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0 início da psicanálise
________________________________________________________________________________I _________________________________________________________________________________________ I
0 desenvolvimento da psicanálise
Capítulo 13 0 início da psicanálise 315
A hipnose
3 20 Historia da psicologia moderna
Catarse: p ro c e s s o de redu ç ão ou
elim inaç ão de um complexo,
tra n s fe rin do -o para o c o ns c ien te e,
a ssim , pe rmitindo a s u a ex pres sã o .
Capítulo 13 0 início da psicanálise 323
Uso de cocaína
Capítulo 13 0 início da psicanálise 325
Casamento e filhos
A neurose de Freud
Capítulo 13 0 início da psicanálise 331
0 auge do sucesso
332 História da psicologia moderna
Texto o rig in a l
Trecho sobre histeria, extraído da primeira lição de Sigmund Freud, na Clark University, em 9 de setembro de 19091
N
este tre ch o da p ale s tra inicial a p r e s e n t a d a p o r Freu d na C l a rk (m in is trad a em ale m ão), ele disc u te o c a s o de A n n a 0.
S e n h o r a s e s e n h o r e s : p a ra mim, e s t a é u m a e x p e riê n c i a n o va e, de a l g u m a fo rm a, s i n t o - m e até c o n s t r a n g i d o em me
a p r e s e n t a r c o m o p a le s tra n te diante d o s e s t u d a n t e s do N o vo M u n d o . E s to u ciente de que d e v o e s s a h o n ra à a s s o c i a ç ã o do m e u
n o m e c o m o tem a da p s ic a n á l i s e e, c o n se qu e n te m e n t e , é à p s i c a n á l is e que devo d ire c io n a r a m in ha fala. Tentarei p ro p o rc io n a r- lh e s ,
de fo rm a b e m re s u m id a , um p a n o r a m a h is tó ric o da o rig e m e do p o s te ri o r d e s e n v o lv im e n to d e s s e n o vo m ét o do de p e s q u is a e cura.
R e c o n h e ç o s e r u m a h o nra h a v e r c ria do a p s ic a n á l i s e ; no entanto, o m érito nã o é meu. N a époc a, eu era e s tu d a n te e e stav a
p r e o c u p a d o em p a s s a r n o s e x a m e s finais, q u a n d o outro m é d ic o de Vie na, dr. J o s e p h Breuer, re aliz o u a prim eira a p li c a ç ã o d e s s e
m é to d o no c a s o de um a m o ç a c o m histeria ( 1 8 8 0 - 1 8 8 2 ) . V a m o s a g o ra e x a m in a r o h is tó ric o d e s s e c a s o e o s e u tratam ento, que
e s tã o d e t a lh a d o s no livro Studies on hysteria, p u b lic a d o p o s t e r io r m e n te p o r dr. B re u e r ju n ta m en te c o m i g o [...].
A pac ie nte do dr. B re u e r era u m a jo ve m de 21 a n o s, d o tada de alto grau de inteligênc ia. Ela a p re s e n to u , no c u r s o de d o is a n o s
da s u a d o en ça , u m a s é rie de d i s tú rb io s fís i c o s e m e n t a is que re a lm en t e m e re c ia m s e r a n a l i s a d o s c o m s e rie d a d e . S o f re u de um a
g rav e p a ra lis ia d o s m e m b r o s s u p e r io r e inferior do la do direito do corpo, c o m a u s ê n c ia de s e n s ib i lid ad e , e, a l g u m a s v eze s, o m e s m o
p r o b l e m a e m a m b o s o s m e m b r o s do lad o e s q u e rd o , d istú rb io do m o v im e n to d o s o l h o s e p ro fu n d a d ific ulda d e v is ua l, in c a pa ci d a d e
para m a n te r a p o s i ç ã o da c a be ça, u m a int en sa Jussis nervosa [t o s s e inco ntro lá ve l], n á u s e a s q u a n d o tentava s e a li m e n ta r e, em
certa o c a s iã o , p o r v á r i a s s e m a n a s , u m a p e rd a da c a p a c id a d e de beber, a p e s a r de se n tir muita sede. Teve t a m b é m a c a p a c id a d e de
fala d iminuída, e e s s e q u a d ro s e a g r a v o u de tal form a, que ela ficou in c a pa c i ta da para fa la r e até m e s m o c o m p re e n d e r a própria
lín g u a m aterna; e, finalm en te, p a s s a r a por e s t a d o s de "a us ên c ia" , c o n fu s ã o , delírio, alte ra ç ã o total da p e rs o n a lid a d e . Deixare i para
a b o r d a r e s s e s e s t a d o s m in u c io s a m e n t e m a i s tarde.
