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Key-words: Union’s Common Agricultural Policy (CAP) reform, European agricultural, rural development,
territorial development
RESR, Piracicaba-SP, Vol. 52, Nº 04, p. 687-704, Out/Dez 2014 – Impressa em Janeiro de 2015
Eduardo Moyano-Estrada e Antonio César Ortega 689
A atual reforma da PAC, ainda que pareça orçamento cada vez mais reduzido, é impossí-
um projeto de continuidade, na realidade, não o vel que a PAC possa atender a todas as deman-
é. Essa aparência ocorre em virtude da manuten- das do setor agrário e do meio rural europeu.
ção dos dois pilares sobre os quais ela se sustenta Não obstante, mesmo que dispusesse de um
desde 2005: o Pagamento Direto às Explorações orçamento suficiente, seria materialmente com-
(Primeiro Pilar) e a Política de Desenvolvimento plexo que uma política comum conseguisse reco-
Rural (Segundo Pilar). Na verdade, estamos lher a enorme variedade de situações que existem
diante de uma reforma que representa um trân- em uma agricultura e um meio rural tão diverso
sito do protagonismo de uma política de tipo seto- e complexo, como é o da UE-28. Para o próximo
rial (dirigida à gestão da dimensão produtiva do período orçamentário, portanto, teremos uma
setor agrário com as ajudas diretas aos agricultores PAC reformada, que emergiu de um processo
e ações de gestão de mercados) a uma outra, ter- de negociação que envolveu amplos segmentos
ritorial6 (orientada à gestão de territórios rurais), sociais e políticos9.
que busca viabilizar os processos de desenvolvi- Nesses termos, o objetivo deste artigo, além
mento agrário e rural e remunerar os agriculto- de avaliar a importância para Europa em ter uma
res pela produção de bens públicos7. Nesse sentido, PAC, ainda que receba críticas por parte das orga-
podemos até mesmo corroborar a opinião dos que nizações profissionais agrárias10, especialmente as
discordam em se continuar chamando de política que representam a agricultura familiar, mas que
agrária uma política que parece deixar de preocu- atende, em parte, às demandas de outros seg-
par-se fundamentalmente com a produção agro- mentos sociais, e mesmo da pressão internacio-
pecuária para priorizar os aspectos territoriais, nal, pretende-se analisar os elementos da reforma
ambientais e de transferência de renda. numa perspectiva que vai além dos aspectos pon-
Essa nova realidade exige do setor agrário tuais, ou seja, traçar as linhas por onde se produz o
uma mudança de estratégia. Em nível europeu, trânsito de uma política menos orientada ao setor
para ter maior capacidade de influência no cená- e mais orientada ao território. E que, sendo assim,
rio dessa nova política territorial, que deve ir con- ainda que não seja uma guinada radical, pode ver
solidando-se cedo ou tarde, em nível nacional/ reduzida as críticas que vinha recebendo em fun-
regional, para reivindicar dos governos que com- ção de uma nova orientação que tende a se con-
plementem a política europeia com políticas pró- solidar daqui por diante. Nesse sentido, há que se
prias para aquelas áreas ou setores agrários que ressaltar, inclusive, que os traços mais significati-
não estejam bem atendidos pela nova PAC. vos da PAC passam a estar de acordo com a nova
Para isso, é necessário compreender que a programação estratégia da UE, que visa integrar
PAC se converteu em um instrumento limitado os objetivos de desenvolvimento rural aos da
econômica e tecnicamente e que não pode reco- política de coesão europeia11. Para alcançar nos-
lher toda a diversidade de problemas e situações
9. Os argumentos que serviram de base de defesa da
que apresenta a agricultura europeia8. Com um Comissão Europeia sobre a reforma da PAC podem ser
encontrados em Comisión Europea (2010).
6. Sobre a tese de que a Reforma da PAC representa o trân- 10. Sobre essas críticas pode-se consultar Moyano-Estrada
sito de uma perspectiva setorial à territorial, consultar (2014).
Moyano – Estrada (2013).
