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2Metodologias Qualitativas de Investigação em Recursos Humanos

Qual o papel dos métodos e técnicas de investigação na RH?

• Estudo das causas do absentismo


• Estudo da eficácia de uma ação de formação
• Estudo dos efeitos de uma mudança organizacional: e.g., implementação de um novo sistema de gestão de
informação
• Estudo do impacto de um sistema de avaliação de desempenho na satisfação e comportamento dos trabalhadores
• Possibilidade de testar resultados obtidos pela comunidade científica
• Central para a tomada de decisão e resolução de problemas
• Instrumental para obter informação sobre:
o Compreensão de problemas o Implementar Mudança
o Encontrar/Descobrir soluções o Avaliar o Sucesso

A investigação em RH consiste na “pesquisa sistemática das questões de RH para aumentar o conhecimento e


sustentar uma ação eficaz” (Anderson, 2009, p.6)

Evidence-Based HR Practice Test

Verdadeiro ou falso?

Todos são falsos, com base em estudos académicos:

1- Julgamentos da gestão conduzem a decisões mais pobres do que os testes validados sozinhos ( Highhouse,
2008)
2- As pessoas incompetentes têm dificuldade em compreender o feedback e em tirar partido dele ( Ehrlinger et
al, 2008)
3- Ambos os tipos de conflito reduzem a performance (DeDreu & Weingart, 2003)
4- As pessoas mais inteligentes tendem a ter performances superiores em diferentes tipos de trabalhos (Stevens,
2009)
5- Apesar das pessoas distorcerem as respostas, os testes continuam a ser um bom preditor ( Barrick & Mount,
2009)

O que é a prática de RH baseada em evidências?

1. Usar as melhores fontes de evidências (peer reviewed )científicas disponíveis


2. Recolher sistematicamente factos, indicadores e métricas organizacionais para melhor agir nas evidências
3. Julgamento “clínico” assistido por procedimentos, práticas e quadros conceptuais que reduzam o viés,
melhorem a qualidade da decisão e criem aprendizagens mais válidas ao longo do tempo
4. Considerações éticas pesando os impactos no curto vs longo prazo das decisões nos stakeholders e na
sociedade

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Investigação e Conhecimento

Características do senso comum

• Assente em crenças, ideologias, valores


• Influência da experiência pessoal ou de
outros
• Conhecimento transmitido por outros:
figuras de autoridade, líderes, media
• Assumir o que parece ser “razoável”,
conhecimento “senso comum”
• Base empírica

Características do conhecimento científico

• Utilização de um processo sistemático de procura de validação/teste de teorias e conceitos


• Colocar Problemas – Perguntas que se procura responder
• Colocar Hipóteses
• Objetivos: Descrever; Explicar; Prever; Controlar
• Procedimentos tornados públicos
• Definições precisas
• Recolha de informação com objetividade
• Resultados replicáveis
• Abordagem sistemática e cumulativa
• Os dados são recolhidos e interpretados de modo sistemático
• Existe um objetivo claro: descobrir/testar etc.

Processo cíclico do método científico

• Nasce da formulação de um problema


• Desenvolve-se na pesquisa teórica até à formulação de hipóteses
• Continua na operacionalização de conceitos e na decisão sobre os instrumentos
• É mais visível no trabalho de campo/recolha de observações
• Estas são sistematizadas na descrição dos resultados
• Estes permitem validar ou não as hipóteses e responder ao problema de investigação
• Deixa dúvidas que podem gerar novos problemas de investigação

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Tratamento da informação Opções e características

Técnicas de recolha de dados

Consulta documental
Análise de documentos: Recolha, revisão, interrogação e análise de várias formas de texto como fontes de dados
(0’Leary, Z., 2004).

