) chego la/] 3 Brincar, fazer piada/Seja PP ser valorizado pelo ouvinte,/
como é que surge isso aí essa/ [E2 irônico ele intensifica sua ação por
(adrenalina)] VIU alguém tem alguém da 4 Assegure ou pressuponha o meio do termo “enfrentar”
família que já é isso (+) Já faz parte da conhecimento realizado com foco.
[E? Assiste muito filme] ou tu achou
bonito a farda lá? [E4 Acho que foi por 2 (por que ele usa essa
incentivo dele mesmo] estratégia?)

3 (por que ele usa essas


estratégias?)

4 (por que ele usa essa


estratégia?)

48
Futuro 09:18 E3. Não, eu fui sempre desde (+) 1 Intensificação PP 1 “sempre” é um termo que i
Desde quando eu estudava/ hum/ nossa/ 2 Intensificação PP ntensifica o proposito do fala
(no quinto ano desde sempre) (++) 3 Intensificação PP nte que, com ele, eleva a sua
sempre (né) já (+) cresci com isso na 4 Atenuação PN face positiva.
minha mente (+++) Tipo eu achava” sabe 5 Intensificação PP
eu achava” não, acho legal assim sabe 6 Intensificação PP 2 Os enunciados anteriores,
boni::to assim de ver [E? 7 Prometa PP/PP de E?, de E1 (a pergunta) e d
(incompreensível)] [E? Sem (mataridade) 8 Seja vago PI e E4, acabam por ameaçar a
o Chicão fala ((ri))] nã:::o acho (+) com 9 Intensificação PP face de E3. Por essa razão, el
ele porque eu sempre sonhei mesmo (++) 10 Intensificação/Atenuação PP/PN e tenta elevar sua face posit
entrar pra Rotan (+) Sempre sonhei 11 Intensificação PP iva em relação ao assunto co
vou realizar se Deus quiser (1.7) 12 Intensificação locado. Essa elevação se dest
Quando eu falei para mamãe ela também aca, principalmente, pelos te
nã::/ num coisa sabe ela me apoiou rmos “desde de sempre”, “s
várias vezes (+++) meu Pai de novo (+) empre”.
Nunca eles tipo me deram uma palavra
de desânimo (++) Sempre me deram 3 Acontece mais ou menos c
uma palavra de (+) De animação sabe om o enunciado “cresci com
pra mim nunca desistir (+++) e é isso isso na minha mente”. Ou s
eja, não foi algo banal, mas t
rata-se de algo importante qu
e o acompanhou desde semp
re em sua vida.

4 O uso da negação “não” e


a afirmativa “acho” atenuam
o dito anterior, em que ele us
a o verbo no passado, demon
strando uma certa inseguranç
a com o dito, que por essa ra

49
zão foi atenuado em seguida.
Isso pode ser verificado pelo
uso do marcador “acho”.

5 O alongamento sonoro ser


ve para expressar intensifica
ção de sentido, que nesse cas
o está sendo empregado com
o estratégia de polidez.

6 Os termos “sempre” e “son


hei” se combinam e expressa
m intensificação, ainda mais
quando repetida nesse trech
o, a qual serve para elevar a f
ace do falante.

7 (por que ele usa essas estra


tégias?)

8 (por que ele usa essa estrat


égia?)

9 Ele eleva a face da mãe int


ensificando o apoio recebido
por ela.

10 (por que ele usa essas estr


atégias?)

50
11 (por que ele usa essa estra
tégia?)

12 (por que ele usa essa estra


tégia?)

((nesse trecho há uso de mar


cadores de atenuação, o mar
cador de opinião “acho” que
é um verbo modalizador que
indica o distanciamento e o
não comprometimento com
o dito. Há também o uso de
hedge de atividade cognitiva
o marcador “assim”. Por fim,
o locutor eleva a face positiv
a da mãe e do pai durante o a
to interacional)).
Família 10:05 E1. Então a relação com teus/ com 1 Busque concordar PP 1 O falante busca
teus pais sã:::o [E3. São ótima] a relação 2 Busque concordar PP concordância não apenas
bo:::a né? [E3. É! é legal passar o tempo com a pergunta do ouvinte, a
com eles] pouca cobrança ou muita fim de não comprometer
cobrança? suas faces, como também
com o própria exigência que
a pergunta requer, por se
tratar dos pais.