O b s e r v o u - s e que a paciente, du ra n t e o s e s t a d o s de a u s ê n c ia , de a l te ra ç ã o p s íq u ic a , n o r m a l m e n t e m u r m u r a v a d i v e r s a s
p a la v ra s , c o m o s e e s t i v e s s e fa l a n d o c o n s i g o m e s m a . E s s a s p a l a v r a s pa re c i a m s u r g i r de a s s o c i a ç õ e s c o m o s p e n s a m e n t o s que
o c u p a v a m a s u a mente. 0 m édico , ao c o n s e g u i r c ap ta r a s p a l a v ra s , c o l o c a v a a p acie nte em u m a e s p é c ie de e s ta d o de h ip n o s e e
repetia o s t e r m o s d i v e r s a s v e z e s pa ra ela, a fim de d e s c o b r ir s e existia a l g u m a a s s o c i a ç ã o . A pa ciente c edia ao s u g e s t io n a m e n t o
e re p ro d u z ia para ele a s c ri a ç õ e s p s íq u i c a s q ue co n t ro la v a m s e u s p e n s a m e n t o s du ra n te a s a u s ê n c ia s , e qu e s e re v e l a v a m n e s s a
s i m p l e s e x p r e s s ã o de p a la vra s . E s s a s c r ia ç õ e s e ram il u s õ e s [fa n ta si as ] de p ro fu n d a tristeza, m u i t a s v e z e s de b e le z a po étic a -
d e v a n eio s, p o d e m o s a s s i m c h a m á - l a s - que fre q u en t e m e n t e tinham c o m o po nto de partida a s it u a ç ã o de u m a g aro ta p o s t a d a na
c a be c e ira do pai doente. S e m p re que c o n s e g u i a e s ta b e le c e r a s s o c i a ç õ e s c o m a l g u m a s d e s s a s fan ta sia s, ela ficava, c o m o realm e nte
ac ontecia , livre e re s t a b e l e c id a a s e u e s t a do m e n t al no rm al. E s s e e s ta d o de s a ú d e d u ra v a v á r ia s ho ras , e, então, no dia seg uin te,
m a is u m a a u s ê n c ia , re m o v id a da m e s m a m aneira, ou seja, r e l a c i o n a n d o a s fa n t a s ia s r e c é m -c ria d a s .
Repressão:p ro c e s s o de barrar
ideias inaceitáveis, m e m ó ria s ou
de s ej o s do consc iente, d e i x a n d o -o s
o pe rar livrem e nte no inconsciente.
3 38 História da psicologia moderna
TABELA13.1 Fa to s ou s í m b o l o s de s o n h o s e o s r e s p e c t iv o s s i g n if ic a d o s p s ic a n a l í t ic o s l at e nt e s
SÍMBOLO INTERPRETAÇÃO i
C ria n ç a s
9
O r g ã o s genitais
B rin c ar co m cri a n c a s9
M a s tu rb a ç ã o 9
Objetos a l o n g a d o s (por exemplo, tronco de árvore, g ua rd a-c hu va, O rgã o genital m as c u lin o
gravata, cobra, vela)
9
E s p a ç o s f e c h a d o s (p o r exem plo, caixa, forno, arm ário , ca ve rn a, O rgã o ge nita lfem in ino
bolso)
a t ra v e s s a r um a ponte
Tom ar banh o N a sc im en to
Os instintos
Instintos de morte: o im pu ls o
inc o nsc ie nte em direção à
decadênc ia,i d es truiç/ão e
a gre ss iv id ad e.
Os níveis de personalidade
Aansiedade
Mecanismos de defesa:
c o m p o rt a m e n t o s que rep res en ta m
n e g a ç õ e s in c o n s c ie n te s ou
d is to rç õ e s da realidade, m a s que
s ã o a d o t ad o s para pro teger o ego
contra a ansiedade .
TABELA13.2 M e c a n i s m o s de d e f esa fr e u d ia n o s
Negação
N e g a ç ã o da existê ncia de uma a m ea ç a externa ou de um aco nte cim ento traumático; por exemplo: uma p e s s o a co m do e nç a terminal pode nega r
a iminência da morte.