11. A política de coesão da UE tem como objetivo mais geral
7. A produção de bens públicos são ações que melhoram o reduzir as desigualdades existentes dentro de um espaço
bem-estar da sociedade, como o uso mais racional da água regional determinado (por exemplo, Andalucía, Aragón,
para irrigação, a melhoria no manejo do solo, a redução de Toscana, Algarbe, Rhône-Alpes, Valonia ou Limoussin). A
riscos de incêndios florestais, a revitalização do patrimô- quantidade de recursos previstos para essa política, para
nio cultural e ambiental e a produção de alimentos. o período 2014-2020, é de 376 bilhões de euros – muito
8. O orçamento da UE representa, aproximadamente, 1% do próximo dos recursos destinados à PAC –, dos quais
Produto Interno Bruto – PIB total europeu, e que, por sua 68,7 bilhões de euros devem ser alocados para o Fundo
vez, o orçamento da PAC é de, aproximadamente, 40% do de Coesão e o resto para os fundos estruturais (–Fundo
orçamento da UE, o que significa 0,4% do PIB europeu. Europeu de Desenvolvimento Regional – Feder e Fundo
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690 A Reforma da PAC para o Período 2014-2020: uma aposta no desenvolvimento territorial
sos objetivos, realizamos uma revisão bibliográ- que tenhamos clareza sobre a importância dessa
fica documental da UE, observando os trabalhos política na consolidação da própria UE, já que a
de especialistas do tema para apreendermos as agricultura se constituía, nos primórdios de sua
principais inovações introduzidas pela Reforma construção, no único setor em que os interes-
da PAC para o período 2014-2020. ses gerais entre os países-membros eram rela-
tivamente semelhantes, apesar das diferenças
entre os diversos subsetores productivos. Assim,
2. A reforma da PAC: vale recordar o processo de constituição e con-
do setorial ao territorial solidação da UE, com a incorporação paulatina
de novos membros. Na seção seguinte, apre-
Desde que o projeto de reforma da PAC sentamos a política de desenvolvimento rural
começou a circular para debate, em 2009, muitas assentada na iniciativa europeia “Ligações entre
foram as críticas a ele dirigidas. Algumas delas Ações de Desenvolvimento da Economia Rural”
justificadas, mas muitas precipitadas, feitas a par- (Leader) promovida pela UE no inicio da década
tir de uma leitura parcial, particularmente sobre de 1990. Essa iniciativa, que valorizava o espaço
questões como ajudas diretas12, o chamado gre- rural e não somente os setores agropecuários, aca-
ening13, a figura do agricultor ativo14, o capping15, bou por viabilizar a consolidação de um segundo
o desenvolvimento rural, dentre outras. Muitas pilar da PAC em 2005, voltado para o desenvol-
das críticas partiram de uma leitura econômica vimento rural. O segundo pilar compensava de
do orçamento, comparando-o com os anteriores alguma maneira o predominio do primeiro pilar
e indicando sua redução. Apesar de legítimas, e da PAC, que continuou recebendo a maoria dos
muitas das quais bem fundamentadas, acredita- recursos orçamentários16.
mos que seja preciso que haja uma análise mais
profunda do que realmente significa o projeto
aprovado para os próximos sete anos (2014-2020). 3. A constituição da Comunidade
Antes, porém, de realizarmos nossa análise Econômica Europeia
sobre as mudanças na reforma da PAC, é preciso
Quando, em 23 de março de 1957, Alemanha,
Social Europeu – FSE). Àquele volume devem-se acrescen- França, Itália, Bélgica, Luxemburgo e Holanda
tar, ainda, 40 bilhões de euros para o programa “Conecta
Europa”, dirigido aos âmbitos do transporte, energia assinaram o Tratado de Roma para a constituição
e às tecnologias de informação e das comunicações. da Comunidade Econômica Europeia (CEE), em
(MOYANO-ESTRADA, 2013)
vigor a partir de 1º de janeiro de 1958, foi cons-
12. Sobre o tema das ajudas diretas, maiores detalhes podem
ser obtidos consultando-se o documento da Comisión
tituída uma área de livre câmbio, que eliminou
Europea (2012) e Tangermann (2012). as barreiras aduaneiras internas entre os países
13. Medidas de sustentabilidade ambiental introduzidas na signatários e estabeleceu uma política aduaneira
Reforma da PAC, com sanções para o não cumprimento.
