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Conceitos de saúde e seus determinantes sociais.

Chapter · January 2013

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Silvia Maués Santos Rodrigues Janari da Silva Pedroso


Federal University of Pará Federal University of Pará
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SILVIA MAUÉS SANTOS RODRIGUES
JANARI DA SILVA PEDROSO
JULIA SURSIS NOBRE FERRO BUCHER-MALUSCHKE
ORGANIZADORES
Ficha Técnica:
SAÚDE E DESENVOLVIMENTO HUMANO: CONTRIBUIÇÕES PARA TEORIA E PRÁTICA
SILVIA MAUÉS SANTOS RODRIGUES / JANARI DA SILVA PEDROSO /
JULIA SURSIS NOBRE FERRO BUCHER-MALUSCHKE / Organizadores
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2013
Todos os Direitos Reservados.

Editor Chefe:
Vanderlei Cruz
editorchefe@editoraappris.com.br
Coordenação Editorial:
Marli Caetano
editorial@editoraappris.com.br
Coordenação Comercial:
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comercial@editoraappris.com.br
Projeto Visual:
Sara Coelho
Bruno Braz

Catalogação na Fonte
Elaborado por Sônia Magalhães
Bibliotecária CRB9/1191

Rodrigues, Silvia Maués Santos. Pedroso, Janari da Silva. Bucher-Maluschke,


R696 Julia Sursis Nobre Ferro. - Saúde e desenvolvimento humano : contribuições
2013 para teoria e prática / Silvia Maués Santos Rodrigues, Janari da Silva Pedroso,
Julia Sursis Nobre Ferro Bucher-Maluschke. – 1. ed. – Curitiba : Appris, 2013.
308 p. ; 21 cm. – (Coleção saúde coletiva)

Inclui bibliografias
ISBN 978-85-8192-138-9

1. Saúde pública. 2. Psicologia. 3. Desenvolvimento humano. 4. Medicina e


psicologia. I. Título. II. Série.

CDD 20. ed. – 363.1

Editora Appris Ltda.


Avenida Nossa Senhora Aparecida, 29, Sala 02
Curitiba/PR - CEP: 80.440-000
Tel: (41) 3408-2380 | (41) 3030-4570 | (41) 3151-1450
http://www.editoraappris.com.br/
SILVIA MAUÉS SANTOS RODRIGUES
JANARI DA SILVA PEDROSO
JULIA SURSIS NOBRE FERRO BUCHER-MALUSCHKE
ORGANIZADORES

CURITIBA
2013
Capítulo 1
Conceitos de saúde e seus determinantes
sociais

Silvia Maués Santos Rodrigues


Janari da Silva Pedroso

Saúde tem sido tradicionalmente definida em termos de


prevalência ou ausência de doenças. Desde o final dos anos 40,
saúde recebeu redefinições como funcionamento e bem-estar
na vida diária dentro de um contexto social.
Sem dúvida, a boa saúde é destacada como o valor de
maior importância em todas as sociedades. É considerado o
mais precioso dos bens. Entretanto, definir saúde como um
conceito operacional tem sido ilusório. Desde a antiguida-
de, saúde tem sido relacionada a um estado físico ou mental.
Muitas avaliações da saúde enfocam a ausência de ameaças
importantes à sociedade em uma dada época, como morte por
fome ou inanição, epidemias e nos últimos 100 anos, doenças
crônicas (Tarlov, 1996).
O conceito de saúde para Scliar (2007) reflete a conjun-
tura social, econômica, política e cultural. Ou seja, depende do
lugar, da época, da classe social, de valores individuais, concep-
ções científicas, religiosas, filosóficas que irão variar individual-
mente e, portanto, não representa a mesma coisa para todas as
pessoas, o que vale também para as doenças.
Como proposto por Balog (1978, citado em Boruchovitch
& Mednick, 2002), são três as mais difundidas visões de saú-
de que têm emergido na humanidade: o conceito da medicina
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tradicional; o conceito da Organização Mundial de Saúde e o