Tipos de Documentos:

• Fontes específicas que produzem documentação oficial - Autoridades


• Documentos de natureza política
• Comunicações pessoais
• Multi - media
• Documentos históricos
• Documentos institucionais/organizacionais

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A Entrevista

Fatores a ponderar:

• Acesso aos entrevistados;


• Competências do entrevistador;
• Recursos (tempo, disponibilidade dos participantes, entrevistador, análise e interpretação dos dados);
• Como vão ser tratados os dados e que recursos envolve (transcrições, análise de conteúdo...);
• Questões deontológicas (confidencialidade, o estatuto do entrevistador).

Tipos de entrevista:

1. Número de protagonistas - individual/grupo


2. Tipo de estrutura - estruturada/ semiestruturada /aberta
3. Tipo de material - episódica, narrativa,…

Predominância das entrevistas semiestruturadas:

1) Entrevista focalizada (Merton & Kendall, 1946)


2) Entrevista semi padronizada (Scheele & Groeben, 1990)
3) Entrevista centrada no problema (Witzel , 1982; 1985)
4) Entrevista de especialistas (Meuser & Nagel, 1991)
5) Entrevista etnográfica (Spradley, 1980)
6) Entrevista narrativa (Schütze , 1977;1983)
7) Entrevista de episódio (Flick, 2000)
8) Entrevista de grupo (Merton et al, 1956)

Tipos e características das entrevistas

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Entrevistas estruturadas

O entrevistador determina a forma e direção das perguntas;

Na sua forma extrema, consiste em ler uma lista de perguntas e construídas e anotar as respostas.

Vantagens:
• Mais difícil ao entrevistado fugir do tópico;
• Exige menos concentração do entrevistador;
• Técnica rápida e simples de obter dados;
• mais económica.

Desvantagens:
• Formato inflexível; entrevistador não pode introduzir novos assuntos;
• Favorece respostas estereotípicas

Entrevistas não-estruturadas ou em profundidade

• Não existe uma lista preparada de questões, o entrevistador decide, a cada momento, o que perguntar.
• O entrevistador pode ajustar-se à informação dada pelo participante.
• Início: o entrevistador explica ao participante que assuntos ou tópicos vão ser explorados; colocação de uma
questão inicial.
• Quando o fluxo de ideias em resposta a essa questão termina o entrevistador pode colocar mais questões de
modo a clarificar alguns pontos ou introduzir um novo tema.

Vantagens:
• O entrevistador não tem de seguir uma estrutura rígida e o entrevistado também determina o curso da
entrevista;
• Material rico;
• Podem surgir novas ideias e hipóteses não previstas.

Desvantagens:
• Morosidade/custos;
• Dificuldades na condução e na análise.

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Eficácia das entrevistas

Muitas entrevistas são ineficazes porque são demasiado informais ou mal preparadas.

A entrevista exige competências de comunicação e outras: preparação prévia; aplicação de competências


interpessoais apropriadas.

Uma entrevista eficaz exige ainda:


• Identificar a informação que pretendemos recolher
• Identificar o tipo de relação que queremos manter com o entrevistado

Melhorar a qualidade da entrevista


• Formação/treino
• Recolha de dados e informações relevantes antes da entrevista
• Definição de um método de entrevistas previamente planeado e estruturado
• Pré teste do guião
• Reavaliação do que foi feito ao fim de 3 entrevistas

Preparação da Entrevista

1. Aspetos gerais antes da entrevista…


• Definir o objetivo da entrevista
• Recolher informação
• Elaborar o plano geral da entrevista
• Investir tempo e esforço no desenvolvimento de questões apropriadas (chave do sucesso da entrevista)

2. O contrato de entrevista
• A motivação do participante determina o quanto irá colaborar na entrevista (falar, pensar, recordar,
• etc., requerem esforço e podem ser atividades cansativas)
• Esta motivação pode ser afetada negativamente quando o entrevistado está inseguro relativamente aos objetivos
do trabalho ou ao uso que vai ser feito da informação.

