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Curso de

Interpretação
Bíblica

Apostila
de Estudos
Conteúdo Aula I

Mundo Bíblico - 2020


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Você entende
o que lê?
Antes de darmos início a nossa conversa, trago uma reflexão: quando você pega a Bíblia, isto é, a
Palavra de Deus, você consegue ouvi-la? Em outras palavras, é capaz de entender o que ela está
falando com você?

Apesar de a mensagem ser atual, essa pergunta já é muito antiga. Foi feita por Filipe ao Eunuco,
enquanto este lia as Escrituras. A narrativa mostra que Filipe encosta sua carruagem ao lado de
onde estava o Eunuco. Assim, Filipe tem a oportunidade de fazer esta pergunta: “Você entende o
que lê?”. Tal indagação precisa estar no coração de cada pastor, de cada líder. Será que as pessoas
que estão na comunidade realmente estão entendendo aquilo que lêem na Bíblia?

É fundamental sabermos se estamos interpretando a Bíblia, ou seja, se estamos entendendo a


Palavra de uma maneira adequada, de forma que aquilo que estamos lendo esteja se
transformando em vida, em vitamina, em sustento para nós.

Faço uma nova pergunta: já aconteceu de você ler a Bíblia e não entender nada a respeito daquele
texto? Você já leu uma, duas, três vezes e você não conseguiu tirar nada das palavras?

Há, ainda, uma terceira pergunta tão importante quanto às anteriores. Existe um cenário no qual
você já leu a Bíblia e, de fato, entendeu de alguma forma dado conteúdo, porém com o passar do
tempo você começou a perceber que aquilo que você tinha entendido estava errado?

A quarta pergunta é: você já leu um texto, entendeu este texto, mas seu irmão em Cristo que
possui opiniões que você respeita e admira entendeu de uma maneira contrária da sua?

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Note que uma pergunta engancha a próxima, e que apesar de suas semelhanças, se tratam de
questionamentos fundamentais para entendermos a importância, a absoluta necessidade, de
sermos capazes de interpretar um texto bíblico de uma forma adequada. Do contrário, estamos em
risco de cair em qualquer uma dessas dúvidas, dessas armadilhas. A fim de prevenir esses
problemas, precisamos estar vestidos de humildade, e de paciência para entender que somos
limitados. Devemos nos preparar da melhor forma possível para que da próxima vez em que o
texto bíblico estiver em nossas mãos possamos absorver de maneira plena o texto sagrado.

Dando continuidade a essa conversa, precisamos enfatizar um aspecto de suma importância da


leitura bíblica, o qual se define em uma palavra: REVELAÇÃO. É comum fazermos muita confusão
sobre este tema, mas não é muito difícil eliminar o erro. Basta compreender que Jesus Cristo é a
mais importante, maior revelação que temos de Deus na história. Cristo é o Deus que se revela em
meio à narrativa humana. Quando pensamos em revelação devemos ter em mente que não existe
nada acima do que o próprio Cristo. A revelação acerca de Jesus deve ocupar um lugar constante,
central e de destaque em nosso coração.

A partir do momento em que falamos em revelação automaticamente pensamos em Bíblia, a qual


já é revelação. Eu percebo que, às vezes, as pessoas querem uma “revelação da revelação”, e
deixam as Escrituras em segundo plano, sendo que a Bíblia já é a revelação. Portanto, se você já
tem a revelação, é preciso seguir com o passo seguinte. É importante olhar para a Palavra de Deus
e saber que ela é a revelação de como Cristo, o verbo, se fez carne e habitou entre nós. Também é
a revelação da vontade de Deus, que é perfeita e agradável e nos foi dada com o propósito de
alcançar nosso coração. Nós precisamos olhar para a Bíblia não como um mero livro oculto, mas
como um livro que já foi revelado. Perceba quão espantoso é isso. A revelação já aconteceu. Está
consumada e escrita. É fonte inesgotável de riqueza para nossa vida espiritual.

Existe outra maneira de entender a revelação, a saber, em termos de experiências pessoais.


Significa que Deus pode colocar Sua vontade em nosso coração e mente de uma forma muito
sensível, muito significativa.

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Fundamental é entender que a experiência no campo pessoal nunca se iguala a revelação do
próprio Cristo na história. Em suma: a revelação a nível pessoal nunca se equipara a revelação que
já está contida, que já está impressa na Palavra de Deus. Quando começamos a deslocar o peso
destas informações, começamos a viver de uma forma desequilibrada.

Independente da percepção que a sua igreja tenha sobre o assunto, é muito importante que não
comparemos a revelação bíblica, que já esta aberta, com as experiências pessoais. O mesmo Cristo
que se revelou na história nos presenteou com essa revelação chamada Bíblia. Quando
começamos a confundir a palavra “revelação” acabamos olhando com maus olhos para a palavra
“interpretação”. É como se o conceito de “interpretar” fosse algo não espiritual, pois tudo que
você olha, e tudo que você vê é atingido pela sua própria interpretação de qualquer forma.