2 Ele volta a concordar com


a interrogação anterior do
entrevistador “a relação é

51
boa né?”
Família 10:13 E3. Não! graças a Deus é pouca 1 Intensificação/Busque PP/PP 1 Aqui ele usa
(1.8) Às vez que eu saio da linha às concordar PN/PP primeiramente a expressão
VEZES” (+) mas isso (++) Eu peço 2 Atenuação/ Evite PI/PI/PI “Graças a Deus” que
desculpa aí. discordância PN/PI/PI valoriza a posterior
3 Use PN afirmação “é pouca”, que
metáforas/Minimize/Seja vago contém um vocábulo já
4 Atenuação/Seja irônico/Seja graduado,/ que por sua vez
ambíguo busca concordar ou
5 Desculpe-se confirmar a pergunta
fechada do entrevistador.

2 O “às vez” (as vezes)


parece ter sido usado tanto
para minimizar a possível
ameaça às faces que o dito
posterior traria “sair da
linha” quanto para evitar a
discordância com o próprio
dito anterior.

3 Ele utiliza um dito popular


“sair da linha” que não deixa
explicito a afirmação, além
de minimizar o dito, mas que
pode ser interpretado pelo
ouvinte.

4 Depois ele usa estratégia


de atenuação “as vezes” que

52
é um hedge indicador de
incerteza, ou seja, o falante
indica seu grau de certeza
acerca do seu enunciado,
diluindo também a força
ilocutório das asserções. / É
possível que essa expressão
tenha sido usada de forma
irônica, o que tornou o
enunciado também ambíguo
(será que ele sai da linha
poucas vezes de fato ou por
muitas vezes?).

5 Usada para minimizar a


declaração anterior “eu saio
da linha”.
Educação/Família 11:33 E1. ah:: tu não tá estudando? [E? 1 Evite discordância PP 1 (por que ele usa essa
Não.tu não tá matriculado? [E? To:: mas 2 Atenuação PN estratégia?)
(+) [E? Num tá se interessando (dois 3 Evite PP/PN Não preserva sua face em
anos) num fiz atividade ((ri))] Ah:: tu não discordância/Impessoalize relação ao contexto do que
tá indo buscar as atividades né (2.0) se está discutindo, a
entendi. (2.5) Todo mundo aqui tem pai Educação.
vivo (++) mã::e? 2 Os risos servem para
[E2. Graças a Deus] [E4. O meu ele (+) atenuar a informação
ele ta vivo, mas não mora com a gente anterior. Um modo desse
(++) separado] ((risos)) falante preservar sua face.

3 Usa a adversativa “mas”


para evitar discordância com

53
a pergunta fechada do
entrevistador,/ e para evitar a
possível ameaça a face ele
imepssoaliza a pessoa do
discurso.

Relações humanas 12:31 E2. (incompreensível) eu conheço 1 Pressuponha, assegure um PP/PP 1 O falante além de
sim (+) é só idosa que tem aqui [E4. É::, terreno comum/ Busque PP demonstrar conhecimento
muitas pessoas idosas aqui:: mas só é ] só concordar PP comum, afirmando que sabe,
que/ [E4. A nossa relação são boas com 2 Use marc. de identidade de PN/PI /ele, ao mesmo tempo,
elas] é, tipo::/ [[E1. Quais são que vocês G. PN estabelece a concordância
conhecem aqui:: as brincadeiras que vocês 3 Inclua falante e ouvinte PP com o fato de conhecer.
(++) que TEM assim? [[E2 Com a vovó 4 Impessoalize/Generalize
então com a vovó eles meche muito 5 Atenuação 2 A expressão “pessoas
((ri))] chama de/ por apeli:::do [E2 6 Busque concordar idosos” funcionam para
Apelido] pelo NO::ME:: como é que eles identificar um grupo de
falam? pessoas específico, bem
como o usuário da expressão
demonstra certo respeito
com este uso.