2.1. Como motivar


• Agradecer desde o início a colaboração da pessoa e mostrar o quanto é importante a informação que vai dar
• Explicar o que vai acontecer à informação e garantir a confidencialidade
• Explicar os objetivos e origem do projeto de pesquisa com linguagem que o entrevistado compreenda
• Explicar razões para a pessoa específica ter sido convidada para dar o seu testemunho

2.2. Confidencialidade
• Frequentemente os participantes têm de revelar mais do que o habitualmente desejável
• Em todos os apontamentos a fonte deve ser impossível de ser identificada
• Deverá mostrar respeito pela vida privada da pessoa

2.3. Direito de desistir


• O direito a desistir da entrevista a qualquer momento um direito que assiste ao entrevistado e deve ser lhe
mencionado.

3. Formato do Guião
a) Preparação: apresentar a lógica e as razões para a entrevista
b) Questão introdutória sobre o entrevistado
c) Questão/questões genéricas sobre o tema
d) Questões centrais do tema
e) Questões aprofundadas do tema
f) Questões de encerramento: menos profundas e abrindo para outros campos e ou pessoas; ver se
entrevistado tem algo a acrescentar; sumário
g) Encerramento: ver se há algo a perguntar, agradecimento, etc.
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Exemplo

Condução da Entrevista

Relacionamento interpessoal:
• Pontualidade
• Dirija se ao interlocutor
• Olhar nos olhos sem ser intrusivo
• Iniciar a conversa
• Agradecer antecipadamente a disponibilidade e a colaboração
• Introduzir o âmbito da entrevista (enquadramento/objetivos tópicos que irão ser discutidos) e quanto tempo
esta irá demorar
• Explicar que irá tomar notas e pedir autorização para gravar
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• Falar devagar e de forma clara e não interromper
• Demonstrar empatia e interesse pelo entrevistado, dando-lhe toda a atenção
• Permitir o silêncio (dar tempo ao entrevistado para pensar)
• Dar sinais de que está a ouvir e compreender
• Permanecer neutro, quer concorde quer discorde das opiniões expressas pelo entrevistado

Técnicas na condução de entrevista

1. Sumário e aprofundamento de questões


Sumário = afirmação que contém informações pré fornecidas pela pessoa e que requer a sua confirmação, correção
ou acréscimo de dados

• Útil para aumentar a clarificação e precisão das resposta e assegurar a compreensão integral das mesmas
• Pode ser usado ao longo da entrevista e não apenas na conclusão da mesma

2. Finalização da entrevista
• Comunicar o final da entrevista ao entrevistado
• Agradecer ao entrevistado o tempo despendido
• Disponibilizarem se para responder a eventuais questões

3. Pós-entrevista
• Finalizar as anotações recolhidas durante a entrevista
• Rever as notas, e os comentários acerca das respostas

Questões que dificultam a entrevista Questões que facilitam a entrevista


Perguntas fechadas (tipo sim/não): pode utilizar-se para Perguntas abertas: permitem obter respostas desenvolvidas
clarificar/confirmar um pormenor e aceder a informação que não tínhamos planeado recolher
Perguntas de resposta induzida: conduzem a respostas de (do tipo como e porquê)
desejabilidade social Questões de carácter geral: devem ser utilizadas para
Questões múltiplas / Muitas perguntas de uma só vez / introduzir temas
Perguntas muito longas com várias considerações pelo meio: Questões de aprofundamento: permitem explorar
demonstram nervosismo e fraca preparação do determinadas respostas
entrevistador Perguntas não verbais: o silêncio permite aprofundar os
Questões hipotéticas e inexequíveis: a possibilidade de pontos de vista do candidato; dar sinais não verbais como se
retratarem a realidade é tão remota, ou a sua resolução não esperasse ouvir qualquer coisa
é possível em circunstâncias normais, e encorajam o
entrevistado a mentir