Uma interpretação, ainda que ruim, é capaz de gerar um entendimento, uma consciência sólida,
porém equivocada. Você pode ler a Bíblia, você pode entender alguma coisa e aquilo se tornar
sólido dentro de você, mas nem por isso significará que você está entendendo a verdade. Uma má
interpretação nos faz incorrer em confusões, cometer erros, misturar conceitos, embaralhar
doutrinas sadias e misturar verdades bíblicas.

É possível que estejamos cometendo alguns erros de interpretação?

Eu quero te ajudar a abrir seus olhos, o seu próprio entendimento para que você tenha cada vez
mais cuidado e critério com a forma com a qual você estuda sua Bíblia.

A seguir, você poderá conferir um roteiro sobre os princípios de interpretação que são
necessários. Qualquer pastor, qualquer líder que se ocupe em interpretar a Bíblia seriamente vai
passar por estes modelos. Para você interpretar um texto de forma adequada é necessário:

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1) Saber o que o autor humano está dizendo. É certo que alguém escreveu o texto, mas em que
pensava? Aonde queria chegar? Existe um autor humano que você precisa respeitar. Sem isso nós
podemos distorcer o texto de todas as formas.

2) Entender o contexto imediato, o contexto anterior e o posterior. O que estava acontecendo


quando este autor escreveu o texto? Existia guerra? Existia fome? Existia paz? O que acontecia ao
redor do autor? Ter esta visão panorâmica irá te ajudar a enxergar, sentir, entender este texto de
forma diferente.

3) Entender o contexto literário. Alguns textos são poesias, então você não pode ler uma poesia do
mesmo jeito que você lê uma história É preciso respeitar essa diferença. Tanto a poesia quanto a
história (a narrativa) servem a propósitos diferentes. Cada contexto literário já irá te ajudar. A
própria Bíblia irá ensinar para você como ela “quer ser lida” e isso, mais uma vez, precisa ser
respeitado.

4) Entender o contexto histórico. Em que situação o texto foi escrito? Isso é um desdobramento do
item “2”.

5) Qual o objetivo. É importante você gastar tempo ao ler um texto até que você consiga entender
com que finalidade aquele texto foi escrito. Quando você enxerga o objetivo daquele texto ficará
mais fácil fazer uma ponte com sua própria vida.

6) Quem era a audiência. Com quem o autor estava falando quando escreveu o texto? Quem eram
as pessoas que estavam escutando aquilo? Isto é fundamental para você determinar muitas coisas
no texto.

O passo seguinte se apresenta no conceito da APLICAÇÃO. Após interpretar corretamente o texto,


é preciso trazê-lo para sua vida. É muito importante que você consiga fazer esta ponte entre o
mundo bíblico e o seu coração, entre a realidade bíblica e a sua realidade. O que o texto fala com
você? Devemos entender que a Bíblia é um livro pessoal, com firmado propósito de se relacionar
com o crente.

Vamos trabalhar um texto para terminar essa aula, enfatizando apenas dois pontos para você
entender a diferença que dá na forma de interpretar o texto. Acompanhe:

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Texto: Filho pródigo

Audiência: Judeus (Especialmente os fariseus, os escribas)

Objetivo:

1º - Mostrar que a salvação não era exclusiva dos judeus, pois também chegaria aos gentios, aos
publicanos, aos samaritanos... (O irmão mais novo representava os nãos judeus e o irmão mais
velho é a representação do típico fariseu, judeu, zeloso da lei).

2º - Considerar o não judeu irmão do judeu. Em outras palavras: não somos tão diferentes. No fim
existe o mesmo criador, o mesmo Pai.

3º - Mostrar o ressentimento na religião judaica. O religioso é ressentido.

4º - Mostrar o desejo de Deus de alcançar aquele que está perdido e alcançar os povos.

5º - Mostrar a disposição de Deus para perdoar versus a tendência do religioso de ressentir e


murmurar com a ação de Deus na vida do outro.

Indo um pouco adiante, depois que você fez todas as perguntas de interpretação necessárias, é
hora de aproximar o texto de você. Agora, as perguntas a ser fazer serão:

1º - Será que a minha fé me torna ressentido com os novos convertidos na igreja? Será que fico
com medo de perder meu lugar? Será que eu fico ressentido quando os novos convertidos
recebem atenção do pastor, da liderança da igreja? Será que minha religiosidade gosta de manter
os outros longe e se sente ameaçada quando chegam mais pessoas? Ou será que a minha fé, a
minha espiritualidade, é uma porta aberta disposta a receber todo mundo que está chegando e
abrigar estas pessoas? A sua fé faz com que você os queira colocar debaixo de regras? Estas regras
têm a ver com seu zelo pelo Reino, ou, pelo contrário, essas regras revelam o ciúme que você tem?
Sua fé se parece com a do irmão mais velho ou com a do irmão mais novo?

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2º - Eu estou desfrutando do perdão de Deus na vida do meu irmão? Quando vejo que o perdão e
a graça chegam à vida do meu irmão, isso é motivo de festa, ou fico questionando? Será que Deus
está dando demais para os outros e pouco para mim?

Quanto mais profundas forem a sua interpretação e a sua aplicação, mais raízes surgirão, mais
lugares você encontrará para que essa aplicação transforme sua vida. Espero que isso tenha te
ajudado a olhar para a necessidade de interpretar a Bíblia com mais clareza e profundidade.

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Anotações

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