Deslocamento
Transferência do s i m p u l s o s do id de uma am e a ça ou de um objeto indisponív el para um objeto disponível, c o m o a substituiç ão da hostilidade para
co m o chefe para a hostilidade para c om o filho.
Projeção
Atribuição de um im p u lso perturba do r a outra pe s so a , c o m o dizer que vo cê não odeia seu pr o fe s s o r e que, ao contrário, é ele quem o odeia.
Racionalizacão
Reinterpretação do c o m p o rtam e nto para to rn á-lo m a is aceitável e m e n o s am eaçador, co m o dizer que o e m p re go do qual vo cê foi des pe dido não
era tão bom ass im .
Formação reativa
E x p r e s s ã o de um im p ulso do id que é o op osto daquilo que im pulsio na a pe ss o a . Por exemplo: o indivíduo pertu rb ado por paixões s ex u a is pode
to rn ar-s e um com baten te feroz da pornografia.
Regressão
Retorno a um período anterior, m e n o s frustrante da vida, a c o m p a n h a d o da exibição de um c o m po rtam e nto depe ndente e infantil, carac terístico
d e s s e período m ais seguro .
Repressão
N e g a ç ã o da existência de um fator pro v o c a d o r da a nsiedade , c o m o a elim inação involuntária da co n s c iê nc ia de a l g u m a s le m b ra n ça s ou pe rc e p
ç õ e s que c a u s a m descon fo rto.
Sublimação
Alteração ou o d es lo c am e n t o d o s i m p u ls o s do id, d es vian do a en ergia instintiva para o s c o m po rta m e n t o s s o cialm en te aceitáveis, c o m o de sviar
a energia se x ua l para um c o m po rt am e n to de c riação artística.
Complexo de Edipo: a o s h ou 5
ano s, o desejo in co n sc ie nte do
m e nino pela m ãe e de substitu ir ou
destruir o pai.
I—
As críticas à psicanálise
Coleta de dados
348 Historia da psicologia moderna
As contribuições da psicanálise
350 Historia da psicologia moderna
Psicanálise: período
pós-fundação
J J
Um garotinho perdido e solitário A ansiedade básica
As facções concorrentes na psicanálise As necessidades neuróticas
Os neofreudianos e a psicologia do ego Aautoim agem idealizada
Anna Freud (1895-1982) Horney e o fem inism o
Uma infância infeliz Comentários
Uma crise de identidade A evolução da teoria da personalidade: a psicologia humanista
A an á lis e in fa n til A s in fluên cia s ante riores na psicolo gia humanista
Comentários A natureza da psicolo gia humanista
CarlJung (1875-1961) Abraham Maslow (1908-1970)
A biografia de Jung: outra infân cia terrív e l A biografia de Maslow
Freud, o pai Assistindo a um desfile
0 rom pimento A autorre alizaçáo
A psicologia ana litica de Jung Comentários
0 inconsciente coletivo Cari Rogers (1902-1987)
Os arquétipos Uma criança so litá ria
A intro versão e a extroversão Fantasias bizarras
Os tipo s psico ló gicos: funções e atitudes Um colapso
Comentários A autorre alizaçáo
As teorias da psicologia social: o ressurgimento do Zeitgeist Pessoas em pleno funcionam ento
Alfred Adler (1870-1937) Comentários
Dois im portantes teóricos, A braham M aslow с C ari R ogers, aspiravam su bstitu irá psicanálise (bem com o
o behaviorism o) pela sua visão da natureza hum ana. U nía variação contem poránea с expansão da psicologia
hum anista, atu alm en te, с a psicologia positiva, que aplica o m étodo exp erim ental para estudar as em oções
positivas с a felicidade. E preciso te r cm m en te que não im po rta qu anto esses teóricos divergissem dos ensi-
nam entos de Freud, todos derivaram suas ideias do trabalho dele, aperfeiçoando-o ou opo ndo-se a ele.
f ig u r a A n n a Freud.
A análise infantil
Comentários
CarlJung (1875-1961)
FIGURAU .2 C a r lJ u n g.
358 História da psicologia moderna
Freud, o pai
0 rompimento
Capítulo 14 Psicanálise: período pós-fundação 359
/
360 História da psicologia moderna
0 inconsciente coletivo
Os arquétipos
Capítulo 14 Psicanálise: período pós-fundação 361
Arquétipos: te nd ê nc ia s h erdadas,
c o n tid a s no in c o n scie nte coletivo,
que le vam o indivíduo a se
c o m po rt ar de form a s e m e lh a n te
a o s a n c e s tra is que p a s s a r a m por
s it u a çt õ e s sim ilares.