Sobre o tema pode-se consultar Garzia-Azcárate (2013),
exterior comum. A Comunidade a Seis man-
Hart e Baldock (2011) e Matthews (2012). teve essa configuração até janeiro 1972, quando
14. Trata-se dos agricultores que praticam atividades emi- Dinamarca, Irlanda e Reino Unido ingressaram
nentemente agrícolas ou que têm nelas sua principal ati-
na CEE. As adesões posteriores foram da Grécia,
vidade. Na atual reforma da PAC, foram incluídas ativi-
dades visando restringir as brechas jurídicas que vinham em 1979, Portugal e Espanha, em 1985. Na década
propiciando captação de ajuda direta a empresas que não seguinte, em 1995, temos a adesão de mais três
prosseguem com atividades verdadeiramente agrícolas (o
que abrange aeroportos, serviços de transporte ferroviá- países: Áustria, Finlândia e Suécia. E, na última
rio, obras hidráulicas, serviços imobiliários e recintos per- década, a adesão dos países do leste: em 2004
manentes para práticas desportivas).
15. Estabelecimento de um teto para os recursos, limitando o 16. Sobre as novas perspectivas introduzidas pela reforma
apoio ao rendimento base para as explorações maiores e da PAC de 1992 consultar Mormont (1994), Ceña (1993),
mais competitivas. Arnalte (1993) e Batista (1993).
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Todos esses fatores, somados à atual crise rais, ordenamento territorial etc.) ou mesmo para
econômica que vive o continente europeu, expli- explorar vias próprias e autônomas de desenvol-
cam o processo de reforma que as autoridades da vimento. Essas estratégias de desenvolvimento
UE levaram a cabo, em 2013, nos mecanismos da endógeno se difundiram, naqueles anos, além da
PAC, para tentar adaptá-la a uma situação em que União Europeia, por vários países.
se alcançou a autossuficiência alimentar dos esta- Naqueles anos em que se disseminaram os ide-
dos-membros para os principais produtos agrá- ais do Consenso de Washington20, o intervencio-
rios e dar minimamente uma resposta às pressões nismo estatal passava a ser “satanizado” e teve lugar
internacionais contra a manutenção de uma polí- a desregulamentação da economia, privatizações,
tica de elevados subsídios e de uma sociedade maior abertura comercial, política fiscal e monetá-
europeia cujas demandas pelo meio rural vão ria restritivas, submissão às pressões do mercado
mais além da produção agropecuária, incluindo- para o pagamento da dívida pública, abandono
-se o lazer e a proteção meio ambiental. do planejamento público etc. (BELLUZZO, 2011;
BELLUZZO e ALMEIDA, 2002).
Nesse contexto, propagaram-se as políticas de
4. A estratégia de desenvolvimento territorial rural, cujo propósito
desenvolvimento rural europeia: era o de promover uma redução das disparida-
a iniciativa Leader des regionais, de maneira autônoma e endógena,
a partir da indução de arranjos socioprodutivos
A discussão sobre desenvolvimento rural que se constituiriam em espaços de governança
ganhou força na Europa em um contexto de crise participativos do poder político local e da socie-
da agricultura, demarcada pela superprodução, dade civil organizada, sempre numa perspectiva
impactos ambientais provocados pela adoção do includente.
padrão tecnológico da Revolução Verde, exclusão Documento do Banco Mundial (2001) reco-
de regiões e produtores do processo de moderni- mendava a criação de novas institucionalidades
zação e pressão internacional. Convém lembrar, (arranjos socioprodutivos locais) para o meio
ainda, que, desde o ingresso dos países mediter- rural como forma de alcançar a boa governança
râneos menos desenvolvidos (Portugal, Espanha e os objetivos de desenvolvimento de maneira a
e Grécia), colocou-se na ordem do dia a seguinte superar as disparidades econômicas e sociais entre
pergunta: as regiões mais deprimidas desses paí- suas regiões, aproveitando a sinergia cooperativa
ses deveriam receber incentivos para alcançar o entre os atores locais, que propiciaria ganhos de
mesmo patamar das agriculturas dos países mais escala para uma nova inserção em circuitos eco-
desenvolvidos, incorporando o padrão tecnoló- nômicos regionais, nacional e internacional.
gico hegemônico da agricultura cujos resultados Sob essa perspectiva, para o desenvolvimento
vinham contribuindo com a ampliação dos esto- rural – expresso na busca de outros canais de
ques públicos, com a contaminação ambiental, geração de emprego e renda que não a produção
com elevado volume de créditos subsidiados e, agropecuária intensiva – passou a ser implantada,
ainda, incentivando o êxodo rural?