conceito ecológico.
O conceito da medicina tradicional é relativo à primeira
noção de saúde como um estado livre de doença, obtendo am-
pla aceitação na primeira metade do século XX, principalmente
entre médicos e equipes de saúde, e estava baseado na acei-
tação de que saúde e doença eram fenômenos objetivos e ob-
serváveis, conceito fortalecido principalmente pelo desenvolvi-
mento nas áreas de anatomia, bacteriologia e fisiologia.
O conceito da Organização Mundial de Saúde (OMS) foi
proposto no final da década de 1940. A OMS (WHO, 1946) de-
senvolveu um conceito mais holístico1 de saúde como sendo
um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não
apenas ausência de doença ou enfermidade. Pela adição de cri-
térios psicossociais, os autores da OMS não apenas reconhece-
ram serem a saúde e a doença multicausais, mas também mu-
daram o foco de uma perspectiva estritamente médica. Críticas
a esse conceito resultaram de falta de clareza quanto ao signi-
ficado operacional de bem-estar, dificultando sua aplicação em
situações práticas e, mais, por implicar na ideia de um estado
perfeito e completo, na verdade irreal e inatingível. Este concei-
to refletia, em parte, uma aspiração nascida dos movimentos
sociais do pós-guerra com o fim do colonialismo e a ascensão
do socialismo. Saúde deveria expressar o direito a uma vida ple-
na, sem privações (Boruchovitch & Mednick, 2002; Scliar, 2007).
O conceito ecológico emerge oriundo de noções mais
ecológicas e relativizadas de saúde entre os anos sessenta e se-
tenta. A teoria ecológica ganha destaque, demonstrando a in-
teração do agente da doença com o hospedeiro que ocorre em

1 Holismo (grego holos, todo) é a ideia de que as propriedades de um sistema, quer


se trate de seres humanos ou outros organismos, não podem ser explicadas ape-
nas pela soma de seus componentes. Vê o mundo como um todo integrado, como
um organismo. O princípio geral do Holismo pode ser resumido por Aristóteles na
Metafísica: “O inteiro é mais do que a simples soma de suas partes”.
SAÚDE E DESENVOLVIMENTO HUMANO: 29
CONTRIBUIÇÕES PARA TEORIA E PRÁTICA

ambiente composto de elementos diversos (físicos biológicos e


sociais). Esta perspectiva diferiu das abordagens médica e holís-
tica principalmente em dois aspectos: primeiro, por conceber a
saúde como um tipo de conceito mais contextualizado, diferen-
ciando-se da doença por um gradiente mais quantitativo que
qualitativo e ao mesmo tempo assumir uma explicação multi-
causal para as doenças; e segundo, por colocar ênfase maior
nas interrelações entre o ambiente e a qualidade de vida do
indivíduo (Arouca, 2003).
Essas definições relativistas e ecológicas de saúde ten-
diam a se basear principalmente no nível de funcionamento e
adaptação da pessoa ao ambiente. Uma das críticas que é feita
a esta abordagem está relacionada à adaptação do sujeito, que
poderá ser saudável ou não, ou poderá variar de acordo com o
meio social (Boruchovitch & Mednick, 2002).
O conceito de saúde defendido por Balog (1978; 1981,
citado em Boruchovitch & Mednick, 2002) é baseado em dois
critérios-chave inseparáveis. O primeiro baseado em aspectos
biológicos e objetivos, pessoais e funcionais e o segundo, um
bom funcionamento do corpo e mente do indivíduo. Os objeti-
vos funcionais biológicos seriam mais gerais e comuns a todos
os organismos vivos (como preservação da espécie), enquan-
to os objetivos funcionais pessoais seriam singulares dos seres
humanos (como a manutenção da consciência de si mesmo).
Para Balog (1978) saúde é um estado de bom funcionamento
do corpo e mente que permite ao homem a habilidade de fazer
frente aos seus objetivos funcionais e objetivos culturalmente
desejados. Para Boruchovitch & Mednick (2002) este conceito
de saúde explicitado por Balog (1978) também apresenta li-
mitações, pois suas definições são amplas, vagas e subjetivas
apesar de multidimensionais. Ele incorpora ideias básicas do
conceito ecológico e da Organização Mundial de Saúde, assim
como outros autores o fizeram.
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Assim, apesar de preocupações crescentes entre os cien-