A introversão e a extroversão
3 62 Historia da psicologia moderna
Comentários
Capítulo 14 Psicanálise: período pós-fundação 363
A biografia de Adler
/
Cd
K -
Od
L i-
.3 A lfre d Adler.
Capítulo 14 Psicanálise: período pós-fundação 365
A psicologia individual
0 sentimento de inferioridade
Complexo de inferioridade:
c o ndi ção que o indivíduo
de se n v o lve qu ando é in capaz de
c o m p e n s a r o s se n t im e n to s n o rm a is
de inferioridade.
0 estilo de vida
A ordem de nascimento
Suporte de pesquisas
368 Historia da psicologia moderna
Comentários
V
Capítulo 14 Psicanálise: período pós-fundação 369
A ansiedade básica
As necessidades neuróticas
372 Historia da psicologia moderna
lidar com a ansiedade básica, esse padrão deixa de ser suficientem ente flexível, não perm itind o, assim, co m -
po rtam ento s alternativos.
Q u an d o um co m p o rtam en to fixo m ostra-se inadequado para determ inada situação, o indivíduo e inca-
paz de m ud ar em reação às exigências que ela dem anda. Esse tipo de co m portam ento enraizado intensifica
as dificuldades do indivíduo, pois afeta toda a personalidade, as relações com as pessoas, consigo m esm o c
com a vida com o u m todo.
A autoimagem idealizada
A autoim agem idealizada fornece à pessoa u m falso retrato da personalidade ou do sel/. E um a máscara enga-
nosa c im perfeita, que im pede a pessoa neurótica de com preender c aceitar o seu verdadeiro sei/. Ao vestir a
m áscara, o indivídu o nega a existência de seus conflitos internos. Ele acredita ser verdadeira a autoim agem
idealizada, e essa crença faz que se considere superior ao tip o de pessoa que realm ente é.
H o rn ey não afirm ava serem inatos ou inevitáveis tais conflitos neuróticos. A pesar de resultantes de si-
tuações indesejáveis da infancia, eles p odiam ser evitados, caso a vida fam iliar da criança fosse rodeada de
calor, com preensão, segurança c am or.
Horney e o feminismo
As opiniões de H o rn ey sobre a psicologia fem inina são consideradas u m a contribuição im portante. M uitas de
suas posições feministas, declaradas há quase um século, têm um forte apelo contem porâneo. Ela com eçou a
trabalhar com psicologia fem inina cm 1922, c foi a prim eira m ulher a apresentar u m trabalho sobre o assunto
cm u m congresso internacional de psicanálise. A reunião, sediada cm B erlim , foi presidida por Sigm und Freud.
H o rn ey fez u m a distinção entre a m u lh er tradicional, que busca sua autoidentidade por m eio d o casa-
m en to c da m aternidade, c a m u lh er m oderna, que p rocura a identidade po r m eio de um a carreira. O co n -
flito en tre am o r c trabalho, segundo H orney, caracterizou sua própria vida. Ela op tou por se concentrar no
trabalho, o que lh e gerou eno rm e satisfação, em bora continuasse buscando o am or ao longo da vida.
Seu dilem a p erm an ece tão relevante para m u lheres do scculo X X I quanto foi para ela, que lutou para
que as m ulheres tivessem o d ireito de to m ar suas próprias decisões diante das restrições im postas po r um a
sociedade d om inada p or hom ens.
Comentários
O o tim ism o de H o rn ey cm relação à possibilidade de evitar o surgim en to de neuroses foi bem recebido por
psicólogos e psiquiatras, que v iram isso com o um alívio do pessim ism o de Freud. Seu trabalho tam bém m e-
receu destaque, porque ela descrevia o desenvolvim ento da personalidade cm term os de forças sociais, atri-
bu in d o pouca im po rtância aos fatores herdados.
As provas para sustentar a teo ria de H orney, assim com o m encionam os no caso de F reud, J u n g c Adler,
foram extraídas de observações clínicas de pacientes c, assim, estavam sujeitas aos m esm os questionam entos
cm relação à credibilidade científica. Pouca pesquisa foi realizada com base nos conceitos do seu sistem a.
