Edith Derdyk é uma artista que questiona visões reducionistas do desenho. Sua exposição "Linha de Chamada" explora a geometria descritiva, recombinando ilustrações didáticas em novos trabalhos que investigam estruturas fundamentais da ação humana através da poesia, religião e filosofia. Sua pesquisa busca entender os limites do modelo de crescimento através da produção em série que combina razão e insanidade.
Descrição original:
Título original
texto Maria Hirszman_Edith Derdyk_Linha de chamada
Edith Derdyk é uma artista que questiona visões reducionistas do desenho. Sua exposição "Linha de Chamada" explora a geometria descritiva, recombinando ilustrações didáticas em novos trabalhos que investigam estruturas fundamentais da ação humana através da poesia, religião e filosofia. Sua pesquisa busca entender os limites do modelo de crescimento através da produção em série que combina razão e insanidade.
Edith Derdyk é uma artista que questiona visões reducionistas do desenho. Sua exposição "Linha de Chamada" explora a geometria descritiva, recombinando ilustrações didáticas em novos trabalhos que investigam estruturas fundamentais da ação humana através da poesia, religião e filosofia. Sua pesquisa busca entender os limites do modelo de crescimento através da produção em série que combina razão e insanidade.
Edith Derdyk é uma artista radical. Não se contenta
em ficar na superfície das coisas. Está permanentemente experimentando, dando continuidade a uma pesquisa incansável acerca do desenho – seu tema e sua linguagem por excelência –, tentando entendê-lo não como mero instrumento de representação, mas como forma de estar no mundo. “Desenho não é só coisa de lápis e papel”, repete ela, parafraseando Mário de Andrade na tentativa de explicar seu combate permanente contra uma visão Ou o conjunto batizado de Épuras (formado por cartesiana, instrumental e reducionista do meio. desenhos impressos e trabalhados em diferentes tipos Em “Linha de Chamada”, pesquisa que nasceu da de papel, que configuram uma espécie de arquivo de vontade de aproveitar o momento de paralisia da experimentações e serão reunidos num livro de artista, pandemia para repensar modelos e paradigmas, Edith linguagem tantas vezes e tão bem explorada por ela. parte de uma base muito específica. Elege como Outras obras trazem à tona uma forte pulsão ponto de partida a Geometria Descritiva ou construtiva, uma clara intenção de reconfiguração Mongeana, técnica desenvolvida pelo matemático performática do espaço. É o caso de Projectante, francês Gaspard Monge (1746 – 1818). Originalmente instalação que a artista considera como uma espécie de destinada à engenharia militar, este método-base do polo gerador de toda a exposição. desenho técnico, que permite representar É interessante notar que, apesar dos diferentes esquematicamente máquinas, instrumentos, objetos formatos e suportes, os trabalhos reunidos na mostra em representações bidimensionais, é um agente atual compartilham não apenas o anseio por questionar fundamental da revolução industrial, tornando possível uma visão reducionista do desenho, como derivam de a repetição fiel e exata de modelos objetivos. uma poética extremamente coerente, que vem sendo Visualmente, remete à estética de movimentos como pouco a pouco construída por Edith, num longo o construtivismo russo ou o futurismo italiano, processo iniciado ainda nos anos 1980. Neles estão marcados por um forte grafismo e intimamente evidentes as recorrências, que ela chama de vinculados à uma ideia otimista de progresso. E, na “mitologias pessoais” e que constituem o chão no qual reconfiguração formal e poética de Edith, torna-se um trabalha. A linha preta; o desenho que passa do plano material ao mesmo tempo físico e simbólico. para o espaço, numa clara vocação arquitetônica; o O que eram originalmente simples ilustrações de movimento inquieto e repetitivo do traço; um certo livros didáticos da década de 1950 recolhidos pela caráter de improviso são alguns desses elementos que artista em sebos, transformam-se em ponto de partida compõem a gramática da artista. para um processo de improvisação semelhante àquele Seu leque de procedimentos e gestos é enxuto, seco, desenvolvido por um DJ. São recombinados, mas seu leque de interesses é vasto. Edith parte de condensados, desconstruídos, sampleados, gerando símbolos concretos como a Bíblia, ou de pequenos trabalhos de diferentes linguagens e intensidades. gestos da natureza como o vai-e-vem das formigas ou a Alguns deles têm um caráter mais projetivo, são sensibilidade construtiva das aranhas, para investigar elaborados de forma mais calculada e vagarosa, no estruturas fundamentais da ação humana. Associa silêncio do ateliê, como a série Alfabeto da Reta, nas poesia, religião, filosofia e, procura, incansavelmente quais lida com questões como espelhamento e encontrar o que está na base dos acontecimentos, simetria. mobiliza procedimentos artísticos e poéticos que permitem ao mesmo tempo questionar esse modelo unívoco de crescimento através da produção em série e propor uma reflexão acerca dos limites desse modelo vigente que, paradoxalmente, combina razão e insanidade. Não se trata, de forma alguma, de uma rejeição à ciência ou a herança da modernidade, mas de uma necessidade premente de olhar para as nossas origens, voltar ao germe dessa ideia de desenho cartesiano, que condensaria em si essa ideia de progresso, de evolução pelo consumo e produção incessante, que nos tempos atuais dá claros sinais de esgotamento.
NAME, Daniela. "Eu Me Lembro" - Sedução e Memória No Design Construtivo Brasileiro. in - Diálogo Concreto - Design e Construtivismo No Brasil. Rio de Janeiro - Caixa Cultural, 2008. P. 7-41