Desde meados da década de 1980, os territó- 20. O termo Consenso de Washington foi cunhado por
Willianson (1990) para caracterizar as políticas de libera-
rios rurais europeus vêm experimentando signifi- lização econômica promovidas pelas instituições finan-
cativos processos de desenvolvimento. Neles, têm ceiras internacionais. Entretanto, seu uso transcendeu
desempenhado um importante papel as diver- esse significado dado pelo autor e passou a ser adotado
como sinônimo de neoliberalismo. Apesar de sua impre-
sas iniciativas surgidas desde a sociedade civil, cisão, adotamo-lo como “conjunto de reformas tendientes
para aproveitar as oportunidades e os recursos a extenderel papel de lasfuerzas de Mercado, mediante
medidas que han sido adoptadas ampliamenteen décadas
das políticas públicas (agrárias, rurais, emprego, recientes, aunqueconvariaciones, enlas economias ende-
culturais, turísticos, ambientais, espaços natu- sarrollo y entransición” (OCAMPO, 2005, p. 8).
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no âmbito da União Europeia, uma alternativa, montanhosas desativassem sua produção e pas-
com uso do enfoque territorial. sassem a ocupar seu tempo cuidando da natu-
Criada em 1991 pela União Europeia, com reza. Segundo Carneiro (1999), essa reconversão
atuação prevista até 1994, a iniciativa Leader21 forçada gerou uma forte reação entre os agricul-
esteve restrita às chamadas zonas desfavore- tores, que se recusavam a serem transformados
cidas (deprimidas) de alguns países europeus em “empregados do governo”, ou “jardineiros da
– Portugal, Espanha e Grécia. Por zonas desfa- natureza”, como se autodenominavam alguns, de
vorecidas, subentendia-se a concentração de maneira irônica.
agricultores que não ascenderam ao padrão tec- Nesses termos, a iniciativa Leader partia
nológico hegemônico na agricultura atual e tam- da visão de que é no contexto local que podem
bém a existencia de um nível de PIB per capita surgir respostas viáveis para a dinamização dos
abaixo da media europeia. territórios. E, em sua segunda fase, o Leader II
Para essas zonas, a orientação passou a ser a (1996-1999) deu continuidade ao projeto, com
busca de alternativas para esse padrão. Nesse sen- ênfase na necessidade de incentivar ações ino-
tido, a iniciativa Leader parte da concepção de que vadoras. Em face ao sucesso que a iniciativa
o desenvolvimento rural tem de estar baseado em representava, promoveu-se uma terceira fase, o
novos modelos, que não podem estar referencia- Leader+ (2000-2006), para estender os benefícios
dos exclusivamente nas atividades agropecuárias. do programa a todos os territórios rurais de todos
Modelos, portanto, fundamentados nas realida- os países-membros, concentrando, no entanto, os
des e potencialidades locais, como os declarados recursos nas propostas capazes de promover um
em seus documentos, cujos objetivos, expostos no efeito multiplicador na dinâmica territorial, sem-
www.rural-europe.aeidl.be/, são: pre numa perspectiva de superação da dicotomia
rural-urbana.
[...] permitir aos agentes e territórios rurais Por meio desse enfoque de desenvolvimento
valorizar as suas próprias potencialidades,
territorial, buscava-se promover a participação
contribuir para o desenvolvimento econômico
da população e dos agentes econômicos locais
e social e cultura do meio rural, suscitar um
na elaboração e gestão de projetos que pudes-
espírito de cooperação entre os municípios,
sem apontar saídas criativas para a geração de
freguesias e lugares, de modo a despertar soli-
dariedades que reforçam o desenvolvimento emprego no território. Esses projetos eram for-
das regiões, sensibilizar a população para a mulados e implementados pelos Grupos de Ação
riqueza do patrimônio da região, responsabi- Locais (GAL), um colegiado de representantes da
lizando-se pela sua preservação e valorização sociedade civil e dos governos que tomaram dife-
e criar hábitos de convívio entre a população rentes formas jurídicas. Neles participam, habitu-
local, favorecendo os contatos entre residen- almente, distintas instituições públicas e privadas
tes e os visitantes. de âmbito local, provincial, regional e nacional,
devendo ser expressão dos diversos meios socio-
Essa estratégia, convém dizer, claramente econômicos do território. Para efeitos de decisão,
convergente com toda a discussão teórica sobre as administrações públicas e os representan-
o desenvolvimento local/rural e do novo papel tes eleitos não podem constituir mais de 50%
das políticas públicas, refletia, ainda, uma tenta- daquele conselho.
tiva anterior, da década de 1980, de sustentação Embora a articulação e a implementação passe
da população rural fora do “padrão moderno”, pelo controle do poder público, uma das caracte-
utilizando-se de incentivos para, por exemplo, rísticas evidentes nos GAL, principalmente a par-
que pequenos criadores de gado das regiões tir do Leader II, é o envolvimento da população.