3 Ele inclui colocando os


outros como os autores da
situação, elevando a face de
todos.

4 (por que ele usa essas


estratégias?)

5 O enunciado anterior ao

54
riso, de alguma maneira,
ameaça as faces dos
ouvintes, por conta do
pronome “eles”. Por isso, ele
minimiza o dito rindo
durante a fala.

6 (por que ele usa essa


estratégia?)
Relações humanas 12:50 E4. É:::! a gent/ voc/ a gente passa 1 Generalize/Impessoalize PI/PN 1 Apesar de se tratar de um
um no lado do outro [E2. Passa tipo 2 Atenuação PN marcador de grupo, parece
assim uma galera e tem gente que mexe 3 Impessoalize/Generalize PN/PI funcionar como uma
com eles] ((ri)) fica mexendo [E2. Nessa 4 Atenuação PN estratégia de polidez
comunidade eles ficam/] [E? Somo 5 Impessoalize PN indireta, uma vez que
PÉSSIMO nós. ((risos)) [E? Somo de tá 6 Atenuação PN generaliza a todos como
brincan::do] ah, mas uma brincadeira 7 Evite discordância PP participantes da
tipo que não é muito desrespeitosa né 8 Atenuação/Intensificação PN/PP situação./Também há a
(+) éh:: aquela brincadeira:: éh::” a 9 Seja vago/Seja vago/Seja PI/PI/PI/PN/PN possibilidade do “a gente” e
gente tá:: tipo mexendo com o:::utro vago/ Atenuação/Atenuação PP da expressão “um do lado do
éh::: (+) Tipo assim falando assim ━ Ei 10 Busque concordar PN outro” representarem a
fulano de ta:::l! ━ [E? Apelidando] é! 11 Atenuação impessoalidade do discurso.
apelidando botando um apelidinho e aí Esse um caso de
pronto. intensificação (ver pag 14
Mecanismos de atenuação e
intensificação) e
generalização.

2 Usa-se hedge como um


indicador de atividade
cognitiva, nesse contexto,

55
para que o falante possa
minimizar o enunciado que
se sucede.

3 Este outro falante


impessoaliza o discurso,
distanciando-se da situação
por meio do termo “galera” e
“gente”. Também, tanto
“uma galera” quanto “tem
gente”, parece ter sido usado
para generalizar.

4 O riso é utilizado como um


atenuante desse enunciado

5 (por que ele usa essa


estratégia?)

6 O mesmo que
comprometeu a sua própria
face e a dos outros acabou
minimizando sua afirmação
anterior por meio do termo
“brincando” ao invés de
“péssimo”.

7 Ele evita discordar acerca


da situação colocada por E?,
no entanto, ele evita a

56
possibilidade de ameaçar a
face dos companheiros
(ouvintes). Por isso ele
atenua logo em seguida.

8 A adversativa “mas”, além


de ter representado outra
estratégia, ela contribui junto
com o marcador “tipo” e
mais a negação “não” para
minimizar o ato ameaçador
de face anterior realizado
pelo outro falante./Os
recursos intensificadores
combinados “muito” e
“desrespeitosa” contribuem
no mesmo enunciado para
elevar a face do falante e
seus ouvintes.

9 Nesse trecho, o falante é


vago em três pontos: em
“aquela brincadeira”, “a
gente tá:: tipo mexendo com
o:::utro éh:::” e “falando
assim – Ei fulano de
tal”./Também tenta
minimizar uma possível
ameaça a face do seu
enunciado utilizando os

57
marcadores como o “tipo” e
“tipo assim”

10 (por que ele usa essa


estratégia?)