Freud não chegou a e m itir n e n h u m co m en tário d ireto sobre o trabalho dela, mas um a vez com entou a res-
peito de H orney, dizend o que “ela é capaz, m as m aliciosa” (apud B lanton, 1971, p. 65). E m ou tra ocasião,
cm um a discreta alusão dissim ulada ao trab alho de H orney, F reud disse: “ N ão ficaríam os m uito surpresos
Capítulo 14 Psicanálise: período pós-fundação 373
R aízes da posição hum an ista tam b ém podem ser observadas na psicanálise. Adler, H orney e outros te ó -
ricos da personalidade discordavam da noção de Freud sobre o d o m ínio exercido pelas forças inconscientes
na vida d o indivíduo. Esses dissidentes da psicanálise o rtodoxa acreditavam 110 indivíduo com o u m ser cons-
ciente, dotad o de espontaneidade c liv re-arbítrio, influenciado tan to pelo presente c pelo futuro qu anto pelo
passado. Esses teóricos creditavam à personalidade a força criativa responsável pela própria m oldagem .
O Zeitgeist é sem pre in flu en te na organização dos precedentes c das tendências para form ar um a visão
coesa. A psicologia h u m an ista refletia o sen tim ento de desco ntentam ento m anifestado 11a década de 1960
contra os aspectos m ecanicistas c m aterialistas da cultura ocidental. A contracultura da época era constituída
pelos denom inados hippies, p rincip alm ente estudantes universitários os que abandonavam os estudos, alguns
dos quais usavam drogas alucinógenas para estim ular c ex pand ir suas experiências conscientes.
C o m o gru po, com partilhavam ideais com patíveis com a abordagem hum anista da psicologia, 0 11 seja, o
enfoque na realização pessoal, a crença na perfeição hu m ana, a ênfase 110 presente c no hedonism o (a satisfa-
ção da p rocura da satisfação do prazer instintivo), a tendência à exteriorização do sclf (dar vazão ao conteúdo
da m ente) c a valorização dos sentim entos cm d etrim en to da razão e do intelecto.
A biografia de Maslow
á
f ig u r a i« Abraham Maslow.
Assistindo a um desfile
376 Historia da psicologia moderna
A autorrealizacão
Autorrealizacão:
# desenvolvimento
pleno das habilidades de um
indivíduo e realização
/ de seu
potencial.
Necessidade
de autorrealização
Necessidade de estima
(de si e dos outros)
Necessidades de
pertinência e amor
Necessidades de segurança,
ordem e estabilidade
Necessidades fisiológicas:
comida, água e sexo
T e x to o r i g i n a l
Trecho sobre a psicologia humanista, extraído de Motivation and Personatity (1970), de Abraham Maslow1
C
onstante e renovada contemplação. A p e s s o a a u t o rr e a t iz a d o r a é d o t a d a da m a r a v i l h o s a c a p a c id a d e de c o n t e m p l a r
r e p e t id a s v e z e s , de m o d o r e n o v a d o e até m e s m o in g e n u o , a s c o i s a s s i m p l e s da vida, c o m a d m ira ç ã o , prazer, s u r p r e s a e até
ê xta se , m e s m o qu e a s o u t ra s p e s s o a s v ej am e s s a s e x p e r iê n c i a s c o m o c o rr i q u e i ra s . [...] A s s i m , p a ra e s s e indiv íduo , q u a l q u e r
p ô r do s o l é tão be l o q u a n t o o p r im e i ro t e s t e m u n h a d o , q u a l q u e r flo r tem u m e n c a n t o d e s l u m b r a n t e , m e s m o já t e n d o v is t o
m i l h a r e s de fl o re s . 0 m i l é s i m o b e b ê p a r e c e - l h e um s e r tão m i l a g r o s o q u a n t o o p rim e i ro visto . M e s m o d e p o i s de 3 0 a n o s de
c a s a m e n t o , c o n t in u a a c o n s i d e r a r - s e um a p e s s o a de s o r t e e a s e s u rp r e e n d e r , c o m o há AO a n o s , c o m a b e lez a da e s p o s a , m e s m o
ela e s t a n d o c o m 6 0 a n o s . P a ra e s s a s p e s s o a s , até m e s m o o t r a b a l h o c o t idia n o ro tine iro ou c a d a m o m e n t o do ato de v iv e r pode
s e r exc itante, e m o c io n a n t e e a rre b a t a d o r. E s s a s s e n s a ç õ e s i n t e n s a s n ã o o c o r r e m o t e m p o todo; e l a s s u r g e m o c a s i o n a l m e n t e
em v e z de n o r m a l m e n t e , m a s n o s m o m e n t o s m a is i n e s p e r a d o s . A p e s s o a p o d e a t r a v e s s a r o rio de b a l s a d e z e n a s de v e z e s , e na
d é c i m a p ri m e ira t r a v e s s i a re v iv e r i n t e n s a m e n t e a s m e s m a s s e n s a ç õ e s , a m e s m a r e a ç ã o di an te da b e l e z a e i g u a l e x c it a ç ã o
c o m o da p r im e ira v e z e m que p is a ra na e m b a r c a ç ã o .