FOCUS GROUP
Número de participantes: entre 6 e 9

Características dos participantes: homogeneidade versus heterogeneidade

Dados qualitativos: diversidade versus consenso

Incide sobre um determinado tópico: evolução do grau de especificidade

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Papel do Moderador:

• Estimular os participantes mais passivos


• Com a evolução da entrevista assumir papel mais passive
• Evitar perguntas demasiado diretas
• Neutralidade
• Evitar monopolização por parte de algum participante
• Estar com atenção a comentários inconsistentes
• Estar atento a críticas vagas
• Resumir os principais aspetos

Exemplos:

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Observação
• Informação sobre aspetos específicos, no momento e local que ocorrem
• Informação inesperada que de outra forma poderia não ser recolhida
• Resulta numa “foto” do que acontece

Exemplos:

• Interação entre pessoas e grupos


• Trabalho e desempenho de tarefas e
atividades
• Utilização de maquinaria, e outras tecnologia,
• Orientação espacial

Fatores a ponderar:

• Adequa-se aos diferentes tipos de investigação (pré e pós intervenção; experimental; quase experimental;
comparação entre grupos...);
• Competências do observador (adequada à situação em observação);
• Está dependente dos imponderáveis do “terreno”;
• Observadores experientes conseguem informação válida, ultrapassando a subjetividade o estatuto do
observador;
• A informação resultante, realista e compreensível, pode ser uma excelente ferramenta de comunicação (Ex:
uso de
• registos áudio e vídeo).

O efeito do observador: é possível não interferir?

(os problemas éticos na observação encoberta e o risco de cumplicidade em situações puníveis)

Tipos de observação Tipos de recolha de dados Instrumentos


• Participante • Por amostragem (ex. observação de um grupo • Checklists
• Não participante durante uma semana de trabalho) • Vídeos/fotos
• Por evento (ex. observação de um grupo • Registos anedóticos
• Direta durante uma reunião de decisão) • GPS; eye tracking; sensores de
• Indireta • Temporal (ex. observação de um grupo movimento…
durante 15 min durante a troca de turno)

Fases:

• Escolha do enquadramento (onde e quando podem ser observados os


• Definição do que deve ficar registado na observação
• Treino do observador para padronizar os processos
o Observações descritivas/livres para uma visão geral inicial
o Observações dirigidas que se vão concentrando nos aspetos relevantes para a investigação
o Observações seletivas que visam intencionalmente captar aspetos nucleares
• Fecho da observação, após ter sido atingida a saturação teórica (quando novas observações não acrescentam
mais conhecimento)

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Análise de dados Qualitativos

Exemplos

• Grounded theory (e.g. Glaser, 1984 1994; Strauss, 1998)


• Análise de discurso (e.g. Foucault, 1977)
• Análise de narrativa (e.g. Reissman , 2008)
• Análise de conteúdo clássica/tradicional

Características comuns (Miles & Huberman, 2014)

• Conduzida através de um contacto intenso prolongado com os participantes (e os dados!)


• Papel do investigador = obter uma visão holística
• Relativamente pouco uso de instrumentos estandardizados
• A maioria da análise é feita com palavras
• O investigador pode construir certos temas ou padrões que podem ser revistos com os participantes
• O material pode ter múltiplas interpretações

Componentes da análise (Miles & Huberman, 1984, 1994, 2014)

Exibição dos dados

• Para extrair conclusões da grande quantidade de dados, uma boa forma de os exibir, seja em tabelas, gráficos,
redes e outros formatos gráficos é essencial : um conjunto de informação organizada e “ comprimida ”, permite
extrair conclusões
• É um processo contínuo e não apenas algo para ser feito no final da recolha de dados
• Deve contribuir para: sumariar ; ver temas padrões grupos ; descobrir relações ; desenvolver explicações

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Tirar e verificar conclusões