tistas e seus esforços em construir um conceito único e válido
universalmente, esta meta ainda está longe de ser alcançada. O
que se tem na verdade são pontos de consenso, como a acei-
tação da saúde como um construto multidimensional e que a
obtenção de um conceito universalmente válido não é possível.
Na discussão dos conceitos saúde-doença tem se somado
o de determinantes de saúde, a partir de comentários publica-
dos nas décadas de setenta e oitenta relacionados às preocu-
pações oriundas das limitações percebidas em certas interven-
ções sobre a saúde, quando orientadas pelo risco de doença
nos indivíduos.
Entende-se que a saúde do indivíduo está intimamente
relacionada à sociedade na qual está inserido, o que implica em
pesquisas e ações políticas que tragam em seu bojo uma maior
compreensão de aspectos socioeconômicos, culturais e am-
bientais com vias à melhoria de fato na saúde das populações
(Solar & Irwin, 2005).
Então, partindo desta compreensão, a atenção médica
não deveria ser colocada como o principal fator de auxílio à saú-
de das pessoas e as intervenções deveriam voltar-se aos fatores
que ajudam as pessoas a se manterem saudáveis, melhor do
que o auxílio quando se tornam doentes (ibidem).
O conceito de determinantes sociais da saúde (DSS) se
refere aos fatores de ordem econômica e social que afetam as
condições de saúde de uma população e estão relacionados
tanto a aspectos específicos do contexto social como também
para a forma como as condições sociais refletem esse impacto
sobre a saúde (Solar & Irwin, 2005; Lopes, 2006a).
Os determinantes sociais que merecem atenção são
aqueles que podem ser potencialmente alterados pela ação
baseada em informações sobre renda, educação, condições de
habitação, trabalho, transporte, saneamento, meio ambiente
SAÚDE E DESENVOLVIMENTO HUMANO: 31
CONTRIBUIÇÕES PARA TEORIA E PRÁTICA

das populações (ibidem).


O conceito de DSS implica em outro conceito que é o de
equidade, definida como ausência de diferenças injustas, evitá-
veis ou remediáveis na saúde de populações ou grupos defini-
dos com critérios sociais, econômicos, demográficos ou geográ-
ficos (Evans et al., 2001).
Iniquidades na saúde não traduzem apenas desigualda-
des, mas também o fracasso para evitar ou superar desigual-
dades que infringem normas de direitos humanos ou são in-
justas. Recebe desse modo uma categorização moral implícita
na realidade política e nas relações sociais de poder (Solar &
Irwin, 2005).
A preocupação com os DSS tornou-se crescente a partir
do ano 2000, catalisadas pela Organização Mundial da Saúde,
que passou a gerar ações com objetivo de promover a equi-
dade na saúde. No ano de 2003 estas concepções influencia-
ram a eleição de Lee Jong-Wook como Diretor Geral da OMS,
em cujo discurso, na 57ª Assembleia Geral, anunciou a inten-
ção de criar uma comissão global sobre os DSS e aumentar o
apoio da Organização aos Estados Membros na construção de
abordagens abrangentes dos problemas de saúde, incluindo
suas raízes sociais e ambientais. Esta agenda vem avançando no
mundo todo desde então, inclusive com a constituição de uma
Comissão Brasileira no ano de 2006 (Irwin & Scali, 2005).
Os exemplos de iniquidades na saúde brasileira são fa-
cilmente inferidos quando tomamos, como exemplo, o estudo
da ANEFAC (Associação Nacional de Executivos de Finanças,
Administração e Contabilidade) que destaca que o Brasil ainda
enfrenta graves dificuldades na distribuição de renda, pois de
acordo com o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é o
84º país no ranking mundial com pior distribuição de renda,
apesar de ser a 7ª economia do mundo (Garcia, 2012). Este
tipo de disparidade se reflete em indicadores de saúde popu-
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lacional como é o caso do índice de mortalidade infantil que,