11 em seguida ele atenua


dizendo que eles colocam
apenas um “apelidinho”
Relações humanas 17:14 E1. O homem casado lá [E? Maszu 1 Atenuação PN 1 Apesar de concordar com a
(mas o)] 2 Busque concordar (5) PP/PP/PP/PP/PP fala anterior, o falante E3
E2. É::: aí casado.á [E? É::: depois que 3 Marc. de identidade de PP/PP/PP/PP minimiza a possível ameaça
ele virou CASADO virou grupo (4) a face por meio do
PAVULAGEM [E3. É ele se afastou enunciado “se afastou mais”
mais de nós (+) só andava com nó/ se compararmos com a fala
moradessa ele tava aqui se ele num tivesse anterior “Pavulagem”.
com ela (+++) se afastou] ((risos)) parou O termo “casado” representa
de andar com nós [E3. É não anda mais uma categoria de sujeitos qu
com nós] [E4. É::] e parecem não representar o
grupo desses jovens.

Nesse trecho há uma ameaça


a face positiva do interlocuto
r “É::: depois que ele virou
CASADO virou PAVULA
GEM” (é possível classifica
r como um intensificador,
porém, de um aspecto nega
tivo). A ameaça continua qu
ando ele afirma que o outro

58
não é mais um deles

2 Há um engajamento em
concordar em conjunto por
meio do verbo ser “é” de
modo a afirmar.

3 Nesse engajamento
coletivo, a primeira pessoa
do plural “nós” aparece
como uma marca indenitária
de um grupo, no caso, o
desses jovens.
Relações humanas E? Aqui também casou ó [E? Não é mais 1 Marc. de identidade de PP 1 Além do “nós”, a
um de nós] [E? ele não é mais um de nós grupo PP expressão “um de nós”
nesse exato momento] [E3. Ele não só 2 Marc. de identidade de PN representa bem a ideia de
casou como [E? já tem uma família] não grupo uma coletividade.
só casou como ele já tem uma família] 3 Atenuação
((risos)) 2 A expressão “um de nós”
representa bem a ideia de
E4. Esqueceu dos amigos ((humor)) uma coletividade

3 O tom de humor na fala


faz com que o possível ato
ameaçador realizado por este
seja minimizado.
Relações humanas 18:21 E4. Esse negócio de namoro num é 1 Intensificação (intensifique PP 1 O uso do termo “foco”
pra mim rapá tenho tenho::: éh um foco o interesse do ouvinte) PP/PP intensifica a necessidade do
(mas) é em outra coisa [[E? Mas tem essa 2 Pressuponha, levante, PI falante de se distanciar de
cois/] [E1. ESTUDO!?] É::: [[E? eu ainda assegure um terreno PN/PI uma situação (assunto) que

59
não penso em arrumar mulher ainda pra comum/Ofereça, prometa juga ser negativa, o
me dá dor de cabeça (em nenhum de 3 Use metáforas “namoro”. Diante de tudo o
nós) (++) porque pro cara arrumar uma 4 Impessoalize/Generalize que foi dito a respeito de
mulher (as coisa) num tá fácil pro cara] casar, como se isso trouxesse
prejuízo aos indivíduos, esse
falante eleva a sua face
positiva em relação ao tema
em contraste com outro
tema, já tratado, o Estudo,
que aparece aqui logo em
seguida.

2 Apesar do falante ter usado


de elipse “outra coisa”, que
não fica claro em um
primeiro momento, ele a
utiliza em uma situação em
que está elevando a sua face
positiva. Por isso, ele
acredita que os ouvintes
reconhecem sobre o que está
se referindo, /ao mesmo
tempo que, com este
enunciado, no todo, ele
valoriza a sua face diante
dos ouvintes. Tanto é que o
entrevistador reconhece, o
pergunta, e ele, em seguida,
o confirma.

60
3 Usou-se a metáfora afim
de evitar uma possível
ameaça a face ao falar da
mulher.