21. Para mais detalhes, pode-se consultar seu site: <http://
Segundo um estudo de avaliação das iniciativas
www.leader.eu>. do Leader na Andaluzia-ESP (IESA-CSIC, 1999),
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tats e as espécies selvagens raras, ameaçadas ou var a competitividade da agricultura para reati-
vulneráveis na EU), assim como à proteção das var a pesquisa, a inovação e a transferência ao
zonas com limitações naturais. São objetivos, por- setor agroalimentar e ao meio rural, mediante o
tanto, que, apesar de aparecerem junto aos rela- fomento de “grupos operativos” formados pela
cionados com o aumento da competitividade da comunidade técnico-científica, os agricultores, as
agricultura (um legado ainda herdado da dimen- indústrias e os demais operadores econômicos do
são produtiva da antiga PAC), estão claramente setor.
orientados ao território. Colocar em marcha a nova PAC, que se
Em seu novo regulamento, as ações de desen- orienta ao território, mas que ainda mantém as
volvimento rural/territorial também integram o aderências de uma política setorial, reflete-se,
Marco Estratégico Comum – MEC, financiado sobretudo, no solapamento existente entre as
com todos os fundos estruturais europeus e com medidas incluídas em um ou outro pilar. Ambos
os fundos de coesão, o que significa integrar essa pilares da PAC estão, portanto, inter-relacionados
parte do segundo pilar da PAC a uma evidente e as medidas incluídas neles podem ser aplica-
lógica territorial26. das, na prática, de maneira complementar, além
A criação da EPI (European Partnership for de ser possível transferir fundos entre pilares. Por
Innovation) é uma maneira de situar, em uma isso, é necessário analisar globalmente a reforma
base territorial e não setorial, o objetivo de ele- aprovada, evitando avaliar separadamente as
medidas incluídas em cada pilar e sem também
26. O orçamento da PAC é constituído por dois fundos: i) o
identificar o primeiro com os mercados e a pro-
Fundo Europeu Agrícola de Garantia (Feaga), para as aju- dução, e o segundo com as estruturas agrárias e o
das do primeiro pilar (sobretudo, para o financiamento desenvolvimento rural/territorial.
direto aos agricultores); ii) o Fundo Europeu Agrícola
do Desenvolvimento Rural (Feader), para as ajudas do A lógica territorial está presente nos dois pila-
segundo pilar (para o chamado “desenvolvimento rural”) res, ainda que existam elementos que resistam e
e que financia tanto as ajudas às políticas de estruturas
agrárias dirigidas à os agricultores para a modernização
mantenham sua lógica produtiva, como é o caso
e sustentabilidade das explorações (irrigação, melhoria do apoio ao fomento de agrupamentos de pro-
das explorações, luta contra as mudanças climáticas etc.), dutores ou as exceções para manter acopladas as
como as ajudas as ações de desenvolvimento territorial. As
ações incluídas no Feaga são financiadas completamente ajudas diretas a determinados setores. Não obs-
pelo orçamento comum da UE, mas as incluidas no Feader tante, avaliamos estar não diante de uma reforma
são co-financiadas entre o orçamento comum da UE e os
estados-membros (com aportações que variam entre 25%
a mais da PAC, mas, sim, diante de um autêntico
e 75%, de acordo com a região a que se destinam essas ponto de inflexão, uma mudança de paradigma
ações). Por sua vez, no MEC (que agrupa todos os fundos que, sem dúvida, deve afetar profundamente o
estruturais) está o Feader, o Fundo Social Europeu (FSE), o
Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (Feder) e o sistema de referência a respeito do desenvolvi-
Fundo Europeo Maritimo e Pesqueiro (Femp), mas não o mento rural/local, obrigando o aparecimento de
Feaga, por não ser um fundo estrutural. Por isso, quando
se faz referência ao orçamento da PAC somente são soma-
novas estruturas organizacionais e novos siste-
dos o Feaga e o Feader que, para a programação 2014-2020, mas de governança no rural europeu.