O b s e r v a m - s e a l g u m a s d i f e r e n ç a s entre a s e s c o l h a s d o s o b j e to s de c o n t e m p l a ç ã o . A l g u n s in d iv í d u o s e s c o l h e m p r i n c i
p a lm e n t e a n at urez a . O u t r o s o p ta m p r in c i p a l m e n t e p o r c r i a n ç a s , e, p ara a l g u n s , a e s c o l h a re ca i na m ú s i c a de b o a qu a lid a d e .
N o e ntan to , é p o s s í v e l a fir m a r qu e t o d a s e s s a s e s c o l h a s r e s u l t a m êx tas e , i n s p ir a ç ã o e in t e n s id a d e d a s e x p e r iê n c ia s b á s i c a s
da vida. N e n h u m d e s s e s i n d i ví d u o s , po r e x e m p lo , t erá e s s e m e s m o tipo de r e a ç ã o p o r f re q u e n t a r u m a da n c e te ria , o b te r muito
d in h e i ro ou até m e s m o p o r s e d i v e r t i r e m u m a festa.
O interesse social ( G e m e in sch a ftsg e fu e h l ). E s s a patavra, in ve n tada po r A lfre d Adler, é a únic a d i s p o n ív e l para d e s
c re v er p erfe ita m e n te o s a b o r d o s s e n t im e n t o s que p e s s o a s c o m c a r a c t e rís t ic a s de a u t o rre a li z a ç ã o e x p r e s s a m pela h u m a nida d e .
E s s a s p e s s o a s têm pelo s e r hu m a n o , de m o d o geral, um p ro fu n d o s e n tim e n t o de identificaç ão , c o m p a i x ã o e afeto, a p e s a r de o c a
s i o n a l m e n t e s e n t ir e m raiva, im p a c iê n c ia ou re p u g n â n c ia , d e s c r i t a s a segu ir. P o r c a u s a d e s s e s s e n t im e n t o s , e s s e s in d iv íd u o s
/
p o s s u e m um v e rda d e iro de se jo de con tribuir c o m a raça h u m a n a. E c o m o s e f o s s e m t o d o s m e m b r o s de u m a únic a família. 0 s e n t i
m en to d e s s a s p e s s o a s em re la ç ã o a s e u s i r m ã o s s e r ia m a fe t u o s o s , m e s m o que e l e s s ej a m tolo s, f r a c o s ou até m e s m o d e s a g r a d á
veis. E l e s s e ria m p e r d o a d o s m a i s fa cilm e n te que o s e s tra n h o s .
S e a v is ã o do indivíd uo não for g e ra l o s ufic ien te e não for p ro p a g a d a d urante u m l o n g o período , talvez ela não e n x e rg u e e s s e
s e n t im e n to de i dentific aç ã o c o m a e s p é c ie h u m a na . A p e s s o a a u to rre a liz a d o ra é, afinal, b em diferente d a s o u t ra s no p e n s am e n t o ,
no im pulso , no c o m p o rt a m e n t o e na e m o ç ã o . E m re s u m o , em a l g u n s a s p e c t o s b á s ic o s , ela s e pa re c e c o m um fo ras te iro em um a
terra de e s t ra n h o s . B e m p o u c o s a c o m p r e e n d e m , m a s m u it o s g o s t a m dela.