4 Ele usa da impessoalidade


para amenizar e se eximir da
ideia de arrumar uma
mulher. Isso acontece pelo
uso do “cara”, que se refere
a qualquer indivíduo.
Relações humanas E4. ((falas simultâneas)) faculda:::de me 1 Ofereça, prometa PP 1 O falante descreve as
formar na na matéria que eu quero e 2 Use metáforas PI metas para sua vida, em
vinha passar a (incompreensível) [[E3 3 Atenuação PN detrimento de outra condição
Eu com o Rafinha nós tem os nossos 4 Atenuação PN de vida (namoro;
lances] aquilo que aprendi (+) acho que 5 Atenuação PN casamento). Assim, se
é (ações) [[E3 acho quem faz assim pro/] 6 Impessoalize/Generalize PN/PI direciona ao ouvinte de
[[E? Hoje em dia agora é só curtir com a 7 Atenuação PN modo a elevar sua face
muleca/ nós que tamo novo é só curti::::r 8 Atenuação PN positiva a respeito de suas
(+) e SAir (+) eu penso assim num me 9 Atenuação PN metas.
apego a mulher eu] [[E3 (Além) de se 10 Atenuação PN
apegar, (num tem nada’) já pegar [[E4 fala 2 “lances” é uma metáfora
em curtição tu só em curtição] que demanda do ouvinte a
[[E? Nã:::o! eu curti com a muleca de (tal) sua interpretação, que parece
só fica né] [[E3. Vamos dizer que o cara se referir a algum tipo de
não fica, só dar um fica ali num leva ações realizadas por esses
nada a séro] [[E2. Nada a sério] [E3. indivíduos, mas que não
Explica pra ela qual é a situação] precisava ser declarada nesse
E2. Sem se apegar [[E? Oh! Não quero momento.
nada sério, logo fal/ [[E4.

61
((incompreensível)) esse num é meu caso 3 “eu penso assim” é um
num falo nada num me importo posfácio marcador de
opinião usada para
Interação conflituosa. Muito por conta do minimizar um possível ato
termo usado “curtir” ameaçador de face.

4 Este falante tenta


minimizar a ameaça a face
explicando que a ideia de
“curtir” se trata de “só um
fica”.
Não preserva sua face neste
momento, bem como
aconteceu com os outros
anteriormente.
5 E3 usa um hedge indicador
de atividade cognitiva para
minimizar a possível ameaça
a face, uma vez que ele
concorda com a ideia de
“curtir”.

6 Na tentativa de minimizar
o ato ameaçador de face, E3
impessoaliza o autor da
situação “o cara”./E em
alguma medida, ele tenta se
distanciar da situação.

7 Ele tenta minimizar o

62
possível ato ameaçador de
face.

8 Ele tenta minimizar o


possível ato ameaçador de
face a partir de um discurso
que seja compreensível para
os ouvintes.

9 Essa expressão “sem se


apegar” minimiza a ideia de
“curtir” ou “não levar a
sério”.

10 Esse falante (E?) que em


momentos atrás falou em
“curtir” minimiza seu ato
ameaçador de face
exemplificando como faria
em uma situação de
relacionamento.
Futuro 20:04 E4. deixa eu ver aqui (+++) (deixa 1 Ofereça, PP/PP 1 É possível notar que o
eu ver) éh:::: (++) segunda-feira dia 3 de prometa/Intensificação PP falante valoriza a sua face
Maio (++) eu disse que eu queria:: me 2 Evite discordância cooperando com a pergunta
formar em:: (++) Na matéria que eu feita pelo entrevistador./
que eu (+) que eu tenho sonho né que é Além disso, ele intensifica
em filosofia e geografia eu espero que suas metas usando o termo
ne/ (+) e ANOS seguintes mais tarde eu “sonho”, que de alguma
vou conseguir me formar e pronto [E1. maneira valoriza suas
Dois mil e quarenta] é:: nesse::: nesse pretenções.