• A análise deve permitir começar a desenvolver conclusões sobre o estudo : identificar padrões, explicações,
lógicas causais, proposições
• Inicialmente com abertura e ceticismo, e cada vez mais de forma explícita e fundamentada
• Estas conclusões iniciais podem depois ser verificadas, ou seja, a sua validade é examinada em conjunto com
as notas ou novos dados: voltar aos dados, revisão por pares, replicação noutro conjunto de dados

Análise de padrões, temática e de conteúdo

“Qualquer esforço para qualitativamente reduzir os dados e fazer sentido que parte de um conjunto de material
qualitativo e tenta identificar consistências e significados ” (Patton, 2002)

Definições e características da AC

• Processo híbrido: formalismo estatístico (descrição


numérica de alguma(s) característica(s) dos dados) +
análise qualitativa “tipos”, “qualidades”, “distinções”)
(Bauer, 2000)
• Reconhece a importância a linguagem
• Flexibilidade analítica (e.g. conteúdo manifesto/
conteúdo latente
• Metodologia replicável e aplicada a um grande número
de fenómenos
• Quando feita corretamente: metodologia segura, porque os esquemas de códigos podem ser corrigidos;
permite verificar a fidelidade e validade; pode ser usado em conjunto com outros métodos para triangulação

“Uma técnica de investigação que permite fazer inferências válidas e replicáveis dos dados para o seu contexto.”
(Krippendorf, 1980, p.21)

Características:
• É uma técnica indireta
• Aceita material não estruturado
• É sensível a variações simbólicas
• Permite tratar volumes enormes de dados

Aplica-se a dados…
• dados recolhidos através de perguntas abertas
• dados recolhidos através de entrevistas
• meios de comunicação social
• documentos pessoais (diários, cartas, blogs, etc.)
• documentos organizacionais (atas, minutas, comunicados, boletins internos, sites, etc.)
• discursos; livros (manuais escolares, etc.); curricula de cursos; fotografias; vídeos; etc.

Passos da Análise de Conteúdo

1. Definir o problema e contexto teórico


2. Definir o corpus e regras de seleção do material
3. Recolher dados
4. Análise operacional
5. Análise de conteúdo
6. Verificar a fiabilidade
7. Interpretar os resultados incluindo questões de validade

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Definir o problema e o contexto teórico

Racional teórico: qual o conteúdo a ser analisado e porquê ? Existem teorias ou perspetivas que podem guiar a análise?
Existe alguma pergunta de investigação ou hipótese?

Conceptualizar decisões: Que variáveis ou conceitos serão usados e como podem ser conceptualmente definidos.

“A teoria e o problema (…) vão ser responsáveis pela seleção e categorização dos materiais , tanto implícita como
explicitamente ” (Bauer, 2000, p.195)

Definir objetivos

• Mostrar a frequência com que uma certa categoria ocorre – análise de frequências (Ex: razões para abandonar
animais de estimação)
• Caracterizar a forma como um certo objeto conceito é descrito - análise avaliativa (Ex: o que significa a família)
• Caracterizar a estrutura associativa do assunto (coocorrências ) – análise estrutural (Ex: Falar de estudantes
de teologia – falar de pouca vida social)

Definir o corpus e regras de seleção do material

Critérios de definição da amostra e tamanho da amostra

- Deve ser capaz de responder às perguntas de investigação

Tipos de dados
• Perguntas abertas em questionários
• Entrevistas e focus groups
• Media (artigos , programas de TV, Facebook…)
• Documentos pessoais (diários, cartas…)
• Documentos oficiais minutas , relatórios ,
• Discursos
• Livros
• Imagens
• …

Definir as unidades de análise

Unidades de registo: segmentos de conteúdo que são classificados em categorias (Krippendorf ,1980)

• Unidades físicas (livros, filmes, etc.)