no ano 2000, foi cinco vezes maior em grande parte da região
Norte/ Nordeste comparativamente às áreas ricas do Sudeste
(PNUD, 2005).
A avaliação de indicadores como os acima destacados
mobilizaram trinta especialistas de diferentes campos do co-
nhecimento reunidos pela Fiocruz em 2005 a reconhecerem
que as desigualdades sociais e econômicas, injustas e evitá-
veis — ou seja, as iniquidades — são nossa mais grave doença
(Lopes, 2006a).
Propor políticas eficientes baseadas em pesquisas finca-
das na realidade para combater essas desigualdades, e mobi-
lizar a sociedade nesse sentido, se tornou o principal objetivo
da Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde
(CNDSS), criada por decreto Presidencial em 13 de março de
2006 e lançada dois dias depois na sede da Representação
da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), em Brasília.
Nesta ocasião foram empossados seus 17 integrantes, evento
marcado por vários pronunciamentos que sintetizam aspectos
relevantes acerca dos DSS e alguns deles são destacados a se-
guir (Lopes, 2006a).
Um dos membros da CNDSS, Maria do Carmo Leal, vice-
-presidente da Fiocruz, ao falar sobre as consequências das
iniquidades sociais para a saúde, destacou que a violência e
as iniquidades andam juntas e completou “sociedades iníquas
são também as produtoras de maiores índices de violência,
que é uma das maiores chagas sociais do nosso país atualmen-
te”. Pondera, ainda, que este tipo de desigualdade provoca
sentimentos de inferioridade, de falta de pertinência social,
rupturas sociais e sofrimento psíquico. Exemplo disso são os
inquéritos populacionais de saúde no Brasil que mostram a
depressão como maior causa de morbidade referida por adul-
tos (Lopes, 2006b).
SAÚDE E DESENVOLVIMENTO HUMANO: 33
CONTRIBUIÇÕES PARA TEORIA E PRÁTICA

Pesquisa publicada pela OMS em 2003 revelou que o dis-


túrbio depressivo unipolar é a segunda maior causa de perda
de anos potenciais de vida e produtividade entre adultos em
todo o mundo, abaixo apenas do HIV/AIDS (ibidem).
Outro membro da Comissão, o epidemiologista brasileiro
Cesar Victora (2006), revelou existir muito conhecimento pro-
duzido acerca dos DSS no Brasil, o suficiente para começar a
agir, apesar de haver poucas pesquisas no que tange à qualida-
de da atenção nos serviços de saúde, e relacionadas ao acesso
a serviços secundários e terciários de saúde. Assim, como tam-
bém, de estudos que revelem como as iniquidades em saúde
estão variando no tempo, quais as suas tendências, e ainda de-
sagregar as estatísticas oficiais por posição socioeconômica e
cor além da necessidade de integrar métodos quantitativos e
qualitativos às pesquisas.
O Brasil mostra avanços em algumas áreas como no ní-
vel de instrução formal que, na última década, mostrou de-
créscimo de 30% na taxa de analfabetismo entre adolescentes.
Redução que foi mais intensa para as mulheres (32%) do que
para os homens (27%) e maior nas regiões mais desenvolvidas.
Considerando a idade de 10 a 14 anos, porém, o número de
crianças fora da escola ainda é de 6% em média para o país e
de 14% para as regiões Norte e Nordeste. Mais da metade da
população brasileira de 15 a 49 anos não completou o ensino
fundamental. Os efeitos do nível de instrução se manifestam,
por exemplo, na percepção dos problemas de saúde, na capaci-
dade de compreensão das informações sobre saúde, na adoção
de estilos de vida saudáveis e na adesão aos procedimentos te-
rapêuticos (Lopes, 2006c).
Na verdade, qualquer que seja o indicador ou método
usado, e mesmo numa região com menor desigualdade, como a
Sul, a desvantagem dos mais pobres em termos de saúde sem-
pre se evidencia. Pesquisa em uma coorte em Pelotas, acom-
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panhando todas as crianças nascidas em 1982 mostra que 25%