63
(atraso) aí ou mais cedo [[E1. Ou em
quarenta (+) e um] ou mais cedo (3.7) 2 Ele evita discordar da ideia
Tenho essa ca::/ tenho que ter essa de realizar suas metas em
capacidade (+++) objetivo um determinado momento,
atribuídas pelo entrevistador,
e também insiste na ideia de
que pretende “mais cedo”
Relações humanas 21:27 E3. Como surgiu? (+++) ãh (+) daí 1 Seja vago/Seja reticente, use PI/PI/PN 1 Ao que parece, o falante
(+) tal de Bené que (++) ((ri)) [E1. Tem elipse/Atenuação. PN inicia o que seria uma
um tem um (+) [[E4. É porque tipo 2 Atenuação PN possível ameaça a face ao
assim] um batizador:: aí:::?] TEM tem 3 Impessoalize PI falar de alguém. Por isso, ele
mora pra lí o cara que batizou esse apelido 4 Generalize PN não conclui o enunciado e
é pra lí ((falas simultâneas)) [[E4. É 5 Impessoalize PN não deixa muito claro o que
porque um um um pessoa/ [[E? têm uns 6 Impessoalize (3) PN irá dizer para não se
cara que são da cidade, nã::o!] [[E4. Uma 7 Atenuação PN comprometer com o dito,/
pessoa MAIS FEIA que/ [[E? uns cara 8 Atenuação mas apenas ri, que uma
daí da/ tem daqui da cidade e tem daqui forma também de atenuar a
[[E4. Uma pessoa que é mais feia daqui possível ameaça.
quer cassoar a outra né já que todo
mundo cassoa dela e ela já começou a 2 O falante E4, a fim de
botar apelido do outro (+) no nome preservar a face dos seus
(praticamente) o Bernardo como ele já companheiros
começou a apelidar né Começaram a (especificamente do qual
cassoar e:::le já começou a botar o apelido falou anteriormente) e de si
do Rafinha tipo::: (+) o apelido do mesmo utiliza um hedge
Rafi::nha” (+) no nome do (Bené já) [[E3 indicador de atividade
((ri)) botar bernardo ((ri)) e Rafinha] no cognitiva, representado pelo
no no do Quiel [E3 Doido ((ri)) trecho “É porque tipo
E2 Isso já começou a muito tempo ainda assim”, para minimizar o
não parou (ainda) [[E3 ih::::: ainda não possível ato ameaçador de

64
parou a única brincadeira que ainda num face em sua argumentação
parou foi essa aí [[E2. Fo::i] seguinte.
E3. E:: tipo essa brincadeira num num
gera confusão nenhuma 3 O falante tem a estratégia
de não determinar a pessoa
da qual está se referindo. É
uma forma de não se
responsabilizar pela a
ameaça a face. Isso explica a
intensificação (ver
bibliografia) (MAIS FEIA)
de aspectos negativos do
sujeito, o qual se refere.

4 Esse falante alega que há


dois grupos que atuam dessa
maneira. Desse modo, ele
realiza um ato ameaçador de
face, porém de maneira
indireta, ele se exime da
situação. Ou seja, existem
pessoas que participam de
certa situação, exceto, esse
falante, eventualmente.

5 Acontece a mesma coisa,


como no item 3. Ele se
distancia da responsabilidade
de ameaça a face
designando-a a “uma

65
pessoa” que atinge
moralmente a “outra”.

6 Continua usando a mesma


estratégia de impessoalidade,
dessa vez com a 3 pessoa do
sing., referindo-se às
“pessoas” da situação.

7 Uso de hedge indicador de


atividade cognitiva a fim de
elaborar o dito posterior de
modo atenuado.

8 Uso de hedge indicador de


atividade cognitiva a fim de
elaborar o dito posterior de
modo atenuado.
Relações humanas 22:10 E4. Eles já levam tipo já na na (+ 1 Impessoalize/ Atenuação PN/PN 1 Usa da impessoalidade por
+) [E? tudo na brincadeira]] é tipo, não, já 2 Atenuação/ PN/PI/PP meio da 3º pessoa do
é/ (é um na) (++) na graça Generalize/Intensificação PI/PP plural./Atenua por meio de
[[E1. Mas vocês tem essa (+) Essa relação 3 Seja irônico/Brinque PI/PP um hedge indicador de
entre vocês num (++) Num gera nenhum 4 Use atividade cognitiva “tipo” a
atrito? metáforas/Intensificação fim de minimizar a possível
E3 Não! [[E4 não!] e pelo menos entre ameaça a face.
nós nunca gerou e nem vai gerar graças
a deus 2 O “graças a deus” parece s
E4. É porque eu fico mais preocupado er usado para certificar/valor
né com o John Max aqui ((ri)) [[E3 izar o fato informado no disc
porque o:: John Max num urso.