• Unidades sintáticas (blocos naturais: frases, capítulos, palavras)
• Unidades proposicionais (o núcleo lógico das frases)
• Unidades temáticas ou semânticas (implicam o julgamento crítico, devem ter bases teóricas)

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Unidades de contexto: pedaços de texto maiores que incluem a unidade de registo e permitem definer o seu
significado. A sua dimensão depende da dimensão da unidade de registo.

Unidade de enumeração: utilizada para quantificar a ocorrência (ex. Frequência de palavras, duração temporal,
centímetros de uma coluna de jornal, etc.)

Codificar: definir e testar categorias

• Códigos são tags ou rótulos para atribuir sentido à informação compilada num estudo.
• Estão geralmente associados a “pedaços” de tamanho variado palavras, frases, parágrafos …) (Miles &
Huberman, 1994, p.56)
• São geralmente uma palavra ou frase curta que simbolicamente atribui um atributo sumativo , saliente e/ ou
evocativo , que capta a essência de uma parte de dados linguísticos ou visuais (Saldaña, 2009, p. 3)

Codificar (Saldaña, 2009, p. 3)


• Organizar as coisas numa ordem sistemática , fazer com que algo seja parte de um sistema ou classificação ,
categorizar
• Os códigos são aplicados e repetidos
• Método que permite organizar e agrupar dados codificados de forma semelhante em categorias

Cada unidade de registo deve ser codificada (= uma categoria atribuída)


• Homogéneas: os dados que pertencem à mesma categoria têm uma ligação significativa
• Compreensivas
• Adequadas, pertinentes, válidas: devem refletir de forma precisa o que se está a investigar
• Objetivas
• Exclusivas
• Exaustivas: todos os dados relevantes
devem ser categorizados
• Independentes

Abordagens à codificação
• Abordagem fechada: códigos categorias
pré definidos
• Abordagem aberta: códigos categorias
desenvolvidos a posteriori, dos dados
• Abordagem mista

Construção de um dicionário / protocolo de categorias

Testar Categorias:

• Concordância intra analista


• Concordância inter analista
• Treino de analistas

Análise e interpretação

• Papel e caneta ou com software específico (Atlas.ti; NVIVO; MaxQDA)


• Processo iterativo → Saturação
o Os mesmos padrões de forma repetitiva; já não acrescenta nada continuar a recolher dados.
• Interpretação: dependente dos objetivos.

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Apresentação de resultados e publicação de estudos qualitativos

Regras gerais

1- Introdução e Revisão de literatura:


a. Objetivo do estudo e a sua relevância
b. Fundamentar opção pela estratégia qualitativa
2- Metodologia
a. Descrição detalhada dos participantes, instrumento e procedimento
b. Referir explicitamente a forma como a qualidade da recolha e análise dos dados foi garantida
(relacionada com os critérios)
3- Resultados
a. Dar exemplos de citações diretas
4- Conclusões
a. Situar interpretações no contexto estudado

O método deve responder a:

• As técnicas de recolha de dados estão adequadas ao estudo? Foram suficientemente especificas? Utilizaram
várias fontes de dados?
• Foram recolhidos dados suficientes a partir de vários participantes durante um período adequado?
• O contexto do estudo +e descrito de modo adequado?
• São apresentados os critérios para a seleção dos participantes ou informadores?
• As técnicas de análise de dados são descritas de modo claro?
• Foi utilizada uma triangulação das várias fontes de dados?
• Foram utilizadas “auditorias”, os resultados foram analisados com os participantes…

E foram utilizadas medidas para garantir a qualidade do estudo? (e.g., credibilidade; transferibilidade; confiança;
confirmabilidade ou confiança; relevância)

Nos Resultados e Conclusões devemos questionar se:

• As tabelas utilizadas para a apresentação dos dados são legíveis e estão completas? Estas tabelas contribuem
para uma melhor compreensão do estudo?
• São descritos os dados necessários? Caso não sejam, o que falta?
• São descritos dados desnecessários? Caso sejam, quais devem ser retirados?
• São utilizadas as ilustrações apropriadas/necessárias?
• É dada uma descrição dos dados adequada, considerando o contexto do estudo e as observações realizadas,
que sustentem as interpretações?
• São utilizadas citações (quotes) retiradas das fontes utilizadas para exemplificarem as interpretações
realizadas? Essas citações encontram-se referidas adequadamente? Estes dados são interpretados e
discutidos?
• São interpretados ou analisados casos discrepantes?
• A análise dos dados está apropriada à questão, à metodologia e ao enquadramento teórico?