das meninas mais pobres tiveram um filho na adolescência,
contra 15% das mais ricas. Com os rapazes nascidos em 1993
foi feito um teste padronizado de saúde mental, que revelou
sintomas psiquiátricos menores em 20% dos mais pobres e 10%
dos mais ricos (Victora et al., 2006; Lopes, 2006c).
A epidemiologista Rita Barata, membro também da
CNDSS (citado em Lopes, 2006c), revela que além dos deter-
minantes sociais relativos às condições materiais de vida das
pessoas, como habitação, saneamento, transporte, etc., há os
decorrentes da esfera do relacionamento humano, como rela-
ções de gênero, etnia e geração, que também provocam desi-
gualdades e produzem doenças. Alerta que, para enfrentar esse
tipo de desigualdade, é necessário atuar dentro e fora do setor
da saúde, exigindo que as diferentes políticas públicas levem
esses aspectos em consideração.
Em modelo proposto pelas pesquisadoras Whitehead &
Dahlgren (1991) para classificar os DSS, observa-se uma grada-
ção dos determinantes mais gerais, relacionados às estruturas
socioeconômicas e culturais de uma sociedade, até os deter-
minantes individuais relacionados à biologia de um determi-
nado indivíduo (Whitehead et al., 2001). Ou seja, não há uma
delimitação clara entre os determinantes sociais e individuais.
Permite, contudo, identificar quatro níveis de atuação, que es-
tão inter-relacionados e para os quais se podem proporcionar
ações políticas e programas que busquem combater as iniqui-
dades atuando sobre os DSS (Pellegrini Filho, 2006).
A atuação em um primeiro nível – individual – , é indica-
da pelo fortalecimento ou empowerment dos indivíduos, isto
é, apoiar as pessoas em circunstâncias desfavoráveis ou forta-
lecer sua capacidade de decisão para enfrentar as influências
advindas de outros níveis de determinação. A utilização de es-
tratégias de informação e motivação visa a apoiar mudanças
SAÚDE E DESENVOLVIMENTO HUMANO: 35
CONTRIBUIÇÕES PARA TEORIA E PRÁTICA

de comportamento em relação aos fatores de risco pessoais ou


lidar melhor com as influências negativas advindas de suas con-
dições de vida e trabalho (Pellegrini Filho, 2006).
O segundo nível de atuação é constituído pelas Redes
Sociais e Comunitárias, corroboram estudos que demonstram
serem as iniquidades de renda mecanismos importantes de
impacto negativo na saúde populacional por gerarem o des-
gaste dos laços de coesão social, a debilidade das relações de
solidariedade e confiança entre pessoas e grupos, fontes essen-
ciais na promoção e proteção da saúde individual e coletiva.
Esse nível de atuação tem, portanto, como foco, a união das
comunidades em desvantagem para obter apoio mútuo e, des-
sa maneira, fortalecer suas defesas contra os danos na saúde
(Pellegrini Filho, 2006).
O terceiro nível relaciona-se à atuação nas políticas sobre
as condições físicas e psicossociais nas quais as pessoas vivem
e trabalham, buscando assegurar um melhor acesso à água lim-
pa, esgoto, habitação adequada, emprego seguro e realizador,
alimentos saudáveis e nutritivos, serviços essenciais de saúde,
serviços educacionais e de bem-estar dentre outros. Essas po-
líticas são normalmente responsabilidade de setores distintos,
que frequentemente operam de maneira independente. A
Comissão Nacional sobre DSS (CNDSS) tem como desafio esti-
mular a criação de mecanismos que permitam uma ação inte-
grada (Pellegrini Filho, 2006).
Finalmente, o quarto nível de atuação se refere a condi-
ções socioeconômicas, culturais e ambientais gerais que pos-
sam promover um desenvolvimento com melhor distribuição
de seus frutos, reduzindo as desigualdades e seus efeitos sobre
a sociedade. Nesse nível, estão incluídas políticas macroeconô-
micas e de mercado de trabalho, de fortalecimento dos valores
culturais e de proteção ambiental (Pellegrini Filho, 2006).
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Figura 1 - Níveis de atuação sobre os Determinantes Sociais de Saúde


Fonte: Adaptado do modelo de Whitehead e Dahlgren, 1991.

Assim, a missão da CNDSS é promover intervenções nes-


ses diversos níveis de atuação, tendo como eixo central a pro-
moção da equidade em saúde e articulando suas diversas linhas
de ação em torno desse objetivo comum. Para isso, tem como
estratégia lançar mão de elementos facilitadores, como a plura-
lidade e diversidade de seus membros, o que funcionaria como
catalisador necessário à mobilização de diversos setores da so-
ciedade (Buss & Pellegrini Filho, 2006).
Para Michael Marmot (2005) é preciso focar nos DSS por-
que eles são “as causas das causas” e enfatiza que as políticas
SAÚDE E DESENVOLVIMENTO HUMANO: 37
CONTRIBUIÇÕES PARA TEORIA E PRÁTICA

que prejudicam a saúde humana precisam ser identificadas e,


sempre que possíveis modificadas.
A redução das desigualdades sociais na saúde e a satisfação
de necessidades humanas básicas, com vias a resgatar a autoesti-
ma, sentimentos de pertencimento e coesão social, além de miti-
garem o sofrimento psíquico, é uma questão de justiça social.

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