66
(incompreensível) esse vai ficar no lugar “pelo menos” é um
do John Max no futuro ((humor)) (++) é:: marcador de opinião usado
e pra ele tanto faz ter o apelido de John para atenuar. /O “nós”
Max ((ri)) [E? John Max falou que ele parece ser realizado de
pega cem fêmeas por dia ((humor)) maneira indireta,/ enquanto
((risos)) ele quer ser ele ((ri))] Nã não que o “nunca gerou” e “nem
jamais vai” parecem servir para
E1. Tem o dinheiro né? intensificar a face positiva
E? É:: John Max [[E4. É essa frase que ele do grupo.
usa] [[E? John Max é muito pintoso]
[[E4. Essa frase que ele usa ele fala que 3 Ao mesmo tempo que este
ele tem dinheiro ((ri)) [E3. A fala dele a falante age de maneira
fala dele] [E4. ━ Eu tenho dinheiro! ━ irônica, ele faz uma brincaira
((ri))] ((risos)) com alguém do grupo. A
22:50 E3. ━ Posso conseguir a fê:::mea primeira estratégia torna sua
que eu quiser ━ ((humor)) [[E4. Posso ação indireta em relação a
conseguir a mulher que eu quiser ele fala ameaça a face do
((ri)) (+++) dinheiro num é o problema companheiro e/ o fato de ter
((ri))] [E2 É dinheiro e mulher] [E4. feito uma brincadeira, nesse
Dinheiro num problema [[E3 conta essa í caso, ter “apelidado” (John
conta essa í (++) chegou aos trezentos?] Max) o mesmo, usou-se
[E4. Trezu/ duzentos/ [[E? Duzentos e tanto daquela quanto desta
noventa e sete [[E3 Oitenta e oito né? estratégia para minimizar a
E2. Ele falou que ele tem marcado na ameaça e deixar o ouvinte
agenda dela ((risos)) confortável, preservada a sua
E? Diferente um do outro ((ri)) face.

4 O adjetivo aplicado ao
sujeito tem sentido
metafórico. Não dá pra saber

67
se foi uzado de maneira
irônica. Porém, como tem
sentido negativo para esse
dialeto específico, foi
intensificado de maneira a
revelar um aspecto negativo
do sujeito (ver bibliografia)
Sociabilidade E1. Se eles fo/ se se [[E? (xave) goleador 1 Evite PP/PN 1 O falante parece fazer uma
((ri))] se eles fossem perguntar pra vocês discordância/Atenuação PN afirmação no início
Alguém fosse perguntar para vocês O qual 2 Impessoalize respondendo que, ao que
é a cultura aqui da:: (+) da vila (+) né (++) parece, ‘tem’ (Té/), mas em
éh::: vocês teriam como falar alguma seguida faz uma reparação
coisa com relação a isso? (1.9) E que aqui no seu enunciado por meio
a/ (+) fazem ma:::i:::s DAN:::ÇAM::: o de hedge indicador de
samba de Cace:::te:::: Carimbó SIRIÁ::: incerteza “aliás éh ter tem,
mas”, que serve para
23:37 E? Parada aí::’ minimizar a afirmação
E3 Té/ é aliás éh ter tem, mas é só nos anterior que não era segura,
períodos da eh (perto) de festa né essas mas que, em alguma medida,
novena que tava tendo de antes (++) aí:: serve para que não discorde
[[E? Daqui quem dança::: daqui quem totalmente de si e da
dança (arrocha)((ri))] tal de Samba de pergunta do entrevistador.
Cacete dançava o Rafi:::nha ((risos e
falas)) Porque isso é mais os MAis os 2 Essa pratica cultural parece
mais e mais velhos né (+) negócio de não ser bem vista por esses
Samba de Cacet/ vão um mustre de jovens, por conta da idade
SAIÃO lá pra dentro do barracão ((ri)) deles, por isso usam o termo
(de dá aula) ((ri)) [[E4. É o Bernardo, o “negócio”, além das piadas
Bernardo (quando ia) dançar aí chega ele feitas anteriormente. Ou
botava uma saia e saía ((risos)) seja, a ideia de que esses