Critérios de qualidade – tradição quantitativa

• Fidelidade (até que ponto um indicador empírico representa um construto teórico)


• Validade (quando é que o instrumento capta o que deveria medir)
• Representatividade (amostragem – aleatória, estratificada, etc.)

E qualitativamente?
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Confiabilidade (C)

• Triangulação e reflexividade
o Procurar inconsistências, mais do que uma perspetiva ou método
o Considerar o autoconhecimento do investigador
• Transparência e clareza nos procedimentos
o Boa documentação: reconstruir o que foi feito para teste, replicação ou histórico: memos
o Função semelhante à validade interna e externa (ex. dicionário de categorias em anexo, guião, etc.)
o Utilização de software
• Construção do corpus
o Funcionalmente equivalente à amostra representativa; obj. de maximização de variedade de
representações desconhecidas
o Evidência de saturação
• Descrição detalhada
o Registos literais das fontes, sem cherry picking
o Indicação das fontes

Relevância (R)

• Construção do corpus
• Descrição detalhada
• Surpresa pessoal
o Para evitar a falácia da evidência seletiva na interpretação
o Documentar expectativas confirmadas ou não confirmadas (apenas confirmadas levanta dúvidas)
• Validação comunicativa
o Confrontação com as fontes e obtenção de concordância e consentimento
o Discussão sobre divergências
o Atenção à censura social

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Critérios de qualidade na investigação qualitativa (Lincoln & Guba, 1985)

A credibilidade de um estudo qualitativo reflete até que ponto o fenómeno de interesse é descrito e identificado com
precisão e de forma completa, mas do ponto de vista do participante.

Formas de aumentar a credibilidade do estudo:


• Aumentar a duração da observação para compreender a cultura do grupo
• Diferenciar os períodos de observação
• Usar diversos tipos de materiais e de procedimentos de recolha
• Expor regularmente à consideração de um colega o trabalho que está a ser executado
• Apreciação dos resultados pelos membros do grupo

A transferabilidade de um estudo refere-se à possibilidade de generalizar os resultados ou até que ponto as hipóteses
de trabalho se adequam (fit) a um contexto diferente (situação ou grupo) daquele de onde derivam.

Formas de aumentar a transferabilidade do estudo:


• Definir exaustivamente as características da situação e do grupo, de modo que outros possam analisar o grau
de comparabilidade com a sua situação.

A fiabilidade num estudo qualitativo refere-se à relação entre as conclusões e os dados recolhidos, ou seja, à fiabilidade
das conclusões, à sua estabilidade e à avaliação dos dados que deram origem às conclusões.

Formas de aumentar a fiabilidade do estudo:


• Auditoria académica (1ª parte): outro investigador analisa os processos utilizados para a recolha dos dados
(são claros, sistemáticos, bem documentados?) e para a elaboração de conclusões (há precauções tomadas
contra enviesamentos da análise?)

A confirmabilidade refere-se à objetividade de um estudo, até que ponto os resultados podem ser confirmados ou
corroborados por outros investigadores, ou seja, se existe neutralidade do investigador.

Formas de aumentar a confirmabilidade do estudo:


• Auditoria académica (2ª parte): outro investigador revê a análise dos dados: o acesso aos dados originais
(gravações, notas no terreno); aos dados processados; aos apontamentos tirados durante o trabalho de campo
e de análise; aos materiais de desenvolvimento do instrumento de classificação e às suas versões originais

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