teve seu orçamento reduzido, aproximadamente, em 10% Ainda que, no período anterior de progra-
em relação ao período anterior. A redução foi maior no
orçamento do Feader que no orçamento do Feaga. Por mação da PAC, o objetivo já era o de integrar o
isso, dada à redução do orçamento do Feader, a Comissão desenvolvimento local ao agrário no marco do
Europeia passou a autorizar o financiamento de ações de
desenvolvimento territorial utilizando-se outros fundos
segundo pilar e do fundo Feader, o que se pre-
estruturais (FSE, Femp e Feder) e mesmo os “fundos de tende agora, em face do pequeno êxito alcan-
coesão”, possibilitando, dessa maneira, “ações de multi- çado, conforme balanço realizado pela Comissão
fundo”, uma novidade desse novo período de programa-
ção. Até ao período anterior, as ações de desenvolvimento Europeia, é oferecer a possibilidade de que as
territorial somente podiam ser financiadas pelo Feader. ações de desenvolvimento local possam ser inte-
Portanto, reforça-se, com essas iniciativas, a proposta de
hegemonizar as ações de desenvolvimento territorial ao
gradas em programas mais amplos de coesão e
invés das ações setoriais na novo programação 2014-2020. desenvolvimento territorial.
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é possível avaliar o giro que está sendo produ- Portanto, o próximo período de programa-
zido com essa política. Não obstante, fica aberto o ção (2014-2020) não é uma simples continuidade
debate sobre o alcance dessa mudança da política dos anteriores. Os princípios que inspiraram
europeia quanto ao compromisso de apostar no a reforma das políticas de coesão e desenvolvi-
desenvolvimento territorial (mediante o financia- mento supõem uma verdadeira mudança de
mento, com uma lógica de bens públicos, dos pro- paradigma na forma de abordar o futuro dos ter-
gramas de desenvolvimento rural). Caberá aos ritórios rurais europeus. Ademais, os requisitos e
estados-membros, portanto, a tarefa de manter e condições que a UE impõe aos estados-membros
melhorar a competitividade de seus setores agro- são de tal magnitude que nos dão a impressão de
alimentares (com suas próprias políticas nacio- que a Comissão Europeia levará a sério o propó-
nais ou regionais e com seus próprios planos sito de aumentar a eficácia dos fundos europeus
estratégicos), que, se bem-sucedida, estabelecerá destinados ao desenvolvimento e à coesão ter-
novas bases para os debates europeus e interna- ritorial, apostando na inovação, no trabalho em
cionais sobre o caráter protecionista da política rede, na cooperação e na participação das comu-
agrária europeia. nidades locais, superando-se as restritas demar-
No fundo desse debate, está a própria defi- cações geográficas das anteriores políticas.
nição sobre os interesses gerais da UE: o de dis- Em definitivo, os territórios menos desen-
por de um setor agroalimentar competitivo nos volvidos da UE se beneficiarão da convergência
mercados mundiais e dotar, para isso, uma PAC e integração de diversas políticas que, hoje, são
orientada por uma lógica econômica-produtiva- aplicadas de forma dispersa e sem muita coorde-
-comercial, ou de preservar seus territórios rurais nação. Isso porque não basta realizar investimen-
coesos social e economicamente, com espaços tos em grandes infraestruturas e equipamentos
naturais ricos em biodiversidade em que se valo- sem que a política de coesão seja acompanhada
rize a atividade agrária por sua contribuição na de medidas que viabilizem o acesso da população
produção de bens públicos. A reforma da PAC e local ao mercado de trabalho com melhor quali-
a política de coesão parecem indicar o segundo ficação (tanto em formação educativa, como em
caminho. termos de qualificação profissional) ou sem que
O caminho indicado pela reforma da PAC essa política complemente as políticas que impul-
reforça a perspectiva de que o rural é maior sionem o desenvolvimento de setores produtivos
que o agropecuário. Ou seja, aprofunda-se uma dos territórios.
perspectiva da PAC – que já vinha sendo indi- Tampouco basta aplicar políticas de tipo
cada em períodos anteriores – de superação de setorial, o que somente ajuda a desenvolver o
uma política agrária dirigida a setores agropecu- entorno produtivo do setor beneficiado, mas que
ários e que fomentasse o rural em todas as suas não contribui com o estabelecimento do equi-
atividades, agropecuárias e não agropecuárias. líbrio social e econômico do território. Sem a
Aprofunda-se, ainda, com a PAC reformada e necessária integração entre as políticas de desen-
com a política de coesão, a perspectiva de supera- volvimento e coesão, as grandes infraestruturas
ção da velha dicotomia rural-urbana das políticas geradas no meio rural somente serão utilizadas
públicas, que já vinha sendo valorizada com a ini- pela população local como vias de saída para bus-
ciativa Leader. Entretanto, agora, o rural passa a car, em outros territórios, as oportunidades que
ser parte de uma estratégia mais ampla de desen- não encontram no seu.
