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Resumo
Abstract
I - INTRODUÇÃO
II – DESENVOLVIMENTO
objetivos do emprego das FFAA não podem ser mitigados, sob pena de
subversão da lei.
No entanto, o que se deve ter em mente é que, mesmo que olvidados
requisitos formais do emprego dos militares federais (como v.g, no caso de
GLO, a declaração formal de insuficiência de meios por parte do chefe do
executivo estadual), uma vez emanada a ordem do Comandante-em-Chefe
para o emprego da força singular, de forma combinada ou não, a priori
as ações estariam sob o manto do estrito cumprimento do dever legal,
desde que obedecidos os limites das diretrizes pertinentes. Os reflexos da
ausência de formalidade legal deverá recair sobre o responsável, ou seja,
o Presidente da República, no caso de resultados com efeitos no mundo
jurídico.
Quanto aos crimes transnacionais, no âmbito normativo interno das
FFAA, também se encontra prevista hipótese de emprego, que diz respeito
ao atendimento de compromissos internacionais (tal normativo abriga as
três forças), em harmonia com as obrigações assumidas pelo país através
dos acordos internacionais firmados com a comunidade internacional. Nesse
particular, há que ser lembrado que a vigilância e guarda da faixa de fronteira
não é operação da garantia da lei e da ordem, mas, sim, atividade militar de
proteção ao território nacional contra ameaças de qualquer natureza, que
possam afetar a paz interna.
Importa frisar, nesse particular, a preocupação da ONU em proteger a
soberania dos estados-partes, conforme consta no artigo 4º, itens 1 e 2, da
Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional.
Dessa forma, torna-se esclarecida a questão da intenção das
organizações internacionais (OEA, ONU etc.) em firmar acordos de
cooperação recíproca para prevenir e reprimir os delitos que afetem a mais
de um Estado, fronteiriço ou não, sempre tendo em mente a proteção do
homem e o respeito à autodeterminação dos povos.
Segundo o artigo 3o da Convenção das Nações Unidas contra o Crime
Organizado Transnacional, considera-se a infração de caráter transnacional
se: for cometida em mais de um estado; for cometida num só estado, mas,
uma parte substancial da sua preparação, planejamento, direção e controle
tenha lugar em outro estado; for cometida num só estado, mas envolva a
participação de um grupo criminoso organizado que pratique atividades
criminosas em mais de um estado; ou for cometida num só estado, mas
produza efeitos substanciais noutro estado.
Além de outros bens jurídicos tutelados, como a liberdade, a vida e a
propriedade, o meio ambiente, também é abarcado pelo conceito acima.
A cooperação entre os órgãos federais e as Forças Armadas é
atribuição legalmente instituída para ambas as instituições. O apoio logístico
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crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos
contra civil, serão de competência da justiça comum”.
O primeiro ponto, a ser discutido, é a hierarquia das leis. É cediço que
o ordenamento jurídico brasileiro possui uma escala hierárquica, no caso,
no âmbito federal, que deve ser obedecida, a saber: Constituição Federal,
leis complementares, leis ordinárias federais, decretos e regulamentos.
Assim, sendo a competência da Justiça Militar (federal e estadual) definida
constitucionalmente, não seria possível uma lei infraconstitucional contrariar
ou modificar o que o poder constituinte estabeleceu sem reservas. Em que
pese a subversão da hierarquia das leis, o Supremo Tribunal Federal, por
intermédio do Recurso Extraordinário 260404/MG (Min Rel Moreira Alves),
decidiu por firmar a constitucionalidade do indigitado parágrafo único, sob o
entendimento de que a Carta Magna remeteu à lei ordinária a definição dos
crimes militares, tendo o parágrafo único do artigo 9º do CPM, excepcionado
os crimes dolosos contra a vida do rol de situações específicas elencadas
nos incisos do citado artigo.
Porém, superada a questão da constitucionalidade pela Corte
Suprema, não pode ser olvidada a motivação da ora atacada Lei nº 9.299/96,
conforme se observa na indexação e na exposição de motivos do Projeto de
Lei nº 2.801/1992 (PLC 102/93), que a originou, em respeito à interpretação
teleológica e sistemática das normas, regras estas também defendidas pela
Corte Suprema.
Tal dispositivo legal (o projeto de lei) originou-se de atos de abuso
de autoridade praticado por policiais militares do Estado de São Paulo,
resultando na morte de civis, mais precisamente de extermínio de crianças
e adolescentes. Visou-se dar uma resposta à comoção social que foi gerada
por vários episódios de arbitrariedade praticados pela Polícia Militar (PM)
estadual ao redor do país. Porém, como não poderia fugir a regra, tudo que
é feito às pressas e atendendo simplesmente ao afã dos acontecimentos
corre o risco de deixar rastro de imperfeições. Foi o que aconteceu com a
indigitada lei.
Inserida no contexto do Decreto-Lei 1.001/69, originalmente destinado às
FFAA, o legislador ordinário não cuidou de diferenciar a aplicação do dispositivo
excepcional da competência dos crimes militares dolosos contra a vida,
praticados contra civis. Esqueceu o legislador ou não atinou para a questão
que tal dispositivo, dirigido, originalmente, às ações praticadas por militares
estaduais, foi inserido, sem exceção, no artigo que define os crimes militares
federais. Daí em diante, uma série de interpretações extensivas errôneas gerou
insegurança ao desempenho das funções no âmbito das FFAA.
Não pode uma lei ser interpretada além da vontade do legislador.
Não procede qualquer interpretação extensiva da Lei 9.299/96 aos militares
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III – CONCLUSÃO
Referências:
156 Revista da Escola Superior de Guerra, v.24, n.49, p. 138-159, jan/jun. 2008
Questões Jurídicas do Emprego das FFAA no Controle dos Crimes Transnacionais e Ambientais
Revista da Escola Superior de Guerra, v.24, n.49, p. 138-159, jan/jun. 2008 157
Carlos Frederico Carneiro Primo
sobre Defesa e Segurança: uma estratégia para o Brasil. Brasília, 2003, v.1,
p.181.