Ela s e s e n t e m u ita s v e z e s aflita, a m a r g u r a d a e, até m e s m o , irada p e l a s l im ita ç õ e s d o s in d iv íd u o s m e d ia n o s ; enqu an to , para
ela, e s s e s i n d iv íd u o s m e d ia n o s c o s t u m a m s e r a p e n a s s im p l e s a m e a ç a s , o u tr a s v e z e s s e to rn a m v e rd a d e ira s tra gé dias . A s vezes,
n ão im po rta qu ã o distante esteja de les, a i nd a n utre um s e n t im e n to su b ja ce n te b á s i c o de b o n d a d e po r e s s a s c ria tu ra s c o m a s qu a is
deve s e preo c up ar, nã o po r c o n d e s c e n d ê n c ia , m a s po r s e s a b e r c a p a z de re a liza r muito m a is do que elas, de e n x e rg a r c o i s a s que
e la s não c o n s e g u e m ver, po rqu e a v e rd a d e q ue lhe é tão c lara é o b s c u r a ou o culta para a m a io ria d a s p e s s o a s . E s s e c o m p o r t a m e n
to é o que A d le r c h a m o u de atitude de irm ão m a is velho.
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Capítulo 14 Psicanálise: período pós-fundação 379
Fantasias bizarras
Um colapso
/
C a p itu lo U Psicaná lise: periodo p ós-lund açà o 381
Dessa form a, o tipo de pessoa tratada consistia, basicam ente, de jovens inteligentes c extrem am ente co m un i-
cativos. O s problem as, cm geral, relacionavam -se a questões de ajuste c não de distúrbios em ocionais graves.
Essa população de pessoas era b em distinta daquela tratada p or Freud ou p o r outros psicólogos clínicos de
consultórios particulares.
A autorrealizacão 0
R ogcrs (1961) acreditava que a m aior força m otivadora da personalidade é o im pulso para a realização do sclf.
E m bora essa ânsia pela autorrealizacão seja inata, pode ser incentivada ou reprim ida por experiências da in -
fancia c p o r aprendizagem . R ogcrs enfatizava a im portân cia da relação e ntre m ãe c filho, p o r ela afetar o
senso de sclf c m evolução da criança. Se a m ãe satisfaz a necessidade de am or
Atenção positiva: amor
d o bebe, que R ogcrs cham ou de a te n ç ã o p o sitiv a , ele, provavelm ente, terá
incondicional da mãe pelo bebé
um a personalidade saudável.
N o entanto, se a m ãe condiciona o am or pelo filho a um com portam ento adequado (atenção positiva con-
dicional), ele internalizará essa sua atitude c desenvolverá condições de valor. Nesse caso, a criança se sentirá
valorizada som ente cm determ inadas condições, c tentará evitar com portam entos considerados reprováveis.
C onsequentem ente, a noção de si m esm a não se desenvolverá plenam ente. A criança não será capaz de expressar
todos os aspectos de si própria, porque aprendeu que alguns desses com portam entos produzem rejeição.
Desse m odo, o principal requisito para o desenvolvim ento da saúde psicológica c a atenção positiva in -
condicional na infancia. O ideal seria que a m ãe dem onstrasse am or c aceitação à criança, independentem en -
te de seu com po rtam ento . A criança que recebe atenção positiva incon dicional não desenvolve condições de
valorização c, assim, não terá de re p rim ir n enhu m a parte em ergente de si. Som ente dessa m aneira a pessoa,
p o r fim , será capaz de o b ter a autorrealização.
A autorrealização consiste no m ais elevado nível da saúde psicológica. O con ceito de R og crs c sem e-
lh ante, em princípio , ao de M aslow , em b ora am bos divirjam em algum as características de pessoas psico -
lo g icam en te saudáveis. R o g c rs considerava que elas tin h a m alcançado u m estágio q u e ele ch am ava de
fu n cio n am en to pleno.
R o gcrs descrevia as pessoas plenam ente funcionais com o realizadoras, cm vez de realizadas, para indicar
que a evolução d o sclf está cm constante and am ento. Essa ênfase na espontaneidade, na flexibilidade c na
capacidade contín ua de crescim ento está perfeitam ente expressa no títu lo do livro m ais fam oso de Rogcrs:
Tornar-se pessoa [On becoming a persoti] (1961).
3 82 Historia da psicologia moderna
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hoje, m ais dc 30 anos depois de R o g ers ter feito essa avaliação pessimista, a psicologia hum anista é vista com o
u m ram o que ofereceu grandes contribuições para a evolução contínua da psicologia.
E m bora a psicologia hum anista não ten ha transform ado a psicologia, ela fortaleceu na psicanálise a ideia
da capacidade qu e as pessoas têm de, consciente c livrem ente, m o ld a ra própria vida. A psicologia hum anista,
p o r ter surgido con com itan tem en te ao m o vim ento da psicologia cognitiva e te r se tornado parte do Zeitgeist,
ajudou in diretam en te a restaurar o estudo da consciência na psicologia experim ental acadêmica.