68
E? É:: negócio de QUADRILHA ((risos)) jovens pudessem participar
24:11 E4. Tá queimado ((humor)) dessa manifestação afetam
suas faces de alguma
maneira. Por isso esse
falante para se eximir da
situação diz que “isso”
(samba de cacete), esse
“negócio”, é feito por “mais
velhos”.
Religião 24:14 E1. E a religião (++) cês (+) 1 Intensifique o interesse do PP/PP 1 A expressão “graças a
participam das REZAS dos cultos? ouvinte/Inclua falante e PN deus” combinada ao
ouvinte PN pronome indefinido plural
E3. Éh::::: eu geralmente cultos 2 Atenuação PI “todos” intensificam o
3 Impessoalize PN interesse, não apenas do
24:21 E1. Aqui tem a feitiçaria TAMBÉM 4 Use metáforas PP falante, mas, dos ouvintes (o
é MACUMBA::? 5 Impessoalize PI/PN grupo) para o que eles
6 Ofereça, prometa valorizam (a igreja)./Do
E3. Graças a Deus aqui não [[E4. Olha 7 Use metáforas/Atenuação mesmo modo, o falante
que eu que se/[[E1. TERREIROS?] que inclui os ouvintes na mesma
eu SAIBA não] [[E? (incompreensível) atividade.
que já parou com isso]
24:28 E1. O quê que vocês 2 Usa posfácio/prefácio
PARTICIPAM mais? (“pelo menos o que eu...”),
E3. Mais culto né [E? é culto só] um marcador de opinião,
E? Cu:::lto para minimizar o possível
E3. Aqui graças a Deus todos vamos ato ameaçador de face e
pra igreja (++) Pelo menos o que eu JÁ indicam o modo como o
VI falante deseja ser
E3. (incompreensível) pra igreja? compreendido pelo
E? (aqui não) NÃO, tu já interlocutor.

69
24:43 E? Tem (vivido) aqui esse aqui já
rasgou a bíblia óh umas setenta vezes 3 Anteriormente, esse falante
((humor)) (++) Teve gente que já rasgou declara diretamente a um
Bíblia muitas vezes presente a ameaça a face. Já
nesse ponto, ele
24:52 E1. Então quer dizer que vocês impessoaliza os autores da
participam MAIS da (+) da::: [[E? situação, de modo indireto,
Quando chega na hora da FARRA num se por meio do substantivo
aguentam “gente”, para não se
E1. Ah::::: ((compreensão)) (+) come a comprometer com a ameaça
bíblia né que eles falam né a face dos presentes.
E? Por isso que num entro que eu/ (++
+) Quando chegar a hora certa se for da 4 Ele utiliza a metáfora
vontade de Deus [[E4. Só que a carne é “rasgou a bíblia” ainda para
fraca né não se comprometer com o
E1. Entendi! dito./ E ainda intensifica (ver
bibliografia sobre
intensificação) esse aspecto
“negativo” das pessoas para
qual se direcionou de
maneira indireta, através da
expressão “muitas vezes”

5 O verbo “aguentar” está na


3ª pessoal do plural
indicando a impessoalidade
no discurso.

6 Nesse trecho, ele, ao que


parece, faz uma promessa

70
‘que vai entrar para igreja no
momento certo’, e não de
modo contraditório, como os
companheiros. Assim, ele
eleva sua face positiva.

7 Essa expressão popular “a


carne é fraca” parece
funcionar como uma
metáfora, que indica o modo
indireto de se dirigir ao
ouvinte, /bem como
minimiza o próprio ato
ameaçador de face
enunciado por esse falante.
Educação 25:14 E1. Então pra sonho de vocês é se
formar né (+++) Se forma::::r traze::::r né
(+) Alegria pros pais

E? Ver melhora pra Vila


E1. E melhora pra Vila também (2.2)
E1. é:: a princípio é isso né

71
72

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