volvimento com a nova PAC e a política de coesão Por último, no que se refere à participação das
atuando em conjunto, em que os recursos devem comunidades locais, assistimos a uma nova forma
ser dirigidos, no caso do segundo pilar da PAC, às de entender a governança. Ainda que esteja base-
ações de desenvolvimento local/territorial (rural, ada no enfoque ascendente e participativo que
urbano, pesqueiro e litorâneo). deu bons resultados na iniciativa Leader, a nova
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700 A Reforma da PAC para o Período 2014-2020: uma aposta no desenvolvimento territorial
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Anexo 1. Quadro-síntese com as principais mudanças da PAC
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Mercados Agrícolas
Contexto social, Estruturas agrárias/Desenvolvimento
Etapas Discurso dominante (instrumentos e mecanismos Fundos econômicos
político e econômico rural (medidas e programas)
de atuação)
Implementação da PAC • Reconstrução da econo- • Discurso keynesiano de expan- • Mecanismos de intervenção (im- • Indenizações compensatórias para Fundo agrícola
(Conferência de Stressa mia europeia. são do gasto público. portações autorizadas para baixar agricultores situados em zonas des- (Feoga)
–1960/1982) • Déficit alimentar na Eu- • Modernização produtiva. os preços, armazenamento de ex- favorecidas. • Seção Orientação.
ropa. • Exploração familiar moderna. cedentes, compras públicas pelos • Ajudas para planos de modernização • Seção Garantia.
• Necessidade de aumen- • Mecanização. organismos europeus etc.). e melhoria das explorações. Outros fundos (estruturais):
tar a produção de alimen- • Intensificação agrícola e pecuária. • Incentivos à exportação. • Ajudas à instalação de jovens agri- • Feder
tos. • Industrialização agroalimentar. • Organizações Comuns de Merca- cultores. • FSE
• Pacto franco-alemão para dos (uma para cada subsetor).
a construção de um mer- • Preços garantidos.
cado único e de una polí-
tica agrária comum.
Primeiras medidas • Entrada do Reino Uni- • Hegemonia do discurso neoliberal. • Limites de garantia (redução do ní- • São revisados os fundos estruturais e Fundo agrícola (Feoga)
corretoras (1983-1992) do, Irlanda e Dinamarca • Racionalização do gasto agrícola. vel de preços garantidos). os critérios de concessão dos progra- • Seção Orientação.
na UE (1983). • Preocupação com o problema • Taxas de corresponsabilidade. mas de desenvolvimento. • Seção Garantia.
• Primeiros problemas de dos excedentes (leite, cereais e • Cotas de produção em alguns seto- Outros fundos (estruturais):
excedentes agrícolas. carne bovina). res (por exemplo, o leite). • Feder
• A agricultura no Gatt. • Observação de importantes desi- • Retirada de terras (set-aside). • FSE
• Publicação do Livro Ver- gualdades econômicas e territo-
de sobre a PAC (1985). riais no meio rural.
• Publicação do Informe “O
Futuro do Mundo Rural”
(1988).
• Entrada da Grécia, Espa-
nha e Portugal (1986).
• Aprovação da Ata Única
(1987).
A Reforma da PAC para o Período 2014-2020: uma aposta no desenvolvimento territorial
Reforma MacSharry • Maiores exigências do • Tratado de Maastricht (preparação • Reforma de algumas OCMs. • Reforma dos fundos estruturais. Fundo agrícola (Feoga):
(1992-1999) Gatt/OMC (caixa verde, da UEM). • Redução generalizada dos preços • Organização das áreas rurais de acor- • Seção Orientação.
caixa marrom e caixa • Plano de Estabilização e Conver- de garantia. do com os níveis de renda per capita • Seção Garantia.