U m dos fundadores da psicologia cognitiva afirm o u que tin h a sido “mais tocado pelo espírito dos psicó-
logos hum anistas [c] visto a abordagem cognitiva com o um a visão mais hum anista do organism o hu m an o"
(Neisser apud Baars, 1986, p. 273).
D c m o d o geral, a psicologia hum anista ajudou a ratificar as m udanças já cm andam ento na área, c, ana-
lisada desse p o n to dc vista, p ode ser considerada bem -suced ida. Além disso, provocou im pacto ainda po r
q uatro décadas na psicologia contem porânea, (ver N icholson, 2007)
Por que as ciências sociais enxergam o potencial e as virtudes humanas - como altruísmo, coragem, hones-
tidade, obediência, alegria, saúde, responsabilidade e bom estado de espírito - como ilusões absolutas, defen-
sivas ou secundárias, enquanto a fraqueza e as motivações negativas —como ansiedade, luxúria, egoísmo,
paranoia, raiva, desordem e tristeza - são consideradas autênticas? (Seligman, 1998, p. 1)
Seu objetivo era persuadir psicólogos a desenvolver conceitos mais positivos sobre a natureza c o p o te n -
cial hum anos, o que iria se con cretizar com base no trabalho pioneiro dc M aslow c R ogers (ver Seligm an,
Stecn, P art c Peterson, 2005).
Dinheiro e felicidade
Saúde e idade
386 Historia da psicologia moderna
Casamento
Personalidade
Scligm an diz que pretend e estender o co nceito de florescim ento para o local de trabalho, a sala de aula
c a cultu ra geral, para gerar u m aum ento 110 nível geral de bem -estar. O exército dos Estados U nido s capa-
cita, atualm ente, mais de 1 m ilh ã o de soldados com aulas sobre psicologia positiva p o r m eio d o C om preh en -
sivo Solvier Fitncss P ro gram , em urna tentativa de to rná-los m enos vuln eráveis ao tran storno de estresse
pós-traum ático c outras form as de estresse. Scligm an continua otim ista sobre o futuro da psicologia positiva.
“A credito que está d en tro da nossa capacidade fazer que, 110 ano de 2051, 51% da população h um ana esteja
florescendo. Essa c m inh a responsabilidade. E o nosso objetivo" (citado em B urling, 2010, p. 3).
Comentários
A pesquisa c teo rização n o cam p o da psicologia positiva captam o interesse de u m n úm ero cada vez m aio r
de psicólogos c, talvez, rep resente o legado m ais d urad o u ro do m o v im e nto da psicologia hu m anista, em
especial o trab alh o de A b raham M aslow sobre autorrealização. E para o futuro desenvo lvim ento da psico -
logia positiva co m o u m m o v im en to form al ou urna escola de pensam ento, Scligm an c outros psicólogos
positivos p ion eiro s tê m u m objetiv o b em m eno s estru tu rad o. “ Vemos a psicologia positiva com o urna m era
m ud ança de enfo q u e da psicologia", disse S clig m an, " d o estudo de alguns dos piores aspectos da vida para
o cstudo dos seus fatores valiosos. N ão vem os a psicologia positiva com o um sub stituto de tu d o o que foi
desenvolvido antes, m as apenas u m co m p lem ento e um a ex tensão dos estudos an teriores" (Scligm an, 2 00 2 ,
p. 2 66 -26 7 ).
A lgun s co ncord am com a avaliação inicial de Scligm an. D ois pesquisadores escreveram que "a v arie-
dade de tópicos c agora tão g rand e, q ue a psicologia positiva, com certeza, pod e ser considerada u m a psi-
cologia geral" (S im onto n c B aum eister, 2005, p. 100). E, parafraseando com entários sem elhantes feito p or
outros: “ O fu tu ro da psicologia positiva? E psicologia pura" (Gablc c H aidt, 2005 , p. 108). Q u a lq u er q ue
seja o status final da psicologia positiva, esse cam po vem ad o tand o um a visão am plam ente distinta da na-
tu reza hu m an a e m relação à proposta p o r S igm und F reud, q ue com eçou os estudos da personalidad e há
m ais de u m scculo.
QUESTÕES PARADISCUSSAO