azul) (Ronda de Cancun). gência. • Complemento com ajudas diretas • Aprovação do Regulamento Hori- Outros fundos (estruturais):
• Entrada da Suécia, Áus- • Limitação do gasto público. aos agricultores (acopladas à pro- zontal de Desenvolvimento Rural- • Feder
tria e Finlândia. • Redução do orçamento da PAC. dução). -Agrário. • FSE
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• O debate sobre a PAC se • Competitividade da agricultura • Visibilidade das ajudas agrícolas. • Aprovação do programa agroam- Fundos de coesão.
abre ao conjunto da so- nos mercados. biental.
ciedade. • Preocupação com os efeitos dos • iniciativa Leader I para a diversifica-
modelos intensivos agrícolas so- ção de atividades no meio rural.
bre o meio ambiente. • Programa de aposentadoria anteci-
• Necessidade de nova legitimida- pada.
de social para a PAC.
Agenda 2000 • Mudanças internas na • Desenvolvimento rural não agrário. • Integração da política de mercados • É criado o “segundo pilar” da PAC Fundo Agrícola (Feoga):
(1999-2003) PAC para gerir sua apli- • Preocupação com o meio ambiente. no “primeiro pilar” da PAC. para integrar as medidas de estru- • Seção Orientação
cação na UE-15. • Luta contra a contaminação agrícola. • Eliminação do sistema de preços turas agrárias e de desenvolvimento • Seção Garantia
• Limitação do orçamento • Limitação do gasto agrícola de garantia. rural-agrário. Outros fundos (estruturais):
comum europeu. • Aposta em novas políticas comuns. • Eliminação dos mecanismos de in- • É incluído o “segundo pilar” ao pro- • Feder
• Hegemonia do discurso tervenção. grama agroambiental. • FSE
neoliberal. • Perda de importância dos temas • É aprovada a segunda fase da Inicia- Fundos de coesão.
agrários. tiva Leader II.
• Novas prioridades europeias.
• Introdução da eco-condicionalida-
de nas ajudas agrícolas.
Reforma Fischler (2003) • Ampliação da UE aos • Coexistência entre enfoques se- • Sistema de pagamentos diretos aos • É aprovado um novo Regulamento • Supressão do Feoga.
países que eram econo- toriais e territoriais sobre a agri- agricultores sobre a base de direi- de Desenvolvimento Rural. integran- • Criação do Feaga (primeiro
mias comunistas. cultura. tos históricos. do as dimensões agrária, territorial e pilar da PAC).
• Aprovação do Livro Ver- • Predomínio do discurso territo- • Dissociação parcial ou total dos pa- ambiental. • Criação do Feader (segundo
de de Desenvolvimento rial e ambientalista. gamentos referentes à produção. • É eliminada a Iniciativa Leader. pilar da PAC).
Territorial. • O discurso da multifuncionalida- • Criação de somente uma OCM. • São integradas ao Regulamento de • Continuação dos fundos es-
• Ronda Doha da OMC. de agrária. • Mantida a eco-condicionalidade. Desenvolvimento Rural as ações de truturais e de coesão.
• Inicio da modulação das ajudas diversificação de atividades.
agrícolas.
Reforma Ciolos (2013) • Implementação do Tra- • Redução do orçamento da PAC. • Pagamento único por exploração e • Modifica-se o Regulamento de De- • São mantidos os fundos Fea-
tado de Lisboa (prota- • Aposta na diversidade agrícola e pagamentos complementares. senvolvimento Rural. ga e Feader.
gonismo do Parlamento rural da UE. • Reforma de sistema de pagamen- • Diferencia-se o desenvolvimento • Abre-se a possibilidade de
Europeu). • Coexistência entre enfoques se- tos diretos (eliminação dos “direi- rural-agrário e o desenvolvimento que o desenvolvimento rural
• É aprovada a Estratégia toriais e territoriais. tos históricos”). rural-territorial. seja financiado com a partir
Europa 2020 • Interação rural-urbana. • Convergência interna e externa • Começa-se a separar a política agrá- de multifundos.
• É aprovado o MFA (2014- • Uma PAC territorial e ambien- dos pagamentos diretos. ria e a política rural.
2020). talista (luta contra as mudanças • Dissociação total dos pagamentos. • A política rural pode ser financiada
• Crise do Euro. climáticas). • Introdução do greening obrigatório. com os demais fundos estruturais.
• Coesão social e econômica dos • Definição de “agricultor ativo” como
territórios rurais. preceptor das ajudas. diretas.
• Avança-se na modulação das aju-
das agrícolas (capping).
Fonte: Quadro elaborado pelos autores.
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